Seminário Multidisciplinar de Extensão Universitária: fortalecendo elos para a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão – PROEX/UNEB.

Braille: Extensão Aproximando Universidade e Comunidade Márcia Raimunda de Jesus M. da Silva1; Marta Martins Meireles2; Jusceli Maria de Oliveira Carvalho Cardoso3 1. Universidade do Estado da Bahia / Analista Universitária (Pedagoga) / Prefeitura Municipal de Serrinha / Docente da Educação Inclusiva/ Mestre em Educação; 2. Prefeitura Municipal de Serrinha / Docente da Educação Inclusiva / Pedagoga / Especialista em Educação Especial; 3.Universidade do Estado da Bahia / Docente das disciplinas de Educação Especial / Mestre em Educação Especial;

Resumo Este artigo relata a experiência do Projeto de Extensão em Braille construído a partir das observações realizadas na rede municipal de ensino da cidade de Serrinha/BA. Seu objetivo é apresentar o processo de realização da citada experiência e como esta pôde contribuir para a construção de uma postura/atitude de cunho inclusivos nos participantes, bem como proporcionar tempos e espaços sobre a reflexão da deficiência, do aprendizado do sistema Braille e a formação do professor. A experiência ora apresentada teve como objetivos complementar os conhecimentos dos alunos do Departamento de Educação, principalmente os pedagogos em formação, contemplando também alunos dos demais cursos e/ou interessados da comunidade externa, no sentido de oferecer uma alternativa para compreenderem o sistema Braille, visto ser uma ação pioneira; também direcionado aos professores da região, pais e interessados. Como o trabalho com o aluno com deficiência visual requer conhecimentos específicos tais como o do sistema Braille, trabalhamos com uma proposta de realizar o curso em três momentos: o primeiro, realizado, presencialmente tendo como foco os conhecimentos teóricos e práticos de Braille; o segundo, também presencial, elaborado depois do aprendizado do sistema Braille, com a construção dos projetos para realização das oficinas com professores e alunos na escola; o terceiro com execução das oficinas para alunos com cegueira no próprio Departamento. O curso, na sua inteireza, apresentou carga horária de 80 horas, realizado no período de julho a setembro do ano de 2012. O referencial teórico norteador das ações se configurou a partir do sociointeracionismo vigotskiano. Palavras-chave: Recursos Pedagógicos Adaptados. Deficiência Visual. Práticas pedagógicas. Formação de Professores.

Introdução Relatar o sucesso de uma experiência de extensão pioneira nos induz a transforma-la numa ação contínua, situação vivida pelos sujeitos participantes da experiência sucedida no Departamento de Educação do Campus XI – Serrinha/UNEB, no período de julho a setembro

Anais do Seminário Multidisciplinar de Extensão Universitária, v. 1, n.1, Salvador, out. 2012.

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de dois mil e doze, pela oferta do Curso de Extensão em Braille3: Noções Básicas do Sistema de Leitura e Escrita Tátil com carga horária inicial de quarenta horas. Esta escrita evidencia a importância da necessidade de construção de espaços/tempos para discussão/reflexão sobre a formação do educador no aprendizado de práticas pedagógicas específicas, bem como, induz outros que, ainda não possuindo em sala de aula, aluno com deficiência visual ou baixa visão, ao refletirem sobre esta modalidade de educação. Duzentos inscritos. Inicialmente selecionamos trinta e cinco, divido em duas turmas. A organização do curso ficou sob a responsabilidade do Núcleo de Apoio e Pesquisa à Educação Inclusiva (Napei) e do Centro de Apoio Pedagógico a Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (Capene), com apoio da Secretaria Municipal de Educação e do respectivo Departamento. Compõe o NAPEI professores do Campus XI, alunos e interessados. Os conteúdos trabalhados ao longo do curso foi o conceito de deficiência visual e cegueira: diferenciação; história de Louis Braille; surgimento do sistema Braille; material elaborado em emborrachado; cela braile construída em material alternativo, tecnologia assistiva, Braille e transcrição; jogos pedagógicos, músicas, vídeos, dominó e outras atividades. O desenvolvimento do projeto buscou concretizar, em realidade, os anseios dos sujeitos envolvidos no campo educacional, cuja demanda pela formação nas áreas específicas das necessidades educativas especiais, ainda é carente. A importância do aprendizado do Braille é expressa por Sá (2007, p. 27): “O domínio do alfabeto Braille e de noções básicas do sistema por parte dos educadores é bastante recomendável e pode ser alcançado de forma simples e rápida, uma vez que a leitura será visual”. A discussão sobre tecnologia assistiva e sua importância para a pessoa com deficiência não ficou ausente. Apesar de todo arcabouço tecnológico presente na sociedade e, embora posto como verdadeiro, nem todos tem acesso, muito menos as pessoas com deficiência. Baggio (2000) afirma “O ingresso da humanidade na Era da Informação é um fato, mas ainda apenas para uma pequena parcela da população”.

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No Brasil, de acordo com a Comissão Brasileira do Braille, de caráter permanente, a palavra “braille” deve ser grafada com dois “l” conforme o original francês, cujo termo é usado no Brasil há mais de 150 anos.

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A partir dessas discussões apresentamos a importância do aprendizado do Braille pela pessoa cega, refletindo sobre a necessidade de uma transformação da postura educacional perante as novas tecnologias, com o aporte de Galvão Filho (2008, p.25):

[...] Nessa perspectiva, buscamos analisar e discutir a conjunção dessas diferentes realidades: a utilização de Tecnologia Assistiva (TA) para o “emponderamento” da pessoa com necessidades educacionais especiais, possibilitando ou acelerando o seu processo de aprendizado, desenvolvimento e inclusão social e apontando para o fim da ainda bem presente invisibilidade dessas pessoas em nossa sociedade.

A profissão docente exige o conhecimento das tecnologias e sua utilização pelo aluno, a partir de uma referência de educação, com uma teorização acerca do currículo e do sujeito que sofre essa ação educacional. Muitos alunos tem acesso ao computar e outros recursos, mas no caso do aluno cego, esse acesso é restrito por conta da ausência no domínio dos softwares usados na área de deficiência visual. Assim, considerando o contexto de inserção desses alunos, o curso foi pensado para oferecer alternativas para compreenderem o cotidiano educacional das pessoas com cegueira, iniciando com o ensino do sistema Braille. Outro objetivo foi possibilitar uma melhor compreensão da baixa visão/cegueira; sobretudo, que os cursistas tivessem efetiva participação na disseminação/construção de outro “olhar” sobre a deficiência visual; produção de material adaptado; fortalecimento das relações interpessoais e interação com próprios sujeitos cegos ou com baixa visão.

Metodologia Assim, a metodologia do curso compreendeu três momentos, interligados: o primeiro momento, realizado, presencialmente tendo como foco os conhecimentos teóricos e práticos de Braille; o segundo, também presencial, elaborado depois do aprendizado do sistema Braille, com a construção dos subprojetos para realização das oficinas com professores e alunos na escola; o terceiro com execução das oficinas nas escolas para professores e alunos do Ensino Fundamental I, com o objetivo de “despertar o desejo” dos cursistas para o aprendizado do Braille e incentivá-los a adotarem uma postura e atitudes de cunho inclusivo, observando ser possível esta realidade no espaço escolar. A metodologia foi pensada visando contemplar aspectos teóricos e práticos ao mesmo tempo. Paralelo à teoria, realizava-se a escrita. Buscamos a realização de atividades dinâmicas, com jogos de dominó com os alunos usando viseira, jogos de memória com os Anais do Seminário Multidisciplinar de Extensão Universitária, v. 1, n.1, Salvador, out. 2012.

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olhos fechados; vídeo, músicas, caça-palavra em braile. Brincadeira. O processo de realização do curso aconteceu de forma interativa e dinâmica, com participação de todos. Assim, ao término das atividades teórico-práticas do próprio curso de Braille, com quarenta horas, planejamos as outras quarenta. Destinamos dez horas de encontros para visitar algumas escolas interessadas em que fizéssemos as oficinas.

Outras vinte horas foram

direcionadas para a elaboração das propostas e seleção de material de acordo com o público, se aluno ou professor; outras quatro horas destinadas à culminância das oficinas e as seis restantes contemplou a escrita do relatório para certificação dos participantes das oficinas e avaliação das duas etapas do projeto – a parte teórica com quarenta horas e a segunda etapa realizada nas escolas. O suporte teórico utilizado no curso contou com autores diversos. Entretanto, utilizamos principalmente as publicações que explicam o aprendizado e utilização do Braille, a exemplo dos livros publicados no portal do Ministério da Educação e Cultura como “Grafia Braille para a Língua Portuguesa”, o “Código Matemático Unificado”, “Normas Técnicas para a Produção de Textos em Braille” e a “Grafia Química Braille para uso no Brasil”. Ainda utilizamos autores como Galvão Filho (2008) e Baggio (2000) na área de tecnologia assistiva, Sá (2007) versando sobre o Atendimento Educacional Especializado, e outros da área da inclusão educacional.

Resultados Desde o primeiro dia de curso sua execução foi marcada por descobertas e surpresas. Os relatos dos alunos da impressionante negação do aprendizado de Braille ao êxtase por conseguirem ler os livros didáticos, oferecidos no final do curso. E a surpresa final: em uma das oficinas com a construção de recursos adaptados houve a participação-surpresa de alunos com baixa visão e cegueira, que utilizaram os recursos construídos. Não sabemos quem foram os maiores beneficiados: alunos do curso ou alunos das oficinas. Por fim, finalizamos o curso com a realização de várias oficinas, num total de cinco, na região urbana e rural, com a participação de mais de 40 pessoas, entre alunos, professores da educação básica e alunos do Departamento. Estes aguardam ansiosos novos ciclos do curso, pois já tem lista de pré-inscrição de todos os segmentos sociais. Não importa, se professor ou discente, mais importante é que conseguimos “despertar” o desejo dos sujeitos de ambos os espaços: Departamento e escolas. Anais do Seminário Multidisciplinar de Extensão Universitária, v. 1, n.1, Salvador, out. 2012.

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Da proposta inicial, foi criada uma rede. Os participantes das oficinas, com quatro horas de duração, fazem parte de uma lista de espera. Considerações Finais É pertinente o aprendizado e uso do Braille por parte de professores e estudantes com deficiência visual. Cabe à Universidade estar atenta à formação do seu quadro discente, da teoria à prática para atender as novas demandas do contexto da educação inclusiva; que os currículos das licenciaturas contemplem conteúdos não apenas sobre Língua de Sinais Brasileira; que a experiência curricular seja mais rica na troca interativa do conteúdo teórico/prático com o aluno com deficiência visual, pois quando se trata do cotidiano da sala de aula do aluno com deficiências visuais e/ou necessidades educativas especiais, percebe-se uma grande lacuna em sua formação.

Referências BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. A Construção do Conceito de Número e o Pré-Soroban. Brasília: MEC/SEESP, 2006, 92p; BAGGIO, Rodrigo. A sociedade da informação e a infoexclusão. Ci. Inf., Brasília, v. 29, n. 2, p. 16-21, maio/ago. 2000. em http://www.scielo.br/pdf/ci/v29n2/a03v29n2.pdf Acesso em 29/04/2013 GALVÃO, Teófilo Alves; DAMASCENO, Luciana Lopes. Tecnologia assistiva em ambiente educacional. In: Tecnologia Assistiva. Instituto de Tecnologia Social. 2008, p. 25-39

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