,

VITORIA POR ATROPELA' A Batalha do Riachuelo foi vencida pelo Brasil há ISO anos, marcando uma virada na Guerra do Paraguai e impedindo a ascensão de uma segunda potência regional DUDA TEIXEIRA

N

as salas de aula brasileiras, a Guerra do Paraguai é frequentemente retratada como uma injusta ação militar contra um país pacífico, patrocinada por interesses imperialistas ingleses. Essa versão não tem nenhuma base histórica. Na véspera do conflito, o representante inglês em Buenos Aires, Edward Thorn-

82 I 3 DE JUNHO,

2015

I veja

ton, ofereceu-se para mediar as rixas a fim de evitar uma conflagração, mas não foi ouvido pelos paraguaios. Além disso, menos de 10% do custo para a Tríplice Aliança, formada por Brasil, Argentina e Uruguai, foi financiado no exterior. Tampouco o Paraguai poderia ser considerado uma vítima dos demais. Em dezembro de 1864, o ditador Solano López ordenou a invasão militar de Mato Grosso com duas expedi-

ções militares com quase 8000 soldados. Casas foram saqueadas, mulheres violentadas e Corumbá, hoje em Mato Grosso do Sul, tornou-se parte da província paraguaia de Mbotetey. Nos meses seguintes, outras expedições entrariam em São Borja, no Rio Grande do Sul, e Corrientes, na Argentina. As ambições megalomaníacas do ditador só começaram a ser contidas na Batalha do Riachuelo, que no dia 11 de junho completa 150 anos. Em maio de 1865, nove navios brasileiros subiram o Rio Paraná para tentar recuperar Corri entes. A maior das embarcações era a fragata Amazonas,

.

I...

-

BOLíVIA

..... .. ~~I

. I , __ ~

l__ .,,_.

PARAGUAI.

"

ro

~

'-

(

'(õ

'-...........

0,..0

<.

~

""..

ARGENTINA

;

;

Batalha do ~. RiaChuelO)Y

)

~' Assunção

e.

RiOpa./

)

» ~ \'õ."J •

J

=;>..

Corrientey'

/

BRASIL

/;'" t

\,

.

,I

••

.

"- '<,

( URUGUAI

'> ~

Buenos Aires

MENTO que funcionava com vela, máquina a vapor e rodas laterais. A tentativa de retomar a cidade, porém, enfrentou resistência, e os soldados retomaram aos navios, estacionados no rio. Sob ordens do ditador López, o capitão Pedro Ignácio Mezza comandou um ataque na manhã do dia l1 de junho. Sua meta era abordar os navios brasileiros que, ancorados, eram presas fáceis. López exigiu que Mezza levasse consigo as chatas, barcos pequenos e baixos, sem propulsão, com um canhão. Como elas tinham de ser rebocadas lentamente para evitar a entrada de água, a ação de Mezza atrasou algumas horas e ele per-

deu o fator surpresa. Os brasileiros avistaram a ameaça depois das 8 horas da manhã e logo foram atacados. "Choviam de parte a parte balas e metralha. Era uma chuva de respeito", relatou o então chefe naval brasileiro Francisco Manoel Barroso da Silva. Foram necessárias duas horas para que as caldeiras dos navios brasileiros se aquecessem e tivessem pressão suficiente para um contra-ataque perto do Rio Riachuelo. Barroso conduziu a esquadra para peito do inimigo, e um navio brasileiro encalhou. Outro, a corveta Parnaiba, teve o convés assaltado por paraguaios. Sob fogo intenso, Barroso decidiu pôr em prática uma nova técnica, lançando a proa da Amazonas diretamente contra os cascos dos inimigos. Três navios paraguaios afundaram e um quarto, na fuga, encalhou. "Barro-

*

*

Montevidéu

so provavelmente se inspirou nos americanos. Os brasileiros estudavam muito a Guerra Civil dos Estados Unidos (1861-1865), em que navios foram usados dessa maneira", diz o vice-almirante Armando de Senna Bittencourt, diretor de patrimônio histórico e documentação da Marinha do Brasil. Nos anos seguintes, a navegação pelos rios, controlados pelos aliados, mostrou-se fundamental na disputa. Sem acesso ao mar, López não pôde receber mais armamentos e navios encouraçados (reforçados com placas de ferro). Foi obrigado a ir para a defensiva. No Brasil, a Guerra do Paraguai não foi capitalizada pelos políticos nacionais e, ao contrário do que se diz, também não influenciou na abolição, em 1888. ''A maioria dos negros que lutaram já era livre, e eles não chegaram a ser mais do que 10% do contingente total", diz o historiador Vitor Izecksohn, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Uma derrota, porém, teria mudado a geopolítica da região. "Se o Império tivesse saído enfraquecido da disputa, isso teria ampliado a força de movimentos divisionistas", diz o historiador Luiz Eduardo Silva Parreira. Se não fosse o almirante Barroso, o Brasil atual talvez estivesse vendendo produtos falsificados ao Paraguai, _ COM REPORTAGEM

veja

DE PAULA PAUL!

I 3 DE JUNHO,

2015

I 83

Guerra do Paraguai - Veja.pdf

Grosso do Sul, tornou-se parte da pro- víncia paraguaia de Mbotetey. Nos me- ses seguintes, outras expedições entra- riam em São Borja, no Rio Grande do.

3MB Sizes 0 Downloads 141 Views

Recommend Documents

Guerra Civil - Uma historia do - Stuart Moore.pdf
Page 3 of 265. Guerra Civil - Uma historia do - Stuart Moore.pdf. Guerra Civil - Uma historia do - Stuart Moore.pdf. Open. Extract. Open with. Sign In. Main menu.

Eje Guerra Civil.pdf
Sign in. Loading… Whoops! There was a problem loading more pages. Retrying... Whoops! There was a problem previewing this document. Retrying.

“GUERRA DE MALVINAS”.pdf
Al día siguiente, un helicóptero se estrelló o fue derribado en la misión.(2) ... ese cometido los británicos contaban con las Fuerzas del SAS “Special Air Service”.

Guerra Espiritual - Timothy Warner.pdf
Page 2 of 80. ¡Guerra espiritual es urgentemente necesario! Deseo que cada cristiano. lo lea y lo practique". - Warren W. Wiersbe. "Lectura obligatona para ...

Pasajes de la guerra revolucionaria.pdf
que se mantenía en pie en esta área —la de Jacobo Arbenz Guzmán— sucumbía ante la agresión meditada, fría,. llevada a cabo por los Estados Unidos de ...

Eric Hobsbawm-La Guerra Total.pdf
There was a problem previewing this document. Retrying... Download. Connect more apps... Try one of the apps below to open or edit this item. Eric ...

la-guerra-de-vietnam.pdf
Loading… Page 1. Whoops! There was a problem loading more pages. Retrying... la-guerra-de-vietnam.pdf. la-guerra-de-vietnam.pdf. Open. Extract. Open with.

Cesar-Julio-La-Guerra-Civil-bilingue.pdf
I. Después que Fabio entregó a los cónsules la carta. de Cayo César, costó mucho recabar de éstos el que. se leyese en el Senado, aun mediando para ello las.

Cesar-Julio-La-Guerra-Civil-bilingue.pdf
The Bank's performance. continues to be positive, in line with our vision of. being the market leader offering world class banking. services in Zambia. Moreover, we continued to make ... Zambia' by three international awarding bodies - The. Euromoney

pl 10-08 ododododododododo d. oo do, o do, o do, o do, o do ... - GitHub
PL. 10-08. O D O D O D O D O D O D O D O D O D. O. O DO, O DO, O DO, O DO, O DO, O DO, O DO, O DO, O DO, O. O DO, O DO, O DO, O DO, O DO, O DO, ...

preparemonos-para-la-guerra rebecca-brown-.pdf
Whoops! There was a problem loading this page. preparemonos-para-la-guerra rebecca-brown-.pdf. preparemonos-para-la-guerra rebecca-brown-.pdf. Open.

Marc Auge-la-guerra-de-los-suenos.pdf
Puede uno mostrar cierto escepticismo o experimentar. algún espanto ante 1a~1. de que puedan entablarse. ~ en la red Internet, y ante .la idea de que nos.

preparemonos-para-la-guerra rebecca-brown-.pdf
El "día de. Jehová en el valle de }", decisión" ya está aquí. El mal se desplaza libremente por nuestro país, y por. todo el mundo, hasta el punto que el cristiano ...

preparemonos-para-la-guerra rebecca-brown-.pdf
9. 2. Pactos Con Dios 19. 3. Un año de luchas 31. 4. Estar firmes 39. 5. El principio de la sabiduría 57. 6. Fuego 63 .,,',. 7. Escuchar a Dios 71. 8. Oración 90. 9.

La-Guerra-De-Los-Mundos-Spanish-Edition.pdf
LA GUERRA DE LOS ZETAS: VIAJE POR LA FRONTERA DE LA NECROPOLÍTICA (SPANISH. EDITION). Study On the web and Download Ebook La Guerra ...

H. G. Wells - A Guerra dos Mundos.pdf
Page 2 of 162. “Mas quem viverá nestes mundos se eles forem desabitados?... Somos. nós ou eles, os Senhores do Mundo?... E serão todas as coisas feitas ...

Tolstoi León-Guerra y Paz.pdf
¿Por qué tienen hijos los hombres como usted? Si no fuese usted. 3. Page 3 of 494. Tolstoi León-Guerra y Paz.pdf. Tolstoi León-Guerra y Paz.pdf. Open. Extract.