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O USO DE ABREVIATURAS EM PRONTUÁRIOS MÉDICOS: UMA PROPOSTA DE PADRONIZAÇÃO Carla Carolina F.G. Querino* Elian Conceição Luz** Norma Suely da Silva Pereira*** Resumo: A importância de se conhecer o sistema de abreviaturas utilizado em nossa língua, já tem sido observada em vários estudos realizados no Brasil, com o intuito de facilitar o entendimento dos textos onde estas aparecem. Grandes volumes de trabalho e a exiguidade de tempo fazem com que se use cada vez mais as formas abreviadas, seja na escrita manuscrita como na digitação. Na prática da assistência clínica, não é diferente. Os profissionais de saúde também passaram a utilizá-las com muita frequência e, às vezes, também de forma indiscriminada, nos registros de prontuários. A pesquisa sobre o uso de abreviaturas está na fase de coleta de dados. O corpus constituído para a pesquisa é de 50 prontuários de pacientes internados em um hospital da rede pública de Salvador, no período de 01 a 30 de abril do ano de 2015. Até o momento da elaboração deste artigo, foram analisados 20 prontuários, com um achado inicial de 552 palavras diferentes abreviadas. As abreviaturas encontradas foram relacionadas em seis categorias, a saber: 334 na categoria medicina, 140 na categoria enfermagem, e 57, 32, e 19 nas categorias fisioterapia, serviço social e nutrição, respectivamente. Os resultados demonstram que o uso indiscriminado das abreviaturas pode dificultar o entendimento das informações contidas nos prontuários. Ao final da pesquisa, as informações sobre as abreviaturas encontradas e seus respectivos significados serão inseridos em um sistema de banco de dados implementado em MySQL (Structured Query Language) de onde poderão ser acessados em aplicações através de uma API (Application Programming Interface) desenvolvida em PHP (Hypertext Preprocessor). Assim, será desenvolvido um glossário que poderá ser utilizado em diferentes dispositivos para uso dos profissionais das equipes multidisciplinares em saúde. Palavras chave: Abreviaturas. Prontuário médico. Termos técnicos na saúde. API. Abstract: The importance of knowing the system abbreviations used in our language, has been observed in several studies in Brazil, in order to facilitate the understanding of the texts in which they appear. Large volumes of work and the limited time available leads to make use increasingly of short forms, either in handwriting as in typing. In the practice of clinical care is no different. Health professionals also started to use them very often and sometimes also indiscriminately, in the records of medical records. Research on the use of abbreviations is in the data collection phase. The corpus for research is 50 records of patients admitted to a public hospital in Salvador, in the period from 01 to 30 April 2015. At the time of writing of this article, we analyzed 20 medical records, with a initial finding of 552 different words abbreviated. Abbreviations were related in six categories, namely: 334 in medicine category, 140 in nursing category, and 57, 32, and 19 in the categories physiotherapy, social work and nutrition, respectively. The results show that the indiscriminate use of abbreviations may hinder the understanding of the information contained in the medical records. At the end of the survey, information on abbreviations found and their meanings will be entered into a database system implemented in MySQL (Structured Query Language) which can be accessed in applications through an API (Application Programming Interface) developed PHP (Hypertext Preprocessor). Thus, a glossary that can be used in different devices for use by professionals in multidisciplinary teams in health will be developed. Keywords: Abbreviations. Medical records. Technical terms in health. API.

1 INTRODUÇÃO A abreviatura é um recurso da língua, utilizado desde a antiguidade para acelerar a comunicação, principalmente a escrita, que consiste na representação de uma palavra ou expressão por meio de uma forma reduzida (SOBRAL, 2007). No passado, seu uso tinha como principal objetivo a redução dos gastos com o material de escrita, cujo custo era elevado. No momento presente, a finalidade principal para o uso de abreviaturas é a economia de tempo. É o que se vê, por exemplo, nos prontuários médicos, corpus da investigação em questão, nos quais as Enfermeira, graduanda do curso de Letras Vernáculas da Universidade Federal da Bahia. E-mail: [email protected] Graduando do Bacharelado Interdisciplinar de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal da Bahia. E-mail: [email protected] *** Professora Doutora, do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia, orientadora do trabalho. E-mail: [email protected] *

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abreviaturas costumam ser utilizadas para facilitar o processo de registro dos dados relacionados aos cuidados prestados aos pacientes, uma vez que há uma demanda elevada de trabalho na prática clínica. Em textos técnicos da área de saúde recomenda-se que sejam utilizadas apenas as abreviaturas normatizadas e de forma criteriosa. Contudo, em prontuários médicos, documentos em que se descrevem todos os procedimentos realizados e relatos do estado em que o paciente se encontra, como ocorre em outros contextos, é comum o uso de uso das abreviaturas nem sempre padronizadas, dada a necessidade de uma escrita mais rápida e a rotina de grandes volumes de trabalho na prática da assistência clínica. Diante dos riscos a que se pode incorrer pela leitura incorreta de algum dado num prontuário médico, alguns órgãos de classe têm tentado propor padrões de uso para as abreviaturas em registros na prática clínica, porém sem muito sucesso. Por outro lado, são poucos os glossários de abreviaturas existentes na área em questão. Os dicionários impressos localizados estão em geral muito desatualizados e os encontrados em meio digital são bastante específicos, principalmente relativos à área de enfermagem. Apesar da importância do assunto, o uso das abreviaturas no prontuário do paciente, não tem sido alvo de muitas publicações. 2 ABREVIATURAS, UM BREVE HISTÓRICO A prática constante do uso de abreviaturas não é como talvez se possa pensar, uma exclusividade dos dias atuais, estimulada pela dinâmica das conversas realizadas com o auxílio de equipamentos eletrônicos. Na Roma antiga, por exemplo, as abreviaturas já se faziam presentes. A objetividade, característica do povo romano, é também notada no uso da Língua latina, transparecendo inclusive na escrita. No Império Romano há registros da utilização de abreviaturas, especialmente em documentos jurídicos. Em inscrições latinas do século II a.C., foram identificadas abreviaturas através de siglas. Os prenomes, por exemplo, eram, em geral, abreviados, seja a partir de suas letras iniciais como em C = C(aius), M = M(arcus), ou pela parte inicial do nome, como em Aug.= Aug(ustus) (HIGOUNET, 2003). A origem do uso das abreviaturas é controversa. Santo Isidoro, célebre escritor espanhol e Arcebispo de Sevilha, que viveu entre os séculos V e VI, um dos chefes da Igreja na Espanha, homem de vasta cultura, considerado por seus contemporâneos como “o mais sábio das idades modernas” (LE GOFF, [1964] 1984, p. 311), registra em sua enciclopédia Etymologies, muito divulgada na Idade Média, que Quinto Ênio (239 - 169 a. C.), poeta épico latino, teria reunido mil e cem notas vulgares, isto é, “abreviações da escrita comum” latina, sendo este um dos primeiros movimentos em busca da criação de um “glossário” de abreviaturas (CURY, 2007). Como destaca Sobral (2007), a criação da abreviatura, ao longo dos tempos, foi atribuída ainda ao filósofo Sêneca e a Tiro, liberto de Cícero, não existindo, entretanto, um consenso a este respeito. Fato é que se tornaram muito conhecidas as abreviaturas por notas tironianas, atribuídas a Marcus Tullius Tiro, e mais tarde atualizadas com o nome de taquigrafia, sistema complexo e antigo, utilizado pelos romanos para a cópia de livros inteiros ou transcrição de discursos. Marcus Tullius Tiro, escravo e mais tarde liberto, homem culto e cuidadoso, foi, por quase quatro décadas, secretário de Cícero, o estadista, filósofo e orador do Império romano do primeiro século antes de Cristo. Utilizando-se do recurso de letras e outros símbolos, Tiro teria inventado a escrita taquigráfica pela necessidade de rapidez na escrita das cartas e discursos do cônsul e soberano de Roma (FLEXOR, 1990; SPINA,1994; SOBRAL, 2007; BERWANGER; LEAL, 2012; CURY, 2007). S. Isidoro registra ainda, que também Sêneca, escritor e filósofo Romano que viveu no primeiro século da era cristã teria reunido, ordenado e aumentado as Notas sobre abreviaturas, chegando a um total de cinco mil notas (CURY, 2007). Entretanto, houve períodos em que o uso indiscriminado e abusivo das abreviaturas chegou ao ponto de tornar leitura dos documentos inviável, sendo necessária a intervenção dos imperadores, proibindo o seu emprego. No século XI, segundo os relatos dos estudiosos no assunto, praticamente não há linha escrita sem ao menos oito ou dez abreviaturas (MARTINS, 2002, p. 169), A reforma pedagógica Anais do VIII Seminário de Estudos Filológicos – UEFS - 2016

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e a implantação da letra cursiva, entre os séculos XII e XIII, também contribuíram para a diminuição da utilização das abreviaturas (BERWANGER; LEAL, 2012; SPINA, 1994). Em seu estudo sobre abreviaturas, Sobral (2007, p.13) destacou pesquisas realizadas no Brasil que demonstram a importância de se conhecer o sistema de abreviaturas, principalmente na contribuição para o resgate da história e cultura do país. Contudo, a autora destaca que “a relação entre abreviaturas e textos manuscritos tem sua existência marcada de forma antagônica, pois, se no passado viabilizou uma escrita mais rápida, hoje retarda a leitura”, uma vez que confere, por vezes, grande dificuldade à leitura, sobretudo dos textos manuscritos, exigindo, não raro, a utilização de glossários ou ainda o trabalho de especialistas, na decifração das ocorrências mais complexas. As formas de abreviação sofrem mudanças com relação aos seus métodos, os quais variam de acordo com a língua, o tempo, o lugar, os objetivos e o tipo de texto (SOBRAL, 2007). A classificação dos tipos de abreviaturas toma por base os elementos, princípios e sinais abreviativos que são utilizados para “encurtar” a escrita das palavras. Na abreviatura por sigla, palavra que provém de singula, do latim, singulae ou seja, única, a palavra é representada pela letra inicial, no caso das siglas simples. Pode ainda acontecer a duplicidade das iniciais para significar o seu plural ou superlativo – Siglas reduplicadas, ou ainda ocorrer as que são formadas pelas duas ou três primeiras letras da palavra – Siglas compostas (FLEXOR, 1990). Ex: O. D. = o(lho) d(ireito), MMII = M(embros) I(nferiores), SUS = S(istema) U(nico) de S(aúde), ANVISA = Agência de Vigilância Sanitária. A palavra pode ser abreviada por suspensão ou apócope, quando é apenas iniciada, ocorrendo o corte do seu final: Ex.= ex(emplo), temp. = temp(eratura), alt. = alt(ura), p(ágina). A abreviatura pode ser feita por contração ou síncope quando são suprimidos elementos gráficos do meio do vocábulo: Dr. = D(outo)r, Sr. = S(enho)r. As abreviaturas também podem ser feitas pela escrita de letras sobrepostas ou sobrescritas. Tratase de uma forma hoje menos utilizada. Ex: nº = número. No passado, eram também realizadas abreviaturas por meio de sinais especiais, os quais eram colocados no início meio ou final de uma palavra. Ex: D’s = Deus (SPINA,1994; SOBRAL, 2007; BERWANGER; LEAL, 2012). Em seu glossário de abreviaturas encontradas em manuscritos dos séculos XVI ao XIX, Flexor (1990) destaca que “Para os documentos luso-brasileiros não existem, regras de abreviação [...]. Entretanto, algumas delas foram normal e comumente utilizadas pelos calígrafos” (1990, p. XI). A falta de regras, como se verá a seguir, é também uma constante na escrita contemporânea. 3 O PRONTUÁRIO MÉDICO como

O Conselho Federal de Medicina - CFM, através da Resolução n. 1.638/2002, define o prontuário documento único, constituído de um conjunto de informações, sinais e imagens registrados, gerados a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo (BRASIL, 2002).

Ou seja, trata-se de um documento onde constam informações sobre o paciente, o seu histórico, sua patologia e a assistência a ele prestada. Além disto, o prontuário serve para estabelecer a comunicação sobre os cuidados prestados ao paciente pela equipe multidisciplinar (SANTOS; FREIXO, 2011). O uso do prontuário não é algo novo, desde o século V a.C., Hipócrates já recomendava que seus alunos registrassem as informações referentes aos cuidados que prestava aos pacientes, seguindo uma ordem cronológica, o que permitia que fossem feitas relações entre os eventos que precediam as doenças (SANTOS; FREIXO, 2011). Segundo assinalam Tonello, Nunes e Panaro (2013), foi através destas anotações, que Hipócrates conseguiu descrever muitos sinais e sintomas de enfermidades. O seu objetivo era que essas informações Anais do VIII Seminário de Estudos Filológicos – UEFS - 2016

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auxiliassem a compreender o processo de desenvolvimento das doenças, indicando suas causas, e possibilitando descobrir o tratamento mais eficaz em cada situação. O prontuário é um instrumento que tem por função, dentre outras coisas, a comunicação entre a equipe multidisciplinar, e para a avaliação da assistência prestada, bem como a instituição que a prestou, por isso, é fundamental que nesse documento as informações estejam escritas de forma clara e objetiva (CONSELHO, 2006). A Resolução nº 1.638/2002 DO CFM, em seu art. 5º descreve quais são os itens essenciais do prontuário, independentemente do suporte. A identificação do paciente é o primeiro deles, e é composta por nome completo, data de nascimento, sexo, nome da mãe, naturalidade e endereço completo. Outros elementos importantes são a anamnese, o exame físico, os exames complementares, hipótese diagnóstica, diagnóstico, tratamentos realizados, evolução diária médica e de enfermagem. O documento ainda explicita que, no suporte de papel, a letra do profissional que atendeu o paciente deve ser legível e que o mesmo deve estar datado e identificado. 3.1 ABREVIATURAS EM PRONTUÁRIOS MÉDICOS Em textos técnicos da área de saúde a recomendação dos Conselhos Regionais de Medicina do Rio de Janeiro e de são Paulo, através dos pareceres nº175/2006 e 61.624/2005, respectivamente, é de que sejam utilizadas apenas as abreviaturas normatizadas e de forma criteriosa. Nos prontuários médicos, documentos em que se descrevem todos os procedimentos realizados e relatos do estado em que o paciente se encontra, dada a necessidade de uma escrita mais rápida e os grandes volumes de trabalho na prática da assistência clínica, como ocorre em outros contextos de uso, o que se observa é a utilização de forma assistemática e indiscriminada das abreviaturas. Alguns órgãos de classe têm tentado propor padrões de uso para as formas abreviadas em registros na prática clínica, porém sem muito sucesso. A escrita dos prontuários, além da clareza necessária para garantir perfeita compreensão das questões técnicas por parte da equipe multidisciplinar, precisa permitir ao paciente ou às pessoas por ele autorizadas, o acesso às informações ali contidas, de forma legível e compreensível, conforme assegura a legislação pertinente. Em seu estudo, Silva e colaboradores (2011) identificaram que o uso de termos abreviados, que podem ter duplicidade de sentidos ou provocar interpretações erradas, foi o segundo fator mais importante que dificultou a compreensão das informações, de acordo com o relato dos profissionais entrevistados. Diante da inquietação dos profissionais e preocupados com questão, tanto o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro - CRM-RJ, quanto o Conselho Regional de Medicinal de São Paulo - CRMSP, através dos pareceres nº175/2006 e 61.624/2005, respectivamente, decidiram se posicionar a respeito. No parecer do CRM-SP (2005), o relator destaca que apesar da importância do assunto, o uso das abreviaturas no prontuário do paciente, não é um tema alvo de muitas publicações. A recorrência do uso, tanto do ponto de vista formal quanto do informal, foi a principal motivação do posicionamento do conselho. Diante disso recomenda que: “deve-se preferir escrever por extenso as anotações médicas, evitando-se o uso freqüente das abreviaturas ou siglas, evitando-se situações que remetam a erro de interpretação e suas conseqüências” (CONSELHO, 2005) Seguindo essa mesma linha, o CRM-RJ (2006), apesar de reconhecer que o profissional médico utiliza abreviaturas em uma tentativa de poupar tempo por causa da elevada demanda de trabalho, desaprova essa prática, considerando os seguintes aspectos: 1) o prontuário é um documento que deve estar acessível ao paciente; 2) a necessidade de obedecer ao disposto na Resolução nº 1.638/02; 3) que o prontuário poderá ser usado em um processo judicial futuro; 4) que a comunicação entre os diferentes membros da equipe multidisciplinar precisa ser clara; 5) o respeito à Portaria nº 743 de 22/12/05, que determina que a AIH – Autorização de Internação Hospitalar deve ser preenchida sem abreviaturas e por Anais do VIII Seminário de Estudos Filológicos – UEFS - 2016

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fim, reitera que o conhecimento do significado e a padronização de siglas e abreviaturas são aspectos tão importantes que no trabalho científico é necessária a existência de uma seção destinada a elas. 4 MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa sobre o uso de abreviaturas está na fase de coleta de dados. O corpus da pesquisa delineado é de 50 prontuários de pacientes internados em um hospital da rede pública de Salvador, no período de 01 a 30 de abril do ano de 2015. Até o momento da elaboração deste artigo, foram analisados 20 prontuários. Os termos abreviados foram catalogados em seis planilhas no Microsoft Excel 2010, por ordem alfabética, categorizados de acordo com o contexto no qual foram encontrados, visando identificar se há uma maior prevalência em algum deles. As categorias utilizadas foram: Medicina, Prescrição, Enfermagem, Serviço Social, Nutrição e Fisioterapia. Foram analisadas a prevalência de termos abreviados encontrados por categoria profissional, e foi observado se o uso das formas abreviadas pode interferir de alguma forma na compreensão dos diversos profissionais de saúde que lidam com os prontuários, seja pela possibilidade de ambiguidade, ou por ilegibilidade. Investigou-se a existência de abreviaturas iguais com significados diferentes, e ainda, se as abreviaturas utilizadas seguiram algum padrão. Em seguida, a partir de bases legais e dos estudos identificados acerca do tema, foram analisados o contexto e a frequência em que estas abreviaturas foram utilizadas e se implicaram em alguma forma de ambiguidade ou se podiam levar a alguma dificuldade no entendimento da equipe multidisciplinar ou de pessoas leigas ou ainda de especialistas de outras áreas quaisquer que possam, eventualmente, necessitar consultar tais documentos. A pesquisa está em andamento, com previsão de conclusão para novembro de 2016, de acordo com o cronograma inicial. A fundamentação teórica está sendo ampliada, buscando identificar novas referências sobre o tema em foco. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO A importância do prontuário médico é de conhecimento de todos os profissionais que compõem a equipe multidisciplinar que presta assistência ao paciente. Como já foi abordado anteriormente, para além de garantir uma assistência de qualidade, o prontuário é um documento ao qual o paciente ou familiar autorizado, pode ter acesso, assim sendo, estas devem ser claras e objetivas. Em vista disso, Santos (2009) salienta que, além dos conhecimentos e competências necessárias à prática clínica, é necessário ao profissional médico, conhecimentos acerca do preenchimento dos formulários e/ou impressos que compõem o prontuário. A ocorrência das abreviaturas nos 20 prontuários analisados até o momento pode ser observada no gráfico 1, abaixo. Considerando as seis categorias descritas, foi identificada a ocorrência de 552 termos técnicos/palavras abreviadas. A categoria Medicina foi a que mais utilizou abreviaturas, 334 ocorrências. Seguida da categoria Enfermagem, composta tanto de profissionais de nível superior quanto de nível técnico, que utilizou 140 tipos diferentes de abreviaturas. Em seguida, a categoria Prescrição aparece com 84 ocorrências, seguidos das categorias Fisioterapia, Serviço Social e Nutrição, com 57, 32 e 19 ocorrências respectivamente.

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231 8º SEF - ISSN: 2175-4985 Gráfico 1: Relação da utilização dos termos abreviados por categoria profissional.

Ocorrência das abreviaturas 400 350 300 250 200

Abreviaturas

150 100 50 0 Medicina

Prescrição

Enfermagem Serviço Social

Nutrição

Fisioterapia

Fonte: Elaborado pelos autores

O uso excessivo de abreviaturas pelos profissionais médicos, que compõe a categoria Medicina, pode ser um fator que dificulte ou impossibilite a compreensão da informação que consta no prontuário. Santos (2009) destaca em seu estudo que “o uso da linguagem culta e da ortografia oficial de acordo com o Vocabulário Ortográfico da língua Portuguesa” (SANTOS, 2009, p.362) é um fator fundamental para tornar os registros legíveis e para facilitar a prática e assistência médica. Além disso, como elementos de prova, devem ser escritos de maneira clara e completa, pois podem servir como instrumento de defesa futuro. Tratando da organização gráfica do significante, Pottier (1974, p.380), salienta que as formas abreviadas, “em geral, dão prioridade às consoantes”, no corpus examinado observam-se, por exemplo, as formas pct/PCT (para paciente), uma abreviatura que foi utilizada por profissionais em todas as categorias, exceto na folha de Prescrição. Contudo, com este mesmo significado, aparecem as abreviações: Pcte, pact e pac, fenômeno que Sobral (2007, p. 117) denomina como para-sinonímia demonstrando assim, não haver um padrão para o uso de abreviaturas. A autora salienta que o uso das abreviaturas que um dia serviram para agilizar o processo da escrita tem hoje, a sua existência marcada de forma antagônica em textos manuscritos, pois retarda a leitura. Situação inversa também foi identificada: no caso, por exemplo, da abreviação DM associando-se ao contexto de escrita, foram identificados dois significados distintos, Diabetes Melitus e Diagnóstico Médico, o mesmo ocorrendo com a forma PA significando tanto Pressão Arterial, quanto Pronto Atendimento, neste caso, Sobral (2007, p.103) define o fenômeno como polissemia. A situação é, portanto, semelhante observa a mesma autora nos documentos notariais que examina, [...]não há uniformidade no processo de redução das palavras, pois as palavras são reduzidas sem obedecer a nenhuma regra: a mesma abreviatura é utilizada para representar diferentes palavras e a mesma palavra é reduzida de diversas formas, tanto no mesmo documento como em documentos diferentes. Em resumo, o processo de abreviar é feito de forma aleatória, não apresenta qualquer sistematização e, por isso, a resolução das abreviaturas depende, quase que exclusivamente, da habilidade e do conhecimento do pesquisador (SOBRAL, 2007, p.16).

Outro aspecto importante a ser discutido é a importância do prontuário como um banco de dados que além de servir para resguardar a equipe, também se apresenta como um acervo das memórias dos procedimentos realizados em um paciente, que servirão de base para possíveis estudos e questionamentos Anais do VIII Seminário de Estudos Filológicos – UEFS - 2016

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futuros. Uma vez que estes documentos apresentem uma gama muito grande de abreviaturas, os movimentos de mudanças de profissionais nas instituições, bem como a velocidade com a qual as informações são processadas e modificadas, estas podem se perder em um curto período de tempo (SANTOS, 2009). 5.1 GLOSSÁRIO DIGITAL EM DESENVOLVIMENTO Com o desenvolvimento das tecnologias digitais (LÉVY, 2011), compreender as limitações e as potencialidades das novas formas de armazenamento e difusão dos documentos (informação materializada) se apresenta como um desafio à Computação, assim como à Biblioteconomia, à Arquivística e à Informática - ciências que dialogam com a Ciência da informação na investigação da materialidade e imaterialidade do documento que são as duas dimensões indissociáveis do objeto informação (GOMES, 2014). É fundamental desenvolver novos modelos para a organização dos documentos que considerem, como já mencionado, a forma material e o conteúdo imaterial da informação. Dessa maneira, com o objetivo de estabelecer uma sistemática para organização e leitura das abreviaturas encontradas nos prontuários médicos analisados, buscou-se construir um banco de dados, em formato digital possibilitando, a fácil recuperação e melhor compreensão da informação através de uma modelagem hipertextual que respeite a forma material do documento que será representado em suporte digital, observando as implicações do suporte de papel, no qual foram recolhidas as abreviaturas, pois, como alerta Lima (2015, p. 49), “[...] esse ultrapassar de fronteiras do suporte impresso para o virtual adquire sentido, se forem consideradas as características da textualidade precedente [...].”. Para a sistematização do banco de dados proposto, além dos conhecimentos de Paleografia, ciência que nos ensina a ler e interpretar corretamente documentos manuscritos (antigos ou contemporâneos) permitindo a adequada leitura e classificação das abreviaturas, são também de suma importância os conhecimentos e vivências adquiridas, respectivamente, a partir do estudo técnico na área de saúde e no cotidiano hospitalar. Dessa forma, tem-se desenvolvido um estudo interdisciplinar, com mecanismos que alinham os estudos filológicos e as técnicas da Programação web, adequando os desafios impostos pelos dispositivos computacionais e as características das abreviaturas extraídas do corpus selecionado para a construção de um glossário digital que seja útil no desenvolvimento dos registros na prática clínica. Assim, as informações sobre as abreviaturas encontradas e seus respectivos significados serão inseridos em um SBDA (Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados) implementado em SQL (Structured Query Language) de onde poderão ser acessadas por aplicações diversas através de uma API (Application Programming Interface) desenvolvida em PHP (Hypertext Preprocessor), as quais possibilitam o acesso por especialistas da área de saúde e demais interessados. Apesar de não ser uma realidade em todos os hiperdocumentos é interessante assinalar que, como descreve Conklin (1987 apud Lima, 2015), o ambiente hipertextual é o resultado da união de três elementos: um componente de banco de dados, uma interface com o usuário e um esquema de representação. Essa organização facilita a explicação e será utilizada, a seguir, para melhor compreender a modelagem. 5.2 O BANCO DE DADOS Os bancos de dados são um conjunto de informações organizadas com uma finalidade específica. No hipertexto, as informações que surgem na tela das arquiteturas computacionais podem estar estruturadas em um SGBD, os quais são programas que permitem ao usuário definir, construir e manipular bases de dados para os mais diversos fins. Assim, na computação, os bancos de dados são construídos com base na estruturação ontológica do objeto através da observação de três elementos: o Anais do VIII Seminário de Estudos Filológicos – UEFS - 2016

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conceito, os atributos deste conceito e as relações estabelecidas entre os conceitos. Esses elementos relacionam-se, respectivamente, com a subjetivação, adjetivação e ação dos objetos em seu ambiente para então representá-los no meio digital. Para a organização das abreviaturas em um SGBD que será desenvolvido com o MySQL, um primeiro movimento e a identificação desses elementos na realidade do corpus da pesquisa. Entre os conceitos, pode-se compreender os substantivos como lugares, pessoas e objetos - a exemplo, no corpus estudado neste trabalho, observou-se os conceitos categoria, prontuário, abreviatura, palavra ou termo técnico e significado da abreviatura. Os atributos destes conceitos e as relações ainda serão desdobrados com maiores detalhes durante a evolução da pesquisa, embora já possa se ter uma boa noção ao observar a imagem abaixo. Figura 1: Mapa conceitual de um possível banco de dados de abreviaturas

Fonte: Elaboração dos autores.

5.3 O ESQUEMA DE REPRESENTAÇÃO A modelagem do Banco de dados foi desenhada a fim de implementar em uma outra etapa um sistema capaz de potencializar as análises dos dados de forma automatizada. Dessa forma operações de inserção, alteração, seleção e remoção, assim como as que agrupam, contam, somam, entre outras, são fundamentais. Além disso, é necessária a interação com uma linguagem de programação capaz de realizar operações lógicas e laços de repetição, a exemplo do PHP, o qual é capaz tanto de uma boa interseção com o MySQL quanto com dispositivos diversos, o que amplia o acesso as informações. É importante que os dados gerenciados pelo SBDA possam estar disponíveis tanto através do glossário que apresentará as informações de acordo com o que se considerou mais adequado na proposta do projeto, quanto através de outros paradigmas que permitam aproveitar esses dados em projetos outros de forma automatizada, assim como expandir o número de dispositivos com acesso ao glossário digital, uma vez que o MySQL não tem uma boa interatividade com arquiteturas mobile. Desse modelo, a API se apresenta como uma interface do Banco de Dados permitindo acesso otimizado, de duas formas, para melhor uso das informações organizadas no SBDA.

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5.4 A INTERFACE COM O USUÁRIO A disponibilização da informação ao usuário acontece através de uma interface que deve ser objetiva e clara. A linguagem de marcação HTML se adequa tanto pelos recursos visuais satisfatórios quanto por estar alinhada com os dispositivos mais diversos - assim, um hiperdocumento que utiliza o HTML pode ser recuperado, por exemplo, através de computadores de mesa, smartphones, notebooks e tablets. É interessante observar, que o termo “marcação” (markup) surgiu antes do advento dos documentos eletrônicos, quando os profissionais da área de editoração recebiam originais em papel, e escreviam instrução de marcação para orientar a composição gráfica final na melhor forma ou aparência impressa [...].”. (LIMA, 2015, p. 58, destaque da autora). Assim, da mesma forma que
representa a quebra de linha o “” marca o itálico, o “” o negrito e o “ "o link. Misturam-se, então, o novo e o já estabelecido na tradição em um retorno transversal (LÉVY, 2011) às antigas formas de marcação através de um novo paradigma com as tags da HTML possibilitando que limitações sejam superadas e novos domínios potencializados. (LIMA, 2015). Figura 2: Interface com o usuário desenvolvida em HTML/CSS.

Fonte: Elaborado pelos autores.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os dados até aqui levantados demonstram que os profissionais da equipe multidisciplinar de saúde, parecem não observar as recomendações dos Conselhos de suas respectivas classes quanto à necessidade de clareza na escrita do prontuário médico. O uso indiscriminado e não padronizado das abreviaturas, conforme foi demonstrado, pode acarretar problemas de ordem diversa, desde a dificuldade na comunicação entre os membros da equipe, o que pode gerar várias consequências, até problemas na esfera administrativa e legal ou mesmo com relação à memória da Instituição, com perda de informações. Além disso, cabe ressaltar, que o excesso de abreviaturas certamente implicará em aumento da dificuldade de leitura do documento pelo paciente ou seus representantes. Desse modo, acredita-se que a o estabelecimento de um padrão para o uso das abreviaturas em prontuários, disponibilizado por meio de um glossário digital certamente contribuirá para a diminuição Anais do VIII Seminário de Estudos Filológicos – UEFS - 2016

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da ocorrência de ruídos na comunicação entre a equipe de saúde, facilitando também o acesso de outros profissionais, assim como do paciente e de outros interessados nos documentos. Importante destacar que apesar de existirem alguns dicionários de termos técnicos, disponíveis em contextos muito específicos, com a evolução das ciências e de toda a informação no contexto como um todo, estes encontram-se desatualizados. REFERÊNCIAS BERWANGER, Ana; LEAL, João Eurípedes Franklin. Noções de paleografia e de diplomática. 4. ed. Santa Maria: Editora da UFSM, 2012. BRASIL, Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.638, de 10 de julho de 2002. Define prontuário médico e torna obrigatória a criação da Comissão de Revisão de Prontuários nas instituições de saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF, seção I, p. 184-5. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria nº 743, de 20 de dezembro de 2005. Define novos modelos de Laudo para Solicitação de AIH e Solicitação de Mudança de Procedimento e de Procedimento(s) Especial(ais), e dá outras providências. Diário Oficial da União nº 246, Seção 1, pág. 124.

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conseguiu descrever muitos sinais e sintomas de enfermidades. O seu objetivo era que essas informações. Page 3 of 11. artigos-prontos-08-03-214-224.pdf.

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