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Universidade Federal Fluminense Instituto de Arte e Comunicação Social Departamento de Estudos Culturais e Mídia
Monique de Souza Oliveira
A volta da Rádio Cidade e da 89 FM A Rádio Rock: Memória afetiva, consumo e rock'n roll
Niterói, Março de 2016
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Monique de Souza Oliveira
A volta da Rádio Cidade e da 89 FM A Rádio Rock: Memória afetiva, consumo e rock'n roll
Monografia apresentada ao curso de graduação em Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para o grau de bacharel em Estudos de Mídia.
Orientadora: Profª. Drª. Beatriz Polivanov Coorientadora: Profª. Drª. Simone Pereira de Sá
Niterói Março de 2016
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Monique de Souza Oliveira
A volta da Rádio Cidade e da 89 FM A Rádio Rock: Memória afetiva, consumo e rock'n roll
Monografia apresentada ao curso de graduação em Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para o grau de bacharel em Estudos de Mídia.
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________________________ Profª. Drª. Beatriz Polivanov Orientadora Universidade Federal Fluminense
________________________________________________________________ Profª. Ms. Melina Aparecida dos Santos Silva Universidade Federal Fluminense
________________________________________________________________ Ms. Luiza Bittencourt Universidade Federal Fluminense
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RESUMO
Esta monografia tem como objetivo analisar o retorno de duas rádios do segmento musical rock presentes no dial FM: Rádio Cidade (Rio de Janeiro) e 89 FM A Rádio Rock (São Paulo), bem como as problemáticas que ambas enfrentaram durante um período de enfraquecimento do rock no mercado fonográfico brasileiro. Para isso, observamos como se deu a construção do conceito de juventude e qual a relação do gênero musical rock com esse conceito. A vinda do rock americano para o Brasil também é um ponto importante para entendermos de que forma as rádios surgiram e se consolidaram em meio à mistura de gêneros musicais e ao surgimento de outros movimentos como a Tropicália. Por fim, consideramos o mercado atual e os desafios enfrentados por ambas as rádios em tempos de marketing online , webrádio e interação através de sites de redes sociais, apontando os limites e potencialidadesdo século XXI, bem como as articulações entre memória afetiva, consumo e o gênero musical / estilo de vida rock’ n roll.
Palavraschave: Rádio Cidade, 89 FM A Rádio Rock, juventude, consumo, rock, memória afetiva.
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ABSTRACT
This work aims at analyzing the return of two FM radios related to the musical genre rock and roll: Rádio Cidade (Rio de Janeiro) and 89 FM A Rádio Rock (São Paulo), as well as the problems they faced during a period of weakening of the genre in the Brazilian music industry. In order to do that we observed how the concept of youth was created and its relation to rock as a music genre and lifestyle. The arrival of Northamerican rock to Brazil i salso a relevant point to understand how the rádios emerged and consolidated themselves among the mixture of music genres and other movements, such as Tropicalia. Last but not least, we consider the contemporary market and the challenges faced by both rádios in times of online marketing, webradios and interaction via social network sites, pointing to the limits and potentialities of the 21st century, as well as the articulations between affective memory, consumption and the music genre / lifestyle rock and roll.
Keywords: Rádio Cidade, 89 FM A Rádio Rock, youth, consumption, rock, affective memory
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiro aos meus pais por cada conselho, cada abraço, cada bronca e cada gesto de amor. Nada disso seria possível sem vocês, espero poder retribuir um dia. Ao meu pai por ser o porto seguro da casa. À minha mãe por ser o coração e a força da família. Aos meus amigos de Barueri que sempre me apoiaram e acreditaram que eu conseguiria, mesmo às vezes, duvidando que eu ficaria tanto tempo longe de casa. Aos meus amigos cariocas e fluminenses pela receptividade calorosa e por todo o carinho. À turma de 2012.1 por serem a melhor turma que alguém pode ter. À professora Simone de Sá por toda a inspiração ao longo da graduação. À Beatriz Polivanov, minha orientadora, por ter aceitado orientar um projeto em andamento e por todo o carinho e dedicação ao longo desses meses, com emails detalhados e sempre muito gentis. E, principalmente, pela compreensão em todos os momentos necessários. À Fernanda Soucek por dizer tanto com tão poucas palavras. À Nana por ser amiga, professora e estar sempre disponível. À minha gêmea, Brenda, por cada conselho e palavra de incentivo. À Camila, gaúcha, por cada conversa carinhosa e por sempre estar, sem necessariamente, estar. Ao Lionel por todos os brindes e conselhos cheios de tranquilidade e sabedoria. À família 402: Mineira, Amanda, Fabi, Flávia e Manu, pelos momentos inesquecíveis, por todo o afeto e paciência que fizeram com que eu mudasse tanto em tão pouco tempo. À Leca, por ter aparecido no momento certo. Ao Thalles, pela consideração, apoio e pelos “Dias de Luta”. À Bea Bretas, por ter tornado os meus primeiros anos em Niterói memoráveis. À Ana Enne, pelas aulas maravilhosas e por me ajudar a encontrar um pouco da minha consciência social. Ao Antônio Jr. por todas as conversas e conselhos sábios e sempre muito carinhosos. À Luiza e à Melina por terem aceitado o convite para fazer parte da banca e, consequentemente, da minha vida acadêmica. À Pamella Renha e ao Rubão, respectivamente, da Rádio Cidade e da 89 fm A Rádio Rock, pela disponibilidade, atenção e gentileza nas entrevistas cedidas à mim. A todos os mestres e doutores que participaram da minha graduação e contribuíram com um pouco do seu vasto conhecimento para minha formação. A todos os colegas de Estudos de Mídia que compartilharam tantos momentos difíceis, engraçados, reflexivos e determinantes.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................8
CAPÍTULO 1 – Rock , juventude e consumo......................................................................12 1.1 Consumo, entretenimento e juventude...............................................................13 1.2
Rock
enquanto
gênero
midiático.........................................................................16
CAPÍTULO 2 – O rádio e o rock brazuca............................................................................21 2.1
Breve
história
do
rock
brasileiro.........................................................................22 2.2 Por que falar de rádio quando se tem a TV?.....................................................27 2.3 Internet e novas possibilidades: webrádio, streaming e sites de redes sociais...........................................................................................................................30
CAPÍTULO 3: O rock está de volta!....................................................................................34 3.1 – O lugar da memória afetiva.............................................................................35 3.2 A força das rádios como lovemarks.................................................................37 3.2.1 89 FM a Rádio Rock traz os fãs de volta..........................................40 3.2.2 Os fãs trazem a Rádio Cidade de volta.............................................43
CONCLUSÃO.........................................................................................................................51
Anexo 1 Entrevista 89 FM a Rádio Rock...........................................................................54 Anexo 2 Entrevista Rádio Cidade.......................................................................................60
Referências Bibliográficas......................................................................................................67
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INTRODUÇÃO
A 89 FM A Rádio Rock (de São Paulo) passou por um processo de mudança de gênero musical de aproximadamente oito anos, enquanto a Rádio Cidade 102,9 (no Rio de Janeiro) perdeu sua posição no dial FM e existiu apenas como webrádio de 2006 a 2013. Isso se deu após uma temporada de bonança e consolidação no mercado fonográfico brasileiro, relacionado ao gênero musical do rock, da década de 1980 até o início dos anos 1990. Passado esse período voltaram à cena, respectivamente, em 2012 e 2014, com novas estratégias e com uma programação diferente, aproveitando o começo do que seria uma nova fase do rock no Brasil. O retorno das rádios trouxe uma série de mudanças em suas formas de se comunicar. Assim como nos anos 1980, as rádios continuam “falando” com o público jovem. Mas além de uma programação mais próxima dos adolescentes e jovens de hoje, com uma linguagem nova que segue a forma de interação da web 2.0, elas também se preocupam com os fãs que eram jovens no suposto auge do rock no Brasil, ou seja, que acompanharam o início das rádios. Um bom exemplo de como isso acontece é a comunicação nos sites de redes sociais, através, por exemplo, de memes que são criados a partir de artistas de ambas as gerações incluindo, assim, os fãs do início da rádio e os fãs atuais. Em muitas das imagens resgatase uma ligação nostálgica e afetiva com quem ajudou as rádios a cresceram no começo de suas transmissões. Nesse sentido, esta pesquisa pretende analisar quais as estratégias de divulgação utilizadas pelas rádios Cidade e 89 FM, A Rádio Rock, para retornar ao atual cenário musical recuperando o status e o prestígio do passado. A intenção é discutir até que ponto suas imagens e representações como “rádios de rock” nas décadas passadas foram fundamentais para reatualizar suas identidades musicais em uma era na qual a presença na internet e a
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circulação de produtos associados ao rock (como cervejas, chinelos, capa para celular, entre outros itens que levam o nome das rádios) são essenciais para sua sedimentação no mercado radiofônico, pois aproximam os fãs da marca e os fidelizam à rádio, tornando ambas 1
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competitivas em relação a outros canais presentes na internet, como Deezer , Spotify , 3
Youtube dentre outros. As décadas de 1980 e 1990 ficaram conhecidas, dentre outras características, por consolidarem o rock no Brasil. Segundo Dapieve (1995) apud Chagas (2010): A Rádio Fluminense (Maldita) desempenhou um importante papel na disseminação do gênero rock e na consolidação de uma cena roqueira no Rio de Janeiro. Juntamente com o Circo Voador, a emissora ficou conhecida como um dos elos do circuito musical carioca. Boa parte da programação da emissora era dedicada ao som produzido pelas bandas brasileiras que começavam a surgir no início da década de 1980, e que mais tarde formariam o Brock o movimento de rock nacional dos anos 1980 (DAPIEVE, 1995). (CHAGAS, 2010, p.41)
Nesse período ocorreu a formação de bandas cujo sucesso se mantém até os dias de hoje como: Legião Urbana, Titãs, Barão Vermelho, Ira!, Ultraje a Rigor, entre outras. Diante desse momento histórico é possível observar uma pluralização nos meios de escuta que ajudou a impulsionar produtos relacionados aos gêneros musicais desses meios como vinis, fitas cassete, etc., e em virtude desse processo de pulverização do mercado que surgiram meios alternativos de escuta (como rádios piratas) e rádios alternativas alcançaram seu espaço para competir com quem, até então, dominava o mercado radiofônico no Brasil, buscando em alguns nichos uma oportunidade de sucesso e solidificação. Em outras palavras, era o 4
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underground ganhando espaço e expandindo dentro de um cenário mainstream . O objetivo O Deezer é um aplicativo grátis, para Android , Blackberry , iOS , Windows Phone e Mac OS que permite descobrir e ouvir músicas de maneira bem divertida e interativa, através de um serviço de streaming. Disponível em
. Último acesso em março de 2016. 2 O Spotify é uma plataforma de streaming de músicas online disponível em versão web e para Windows , Mac OS , Android , BlackBerry , iOS , Windows Phone e Linux Ubuntu . O serviço tem mais de 30 milhões de músicas e permite conhecer novas canções e artistas, descobrir o que os seus amigos estão ouvindo e separar suas músicas preferidas em playlists. Disponível em . Último acesso em março de 2016. 3 O YouTube é o maior site de compartilhamento de vídeos VOD (on demand) e LIVE (ao vivo) do mundo, totalmente gratuito. O site também é muito usado para baixar vídeos , sem precisar fazer download de programas. Disponível em . Último acesso em março de 2016. 4 “Um produto underground é quase sempre definido como “obra autêntica”, “longe do esquemão”, “produto nãocomercial”. Sua circulação está associada a pequenos fanzines, divulgação alternativa, gravadoras independentes etc. e o agenciamento plástico das canções seguem princípios diferentes dos padrões do mainstream” ( CARDOSO FILHO, JANOTTI JÚNIOR, 2006, p. 9) . 1
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deste trabalho, conforme apontamos, é realizar uma análise dos modos e meios de divulgação das rádios no momento de seus retornos, articulando a isso uma discussão sobre como a internet e uma nova geração de “rockeiros” brasileiros afetam diretamente as estratégias utilizadas por ambas. Para tal discorrerei a respeito das questões apontadas acima em três capítulos, organizados da seguinte forma: O primeiro capítulo dedicado a analisar de que forma o gênero musical rock amplificou sua popularidade entre diversas gerações através de 6
“tribalismos urbanos” que interferem diretamente nos aspectos sociológicos dos produtos midiáticos vinculados a ele. A juventude utilizou o rock como grito para se diferenciar em uma sociedade pós segunda guerra mundial, que direcionava sua indústria e conteúdo midiático para crianças e adultos, ignorando o período de transição destes, a adolescência e a juventude. A partir daí o rock foi percebido como um nicho na indústria cultural destacado por práticas midiáticas diretamente relacionadas à valorização mercadológica do segmento juvenil até alcançar a popularidade dos dias de hoje, abarcando mais do que só jovens e adolescentes. Conforme explica Chacon: O rock é muito mais do que um tipo de música: ele se tornou uma maneira de ser, uma ótica da realidade, uma forma de comportamento. O rock é e se define pelo seu público. Que, por não ser uniforme, por variar individual e coletivamente, exige do rock a mesma polimorfia, para que se adapte no tempo e no espaço em função do processo de fusão (ou choque) com a cultura local e com as mudanças que os anos provocam de geração a geração. Mais polimorfo ainda porque seu mercado basico, o jovem, é dominado pelo sentimento da busca que dificulta o alcance ao porto da definição (e da estagnação) (CHACON, 1985, p.8.)
Com base no capítulo anterior, iniciarei o segundo capítulo em terras brasileiras considerando a vinda do rock para o nosso país e percorrendo sua trajetória de forma a tentar compreender como ele chegou ao Brasil e como se deu a relação dos outros gêneros musicais e rádios correspondentes observando, inclusive, possíveis mudanças e convergências de
Segundo Jorge Cardoso Filho (2008, p.11) “o denominado mainstream (que pode ser traduzido como “fluxo principal”) abriga escolhas de confecção do produto reconhecidamente eficientes, dialogando com elementos de obras consagradas e com sucesso relativamente garantido. Ele também implica uma circulação associada a outros meios de comunicação de massa, como a TV (através de videoclipes), o cinema (as trilhas sonoras) ou mesmo a Internet (recursos de imagem, plug ins e wallpapers).” 6 T ermo utilizado por Janotti Junior (2005) em seu no texto “Mídia, Cultura Juvenil e Rock And Roll: Comunidades, Tribos e Grupamentos Urbanos”. 5
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gêneros que transformaram a música brasileira em relação ao ritmo (até então) estrangeiro, assim como o rock em relação aos ritmos e sons do povo tupiniquim. Podemos citar aqui portanto o manguebeat e o samba rock como exemplos de gêneros filhos dessa mistura musical. Foi nesse momento também que surgiu o Brock e não demorou muito para que esse nicho de mercado ganhasse força e os fãs começassem a ditar um mercado novo e foi com o fortalecimento dessa conjuntura que as rádios Cidade e 89 fm foram criadas, com a necessidade de canais específicos do gênero tendo como parâmetro toda a aura que envolvia o rock desde o seu nascimento e os signos que ele carrega. É preciso esclarecer que nem todos os gêneros advindos da convergência do rock com alguns gêneros nacionais eram considerados rock e/ou faziam parte dessa programação musical de nicho, por isso é importante trazer essas informações para pontuar a força que esse tipo de música e seus fãs trouxeram ao nosso mercado musical, incluindo relação de consumo e interatividade. No segundo capítulo apresentarei também, assim, uma breve história dasrádios considerando o cenário tecnológico do momento em que a televisão começa a tomar parte do espaço do rádio entre os consumidores, por oferecer imagem além de áudio, e traçarei um paralelo com os dias atuais quando temos o terceiro elemento nessa disputa: a internet. Observando não só o caminho percorrido por ambas até século XXI, mas também as dificuldades encontradas em relação às limitações do meio de comunicação em questão e às soluções encontradas dentro das respectivas estratégias para fidelizar o público. Estratégias essas que chegam até a webrádio e os sites de redes sociais, enfrentando agora não apenas a TV, mas também os sites que oferecem músicas em outros formatos como streaming e sites de vídeo como Youtube, Vimeo, etc. O que nos leva ao terceiro capítulo, no qual foram observadas as estratégias das rádios Cidade e 89 fm enquanto novas rádios de rock, inaugurando um segmento do rádio e criando diversas formas de interação específicas através dos sites de redes sociais, apelando para uma ideia de memória afetiva dos ouvintes antigos. Para tal foram realizadas duas entrevistas, com um programador/a de cada uma das duas rádios, além da observação do seu discurso no dial FM, site próprio (webrádio) e sites de redes sociais. Esperamos, desse modo, contribuir para os estudos sobre rock, consumo, juventude e memória afetiva.
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CAPÍTULO 1 Rock, juventude e consumo Falar em rock sem pensar em juventude e consumo é como construir um avião sem asas e sem motor. O grande impulso do gênero musical denominado rock’n roll, nascido para alguns em meados dos anos 1950, configurouse pela figura do jovem e suas necessidades e desejos. Assim como o rock foi o braço estendido para a juventude dar o primeiro passo na direção da força que tem hoje. Sabese que os jovens nem sempre foram representados ou “tiveram voz” na cultura popular da sociedade ocidental. O reconhecimento, ou melhor, a construção da juventude concepções contemporâneas é, historicamente, recente e tem como grande marco o fim da segunda guerra mundial (LIPOVETSKY, 2007). Até então esperavase um comportamento adulto logo após a infância, que acabava entre os 10 e 12 anos de idade. Com o boom econômico da época e consequentemente o surgimento de uma nova classe de consumidores advinda de uma geração que havia sobrevivido à guerra, foi construída uma noção de “jovens”, que os atrelava a uma certa ideia de estilo de vida ligado à rebeldia, liberdade, beleza e modernidade, ocupando um lugar entre fascínio e ameaça. Um dos passos importantes para essa mudança que criou uma nova classificação para a idade entre 13 e 19 anos veio aos poucos através da pu blicidade, que trazia atores e atrizes jovens relacionados aos seus respectivos produtos e os elegiam como públicoalvo. Não apenas a publicidade, como também diferentes veículos midiáticos passaram a reforçar tais valores atrelados à juventude. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, foi lançada em 1944 a revista Seventeen (ou, em português, Dezessete), direcionada especificamente para jovens mulheres que estavam na fase no colégio. Para Jon Savage, autor de England's Dreaming: Sex Pistols e Teenage: The Creation of Youth 18751945 , foi nessa mesma época que surgiu o termo adolescente em inglês – teen – que vem da última sílaba dos números correspondentes à idade que compreenderia a adolescência, dos 13 aos 19 anos. Esse mesmo período é tido como um marco para o rock. Após seu início sucedido do R&B (rhythm & blues), ritmo de música tocada, principalmente, por negros americanos, “acrescido da guitarra elétrica e uma roupagem mais urbana dos brancos; com o Country&Western” (CASTANHO, 2013, p14) o rock foi ganhando adeptos por ser diferente
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daquilo que se ouvia naquele tempo e nomes como Bill Halley, Little Richard, Sister Rosetta 7
Tharpe e Chuck Berry foram surgindo. Com o passar do tempo o gênero musical foi ganhando formas e estilos diversos, e para se popularizar de vez foi preciso um rosto, de cor 8
branca (não temos como ignorar o preconceito daquela época), jovem e carismático… sim, era o surgimento de Elvis Presley. Essa personalidade causou uma euforia coletiva entre os jovens e trouxe junto com seu jeito de cantar e dançar, herdado dos negros, uma libertação do corpo que não existia até então. Uma forma libertadora de dançar e curtir a vida, ouvindo rock. Paralelo a tudo isso, a indústria e o comércio da época aproveitou a situação e foi moldando o que mais tarde se transformaria em um nicho de mercado, feito para essas pessoas que não eram vistas nem como crianças, nem como adultos. A partir dessa concepção, iniciouse a criação de um estilo próprio para os jovens roqueiros, atrelando o gênero musical conjuntamente à moda e a um consumo específico relacionado à identificação social, política e à rebeldia. Devido a essas modificações o rock já não era mais apenas um estilo musical, mas um modo de viver e, mais do que isso, uma maneira de conceber o mundo ao seu redor.
1.1 Consumo, entretenimento e juventude
Alguns pensadores e acadêmicos definem a sociedade contemporânea como uma sociedade de consumo. Uma sociedade na qual consumir tem mais significados do que apenas “sumir com” certos objetos. Os objetos de consumo vão desde os mais necessários aos mais supérfluos, dos palpáveis aos simbólicos. Após a revolução industrial, por volta do final do século XIX, houve uma mudança significativa nos padrões de consumo da sociedade ocidental. Ainda tinhase como referência a corte europeia, que, ao consumir determinados produtos e gerar certas características de comportamento, influenciava os hábitos e gostos de outras parcelas da sociedade, gerando padrões de valores. A partir da revolução industrial, criaramse outros padrões e a produção dos produtos passou a ser feita em série. Assim como usavase a realeza como referência no século anterior, do início para o meio do século XX ocorreu uma mudança na forma como a
Guitarrista e uma das pioneiras do rock, é lembrada sempre como madrinha do gênero, apesar de ter começado a tocar muito antes do nascimento do rock em si. 8 Bill Halley também era branco, mas não conquistou o público como Elvis, pois não tinha o mesmo carisma e a mesma desenvoltura que Presley em frente as câmeras e nos palcos. 7
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sociedade se percebia e abriuse espaço para o que seria o nascimento da juventude e de uma cultura do consumo mais próxima aos moldes contemporâneos. Segundo Elizara Carolina Marin: “o entretenimento passou a ser uma mercadoria valorizada pela sociedade regida pelo capital.” (MARIN, 2009, p.1). E não podemos negar que o boom econômico dessa época influenciou as pessoas a consumirem mais e aumentou o gosto por diversão de uma sociedade recém saída de uma segunda guerra mundial. A mídia tomou as rédeas da cultura do entretenimento, somandose a isso a uma sociedade jovem que tinha poder aquisitivo para consumir e que precisava se sentir independente, livre, e aproveitando de certo modo para rearfirmar os interesses do mercado diretamente ligados ao capitalismo. Mais do que isso, a indústria preciava vender. Nesse sentido, a cultura de massas 9
encontrase diretamente associada a uma lógica fordista de produção e também ao marketing. Este tem como alguns de seus objetivos criar uma ilusão de necessidade de determinado produto e a ideia de que se precisa ter determinado produto para ser alguém completo e/ou estar inserido em algum meio social. Essa lógica estaria relacionada à própria produção em série, pois era necessário convencer um grande número de pessoas de que elas precisavam de certo produto, ou seja, era importante criar uma demanda que pudesse dar vazão aos objetos fabricados de forma massiva. Nesse processo o mercado se expandiu e se tornou possível encontrar diversos produtos relacionados aos teenagers, incluindo nessa lista filmes, livros, discos, dentre outros produtos ligados ao entretenimento. Isso fez com que espaços fossem abertos e direcionados para esse mesmo público, como por exemplo, danceterias. Elvis Presley foi um grande ícone dessa sociedade que estava se moldando à base do 10
entretenimento , mas ele não estava sozinho nessa influência entre os jovens. O rei do rock era quem comandava boa parte do estusiasmo jovem com a música em sua época. Além da 11
própria esfera musical, no cinema atores como Marlon Brando – que após o filme “Uma Rua Chamada Pecado” (1951) já havia “ditado moda” sobre o traje adolescente rebelde – e
Fordismo é o nome dado ao modelo de produção em massa, instituído pelo norteamericano Henry Ford. Um dos exemplos de sua influência em hábitos de consumo está relacionado à calça jeans. Bastou um anúncio da marca Levi Strauss & Co. (atual Levi's®) estrelada por ele para que o jeans virasse um símbolo do rock e de toda a rebeldia em torno dele. 11 O impacto de seu personagem e do próprio ator foram tais que a camiseta, que era até então considerada uma peça de roupa de baixo e era muito utilizada por ele, tornouse peça indispensável do estilo rebelde dos roqueiros posteriormente. 9
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James Dean – após o sucesso do filme “Juventude Transviada” (1955) – ajudaram a construir ideais de jovens belos, rebeldes e livres.
Figura 1 Marlon Brando
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(Fonte: Site da Revista Moviola) 13
Os teenpics viraram mania entre os jovens e fizeram muito sucesso. Até o “rei do rock” se rendeu a eles e lançou, após os aclamados filmes de Marlon Brando e James Dean, o seu primeiro (e bastante conhecido) filme que leva o nome de uma de suas baladas mais conhecidas, Love me Tender . Assim, elementos como a calça jeans, a camiseta e a jaqueta de couro foram alguns dos produtos que faziam com que se comunicasse um certo sentido de ser jovem e ser rebelde, apropriados pelo rock. De certo modo eram necessários em um processo de criação de identificação. É importante frisar que essa identificação não é apenas material, mas também de ordem simbólica e ideológica. É uma questão de posicionamento, caráter e visão de mundo que se percebem por esses signos materiais, para além da música. Com isso quero apontar o quão interessante é perceber que o rock se construiu num momento em que o
Disponível em: Acesso em jan. 2016. Gênero cinematográfico que dava nome aos filmes feitos para o adolescentes e jovens nos Estados Unidos dos anos 1950. 12 13
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conceito de juventude estava nascendo e foi se apoiando na rebeldia, em conjunto com esses jovens, mas dentro da lógica industrial mercadológica. Nesse sentido, os meios de comunicação se mostravam fundamentais nessas construções de uma juventude norteamericana e isso influenciou diretamente a formação dessa geração. O “empoderamento” foi tanto que o que esses ícones da juventude ditavam virava moda e influenciava o resto do mundo ocidental, que tentava copiar ou se adequar àquilo. Um dos principais meios de disseminação dessa cultura do entretenimento era o rádio, por ser um veículo fácil de transportar, com aparelhos portáteis, e ser também uma resposta rápida à uma geração que buscava mais informação e diversão. Ele levava, junto, claro, à televisão, o rock aonde os jovens estivessem, e ainda proporcionava a eles uma ideia de “dar voz” aos mesmos. De todos os produtos midiáticos, a música talvez fosse a mais presente no cotidiano dos jovens, pois além do fácil acesso, trazia uma identificação com as letras e artistas, através de shows, discos, revistas. Em sua tese “Jovem Guarda: A construção social da juventude na indústria cultural”, Marcelo Garson (2015) afirma que só é possível falar de música feita para jovem se esse indivíduo for reconhecido enquanto tal. No caso do rock, argumentamos que ele só existe enquanto música popular massiva quando o conceito de juventude já estava em plena consolidação. E, como aponta Luís Fellipe F. Afonso: Junto com a música, há a divulgação em larga escala de todo um movimento cultural realizado por e pensado para os jovens, em várias mídias: cinema, artes plásticas, grafite, música, jornais, livros, artes visuais etc. Um fotógrafo jovem produz a capa de um disco de uma banda jovem de rock, que por sua vez é analisada por um jornalista jovem e utilizada num filme sobre a juventude. Fechase um ciclo onde as atividades de produção, divulgação, análise e consumo são realizadas pelos jovens, que se mostram um forte nicho consumidor e produtor de cultura. (AFONSO, 2015, p. 3)
1.2 Rock enquanto gênero midiático
Em seu texto João Freire Filho e Fernanda Marques Fernandes (2005) destacam que a concepção de cena musical está ligada, dentre outros fatores, à interação entre sujeitos em
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uma determinada localidade e à própria lógica de comércio e produção local de música. Isto é, o rock, assim como outros gêneros de música popular, não devem ser entendidos apenas como estilos musicais, apenas por seu viés estético, mas também por um viés mercadológico e midiático ( JANOTTI JÚNIOR. 2006) . Nesse sentido, devese ter em mente que a própria criação de um gênero musical está relacionada, dentre outros fatores, às “tentativas abrangentes das indústrias fonográficas de tornar a música mais lucrativa, ao segmentála” (GROSSBERG 1994, p. 46 apud FREIRE FILHO E FERNANDES, 2005, p. 6).
Inicialmente, é necessário esclarecer que não existe apenas um tipo de rock. O que se conhece hoje por rock é uma construção histórica. Como gênero musical ou manifestação cultural, não pode ser visto como algo homogêneo. Existem vários rocks, várias vertentes, várias formas de fazer, de ouvir e de assimilar. Mesmo com os primeiros artistas e primeiras bandas, não se pode tomar como algo concreto, único. Devese analisar dentro das particularidades de cada grupo musical, de cada música considerada rock, de cada receptor do som e das imagens. O próprio termo “rock” foi construído alguns anos após serem gravadas as primeiras músicas que hoje recebem o termo. (BAENA, 2015, p. 1)
Nesse processo de segmentação da música foram / são fundamentais os suportes que 15
vão permitir sua gravação, reprodução e consumo, tais como os LP’s por exemplo. A indústria fonográfica se utilizava das rádios para disseminar certas músicas, que poderiam ser consumidas posteriormente inúmeras vezes através dos LP’s. Esse movimento fazia com que as pessoas criassem uma memória afetiva com essas músicas e elos sociais entre grupos fossem construídos em parte a partir da identificação e compartilhamento de gostos e valores em comum. Para além dos suportes midiáticos, certos agentes humanos serão fundamentais para a consolidação dessa indústria, tal como apontamos acima. Nesse sentido, o surgimento de bandas e artistas como The Beatles, Rolling Stones e Pink Floyd podem ser vistos como grandes símbolos do rock não apenas por seus valores e capacidades técnicos, estéticos e ideológicos, mas também de afetação e mercadológicos. Indo além dos suportes e sujeitos, são importantes também para entender a construção do rock os festivais de música. Na década de 1960 aconteceu o famoso festival de
Até por isso há uma grande ligação do rock e suas respectivas cenas musicais com os centros urbanos, pois a indústria está intimamente ligada a esses espaços. 15 LongPlay (em português “longa duração”) era chamado assim por ter mais tempo de gravação que o disco compacto, seu antecessor que só comportava uma música de cada lado. 14
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Woodstock que, definitivamente, foi um marco na história do rock, dos jovens e do movimento hippie que nascia em meados de 1966 e era fruto do que poderia ser considerada uma “primeira leva de roqueiros”. Foi um marco cultural na geração que iniciou o rock e nas mudanças entre alguns dos seguidores do gênero. Foi um festival feito de modo improvisado e talvez exatamente por isso, junto a outros fatores, é lembrado e citado até hoje por muitos (inclusive por essa que vos escreve) como uma referência de evento cultural transformador feito pelos jovens para os jovens. Segundo Rivello: "O festival é a base de um processo sociocultural que se desenrola por anos nessa sociedade de maneira conflituosa e se materializa ou tem seu desfecho metaforicamente na presença de um público ávido por mudanças estruturais" (RIVELLO apud MARIUZZO 2009, p. 60) e foi nesse processo que nasceu o movimento hippie. Um movimento que trazia talvez menos rebeldia que o rock da década anterior e pregava a paz e o amor como protesto contra as guerras, principalmente a do Vietnã, que estava acontecendo naquele momento. E, seguindo o estilo hippie, o festival acabou gerando tensionamentos e questionamentos sobre a indústria cultural, uma vez que, apesar de ter vendido muitos ingressos, quando o público começou a chegar, devido à grande quantidade de pessoas que dali se aproximava, os organizadores resolveram tornálo gratuito. Esse grupo, literalmente, derrubou as cercas. Era para ser algo extremamente lucrativo e acabou se tornando algo inexplicavelmente único pelas experiências e pelo que parecia ser o início de uma nova era. Mais tarde o festival foi eternizado em um filme, e acabou recuperando os lucros para os organizadores. A década de 1960 pode ser considerada, portanto, de transformação, ajudando a construir uma ideia do que seria o rock, e o que ele trazia consigo, significava. Com o passar das décadas, muitos dos símbolos e valores criados nesta época ao redor ou a partir do rock e seus agentes se mantiveram. Esses símbolos criados em torno do rock por uma cultura do consumo em um sistema capitalista em expansão eram tão fortes que, além de proporcionar um crescimento de público e fãs do gênero, perpetuaram por anos uma memória afetiva que dura até hoje. Além de estar diretamente relacionado com essa necessidade de fazer parte de um coletivo com a mesma identidade social.
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Desde então o rock, não enquanto gênero musical, mas enquanto estilo de vida, ficou atrelado a uma ideia de juventude. Não apenas juventude enquanto período da vida, faixa 16
etária, mas como um ethos da própria modernidade (ENNE, 2010).
Talvez o conceito que permita alinhavar de forma mais clara essas duas formas culturais de vivenciar personagens públicos seja o de estilo de vida. Max Weber (WEBER, 2000) e Georg Simmel (SIMMEL,1971) já chamavam a atenção para o caráter significativo das ações sociais, em que os atores sociais desempenhariam seus papéis em jogos interativos. Uma ação social, ou uma sociação, nos termos simmelianos, seria sempre simbólica, requerendo esforço interpretativo, ou compreensivo, da parte dos envolvidos em cada processo relacional. Dessa forma, muitos elementos seriam acionados, signos em processo de significação, permitindo maior complexidade nesse jogo hermenêutico. Formas de estar no mundo, de “fazer com”, estariam em consonância com visões de mundo. Assim, o ethos, o estilo de vida, estaria fortemente relacionado com o eidos, permitindo que os sujeitos, historicamente, por meio de seus modos de viver, materializassem suas concepções acerca desse estar e ser no mundo, construindo sistemas hierárquicos e valorativos. (ENNE, 2010, p.18)
E para tal construção simbólica foram fundamentais objetos, experiências e mídias que as comunicavam materialmente: Tratamse dos grafites em Maio de 68 (França), os cartazes em diversas revoltas juvenis, o teatro de guerrilha, os sitins, loveins, teachins, festivais hippies, festivais de rock, experiências coletivas com drogas, experiências místicas, show de luzes psicodélicas, shows multimídias, imprensa underground, psicodramas coletivos em instituições culturais ocupadas pelos movimentos juvenis, arte gráfica, canções provocativas nas manifestações etc. Formas em que a participação, além de real, deveria ultrapassar as barreiras do convencional, do racional e do “audiovisual”: deveria ser uma participação emotiva, prazerosa, “espiritual” e “profunda”. (GROPPO. 2001, p.2)
É importante observarmos que a indústria cultural e os veículos midiáticos eram (e são) consumidos e ao mesmo tempo contestados pelos jovens. Ainda que os jovens contestassem tanto a indústria do entretenimento e o sensacionalismo que ele criava ao redor deles, eles continuavam consumindo seus produtos e, consequentemente, renovando aquela mesma indústria. Era um ciclo que só alimentava e expandia as atividades no mercado
Conjunto dos costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento (instituições, afazeres etc.) e da cultura (valores, ideias ou crenças), característicos de uma determinada coletividade, época ou região. 16
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cultural. Quanto mais nichos musicais e de estilos se criavam, mais esse movimento de consumo e entretenimento crescia. Isso se relaciona diretamente com os embates que se dão, por exemplo, entre ser underground e mainstream (JEDER, 2006), entre ser alternativo ou popular, consumidor primordialmente de nicho ou de hits (ANDERSON, 2006). Isto é, ainda que se faça parte de uma comunidade de nicho de mercado, se estará dentro do mercado consumindo os signos de cada identidade coletiva. Segundo Cardoso Filho e Janotti Jr. (2006): A sua natureza dependente das formas de armazenamento e distribuição midiática. Mesmo um gênero musical de circulação segmentada, como o Heavy Metal ou a música eletrônica, vai empregar estratégias de configuração midiática similares aos empregados num gênero musical mainstream como a música popular urbana e embora esses subgêneros não circulem no cinema hollywoodiano e na TV aberta, ele certamente é impulsionado pelos webzines de Heavy Metal ou pelas comunidades de ouvintes de música eletrônica na Internet. O fator que permite uma diferenciação mais clara de ambos é o grau de distanciamento entre condições de produção e reconhecimento identificados no produto, pois uma boa parcela do que é chamado independente ou underground no terreno musical está diretamente relacionado a uma aproximação entre suas condições de produção e reconhecimento, ao passo que o mainstream se caracteriza por possuir uma exacerbada distância entre essas condições. Não obstante essa diferenciação, tanto underground quanto mainstream são estratégias de posicionamento frente ao mercado fonográfico e ao público. ( CARDOSO FILHO, JANOTTI JÚNIOR, 2006, p. 910)
Dessa forma, o rock cresceu se dividindo e se consolidando. Dividindose para permitir a criação de diversos estilos e subgêneros musicais dentro dele, além das apropriações criadas para além dele, gerando outros gêneros musicais diferentes. Enquanto música de massa ele é marcado por disputas simbólicas atravessadas pelos meios de comunicação de massa, dentre os quais destacamos neste trabalho o rádio.
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CAPÍTULO 2 O rádio e o rock brazuca
O rock chegou de fato ao Brasil quase uma década depois do lançamento nos Estados Unidos com Elvis Presley e toda ideologia em torno do gênero musical. Como mencionei no capítulo anterior, falar em rock é ir além da música, é pensar a sociedade, sua relação com o mundo e seus princípios e valores. Ademais, o rock nasceu nos EUA concomitantemente ao início de uma tentativa da juventude de se estabelecer como tal, atrelado as ideias de rebeldia, modernidade e contracultura. No Brasil não foi diferente nesse aspecto. O momento político do país não era bom e já anunciava o início do Golpe de 1964 que instituiu o regime militar. O rock foi uma das forças dos jovens da época para lutar contra esse cenário hostil e mostrar a potencialidade de resistência e luta da juventude. Nomes como Erasmo Carlos e Os Sputiniks (com Tim Maia) iniciaram essa que seria a primeira onda roqueira em terras brasileiras e em breve se tornaria a Jovem Guarda, além de outros como Raul Seixas que era bastante direto em suas músicas e não temia a censura. No começo, a relevância do rock no cenário musical brasileiro foi questionada por grandes nomes da música nacional pois ia contra o intenso nacionalismo que o regime militar propunha (CASTANHO, 2013, p.15). Mas independentemente disso, ganhava cada vez mais força com uma indústria fonográfica que lucrava com essa conjuntura e com uma juventude que se sentia enquanto empoderada e estava disposta a defender o gênero musical que se identificava com o estilo de vida que ser roqueiro poderia lhe proporcionar, fundamentado num encantamento criado a partir da própria indústria. O rádio já havia chegado ao Brasil muito antes, em meados da década de 1920, através da estação Westinghouse instalada no Corcovado, Rio de Janeiro, (SAROLDI E MOREIRA, 2005, p. 17). Com a difusão do rádio em terras brasileiras, ficou mais fácil divulgar qualquer produto e/ou notícia pelo país. Mas, principalmente, fortalecer a cena musical nacional. Isso fez com que a população mudasse sua relação com o rádio e com a música de uma maneira geral. Agora era possível ouvir música constantemente, e não apenas em alguma ocasiões (CHAGAS, 2010, p. 25). Foi um processo de desconstrução que envolvia
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tornála mais popular e, além disso, transformála, aos poucos, em produto. Algo que era consumido corriqueiramente e fortalecia o mercado fonográfico. Com uma programação constituida majoritariamente pela execução de músicas, as emissoras do tipo FM se consolidaram como vitrines para a indústria fonográfica, atuando durante décadas como importantes mediadora musicais, articulando cenas, dando visibilidade a artistas e influenciando a constituição de repertórios de seus ouvintes. (CHAGAS. 2010, p. 4)
Passado o período de consolidação do rock e suas tantas mutações sonoras em um longo período de estabilidade para a indústria fonográficas, passamos por um período conturbado para o rock no Brasil que estava perdendo forças em razão do consumo de outros estilos musicais e, enfim, chegamos ao século XXI que trouxe consigo uma tecnologia mais avançada e novas formas de consumo musical. O advento da internet causou uma necessidade de adaptação por parte das rádios e do mercado fonográfico que até hoje está buscando a melhor forma de se encaixar nesse sistema do qual se espera agilidade e inovação de forma, quase sempre, gratuita. Por outro lado, a internet proporcionou uma nova oportunidade para algumas emissoras de rádio se reinventarem e é cada vez mais usada, em suas diversas possibilidades, para prender o público à programação.
2.1 Breve história do rock brasileiro
A chegada do rock no Brasil aconteceu no final da década de 1950, mais ou menos no mesmo período em que o gênero começou a ser disseminado, após o seu início nos EUA, em todo o mundo inclusive para os jovens na Inglaterra que assistiam o início de grandes bandas como The Beatles e Rolling Stones. Mas foi na década seguinte, 1960, que começou a ser melhor aceito em terras brasileiras, conquistando um pouco de espaço entre os estilos musicais populares aqui, como o samba, por exemplo. Assim como nos EUA e no restante do mundo, também foi um estilo e gênero musical liderado pelos jovens e para os jovens. A maior parte deles brancos e de classe média alta, uma vez que tinham facilidade de acesso às tecnologias e maior possibilidade de adquirir algum instrumento musical. A princípio, o Brasil não recebeu bem o rock. Porém, não apenas por ser cantado em uma língua estrangeira ou por seu ritmo agitado. O rock não foi bem recebido devido ao fato de estar fora de seu contexto original. No Brasil
23 da década de 1950, o rock não fazia sentido. O rock surgiu para representar as manifestações de uma classe social marginalizada nos Estados Unidos. A classe marginalizada em questão no Brasil também difundiu uma cultura própria. Primeiramente, ambos os países tentaram reprimir seu respectivo ritmo musical: os Estados Unidos, o rock; o Brasil, o samba. (BAENA, 2015, P.17)
Contudo, se por um lado fazer as próprias músicas de rock era difícil e pouco acessível, por outro disseminálo era bem mais fácil. Quando o rock chegou ao Brasil, o rádio já estava consolidado como tecnologia cotidiana na vida das pessoas. Já havíamos iniciado um movimento em direção a uma cultura musical dentro daquela sociedade e os jovens já estavam habituados a ouvir música cotidianamente. A disputa entre a música estrangeira e a nacional também já era uma realidade por aqui. Não só com o samba, consolidado como ritmo mainstream e de grande sucesso desde os anos 1920, aproximadamente, “com o auxilio das políticas culturais, do rádio e da indústria fonográfica que começava a surgir no país no começo do século XX” (BONILLA, 2011, p. 2) como na MPB. “A MPB pode ser entendida como uma máquina de seleção, a todo o tempo colhendo de fora e de dentro elementos aceitáveis para apresentálos na roupagem da brasilidade” (PIEDADE, 2005, p. 202). O samba trazia uma mistura de ritmos latinos e africanos, apesar de ser reconhecido e defendido em diversas composições como um estilo autenticamente brasileiro. Diante desse cenário, o rock precisava de muito para fazer parte da vida daqueles rapazes e moças, estar no diaadia deles foi algo propício naquele terreno consolidadamente musical, mas se estabelecer em um mercado majoritariamente pertencente ao samba foi bastante complexo. Concordando com Chacon (1985), em seu livro “O que é Rock?”, o rock demorou para tomar um rumo e ganhar uma real força entre os brasileiros. O fez, timidamente, com o início da Jovem Guarda, dando os primeiros passos com músicas como “Estúpido Cupido” e “Banho de Lua” cantadas por Celly Campello e depois através de músicas interpretadas por Erasmo Carlos, Roberto Carlos, Vanderléia entre tantos outros grandes nome que compunham a Jovem Guarda. Além disso, o “espírito do rock” também estava presente em outros grupos de cantores, que apesar de não tocarem o ritmo dançante e contagiante recém chegado ao país, também se mostravam rebeldes e cantavam a favor daquilo que eles acreditavam, como Chico Buarque, Geraldo Vandré, dentre outros. Como estilo de vida e forma de pensamento, o rock se misturou a muitos estilos e acrescentou um tom sonoro enfático a gêneros que antes eram tidos como mais calmos. É importante observar que a situação política nacional (e a mundial
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também) junto com o movimento jovem que havia se originado alguns anos antes, também fazem parte dessa mudança. Nada acontece de forma isolada, e dentro dessa perspectiva um movimento se apoia no outro para seguir como opinião política, sentimento juvenil e rock’n roll. Seguindo essa premissa, de compreensão do rock como um posicionamento social além de estilo de vida, enxergamos que é “o Tropicalismo e não a Jovem Guarda, que 17
antropofagicamente conduz o Rock no Brasil até a entrada da década de 70.” (CHACON, 1985). A melhor forma de exemplificar essa aparente contradição de ter um movimento da MPB (Música Popular Brasileira) como rock é o grupo Secos e Molhados, liderado por Ney Matogrosso. “Em suas apresentações e gravações, o Secos & Molhados mostrava um repertório que mesclava elementos de gêneros musicais brasileiros e do pop internacional, especialmente do chamado Glam Rock” (ZAN, 2006). As performances de Ney Matogrosso lembravam David Bowie, o uso da guitarra elétrica representa também um marco nas misturas musicais bem sucedidas que possibilitaram uma ampliação no leque de oportunidades que o rock traria consigo ao Brasil. Assim, é preciso reconhecer que boa parte daquilo que é consumido como rock ou MPB, por exemplo, pressupõe valorações que nem sempre estão ligadas diretamente aos aspectos musicais de determinada canção. Intérpretes como Raul Seixas e Cássia Eller são rotulados como roqueiros, mesmo que, em certas canções, a sonoridade se aproxime do universo musical da MPB. (JANOTTI JUNIOR, 2006, p. 5)
Da mesma forma que Elvis não foi o pioneiro no rock, os guitarristas brasileiros que se destacaram não foram os primeiros a tocála em terras tupiniquins. A guitarra já havia chegado por aqui em meados dos anos 1920. Mas se podemos apontar de fato um marco no rock brasileiro em relação à guitarra e seus timbres, ele se chama Sérgio Dias, guitarrista e cofundador de um dos principais grupos da época, chamado “Os Mutantes”. Na década de 70 a guitarra elétrica foi incorporada à nova música popular brasileira, e um dos primeiros guitarristas que se destacou nesse cenário foi Sérgio Dias, do grupo Mutantes. O músico e seu irmão Cláudio Dias construíram e desenvolveram guitarras, pedais e amplificadores que contribuíram decisivamente na identidade do som tocado por Sérgio. (Paiva, 2007) O estilo de sua guitarra elétrica reflete um refinamento de alguns riffs influenciado por guitarristas estrangeiros como George Harrison, dos Beatles. (VISCONTI, 2008, p 1112) Interessante observar como Chacon utiliza a palavra rock com letra maiúscula, representando o todo dentro do conceito rock’n roll e não apenas o gênero musical. 17
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O guitarrista dos Mutantes levou para sua banda o que, talvez, possamos considerar uma nova etapa do rock no Brasil. Influências diferentes das que guiavam a Jovem Guarda, associadas a novas experimentações. Uma banda que não pode deixar de ser citada como uma das bases para o que seria o rock da década seguinte e posteriormente. O grupo que conseguiu reunir em seu som um pouco de rock misturado com música popular brasileira, e que fez parte da Tropicália, ao lado de Caetano, Gil, Gal e tantos outros. E além de tudo isso, ainda foi a base para o surgimento de quem pode ser considerada a rainha do rock nacional: Rita Lee. Rita pode ser citada como uma das líderes do início do movimento do rock no brasil no começo da década de 1980. Em outras palavras, ela foi fundamental em um dos primeiros passos dessa nova fase do rock nacional, incluindo a época em que fazia parte do grupo TuttiFrutti (pós Mutantes). Nesse cenário, Ariane Holzbach destaca a importância do rock brasileiro e do rádio para o contexto midiático das décadas de 1980 e 1990: O videoclipe existe no Brasil desde os anos 70, mas foram nas décadas de 80 e especialmente 90, na televisão, que ele ganhou visibilidade e se consolidou. Na época, dois fenômenos ajudaram a alavancar o gênero: a valorização e consequente ampliação do rock nacional, que até então era considerado um produto “estrangeiro” , e a consolidação do programa dominical Fantástico, da TV Globo, como divulgador e produtor de videoclipe. Apesar de ser um objeto surpreendentemente pouco estudado, o BRock atuou de forma significativa na indústria do entretenimento brasileiro da década de 80, e o videoclipe ajudou a fazer com que fosse aceito e ganhasse espaço. Com a MPB passando a ser considerada um gênero “elitizado e para adultos” (Eerola, 2005), o rock encontrou um terreno fértil. Entre outros impulsionadores desse crescimento, podese apontar o surgimento de rádios especializadas que ajudaram a expandir o gênero, a exemplo da Fluminense FM, da realização de megaeventos de rock, como a primeira edição do Rock in Rio, em 1985, e o surgimento de dezenas de grupos de rock por todo país. (HOLZBACH, 2009, p.1)
Essa nova fase pode ser considerada para alguns a fase dourada desse movimento. Foi o período de consolidação do rock no Brasil, onde surgiram as principais bandas do rock nacional como Titãs, Barão Vermelho, Capital Inicial, Legião Urbana, Os Paralamas do Sucesso, Sepultura, entre tantas outras que fazem sucesso até hoje. Foi também a década de surgimento das rádios rock mais famosas e renomadas, dentro do segmento, no país. Entre
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elas, as duas que são objetos dessa monografia: 89 fm A Rádio Rock e a Rádio Cidade, respectivamente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Após esses “anos dourados” do rock no Brasil, houve um período de queda de consumo do gênero no Brasil no início dos anos 2000. Ao contrário de décadas anteriores, quando se investia em artistas de marketing, seguindo modismos estrangeiros (como o foi, por exemplo, a febre da discoteca, baseada na dance music norteamericana, ou mesmo o boom do rock nacional de meados dos anos de 1980), nos anos 1990 as gravadoras descobriram um modo de perenizar a vendagem de suas músicas de marketing. Como a nacionalidade em um mundo globalizado deixa de fazer sentido, a não ser se for para atribuir algum tipo de diferenciação mercadológica, a indústria fonográfica passou a produzir músicas de marketing, colandoas a ritmos e gêneros fincados na tradição cultural da música brasileira. Nesse período o Brasil presenciava o quase absoluto predomínio do sertanejo, do pagode e da axémusic — as versões globalizadas da música caipira, do samba carioca e dos ritmos afrobaianos, 18 respectivamente. Conforme analisa Luiz Tatit , não por mera coincidência, “o apogeu da música sertaneja nas grandes redes de televisão brasileira foi simultâneo a uma significativa queda na popularidade do rock nacional no início dos noventa, o que resultou em nova exacerbação dos apelos passionais no mundo da canção”. Devese observar, contudo, que o cenário musical brasileiro, sempre complexo, não se restringiu a esse trio de gêneros (pagode, sertanejo e axé). (FENERICK, 2008, p. 1314)
O rock foi ficando de lado nas escolhas brasileiras e dando espaço para outros gêneros musicais como sertanejo, pop e axé. O resultado dessa nova preferência de consumo musical na maior parte do Brasil, foi uma queda de audiência nas rádios de rock (exclusivamente rock), que incluiu uma mudança de estilo musical na 89 fm, que foi aos poucos migrando para a música pop, e durante oito anos teve o rock esporadicamente tocado na rádio entre uma música eletrônica, um dance e um pop. E resultou também no, até então, fim da Rádio Cidade no dial fm (a rádio migrou para a web nesse período). Como afirma GROSSBERG (1997), apud JANOTTI JR (2003) p. 50: “A história do rock é marcada por uma contínua disputa entre o que é na verdade rock autêntico e que grupos são realmente dedicados a essa autenticidade”. Considerando as disputas em torno da chegada do rock citada por Baena (2015), podemos considerar que no Brasil elas se deram dentro do rock, entre seus subgêneros, e entre o rock e outros gêneros musicais já consolidados aqui, nesse caso em relação aos atravessamentos considerados não autênticos. 18
TATIT, Luiz. O século da canção . Cotia: Ateliê Editorial, 2004, p. 234 e 235.
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Uma boa ilustração para esse cenário é o tipo de som que faz a banda Hardneja Sertacore que não consegue quase nenhuma aprovação de nenhum dos dois públicos (nem os fãs de sertanejo, nem os fãs de hardcore) e acaba num “limbo” musical. Mas se por um lado essa busca por autenticidade pode parecer negativa e soar como algo ruim, por outro lado, foi essa busca dos fãs por “rock de verdade” que trouxe as duas rádios de volta ao cenário musical atual e está mantendo o rock como um dos principais gêneros musicais no Brasil, de novo.
2.2 Por que falar de rádio quando se tem a TV?
O rádio contemporâneo é precedido por uma história de consolidação e sucesso chamada “a era do rádio”, que pode ser considerado um marco na história das sociedades que utilizam tal tecnologia hoje em dia e talvez o mais importante meio sonoro existente. A era do rádio começou aproximadamente em 1922 quando, nos Estados Unidos, passaram de menos de 10 para mais de 350 emissoras radiofônicas. Esse processo traz uma série de melhorias que facilitam e enriquecem o diaadia das pessoas, como, por exemplo a criação do microfone e o surgimento de programas musicais, somando aos programas de notícia já existentes. O rádio mostrouse essencial em diversos momentos considerados marcos musicais, mercadológicos e culturais. Além de tudo o que foi dito até aqui sobre o início do ethos de juventude e do nascimento do rock, historicamente, o rádio contribuiu para muitas mudanças sociais. Podemos afirmar que foi um dos pioneiros no empoderamento das classes mais baixas, permitindo não só uma aproximação ao que era considerado valor cultural, como também o consumo de algo, até então, exclusivo de quem era parte das classes mais altas. Podemos apontar as formas de acesso ao meio de comunicação como uma das vantagens do rádio em relação à televisão. O rádio pode ser acessado de qualquer lugar e é 20
portátil há muito anos, enquanto a TV culturalmente ficava em um lugar fixo , era uma tecnologia maior que o rádio e quase sempre era acessada em lugares comuns a várias pessoas: em casa com a família, no bar com os amigos etc. Estar em torno de uma televisão significou durante muitas décadas estar reunido com a família. Simbolicamente, representava o momento em que a família toda estava junta. Banda gaúcha formada em 2004 que mistura sertanejo com hardcore e são bastante questionados por sites tradicionais do mundo do rock, como o Whiplash.net. Matéria sobre a banda disponível no link . Último acesso em março de 2016. 20 Até o início dos anos 2000 pelo tamanho do equipamento. Um pouco depois disso, aprimoraram os aparelhos para as TV’s portáteis que surgiram bem depois da invenção da TV, e muito depois da invenção do rádio portátil 19
28 O consumo, sem deixar de existir nos lugares públicos, passa a ser feito predominantemente no lar, num contexto familiar, mais ou menos pontuado pelos ritmos da vida quotidiana, individual e coletiva. A imagem típica desta época é a da família reunida, depois do jantar, à volta do seu televisor. Compreendese, assim, o facto de que os estudos clássicos sobre o ver televisão – nomeadamente os estudos de autores como David Morley ou Roger Silverstone – se centrarem em “descrições de campo [que] tomam o lar como unidade geográfica e a família como unidade sociológica mínima de análise” (Silveira, 2004, p. 65). Como sublinhava um desses autores numa das mais emblemáticas obras sobre essa televisão, “a televisão é um meio doméstico. É vista em casa. Ignorada em casa. Discutida em casa. Vista em privado e com membros da família ou amigos”3 (Silverstone, 1994, p. 24). A televisão ainda é um dos componentes da centralidade que o lar assume para o indivíduo enquanto espaço de individualidade ou de partilha. (SERRA, FRANCISCO, 2013, p. 87)
Contudo, temos que admitir que o rádio demorou bastante para crescer e superar a chegada e, principalmente a hegemonia que a televisão conquistou. E esse é exatamente o principal ponto para entender como o rádio mantevese em meio a tantos avanços tecnológicos, mudanças de hábitos e necessidades das pessoas. O rádio não precisou ser uma tecnologia ou um meio de comunicação superior tecnologicamente a nenhum outro. Ele ocupa bem o espaço que lhe cabe, ou em outras palavras, o rádio consegue ser uma tecnologia complementar, ainda que tenha sido essencial na “era do rádio” e no início dos programas de notícias, por exemplo. Uma das grandes vantagens do rádio enquanto mídia é o fato de poder ser consumido junto a outros meios de comunicação. Ele consegue propor uma parceria em diversos meios e usa cada cenário tecnológico para evoluir também. Uma das melhores maneiras de ilustrar a boa convivência do rádio com a televisão está no videoclipe. Os clipes já eram sucesso no tempo em que o programa da Rede Globo de Televisão, o Fantástico, tinha uma programação especial que incluíam videoclipes e bastante espaço para a música. Em 21
seguida, com a MTV brasileira, os videoclipes ganharam mais força trazendo consigo uma nova maneira de consumir música. Mais do que simplesmente ouvir as letras e melodias, os espectadores queriam ver efeitos, luzes e cores. A televisão, enquanto nova tecnologia, despertava uma euforia entre os espectadores, por trazer as imagens que o imaginário social criava em relação às músicas, artistas e radionovelas (e, em alguns casos, desconstruía Music Television “A MTV Brasil foi uma emissora de televisão brasileira pertencente ao Grupo Abril dedicada ao público jovem. Nasceu no dia 20 de outubro de 1990 como a primeira rede de televisão aberta segmentada, sendo a versão nacional da MTV“. Disponível em Último acesso em março de 2016. 21
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também, mas sem deixar de entreter e aumentar a audiência). A princípio este cenário reforça mais a importância da TV sobre o rádio, porém, talvez, o interesse pelos videoclipes das músicas só existia, uma vez que elas eram consumidas primeiro, enquanto produto midiático, através do rádio. Além disso, o grande problema da TV no Brasil é a indústria que envolve o meio, levando em consideração o sistema capitalista nacional. Aparecer em um programa de alto índice de audiência como o Cassino do Chacrinha, que era visto por 30 milhões de espectadores em média, era uma forma de divulgar mais facilmente o trabalho de um músico para todo o país. Mas os inconvenientes não foram apenas os vestuários, os trajes foram apenas um minúsculo atrito. A reclamaçãodenúncia do vocalista dos Engenheiros do Hawaii, citada anteriormente, foi colírio perto das denúncias de roqueiros sobre um “esquema” que girava em torno do Cassino do Chacrinha: o jabaculê, ou como é popularmente conhecido, jabá. Em 23 de janeiro de 1987, o jornal Folha de S. Paulo publicava a reportagem intitulada: “Como se fabrica o sucesso”. Nela roqueiros denunciavam que para participarem do programa do “Velho Guerreiro” era necessário que fizessem alguns shows de graça, todos organizados e capitalizados pelo produtor Leleco Barbosa – filho de Chacrinha – e realizados em clubes da Baixada Fluminense. Segundo Paulo Ricardo, entrevistado pelo jornal, era uma troca normal. “Você faz playback de graça, segundo o vocabulário de música pop “designa a oferta de favores financeiros, sexuais ou de outra natureza em troca de promoção e divulgação” (SHUKER, 1999, p.180). o dinheiro fica com o produtor do Chacrinha e é divulgado na TV”. O Capital Inicial fez doze shows pelo subúrbio para pagar as quatro apresentações no programa. Felipe Lemos, baterista da banda de Brasília, ainda ressaltou: “Sabemos que a gravadora Polygram pagou para que pudéssemos nos apresentar novamente”. Leleco Barbosa se defendia na mesma reportagem: “Isso não existe, não é uma troca de nada”. (ENCARNAÇÃO, 2009, p. 119120).
Não estamos com isso afirmando ingenuamente que não há práticas de jabá no rádio, nem que ele seja um meio mais democrático que a televisão. No entanto, conseguir um lugar de fala e visibilidade na TV parece ser ainda mais difícil do que fazêlo pelo rádio, ainda mais se levarmos em consideração que há rádios voltadas para gêneros musicais específicos, como é o próprio caso dos nossos objetos de estudo, enquanto praticamente não há canais específicos de TV para cada, o que poderia levar a uma ideia de que haveria mais espaço para bandas de rock na rádio do que na televisão. Ou, ao menos, com menor esforço financeiro por parte das bandas para tal.
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Após esse período, a internet começou a ganhar força e houve uma suposta maior democratização das mídias. Talvez, não impactando de forma direta na TV e no rádio, num primeiro momento, mas trazendo a ideia de que aquela hegemonia televisiva não precisasse existir. Em suma, a hegemonia da televisão continua existindo até os dias de hoje, apesar de sofrer com a diminuição da audiência em relação às décadas anteriores, e, devo frisar, não posso afirmar que situações de barganha ainda não aconteçam de forma a desprestigiar os artistas e profissionais da música. Contudo, acredito que o sistema que envolve os meios de comunicação no Brasil esteja mais democrático e aberto a novas possibilidades. Diretamente, isso significa uma pulverização da massa e uma diminuição na hegemonia de determinado meio. E nesse movimento acontece o que o rádio já fez em relação à TV décadas atrás: adaptouse e negociou diretamente com os novos meios sem se mostrar como algo ameaçador, mas sempre presente quando o assunto era música.
2.3 Internet e novas possibilidades: webrádio, streaming e sites de redes sociais
O rádio atravessa os anos 90 embalado por mudanças tão velozes quanto a sintonia digital, que substitui os botões do dial. Emissoras tradicionais correm atrás de fórmulas inovadoras para manter posições, segurar os antigos anunciantes e captar volumes expressivos de publicidade. Outras lutam para recuperar o prestígio do passado, incorporar a tecnologia emergente e vencer as incertezas. (DEL BIANCO, 1996, p. 1)
O surgimento da internet possibilitou uma série de novos caminhos para a música. Compartilhar músicas, fazer downloads de álbuns ou até mesmo divulgar algum trecho de alguma canção se tornou cada vez mais fácil e rápido, principalmente com o surgimento e aprimoramento contínuo da web, a melhora nas tecnologias e a ampliação dos serviços de internet. As pessoas que já estavam próximas da música através do rádio, por exemplo, ganharam mais possibilidades de acesso e formas de tornar a música parte do seu cotidiano. Um dos maiores debates a respeito da internet diretamente relacionado ao mercado fonográfico é causado pela oportunidade de os usuários obterem músicas e até álbuns inteiros de forma gratuita. Considerado por uns como crime e por outros apenas como livre acesso à cultura, o download divide opiniões até hoje. Ele surgiu em 1999, com o Napster, programa de compartilhamento de arquivos criado por Shawn Fanning e ganhou em pouco tempo um
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número considerável de usuários. Foi o início de uma era tecnológica que prometia revolucionar o mercado cultural mundial e que assustava os grandes nomes da indústria fonográfica. Podemos compreender a internet como uma grande convergência midiática que engloba som, imagem, textos e vídeos para transmitir uma mensagem (MAGNONI, ALMEIDA, 2009, p. 2). Com o avanço da conexão via banda larga, a melhoria nos programas disponíveis para downloads, sites cada vez mais completos e atualização nos meios de acesso à internet, ficou mais simples ouvir e até mesmo baixar arquivos de música na web. Os programas para downloads foram se multiplicando e em menos de uma década após o surgimento do Napster o livre acesso a arquivos com álbuns de música inteiros já causava um sério problema para gravadoras e empresas que dependiam da venda de música para se manter atuantes. Por consequência, o mercado sofreu diversas mudanças, grandes gravadoras e grandes rádios não tiveram opção a não ser se adaptarem ao que estava acontecendo nesse novo mercado. “Com o advento de novos aparelhos de reprodução sonora e a sedimentação de novas práticas de escuta desenvolvidas a partir das mídias digitais” (CHAGAS, 2010, p.4) 22
comprar CDs não parecia fazer mais sentido. Os famosos Discmans , sucessores dos 23
Walkmans , deram lugar a dispositivos que “rodavam”, “liam conteúdos sonoros, de áudio 24
no formato mp3 e aceitavam transferência de até 16GB ou 32GB em unidade de medida de 25
informação digital, nesse caso convertido em som. Os IPods foram febre no início dos anos 2000 e causaram uma diminuição considerável nos lucros em impérios da música como as gravadoras Universal, Sony Music entre tantas outras mundo afora, pois proporcionavam ao
“ Pelo final de 1984, os engenheiros da Sony conseguiram encaixar um CD player no tamanho um pouco menor de um bloco de madeira. O protótipo D50 foi apelidado de Discman Sony, o primeiro CD player portátil lançado para os amantes da música. A companhia japonesa Sony estava confiante sobre a sua rentabilidade.” Disponível em Último acesso em março de 2016. 23 “ A Sony foi a primeira empresa a fabricar este tipo de rádio em tamanho pequeno, no final dos anos 1950. Uma cultura de miniaturização de aparelhos foi desenvolvida e resultou na primeira versão do Sony Walkman, aparecendo no mercado em 1980. Foi um sucesso rápido, por ser pouco maior que uma fita cassete.” Disponível em Último acesso em março de 2016. 24 “Gigabyte (GB) é uma unidade de medida de informação que equivale a 1 000 000 000 bytes ou 109 bytes e dependendo do contexto, pode representar 230 = 1 073 741 824 bytes ou 1024 megabytes (Mb).” Disponível em Último acesso em março de 2016. 25 “ iPod é uma marca registada da Apple Inc. e referese a uma série de tocadores de áudio digital projetados e vendidos pela Apple. Desde 2008, a linha de iPods inclui o iPod classic, o iPod shuffle, o iPod nano e o iPod touch.” Disponível em . Último acesso em março de 2016. 22
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usuário uma liberdade muito maior em relação ao que ouvir e quando ouvir, muitas vezes, dispendendo dinheiro apenas com o dispositivo de escuta musical e não o conteúdo sonoro. Assim, as próprias rádios tiveram que se reconfigurar nesse cenário, dando início às rádios virtuais:
As rádios virtuais não dependem de autorização ou concessão oficial, precisam de poucos recursos de custeio e se beneficiam da cultura criativa e colaborativa dos internautas. Se não houver uma reação rápida dos radiodifusores, elas poderão retirar do rádio convencional uma fatia considerável de público e com a utilização de características e estratégias típicas dele. Hoje, as rádios de internet são estimuladas pela interatividade e pela difusão simultânea facilitadas pela popularização dos terminais móveis da web. (MAGNONI, ALMEIDA, 2009, p. 3 e 4)
Não há como negar que as transformações em algumas tecnologias como celulares e computadores afetam diretamente outras tecnologias como o rádio e a TV. Foi assim com a tecnologia analógica que foi aos poucos dando lugar à digital, com os LP’s que deram lugar às fitas cassete e assim sucessivamente, levando em consideração que “dar o lugar para outra tecnologia”, nesse caso, não significa desaparecer, mas perder força no mercado e uso dos usuários. Dentro desse raciocínio se enquadra também o rádio e a internet. Apesar de algumas pessoas acreditarem que o rádio desaparecerá por conta da internet (nessa situação considerando o difusor e não a emissora), a internet mostra que, exatamente por ser multimidiática ela consegue englobar a todos, inclusive as webrádios. Entretanto, a tradição de sintonia em tempo real, que sempre foi apontada como uma das principais vantagens do rádio poderá ser superada pela internet. Isso porque a web pode disponibilizar o conteúdo simultâneo ou por demanda. Ou seja, o ouvinte pode acessar qualquer conteúdo a qualquer hora, mesmo que já tenha sido veiculado ao vivo. (MAGNONI, ALMEIDA, 2009, p. 3 e 4)
Com as webrádios, a forma de se comunicar com os ouvintes mudou, pois a internet exige, de certa forma, que se mostre mais próximo de quem está consumindo seu produto, nesse caso, compondo a audiência da emissora. Assim sendo, as emissoras criaram perfis em sites de redes sociais, abriram mais as programações para novas bandas e começaram a interagir mais com o público mostrando para ele como a emissora funciona, quem são as pessoas que fazem os programas e assim por diante. Essa mutação dos meios radiofônicos,
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que pontuo aqui mais uma vez, nem sempre são fáceis e no caso das emissoras Rádio Cidade e 89 fm Rádio Rock trouxe uma nítida necessidade de mudança na forma de fazer rádio. A música é importante, mas não é mais o único motivo a levar o ouvinte a se fidelizar. Entender esse movimento mercadológico e se adaptar é fundamental para se manter vivo dentro de indústria cada vez mais mutável e instável. Com isso, iremos agora no próximo capítulo analisar as estratégias utilizadas pelas duas rádios para retornarem ao dial após um hiato em seus funcionamentos.
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CAPÍTULO 3 O rock está de volta!
O rock passou por um período relativamente negativo nas paradas de sucesso. Ele não sumiu de fato do mainstream , pois algumas rádios ainda tocavam o gênero musical junto a diversos outros gêneros ao longo de suas respectivas programações. Mas, ainda assim, perdeu muito do que havia conquistado nas décadas anteriores e passou a ocupar o sucesso do underground e/ou, o que podemos considerar, o insucesso do mainstream . Algumas emissoras como Mix fm e Jovem Pan fm, que inseriam uma música de rock entre uma pop e outra, ou uma black music e outra, foram a “salvação” do rock durante esse período. Foi o intervalo menos engajado do rock, em relação ao momento político no contexto histórico da época, e o intervalo de certa forma mais romântico também. Muitas bandas que surgiram nessa época preferiam falar sobre amor e questões mais “supérfluas” em suas composições a ter que se expor e enfrentar o público com opiniões e composições defendendo determinado posicionamento, dentro de uma lógica política governamental. Foi o período da chegada de 26
algumas subdivisões do rock ao Brasil, como é o caso do emocore , que chegou por aqui no início dos anos 2000. E o surgimento de outros subgêneros como o happy rock (ou “rock feliz”) que nasceu no final da década de 2000. Foi durante essa década de declínio em relação à venda de discos e audiência nos anos 2000, que a rádio Cidade e a 89 retornaram, trazendo junto para o mercado atual duas marcas consolidadas, demonstrando força como lovemarks entre os roqueiros e abrindo possibilidade de novas formas de interação. A volta do rock às paradas foi aos poucos e ganhou força com a campanha iniciada no ar pela 89 (até então a rádio de pop, dance e black music) e se fortaleceu com a campanha que os artistas iniciaram após o retorno da 89 fm (agora sim como rádio rock) para que a rádio Cidade também voltasse. Quando ambas voltaram houve um processo de resgate da memória afetiva dos ouvintes com programações clássicas e com programas nostálgicos onde os locutores expressavam toda sua alegria em estar de volta. Com a volta das rádios e o resgate do afeto dos ouvintes e fãs de ambas, as duas rádios, enquanto marca, só cresceram. Criaram lojas com a logo das rádios estampada em todos os produtos e aumentaram, ainda
É a vertente romântica do hardcore, subgênero do rock derivado do punk, movimento cultural e musical que surgiu nos anos 1970 em resposta à cultura hippie. 26
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mais, o vínculo afetivo com os fãs do rock. As rádios viraram sinônimo de “bom” rock’n roll e, observando a circunstância da volta de ambas, traziam uma afetividade e marca de qualidade para quem era fã do gênero. Os passos seguintes foram o apoio a campanhas culturais, sociais e a retomada de festivais de música. A 89fm chegou a fazer um show de reencontro com seu público chamado “O jogo agora é outro” e a rádio Cidade um show com o Rappa na Fundição Progresso RJ.
3.1 – O lugar da memória afetiva
Os fãs do rock são em geral bastante engajados com o som e ritmos do rock. Porém, além disso, são também tidos como alinhados com o entorno social relacionado a ele. A maioria do público leva a sério o posicionamento de vida, e com isso quero dizer convicções e princípios, que o gênero musical propunha. Ouvir rock’n roll significa muito mais do que simplesmente ouvir a determinado gênero de música. É (ou era para alguns) também se comprometer com as atitudes e com o visual de um roqueiro, para demonstrar sua opinião de todas as formas possíveis, inclusive visuais. Esse movimento aproximava os fãs de uma construção coletiva cultural por fazer parte de suas vidas desde muito cedo, dado que a cultura em torno do rock envolvia, entre tantas outras características, uma construção da imagem de si perante a sociedade e um pertencimento a um coletivo uníssono em alguns aspectos, principalmente musical e visual. Esse contato geralmente começava na adolescência, , quando criando vínculos emocionais fortes e presentes no dia a dia desses entusiastas. Em sua análise da memória coletiva, Maurice Halbwachs enfatiza a força dos diferentes pontos de referência que estruturam nossa memória e que a inserem na memória da coletividade a que pertencemos. Entre eles incluemse evidentemente os monumentos, esses lugares da memória analisados por Pierre Nora, o patrimônio arquitetônico e seu estilo, que nos acompanham por toda a nossa vida, as paisagens, as datas e personagens históricas de cuja importância somos incessantemente relembrados, as tradições e costumes, certas regras de interação, o folclore e a música, e, por que não, as tradições culinárias. Na tradição metodológica durkheimiana, que consiste em tratar fatos sociais como coisas, tornase possível tomar esses diferentes pontos de referência como indicadores empíricos da memória coletiva de um determinado grupo, uma memória estruturada com suas hierarquias e classificações, uma memória também que, ao definir o que é comum a um grupo e o que, o diferencia dos outros, fundamenta e reforça os sentimentos de pertencimento e as fronteiras sócioculturais. Na
36 abordagem durkheimiana, a ênfase é dada à força quase institucional. dessa memória coletiva, à duração, à continuidade e à estabilidade. Assim também Halbwachs, longe de ver nessa memória coletiva uma imposição, uma forma específica de dominação ou violência simbólica, acentua as funções positivas desempenhadas pela memória comum, a saber, de reforçar a coesão social, não pela coerção, mas pela adesão afetiva ao grupo, donde o termo que utiliza, de "comunidade afetiva". Na tradição européia do século XIX, em Halbwachs, inclusive, a nação é a forma mais acabada de um grupo, e a memória nacional, a forma mais completa de uma memória coletiva. Em vários momentos, Maurice Halbwachs insinua não apenas a seletividade de toda memória, mas também um processo de "negociação" para conciliar memória coletiva e memórias individuais: "Para que nossa memória se beneficie da dos outros, não basta que eles nos tragam seus testemunhos: é preciso também que ela não tenha deixado de concordar com suas memórias e que haja suficientes pontos de contato entre ela e as outras para que a lembrança que os outros nos trazem possa ser reconstruída sobre uma base comum”. (POLLAK, 1989, p. 1)
É com base na memória afetiva que cada indivíduo lembra de fatos da sua infância e adolescência e sente algo em relação a isso. Ela é responsável por resgatar, em alguns momentos, seus impulsos emocionais e sua identificação enquanto participante de algum grupo social. É também responsável por fazer lembrar, emocionalmente, quem nós somos. Mercadologicamente falando, essa memória é ativada pela publicidade em campanhas para os jovens que incentivam a compra, sem necessariamente dizer para os telespectadores comprarem. Outra forma bastante comum de ativação é pela música, principalmente quando 27
falamos do Brock dos anos 1980 que tinha, na maioria das músicas refrãos de fácil assimilação. “O refrão, elemento básico da canção popular massiva, pode ser definido como um modelo melódico de fácil assimilação que tem como objetivos principais sua memorização por parte do ouvinte e a participação (“cantar junto”) do receptor no ato de audição“ (JANOTTI JUNIOR, 2006, p. 5). É baseada na identificação social de cada pessoa e resgasta junto com cada campanha, os ”instintos” afetivos de cada consumidor. A memória afetiva pode se posicionar a favor ou contra algum produto, ou no caso dessa monografia, de algum gênero musical ou emissora de rádio, baseado em experiências anteriores boas ou ruins. É o primeiro passo para o vínculo criado pelas lovemarks , pois trata de uma primeira identificação gratuita, pautada apenas no que a marca parece oferecer (e em algumas vezes,
“ O BRock está associado a uma parcela da juventude que desponta no meio cultural no contexto da transição para a democracia aos primeiros anos da Nova República”. (ROCHEDO, 2011, p. 2). 27
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pautada apenas em uma campanha), mas que, muitas vezes, é o suficiente para ganhar um fã da marca. Após esse processo de conquista afetiva, as marcas ganham verdadeiros defensores de seus produtos e conceitos, pois passam a fazer parte da vida de cada um daqueles consumidores. Algumas empresas são especialistas em fazer com que seus fãs sintam que ela 28
faz parte da sua vida. É o caso, por exemplo, do tênis Converse All Star : Através da história, observouse que a Converse passou a partir dos anos 1970 a se deslocar do basquete para ser asociada aos movimentos de contracultura. O tênis era utilizado pelos músicas e fãs para mostrar que não faziam parte do sistema social vigente naquele contexto. Usar o tênis era fazer parte de um grupo ideológico. O que se observa agora é um movimento inverso: a marca se associa a estes ícones musicais, celebridades do cinema e outras personalizades culturais para se estabelecer na mente dos consumidores. A imagem destes representantes de rebeldia, juventude e autenticidade é deslocada para a marca. A mensagem publicitária indica que, se o indivíduo quer ter e se identifica com esses valores, ele deve comprar um Converse. (NORONHA, 2010, p. 57)
Saber aproveitar essa memória em cada um dos seus consumidores é o primeiro passo para se tornar uma lovemark, isto é, uma marca que esteja relacionada à identidade e memória afetiva dos consumidores, gerando fãs e defensores da mesma. Seguindo essa lógica, podemos observar como as rádios se comunicam com seus ouvintes e aproveitam essa memória afetiva para aproximar os antigos fãs das “novas” rádios, seja utilizando memes e fotos de cantores e bandas dos anos 1980 e 1990, seja tendo uma programação predominantemente composta por classic rock.
3.2 A força das rádios como lovemarks
Para entender a força das rádios como marcas e como o afeto dos consumidores influencia diretamente no crescimento e nos rumos traçados por elas como lovemarks, é preciso se voltar um pouco para publicidade e observar o terreno no qual pisamos quando
A Converse All Star tem um projeto mundial chamado “ Converse Rubber Tracks”, ele “ é uma verdadeira comunidade de estúdios de gravação profissionais espalhada pelo mundo inteiro. Artistas de todos os gêneros podem se inscrever e, se selecionados, gravam sem custo algum e ainda ficam os direitos de suas músicas.” trecho retirado do site “ http://converse.com.br/rubbertracks/ ”. Último acesso em 06 de abril de 2016. 28
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falamos em marketing. Como Dotto (1998) afirma: “A prática das atividades de Marketing deixou de ser uma questão futurista ou de status, e passou à condição essencial para uma rádio FM manter sua competitividade” (1998, p. 18). Frase dita na mesma época em que o rock estava perdendo sua força e seu espaço no mercado fonográfico brasileiro para ritmos como axé, pagode e sertanejo. Em uma das entrevistas realizadas ao longo da construção desse trabalho uma das frases que mais chamou atenção foi dita pelo Rubens Hiroshi, chefe de produção da 89 fm A Rádio Rock, que dizia o seguinte: “Vamos deixar as coisas bem claras: rádio, televisão e qualquer outro meio de comunicação são negócios. São empresas como qualquer outra que precisam pagar suas contas.” A concepção do produtor chefe da rádio, entendendo a emissora como uma marca, mostra como o rock pode perder parte do sentido de sua ideologia por não conseguir manter a rádio apenas com o “rock de verdade” (nesse caso referindose ao estilo de vida para além do som) e também como essa dita ideologia pode ser vendável e transformada em um diferencial para a rádio, dentro e fora do segmento em que está inserida. Como foi o caso da própria 89 fm, que aumentou consideravelmente sua audiência após a volta do rock como único segmento da emissora. O consumo é algo inerente a esse sistema e ainda que alguns roqueiros mantenham uma postura resistente ao rock comercial e apaixonada pelo suposto “verdadeiro rock’n roll”, é preciso observar que até o rock mais clássico e “autêntico”, dentro dessa lógica, pode ser comercial. Cada vez mais os consumidores estão se familiarizando com as diversas marcas de produtos e serviços que estão presentes no mercado. Marcas não são apenas um nome, um termo, ou um símbolo. São, além disso, a combinação destes fatores que tem como propósito identificar a promessa de benefícios, associada a produtos ou serviços de um ofertante, de modo a diferenciálos dos concorrentes, são além de tudo significados. Significados que se apresentam de maneira diferente para cada indivíduo. Cada um constrói sua relação com a marca de maneira distinta do outro, influenciado pela experiência vivida com ela, pela confiança que depositam nela e personalidade que lhes atribui. Todo esse processo de envolvimento e construção de significados da marca algumas vezes gera o que foi nomeado de lovemarks, marcas do coração ou marcas que amamos. Kevin Roberts estudioso do assunto que produziu o livro intitulado Lovemarks: o futuro além das marcas, define lovemarks como um caso de consumo que gera fidelidade além da razão. (2005, p.143). Como dito anteriormente a experiência exerce grande influência na relação do consumidor com a marca, e a grande característica das lovemarks é a forte ligação com o emocional do público, suas histórias de vida e outras experiências que os ligam afetivamente a marca. (ARBEX, DA DALT, 2013, p. 4)
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“As lovemarks são o que o próprio nome sugere – marcas amadas. Seu relacionamento com o público encontra alicerce na emoção, na simplicidade dos sentimentos, e na força que o vínculo baseado em amor pode fornecer” (GRÄTSCH, 2013, p. 11). Dentro do rock, essa identificação começa muito cedo e tem como resultado uma emoção presente nos signos relacionado ao gênero musical em questão. Consideramos que ambas as rádios aqui estudadas são lovemarks, pois as duas conseguem mobilizar o público a defendêlas e acompanhálas cotidianamente, a interagir ao vivo através do telefone, através da internet e através das ações externas, sem que se façam necessárias grandes estratégias de fala ou persuasão. Notase também tal engajamento por meio do crescimento comercial das lojas de cada rádio que inclui novos produtos personalizados e novas maneiras de fazer o fã vestirse com a marca. A mobilização, apesar de ser incentivada pela rádio “marca”, é ouvida pelos fãs como a rádio “rock”, ou seja, a música está diretamente ligada à marca e vem em primeiro lugar na lembrança do ouvinte, por isso, quando ele participa de qualquer ação da rádio, ele associa a participação ao rock, diretamente. Apesar dessa característica afetiva explorada pelas rádios em seus fãs, nenhuma das rádios (nem a rádio Cidade, nem a 89 fm) mostraram de fato uma estratégia bem estruturada e organizada pelos produtores e executivos das rádios para que isso aconteça. Ao contrário, transpareceram uma dúvida em relação à boa parte da comunicação feita através de sites de redes sociais, o próprio site da rádio e ações externas como festivais, blitz, entre outros. O marketing acaba sendo feito de forma espontânea, com os interlocutores da rádio se colocando no lugar dos fãs e imaginando o que eles gostariam de ouvir, ler e ter enquanto seguidores da marca. Nesse caso, essa espontaneidade e empatia dificulta o desenvolvimento de alguma estratégia de marketing, como aponta Claudio Arpagaus Dotto: Podese constatar que não existe como atividade de Marketing nas emissoras estudadas, um Sistema de Informações de Marketing – SIM, caso se considere uma forma organizada e sistemática de observálo, que seja capaz de alimentar o responsável pelas decisões com informações, tanto em qualidade, quanto em quantidade, no momento exato em que houver uma solicitação. As emissoras também não possuem um plano de Marketing formal e sistematizado, que forneça as diretrizes básicas para atuação das emissoras estudadas junto aos seus dois mercados e permitam decisões baseadas em informações objetivas. O que se observou é que o improviso e a informalidade prevalecem como estratégia de conduta das rádios FM
40 pesquisadas, em suas atividades, dificultando assim, o desenvolvimento de um Composto de Marketing Integrado que satisfaça os consumidores e os objetivos organizacionais. (DOTTO, 1998, p. 20)
Se tornar uma lovemark para cada consumidor é o objetivo de muitas marcas, principalmente em outros ramos do mercado, como vestuário, maquiagem e eletrônicos, por exemplo. Um outro ponto positivo para as lovemarks é a possibilidade de unir “afeto com afeto”, ou, em outras palavras, se associar a outra lovemark ou marca de determinado produto que tenha o mesmo (ou quase o mesmo) público. Nesse caso, um bom exemplo são as cervejas das rádios. A 89 fm se juntou com a cervejaria Caravelle e criou a cerveja “Caravele 89 A Rádio Rock”. Já no caso da rádio Cidade, a cerveja escolhida foi a Therezopólis, criando a “Therezópolis Rádio Cidade”. Toda essa conjuntura soma para o que temos hoje: jovens, fãs de rock e ideologicamente em harmonia que se identificam afetivamente com as rádios e consomem seus produtos como parte daquilo que os transforma em “roqueiros de verdade”. É uma validação social cultural proporcionada por cada experiência relacionada ao rock, e nesse caso, também, relacionada as rádios. Em entrevista para essa monografia, Pamella Renha, comunicadora da rádio Cidade disse: “Quando encontram comigo, com Paulinho, com Pedro, com Jean... eles personificam a gente como rádio. E é um negócio muito louco por que a pessoa não é meu fã, ele é fã da rádio. E aí, ele acha que ele me ama, mas ele não me ama, ele ama a rádio.”. Essa frase exemplifica bem o que é essa identificação com as marcas e, consequentemente, esse afeto. No exemplo citado por ela, é o afeto pela rádio personificado nos comunicadores, ampliando essa ideia, o mesmo afeto sentido pela rádio, é na verdade, um amor pelo rock.
3.2.1 89 FM a Rádio Rock traz os fãs de volta
A Rádio Rock, 89 fm, surgiu em dezembro de 1985, na cidade de São Paulo. No mesmo período em que o rock começava a se consolidar aqui no Brasil e alguns eventos também iniciavam suas atividades, como o primeiro Rock in Rio que contou com vários grandes nomes da música nacional e internacional, entre elas a banda Queen. Era também o início do que seria a democracia brasileira, um momento conturbado marcado pelo fim do golpe de 1964 (contado em detalhes no livro “89 fm A história da rádio rock do Brasil”).
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Figura 2 A Rádio Rock
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(Fonte: Portal Rock Line)
Pode ser considerada uma rádio de rock que pensa dentro das ideologias do rock e é engajada socialmente e politicamente. Ao longo de sua existência, até agora, a rádio participou de diversas campanhas importantes, a primeira delas foi em 1992, comandada pelo Dr. Drauzio Varella contra a Aids, e ao longo de todos esses anos vieram várias outras como campanhas pela paz, campanhas de adoção de animais, entre tantas outras, mostrando os valores necessários para representar os admiradores do gênero musical em pauta. No entanto, apesar disso, os diálogos e discursos da rádio sempre demonstraram um certo oportunismo e nenhuma preocupação se em cada fala emitida pela rádio havia a acentuação de determinados preconceitos e/ou estereótipos. O slogan da rádio, no ano de sua estreia era “89 FM – A Rádio do Rock, o Túmulo do Samba”, em um período onde o rock estava consolidado e o samba havia caído das paradas de sucesso. Defender o rock como gênero musical superior e, concomitantemente, rebaixar os outros gêneros a “músicas ruins” era uma constante. Esse discurso só mudou quando o rock começou a perder força no mercado fonográfico e a possibilidade de mudança de estilo da rádio era iminente.
Disponível em . Último acesso em maro de 2016. 29
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A 89 fm não utilizava o nome “A Rádio Rock” desde sua mudança de estilo musical, em 2006. Foram seis anos de muita música pop, black music e música eletrônica até o retorno de, talvez, a maior rádio rock e uma das maiores rádios fm de SP. A volta da “Rádio Rock”aconteceu um pouco antes do que seria o fim da emissora. Pouco antes de vender a rádio para uma igreja, o dono e os diretores da rádio decidiram voltar com o rock como forma de se despedir dessa que havia sido uma das melhores rádios do segmento durante muitos anos. Mas para a surpresa deles, o pedido de retorno foi muito maior do que o esperado. E assim foi feito, eles instigaram os fãs através da programação da própria rádio e procuraram patrocinadores pelos bastidores. “Assim que assinou o contrato com o site UOL, o que permitiu a salvação de seu negócio, Junior já tinha dinheiro e argumento para ir atrás de seus antigos talentos. Com pouco tempo para ajeitar a casa antes da reestreia, o diretor sabia que aquelas cinco vozes ajudariam a trazer de volta o que ele chama de “DNA da rádio” (RUBIN, 30
2013) . A volta da rádio aconteceu no dia 21 de dezembro de 2012 e foi um sucesso. Junto com ela, voltaram alguns dos comunicadores que faziam a rádio rock antes da mudança de estilo musical, como: Luka, P.H. e Thiago DJ. O crescimento online foi consideravelmente grande, principalmente depois de retornar no dial fm e implementar a webrádio, através do site da UOL. 31
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Os passos seguintes foram os sites de redes sociais como Facebook , Twitter , 33
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Instagram e Snapchat . A rádio continuou demonstrando um enorme domínio comunicacional e ganhando cada vez mais acessos em suas páginas nos sites de redes sociais, Trecho retirado da matéria “A 89, a Rádio Rock, voltou de mãos dadas com o UOL” no site da revista Exame, disponível em . Último acesso em março de 2016. 31 O Facebook é uma rede social que permite conversar com amigos e compartilhar mensagens, links, vídeos e fotografias. Disponível em Último acesso em março de 2016. 32 Tratase de uma ferramenta que permite que sejam escritas mensagens de até 140 caracteres e enviadas a pessoas précadastradas para tal. Os usuários escolhem de quem gostariam de receber suas mensagens e convidam amigos para compartilhálas. Disponível em . Último acesso em março de 2016. 33 Instagram é uma rede social de fotos para usuários de Android e iPhone. Basicamente se trata de um aplicativo gratuito que pode ser baixado e, a partir dele, é possível tirar fotos com o celular, aplicar efeitos nas imagens e compartilhar com seus amigos. Disponível em . Último acesso em março de 2016. 34 Snapchat é uma rede social e aplicativo mensageiro semelhante ao WhatsApp Messenger, mas que envia imagens pelo batepapo que só duram alguns segundos, sendo 'destruídas' em seguida. Disponível em . Último acesso em março de 2016. 30
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além de seguidores. No entanto, devese observar como é feita tal comunicação e a maneira de interagir com os ouvintes. A Rádio Rock é uma marca jovem, apesar de também manter boa parte do seu público da primeira fase rock da emissora, e boa parte da comunicação é feita nitidamente direcionada para o público jovem. Por isso, é interessante analisar que, ainda que a rádio tenha a intenção de se manter jovem, politicamente engajada e “descolada” 35
, ela reforça alguns estereótipos e preconceitos também, como: um programa para falar
sobre futebol formado apenas por homens, integrantes do sexo feminino que reforçam o padrão de beleza presente em nossa atual sociedade (visualmente e verbalmente), por exemplo. No entanto, mercadologicamente, é uma emissora menos polêmica e menos preconceituosa que outras rádios do mesmo segmento musical e mais consciente do seu papel enquanto marca jovem. Muitas vezes filiada a campanhas de adoção de animais, doação de sangue e preservação ambiental. Com isso podemos dizer que a Rádio Rock, que já era uma lovemark antes da mudança dos anos 2000, retomou os fãs e o prestígio daqueles que já eram seguidores da marca. Criou então uma loja online e voltou aos festivais, ora participando, ora produzindo. O próximo passo foram as lojas físicas e hoje, três anos depois de seu retorno, podemos dizer que a rádio obtém sucesso no que faz, ainda que haja uma comunicação e um plano de marketing a ser melhorado, de modo geral, ela mantém um bom faturamento, um número considerável de seguidores e uma comunicação ativa e convincente.
3.2.2 Os fãs trazem a Rádio Cidade de volta
A rádio Cidade foi inaugurada em 01 de maio de 1977, em meio a ditadura militar e na mesma época da consolidação da música pop no Brasil. “Naquele momento, o ator John Travolta era o ícone de uma geração onde todos, a cada final de semana, tentavam encontrar o seu próprio Saturday Night Fever ” (LEPETRI, 2015, p. 3). Surgiu como uma emissora até então popular, que tocava de tudo um pouco, principalmente pop, dance e rock. Com uma proposta inovadora para a comunicação de rádio, a rádio Cidade trazia um jeito novo de falar com os fãs e entreter os ouvintes, de forma mais próxima e empática. Uma maneira inovadora de se comunicar com o público que é utilizada até hoje por diversos locutores brasileiros. 35
Gíria que significa: atual, moderno, sociável. Fonte Último acesso em março de 2016.
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Inclusive, defendem os comunicadore da rádio, foi graças a rádio Cidade que todas as outras rádios começaram a entreter dessa maneira, que é utilizada por quase todas as emissoras hoje em dia. Principalmente nos tempos atuais que contam com a internet, a empatia com o público é essencial e a interação personificada é cada dia mais valorizada
Figura 3 Rádio Cidade
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(Fonte: Wikimedia)
Culturalmente falando, ela foi responsável por uma tentaiva de implantação de uma cultura pop no Brasil. E, no seu auge de audiência e no auge da música pop no Brasil, a rádio migrou para Portugal. (LEPETRI, 2015). Foi na década de 1990 que a rádio Cidade, em parceria com a Rádio Rock de São Paulo, começou a migrar para o segmento rock’n roll, até se definir apenas como rádio rock. Nesse momento, o rock contava com nomes como Pitty, Raimundos, Los Hermanos e Charlie Brown Jr em alta na programação. Mas o rock estava em baixa no país e não era visto como atrativo para investidores ou agências de publicidade. O faturamento caiu e a rádio, em 2006, se viu obrigada a abandonar o dial fm e ocupar apenas a posição de webrádio. Disponível em . Último acesso em março de 2016. 36
45 Apareceu uma proposta de filiação à Oi FM, e foi feita a opção de manter a Rádio Cidade apenas na internet. Uns seis anos depois, a Oi acabou, e a gente estava estudando voltar com a Rádio Cidade, quando veio a volta da Jovem Pan FM. Resolvemos arriscar nos filiar a eles, e a coisa não deu certo relembra o executivo, que também é diretor artístico da JB FM (rádio que, junto com a Cidade, forma o Sistema Rio de Janeiro de Rádio). Foi a volta da 89FM ( emissora de São Paulo ) ao rock ( em julho de 2013 ) que nos animou a trazer a Cidade de volta à FM aqui no Rio. O barulho foi grande, 37 vimos que dava para fazer aqui também . ( ESSINGER, 2014)
Nessa época, já adotava algumas estratégias de mercado para atrair alguns fãs e manter tantos outros que continuavam acompanhando a rádio, como os módulos com subgêneros do rock para quem queria ouvir apenas classic rock, ou drop, ou heavy metal, por exemplo. Quando a Rádio Rock, 89 fm, voltou em São Paulo, abriu espaço para o rock no mercado nacional mais uma vez. Meses depois, a Jovem Pan abandonou o dial fm do Rio de Janeiro, abrindo espaço para uma possível volta da rádio Cidade. Como contou amella Renha em nossa entrevista: “E quando essa oportunidade surgiu, eu conversei com o Tico (Santa Cruz Detonautas) e era aquela época de manifestação de professores que tava tendo e tal. Aí eu falei: “Tico, tá tendo uma chance da rádio Cidade voltar e eu preciso muito do apoio de alguém. E só com alguém grande com números expressivos (de seguidores) que a gente vai conseguir fazer essa volta das pessoas acreditarem que ela pode voltar. Mas não pode sair como um pedido interno, então você inventa o que você quiser.” Aí ele: “Então tá. Só deixa eu voltar, porque eu tô aqui na manifestação dos professores, aí depois eu faço isso.”. E eu “então tá”. De fato, quando voltou ao dial fm, a rádio Cidade parecia ter sido convocada pelos fãs. Diversos artistas, como Matanza, Pitty, Vespas Mandarinas, Raimundos, Tihuana e CPM22 por exemplo, se solidarizaram com o movimento e postaram fotos com placas pedindo a volta da rádio.
Figura 4
Trecho retirado da matéria “Rádio Cidade, o regresso nas ondas do rock” no jornal “O Globo”, disponível em . Último acesso em março de 2016. 37
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38
(Artistas e fãs com cartazes da campanha #voltaradiocidade )
Disponível em < https://twitter.com/MarkinhoJr/status/429355256162443264 >. Último acesso em abril de 2016. 38
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Figura 5
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(Cantora Pitty com cartaz da campanha #voltaradiocidade )
Figura 6
Disponível em . Último acesso em abril de 2016. 39
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(Jimmy, vocalista da banda Matanza, com cartaz da campanha #voltaradiocidade )
Foi então, no dia 10 de março de 2014, que de fato a rádio Cidade retornou e está, desde então, fortalecendo a cena do rock no Brasil. Assim como a 89, a rádio Cidade também tem loja virtual, itens personalizados e diversos aparatos para instigar a memória afetiva dos fãs do gênero. O sucesso da rádio no Rio de Janeiro também é grande e uma nova consolidação mercadológica não parece estar muito longe. Contudo uma análise em relação ao uso dos sites de redes sociais e do posicionamento da rádio enquanto marca se faz necessário. A rádio Cidade tem utilizado a interatividade desses novos tempos de forma bastante positiva sob um viés mercadológico. As interações estão presentes, assim como na 89 fm, em sites como Facebook, Twitter, Instagram e Snapchat e somam uma quantidade cada vez maior de seguidores adquirida através do marketing da rádio e transformada em
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Disponível em < http://voltaradiocidade.tumblr.com/image/71300432154 >. Último acesso em abril de 2016.
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público presente em shows e blitz realizadas pela emissora. Como disse Pamella Renha em entrevista para este trabalho, o sucesso da rádio Cidade na Baixada Fluminense e na zona Norte é bastante grande e o crescimento pode ser visto de diversas formas. Uma delas é o Centro Cultural João Nogueira, o Imperator, localizado no Méier e reformado pouco tempo antes da volta da rádio e hoje palco de grandes shows organizados pela emissora. No entanto, problematizar é preciso. A rádio Cidade representa uma marca jovem e, apesar de ter um grande público mais velho derivado do primeiro estágio da rádio no dial FM, toda a comunicação é feita em linguagem jovem e atual. Cada vez mais novas bandas se fazem presentes na programação e o diálogo direto com os jovens nas redes sociais é constante. No entanto, a preocupação com o reforço de estereótipos e preconceitos é mínima e, infelizmente, fortalece uma cultura presente no rock desde seus primórdios (apesar de, como dito no primeiro capítulo deste trabalho, a pioneira do rock ter sido uma mulher, muitas vezes ignorada pela história). O rock ainda carrega muito machismo em diversas cenas, de uma maneira geral, e movimentos feministas são cada vez mais comuns, inclusive dentro do rock. Segundo Camargo (2011, p. 155), “a cena do rock de mina surge enquanto oposição ao sexismo presente no rock e no punk (...) a partir de práticas como a elaboração de fanzines e letras de música feministas” e, embora essas meninas estabeleçam um diálogo com outros movimentos culturais (como o punk), elas carregam traços singulares”. (CASADEI, 2013, p. 4)
Muitas cantoras debatem bastante sobre essa questão e tentam, cada vez mais, lutar contra esse preconceito. “Em entrevista a Rolling Stone, Pitty falou sobre o machismo no rock. ‘‘O rock é um reflexo da nossa sociedade”, disse ela, que continuou: “Existem setores extremamente patriarcais, e o rock é um deles. É difícil. No início, eu fazia de tudo para não 41
ser vista como ‘a garotinha’’. Nesse panorama, é preciso pontuar o fato de a rádio não se preocupar com temas como esse, e além disso, reforçar algumas dessas questões com, por exemplo, uma mulher “sem nome”, chamada de “estagiária gostosa”, que aparece sempre nas fotos nos sites de redes sociais de costas para mostrar/enfatizar o bumbum.
Trecho retirado do site TV Foco. Disponível em . Último acesso em março de 2016. 41
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Figura 7
(Na legenda dessa imagem, estava escrito: “A galera da Hora dos Perdidos botou a Estagiária 42
Gostosa pra trabalhar hoje.” Fonte: Página da Rádio Cidade no Facebook .)
Não pretendo com tais fatos reduzir o sucesso da rádio a um machismo intrínseco e naturalizado não só no rock, como também na nossa sociedade. Nem tão pouco direcionar o objetivo deste trabalho para causas feministas e sociais, mas pontuar o quão necessário é para uma marca é se posicionar e ter consciência de seu tamanho e do poder de fala que se tem com o sucesso apresentado por ela, principalmente quando se tem tanto domínio tecnológico, com módulos diferentes em seu site e aplicativo para celular, por exemplo, e tanto sucesso mercadológico (apesar da ausência de um plano de marketing bem definido).
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Diponível em . Último acesso em março de 2016.
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CONCLUSÃO
Portanto, podemos concluir que o rock sempre foi muito importante na vida dos fãs do gênero, desde o seu surgimento até os dias de hoje. No início, fortaleceu o movimento negro americano e deu origem ao que chamamos de classic rock hoje em dia. Depois, iniciou e consolidou o movimento jovem, auxiliando na criação do termo “juventude” e empoderando esses que tinham menos destaque na sociedade. A figura do jovem, como vimos, foi construída como alguém que tem uma constante vontade de lutar pelos seus direitos e ideologias, sempre ao lado de conquistas políticas e pautando discursos de luta e otimismo em relação à sociedade. Tal construção se deu, em parte, relacionada à própria consolidação do gênero musical do rock. Tivemos como objeto de estudo neste trabalho duas rádios voltadas a esse gênero: a Rádio Cidade e a 89 FM. O início de ambas as rádios foi marcado por um momento histórico brasileiro cheio de lutas e embates políticos. Em nenhum momento durante esta monografia, tive a intenção de me estender ou relacionar os meus argumentos à política brasileira ou estrangeira. Mas, não se pode negar que tanto no início das rádios como durante suas respectivas voltas, o momento político brasileiro era, no mínimo, instável. Dito isto, defendo aqui a importância das rádios, enquanto rádios do segmento rock, para os fãs do gênero musical em questão. E também, a relevância de ambas enquanto meios de comunicação e informação para a sociedade. Trazendo a fala de Pamella Renha em sua entrevista para este trabalho: “geralmente o rock, ele é uma forma de protesto também sabe? E quando esses jovens não tem muito o que protestar você acaba fazendo o rock fofinho e acaba não tendo aquela identificação que você tinha com o Legião Urbana”. E é por isso, segundo a programadora, que a audiência das rádios só aumenta. Esse entrelaçamento discursivo entre rock e protesto, rock e afirmação de identidade, em meio a disputas de gosto mediadas por determinadas marcas, é central para as rádios. Enquanto marcas, podemos considerálas um sucesso mercadológico. Com fãs engajados e consumidores convencidos de terem em mãos o melhor que o rock pode lhes oferecer, as rádios conseguem cativar os roqueiros dessa nova geração e, ao mesmo tempo, agradar aqueles que eram jovens no início de cada uma. Utilizam da melhor maneira possível as estratégias disponíveis para conquistar cada vez mais cada ouvinte, e, ainda que não
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tenham nenhum plano de marketing ou estratégia online traçada, conseguem superar as incertezas causadas pela internet com um meio de comunicação tido por muitos como ultrapassado, mas que se atualiza a cada década. A internet ainda parece um campo bastante desconhecido para as rádios. A impressão que temos é de um improviso feito por demanda e enquanto está tudo funcionando bem, continuam assim. Isso não é necessariamente ruim, considerando a velocidade de mudança da internet e a dificuldade plausível de adaptação em tão pouco tempo. Contudo, talvez, um melhor planejamento evitasse falhas na comunicação e pudesse demonstrar como de fato essa interação impacta a favor das marcas. Como observado, é importante ressaltar o fato de uma organização patrocinar um evento cultural, é extremamente compensador tanto para a empresa quanto para os funcionários e seus clientes, pois estes acabam por receber benefícios emocionais que resultam do orgulho de estarem associados a uma instituição que apoia e incentiva eventos culturais contribuindo com as iniciativas que tem valores que vão de encontro aos seus. Porém, este não é o único aspecto importante, observase ainda que em determinados eventos há a oportunidade da empresa fazer contato direto com um público segmentado, oferecendo a este acesso a determinadas atividades com as quais se identificam e são apaixonados‟ . (ARBEX, DA DALT, 2013, p. 3).
Com seus próprios festivais e organizações culturais, as rádios demonstram experiência e boa gestão de marca. Cada uma dessas intervenções é necessária para continuar presente no imaginário afetivo de cada ouvinte e manterse como símbolo do rock para os fãs. Não à toa, poucas pessoas lembram da existência de outras rádios quando o assunto é rock. É o caso da Kiss fm (SP), que sempre esteve no dial e não passou por nenhuma das alterações sofridas pelas rádios objetos dessa monografia. Mas, como disse Rubão (89 fm) durante a entrevista, ter muita audiência não significa ter uma receita razoável e pode, muitas vezes, não representar nada em relação ao faturamento da emissora e/ou anúncio publicitários. Concluo, portanto, que as rádios possuem um cenário mercadológico a favor de suas ambições ou o que seriam os próximos passos dentro de uma empresa em crescimento, levando em consideração o surgimento de novas bandas nacionais e internacionais, as intervenções políticas nas ruas e o fato de já serem consolidadas enquanto lovemarks . Apesar de considerar o mercado fonográfico imprevisível, acredito que as rádios conquistaram um
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espaço no mercado bastante importante e dificilmente perderão tanto a ponto de terem que mudar de segmento e/ou abandonar o dial fm (novamente, no caso da rádio Cidade).
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Anexo 1 Entrevista 89 FM a Rádio Rock
Monique: A rádio (89 fm) teve um período de consolidação nos anos 1980 e 1990 aqui (em SP) e depois ela mudou para pop. É isso mesmo? Como foi esse processo? Rubão 89 fm: Na época, isso foi em 2005 ou 2006, se não me engano não lembro exatamente o ano a direção da 89 fm chegou a conclusão que havia uma necessidade dessa mudança de segmento, pois consideravam que o público havia mudado. As características dos ouvintes e a forma de ouvir rádio estavam mais ecléticos e por isso chegamos a conclusão de que deveríamos abrir a programação. Não ser apenas uma rádio rock e começar a tocar músicas mais pops, além de dance, black music e tudo mais. Foi basicamente em virtude dessa leitura da situação da época. Monique: A partir desse momento vocês começaram a se denominar uma rádio pop? Ou ainda eram a rádio rock, mas que tocava música pop também? Rubão 89 fm: Nós começamos a trabalhar só como 89, não existia mais uma assinatura como “a rádio rock”, então tudo que nós comunicávamos no ar era sempre 89 e apenas isso. Mesmo quando acontecia alguma campanha, não usávamos “a rádio rock”. Era uma das orientações da época que não fizessemos com que as pessoas lembrassem que erámos a 89 “a rádio rock”, porque era uma marca forte e a ideia era divulgar uma nova marca. Monique: Mas foi apenas pelo público que aconteceu essa mudança? Rubão 89 fm: Não. Foi principalmente por faturamento comercial. Vamos deixar as coisas bem claras: rádio, televisão e qualquer outro meio de comunicação são negócios. São empresas como qualquer outra que precisam pagar suas contas. Conta de energia elétrica, ECAD e toda a parte trabalhista. Precisamos honrar esses pagamentos. A partir do momento que o faturamento comercial não cobria mais nossos custos e nós detectamos uma queda na audiência da rádio audiência nesse caso o IBOPE . O IBOPE é o instrumento que as agências de publicidade tem como guia para fazer os anúncios. Com a diminuição da audiência, nosso departamento comercial junto com a direção decidiram mudar o perfil da rádio para aumentar o volume da audiência. A ideia era atingir mais pessoas para que esses
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números pudessem atrair mais patrocinadores, anúncios e tudo mais. Esse foi o objetivo. E não por que o dono da rádio um belo dia disse: “Ah, não gosto mais de rock, “tô” de mau humor, vamos mudar tudo!”. Claro que não é assim, tudo é negócio. E não adianta a gente dizer só pela parte ideológica: “ah, a gente só toca rock, não vamos pensar na parte comercial!”. Infelizmente nós vivemos num sistema capitalista. Nós temos uma empresa com contas, tributos, impostos e não é uma coisa simples. É óbvio que quando a direção teve que tomar essa decisão na época, achou melhor tomar essa decisão, não foi fácil, porque sabiam que havia todo um histórico. Você está falando de uma marca, de uma instituição que já tinha uns 20/21 anos. Então é muito difícil.
Monique: E como vocês decidiram fazer o contrário: voltar com a rádio rock? Rubão 89 fm: Aconteceu o seguinte: a rádio conseguiu ter volume de audiência, ela aumentou. Porém, nosso retorno financeiro não melhorou muito. A rádio ia ser arrendada, essa é a verdade! Estava até com um contrato assinado com uma igreja e tudo mais. Num ato meio de loucura, desespero ou qualquer coisa do tipo, o dono da rádio decidiu fazer uma despedida e voltar com a rádio rock no ar por algumas horas, só pra ver o que aconteceria. E aí o cara fez. A repercussão gerada em redes sociais como: facebook e tudo mais, foi muito grande e a gente percebeu que ainda existia uma marca muito forte. Isso empolgou o dono da rádio a tal ponto que ele resolveu quebrar esse contrato que estava assinado com a igreja, de arrendamento, e correu atrás de parceiros para que a rádio pudesse voltar, e voltar a ser a rádio rock mesmo, nos moldes que o pessoal já conhecia. A coisa começou a caminhar e a gente começou a comunicar isso no ar também, de uma forma meio velada. Mas a verdade é que estávamos correndo atrás de alguém para, pelo menos, bancar esse início né?! (risos). E esse início foi marcado pelo UOL. O UOL ajudou a gente nesse início de processo, tanto que nós ficamos uma época como “UOL 89 A rádio rock”. Monique: Mas isso já acabou, certo? Rubão 89 fm: É, isso já acabou. Foi por um ano isso. Agora é “89 A Rádio Rock” normal, não tem nenhum naming rights . Então assim, nós percebemos que a força da marca é muito relevante. E analisando… Isso é uma opinião pessoal e não da direção. Estou falando eu, Rubens, produtor da rádio que já estou aqui desde 1997. Quando a gente deixou de ser a rádio de rock, nós abrimos a programação da rádio e tudo mais, foi um erro. Mas, acho que foi um erro necessário para a
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rádio ter cometido, porque hoje eu tenho certeza que realmente é a força da marca que faz a diferença enquanto rádio. O que eu quero dizer é: se você não tem uma marca forte, que as pessoas lembrem, você não consegue patrocínios e tudo mais. Então, por exemplo, vou falar de outras rádios fortes em São Paulo só que em outros segmentos. Por exemplo, CBN, é uma rádio de notícia. É o forte deles. Eles podem não ter um volume de audiência grande como tem as rádios ditas populares, mas quando você ouve um break comercial deles, você vê a quantidade de clientes grandes que eles tem. Por que? Porque eles tem uma rádio qualificada, que informa, tem colaboradores de renome… Eles tem uma marca forte por causa do conteúdo deles. O que eu vejo para o rádio é isso. Faz diferença você ter um conteúdoe você ter uma marca forte. Só volume de audiência, hoje, não dá retorno comercial. Não basta apenas você ter grandes números de audiência. Você precisa somar isso… claro que você tem que ter audiência também, mas você precisa ter uma marca relevante.
Monique: Quais são as principais diferenças da rádio antes da programação pop e da rádio após o retorno do rock? Rubão 89 fm: É difícil dizer as diferenças. Porque, por exemplo, eu estou na rádio desde 1997 pra cá, e muita coisa mudou. Quando eu entrei na rádio a internet engatinhava, era discada. E a internet mudou tudo. A internet fez todo esse mercado de entretenimento mudar, de mídia e tudo mais. O jeito como a gente consome mídia mudou. Pode ver que, por exemplo, televisão... A televisão aberta está sofrendo. Cada ano que passa vem diminuindo o número de pessoas que assistem conteúdo em tv aberta, porque “o cara” fica assistindo vídeo no Youtube e procura ‘N’ coisas na internet. Monique: Quais são as estratégias da rádio dentro da internet? Rubão 89 fm: Vamos ser sinceros: a gente ainda está aprendendo a lidar com isso. Dizer que tem uma estratégica específica? A gente não tem. A gente faz alguns vídeos aqui, com artistas que vem aqui, põe lá no Youtube e tal, mas não tem como te dizer que existe uma estratégia pré determinada para isso. Até porque nós estamos tentando entender tudo isso que está acontecendo. Porque é tudo muito imediato e sempre surge algo novo. A gente ficou brincando um pouquinho com o Periscope, por exemplo, mas a gente nem sabe exatamente o que isso vai gerar pra gente de retorno. Se vai ajudar ou não, se vai atrapalhar. A gente usa o instagram para divulgar nossos programas ou fazer promoções, mas, de fato, é difícil
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mensurar o quanto ajuda ou se não ajuda. Mas de qualquer forma a gente sabe que não dá pra ignorar. Existe. E existe muita gente que consome isso, que usa… Então assim, o que nós temos trabalhado é: a gente não quer ser uma rádio que só toca música, como se fosse uma playlist que fica disparando música automaticamente. A gente trabalha com apresentadores aqui, que não são locutores, são apresentadores. Claro que, por exemplo, nós temos a Luka, o Tatola, o Zé Luís, que não são locutores, são apresentadores, comunicadores. Então, isso faz uma diferença. Porque tem rádios que preferem ter locutores padrão, o cara que anuncia e “desanuncia” música, de forma rápida e você quase nem se identifica com esse cara. Você não sabe como é o nome dele, porque eles são muito parecidos. O Carlos X é parecido com o Eric Y, por que é a mesma técnica, mas você não identifica a personalidade do cara. Mas são estratégias. Estratégias que algumas rádios adotam. Eu, particularmente, não concordo muito com isso porque eu acho que o ouvinte perde um pouco aquela coisa do rádio amigo, “o rádio é seu amigo”, o rádio é aquele “trequinho” que tá ali na mesinha ou no celular, que você tá ouvindo música, mas o cara fala um negócio e você dá risada num dia que , de repente, você está de mau humor. E, sei lá, o cara fala alguma besteira que muda sua vida, uma coisinha boba, ridícula as vezes. E tem rádios que já não permitem isso, e acredito que isso é ruim. Então assim, são interpretações e jeitos de se conduzir o négocio, entendeu? Monique: Você disse que a marca 89 tem um grande peso e um grande nome. Você acha que essa aproximação tem a ver com a memória afetiva dos fãs, ouvintes da rádio? Foram eles que deram essa força para a rádio voltar? Rubão 89 fm: Sim, total. Porque a marca 89 foi desenvolvida desde 1985, mas ela fez diversas coisas diferentes que criaram essa ligação afetiva: fizemos campanhas contra a violência, pela paz, ajudamos em campanhas para pessoas carentes, fizemos festivais… Fizemos campanhas criativas e engraçadas. Tivemos até o pessoal do humor, sobrinhos do Ataíde, que foram caras que revolucionaram o mercado de humor no rádio aqui em São Paulo. Estabeleceram um formato diferente do que acontecia de humor em rádio. Essas coisas vão se somando e ficam na memória afetiva, fora o lado musical. Também tem isso, porque existe todo um contexto aí da época. Em 1985, por exemplo, quando a rádio começou, era o ano da reabertura democrática, o Brasil estava saindo de uma ditadura militar e a molecada tinha um anseio por música jovem mais contundente e você estava podendo a começar a falar as coisas que você queria falar. Você não podia na época da ditadura, mas essa geração já
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podia falar. Então uma série de fatores foram ajudando aí, no caso do rock, veio o grunge. Então tudo isso foi marcando e a rádio tava nesse meio todo, no meio de todo esse processo junto com o cara que queria ouvir tudo isso. O cara que tava: “meu, o que está acontecendo? O que é isso aí? O que é esse Nirvana, o que é o Guns’N Roses? O que que tá rolando” e a rádio fez muito parte desse processo. Monique: Você acha que foi essa geração que fez a rádio voltar ao sucesso agora ou que existe uma nova geração? Rubão 89 fm: Isso é uma coisa interessante. É essa geração (de 1985) junto com os filhos, porque eles vão contando, a 89 é um legado. Por exemplo, o cara que é mais velho e tem um filho pequeno ele fala: “Oh, quando eu ouvia rádio, a rádio legal era a 89. Os caras faziam isso, os caras tocavam não sei o que. Eu conheci essa banda por causa da 89”. O cara falando pro filho dele. O cara ouve aquilo. E quando a rádio voltou juntou o pai e o filho, é que nem o cara que curte futebol o pai fala: “na minha época, cara bom era o Zico”, e mesmo se o filho não tenha visto o Zico jogar ele vai falar “po, o Zico era bom. Meu pai falou que era bom, então era bom memo ”. São coisas desse tipo, você vai contando a história e vai passando pra frente, vai compartilhando com as outras gerações e o nosso desafio é esse, continuar sendo relevantes. Quando nós falamos “ouça o novo, viva o rock”, quando a gente fala isso a gente não está renegando o passado do rock. Pelo amor de Deus! O rock é um som que nasceu há 60 anos e tem muita história. É óbvio que a gente reverencia todos de Elvis, Chuck Berry, os clássicos que todo mundo gosta, Metallica, AC/DC, Guns, mas a gente tem que ficar de olho nas coisas que estão acontecendo agora, olhando pra frente também, porque as coisas vão evoluindo, vão mudando. Você vê com a internet por exemplo, eu sou um cara mais velho, então eu sequer imaginava, quando começaram a falar de internet, fiquei pensando: “nossa meu, vou poder conversar com um cara que mora “lá não sei onde”, de uma maneira tão rápida e fácil”, é muito louco isso! Eu sou de uma geração que isso não era simples, não era uma coisa fácil imaginar esse tipo de coisa. Você vê como a tecnologia impacta em todas as coisas. E na música é a mesma coisa, a evolução é constante. Essa molecada que faz som hoje, consegue gravar um disco em casa, monta um “estudiozinho” lá, faz um tratamento, já tem o software… produziu o negócio. É bem mais simples. Só que as características são muito diferentes.
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Monique: E quais são os novos caminhos? Porque o rádio é um meio de comunicação que foi se adapatando, já enfrentou a TV, criou rádio alternativas e hoje encara streaming de música e Youtube. Rubão 89 fm: Essa é uma discussão muita ampla. Cada vez que eu penso sobre isso, as vezes, eu mudo de opinião, porque as coisas vão “rolando”. Mas eu acho que o rádio, para continuar sobrevivendo como negócio, o meio rádio, eu acredito que, talvez, ele tenha que voltar aos seus primórdios. Porque ele era entretenimento, com aquela coisa do cara no auditório, comunicador que chama o pessoal para ouvir, sabe? Uma coisa de show, sabe? No nosso caso, nós somos uma rádio que toca música, óbvio, nós temos que continuar tocando música. Mas não basta apenas tocar música e fazer uma programação legal. Nós temos que acrescentar coisas aí e esse aspecto talvez seja um caminho, investir em novos talentos que tem essa “pegada” de comunicador. Que falta, falta mesmo. Eu não sei se essa é a fórmula, o caminho, mas o que eu vejo é mais por esse caminho. Como você disse tem o streaming, você pode colocar ‘N’ músicas lá do seu gosto. Que dizer… O rádio tem uma diferença, você não sabe o que vai vir depois e você não sabe o que que o cara vai falar sobre aquilo, e o jeito que ele vai falar, como ele vai falar. E é essa magia que pega, que é o diferencial. É como você vai criar essa magia, e aí é que eu acho que talvez o rádio tenha um caminho. Não sei se é o caminho, mas é o que eu penso hoje, pode ser que amanhã eu até mude de ideia (risos).
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Anexo 2 Entrevista Rádio Cidade
Monique: Como era a rádio no seu início, por volta da década de 1980? Pamella Renha Rádio Cidade: A rádio Cidade surgiu dia 1º de maio, no dia do trabalhador, não sei muito bem se em 1976 ou 1977. Ela surgiu e queria ter uma comunicação diferenciada das outras rádios porque antigamente era “boa noite” com aquela voz imposta. E nessa época a gente tinha Sandoval, a gente tinha Mansur, e eram pessoas muito especiais para a rádio Cidade, porque eles não eram locutores, eles eram comunicólogos, as pessoas mesmo sem conhecer achavam que já conheciam eles a muito tempo, era um jeito diferente de fazer rádio. É o que hoje em dia se faz em rádio, foi graças a rádio Cidade daquela época, de você se envolver mais com o ouvinte. E nessa época você tocava um pouco de tudo, já no final da década de 1970 você tava ainda com a música dance e aí depois que veio o rock, na época do rock nacional, mas nessa época a rádio Cidade não era uma rádio rock, era mais uma rádio popular. Ela pegava um pouco de tudo. Até na década de 1990 tinham uns programas que eram, sei lá, Tchacabum, uns troços assim, misturava muito axé... então era uma rádio popular. Até que um belo dia em 2000, fechou uma parceria com a 89 (SP) para ser a rádio rock e aí que a rádio Cidade virou a rádio rock, foi aí que até hoje a gente é rock né? Mas a rádio Cidade surge popular, ela era mais uma rádio popular e ela veio junto com a galera FM O dia, um dos criadores da FM O dia trabalhou aqui na rádio Cidade. E aí em 2000, quando a gente se juntou, virou a rádio rock junto com a 89 (SP) e aí era uma coisa bem maior né? Era uma rede. O que tocava em São Paulo, tocava no Rio e tinham outros lugares também, saiu espalhando rádio Cidade nessa época. E aí a rádio acabou. E aí a gente foi pra web e na web a gente continuou com o segmento rock, que era a “Cidade webrock”, ela tinha, e a gente ainda tem na verdade, os módulos: tinha classic rock, tinha drop que era mais pra galera de surf e tal… era muito maneiro. E aí surgiu a oportunidade da rádio Cidade voltar e isso foi um ano depois da 89 (SP) voltar. A 89 (SP) voltou e um ano depois a rádio Cidade voltou. E quando a gente voltou, também voltou com o segmento rock e a gente tá há 2 anos trabalhando esse segmento. Que eu não vou dizer para você que é simples assim, porque é um segmento diferente e aqui no Rio de Janeiro a gente acaba não tendo com quem competir né? Porque só a gente que oferece rock.
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Monique: Porque você acha que aconteceu esse declínio da rádio Cidade? Pamella Renha Rádio Cidade: Rock envolve muita coisa né? O rock é para a galera da margem, ele é para uma galera diferenciada. É tipo o rap, são para pessoas que vivem aquilo. E geralmente o rock, ele é uma forma de protesto também sabe? E quando esses jovens não tem muito o que protestar você acaba fazendo o rock fofinho e acaba não tendo aquela identificação que você tinha com o Legião Urbana, que além de escrever letras incríveis sobre política também sabia falar muito bem de amor. Eles sabiam do que eles estavam falando, o rock da década de 1980 e por isso que era tão bom. Aí na década de 1990 você vem com Raimundos que também era bom para caramba, era uma mistura do c***, forró com rock, então era uma parada diferente. E você vai tendo transformações desse mercado porque você tem o Raimundos na década de 1990, aí você vem com Los Hermanos ali já indo pros anos 2000 e você tem Detonautas, tem a Pitty, mas fica ali, tudo meio que “aonde vamos?” depois de uma certa fase. E aí você acaba tendo outras bandas tipo Forfun e Dibob que acaba mostrando uma outra realidade pra essa galera. Que não é muito bem quem trabalhando com rock sabe? Não é a mesma coisa, não é a mesma pegada. E aí envolve muita coisa. Envolve que o rock não tava dando mais dinheiro, as pessoas não estavam tão interessadas no que o rock estavam oferecendo na época, não estou dizendo que essas bandas eram ruins ou boas, não é isso não. Eu acho que as pessoas não estavam comprando o barulho sabe? E aí ela voltou a ser underground como ela é, porque o rock é underground. E aí tem outras bandas, mas essas bandas não estão no mainstream né? E hoje, o grande barato das coisas, é que tem muita banda boa que está no underground, que dá super certo, que o mainstream não mostra e mesmo assim elas dão super certo. É um grande aprendizado para a mídia e é um bom aprendizado também para quem vive de música, de como fazer a “roda girar”. Acho que não tinha mais como fazer a roda girar naquele momento pro rock. Acho que agora tá começando a ter esse movimento de novo. Pode não ser só por conta da volta da rádio Cidade e da 89, mas acho que é um ponto principal sim. Porque quando você começa a ter uma rádio que toca rock, você entra num lugar...num clubezinho por exemplo, que tem um pagode de domingo e aí ele fala: “ah, porque eu não vou abrir na segunda tocando rock?” e aquilo dali vai aumentando, as pessoas vão ficando mais interessadas, as pessoas começam a olhar mais pra baixada fluminense pra ver que de fato tem muito evento de rock lá acontecendo, ou pra zona norte sabe? E essas pessoas vão se encontrando, essas bandas vão se misturando e as pessoas vão se conhecendo. E aí vai fazer a roda girar, é assim que
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acontece. É um puxando o outro, um ajudando o outro. Monique: Como aconteceu esse movimento para a rádio Cidade voltar? Pamella Renha Rádio Cidade: A rádio Cidade ficou parada do dia 6 de março de 2006 e aí a gente acabou. E na semana seguinte eu tava na web. Nós ficamos 8 anos fora do ar, até que vagou o 102,9fm. A Jovem Pan acabou não dando certo aqui no Rio, mais uma vez. E aí começou aquela correria e pintou uma chance da rádio Cidade voltar. E quando essa oportunidade surgiu, eu conversei com o Tico (Santa Cruz Detonautas) e era aquela época de manifestação de professores que tava tendo e tal. Aí eu falei: “Tico, tá tendo uma chance da rádio Cidade voltar e eu preciso muito do apoio de alguém. E só com alguém grande com números expressivos (de seguidores) que a gente vai conseguir fazer essa volta das pessoas acreditarem que ela pode voltar. Mas não pode sair como um pedido interno, então você inventa o que você quiser.” Aí ele: “Então tá. Só deixa eu voltar, porque eu tô aqui na manifestação dos professores, aí depois eu faço isso.”. E eu “então tá”. E eu tava no meio da manifestação dos professores também, falando com ele pelo twitter, esperando um ônibus e pensando “será que ele vai falar?”, aí passei a madrugada olhando a rede e pensando “po, ele não vai falar”. Aí no dia seguinte, a tarde, ele me mandou a foto e disse “postei, vamos ver!”. Cara, foi um negócio absurdo! Eu lembro que eu fiquei assustadíssima. Nosso diretor na época era o Alexandre Hovoruski e eu dizia: “Hovoruski ele postou, ele postou.”, e a gente começou a olhar e tinham muitos número e muitos compartilhamentos, e muitas pessoas curtindo e pedindo pela volta. E foi ótimo para ver, mesmo se a rádio Cidade não voltasse, óbvio que seria triste porque eu não estaria aqui e nem você estaria aqui fazendo seu TCC sobre isso, mas foi muito maneiro ver essa mobilização das pessoas. Porque é uma marca, a gente não pode esquecer, é uma marca! A pessoa vestir uma marca é muito diferente de você vestir a camisa de um time, sabe? E a pessoa veste a marca como se fosse de um time, como se fosse fã da banda é uma coisa muito diferente. E trabalhar em rádio é isso. Você não vê uma pessoa usando uma blusa do SBT e vangloriando, ou da Globo… rádio Cidade é isso, são pessoas que amam muito a rádio. E quando encontram comigo, com Paulinho, com Pedro, com Jean...eles personificam a gente como rádio. E é um negócio muito louco por que a pessoa não é meu fã, ele é fã da rádio. E aí, ele acha que ele me ama, mas ele não me ama, ele ama a rádio.
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Mas pra ela voltar foi muito por conta das pessoas mesmo, porque é uma rádio rock. Por mais que no início a gente não tivesse assinando como rock, é uma rádio rock e as pessoas sentiam falta. Então, as pessoas que fizeram a rádio Cidade voltar. O fundo foi esse sabe? Na hora de argumentar “vamos ver o que vai acontecer?”, aí óh, você não queria que voltasse, a culpa é sua, então faz o negócio acontecer. Óbvio que a gente não pode jogar a culpa pra cima dessas pessoas, mas basicamente sim, eles que fizeram com que a gente voltasse! Pra gente mostrar que as pessoas amam a marca, você vai queimar uma marca dessas? Vamos voltar e vamos ver no que dá. E a gente voltou! O dia da volta foi maravilhoso, 7h da manhã do dia 10 de março. Foi muito louco. Louco aqui dentro, louco lá fora, vendo as mensagens. Era como, sei lá, ganhar a copa, num nível menor, num nível nosso. Foi muito emocionante e é muito emocionante saber que a rádio Cidade ainda está aqui 2 anos e que vai continuar porque a gente trabalha muito pra isso. É um trabalho duro, as pessoas não imaginam como é trabalhar em rádio, você vira a noite trabalhando aqui dentro ou em outro lugar, ou em shows. Março por exemplo é um mês cheio de shows, eu estou em shows desde sexta e hoje eu tenho mais um e amanhã também. E é assim, as pessoas trabalham muito porque gostam, porque é prazeroso você encontrar uma pessoa que é fã da rádio Cidade e ela te abraçar e falar que é sua fã, por mais que você saiba que ela não é, aquele momento que você tem de personificar a rádio, a marca, é muito incrível.
Monique: Quais são as estratégias da rádio para, ao mesmo tempo: consquitar o público de agora, os novos roqueiros, e manter o público que trouxe a rádio de volta? Pamella Renha Rádio Cidade: A gente toca muito classic rock. Tem que tocar o que é bom! A gente não pode esquecer de bandas como Led Zepellin, Beatles e é incrível você estar no meio da tarde e ouvir Beatles e daqui a pouco você liga e tá tocando Nirvana, sei lá. E esse é um trabalho maravilhoso dos programadores aqui da rádio Cidade, eles sabem muito bem como fazer isso de colocar o que é novo no lugar do novo e o que é velho e colocar ali, mistura os dois e fazer o que hoje é a rádio. A rádio fez uma pesquisa muito grande no ano passado para saber quem eram de fato nossos ouvintes e o que a gente tava fazendo de errado pra conseguir entender melhor... E foi muito boa essa pesquisa pra gente, pra descobrir como a gente devia fazer… e é exatamente isso, é um trabalho muito de programação. São eles que fazem as músicas, são eles que fazem aquele, sei lá, você está dentro do carro e você fala “nossa, quanto tempo que eu não ouço isso” ou então “nossa, que
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banda boa, quem são eles?”. Então a gente tem cada vez mais feito isso. aí agora, por exemplo, a gente tem um programa muito novo, tem menos de um mês, chamado “Cidade Delivery”, entra como se fosse um menu dele as 10h da manhã, 12h ele entra no ar e você meio que pede como se fosse um “prato feito ou PFzinho” das músicas. E todo dia, de segunda a sexta, tem 2 músicas que são novas: 1 banda nacional e 1 internacional. Não vai influenciar em nada na programação, é mais para você conhecer, pra você curtir… E se você não gostar também tá valendo. Antigamente a rádio te apresentava as coisas, essa era a função da rádio. Hoje a rádio já não te apresenta tanta coisa, porque você tem um universo infinito de possibilidades. Você tem Spotify, você tem Youtube, sei lá, tem um monte de ferramentas. Então acaba que a rádio não te mostra tanta coisa porque não tem mais como te mostrar tanta coisa, não da forma que era feito antigamente. Mas, curiosamente, para o rock, algumas pessoas não procuram muito o novo. Porque o novo assusta, porque o novo não agrada… É uma discussão que a gente fica brincando de “O velho é sempre bom. Não o novo é sempre bom. Ah, então quer dizer que você prefere beber um whisky 5 anos do que beber um whisky 20 anos? Não, não é por aí… Ah, então vamos entrar num acordo!” O barato é isso, você ter um programa chamado “Cidade delivery”, que você vai conhecer 2 músicas. O legal é você ter no domingo “A vez do Brasil”, pra te apresentar bandas novas, pra você ver que o rock está em diversos lugares e que você não pode estar em todos os lugares. É por isso que você acaba não conhecendo as bandas. Você pode achar ruim? Pode achar ruim, óbvio. Não é pra você gostar de tudo. Mas é pra você pelo menos entender que existe gente fazendo música, que está fora do seu quadrado. Que as vezes a gente não enxerga mesmo, é normal. Então é assim que a rádio Cidade, hoje, apresenta as novidades para as pessoas. E eu acho que tem que ser assim mesmo, aos poucos ou se o cara já ouviu, ele vai ficar “felizão” de estar ouvindo o que ele já ouviu aqui na rádio Cidade. Eu acho que é isso.
Monique: Você citou alguns sites de streaming, e eu queria saber de você porque rádio em tempos de streaming? Pamella Renha Rádio Cidade: Porque rádio é seu companheiro. Streaming nunca vai ser seu companheiro. Streaming vai ser o cara que vai dizer assim, um slogan muito ruim. Sei lá, “Itaú feito para você” e pronto. O rádio não. O rádio é o cara que chega e fala assim: “Boa tarde, tá um solzão nesse Rio de Janeiro maravilhoso, óh o tempo hoje pode chegar a 43° então bota seu biquini e vai pra praia…” então é ele que está conversando com você
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naquele momento que tá muito stressante, todo mundo tá muito irritado. A “Hora dos Perdidos” é ótimo pra isso, porque as 17h da tarde tá todo mundo ferrado no trânsito e a gente tá ali falando um monte de bobagem sabe? E aí o cara fala “po, em uma hora passou correndo, menos uma hora de trânsito, muito obrigado”. Isso o streaming nunca vai te oferecer. O rádio é o seu companheiro e ele vai ser o seu companheiro, vai ser o cara que vai te comunicar coisas e até hoje não existe uma ferramenta que seja mais rápida do que o rádio. A internet pode ser, mas a internet não vai assim tão rápido quanto o rádio, porque o repórter vai correndo para não sei onde, mostra o que está acontecendo, por que o repórter aéreo… e a internet não tem isso. Ele obviamente pega uma maior quantidade, mas o rádio te dá aquele momento, real time e pronto, foi, acabou. E rádio é isso, é o seu companheiro. O cara que tá ali naquele quadrado mágico, saindo um som… E que você se envolve com ele.
Monique: Como acontece a interação de vocês nas redes sociais e qual o impacto dessa interação na rádio? Pamella Renha Rádio Cidade: A gente desde o início acredita que as redes sociais é o lugar onde você vai estar com o seu ouvinte. Aquele cara que ama você, que te odeia, que gosta, que não gosta, que faz tudo e não faz nada. Mas a gente precisa estar perto dele, eu preciso entender ele, eu não posso deixar ele sem resposta, eu não posso deixar ele muito bravo comigo. Óbvio que ele pode ficar bravo, mas ele não pode ficar muito bravo sem razão. Então a gente sempre priorizou muito, muito, muito, muito essa galera. E cada vez mais a gente tenta ficar mais envolvidos com eles. É uma parada que a gente faz mais porque é um lugar onde a gente pode encontra o ouvinte virtualmente. É o único lugar onde a gente pode saber quem exatamente tá ouvindo a gente. Eu preciso responder qual foi a música que ele ouviu há 2 horas atrás, eu preciso falar pra ele que a promoção acabou. Eu preciso informar. Eu não posso ignorar ele, porque eu não gostaria de ser ignorada. Acho que a gente tem sempre que pensar assim, eu não gostaria que uma empresa fizesse isso comigo. Então eu não posso fazer isso com ele. E a gente sempre teve esse carinho de explicar, por mais que possa parecer uma parada que tá na cara dele, sabe: “Pega ali a sua seta e leva até a programação, entendeu?”, o telefone do whatsapp a gente passa milhões de vezes e os caras ainda pedem, então tem que ter um carinho com essa galera, tem que mostrar de quem é o aniversário hoje, quem morreu, se saiu uma nota importante, tem que te fazer rir depois do almoço, são coisas
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assim que eu penso e como eu faço as redes sociais, então eu sempre pensei dessa forma porque eu gostaria de ver isso na minha timeline.
Monique: Quais são os novos projetos da rádio e o que vocês esperam do futuro? Pamella Renha Rádio Cidade: Eu acho que a rádio finalmente se encontrou e tá num caminho certíssimo. Acho que a gente tá indo pro caminho que a gente quer ir e que deveríamos sempre ter ido. Eu não sei, não posso te falar o que eu acho do futuro, mas acho que a gente tá mandando bem a beça, sabe? Acho que a gente tem feito tudo no maior carinho possível, nosso aniversário tá chegando, na verdade já passou, mas a festa mesmo está chegando e a gente tá trabalhando muito em cima disso pra ser um evento muito bacana não só pra gente, mas pro público também. A gente quer cada vez mais estar interagindo e fazendo parte da vida do outro porque aqui a gente sempre acreditou que o rádio é companheiro. Então, sei lá, no dia que a gente desacreditar nisso acho que a gente não vai mais ter a rádio Cidade, por que a gente faz questão disso, a gente faz questão de ouvir o seu problema. Tem uma menina que dá bom dia para a rádio Cidade todo dia, e eu todo dia dou bom dia pra ela, mando coração e ela fica muito feliz. Mas acho que é isso, a rádio Cidade é cada vez mais... é ser uma pessoa mesmo, sabe? Ser aquela pessoa que as pessoas vão gostar, que tá ali, que tá te mostrando as coisas, está tentando te ajudar na medida do possível, tá te levando pra um caminho pra você enxergar outras coisas pra você não ficar tanto tempo, batendo cabeça e falando sobre rock, rock, rock, rock… “rock é isso, rock não é isso que você tá tocando!”. Cara, hoje em dia, a gente tá no século XXI, tem vertente de tudo, tem até vertente no pagode, como é que não vai ter no rock?! A gente já tinha antes, imagina agora. Então acho que o próximo plano da rádio é esse, é ficar cada vez mais próximo do ouvinte. Compreender mais o que ele tá querendo e poder justificar, as vezes, quando falha. E acho que a gente tenta sempre ser sincero, sempre! Sempre ser sincero com o ouvinte. Então acho que esse é nosso caminho mesmo, com streaming ou sem streaming, o rádio é para você quando você está ali no carro e é seu companheiro e é isso que tem que ser.
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