II Simpósio Brasileiro de Recursos Naturais do Semiárido – SBRNS “Convivência com o Semiárido: Certezas e Incertezas” Quixadá - Ceará, Brasil 27 a 29 de maio de 2015 doi: 10.18068/IISBRNS2015.teisa310

ISSN: 2359–2028

CRESCIMENTO INICIAL E PARTIÇÃO MATÉRIA SECA DE PLANTAS DE EUCALIPTO IRRIGADAS COM ÁGUA SALINA Humberto Gildo de Sousa1, Carlos Henrique Carvalho de Sousa2, Antônia Leila Rocha Neves3, Alan Diniz Lima4, Claudivan Feitosa de Lacerda5 1

Graduando em agronomia, Departamento de Engenharia Agrícola/UFC, Fortaleza – CE; em Recursos Hídricos/Irrigação, Dr. Departamento de Engenharia Agrícola - DENA/UFC, Fortaleza – CE, email: [email protected]; 3 Tecnóloga em Recursos Hídricos/Irrigação, Dra. Departamento de Engenharia Agrícola, UFC/Fortaleza – CE; 4 Eng° Agrônomo, Doutorando, Departamento de Engenharia Agrícola, UFC/Fortaleza – CE; 5 Eng° Agrônomo, Prof. Dr. Departamento de Engenharia Agrícola, UFC/Fortaleza – CE. 2Tecnólogo

RESUMO: Objetivou-se com este trabalho avaliar o efeito da salinidade da água de irrigação no crescimento inicial de plantas de Eucalyptus citriodora. O experimento foi conduzido seguindo um delineamento inteiramente casualizado, testando 6 níveis de salinidade da água (S1 = 0,5 – controle, S2 = 2,5; S3 = 5,0; S4 = 7,5; S5 = 10; S6 = 12,5 dS m -1) com 5 repetições, sendo cada repetição composta por 3 vasos. Ao final do experimento, 75 dias após a aplicação dos tratamentos (DAAT), realizou-se a análise de crescimento obtendo-se as seguintes variáveis: altura de planta (A), diâmetro do colo (DC), área foliar (AF), matéria seca total (MST) e partição de matéria seca. Observou-se que os níveis de salinidade influenciaram de forma significativa em todas as variáveis estudadas, no entanto os efeitos foram mais acentuados a partir do tratamento S4. A área foliar foi a variável que apresentou as maiores reduções, principalmente, nos tratamentos de maior nível salino. PALAVRAS–CHAVE: Eucalyptus citriodora. Efeito salino, reflorestamento.

GROWTH AND PARTITION MATTER EUCALYPTUS PLANT DROUGHT IRRIGATED WITH SALINE WATER ABSTRACT: The objective of this study was to evaluate the effect of irrigation water salinity on the growth of Eucalyptus citriodora plants. The experiment was conducted in a randomized design, testing 6 water salinity levels (S1 = 0.5 - control, S2 = 2.5; S3 = 5.0; S4 = 7.5; S5 = 10; S6 = 12.5 dS m-1) with 5 replications, each replication consisted of 3 pots. At the end of the experiment, 75 days after treatment (DAAT), there was growth analysis yielding the following variables: plant height (A), stem diameter (DC), leaf area (AF) Total dry matter (MST), and dry matter partitioning. It was observed that salinity levels had a significant influence on all variables studied, however the effects were more pronounced from the S4. Leaf area was the variable that showed the greatest reductions mainly in the higher salt level treatments. KEYWORDS: Eucalyptus citriodora, Salt effect, Reforestation.

Tecnologia de irrigação para o semiárido

INTRODUÇÃO Eucalyptus é um gênero que pertence à família Myrtaceae e que compreende aproximadamente 700 espécies, apresentando dois grandes centros de dispersão, nas Américas e na Austrália. Caracterizado por apresentar um conjunto de fatores que contribuem para sua expansão, como rápido crescimento, alta produtividade florestal, também é amplamente cultivado devido à possibilidade de utilização da madeira para a produção de mourões, postes e carvão, produção de celulose e papel, extração de essências e utilizado também na arborização de caminhos e estradas em áreas rurais (ABRAF, 2010). Por apresentar uma grande diversidade de espécies, o eucalipto possibilita a adaptação às diversas condições de clima e solo, e facilidades de propagação, tanto por sementes como por via vegetativa, o que justifica sua boa aceitação no mercado (VILAS BÔAS, 2009; DELIAS, 2013). Outro fator relevante a ser considerado é o benefício gerado por florestas plantadas de eucalipto ao meio ambiente, auxiliando na recuperação de terras degradadas. Dentre os principais atributos ambientais de áreas reflorestadas com esta cultura destacam-se: sequestro de carbono; reduz as ações erosivas de solo; gera excelente camada de material orgânico que preserva a umidade do solo; reduz a temperatura do microclima; e, a maior relevância, reduz o desmatamento de áreas nativas (EMBRAPA FLORESTAS, 2003; SILVEIRA, 2008). Embora já existam alguns trabalhos relacionados ao crescimento de plantas de eucalipto em resposta aos fatores abióticos, ainda há muito a ser estudado, sobretudo por ser uma espécie com potencial de uso para reflorestamento e recomposição de áreas degradadas. Nesse contexto, objetivou-se com este trabalho avaliar o efeito da salinidade da água de irrigação no crescimento inicial de plantas de Eucalyptus citriodora.

MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido de agosto a outubro de 2014 em casa de vegetação da Estação Agrometeorológica do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza – CE, situada entre as coordenadas geográficas de 3°44’45’’S e 38°34’55’’W, e a uma altitude de 19,5 m. As mudas de Eucalyptus citriodora foram produzidas em viveiro pertencente ao Núcleo de Ensino e Pesquisa em Agricultura Urbana (NEPAU/UFC), em bandejas de isopor com 128 células contendo arisco e húmus de minhoca na proporção volumétrica de 2:1 como substrato, onde permaneceram por 40 dias. Após esse período foram transplantadas para sacos de 50 cm³, preenchidos com o mesmo substrato onde ficaram por mais 45 dias. As mudas saíram do

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II SBRNS – Quixada, CE 2015

viveiro com idade de 85 e foram transplantadas para vasos com capacidade de 7 kg preenchidos com o mesmo substrato já citado. O experimento foi conduzido seguindo um delineamento inteiramente casualizado, testando 6 níveis de salinidade da água de irrigação (S1 = 0,5 – controle e S2 = 2,5; S3 = 5,0; S4 = 7,5; S5 = 10; S6 = 12,5 dS m-1) com 5 repetições, sendo cada repetição composta por 3 vasos. Para a composição dos tratamentos foram utilizados os sais NaCl, CaCl2.2H2O, MgCl2.6H2O, na proporção 7:2:1 obedecendo a relação entre CEa e sua concentração (mmolc L-1= CE x 10), conforme (RHOADES; KANDIAH; MASHALI, 2000). Os tratamentos salinos foram iniciados 10 dias após o transplantio para os vasos, sendo as aplicações da solução salina realizadas em intervalos de dois dias. A lâmina de água aplicada foi de acordo com o princípio do lisímetro de drenagem, mantendo-se o solo na capacidade de campo e adicionando-se frações de lixiviação. Ao final do experimento, 75 dias após a aplicação dos tratamentos (DAAT), realizou-se a análise de crescimento, obtendo-se as seguintes variáveis: altura de planta (A), diâmetro do colo (DC), área foliar (AF), matéria seca total (MST) e partição de matéria seca. Os dados foram submetidos à análise de variância a 1 e 5% de probabilidade, por meio do Software ASSISTAT 7.6 Beta (SILVA; AZEVEDO, 2009). O efeito da salinidade foi analisado por meio de regressão. Utilizou-se o teste de Tukey para a comparação das médias para a partição de matéria seca das plantas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os dados apresentados na Tabela 1, a aplicação dos tratamentos salinos exerceu efeito significativo em nível de P < 0,01 e P < 0,05. O efeito da salinidade para A, DC, AF e MST estão representados na Figura 1, onde se verificou ajuste linear como resposta ao incremento da salinidade da água de irrigação. As reduções mais significativas foram observadas para a área foliar e a matéria seca total. Numa comparação entre os tratamentos S1 (controle) e S6 (CEa mais elevada) verificou-se que os decréscimos relativos foram da ordem de 30, 29, 55 e 53% respectivamente, para as variáveis A, DC, AF e MST, aos 75 DAAT. Mendonça et al. (2007), estudando as características biométricas em mudas de Eucalyptus sp. sob estresse salino, verificaram que o crescimento foi reduzido nas espécies E. camaldulensis, E. pellita e E. robusta em resposta ao aumento da salinidade.

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Tecnologia de irrigação para o semiárido

Tabela 1. Resumo da análise de variância para as variáveis; altura de plantas (A, cm), diâmetro do caule (DC, mm), área foliar (AF, cm2), matéria seca total (MST, g planta-1) de plantas de Eucalyptus citriodora em função da salinidade da água de irrigação aos 75 DAAT. Fortaleza, CE. 2014 FV

Quadrado Médio

GL

A

DC

AF

MST

Tratamento s Resíduo

5

344,70**

2,97*

285251,45**

71,60**

24

65,05

0,87

11891,23

7,89

CV (%)

-

14,38

28,00

14,23

20,62

**, * significativo a 1 e 5% de probabilidade, respectivamente.

Segundo Dias e Blanco (2010), o aumento da concentração de sais solúveis na água de irrigação faz com que haja também um acúmulo de sais maior no solo, aumentando a

80

8

60

6

40

DC (mm)

Altura (cm)

condutividade elétrica do mesmo.

ŷ = 66,299 -1,6103x** R² = 0,7774

20

2

0

0 40 MSTOT (g planta-1)

1200 Área foliar (cm2)

4

900 600 ŷ = 1085 - 50,396x** R² = 0,9201

300

ŷ = 6,1798 - 0,1325x** R² = 0,9186

ŷ = 18,651- 0,8054x** R² = 0,858

30 20 10 0

0 0,0

2,5 5,0 7,5 10,0 Condutividade elétrica da água (dS m-1)

12,5

0,0

2,5 5,0 7,5 10,0 Condutividade elétrica da água (dS m-1)

12,5

Figura 1. Altura de plantas (A, cm), diâmetro do caule (DC, mm), área foliar (AF, cm2), matéria seca total (MST, g planta-1) de plantas de Eucalyptus citriodora em função da salinidade da água de irrigação aos 75 DAAT. Fortaleza, CE. 2014 O efeito dos níveis salinos na partição de matéria seca das plantas de Eucalyptus citriodora foi bem representativo (Figura 2). O nível salino mais elevado reduziu a partição de matéria seca para as raízes, aumentando a da parte aérea com o aumento mais expressivo para as folhas. Observa-se também que a distribuição da matéria seca das plantas a partir do tratamento T4 foi semelhante. 4

II SBRNS – Quixada, CE 2015

As diferenciações na distribuição da matéria seca provocadas pelo estresse salino são explicadas pelo fato de que a salinidade além provocar a redução na produção de matéria seca pode também modificar a partição de fotoassimilados entre as diferentes partes da planta (SOUSA, 2010). 60

a

Partição (%)

ab S1

40

S2

S3

S5

S6 bc bc

c

a

a 20

S4

ab

ab

b bc

ab

ab b

b

bc c c

0 Raiz

Caule

Folha

Figura 2. Partição percentual de matéria seca de plantas de Eucalyptus citriodora em função da salinidade da água de irrigação aos 75 DAAT. Fortaleza, CE. 2014

CONCLUSÕES Os níveis de salinidade influenciam de forma significativa todas as variáveis estudadas, no entanto os efeitos são mais acentuados a partir de 7,5 dS m-1. A área foliar apresenta as maiores reduções, principalmente com o aumento do nível salino. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq, CAPES, FUNCAP e ao INCTSal pela concessão de bolsas de estudo e pelo suporte financeiro. REFERÊNCIAS ABRAF. Associação Brasileira de Florestas Plantadas. Anuário Estatístico ABRAF 2010 (ANO BASE 2009). Disponível em: http://www.abraflor.org.br. Acesso em: nov. 2014. DELIAS, D. S. Características biométricas, trocas gasosas e atividade do sistema antioxidante de plantas de eucalipto durante o crescimento inicial. Dissertação (Mestrado em Fisiologia Vegetal). Universidade Federal de Pelotas. Instituto de Biologia. Pelotas, 71 f. 2013.

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Tecnologia de irrigação para o semiárido

DIAS, N. D.; BLANCO, F. F. Efeitos dos sais no solo e na planta. In: GHEYI, H. R.; DIAS, N. S.; LACERDA, C. F. Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados. Fortaleza: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Salinidade. 2010.p. 129140, EMBRAPA FLORESTAS. Sistemas de Produção: Cultivo de eucalipto. Colombo: Embrapa, 2003. Disponível em: . Acesso em: abr. 2013. SILVA, F. A. S. E.; AZEVEDO, C. A. V. Principal Components Analysis in the Software Assistat-Statistical Attendance. In: WORLDCONGRESS ON COMPUTERS IN AGRICULTURE, 7, Reno-NV-USA:American Society of Agricultural and Biological Engineers, 2009. SILVEIRA, R. B. Análise da rentabilidade potencial de investimentos em reflorestamento de eucalipto no leste de mato grosso do sul e norte do paraná. Dissertação (Mestrado profissional em Produção e Gestão Agroindustrial). Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal. F. 41. Campo Grande, 2008. SOUSA, C. H. C.; LACERDA, C. F.; BEZERRA, F. M.; GOMES FILHO1 E.; GHEYI, H R.; SOUSA, A. E. C.; SOUSA, G. G. Respostas morfofisiológicas de plantas de sorgo, feijão-decorda e algodão sob estresse salino. Agropecuária Técnica – v.31, n.2, p.29–36, 2010. VILAS BÔAS, O; MAX, J. C. M; MELO, A. C. G. CRESCIMENTOCOMPARATIVO DE ESPÉCIES DE Eucalyptus E Corymbia NO MUNICÍPIO DE MARÍLIA, SP1. Revista do Instituto Florestal., v. 21, n. 1, p. 63-72, jun. 2009.

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... nas espécies E. camaldulensis,. E. pellita e E. robusta em resposta ao aumento da salinidade. Page 3 of 6. 310-1036-1-EDF.pdf. 310-1036-1-EDF.pdf. Open.

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