II Simpósio Brasileiro de Recursos Naturais do Semiárido – SBRNS “Convivência com o Semiárido: Certezas e Incertezas” Quixadá - Ceará, Brasil 27 a 29 de maio de 2015 doi: 10.18068/IISBRNS2015.rechid453

ISSN: 2359–2028

CARACTERIZAÇÃO FISIOGRÁFICA DOS PADRÕES DE DRENAGEM DA BACIA DO RIO CEARÁ, CE Rosilene de Melo França1, Davi Rodrigues Rabelo2, Nayara Santos da Silva3 1

Graduanda em Geografia, UECE, Fortaleza-Ce, [email protected] Graduando em Geografia, UECE, Fortaleza-Ce 3 Mestre em Geografia, Programa de Pós Graduação em Geografia - PROPGEO/UECE, Fortaleza-Ce 2

RESUMO: O estudo da Geomorfologia Fluvial é de suma importância para compreender como os processos morfogenéticos atuam na esculturação da paisagem terrestre, em decorrência, principalmente das formas como as drenagens se espacializam na superfície. A área de estudo compreende a bacia do rio Ceará, que possui uma área de 773,70 km² inserido nos municípios de Caucaia, Maracanaú, Maranguape e Fortaleza, no estado do Ceará – Brasil. Pretende-se abordar sobre as conformidades das suas drenagens fluviais sob a superfície e fazer uma caracterização fisiográfica baseado na hierarquia fluvial, escoamento global, escoamento em relação à inclinação das camadas geológicas e a forma geométrica. Alguns procedimentos que foram adotados como levantamentos bibliográficos, mapeamentos, análise de imagens de satélite e parâmetros de medição, indicaram que na Bacia do Rio Ceará possui drenagens dentríticas, com escoamento exorréico, rios consequentes com hierarquia de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª ordem. Assim como, o método geossistêmico permitiu a caracterização geomorfológica em cinco principais unidades: Depressão Sertaneja, Tabuleiros PréLitorâneos, Planície Fluvial, Maciços Residuais e Planície Litorânea. PALAVRAS–CHAVE: geomorfologia; processos fluviais; bacia hidrográfica

CHARACTERISTICS OF DRAINAGE PHYSIOGRAPHIC STANDARDS OF CEARÁ RIVER BASIN, CE ABSTRACT: The study of Geomorphology River is extremely important to understand how the morphogenetic processes work in sculpting the earth's landscape, mainly as a result of the ways drainages are spatialized on the surface. The study area comprises the Ceará River basin, which has an area of 773.70 km² inserted in the cities of Caucaia, Maracanaú, Maranguape and Fortaleza, in Ceará - Brazil. To discuss about the compliances of their storm drains under the surface and make a physiographic characterization based on river hierarchy, global flow, flow in relation to the slope of the geological layers and the geometric form. Some procedures that were adopted as bibliographic surveys, mapping, satellite image analysis and measurement parameters, indicated that at the Ceará River Basin has dendritic drainages with exorreico flow, resulting rivers hierarchy 1st, 2nd, 3rd and 4th order. As well, the geossistêmico method allowed the geomorphological characterization of five main units: Country Depression, Trays Pre- Coastal, River Plain, Massive Waste and Coastal Plain. KEYWORDS: geomorphology; fluvial processes; watershed

Recursos hídricos

INTRODUÇÃO A água, seja no estado sólido, líquido ou gasoso, constitui-se como um dos principais agentes modeladores e modificadores da paisagem. A utilização dos recursos hídricos possui demandas dos diversos setores da sociedade, tanto no abastecimento público, como na irrigação, uso industrial, navegação, recreação, pesca e piscicultura, hidroeletricidade, turismo e etc. Desta forma, destaca-se fundamental a necessidade de análise dos canais fluviais e de suas formas para um maior entendimento das estruturas geomorfológicas. Os rios exercem grande importância na esculturação da forma do relevo terrestre. De modo geral, os rios correspondem a “cursos naturais de água doce, com canais definidos e fluxo permanente ou intermitente para um oceano, lago ou outro rio” (TEIXEIRA, 2009). A bacia de drenagem é composta de canais de escoamento inter-relacionados definida como a área drenada por um determinado rio ou por um sistema fluvial (CHRISTOFOLETTI, 1980). Outra definição muito importante é a de Tucci (1997) que define a composição da bacia hidrográfica como sendo “um conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até resultar em um leito único no seu exutório” (TUCCI, 1997). O presente trabalho visa uma abordagem sobre canais fluviais e a descrição de suas formas para um melhor entendimento das particularidades pertinentes ao relevo. Com isso, a área de estudo compreende a Bacia do rio Ceará, importante recurso hídrico do estado cearense que apresenta potencialidades naturais e que devido aos processos a este pertinente foi escolhido para o estudo. MATERIAL E MÉTODOS A discussão teórica foi feita através de levantamentos bibliográficos, e para definir a escala de trabalho foi consultado Bertrand (1972), que através de seus estudos contribuiu para um maior entendimento do método geossistêmico. Através das similaridades das unidades de paisagem foi possível classificar a geomorfologia da área de estudo. Segundo o autor, a classificação dos elementos da paisagem se apoia nos sistemas formados mais ou menos de unidades homogêneas. As unidades de paisagem proposta por Bertrand (op. cit.) são divididas em: Unidades superiores (Zona, Região Natural, Domínio) e unidades inferiores (Geossistema, Geofácies, Geótopos). Seguindo a proposta deste autor e tomando por base os trabalhos de Souza (2000), aplicou-se o método geossistêmico à área de estudo, e a escala utilizada foi a do Geossistema que resultou na compartimentação geomorfológica em cinco unidades: Depressão Sertaneja, Tabuleiros Pré-Litorâneos, Planície Fluvial, Maciços Residuais e Planície Litorânea.

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Para a classificação das drenagens de acordo com a hierarquia fluvial, foi aplicada a metodologia proposta por Strahler (1952). Outros parâmetros de classificação das drenagens como a forma geométrica, escoamento global e escoamento condicionado às camadas geológicas foram consultados em algumas bibliografias que apresentam um contexto descritivo desses elementos e caracterizam as suas fisionomias, destacam-se os trabalhos de CHRISTOFOLETTI (1980), GUERRA (1994) e (TEIXEIRA, 2009). Para o delimitação da Bacia do rio Ceará foi utilizado o software ArcGis 9.3 e outros softwares como: Google Earth e Global Mapper 15.0, que integram os SIG’s (Sistemas de Informações Geográficas). Além disso, foram extraídas informações altimétricas a partir de Imagens de Radar (SRTM). Os shapes que integram os mapas são bases do IBGE 2010. RESULTADOS E DISCUSSÃO A área de estudo compreende a bacia do rio Ceará que abrange cerca de 773,70 km², englobando os municípios de Caucaia (40,2%), Maracanaú (68,3%), Maranguape (28,7%) e Fortaleza (22,4%), no estado do Ceará – Brasil,

integrando as bacias da Região

Metropolitana. Sua nascente encontra-se na Serra de Maranguape, percorrendo o território cearense até desaguar no Oceano Atlântico e um dos seus principais afluentes é o rio Maranguapinho (Figura 1).

Figura 1. Mapa de Localização da Bacia do Rio Ceará. Fonte: FRANÇA, 2015 A Bacia do rio Ceará encontra-se inserido numa região semiárida e apresenta rios intermitentes, sendo que estes percorrem cinco feições geomorfológicas. Seguindo a compartimentação geoambiental (Figura 2) proposta por SOUZA (1988), a área de estudo foi subdividida em: Depressão Sertaneja, que compreende a periferia dos planaltos sedimentares

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ou embutidos entre estes e os maciços residuais, apresentando topografias planas ou levemente onduladas, com litologias compostas por complexos de migmatítico e gnáissicomigmatítico abrangendo cerca de 70% do território cearense. Os Maciços Residuais encontram-se dispersos na Depressão Sertaneja, constituídos de rochas do embasamento cristalino, feições dissecadas e convexo-aguçadas, como é o caso das Serras do Maranguape e Conceição-Juá que servem como divisores de água da Bacia do rio Ceará (SOUZA, 1988). Os Tabuleiros dispõem à retaguarda da planície litorânea, sem ruptura topográfica com as depressões sertanejas e constituem de sedimentos do Grupo Barreiras, recoberto com uma grande espessura arenosa. Já Planície Litorânea trata-se de uma faixa de terra que acompanha paralelamente a faixa costeira, com largura de 5 a 10 km, composta de sedimentos arenosos trabalhados pela erosão eólica e sujeitos aos processos de acumulação (SOUZA, 1988). E por fim, a Planície Fluvial, constituída de acumulações decorrentes da ação fluvial, onde, acompanham longitudinalmente os rios, assumindo maiores larguras nos baixos vales.

Figura 2. Unidades Geomorfológicas da Bacia do Rio Ceará. Fonte: FRANÇA, 2015 No que se refere à classificação hierárquica (Figura 3) das drenagens fluviais, Strahler (1952) explica que os canais menores, sem tributários, são de primeira ordem e se estendem da nascente até a confluência; os de segunda ordem surgem do encontro de dois canais de primeira ordem e só recebem afluentes de primeira ordem; os de terceira ordem surgem do encontro de dois canais de segunda ordem, sendo possível receber tanto canais de segunda e 4

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primeira ordem, e assim sucessivamente. Com isso, observou-se a presença de canais de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª ordem na Bacia do rio Ceará (Figura 3).

Hierarquia Fluvial (STRAHLER) 1ª Ordem 2ª Ordem 3ª Ordem 4ª Ordem Bacia do Rio Ceará

Figura 3. Aplicação do Modelo de Strahler na Bacia do Rio Ceará. Fonte: STRAHLER, 1952

Seguindo a classificação dos padrões de drenagens com base na geometria, notou-se a presença de canais dendríticos (ou arborescentes), onde, segundo CHRISTOFOLETTI (1980), caracterizam-se por “ramos formados pelas correntes tributárias que distribuem-se em todas as direções sobre a superfície do terreno, e se unem formando ângulos de graduações variadas, mas sem chegar nunca ao ângulo reto.” O padrão dentrítico é muito comum sobre rochas de resistência uniforme, como é o caso do Estado do Ceará, que apresenta Domínio de Escudos e Maciços Antigos englobando cerca de 2/3 de seu território, onde, segundo SOUZA (1988), “além da ocorrência de relevos típicos dos núcleos cratônicos compreendidos pelas porções estáveis da plataforma, verificam-se os maciços antigos metamorfizados e submetidos remotamente às influências do tectonismo plástico e ruptural”. Percebeu-se que, seguindo o padrão do escoamento dos rios segundo as camadas geológicas, os canais da Bacia do rio Ceará, podem ser considerados consequentes, cujo curso é determinado pela declividade da superfície terrestre, ou seja, coincidem com a direção geral das camadas. O escoamento global da Bacia do rio Ceará, compreende em direção ao Oceano Atlântico, com isso, denominado de exorreico. O exutório de um rio está relacionado ao perfil de equilíbrio, onde, ajusta-se quando alcança seu nível de base no momento em que deságua em outro rio de maior porte, lago ou oceano (TEIXEIRA, 2009).

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CONCLUSÕES É de suma importância a compreensão dos padrões de drenagem nas suas diversas formas, pois, estas evidenciam características importantes relativas às estruturas geomorfológicas e do substrato rochoso de cada região. E o uso das ferramentas de geoprocessamento contribui na representação cartográfica, oferecendo maneiras diferenciadas de se compreender o espaço terrestre. De fato, o que se percebeu neste estudo foi a necessidade de caracterizar as diversas fisionomias como subsídio ao entendimento do relevo. REFERÊNCIAS BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico. Caderno de Ciências da Terra. Nº. 13. São Paulo: IGEOG – USP, 1972. CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blücher, 1980. GUERRA, A.J.T.; CUNHA, S.B. Geomorfologia Fluvial. In: GUERRA, A.J.T; CUNHA, S.B. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 5.ed. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil,1994. SOUZA, M.J.N. de. Contribuição ao estudo das unidades morfo-estruturais do estado do Ceará. Revista de Geologia. Fortaleza: UFC, p. 73-91, 1988. SOUZA, M. J. N; NETO, J. M; SANTOS, J. O; GONDIM, M. S. Diagnóstico Geoambiental do Município de Fortaleza: subsídios ao macrozoneamento ambiental e à revisão do Plano Diretor Participativo – PDPFor. Fortaleza: Prefeitura de Fortaleza, 2009 STRAHLER, A.N. Hypsometric (area-altitude) analysis and erosional topography. Geological Society of America Bulletin, v. 63, p.1117-1142, 1952. TEIXEIRA,W.; FAIRCHILD, T.; TOLEDO, M.C.M.; TAIOU, F. Processos fluviais e lacustres e seus registros. In: TEIXEIRA,W.; FAIRCHILD, T.; TOLEDO, M.C.M.; TAIOU, F. Decifrando a Terra. 2. ed. Editora Nacional, 2009. TUCCI, C. E. M. 1997. Hidrologia: ciência e aplicação. 2.ed. Porto Alegre: ABRH/Editora da UFRGS, 1997. (Col. ABRH de Recursos Hídricos, v.4).

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