II Simpósio Brasileiro de Recursos Naturais do Semiárido – SBRNS “Convivência com o Semiárido: Certezas e Incertezas” Quixadá - Ceará, Brasil 27 a 29 de maio de 2015 doi: 10.18068/IISBRNS2015.convsa401

ISSN: 2359–2028

MAPEAMENTO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO SOBRE A CONSERVAÇÃO NA CAATINGA Janisson Willames dos Santos¹, Thainá Lessa Pontes Silva², Ana Cláudia Mendes Malhado³ ¹Bolsista de Iniciação Científica da Universidade Federal de Alagoas, (82) 8800-3875, E-mail: [email protected] ²Prof. Drª. da Universidade Federal de Alagoas, (82) 8107-6770, E-mail: [email protected] ²Bolsista de Iniciação Científica da Universidade Federal de Alagoas, (82) 9666-4701, E-mail: [email protected]

RESUMO: A Caatinga, bioma exclusivo do Brasil, estende-se por uma área de cerca de 844.453 km², entretanto apenas 1% possui áreas de proteção ambiental. Diante da forte pressão sobre o bioma e de poucas iniciativas voltadas à conservação, é necessário compreender a distribuição geográfica do conhecimento científico produzido na região em seus diversos aspectos, como sociais, econômicos e ambientais. Para isso, nós consultamos a plataforma de dados “Web of Science” e extraímos do seu banco de dados todos os artigos científicos acerca da Conservação na Caatinga. Com o auxílio do georreferenciamento, foi possível mapear a distribuição espacial dos locais de pesquisa no Bioma, além de identificar lugares com carência de pesquisa, maior densidade e possíveis tendências na escolha de locais para estudo. PALAVRAS–CHAVE: Tendências, lacunas do conhecimento, georreferenciamento

SCIENTIFIC KNOWLEDGE MAPPING ON THE CONSERVATION IN CAATINGA

ABSTRACT: The Caatinga, which is a unique biome in Brazil, covers more than 844.453 km², but only 1% has protected areas. Given the strong pressure on the biome and few initiatives for conservation, it is necessary to understand the geographic distribution of scientific knowledge produced in the region in its various aspects, such as social, economic and environmental. For this, we refer to data platform "Web of Science" and extract your database, all scientific articles about conservation of the Caatinga biome. So with the help of georeferencing was possible to map and spatially distribute the research sites in the biome, and identify places with lack of research, preferences and possible trends in the choice of places to study. KEYWORDS: Trends, gaps in knowledge, georeferencing

Convivência com o semiárido

INTRODUÇÃO A Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, contempla 11% do território nacional, desde a região nordeste até o norte de Minas Gerais. Sua área abrange em torno de 844.453 km² (MMA, 2012), entretanto apenas 1% do semiárido possui áreas de proteção ambiental (LEAL et al., 2005). Com características xéricas, possui uma vegetação sazonal tipicamente seca, espinhosa, arbustiva e lenhosa (IBGE, 2015). Esta região encontra-se altamente desmatada e ameaçada devido à exploração de recursos naturais de maneira insustentável. Extração de lenha nativa, pastagem, monoculturas e a especulação imobiliária são umas das principais ameaças a biodiversidade da Caatinga (MMA, 2012). Com tanta pressão e poucas ações conservacionistas, a fragmentação do bioma tem gerado profundas consequências para a biodiversidade, incluindo a extinção de espécies e a perda dos serviços ecossistêmicos. Em razão da expansão agrícola e pecuária, a exploração em grande escala no uso da terra tem levado a um declínio considerável na vegetação nativa (J. FERREIRA et al., 2012), o que pode ter efeitos negativos sobre o clima regional, promovendo novas mudanças na estrutura do ecossistema (COSTA; PIRES, 2009; MALHADO et al., 2010). Além disso, previsões climáticas apontam para um aumento na aridez (DE OLIVEIRA et al., 2012), o que acarretará em mudanças adaptativas para sobrevivência da biodiversidade da região (LEAL et al., 2005). Para uma conservação efetiva, é preciso informações precisas sobre uma variedade de fenômenos sociais, econômicos e ambientais, incluindo as tendências demográficas, de urbanização, biodiversidade, clima, entre outros. Essas informações não estão organizadas e muitas áreas sofrem deficiências de conhecimento, especialmente em informações biológicas básicas, tais como a distribuição de espécies vegetais (HOPKINS, 2007). Informações sobre a distribuição espacial do conhecimento científico na caatinga é, portanto, um componente importante para avaliar as áreas com baixa densidade de esforço de pesquisa em conservação e elaborar políticas eficazes para minimizar estes déficits de conhecimento melhorando nosso conhecimento quanto à conservação e uso sustentável da terra. Este trabalho teve como objetivo identificar e mapear as lacunas do conhecimento científico englobando temas sobre conservação e agricultura sustentável na Caatinga. MATERIAL E MÉTODOS Foi consultado o Web of Science (http://apps.webofknowledge.com/) e extraído de seu banco de dados, todos os artigos científicos referentes ao bioma Caatinga. A primeira busca foi realizada em 27 de outubro de 2014, onde utilizou-se a palavra-chave: Caatinga AND (“Sustainable Agriculture” OR Conservation). Encontrou-se 213 artigos, embora apenas 164 estivessem disponíveis para download. Excluiu-se do banco de dados, trabalhos realizados fora

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do bioma Caatinga e que não apresentaram relação com o tema conservação. Extraiu-se as seguintes informações dos artigos: coordenadas geográficas, tipo do dado, tipo de estudo, fatores/causas, área protegida, taxa e ameaças ao bioma. Por fim, foram analisados e mapeados os artigos utilizando o software QGIS 2.2 e gerados mapas de Kernel para analisar espacialmente a densidade de publicações científicas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os primeiros estudos publicados sobre conservação na Caatinga são de 1999 (Figura 1). Podese observar dois padrões temporais de crescimento da pesquisa: um de 1999 a 2008 (27% da nossa amostra) e outro com um crescimento mais acelerado a partir de 2009 até o momento, somando-se 73% (Figura 1). Dos 167 artigos científicos disponíveis, apenas 96 tinham foco em conservação, dos quais foi possível extrair 200 coordenadas geográficas referentes a sítios de pesquisa.

Figura 1. O gráfico mostra o número de artigos publicados, com ênfase na conservação, nos anos de 1999 até 2014 - Unidades de Conservação (UC’s) Com o mapeamento, observou-se uma tendência dos trabalhos serem realizados próximos às capitais dos estados litorâneos, onde vive boa parte da população nordestina (Figura 2), exceto para Minas Gerais e Maranhão, estados que apresentam uma pequena parcela de Caatinga em sua região. Estes padrões podem ter sido gerados por conta da dificuldade de deslocamento e logística neste bioma, caracterizado por ter a mais alta radiação solar, alta temperatura e baixas taxas de umidade (REIS, 1976).

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A região leste da caatinga (Paraíba, Pernambuco e Sergipe) se destacou pela maior densidade de pesquisas realizadas em sua região, mostrando um maior esforço de pesquisa e conhecimento científico, já a região oeste, norte e sul da Caatinga tem déficit acentuado de esforço de pesquisa, com grandes regiões sem nenhum ponto de coleta/atuação. Quando comparadas as áreas de densidade de pesquisa com as Unidades de Conservação em todas as esferas, observa-se que não existe uma maior densidade de pesquisa nas UC´s como era esperado. Apenas o PN do Catimbau, em Pernambuco, está localizado em alto centro de densidade de pesquisa. Em contrapartida, os estados que apresentaram uma porcentagem maior de caatinga protegida foram: Piauí (11,45%), Bahia (8,50%) e Ceará (6,50%). O estado de Alagoas foi o único com ausência de dados para UC’s na caatinga, uma vez que apenas em 2013 foi criada a primeira UC estadual no bioma (GAZETA, 2013).

Figura 2. Distribuição espacial de pesquisas relacionadas com conservação no Bioma Caatinga, com a delimitação das UC’s de todas as esferas. O Mapa de Kernel representa os valores máximos de densidade sobre a quantidade de pontos plotados - Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD) As Áreas Susceptíveis à Desertificação são áreas prioritárias para conservação por conta das condições desérticas, como a perda da cobertura vegetal, solos erosivos e diminuição da retenção de água no solo, o que torna difícil a adaptação da biodiversidade, podendo levar a riscos de extinção.

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Na Caatinga existem três Núcleos de Desertificação, localizados nos municípios de Irauçuba/CE, Seridó/PB e Cabrobó/PE (Figura 3). Comparando os artigos publicados na Caatinga com os Núcleos de Desertificação, Seridó/PB e Cabrobó/PE foram os núcleos que apresentaram maior proximidade aos pontos de trabalho, mas apesar da proximidade, as áreas ASD apresentam baixa densidade de estudos e precisam urgentemente de atenção e foco de pesquisa. O núcleo de Irauçuba/CE e a parte oeste do bioma são regiões que apresentaram uma carência de pesquisa e que merecem maior atenção da comunidade científica e governamental. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente o fator antropogênico intensificou a degradação com a substituição do bioma por práticas de agricultura, pecuária, assim como pela extração de madeira para produção de lenha e carvão.

Figura 3. Distribuição espacial de pesquisas relacionadas com conservação no Bioma Caatinga, com a delimitação das ASD. Baseado no “Atlas das Áreas Susceptíveis à Desertificação no Brasil, MMA, 2007” CONCLUSÕES Com este estudo podemos concluir que existe um déficit alto de esforço de pesquisa em conservação na maior parte da Caatinga, principalmente nas regiões Norte, Sul e Oeste do Bioma. Podemos concluir, também, que muitas UC´s não estão cumprindo com seu papel de pesquisa científica e que as ASD precisam de atenção urgente para suprir o déficit de

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conhecimento existente no momento.

É essencial que governantes (através de políticas

públicas) e cientistas (através de pesquisa) se unam para minimizar este déficit acentuado de esforço e conhecimento e possamos melhorar nossas chances de conservar os remanescentes do Bioma. REFERÊNCIAS COSTA, M. H.; G. F. PIRES. Effects of Amazon and Central Brazil deforestation scenarios on the duration of the dry season in the arc of deforestation. International Journal of Climatology, v 30, p.1970-1979, 2010. FERREIRA, J. et al.. Towards environmentally sustainable agriculture in Brazil: challenges and opportunities for applied ecological research. Jornal of Applied Ecology, v. 49, p. 535-541, 2012. GAZETA DE ALAGOAS. A caatinga preservada do Craunã. Disponível . Acesso em: 05/04/2015.

em:

HOPKINS, M. J.. Modelling the known and unknown plant biodiversity of the Amazon Basin. Journal of Biogeography, v. 34, p. 1400-1411, 2007. LEAL, I. R.; DA SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M.; LACHER JR., T. E. Mudando o curso da conservação da biodiversidade na Caatinga do Nordeste do Brasil, Pernambuco, Brasil. Megadiversidade, v. 1, p.139-145, 2005. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA. Disponível em: . Acesso em: 05 fev. 2015. MALHADO, A.C.M., PIRES, G.F., & COSTA, M.H. Cerrado conservation is essential to protect the Amazon rainforest. Ambio, v. 89, p. 580-584, 2010. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Caatinga. Disponível em: . Acesso em: 05 fev. 2015. REIS, A. C.. Clima da caatinga. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 48, p. 325-335, 1976. SANTANA, M. O. Atlas das áreas susceptíveis à desertificação do Brasil. 2.ed. Brasília Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Recursos Hídricos, 2007. 134p.

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