II Simpósio Brasileiro de Recursos Naturais do Semiárido – SBRNS “Convivência com o Semiárido: Certezas e Incertezas” Quixadá - Ceará, Brasil 27 a 29 de maio de 2015 doi: 10.18068/IISBRNS2015.resap257

ISSN: 2359–2028

CARBOIDRATOS SOLÚVEIS E CLORETO EM PLANTA MEDICINAL SUBMETIDA À SALINIDADE E DOSES DE BIOFERTILIZANTES Sergiane Beatriz da Silva Mesquita1, Rafael Santiago da Costa2, Maria da Saúde de Sousa Ribeiro3, Claudivan Feitosa de Lacerda4, Aiala Vieira Amorim5 1Estudante

de Agronomia, Instituto de Desenvolvimento Rural, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira (UNILAB), Redenção- CE, Fone:(85) 3332-1155, [email protected]. 2Estudante de Agronomia, Instituto de Desenvolvimento Rural, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira (UNILAB), Redenção- CE 3Agrônoma, Doutoranda, Depto. de Engenharia Agrícola, UFC, Fortaleza - CE 4Agrônomo, Prof. do Depto. de Engenharia Agrícola, UFC, Fortaleza - CE 5Bióloga, Profa. do Instituto de Desenvolvimento Rural, Unilab, Redenção – CE

RESUMO: Uma das alternativas para minorar os efeitos da salinidade sobre as plantas tem sido o uso de insumos orgânicos alternativos. Nesse contexto, objetivou-se com o presente trabalho avaliar o uso de biofertilizantes e águas salinas na agricultura irrigada, com ênfase na produção de plantas medicinais do gênero Plectranthus. O experimento foi conduzido no período de março a maio de 2013, em casa de vegetação pertencente ao Núcleo de Ensino e Pesquisa em Agricultura Urbana (NEPAU) da Universidade Federal do Ceará, situada em Fortaleza, CE. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, em um arranjo fatorial 2 x 4, sendo dois níveis de salinidade da água de irrigação (CEa: 0,7 e 3,1 dS m-1) e quatro níveis de biofertilizante bovino líquido aplicados ao solo, correspondendo a 0, 10, 20 e 30% do volume do solo, com cinco repetições. O experimento teve a duração de 60 dias, contados a partir do início dos tratamentos, e para avaliar o metabolismo determinaramse os teores foliares de carboidrato e de cloreto. Observamos neste estudo que a aplicação de biofertilizante e a interação entre esta e a salinidade não influenciou os teores de carboidratos. Por outro lado, os teores de cloreto, foram influenciados pelo teste F a 5% de probabilidade. PALAVRAS–CHAVE: Plectranthus, bioquímica, fertilizantes CARBOHYDRATES AND SOLUBLE CHLORIDE IN MEDICINAL PLANT SUBMITTED TO SALINITY AND BIOFERTILIZERS DOSES ABSTRACT: An alternative to mitigate the effects of salinity on the plants has been the use of alternative organic inputs. In this context, the aim of the present study was to evaluate the use of biofertilizers and saline water in irrigated agriculture, with emphasis on the production of medicinal plants of the genus Plectranthus. The experiment was conducted from March to May 2013, in a greenhouse belonging to the Teaching and Research in Urban Agriculture (NEPAU) of the Federal University of Ceará, located in Fortaleza, Brazil. The experimental design was completely randomized in a factorial 2 x 4, with two levels of irrigation water salinity (ECw: 0.7 and 3.1 dS m-1) and four levels of biofertilizer liquid bovine applied to the soil corresponding to 0, 10, 20 and 30% of the volume of the soil, with five replications. The experiment lasted 60 days, counted from the start of treatment, and to assess the metabolism were determined foliar concentrations of carbohydrate and chloride. We observed in this study that the application of biofertilizers and the interaction between this and salinity did not affect the carbohydrates. On the other hand, the chloride contents were influenced by the F test at 5% probability. KEYWORDS: Plectranthus, biochemistry, fertilizers

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INTRODUÇÃO No Brasil o uso de plantas medicinais foi disseminado pela cultura indígena associada com as tradições dos colonizadores europeus e, mais tarde, pelo ingresso dos africanos (FREIRE, 2004). Dentre as plantas de importância medicinal a família Lamiaceae, amplamente distribuída, tem sido reconhecida pela existência de inúmeras espécies utilizadas como aromáticas e medicinais, devido à presença de óleos essenciais (ABDEL-MOGIB et al., 2002). As potencialidades terapêuticas dessas espécies (RICE et al., 2011), demonstram a necessidade de estudos em relação ao cultivo destas plantas e suas respostas às condições ambientais impostas nos meios de produção. A salinidade do solo e da água é um dos principais obstáculos ao sistema de produção das culturas em todo o mundo, particularmente nas regiões áridas e semiáridas (VAIDYANATHAN et al., 2003). Esses estresses se refletem negativamente no crescimento e no desenvolvimento dos vegetais, de modo especial pela redução da área radicular e foliar, da atividade fotossintética e capacidade produtiva das plantas, em geral (MUNNS; TESTER; 2008; RIGON et al., 2012). No entanto, seus efeitos vêm sendo superados com sucesso através da utilização de biofertilizantes (CAVALCANTE et al., 2010; SILVA et al., 2011; SOUSA et al., 2012). Com base no exposto, objetivou-se com o presente trabalho avaliar o uso de biofertilizantes e águas salinas no metabolismo de plantas medicinais do gênero Plectranthus. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em casa de vegetação pertencente ao Núcleo de Ensino e Pesquisa em Agricultura Urbana (NEPAU) da Universidade Federal do Ceará – UFC, situada em Fortaleza – CE, no período de fevereiro a maio de 2013. O clima da região é do tipo Aw’ tropical chuvoso, com precipitação de verão-outono, pela classificação de Köppen. Para esse estudo foi utilizado à espécie (Plectrantus amboinicus) conhecida como malvariço. As mudas desta espécie foram produzidas por meio de propagação vegetativa e colocadas em sacos de polietileno, contendo como substrato uma mistura de arisco + húmus de minhoca, na proporção 2:1, onde permanecerão por um período de 30 dias. Posteriormente, as mudas foram selecionadas quanto à uniformidade, altura e diâmetro da estaca, e transplantadas para vasos plásticos com capacidade para 7,5 L, contendo o mesmo substrato utilizado para a formação da muda. Antes da aplicação dos tratamentos as mudas permaneceram durante 10 dias em telado com 50% de luminosidade, a fim de se restabelecerem do estresse sofrido no transplantio e passassem a emitir novas raízes e folhas. O experimento foi conduzido seguindo um delineamento inteiramente casualizado, em um arranjo fatorial 2 x 4, sendo dois níveis de salinidade da água de irrigação (CEa: 0,7 e 3,1

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dS m-1) e quatro níveis de biofertilizante bovino líquido aplicados ao solo, correspondendo a (0, 10, 20 e 30%) do volume do solo, com cinco repetições. Teve duração de 60 dias, contados a partir do início da aplicação dos tratamentos, sendo as plantas mantidas em um telado com 50% de luminosidade. A irrigação foi realizada a cada dois dias, manual e as fontes de água utilizadas foram provenientes de dois poços, sendo um com condutividade elétrica de 0,7 dS m-1 e outro com CEa de 3,1 dS m-1. O biofertilizante foi aplicado três vezes e preparado conforme Penteado (2007). O extrato para determinar carboidratos e cloreto foi preparado segundo o método de (CATALDO et al.,1975). Os teores de carboidratos foram determinados segundo (DUBOIS et al., 1956) e os de cloreto segundo (MALAVOLTA, VITTI e OLIVEIRA, 1997). Os resultados foram analisados estatisticamente através do programa “ASSISTAT 7.6 BETA”. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observa-se na tabela 1, que a variável carboidrato não sofreu influência quanto à salinidade (A) e os níveis de biofertilizante (B), bem como no efeito da interação que também se mostrou não significativa. No que diz respeito aos níveis de cloreto, observou-se efeito significativo de acordo com os níveis de salinidade. Para o biofertilizante e a interação, também se observaram valores não significativos. Tabela 1. Valores sumarizados da análise de variância para os teores de carboidratos e cloretos, em plantas do gênero Plectranthus submetidas à salinidade e doses de biofertilizantes Fontes de Variação

Quadrado Médio GL

Carboidratos

Cloretos

Salinidade (A)

1

431,05ns

0,0004*

Biofertilizante (B)

3

441,95ns

1,0616ns

Int. (A) x (B)

3

476,96ns

0,9064ns

Resíduo

32

189,24

2,1582

13,05

14,40

CV (%)

** Significativo pelo teste F a 0,01; * Significativo pelo teste F a 0,05; ns – não significativo. CV – coeficiente de variação em percentagem.

Com relação aos teores de carboidratos, os resultados encontrados no presente estudo, diferem dos encontrados por Chaves Filho e Stacciarini-Seraphin (2001), que ao estudarem a planta lobeira (Solanum lycocarpum) verificaram que houve um aumento no teor de carboidratos solúveis totais e redutores em resposta ao estresse hídrico. De acordo com 3

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Kerbauy (2004), a elevação nos teores carboidratos solúveis totais nas folhas, está ligada à finalidade de se manter o nível de água da folha e induzir um ajustamento osmótico na planta, visando o equilíbrio osmótico da célula. Portanto, o acréscimo nos teores de carboidratos solúveis totais, se deve, provavelmente, ao fato dele atuar como regulador osmótico, em plantas com baixo potencial hídrico na folha. Para os teores foliares de cloreto nas plantas de Plectranthus (Figura 1), foi observado o maior valor nas folhas das plantas submetidas à salinidade A (0,7 dS m-¹) com 0,445 mg de cloreto por grama de matéria seca. Para a salinidade (3,1 dS m-¹) o teor de cloreto foi de 0,444 mg g-¹de matéria seca.

Cloreto (mg g-¹MS)

0,446 A 0,445

B

0,444

0,443 0,7

3,1 CEa (dS

m-¹)

Figura 1. Teores de cloreto em plantas do gênero Plectranthus submetidas à salinidade e doses de biofertilizantes. Os resultados apresentados neste trabalho se assemelham com os de Feijão et al. (2013), que ao trabalharem com milho (Zea mays L.), perceberam que os teores de cloreto se reduziram em resposta ao estresse salino. As plantas ao reduzir a absorção de Clconsequentemente aumentam a sua resistência ao estresse salino (Ding et al., 2010). CONCLUSÃO A aplicação de biofertilizante e a interação entre esta e a salinidade não influenciou os teores de carboidratos. Por outro lado, os teores de cloreto, foram influenciados pelo teste F a 5% de probabilidade. REFERÊNCIAS ABDEL-MOGIB, M.; ALBAR, H.A.; BATTERJEE, S. M. Review: Chemistry of the Genus Plectranthus. Molecules, King Abdulaziz University, v.7, p. 271-301, 2002.

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257-1165-1-EDf.pdf

doi: 10.18068/IISBRNS2015.resap257 ISSN: 2359–2028. CARBOIDRATOS SOLÚVEIS E CLORETO EM PLANTA MEDICINAL. SUBMETIDA À SALINIDADE E ...

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