Contos de Aprendiz – Carlos Drummond de Andrade Nascido em 31 de outubro de 1902, em Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, Carlito, como era chamado carinhosamente por sua família, revelou-se interessado em leitura e poesia precocemente. Era pessimista e a sua personalidade reservada, tímida, desconfiada. Outras vezes, deixava transparecer uma fina ironia e humor, utilizando-se também do poema-piada, herança dos modernistas da primeira fase. Publicado em 1951, Contos de Aprendiz foi a estréia de Carlos Drummond de Andrade como contista. Nessa época já havia publicado seus livros mais importantes - Alguma Poesia e Sentimento do Mundo - que o consagraram como um dos maiores poetas brasileiros. A obra reúne 15 contos. Drummond conta as histórias que acontecem ou podem acontecer, na medida em que o acaso ou outro poder as torna possíveis, com o auxílio da imaginação alerta. Drummond gosta de relatar aquilo que parece o mínimo, porém está cheio de significado na memória de cada um, como a surpresa e a decepção do primeiro sorvete, ou uma briga de irmãos que transforma a penitência infantil em pecado. Ou senão, a simples troca de palavras entre um homem e uma mulher, no coletivo, em que o olhar perturbado entra com sua carga de sensualidade. E ainda o devaneio da moça que prepara as figuras do presépio, na véspera de Natal, com o pensamento não no que fazia, mas no namorado. Drummond escreve uma prosa limpa, evidentemente com prazer - o prazer de contar sem intenção de brilhar. O livro remexe em lembranças da infância do poeta, passando muitas vezes a falsa impressão de um livro de memórias. As histórias reunidas em Contos de aprendiz exercem uma relação franca com o mundo, mexendo com os encantos da memória para desencantá-los e permitir que eles se mostrem como o que de fato são: mitos. Em Contos de aprendiz, ao lado da contida, mas intensa expressão de afeto e rejeição ao absurdo do mundo, perpassa um humor irônico em relação à diferença entre o que os homens mostram ou parecem ser e o que são, uma das tônicas da visão deste poeta que se definiu como "um gauche na vida". Livro que insere o misticismo e o mito da poesia, mas que remete para uma trama sempre curta, onde poucos personagens acabam, num tempo curto, chegando ao fim de suas problemáticas ou deixando-as à média rés, como, aliás, acontece frequentemente.