Área Temática: Economia Solidária
CERTIFICAÇÃO FAIR TRADE: A PERCEPÇÃO DOS MESTRANDOS DE UMA IFES SOBRE A CERTIFICAÇÃO EM UMA COOPERATIVA NO MUNÍCIPIO DE MOSSORÓ-RN Aramidis Cibelly Moura de Morais1 Tarciara Magley da Fonseca Pereira2 Rosemary Feitoza Brasil3 Kerginaldo Nogueira de Medeiros4
Resumo: Este artigo tem o objetivo verificar as percepções dos mestrandos em Ambiente, Tecnologia e Sociedade em relação a utilização da certificação Fairtrade em
uma cooperativa rural no município de Mossoró/RN. A pesquisa foi realizada com
16 mestrandos da área de ciências ambientais, por considerar que os mesmos estão aptos para discutirem sobre esta questão pela diversidade de formação acadêmica dos mesmos e também por terem conhecido a cooperativa e conversado com o gestor sobre o assunto pessoalmente. Utilizou-se como método uma pesquisa exploratória e um questionário semi-estruturado aplicado aos mestrandos. A análise dos resultados mostrou que a maioria dos mestrandos não conheciam a certificação Fairtrade antes de visitarem a cooperativa. Após a visita a cooperativa, a maioria deles afirmaram perceberem benefícios sociais, econômicos e ambientais com a certificação Fairtrade na cooperativa. A maior parte dos sujeitos pesquisados também relataram concordarem que esta certificação agrega valor ao produto dos pequenos produtores rurais. Por fim, apesar destes relatos, o desdobramento da pesquisa permitiu concluir que há a necessidade de uma política que oriente os cooperados para alavancagem da produção e mais conformidade do processo produtivo a certificação Fairtrade. 1
Graduada em administração pela UFERSA. Mestranda no curso de Ambiente Tecnologia e Sociedade da UFERSA. 3 Mestranda no curso de Ambiente Tecnologia e Sociedade da UFERSA. 4 Mestranda no curso de Ambiente Tecnologia e Sociedade da UFERSA. 2
1/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
Palavras-chave: Fairtrade, cooperativas, percepção.
Abstract: This article has the objective to verify the perceptions of masters in Environment, Technology and Society regarding the use of Fairtrade cooperative in a rural area of Mossoró/RN. The research was conducted with 16 Master's students of environmental sciences, considering that they are able to discuss this issue on the diversity of academic training them and also for having known cooperative and talked to the manager about it personally. Used as an exploratory method and a semi open applied to masters. The results showed that most masters did not know before visiting Fairtrade cooperative. After visiting the cooperative, most masters claimed realize social, economic and environmental certification with Fairtrade cooperative. Most study subjects also reported agree that certification adds value to the product of small farmers. Finally, despite these reports, the extension of the research concluded that there is a need for a policy to guide the cooperative to leverage the production line
and
more
productive
process
the
Fairtrade
certification.
Keywords: Fairtrade, cooperatives, perception.
1 INTRODUÇÃO A partir da década de 1960, a modernização da agricultura com a introdução de novas tecnologias, permitiu o aumento da capacidade da produção agrícola ao mesmo tempo em que trouxe conseqüências sociais e ambientais indesejadas (BALSAN, 2006; OLIVEIRA, GAZOLLA, SCHNEIDER, 2011). Como impactos ambientais, provenientes do modelo de produção baseado em monoculturas, estão “a destruição das florestas e da biodiversidade genética, a erosão dos solos e a contaminação dos recursos naturais e dos alimentos” (BALSAN, 2006, p.2). As conseqüências dos impactos socioeconômicos, originados pelas mudanças rápidas no modelo de produção agrícola, tido como capitalista, dependente, concentrador, dominador, exportador e excludente, estão os interesses do capital dominante, que são produção maximizada, impossibilidade dos pequenos produtores competirem 2/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
com os grandes produtores. Enquanto estes detentores do capital e dos meios de produção alcançaram o mercado de exportações, os pequenos produtores em meio ao processo de globalização da economia, sem acesso aos meios de produção, estavam destinados a sazonalidade do mercado interno em outros estabelecimentos agrícolas, em que cresceu a instabilidade no emprego e o aumento da jornada de trabalho (BALSAN, 2006). Neste contexto, há a necessidade de assegurar que o desenvolvimento tecnológico das atividades agrícolas, não prejudique as condições sociais e ambientais em que vivem e produzem as famílias de agricultores (OLIVEIRA, GAZOLLA, SCHNEIDER, 2011). Neste sentido, a certificação é um dos mecanismos de garantia de qualidade que pode ser utilizado nos sistemas agroindustriais, como uma maneira de transmitir informações sobre a segurança do produto, baseadas em um documento ou certificado formal (LAZZAROTTO, 1999). Como também pode ser uma barreira alfandegária, visto que suas exigências podem retirar produtores do mercado. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO (2002) existem três principais classe de selos de qualidade para os produtos alimentares: selos de inocuidade (segurança alimentar); selos de qualidade nutricional e selos identificadores de propriedade de valor. Este último visa identificar que o produto atende a características específicas, como por exemplo: composição, satisfação de tradições sócio-culturais, educação, etc. Nesta categoria está o selo de comércio justo, que dissemina o respeito ao meio ambiente e o respeito à vida dos agricultores familiares e trabalhadores envolvidos na produção (LAFORGA, EID, 2005). A certificação Fairtrade ou de comercio justo compreende o desenvolvimento social, econômico e ambiental da produção agrícola (FERREIRA, 2003). Diante do exposto, questiona-se se a certificação Fairtrade é uma maneira de agregar valor ao produto (melão) dos agricultores familiares, levando em consideração o desenvolvimento econômico, social e ambiental. Para responder esta questão, busca-se compreender como os mestrandos de um curso na área de ciências ambientais avaliam a implementação desse tipo de certificação no ambiente rural, visto que os mesmos discutiram sobre o assunto em 3/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
sala de aula, além disso, são de áreas diversas de conhecimento possibilitando uma visão interdisciplinar sobre o assunto e também por terem conhecido pessoalmente a cooperativa abordada nesta pesquisa. Portanto, o objetivo deste artigo é verificar as percepções dos mestrandos de um curso de ciências ambientais, em relação a utilização da certificação Fairtrade em uma cooperativa rural no município de Mossoró/RN, indagando se é uma maneira de agregar valor ao produto levando em consideração o desenvolvimento econômico, social e ambiental. O presente estudo justifica-se pela necessidade de constatação de que há a garantia de uma produção que leva em consideração os aspectos social, ambiental e econômico, atestada na certificação do produto na cooperativa em estudo. Pela relevância de se produzir levando em consideração a qualidade de vida dos trabalhadores e sem prejudicar o meio ambiente para o desenvolvimento das futuras gerações. Cabe também ressaltar que a esta certificação pode agregar valor ao produto, possibilitando também a geração de renda para os cooperados.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 A Certificação Fairtrade A iniciativa que mais tarde viria ser denominada de “Fairtrade” ou Comercio Justo, teve início entre as décadas de 1940 à 1970 nos EUA e em alguns países da Europa, como uma alternativa ao comércio praticado no mercado globalizado em que não havia equidade entre os produtores, ficando estes marginalizados frente ao mercado. Esta iniciativa visava criar um ambiente de negócio que ajudasse a mitigar a pobreza, diminuísse a exploração ao trabalhador e ponderasse uma parceria entre as partes envolvidas no negócio comercial (FAIRTRADE, 2006). O Comércio Justo é uma abordagem alternativa ao comércio convencional e está baseada em uma parceria entre produtores e consumidores. Esta abordagem proporciona aos produtores uma melhoria nos negócios em termos de troca, dandolhes a oportunidade de melhorar suas condições de vida. Como “justo” entende-se a 4/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
relação de troca em que os preços devem ser fixados com base nos custos da produção e mais uma contribuição que possa garantir um nível de renda suficiente aos produtores e trabalhadores para uma vida digna, como determina a Declaração Internacional dos Direitos Humanos e as convenções internacionais da Organização Internacional do Trabalho (OIT) (FAIRTRADE, 2006). A Fair Trade Labelling Organizations (FLO) elabora a seguinte definição: Fair Trade é uma relação comercial baseada no diálogo, transparência e respeito, que procura maior equidade no comércio internacional – contribui para o desenvolvimento sustentável ao oferecer melhores condições comerciais e ao assegurar os direitos de produtores e de trabalhadores marginalizados, especialmente no hemisfério sul (FAIRTRADE, 2006, p. 10).
Portanto, a certificação Fairtrade ou de comércio justo sinaliza que o produto foi produzido de forma ética levando em consideração os aspectos sociais e ambientais (CANTALICE et al, 2010). O processo de certificação da Fairtrade é análogo aos processos de certificação convencional, desenvolvido por uma organização e dividido nas fases de aplicação, avaliação, certificação inicial e renovação da certificação (OLIVEIRA; ARAÚJO; SANTOS, 2008). O Comercio Justo pode ser desenvolvido de várias maneiras, dentre elas, a forma do movimento tradicional da comunidade de ONGs políticas e religiosas e a Fair Trade Labelling. Na primeira, os produtos vendidos não possuem um selo de identificação e as compras são realizadas com base na confiança. Na segunda, há a utilização de selos para atestar a autenticidade dos produtos que foram produzidos e comercializados de acordo com o Comércio Justo (LAFORGA, 2005). Além dos benefícios desta certificação para os produtores já citados, está o pré-financiamento em que os produtores podem requerer o pagamento de até 60% do contrato por parte dos compradores, o que ajuda na liquidez da produção (FAIRTRADE, 2006). O foco da certificação Fairtrade está principalmente nos produtos alimentícios agrícolas, como café, chá, banana, frutas, uvas viníferas, arroz, sementes e óleos de vários tipos de nozes, mas também há a certificação para outros produtos não alimentícios como flores, algodão e bolas para a prática esportiva, por exemplo (FAIRTRADE, 2006). 5/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
Quanto às estratégias de mercado Fairtrade, dentre estas cita-se, maior entrada no mercado de produtos convencionais com o selo, reconhecimento dos governos nacionais e da União Européia, mais qualidade nestes produtos, estreitamento com o mercado de produtos orgânicos, aumento da conscientização dos consumidores e denuncia a exploração de mão-de-obra (OLIVEIRA; ARAÚJO; SANTOS, 2008). Para obter a certificação é necessário que os produtores tenham uma demanda correspondente do produto a ser certificado. Para os compradores, só serão certificados se houver oferta compatível para sua demanda. Essa medida de adequação é estabelecida pela certificadora com o propósito de garantir o preço mínimo a ser praticado, por evitar pressões de negociação entre compradores e fornecedores (PEDINI, 2011). Cabe ressaltar também que a certificação não garante vendas (LAFORGA; EID, 2005). Com base nos aspectos da Fairtrade relatados, observa-se a oportunidade de agregação de valor ao produto do produtor rural, que será discutido no capítulo a seguir.
2.2 Valor Agregado ao Produto
Antigamente, as empresas estabeleciam seus preços com base nos custos e no lucro almejado, era possível obter vendas e margens, devido a pouca variedade de produtos existentes no mercado. Hoje em dia, os lucros são obtidos praticamente pela diferença entre a quantia que a empresa consegue arrecadar e os custos, em razão da multiplicidade de produtos oferecidos no mercado. Portanto, não é viável estabelecer preços apenas com base nos custos, a atenção volta-se para o cliente e no preço que este está disposto a pagar (BADEJO; CALLEGARO, 2003). De acordo com Vilckas e Nantes (2007), valor pode ser definido a partir de três aspectos - preço, comportamento do consumidor e estratégia: Na literatura sobre preços, valor é definido como o trade-off percebido pelos consumidores entre os benefícios recebidos e os investimentos (monetários e não monetários) para a compra do produto/serviço. Segundo a perspectiva de comportamento do consumidor, o valor é definido de acordo com a satisfação das necessidades e desejos do consumidor pelo 6/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
produto/serviço adquirido. Do ponto de vista estratégico, valor refere-se ao quanto os compradores estão dispostos a pagar por aquilo que a empresa esteja disposta a oferecer-lhes (VILCKAS; NANTES, 2007, p.28).
Para El Check (2007, p.36) “agregar valor ao produto ou serviço é exceder a sua finalidade básica e isto exige criatividade”. O importante é a percepção do cliente quanto ao produto ou serviço que deve ter significado para este. Agregar valor aos produtos de origem rural é fundamental para que os produtores possam obter espaço no mercado e alcançar novos gerando competitividade ao empreendimento. No ambiente rural, são poucas as iniciativas de agregação de valor e este processo se depara com entraves no comportamento tradicional do produtor (VILCKAS; NANTES, 2007). Para os produtos certificados pela Fairtrade, a agregação de valor deve-se ao aspecto social e ecológico. O público alvo destes produtos possui um senso crítico em relação aos efeitos da globalização e apóia políticas ecologicamente corretas. Estes consumidores consideram que vale pagar mais por um produto que agrega valor social, remetendo sua contribuição ao produtor, e preza sempre pela qualidade do mesmo. Na Europa, para justificar o preço mais elevado, o produto Fairtrade é posicionado no segmento de alta qualidade. (OLIVEIRA; ARAÚJO; SANTOS, 2008). O produto é amplamente divulgado nas mídias sociais como um estilo de vida e são realizadas campanhas de educação/conscientização para estimular o uso destes produtos (LAFORGA; EID, 2005; OLIVEIRA; ARAÚJO; SANTOS, 2008) A revisão de literatura discutida dá sustentação ao estudo aqui proposto. A seguir serão abordados os procedimentos metodológicos.
3 MÉTODOLOGIA
A abordagem da pesquisa foi qualitativa por considerar que os métodos qualitativos permitem uma maior compreensão sobre os acontecimentos diários e o significado que as pessoas apresentam aos fenômenos (GIL; LICHT; SANTOS, 2006). Quanto aos objetivos, utilizou-se a pesquisa exploratória que na classificação de Gil (2010) tem por objetivo principal o aperfeiçoamento de idéias ou a descoberta 7/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
de intuições. Seu planejamento é bastante flexível, viabilizando a consideração dos mais diversificados aspectos relativos ao fato estudado. Como instrumento de pesquisa utilizou-se um questionário com questões semi-estruturadas, aplicado aos alunos de uma turma do mestrado acadêmico na área de ciências ambientais de uma instituição de ensino federal no Rio Grande do Norte, após a visita dos mesmos à cooperativa. Nesta oportunidade os mestrandos estabeleceram uma conversa com o presidente da cooperativa para conhecer aspectos relacionados a implementação da certificação Fairtrade. Após esta visita, os mestrandos se dividiram em grupos para discutirem as diversas formas de utilização da certificação Fairtrade na produção agrícola do melão, estabelecendo debates em sala de aula sobre os benefícios da certificação e a realidade atual percebida da cooperativa. Assim, considerou-se que os mestrandos estariam aptos a falar sobre a certificação Fairtrade nesta pesquisa, pelo fato de abordarem o assunto durante o curso de pós-graduação, pela diversidade de áreas de formação dos mesmos, que podem oferecer uma visão interdisciplinar sobre esta questão, como também por haverem conhecido pessoalmente a cooperativa. O gráfico abaixo mostra o perfil dos sujeitos pesquisados: Gráfico 1 – Perfil dos Mestrandos (área de formação).
8/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
Fonte: Autoria própria, 2013.
O questionário foi aplicado com todos os alunos desta turma, perfazendo um total de 16 mestrandos, dos quais 75% responderam o questionário, 25% não tiveram interesse em responder o questionário. A coleta de dados foi realizada no período de maio a junho de 2013, após a visita dos mestrandos à cooperativa. Nesta pesquisa também foram consultadas informações ao SEBRAE sobre a organização em estudo. A análise dos dados foi realizada com base na literatura.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 A Cooperativa
A cooperativa de agricultores familiares localiza-se em uma comunidade rural do município de Mossoró/RN, sendo formada por 32 (trinta e dois) produtores que trabalham em uma área plantada de 65 hectares dos 118 hectares existentes. Das 32 famílias que perfazem um número de aproximadamente 100 pessoas, quase todos os seus membros são alfabetizados, sendo que em apenas 02 famílias os pais não são alfabetizados. Todos os filhos atualmente em idade escolar freqüentam a escola, a comunidade conta com uma creche e uma escola de ensino fundamental. Estes pequenos produtores, por volta de 1980 trabalhavam na cultura do melão em escala de produção em grandes empresas (latifúndios) ali existentes que praticavam a monocultura, portanto conhecedores de como conduzir este tipo de cultura. Eles iniciaram plantando para algumas empresas ainda existentes que comercializavam melão e como o comércio ali praticado não satisfazia os seus anseios procuraram uma das Organizações do Sistema “S”, mais especificamente o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas)para se adequarem tanto as boas práticas agrícolas quanto as exigências internacionais, como por exemplo, a busca e aquisição do certificado “Fairtrade”. Como alternativa para o processo de comercialização, em 2003 esta organização propôs a criação de
9/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
uma cooperativa, que de início sofreu resistência por parte do grupo. A partir de então começou a produção e a comercialização do produto de forma associada. Em 2007, alguns compradores da Europa vieram para a região em busca de produções que pudessem comercializar no modelo “Fairtrade”. Tendo em vista que a produção da comunidade se enquadrava nos requisitos previstos, buscaram a forma que atendesse a este mercado e então em 2009 adquiriram a certificação para a commoditie melão. Nesta comunidade a produção do melão consome toda mão-de-obra ali existente desde o preparo do solo, plantio, colheita e comercialização. Atualmente, o melão é exportado para países europeus, sobretudo Holanda, Irlanda e Itália. No país, o produto é escoado para as capitais de alguns estados da região nordeste, principalmente Natal, Fortaleza, Recife e João Pessoa. Quanto aos aspectos ambientais, a certificação Fairtrade determina que os agricultores preservem a natureza. A área plantada é de 65 hectares sendo que a quantidade total é de 118 hectares, verifica-se que está de acordo com o planejamento ambiental que estabelece a preservação de uma área virgem. Também são utilizadas novas tecnologias para reduzir o consumo de água e a utilização de agrotóxicos, como exemplo cita-se o uso do mulchi e o gotejamento da água. A cooperativa foi a primeira no mundo a receber a certificação Fairtrade para a comercialização do melão. Verifica-se no tópico a seguir, a percepção dos mestrandos da área de ciências ambientais quanto a utilização desta certificação na cooperativa.
4.2 A Percepção dos mestrandos sobre a utilização da certificação Fairtrade na cooperativa
A percepção dos mestrandos quanto à utilização da Fairtrade na cooperativa foi questionada mediante os aspectos econômicos, sociais e ambientais desta certificação. Inicialmente questionou-se aos mestrandos se eles já haviam tomado conhecimento sobre a certificação Fairtrade, identificando-se que a maioria 10/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
desconhecia esta certificação (59%), 12% já ouviram falar sobre o assunto, 6% conheciam parcialmente e 23% não responderam a pergunta (gráfico 2). Um dos mestrandos apontou que já havia ouvido falar sobre comércio justo, mas não sabia se havia uma certificação especifica para essa prática comercial. Gráfico 2 – Conhecimento prévio sobre a Fairtrade
Fonte: Autoria própria, 2013.
Também questionou-se sobre o conhecimento da certificação Fairtrade para os produtores da agricultura familiar, se os mestrandos consideram haver a necessidade de maior divulgação por meio de publicações, documentários na televisão e outros meios de divulgação de acesso ao conhecimento desta certificação para este público. A maioria dos sujeitos pesquisados (65%) concordou que deveria haver mais divulgação sobre o assunto. Gráfico 3 – Necessidade de informação aos produtores sobre a Fairtrade
11/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
Fonte: Autoria própria, 2013.
Segundo Ferreira (2003), a Fairtrade é uma certificação que envolve o desenvolvimento social, econômico e ambiental da produção agrícola. A maioria dos mestrandos (59%) concordam com a afirmação do autor, apenas 6% não concordam com esta afirmação, 12% relataram concordar parcialmente e 23% não responderam a pergunta. Ora achavam que a comunidade estava em desenvolvimento social e econômico, pois era visível que a cooperativa gerava emprego, as crianças estavam na escola, havia internet instalada gratuita para todos, no entanto não entendiam que ora o maulchi ajudava a economizar água e por outro lado estragva o solo. Em relação a percepção dos mestrandos quanto aos benefícios sociais, econômicos e ambientais, tais como, a melhoria do nível de renda, da qualidade de vida e a preservação do meio ambiente físico relatados pela Fairtrade Labelling Organizations International (2006) e Fairtrade Internacional (2013), sobre a aplicação desta certificação na produção agrícola da cooperativa, 41% afirmaram perceberem estes benefícios na organização, 18% afirmaram não perceberem, 18% percebem parcialmente e 23% não responderam a pergunta. Um dos mestrandos relatou não responder a pergunta por não ter conhecimento da situação da cooperativa antes da certificação. Outro mestrando apontou não perceber tais benefícios devido a implementação da certificação por compreender que o selo foi conseqüência destes benefícios, em virtude de que eram uma das exigências para a certificação. Quando questionados sobre a preocupação ambiental que rege esta certificação, por exemplo, para diminuição dos impactos ambientais físicos, é 12/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
proibida a exploração em florestas virgens e se a área explorada estiver próxima destas, deve ser mantida uma distância mínima de 100 metros (FAIRTRADE INTERNACIONAL,
2013),
29%
dos
sujeitos
pesquisados
apontaram
ter
conhecimento sobre a preocupação ambiental descrita pela Fairtrade, 35% apontaram desconhecê-la, 12% conhecem parcialmente e 24% não responderam. Na Fairtrade, para diminuir os impactos ambientais causados pelo uso de substâncias químicas, deve ser dada prioridade ao uso de substâncias orgânicas e, quando não for possível, utilizar sustâncias sintéticas com baixa toxidade, que não sejam cumulativas e ofereçam baixa tenacidade. Esses procedimentos buscam evitar a poluição das águas e a contaminação do solo, da fauna e da flora (FAIRTRADE INTERNACIONAL, 2013). Sobre a percepção dos mestrandos quanto a utilização de substâncias orgânicas e sintéticas não-tóxicas na cooperativa, 23% afirmaram perceberem, 35% afirmaram não perceberem, 18% relatam perceberem parcialmente e 24% não responderam a pergunta. Dois mestrandos mencionaram que não puderam perceber isso porque não acompanharam o processo de produção e sim apenas tiveram informações relatadas pelo presidente da cooperativa. Quanto ao critério agregação de valor, 76% dos mestrandos concordam que a certificação Fairtrade poderia ajudar a outros agricultores rurais a agregarem valor ao seu produto, 24% não responderam a pergunta. Em relação a competitividade, na opinião de 59% dos sujeitos pesquisados, a certificação Fairtrade pode ser um diferencial para a agricultura familiar competir com as grandes empresas, como mostra o gráfico abaixo: Gráfico 4 – Percepção dos mestrandos quanto a competitividade na utilização da Fairtrade
13/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
Fonte: Autoria própria, 2013.
A análise dos resultados permitiu o conhecimento do objeto pesquisado com base na literatura e no método de pesquisa utilizado. A seguir serão abordadas as considerações finais para esta pesquisa.
5 CONCLUSÃO
O objetivo deste artigo foi verificar as percepções dos mestrandos de um curso na área de ciências ambientais em relação a utilização da certificação Fairtrade em uma cooperativa rural no município de Mossoró/RN. Conclui-se que quanto ao conhecimento da certificação Fairtrade pelos mestrandos, a maioria desconhecia sobre o assunto quando participaram da pesquisa, tendo sido uma oportunidade para os mesmos tomarem mais conhecimento sobre a certificação Fairtrade. Assim também, poucos dos mestrandos sabiam sobre os conhecimentos específicos para o meio ambiente prescritos nesta certificação. Verificou-se que mais da metade dos mestrandos que responderam a pergunta, perceberam na cooperativa benefícios, sociais e econômicos como afirma a literatura sobre Fairtrade. Quanto aos benefícios sociais, A maioria dos mestrandos, ainda que pouco expressiva, relatou não perceberem na cooperativa o uso de substâncias que procuram evitar a poluição das águas e a contaminação do solo, da fauna e da flora.
14/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
Todos os mestrandos que responderam o questionário consideram que a Fairtrade ajudaria a outros produtores a agregarem valor ao produto e que a utilização desta norma também ajuda os pequenos produtores a competir no mercado com os produtos de grandes empresas. Por fim, verificou-se que há um misto de vantagens e não conformidades sobre a implementação da Fairtrade na cooperativa. Quanto aos aspectos econômicos, percebeu-se que apesar da produção estar certificada, assim como mostra a literatura, a certificação não garante a estabilidade da produção, pois há períodos do ano que estes produtores não exportam por não compensar economicamente em relação ao custo/benefício. No entanto, a certificação trouxe como vantagem uma melhor inserção em um grupo restrito de exportação, em que determinadas épocas do ano tem um preço bom para a sua produção. No aspecto social, verificou-se que as condições de trabalho destes produtores rurais ainda não contam com garantias que possam oferecer uma qualidade de vida no trabalho. Por outro lado, com a certificação a cooperativa se beneficiou com a criação de um centro de informática ampliando os conhecimentos da comunidade. Com a melhoria do negócio, houve também a expansão de estradas para escoar a produção e os órgãos públicos passaram a dar mais atenção a comunidade na criação de creches e escolas para as crianças e jovens. Além de propiciar um nível de renda melhor para os cooperados. Sobre o aspecto ambiental, durante a visita percebeu-se que alguns dos insumos utilizados pelos cooperados como os restos de mulchi e de plásticos estavam a céu aberto sendo maléfico ao meio ambiente e que não era condizente com o discurso que estava sendo pregado pelo presidente da cooperativa “sem agressão ao meio ambiente”. Observou-se que quanto as agressões ao meio ambiente, os cooperados ainda não encontraram uma forma de reduzi-las. Por fim, conclui-se que de acordo com a percepção dos mestrandos e das demais informações encontradas sobre a utilização da Fairtrade na cooperativa em estudo, há uma necessidade de uma política que propicie uma melhor orientação aos cooperados com esclarecimentos necessários que ajude aos produtores a alavancar 15/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
a produção de acordo com os princípios que regem a Fairtrade. Portanto, acredita-se que falte uma política pública de gestão eficiente para a cooperativa. Como dificuldades para a pesquisa apesar de terem sido utilizados questionários
semi-estruturados,
poucos
participantes
da
pesquisa
fizeram
observações sobre as questões no método de pesquisa, o que dificultou a análise dos dados.
6 REFERÊNCIAS
BADEJO, M. S., CALLEGARO, D. Agregação de valor ao cliente e formação de preço: um estudo da cadeia produtiva de pêssego de Pelotas RS. In. III Congresso Internacional de Economia e Gestão de Negócios Agroalimentares, Ribeirão Preto, 2001. Anais... Ribeirão Preto, 2001. BALSAN, R. Impactos decorrentes da modernização da agricultura brasileira. Revista de Geografia Agrária, Lavras, n. 2, p. 123-151, 2006. CANTALICE, et al. Fair Trade (Comércio Justo) como um “Tópico Quente” internacional: análise bibliométrica e reflexão sobre possíveis abordagens do tema. In. XXXIV ENANPAD, Rio de Janeiro, 2010. Anais... Associação Nacional de Pesquisa em Administração, Rio de Janeiro, 2010. em: 30 ago. 2013. FAIRTRADE BRASIL. O que é Fairtrade. Disponível em: Acesso em: 14 jun. 2013. FAIRTRADE FEDERATION.2005 executive summary: Fairtrade trends in north America and the Pacific rim. Disponível em: . Acesso FAIRTRADE LABELLING ORGANIZATIONS INTERNACIONAL. Impacs. Disponível em: Acesso em: 14 jun. 2013. FAIRTRADE LABELLING ORGANIZATIONS INTERNATIONAL. Módulo 1 do Comércio Justo “O que é Comércio Justo?” - Uma Introdução à Certificação de Comércio Justo. Fairtrade Labelling Organizations International, Bom, 2006. Disponível em: www.fairtrade.net/.../_Comercio_Justo_Modulo_1_O_que_e_Comercio_... GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
16/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.
GIL, Antonio Carlos; LICHT, René Henrique Götz; SANTOS, Brigitte Rieckmann Martins dos. Por que fazer pesquisa qualitativa em saúde?.Universidade Municipal de São Caetano do Sul – v.1, n.1 jan/jun 2006 – São Caetano do Sul: Universidade IMES, 2006. v.1, n.2, jul/dez, 2006, 23cm, p. 9-11. LAFORGA, G. Dinâmica do Comércio Justo,associativismo e agricultura familiar no complexo agroindustrial citrícola do Brasil: estratégia de proteção ou reprodução de exclusão de mercado? 2004. Tese(Doutorado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2004. LAFORGA, G. Economia solidária, agricultura familiar ecomércio justo: alinhando convergências, apresentando desafios. In: ENCONTRO ANUAL DAANPOCS, 29., 2005, São Paulo, SP. Anais... São Paulo, SP, 2005. CD-ROM. LAFORGA, G.; EID, F. Certificação Social: potencialidades do comércio justo para a agricultura familiar brasileira. In: XLIII Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER), 2005, Ribeirão Preto. Anais... Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, 2005. OLIVEIRA, D.; GAZOLLA, M.; SCHNEIDE, S. Produzindo novidades na agricultura familiar: agregação de valor e agroecologia para o desenvolvimento rural. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, n. 1, p. 17-49, 2011. OLIVEIRA, R. F. et al. Efeito do Fairtrade sobre os cafeicultores de Poço Fundo. Lavras: Universidade Federal de Lavras, 2007. 5p. OLIVEIRA, R. F.; ARAÚJO, U. P.; SANTOS, A. C. Efeito do Fair Trade na cooperatva de agricultores familiares de café de Poço Fundo, MG. Revista de Geografia Agrária, Lavras, n. 2, p. 211-225, 2008. PEDINI, Sérgio. FAIR TRADE : alternativa ao mercado convencional de café e processos de empoderamento de cafeicultores familiares / Sérgio Pedini. – Lavras : UFLA, 2011.
VILCKAS, M.; NANTES, J. F. D. Agregação de valor: uma alternativa para a expansão do mercado de alimentos orgânicos. Organizações rurais & Agroindustriais, lavras, n. 1, p. 26-37, 2007. Referencias
17/17 Encontro de Gestão Social do Programa de Educação Tutorial – GESPET Mossoró/RN, 07 e 08 de Novembro de 2013.