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Universidade Federal Fluminense  Instituto de Arte e Comunicação Social  Departamento de Estudos Culturais e Mídia             

Monique de Souza Oliveira               

A volta da Rádio Cidade e da 89 FM A Rádio Rock:  Memória afetiva, consumo e rock'n roll                     

Niterói,   Março de 2016     

 

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Monique de Souza Oliveira       

A volta da Rádio Cidade e da 89 FM A Rádio Rock:  Memória afetiva, consumo e rock'n roll         

Monografia apresentada ao curso de graduação  em Estudos de Mídia da Universidade Federal  Fluminense como requisito parcial para o grau de  bacharel em Estudos de Mídia.            

Orientadora: Profª. Drª. Beatriz Polivanov  Co­orientadora: Profª. Drª. Simone Pereira de Sá                   

Niterói  Março de ​ 2016     

 

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Monique de Souza Oliveira     

A volta da Rádio Cidade e da 89 FM A Rádio Rock:  Memória afetiva, consumo e rock'n roll   

Monografia apresentada ao curso de graduação  em Estudos de Mídia da Universidade Federal  Fluminense como requisito parcial para o grau de  bacharel em Estudos de Mídia.     

BANCA EXAMINADORA:       

_______________________________________________________________  Profª. Drª. Beatriz Polivanov ­ Orientadora  Universidade Federal Fluminense   

   

________________________________________________________________  Profª. Ms. ​ Melina Aparecida dos Santos Silva  Universidade Federal Fluminense   

    ________________________________________________________________  Ms. ​ Luiza Bittencourt  Universidade Federal Fluminense     

 



RESUMO   

Esta  monografia  tem  como  objetivo  analisar  o  retorno  de  duas  rádios  do  segmento  musical  rock  presentes  no  dial  FM:  Rádio  Cidade  (Rio   de  Janeiro)  e  89  FM  A  Rádio  Rock  (São  Paulo),  bem  como  as  problemáticas  que  ambas  enfrentaram  durante  um  período  de  enfraquecimento   do   rock  no  mercado  fonográfico  brasileiro.  Para  isso,  observamos  como  se  deu  a  construção   do   conceito de juventude e qual a relação do gênero musical rock com esse  conceito.  A  vinda  do  rock  americano  para  o  Brasil  também  é  um  ponto  importante  para  entendermos  de  que  forma  as  rádios  surgiram  e  se  consolidaram  em  meio  à  mistura  de  gêneros  musicais  e  ao  surgimento  de  outros  movimentos  como  a  Tropicália.  Por  fim,  consideramos  o  mercado  atual  e  os  desafios  enfrentados  por  ambas  as  rádios  em  tempos  de  marketing  ​ online​ ,  webrádio  e  interação  através de sites de redes sociais, apontando os limites  e  potencialidadesdo  século  XXI, bem como as articulações entre memória afetiva, consumo e  o gênero musical / estilo de vida rock’ n roll.       

Palavras­chave:  Rádio   Cidade,  89  FM  A   Rádio  Rock,  juventude,  consumo,  rock,  memória  afetiva.   

 

 

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ABSTRACT   

This work aims at analyzing the return of two FM  radios related to the musical genre rock and  roll:  Rádio  Cidade  (Rio  de  Janeiro)  and  89  FM   A  Rádio  Rock  (São  Paulo),  as  well  as  the  problems  they  faced  during   a  period  of  weakening  of  the  genre   in  the   Brazilian  music  industry.  In  order  to  do  that  we  observed  how  the  concept  of  youth  was  created  and  its  relation  to  rock  as  a  music  genre  and  lifestyle.  The  arrival  of   Northamerican  rock  to  Brazil  i  salso  a  relevant  point   to  understand  how  the  rádios  emerged  and  consolidated  themselves   among  the  mixture  of  music  genres  and  other  movements,  such  as  Tropicalia.  Last  but  not  least,  we  consider  the  contemporary  market  and  the  challenges  faced  by  both  rádios  in times  of  online  marketing,  webradios  and  interaction  via  social  network sites, pointing to the limits  and  potentialities  of  the  21st  century,  as  well  as  the  articulations  between  affective  memory,  consumption and the music genre / lifestyle rock and roll.        

Keywords:  Rádio  Cidade,  89  FM  A  Rádio  Rock,  youth,  consumption,  rock,  affective  memory     

 

 

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AGRADECIMENTOS   

Agradeço  primeiro  aos  meus  pais  por  cada conselho, cada abraço, cada bronca e cada  gesto  de  amor.  Nada   disso  seria  possível  sem  vocês,  espero  poder  retribuir  um  dia.  Ao  meu  pai  por  ser  o  porto  seguro  da  casa.  À  minha  mãe  por  ser  o  coração   e  a  força da família. Aos  meus  amigos  de  Barueri  que  sempre  me  apoiaram  e  acreditaram  que  eu  conseguiria,  mesmo  às  vezes,  duvidando  que   eu  ficaria  tanto  tempo  longe  de  casa.  Aos  meus  amigos  cariocas  e  fluminenses  pela  receptividade  calorosa  e  por  todo o carinho. À turma de 2012.1 por serem a  melhor  turma que alguém pode ter. À professora Simone de Sá por toda a inspiração ao longo  da  graduação.  À  Beatriz  Polivanov,  minha  orientadora,  por  ter  aceitado  orientar  um  projeto  em  andamento  e  por  todo  o  carinho  e  dedicação  ao  longo  desses  meses,  com  e­mails  detalhados  e  sempre  muito  gentis.  E,  principalmente,  pela  compreensão  em  todos  os   momentos  necessários.  À  Fernanda  Soucek  por  dizer  tanto  com tão poucas palavras. À Nana  por  ser  amiga,  professora  e  estar  sempre  disponível.  À  minha  gêmea,  Brenda,  por  cada  conselho  e palavra de incentivo. À Camila, gaúcha, por cada conversa carinhosa e por sempre  estar,  sem  necessariamente,  estar.  Ao  Lionel  por  todos  os  brindes  e  conselhos  cheios  de  tranquilidade  e   sabedoria.  À  família  402:  Mineira,  Amanda,  Fabi,  Flávia  e  Manu,  pelos  momentos  inesquecíveis,  por  todo  o  afeto  e paciência que fizeram com que eu mudasse tanto  em  tão  pouco  tempo.  À  Leca,  por  ter  aparecido  no  momento  certo.  Ao  Thalles,  pela  consideração,   apoio  e  pelos  “Dias  de  Luta”.  À  Bea Bretas, por  ter tornado os  meus primeiros  anos  em  Niterói  memoráveis.  À  Ana  Enne,  pelas  aulas  maravilhosas  e  por  me  ajudar  a  encontrar  um  pouco  da  minha  consciência  social.  Ao  Antônio  Jr.  por  todas  as  conversas  e  conselhos  sábios e sempre muito carinhosos. À Luiza e à Melina por terem aceitado o convite  para  fazer  parte  da banca e, consequentemente, da minha vida acadêmica. À Pamella Renha e  ao  Rubão,  respectivamente,  da  Rádio  Cidade e da 89 fm A Rádio Rock, pela disponibilidade,  atenção  e  gentileza  nas  entrevistas  cedidas  à  mim.  A  todos  os  mestres  e  doutores  que  participaram  da  minha  graduação  e  contribuíram  com  um  pouco   do   seu  vasto  conhecimento  para  minha  formação.  A  todos  os  colegas  de  Estudos  de  Mídia  que  compartilharam  tantos  momentos difíceis, engraçados, reflexivos e determinantes.    

 

 

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SUMÁRIO   

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................8   

CAPÍTULO 1 – Rock , juventude e consumo......................................................................12  1.1 Consumo, entretenimento e juventude...............................................................13  1.2 

Rock 

enquanto 

gênero 

midiático.........................................................................16   

CAPÍTULO 2 – O rádio e o rock brazuca............................................................................21  2.1 

Breve 

história 

do 

rock 

brasileiro.........................................................................22  2.2 Por que falar de rádio quando se tem a TV?.....................................................27  2.3  Internet  e  novas  possibilidades:  webrádio,  streaming  e  sites  de  redes  sociais...........................................................................................................................30   

CAPÍTULO 3: O rock está de volta!....................................................................................34  3.1 – O lugar da memória afetiva.............................................................................35  3.2 ­ A força das rádios como lovemarks.................................................................37  3.2.1 ­ 89 FM a Rádio Rock traz os fãs de volta..........................................40  3.2.2 ­ Os fãs trazem a Rádio Cidade de volta.............................................43   

CONCLUSÃO.........................................................................................................................51   

Anexo 1 ­ Entrevista 89 FM a Rádio Rock...........................................................................54  Anexo 2 ­ Entrevista Rádio Cidade.......................................................................................60   

Referências Bibliográficas......................................................................................................67       

 

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INTRODUÇÃO   

A  89  FM  A  Rádio  Rock  (de  São  Paulo)  passou  por  um  processo  de  mudança  de  gênero  musical  de  aproximadamente  oito  anos,  enquanto  a  Rádio  Cidade  102,9  (no  Rio  de  Janeiro)  perdeu  sua  posição  no  dial  FM e  existiu apenas como webrádio de 2006 a 2013. Isso  se  deu  após  uma  temporada  de  bonança  e  consolidação  no  mercado  fonográfico  brasileiro,  relacionado  ao  gênero  musical  do  rock,  da  década  de  1980  até  o  início  dos  anos  1990.  Passado  esse  período  voltaram  à  cena,  respectivamente,  em  2012  e  2014,  com   novas  estratégias  e  com  uma  programação  diferente,  aproveitando  o  começo do que seria uma nova  fase do rock no Brasil.  O  retorno  das  rádios trouxe uma série de mudanças em suas formas de se comunicar.  Assim  como  nos  anos  1980,  as  rádios  continuam  “falando”  com  o  público  jovem.  Mas  além  de  uma  programação  mais  próxima  dos  adolescentes  e  jovens  de  hoje,  com  uma  linguagem  nova  que  segue  a  forma  de  interação  da  web  2.0,  elas  também  se  preocupam  com  os fãs que  eram  jovens  no  suposto  auge  do  rock  no  Brasil,   ou   seja,  que  acompanharam  o  início  das  rádios.  Um  bom  exemplo  de  como  isso  acontece  é  a  comunicação  nos  sites  de   redes  sociais,  através,  por  exemplo,  de  memes  que  são  criados  a  partir  de  artistas  de  ambas  as  gerações  incluindo,  assim,  os  fãs  do  início  da  rádio  e  os   fãs  atuais.  Em  muitas  das  imagens  resgata­se  uma  ligação  nostálgica  e  afetiva  com  quem  ajudou  as  rádios  a  cresceram  no  começo  de  suas  transmissões.  Nesse  sentido,  esta  pesquisa  pretende  analisar  quais  as  estratégias  de  divulgação  utilizadas  pelas  rádios  Cidade  e  89  FM, A Rádio Rock, para retornar ao atual cenário musical  recuperando  o  status   e  o  prestígio  do  passado.  A  intenção  é  discutir  até  que  ponto  suas  imagens  e  representações  como  “rádios  de  rock”  nas  décadas  passadas  foram  fundamentais  para  reatualizar  suas  identidades  musicais  em  uma  era  na  qual  a  presença  na  internet  e  a 

 



circulação  de  produtos  associados  ao  rock  (como  cervejas,  chinelos,  capa  para  celular,  entre  outros  itens  que  levam  o  nome  das  rádios)  são  essenciais  para  sua  sedimentação  no mercado  radiofônico,  pois  aproximam  os   fãs  da  marca  e  os  fidelizam  à  rádio,  tornando  ambas  1

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competitivas  em  relação  a  outros  canais  presentes  na  internet,  como  Deezer ​ ,  Spotify ​ ,  3

Youtube ​  dentre outros.  As  décadas  de   1980   e  1990  ficaram  conhecidas,  dentre  outras  características,  por  consolidarem o rock no Brasil. Segundo Dapieve (1995) apud Chagas (2010):    A  Rádio  Fluminense  (Maldita)  desempenhou  um  importante  papel  na  disseminação  do  gênero  rock   e  na  consolidação  de  uma  cena  roqueira  no  Rio  de Janeiro. Juntamente com o Circo Voador, a emissora ficou conhecida  como um  dos elos do circuito musical carioca. Boa parte da programação da  emissora  era  dedicada  ao  som  produzido  pelas  bandas  brasileiras  que  começavam  a  surgir  no  início  da   década  de  1980,  e   que  mais  tarde  formariam  o  Brock  ­  o  movimento  de  rock  nacional  dos  anos  1980  (DAPIEVE, 1995). (CHAGAS, 2010, p.41)   

Nesse  período  ocorreu  a  formação  de  bandas  cujo  sucesso  se  mantém  até  os dias de  hoje  como:  Legião  Urbana,  Titãs,  Barão  Vermelho,  Ira!,  Ultraje  a Rigor, entre outras. Diante  desse  momento  histórico  é  possível  observar  uma  pluralização  nos  meios  de  escuta  que  ajudou  a  impulsionar  produtos  relacionados  aos  gêneros  musicais  desses  meios  como  vinis,  fitas  cassete,  etc.,   ​ e  em  virtude  desse  processo  de  pulverização  do  mercado  que  surgiram  meios  alternativos  de escuta (como rádios piratas) e rádios alternativas alcançaram seu espaço  para  competir  com  quem,  até então, dominava o mercado radiofônico no Brasil, buscando em  alguns  nichos  uma  oportunidade   de  sucesso   e  solidificação.  Em  outras  palavras,  era   o   4

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underground   ganhando  espaço  e  expandindo  dentro  de  um  cenário ​ mainstream ​ .  O objetivo   ​ O  Deezer  é  um  aplicativo  grátis,  para  ​ Android​ ,  ​ Blackberry​ ,  ​ iOS​ ,  ​ Windows  Phone   e  ​ Mac  OS  que  permite  descobrir  e  ouvir músicas  de maneira bem divertida e interativa, através de um serviço de streaming. Disponível  em   . Último acesso em março de 2016.  2  ​ O Spotify  é  uma  plataforma  de  streaming de  músicas  online  disponível em versão web e para ​ Windows​ ,  ​ Mac  OS​ ,  ​ Android​ ,  ​ BlackBerry​ ,  ​ iOS​ ,  ​ Windows  Phone  e  ​ Linux  ­   Ubuntu​ .  O   serviço  tem  mais  de  30  milhões  de  músicas  e  permite   conhecer  novas  canções  e  artistas,  descobrir  o  que  os  seus  amigos estão  ouvindo  e separar  suas  músicas  preferidas  em  playlists.  Disponível  em  .  Último acesso em março de 2016.  3  ​ O  YouTube  é  o   maior  site  de compartilhamento de  vídeos  VOD  (on demand)  e  LIVE (ao vivo)  do  mundo,  totalmente  gratuito.  O  site  também  é  muito  usado  para  ​ baixar  vídeos​ ,   sem  precisar  fazer  download  de  programas.  Disponível em .  Último acesso em março de  2016.  4  ​ “Um  produto  underground  é  quase  sempre  definido como  “obra  autêntica”,  “longe do  esquemão”,  “produto  não­comercial”.  Sua  circulação  está  associada  a  pequenos  fanzines,  divulgação  alternativa,  gravadoras   independentes  etc.  e  o  agenciamento  plástico  das  canções  seguem  princípios  diferentes  dos  padrões  do  mainstream” (​ CARDOSO FILHO, JANOTTI JÚNIOR, 2006, p. 9)​ .   1

 

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deste  trabalho,  conforme  apontamos,  é  realizar uma análise dos modos e meios de divulgação  das  rádios  no  momento  de  seus  retornos,  articulando  a  isso  uma  discussão  sobre  como  a  internet  e  uma   nova  geração  de  “rockeiros”  brasileiros  afetam  diretamente  as  estratégias  utilizadas por ambas.   Para  tal  discorrerei  a  respeito  das  questões  apontadas  acima  em  três  capítulos,  organizados  da  seguinte  forma:  O  primeiro  capítulo  dedicado  a  analisar  de  que  forma  o  gênero  musical  rock  amplificou  sua  popularidade  entre  diversas  gerações  através  de  6

“tribalismos  urbanos”   que  interferem  diretamente  nos  aspectos  sociológicos  dos  produtos  midiáticos  vinculados  a  ele.  A  juventude  utilizou  o  rock  como  grito  para  se  diferenciar  em  uma  sociedade  pós  segunda  guerra  mundial,  que  direcionava  sua  indústria  e  conteúdo  midiático  para  crianças  e  adultos,  ignorando o período de transição destes,  a  adolescência e a  juventude.  A  partir  daí  o  rock  foi  percebido  como  um  nicho  na  indústria  cultural  destacado  por  práticas  midiáticas  diretamente  relacionadas  à  valorização  mercadológica  do  segmento  juvenil  até  alcançar  a  popularidade  dos  dias  de  hoje,  abarcando  mais  do  que  só  jovens  e  adolescentes. Conforme explica Chacon:  O rock é  muito  mais  do que um tipo de música: ele se tornou uma maneira  de ser,  uma ótica da realidade, uma forma de  comportamento. O rock é e se  define pelo seu público.  Que,  por não ser  uniforme,  por  variar individual e  coletivamente,  exige  do  rock  a  mesma  polimorfia,  para  que  se  adapte  no  tempo  e  no  espaço  em  função  do  processo  de  fusão  (ou   choque)  com  a  cultura  local  e  com  as  mudanças  que  os  anos  provocam   de  geração  a  geração.  Mais  polimorfo  ainda  porque  seu  mercado   basico,  o  jovem,  é  dominado  pelo  sentimento  da  busca  que  dificulta  o   alcance  ao  porto   da  definição (e da estagnação)   (CHACON, 1985, p.8.)   

Com  base  no  capítulo  anterior,  iniciarei  o  segundo  capítulo  em  terras  brasileiras  considerando  a  vinda  do  rock  para o nosso país e percorrendo sua trajetória de forma  a tentar  compreender   como  ele  chegou  ao  Brasil  e como se deu a relação dos outros gêneros musicais  e  rádios  correspondentes  observando,  inclusive,  possíveis  mudanças  e  convergências  de 

 ​ Segundo Jorge  Cardoso  Filho  (2008,  p.11)  “o  denominado  mainstream  (que pode  ser  traduzido  como  “fluxo  principal”) abriga  escolhas  de  confecção do produto  reconhecidamente eficientes, dialogando com elementos de  obras  consagradas  e  com  sucesso   relativamente  garantido.  Ele   também  implica  uma  circulação  associada  a  outros  meios  de  comunicação  de massa,  como  a  TV  (através  de  videoclipes),  o cinema  (as trilhas  sonoras)  ou   mesmo a Internet (recursos de imagem, plug ins e wallpapers).”  6   T​ ermo  utilizado  por  Janotti  Junior   (2005)  em  seu  no  texto  “Mídia,  Cultura  Juvenil  e  Rock  And  Roll:  Comunidades, Tribos e Grupamentos Urbanos”.  5

   

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gêneros  que  transformaram  a  música  brasileira  em  relação  ao  ritmo  (até  então)  estrangeiro,   assim  como  o  rock  em  relação  aos  ritmos  e  sons  do  povo  tupiniquim.  Podemos  citar  aqui  portanto  o  manguebeat  e  o  samba  rock  como  exemplos  de  gêneros  filhos  dessa  mistura  musical.  Foi  nesse  momento  também  que  surgiu  o  Brock  e  não demorou muito para que esse  nicho  de  mercado  ganhasse  força  e  os  fãs  começassem  a  ditar um mercado novo e  foi com o  fortalecimento  dessa  conjuntura  que  as  rádios  Cidade  e  89  fm  foram  criadas,  com  a  necessidade  de  canais  específicos do gênero tendo como parâmetro toda a aura que envolvia o  rock  desde  o  seu  nascimento  e  os  signos  que  ele  carrega.  É  preciso esclarecer que nem todos  os  gêneros  advindos  da  convergência  do  rock  com  alguns  gêneros  nacionais  eram  considerados  rock  e/ou   faziam  parte  dessa  programação  musical  de  nicho,  por  isso  é  importante  trazer  essas  informações  para  pontuar  a  força  que  esse  tipo  de  música  e  seus  fãs  trouxeram ao nosso mercado musical, incluindo relação de consumo e interatividade.   No  segundo  capítulo  apresentarei  também,  assim,  uma  breve  história  dasrádios  considerando  o  cenário  tecnológico  do  momento  em  que  a televisão começa a tomar parte do  espaço  do  rádio  entre  os  consumidores,  por  oferecer  imagem  além  de  áudio,  e  traçarei  um  paralelo  com  os  dias  atuais  quando  temos  o  terceiro  elemento  nessa  disputa:  a  internet.  Observando  não  só  o  caminho  percorrido  por  ambas  até  século  XXI,  mas  também  as  dificuldades  encontradas  em  relação  às  limitações  do  meio  de   comunicação  em  questão  e  às  soluções  encontradas   dentro  das  respectivas  estratégias  para  fidelizar  o  público.  Estratégias  essas  que  chegam  até  a  webrádio  e  os  sites  de  redes  sociais,  enfrentando  agora  não  apenas  a  TV,  mas  também  os  sites  que  oferecem  músicas  em  outros  formatos  como  streaming  e  sites  de vídeo como Youtube, Vimeo, etc.   O  que  nos  leva  ao  terceiro  capítulo,  no  qual  foram  observadas  as  estratégias  das  rádios  Cidade  e  89  fm  enquanto  novas  rádios  de  rock,  inaugurando  um  segmento  do  rádio  e  criando  diversas  formas  de  interação  específicas  através  dos  sites  de  redes  sociais,  apelando  para  uma  ideia  de  memória  afetiva  dos  ouvintes  antigos.  Para  tal  foram  realizadas  duas  entrevistas,  com  um  programador/a  de  cada  uma  das  duas  rádios,  além  da  observação do seu  discurso  no  dial FM, site próprio (webrádio) e sites  de redes sociais.  Esperamos, desse modo,  contribuir para os estudos sobre rock, consumo, juventude e memória afetiva.    

 

 

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CAPÍTULO 1  Rock, juventude e consumo     Falar  em  rock  sem  pensar  em  juventude  e  consumo  é  como  construir  um  avião   sem  asas  e  sem  motor.  O  grande  impulso do gênero musical denominado rock’n roll, nascido para  alguns  em  meados  dos  anos  1950,  configurou­se  pela  figura  do  jovem  e  suas  necessidades  e  desejos.  Assim  como  o  rock  foi  o  braço  estendido  para  a  juventude  dar  o  primeiro  passo  na   direção  da  força  que  tem  hoje.  Sabe­se  que  os  jovens  nem  sempre  foram  representados  ou  “tiveram  voz”  na  cultura  popular  da  sociedade  ocidental.  O  reconhecimento,  ou  melhor,  a  construção  da  juventude   ­  concepções  contemporâneas   ­  é,  historicamente,  recente  e  tem  como  grande  marco  o  fim  da  segunda  guerra  mundial  (LIPOVETSKY,  2007).  Até  então  esperava­se  um  comportamento  adulto  logo  após  a  infância,  que  acabava  entre  os  10  e  12  anos  de  idade.  Com  o  ​ boom  econômico  da  época  e  consequentemente  o  surgimento  de  uma  nova  classe  de  consumidores  advinda  de  uma  geração  que  havia  sobrevivido  à  guerra,  foi  construída  uma  noção  de  “jovens”, que os atrelava a uma certa ideia de estilo de vida ligado à  rebeldia, liberdade, beleza e modernidade, ocupando um lugar entre fascínio e ameaça.   Um  dos  passos  importantes  para  essa  mudança  que  criou  uma  nova  classificação  para  a  idade  entre  13  e  19  anos  veio  aos  poucos  através  da  pu​ blicidade,  que  trazia  atores  e  atrizes  jovens  relacionados  aos  seus  respectivos  produtos  e  os  elegiam  como  público­alvo.  Não  apenas  a  publicidade,  como  também  diferentes  veículos  midiáticos  passaram  a  reforçar  tais  valores  atrelados  à  juventude.  Nos  Estados  Unidos  da América, por exemplo, foi lançada  em  1944  a  revista ​ Seventeen (ou, em português, Dezessete),  direcionada especificamente para  jovens  mulheres  que  estavam  na  fase  no  colégio.  Para  Jon  Savage,  ​ autor  de  ​ England's  Dreaming:  Sex  Pistols  e  ​ Teenage:  The  Creation   of  Youth  1875­1945​ ,  foi nessa mesma época  que  surgiu  o  termo  adolescente  em  inglês  –  ​ teen  –  que  vem  da  última  sílaba  dos  números  correspondentes à idade que compreenderia a adolescência, dos 13 aos 19 anos.  Esse  mesmo período é tido como um marco para o rock. Após seu início sucedido do  R&B  (rhythm  &  blues),  ritmo  de  música  tocada,  principalmente,  por  negros  americanos,   “acrescido   da  guitarra  elétrica  e  uma  roupagem  mais  urbana  dos  brancos;  com  o  Country&Western”  (CASTANHO,  2013,  p14)  o  rock  foi ganhando adeptos por ser diferente   

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daquilo  que  se  ouvia  naquele  tempo  e  nomes  como  Bill Halley, Little Richard, ​ Sister Rosetta  7

Tharpe   e  Chuck  Berry  foram  surgindo.  Com  o  passar  do  tempo  o  gênero  musical  foi  ganhando  formas  e  estilos  diversos,  e  para  se  popularizar  de  vez  foi  preciso  um  rosto,  de cor  8

branca   (não  temos  como  ignorar  o  preconceito  daquela  época),  jovem  e  carismático…  sim,  era  o  surgimento  de  Elvis   Presley.  Essa  personalidade  causou  uma  euforia  coletiva  entre  os  jovens  e  trouxe  junto  com seu  jeito de cantar e dançar, herdado dos negros, uma libertação do  corpo  que  não  existia  até  então.  Uma  forma  libertadora  de  dançar  e  curtir  a  vida,  ouvindo  rock.  Paralelo  a  tudo  isso,  a  indústria  e  o  comércio  da  época  aproveitou  a  situação  e  foi  moldando  o  que  mais  tarde  se  transformaria  em  um  nicho  de  mercado,   feito  para  essas  pessoas  que  não  eram  vistas   nem  como  crianças,  nem  como  adultos.  A  partir  dessa  concepção,   iniciou­se  a  criação  de  um  estilo  próprio  para  os  jovens  roqueiros,  atrelando  o  gênero  musical  conjuntamente  à moda e a um consumo específico relacionado à identificação  social,  política  e  à   rebeldia.  Devido  a  essas  modificações  o  rock  já  não  era  mais  apenas  um  estilo  musical,  mas um modo de viver e, mais do que  isso, uma maneira de conceber o mundo  ao seu redor.   

1.1 Consumo, entretenimento e juventude   

Alguns  pensadores  e  acadêmicos  definem  a  sociedade  contemporânea  como  uma  sociedade de consumo. Uma sociedade na qual consumir tem mais significados do que apenas   “sumir com” certos objetos. Os objetos de consumo vão desde os mais necessários aos mais   supérfluos, dos palpáveis aos simbólicos.    Após  a  revolução  industrial,  por  volta  do  final  do século XIX, houve uma mudança  significativa  nos  padrões  de  consumo  da sociedade ocidental. Ainda tinha­se  como referência  a  corte  europeia,  que,  ao  consumir  determinados  produtos  e  gerar  certas  características  de  comportamento,  influenciava  os  hábitos  e  gostos  de  outras  parcelas  da  sociedade,  gerando  padrões  de  valores.  A  partir  da  revolução  industrial,  criaram­se  outros  padrões  e  a  produção  dos  produtos  passou  a  ser  feita  em   série.  Assim  como  usava­se  a  realeza  como  referência no  século  anterior,  do  início  para  o  meio  do  século  XX  ocorreu  uma  mudança  na  forma  como a 

 ​ Guitarrista e uma das pioneiras do rock, é lembrada sempre como madrinha do gênero, apesar de ter começado  a tocar muito antes do nascimento do rock em si.   8  ​ Bill  Halley  também era branco, mas não conquistou  o público como Elvis,  pois não tinha o mesmo carisma e a  mesma desenvoltura que Presley em frente as câmeras e nos palcos.   7

 

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sociedade  se  percebia  e  abriu­se  espaço  para  o  que  seria o nascimento da juventude e de uma  cultura do consumo mais próxima aos moldes contemporâneos.  Segundo  Elizara  Carolina  Marin:  “o  entretenimento  passou  a  ser  uma  mercadoria  valorizada  pela  sociedade  regida  pelo  capital.”  (MARIN,  2009,  p.1).  E  não  podemos  negar  que  o  ​ boom  econômico  dessa   época  influenciou  as  pessoas  a consumirem mais e aumentou  o   gosto  por  diversão  de  uma  sociedade  recém  saída  de  uma  segunda  guerra  mundial.  A  mídia  tomou  as  rédeas  da  cultura  do  entretenimento,  somando­se a isso a uma sociedade jovem que  tinha  poder  aquisitivo  para  consumir  e  que  precisava  se  sentir  independente,  livre,  e  aproveitando  de  certo  modo  para  rearfirmar  os  interesses  do  mercado  diretamente  ligados ao  capitalismo.  Mais  do  que  isso, a indústria preciava vender. Nesse sentido, a cultura  de massas  9

encontra­se diretamente associada a uma lógica fordista  de produção e também ao marketing.  Este  tem  como  alguns  de  seus   objetivos  criar  uma  ilusão  de  necessidade  de  determinado  produto  e  a  ideia  de  que  se  precisa  ter  determinado  produto  para  ser  alguém  completo  e/ou  estar  inserido  em  algum  meio  social.  Essa  lógica  estaria  relacionada   à  própria  produção  em  série,  pois  era  necessário  convencer  um  grande  número de pessoas de que elas precisavam de  certo  produto,  ou  seja,  era  importante  criar  uma  demanda  que  pudesse  dar  vazão  aos  objetos  fabricados de forma massiva.   Nesse  processo  o  mercado  se  expandiu  e  se  tornou  possível  encontrar  diversos  produtos  relacionados  aos  ​ teenagers,  ​ incluindo  nessa lista filmes, livros, discos, dentre outros  produtos  ligados  ao  entretenimento.  Isso  fez  com  que  espaços  fossem  abertos  e  direcionados  para esse mesmo público, como por exemplo,  danceterias.  Elvis  Presley  foi  um  grande ícone dessa sociedade que estava se moldando à base do  10

entretenimento ​ ,  mas  ele  não  estava  sozinho  nessa  influência  entre  os  jovens.  O  rei  do  rock  era  quem  comandava  boa  parte  do  estusiasmo  jovem  com  a  música  em  sua  época.  Além  da  11

própria  esfera  musical,  no  cinema  atores  como  Marlon  Brando   –  que  após  o  filme   “Uma  Rua  Chamada  Pecado”   (1951)  já  havia  “ditado  moda”  sobre  o  traje  adolescente  rebelde  –  e 

 ​ Fordismo é o nome dado ao modelo de produção em massa, instituído pelo norte­americano Henry Ford.   ​ Um dos exemplos de sua influência em hábitos de consumo está relacionado à calça jeans. Bastou um anúncio  da marca Levi Strauss & Co. (atual Levi's®) estrelada por ele para que o jeans virasse um símbolo do rock e de  toda a rebeldia em torno dele.  11  ​ O impacto  de  seu  personagem  e  do  próprio ator  foram tais que a camiseta, que era até então considerada  uma  peça  de  roupa  de  baixo   e  era  muito  utilizada  por  ele,  tornou­se  peça  indispensável  do  estilo  rebelde  dos   roqueiros posteriormente.  9

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James    ​ Dean – após o sucesso do filme “Juventude Transviada” (1955) – ajudaram a construir  ideais de jovens belos, rebeldes e livres.   

Figura 1 ­ Marlon Brando 

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(Fonte: Site da Revista Moviola)     13

Os  ​ teenpics   viraram  mania  entre  os  jovens  e  fizeram  muito  sucesso.  Até  o  “rei  do  rock”  se  rendeu  a  eles  e lançou, após os aclamados filmes de Marlon Brando  e James Dean, o  seu  primeiro  (e  bastante  conhecido)  filme  que  leva  o  nome  de   uma  de  suas  baladas  mais  conhecidas, ​ Love me Tender​ .   Assim,  elementos  como  a  calça  jeans,  a  camiseta  e  a  jaqueta  de  couro  foram alguns  dos  produtos  que  faziam  com  que   se  comunicasse  um  certo  sentido  de  ser  jovem  e  ser  rebelde,  apropriados  pelo  rock.  De  certo  modo  eram  necessários   em  um  processo  de  criação  de  identificação.  É  importante  frisar  que  essa  identificação  não  é  apenas  material,  mas  também  de  ordem   simbólica  e  ideológica.  É  uma  questão  de  posicionamento,  caráter  e  visão  de  mundo  que  se  percebem  por  esses  signos  materiais,  para  além  da  música. Com isso quero  apontar  o  quão  interessante  é  perceber  que  o  rock  se  construiu  num  momento  em  que  o 

 ​ Disponível em:  Acesso em jan. 2016.    Gênero cinematográfico que dava nome aos  filmes feitos  para o adolescentes e jovens nos Estados Unidos dos  anos 1950.  12 13

   

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conceito  de  juventude  estava  nascendo  e  foi  se  apoiando  na  rebeldia,  em  conjunto com esses  jovens, mas dentro da lógica industrial mercadológica.   Nesse  sentido,  os  meios  de  comunicação  se  mostravam  fundamentais  nessas  construções  de  uma  juventude  norte­americana  e  isso  influenciou  diretamente  a  formação  dessa  geração.  O  “empoderamento”  foi  tanto  que  o  que  esses  ícones  da  juventude  ditavam  virava  moda  e  influenciava  o  resto  do  mundo  ocidental,  que  tentava  copiar  ou  se  adequar  àquilo.  Um  dos  principais meios de disseminação dessa  cultura do entretenimento era o rádio,  por  ser  um  veículo  fácil  de  transportar,  com  aparelhos  portáteis,  e  ser  também  uma  resposta  rápida  à  uma  geração  que  buscava  mais  informação  e  diversão.  Ele  levava,  junto,  claro,  à  televisão,  o  rock  aonde   os  jovens   estivessem,  e  ainda  proporcionava  a  eles uma  ideia de “dar  voz” aos mesmos.  De  todos  os  produtos  midiáticos,  a  música  talvez  fosse  a  mais presente no cotidiano  dos  jovens,  pois  além  do fácil acesso, trazia uma identificação com as  letras e artistas, através  de  shows,  discos,  revistas.  Em  sua  tese  “Jovem  Guarda:  A  construção  social da juventude na  indústria  cultural”,  Marcelo  Garson  (2015)  afirma que só é possível falar de música  feita para  jovem  se  esse  indivíduo  for  reconhecido  enquanto  tal.  No  caso  do  rock,  argumentamos  que   ele  só  existe  enquanto  música  popular  massiva  quando  o  conceito  de  juventude  já  estava  em  plena consolidação. E, como aponta Luís Fellipe F.  Afonso:    Junto com a música, há  a divulgação em larga  escala de todo um movimento  cultural  realizado  por  e   pensado   para os jovens, em várias mídias: cinema,  artes  plásticas,  grafite,  música,  jornais,  livros,  artes  visuais  etc.  Um  fotógrafo   jovem  produz  a  capa  de  um  disco  de  uma banda jovem  de  rock,  que  por  sua  vez  é  analisada  por  um jornalista  jovem e  utilizada num filme  sobre  a  juventude.  Fecha­se  um   ciclo  onde  as  atividades  de  produção,  divulgação,  análise e  consumo são realizadas  pelos  jovens, que  se  mostram  um forte nicho consumidor e produtor de cultura.   (AFONSO, 2015, p. 3)     

1.2 Rock enquanto gênero midiático   

Em  seu  texto  João  Freire  Filho  e  Fernanda  Marques Fernandes (2005) destacam que   a  concepção  de  cena  musical  está  ligada,  dentre  outros  fatores,  à  interação  entre  sujeitos  em 

 

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uma  determinada  localidade   e  à  própria lógica de comércio  e produção local de música. Isto  é,  o  rock,  assim  como  outros  gêneros  de  música  popular,  não  devem  ser  entendidos  apenas  como  estilos  musicais,  apenas  por  seu  viés  estético,  mas  também  por um viés mercadológico  e  midiático  (​ JANOTTI  JÚNIOR.   2006)​ .  Nesse  sentido,  deve­se  ter  em  mente  que  a  própria  criação  de  um  gênero  musical  está  relacionada,  dentre  outros  fatores,  às  “tentativas  abrangentes  das  indústrias  fonográficas  de  tornar  a  música  mais  lucrativa,  ao  segmentá­la”  (GROSSBERG 1994, p. 46 apud FREIRE FILHO E FERNANDES, 2005, p. 6). 

 

  Inicialmente, é  necessário  esclarecer que  não  existe  apenas um tipo de rock.  O  que  se  conhece  hoje  por  rock  é  uma  construção histórica.  Como gênero  musical ou  manifestação  cultural, não pode ser visto como algo homogêneo.  Existem vários rocks,  várias  vertentes, várias formas  de  fazer,  de ouvir e de  assimilar. Mesmo  com os primeiros artistas  e primeiras bandas, não se pode  tomar  como  algo  concreto,  único.  Deve­se  analisar  dentro  das  particularidades de cada grupo musical, de  cada música considerada rock, de  cada receptor do  som e  das imagens.  O próprio  termo  “rock” foi construído  alguns  anos  após  serem gravadas as  primeiras músicas que hoje  recebem o  termo.​  ​ (BAENA, 2015, p. 1) 

Nesse  processo  de  segmentação  da  música foram / são fundamentais  os suportes que  15

vão  permitir  sua  gravação,  reprodução  e  consumo,  tais  como  os  LP’s   por  exemplo.  A  indústria  fonográfica  se  utilizava  das  rádios para disseminar certas músicas, que poderiam ser  consumidas  posteriormente   inúmeras  vezes  através  dos  LP’s.  Esse  movimento fazia com que  as  pessoas  criassem  uma  memória  afetiva  com  essas  músicas  e  elos  sociais  entre   grupos  fossem  construídos  em  parte  a  partir  da  identificação  e compartilhamento de gostos e valores  em comum.  Para  além  dos  suportes  midiáticos,  certos  agentes  humanos  serão  fundamentais para  a  consolidação  dessa  indústria,  tal  como  apontamos  acima.  Nesse  sentido,  o  surgimento  de  bandas  e  artistas  como  The  Beatles,  Rolling  Stones  e  Pink  Floyd  podem  ser  vistos  como  grandes  símbolos  do  rock  não  apenas  por  seus  valores  e  capacidades  técnicos,   estéticos  e  ideológicos, mas também de afetação e mercadológicos.  Indo  além  dos  suportes  e  sujeitos,  são  importantes  também  para  entender  a  construção  do  rock  os  festivais  de  música. Na década de 1960 aconteceu o famoso festival de 

 ​ Até  por  isso  há  uma  grande  ligação  do  rock e suas respectivas cenas musicais com os centros urbanos, pois a  indústria está intimamente ligada a esses espaços.  15   Long­Play  (em  português  “longa  duração”) era  chamado  assim  por  ter  mais  tempo de  gravação  que  o  disco  compacto, seu antecessor que só comportava uma música de cada lado.  14

 

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Woodstock  que,  definitivamente,  foi  um  marco  na  história  do  rock,  dos  jovens  e  do  movimento  hippie  que  nascia  em   meados  de  1966  e  era  fruto  do  que poderia ser considerada  uma  “primeira  leva  de  roqueiros”.  Foi  um  marco  cultural  na geração que iniciou o rock e nas  mudanças  entre  alguns  dos  seguidores  do  gênero.  Foi  um  festival  feito de modo improvisado  e  talvez  exatamente  por  isso,  junto  a  outros  fatores,  é  lembrado  e   citado  até  hoje  por  muitos  (inclusive  por  essa  que  vos  escreve)  como  uma  referência  de  evento  cultural  transformador  feito  pelos  jovens  para  os  jovens.  Segundo  Rivello:  "O  festival  é  a  base  de  um  processo  sociocultural  que  se  desenrola  por  anos  nessa  sociedade  de  maneira  conflituosa  e  se  materializa  ou  tem  seu  desfecho  metaforicamente  na  presença  de  um  público  ávido  por  mudanças  estruturais"  (RIVELLO  apud  MARIUZZO  2009,  p.  60)  e  foi  nesse  processo  que  nasceu  o  movimento  hippie.  Um  movimento  que  trazia  talvez  menos  rebeldia  que   o   rock  da  década  anterior  e  pregava  a  paz  e  o  amor  como  protesto  contra  as  guerras,  principalmente  a  do Vietnã, que estava acontecendo naquele momento.   E,  seguindo  o  estilo  hippie,  o  festival  acabou  gerando  tensionamentos  e  questionamentos  sobre  a  indústria  cultural,  uma  vez  que,  apesar  de  ter  vendido  muitos  ingressos,  quando  o  público  começou  a   chegar,  devido  à  grande  quantidade   de  pessoas  que  dali  se  aproximava,  os  organizadores  resolveram  torná­lo  gratuito.  Esse  grupo,  literalmente,  derrubou  as  cercas.  Era  para  ser  algo  extremamente  lucrativo  e  acabou  se  tornando  algo  inexplicavelmente  único  pelas  experiências  e  pelo  que  parecia  ser  o  início  de  uma  nova  era.  Mais  tarde  o  festival  foi  eternizado  em  um  filme,  e  acabou  recuperando  os  lucros  para  os  organizadores.   A  década  de  1960  pode  ser  considerada,  portanto,  de  transformação,  ajudando  a  construir  uma  ideia   do   que  seria  o  rock,  e  o  que  ele trazia consigo, significava. Com o passar  das  décadas,  muitos  dos  símbolos  e  valores  criados  nesta época ao redor ou a partir do rock e  seus  agentes  se  mantiveram.  Esses  símbolos  criados  em  torno  do  rock  por  uma  cultura  do  consumo  em  um  sistema  capitalista  em  expansão  eram  tão  fortes  que,  além  de  proporcionar  um  crescimento  de  público  e  fãs  do  gênero,  perpetuaram  por  anos  uma  memória  afetiva  que  dura  até  hoje.  Além  de  estar  diretamente  relacionado  com  essa  necessidade  de  fazer  parte de  um coletivo com a mesma identidade social. 

 

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Desde  então o rock, não enquanto gênero musical, mas enquanto estilo de vida, ficou  atrelado  a  uma  ideia  de  juventude.  Não  apenas  juventude  enquanto  período  da  vida,  faixa  16

etária, mas como um ethos ​  da própria modernidade (ENNE, 2010).    

 

Talvez  o  conceito  que  permita  alinhavar  de  forma  mais  clara  essas  duas  formas culturais  de vivenciar  personagens públicos seja  o de estilo  de  vida.  Max  Weber  (WEBER,  2000)  e  Georg  Simmel  (SIMMEL,1971)  já  chamavam  a  atenção  para  o  caráter  significativo  das ações  sociais, em que  os  atores  sociais  desempenhariam  seus  papéis  em  jogos  interativos.  Uma  ação  social,  ou  uma  sociação,  nos  termos  simmelianos,  seria  sempre  simbólica, requerendo esforço interpretativo,  ou compreensivo, da parte dos  envolvidos  em  cada  processo  relacional.  Dessa  forma,  muitos  elementos  seriam  acionados,  signos  em  processo  de  significação,  permitindo  maior  complexidade  nesse  jogo  hermenêutico.  Formas  de  estar  no   mundo,  de  “fazer  com”,  estariam  em  consonância  com  visões  de  mundo.  Assim,  o  ethos,  o  estilo  de   vida,  estaria  fortemente  relacionado  com  o  eidos,  permitindo  que  os   sujeitos,  historicamente,  por  meio  de  seus  modos  de  viver,  materializassem  suas  concepções  acerca  desse  estar e  ser  no mundo,  construindo sistemas hierárquicos e valorativos.​  ​ (ENNE, 2010, p.18) 

E  para  tal  construção  simbólica  foram  fundamentais  objetos,  experiências  e  mídias  que as comunicavam materialmente:     Tratam­se  dos  grafites  em  Maio   de  68  (França),  os  cartazes  em  diversas  revoltas  juvenis,  o teatro de guerrilha, os  sit­ins, love­ins, teach­ins, festivais  hippies,  festivais  de  rock,  experiências  coletivas  com  drogas,  experiências  místicas,  show  de  luzes  psicodélicas,  shows   multimídias,  imprensa  underground,  psicodramas coletivos em instituições culturais ocupadas pelos  movimentos  juvenis,  arte  gráfica,  canções  provocativas  nas  manifestações  etc.  Formas  em  que  a  participação,  além  de  real,   deveria  ultrapassar  as  barreiras  do  convencional,  do  racional e do “audiovisual”:  deveria  ser uma  participação emotiva, prazerosa, “espiritual” e “profunda”. (GROPPO. 2001,  p.2)   

É  importante  observarmos  que  a  indústria  cultural  e  os  veículos  midiáticos  eram  (e  são)  consumidos  e  ao  mesmo  tempo   contestados  pelos  jovens.  Ainda  que  os  jovens  contestassem  tanto  a   indústria   do   entretenimento  e  o  sensacionalismo  que  ele criava ao redor  deles,  eles  continuavam  consumindo  seus  produtos  e,  consequentemente,  renovando  aquela  mesma  indústria.  Era   um  ciclo  que  só  alimentava  e  expandia  as  atividades  no  mercado 

 ​ Conjunto dos  costumes  e hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento (instituições, afazeres etc.) e da   cultura (valores, ideias ou crenças), característicos de uma determinada coletividade, época ou região.  16

   

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cultural.  Quanto  mais  nichos  musicais  e  de  estilos  se  criavam,  mais  esse  movimento  de  consumo e entretenimento crescia.   Isso  se  relaciona  diretamente  com  os  embates  que  se  dão,  por  exemplo,  entre  ser  underground  e  ​ mainstream  (JEDER,  2006),  entre  ser   alternativo  ou  popular,  consumidor  primordialmente  de  nicho  ou  de  hits   (ANDERSON,  2006).  Isto  é,  ainda  que  se  faça  parte de  uma  comunidade  de  nicho  de  mercado,  se estará dentro do mercado consumindo os signos  de  cada identidade coletiva. Segundo Cardoso Filho e Janotti Jr. (2006):    A  sua  natureza  dependente  das  formas  de   armazenamento  e  distribuição  midiática.  Mesmo  um  gênero  musical  de  circulação  segmentada,  como  o  Heavy  Metal  ou  a  música  eletrônica,   vai  empregar  estratégias  de  configuração  midiática  similares  aos  empregados  num  gênero  musical  mainstream  como  a  música popular urbana e embora esses  subgêneros  não  circulem  no  cinema  hollywoodiano  e  na   TV  aberta,   ele  certamente  é  impulsionado  pelos  webzines  de  Heavy  Metal   ou  pelas  comunidades  de  ouvintes  de  música  eletrônica  na  Internet.  O  fator  que  permite  uma  diferenciação  mais  clara  de  ambos  é  o  grau  de  distanciamento  entre  condições de  produção e reconhecimento identificados no produto, pois uma  boa  parcela  do  que  é  chamado  independente  ou  underground  no  terreno   musical  está  diretamente   relacionado  a  uma  aproximação  entre  suas  condições  de  produção  e  reconhecimento,  ao  passo  que  o  mainstream  se  caracteriza  por possuir  uma exacerbada distância  entre essas condições. Não  obstante  essa  diferenciação,  tanto  underground  quanto  mainstream  são  estratégias de posicionamento frente ao mercado fonográfico e ao público.  (​ CARDOSO FILHO, JANOTTI JÚNIOR, 2006, p. 9­10)     

Dessa  forma,  o  rock  cresceu  se  dividindo  e  se  consolidando.  Dividindo­se  para  permitir  a  criação  de  diversos  estilos  e  subgêneros  musicais  dentro  dele,  além  das  apropriações  criadas  para  além  dele,  gerando  outros  gêneros  musicais  diferentes.  Enquanto  música  de  massa  ele  é  marcado  por  disputas  simbólicas  atravessadas  pelos  meios   de  comunicação de massa, dentre os quais destacamos neste trabalho o rádio.          

 

 

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CAPÍTULO 2  O rádio e o rock brazuca     

O  rock  chegou  de  fato  ao  Brasil  quase uma década depois do lançamento nos Estados  Unidos  com  Elvis  Presley  e  toda  ideologia  em   torno  do  gênero  musical. Como mencionei no  capítulo  anterior,  falar  em  rock  é  ir  além  da  música,  é  pensar  a  sociedade,  sua relação  com o  mundo  e  seus  princípios  e  valores.  Ademais,  o  rock  nasceu  nos  EUA  concomitantemente  ao  início  de  uma  tentativa da juventude de se estabelecer como tal, atrelado as ideias de rebeldia,  modernidade  e  contracultura.  No  Brasil  não  foi  diferente  nesse  aspecto.  O  momento  político  do país não era bom e já anunciava o início do Golpe de 1964 que instituiu o regime militar.   O  rock  foi  uma  das  forças  dos  jovens  da  época  para  lutar  contra  esse  cenário hostil e  mostrar  a  potencialidade  de  resistência  e  luta da juventude. Nomes  como Erasmo Carlos e Os  Sputiniks  (com  Tim  Maia)  iniciaram  essa  que  seria  a  primeira  onda  roqueira  em  terras  brasileiras  e  em  breve  se  tornaria  a  Jovem  Guarda,  além  de  outros  como Raul Seixas que era  bastante  direto  em  suas  músicas  e  não  temia  a  censura.  No  começo,  a   relevância  do  rock  no  cenário  musical  brasileiro  foi  questionada  por  grandes  nomes  da  música  nacional  pois  ia  contra o intenso nacionalismo  que o regime militar propunha (CASTANHO, 2013, p.15). Mas  independentemente  disso,  ganhava  cada  vez  mais  força  com  uma  indústria  fonográfica  que  lucrava  com  essa  conjuntura  e  com  uma  juventude  que  se  sentia  enquanto  empoderada  e  estava  disposta  a  defender  o  gênero  musical  que  se  identificava  com  o  estilo  de  vida  que  ser  roqueiro  poderia  lhe  proporcionar,  fundamentado  num  encantamento  criado  a  partir  da  própria indústria.   O  rádio  já  havia  chegado  ao  Brasil  muito  antes,  em  meados  da  década  de  1920,  através  da  estação  Westinghouse  instalada  no  Corcovado,  Rio  de  Janeiro,  (SAROLDI  E  MOREIRA,  2005,  p.  17).  Com  a  difusão  do  rádio  em  terras  brasileiras,  ficou  mais  fácil  divulgar  qualquer  produto  e/ou  notícia  pelo  país.  Mas,  principalmente,  fortalecer  a  cena  musical  nacional.  Isso  fez  com  que  a  população  mudasse  sua  relação  com  o  rádio  e  com  a  música  de  uma  maneira  geral.  Agora  era  possível ouvir música constantemente, e não apenas  em alguma ocasiões (CHAGAS, 2010, p. 25). Foi um processo de desconstrução que envolvia 

 

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torná­la  mais  popular  e,  além  disso,  transformá­la,  aos  poucos,  em  produto.  Algo  que  era  consumido corriqueiramente e fortalecia o mercado fonográfico.    Com   uma  programação  constituida   majoritariamente  pela  execução  de  músicas,  as  emissoras  do   tipo  FM   se  consolidaram  como  vitrines  para  a  indústria  fonográfica,  atuando durante décadas como importantes mediadora  musicais,  articulando  cenas,  dando  visibilidade  a  artistas  e influenciando  a  constituição de repertórios de seus ouvintes.​  ​ (CHAGAS. 2010, p. 4)     

Passado  o  período  de  consolidação  do  rock  e  suas  tantas  mutações  sonoras  em  um  longo  período  de  estabilidade  para  a  indústria  fonográficas,  passamos  por  um  período  conturbado  para   o   rock  no  Brasil  que estava perdendo forças em razão do consumo de outros  estilos  musicais  e,  enfim,  chegamos  ao  século  XXI  que  trouxe  consigo  uma  tecnologia  mais  avançada  e novas formas de consumo musical. O advento da internet causou uma necessidade  de  adaptação  por  parte  das  rádios  e  do  mercado  fonográfico  que  até  hoje  está  buscando  a  melhor  forma  de  se  encaixar  nesse  sistema  do  qual  se  espera   agilidade  e  inovação  de forma,  quase  sempre,  gratuita.   Por  outro   lado,  a  internet  proporcionou  uma  nova  oportunidade  para  algumas  emissoras  de  rádio  se  reinventarem  e  é  cada  vez  mais  usada,  em  suas  diversas  possibilidades, para prender o público à programação.   

2.1 Breve história do rock brasileiro   

  A  chegada  do  rock  no  Brasil  aconteceu  no  final  da  década  de  1950,  mais  ou  menos  no  mesmo  período  em  que  o  gênero  começou  a  ser  disseminado,  após  o seu início nos EUA,  em  todo  o  mundo  inclusive  para  os  jovens  na  Inglaterra  que  assistiam  o  início  de  grandes  bandas  como  The  Beatles e Rolling Stones. Mas foi na década seguinte, 1960, que começou a  ser  melhor  aceito  em  terras  brasileiras,  conquistando  um  pouco  de  espaço   entre  os  estilos  musicais  populares  aqui,  como  o samba, por  exemplo. Assim  como nos EUA e no restante do  mundo,  também  foi  um  estilo  e  gênero   musical  liderado  pelos  jovens  e  para  os  jovens.  A  maior  parte  deles  brancos  e  de  classe  média  alta,  uma  vez que tinham facilidade de acesso às  tecnologias e maior possibilidade de adquirir algum instrumento musical.    A  princípio,  o  Brasil  não  recebeu  bem  o  rock.  Porém,  não  apenas  por ser  cantado em  uma língua  estrangeira ou  por seu  ritmo agitado. O rock  não foi  bem recebido devido ao fato de estar fora de seu contexto original. No Brasil   

23  da década  de  1950,  o rock não fazia  sentido.  O rock surgiu para representar  as  manifestações  de uma  classe  social  marginalizada nos Estados Unidos. A  classe  marginalizada  em  questão  no  Brasil  também  difundiu  uma  cultura  própria.  Primeiramente,  ambos  os  países  tentaram  reprimir  seu  respectivo  ritmo  musical:  os  Estados  Unidos,  o  rock;  o  Brasil,  o  samba.  ​ (BAENA,  2015, P.17)   

Contudo,  se  por  um  lado  fazer  as  próprias  músicas  de  rock  era  difícil  e  pouco   acessível,  por  outro  disseminá­lo era bem mais fácil. Quando o rock chegou ao Brasil, o rádio  já  estava  consolidado  como  tecnologia  cotidiana  na  vida  das  pessoas.  Já  havíamos  iniciado  um  movimento  em  direção  a  uma  cultura  musical  dentro  daquela  sociedade  e  os  jovens  já  estavam  habituados  a  ouvir  música  cotidianamente.  A  disputa  entre  a  música  estrangeira  e  a  nacional  também  já  era  uma  realidade  por  aqui.  Não   só  com  o  samba,  consolidado  como  ritmo  ​ mainstream  ​ e  de  grande  sucesso desde os  anos 1920, aproximadamente, “com o auxilio  das  políticas  culturais,  do  rádio   e  da  indústria  fonográfica  que  começava  a  surgir  no  país  no  começo  do  século  XX”  (BONILLA,  2011,  p.  2)  como  na  MPB.  “A  MPB  pode ser entendida  como  uma  máquina  de  seleção,  a  todo  o  tempo  colhendo  de  fora  e   de  dentro  elementos  aceitáveis  para  apresentá­los  na  roupagem  da  brasilidade”  (PIEDADE,  2005,  p.  202).  O  samba  trazia  uma  mistura de ritmos latinos e africanos, apesar de ser reconhecido e defendido  em  diversas  composições  como  um  estilo  autenticamente  brasileiro.  Diante  desse  cenário,  o  rock  precisava  de  muito  para  fazer  parte  da  vida  daqueles rapazes e moças, estar  no  dia­a­dia  deles  foi  algo  propício   naquele  terreno  consolidadamente  musical,  mas  se estabelecer em um  mercado  majoritariamente  pertencente  ao  samba  foi  bastante  complexo.  Concordando  com  Chacon  (1985),  em  seu  livro  “O que é  Rock?”, o rock demorou para tomar um rumo e ganhar  uma  real  força  entre  os brasileiros. O fez, timidamente, com o início da Jovem Guarda, dando  os  primeiros  passos  com  músicas  como  “Estúpido  Cupido”  e  “Banho  de  Lua”  cantadas  por  Celly  Campello  e depois através de músicas interpretadas por Erasmo Carlos, Roberto Carlos,  Vanderléia entre tantos outros grandes nome que compunham a Jovem Guarda.   Além  disso,  o  “espírito  do  rock”  também  estava  presente  em  outros  grupos  de  cantores,  que  apesar  de  não  tocarem  o  ritmo  dançante   e  contagiante  recém  chegado  ao  país,  também  se mostravam rebeldes e cantavam a favor daquilo  que eles  acreditavam, como Chico  Buarque,  Geraldo  Vandré,  dentre  outros.  Como  estilo  de  vida  e forma de pensamento, o rock  se  misturou  a  muitos  estilos  e  acrescentou  um  tom  sonoro  enfático  a  gêneros  que  antes eram  tidos  como  mais  calmos.  É  importante  observar  que  a  situação  política nacional (e a mundial   

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também)  junto  com  o  movimento  jovem  que  havia  se  originado  alguns  anos  antes,  também  fazem  parte  dessa  mudança.  Nada  acontece  de  forma  isolada,  e  dentro  dessa  perspectiva  um  movimento  se  apoia  no  outro  para  seguir  como  opinião  política,  sentimento  juvenil  e  rock’n  roll.  Seguindo  essa  premissa,  de  compreensão  do  rock  como  um  posicionamento  social além  de  estilo  de  vida,  enxergamos  que  é  “o  Tropicalismo  e  não  a  Jovem  Guarda,   que  17

antropofagicamente  conduz  o  Rock  no  Brasil  até  a  entrada  da  década  de  70.”   (CHACON,  1985).  A  melhor  forma  de   exemplificar  essa  aparente  contradição  de  ter  um  movimento  da  MPB  (Música  Popular  Brasileira)  como  rock   é  o  grupo  Secos  e  Molhados,  liderado  por  Ney  Matogrosso.  “Em  suas  apresentações  e  gravações,  o  Secos  &  Molhados  mostrava  um  repertório  que  mesclava  elementos  de  gêneros  musicais  brasileiros  e  do  pop  internacional,  especialmente  do  chamado  Glam  Rock”  (ZAN,  2006).  As  performances  de  Ney  Matogrosso  lembravam  David  Bowie,  o  uso  da  guitarra  elétrica  representa  também  um  marco  nas  misturas  musicais  bem  sucedidas  que  possibilitaram  uma  ampliação  no  leque  de  oportunidades que o rock traria consigo ao Brasil.     Assim,  é  preciso  reconhecer  que  boa   parte daquilo que é  consumido como  rock  ou  MPB,  por  exemplo,  pressupõe  valorações  que  nem  sempre  estão  ligadas   diretamente  aos  aspectos  musicais  de  determinada  canção.  Intérpretes  como  Raul  Seixas  e Cássia Eller  são rotulados  como roqueiros,  mesmo  que,  em  certas  canções,  a  sonoridade  se  aproxime  do  universo  musical da MPB. (JANOTTI JUNIOR, 2006, p. 5)     

Da  mesma  forma  que  Elvis  não  foi o pioneiro no rock, os guitarristas brasileiros que  se  destacaram  não  foram  os  primeiros  a  tocá­la  em  terras  tupiniquins.  A  guitarra  já  havia  chegado  por  aqui  em  meados  dos  anos  1920.  Mas  se  podemos  apontar  de  fato  um  marco  no  rock  brasileiro  em  relação  à  guitarra  e  seus  timbres,  ele  se  chama  Sérgio  Dias,  guitarrista  e  co­fundador de um dos principais grupos da época, chamado “Os Mutantes”.      Na  década  de  70  a  guitarra  elétrica  foi incorporada à  nova música  popular  brasileira,  e um  dos primeiros guitarristas que  se  destacou nesse  cenário foi  Sérgio  Dias,  do  grupo  Mutantes.  O  músico  e  seu  irmão  Cláudio  Dias  construíram  e   desenvolveram  guitarras,  pedais  e  amplificadores  que  contribuíram decisivamente  na  identidade do som tocado por Sérgio. (Paiva,  2007)  O estilo  de  sua guitarra elétrica reflete um refinamento  de alguns riffs  influenciado  por  guitarristas  estrangeiros  como  George  Harrison,  dos  Beatles. ​  ​ (VISCONTI, 2008, p 11­12)   ​ Interessante observar  como Chacon utiliza a palavra rock com letra maiúscula, representando o todo dentro do  conceito rock’n roll e não apenas o gênero musical.  17

 

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  O  guitarrista  dos  Mutantes  levou  para  sua  banda  o  que,  talvez,  possamos  considerar  uma  nova  etapa  do  rock  no  Brasil.  Influências  diferentes  das  que  guiavam  a  Jovem  Guarda,  associadas  a  novas experimentações. Uma banda que não pode deixar de ser citada como uma  das  bases para  o  que seria o rock da década seguinte e posteriormente. O grupo que conseguiu  reunir  em  seu  som  um  pouco  de  rock  misturado  com  música  popular  brasileira,  e  que  fez  parte  da  Tropicália,  ao  lado  de  Caetano,  Gil,  Gal  e  tantos  outros.  E  além  de tudo isso, ainda  foi  a  base  para  o  surgimento  de  quem  pode  ser  considerada  a  rainha  do  rock  nacional:  Rita  Lee.  Rita  pode  ser  citada  como  uma  das  líderes  do  início  do  movimento do rock no brasil no  começo  da  década  de  1980.  Em  outras  palavras,  ela  foi  fundamental  em  um  dos  primeiros  passos  dessa  nova  fase  do  rock  nacional,  incluindo  a  época  em  que  fazia  parte  do  grupo  Tutti­Frutti  (pós  Mutantes).  Nesse  cenário,  Ariane  Holzbach  destaca  a  importância  do  rock  brasileiro e do rádio para o contexto midiático das décadas de 1980 e 1990:    O videoclipe existe no Brasil desde os anos 70, mas foram nas décadas de 80  e   especialmente   90,  na  televisão,  que  ele  ganhou  visibilidade  e  se  consolidou.  Na  época,  dois  fenômenos  ajudaram  a  alavancar  o  gênero:  a  valorização   e  consequente  ampliação  do  rock  nacional,  que  até  então  era  considerado  um   produto  “estrangeiro”  ,  e  a  consolidação  do  programa  dominical  Fantástico,   da  TV  Globo,  como  divulgador  e  produtor  de  videoclipe. Apesar  de ser  um objeto  surpreendentemente  pouco  estudado, o  BRock atuou de forma significativa  na indústria do entretenimento brasileiro  da  década   de  80,  e  o  videoclipe   ajudou  a  fazer  com  que  fosse  aceito  e  ganhasse  espaço.  Com  a  MPB  passando  a  ser  considerada  um  gênero  “elitizado e  para adultos”  (Eerola, 2005), o  rock  encontrou um terreno fértil.   Entre  outros  impulsionadores  desse  crescimento,  pode­se  apontar  o  surgimento  de  rádios  especializadas  que  ajudaram  a  expandir  o  gênero,  a  exemplo  da  Fluminense FM,  da  realização de megaeventos de rock, como a  primeira  edição  do   Rock  in  Rio,  em  1985,  e  o  surgimento  de  dezenas  de  grupos de rock por todo país.  (HOLZBACH, 2009, p.1)      

Essa  nova  fase pode ser considerada para alguns a fase  dourada desse movimento. Foi  o  período  de  consolidação   do   rock  no  Brasil,  onde  surgiram  as  principais  bandas  do  rock  nacional  como  Titãs,  Barão  Vermelho,  Capital  Inicial,  Legião  Urbana,   Os  Paralamas  do  Sucesso,  Sepultura,  entre  tantas  outras  que  fazem  sucesso  até  hoje.  Foi  também  a   década  de  surgimento  das  rádios  rock  mais  famosas   e  renomadas,  dentro  do  segmento,  no  país.  Entre 

 

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elas,  as  duas  que  são  objetos  dessa  monografia:  89  fm  ­  A  Rádio  Rock  e  a  Rádio  Cidade,  respectivamente em São Paulo e no Rio de Janeiro.  Após  esses  “anos  dourados”  do  rock  no  Brasil,   houve  um  período  de  queda  de  consumo do gênero no Brasil no início dos anos 2000.     Ao  contrário  de  décadas  anteriores,  quando  se  investia  em  artistas  de  marketing,  seguindo  modismos  estrangeiros  (como   o  foi,  por  exemplo,  a  febre  da  discoteca,  baseada   na  dance   music   norte­americana,  ou  mesmo  o  boom  do  rock  nacional  de  meados  dos  anos   de  1980),  nos  anos  1990  as  gravadoras  descobriram um  modo de perenizar a vendagem de suas músicas  de  marketing.  Como  a  nacionalidade  em   um  mundo  globalizado  deixa  de  fazer  sentido,  a  não  ser  se  for  para   atribuir  algum  tipo  de  diferenciação  mercadológica,  a  indústria  fonográfica  passou  a  produzir  músicas   de  marketing,  colando­as  a  ritmos   e  gêneros  fincados  na  tradição  cultural  da  música   brasileira.  Nesse  período  o  Brasil  presenciava  o  quase  absoluto  predomínio  do  sertanejo,  do  pagode  e  da  axé­music  —  as  versões  globalizadas  da música caipira,  do samba  carioca  e dos ritmos afro­baianos,  18 respectivamente. Conforme  analisa Luiz Tatit ​ ,  não  por mera  coincidência,  “o  apogeu  da  música   sertaneja nas  grandes redes de  televisão  brasileira foi  simultâneo  a  uma  significativa  queda  na  popularidade do  rock  nacional  no  início  dos  noventa,  o  que  resultou   em  nova  exacerbação  dos  apelos  passionais  no mundo da  canção”.  Deve­se  observar,  contudo,  que  o cenário  musical brasileiro, sempre complexo, não  se restringiu a esse trio de gêneros  (pagode, sertanejo e axé). (FENERICK, 2008, p. 13­14)   

O  rock foi ficando de lado nas escolhas brasileiras e dando espaço para outros gêneros  musicais  como  sertanejo,  pop  e  axé.  O  resultado  dessa nova preferência  de consumo musical  na  maior  parte  do  Brasil,  foi  uma  queda  de  audiência  nas  rádios  de  rock   (exclusivamente  rock),  que  incluiu  uma  mudança  de  estilo  musical  na  89  fm,  que  foi  aos  poucos  migrando  para  a  música  pop,  e  durante  oito  anos  teve  o  rock  esporadicamente  tocado  na  rádio  entre  uma  música  eletrônica,  um  dance  e  um  pop.  E  resultou  também  no,  até  então,  fim  da  Rádio  Cidade no dial fm (a rádio migrou para a web nesse período).  Como  afirma  GROSSBERG  (1997),  apud  JANOTTI  JR  (2003)  p.  50:  “A  história  do  rock  é  marcada  por  uma  contínua  disputa  entre  o  que  é  na  verdade  rock  autêntico  e  que  grupos  são  realmente  dedicados  a  essa  autenticidade”.  Considerando  as disputas em torno da  chegada  do  rock  citada  por  Baena  (2015),  podemos  considerar  que   no   Brasil  elas  se  deram  dentro  do  rock,  entre  seus  subgêneros,  e  entre  o  rock  e  outros  gêneros  musicais  já  consolidados  aqui,  nesse  caso  em  relação  aos  atravessamentos  considerados  não  autênticos.  18

 

 ​ TATIT, Luiz. ​ O século da canção​ . Cotia: Ateliê Editorial, 2004, p. 234 e 235.  

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Uma  boa  ilustração  para  esse  cenário  é  o  tipo  de  som  que  faz  a  banda  Hardneja  Sertacore   que  não  consegue  quase  nenhuma  aprovação  de  nenhum  dos  dois  públicos  (nem  os  fãs  de  sertanejo,  nem  os  fãs  de  hardcore)  e  acaba  num  “limbo”  musical.  Mas  se  por  um  lado  essa  busca  por  autenticidade  pode  parecer negativa e  soar como algo ruim, por outro lado, foi essa  busca  dos  fãs  por  “rock  de  verdade”  que  trouxe  as  duas  rádios  de  volta  ao  cenário  musical  atual e está mantendo o rock como um dos principais gêneros musicais no Brasil, de novo.   

2.2 Por que falar de rádio quando se tem a TV?    

O  rádio  contemporâneo  é  precedido  por  uma  história  de  consolidação  e  sucesso  chamada  “a  era  do  rádio”,  que pode ser considerado um marco na história das sociedades que  utilizam  tal tecnologia hoje em dia e talvez o mais importante meio sonoro existente. A  era do  rádio  começou  aproximadamente  em  1922  quando,  nos  Estados  Unidos,  passaram  de  menos  de  10 para mais de 350 emissoras radiofônicas. Esse processo traz uma série de melhorias que  facilitam  e  enriquecem  o  dia­a­dia  das  pessoas,  como,  por  exemplo  a  criação do microfone e  o surgimento de programas musicais, somando aos programas de notícia já existentes. O rádio  mostrou­se  essencial em diversos momentos considerados marcos musicais, mercadológicos e   culturais.  Além  de  tudo  o  que  foi  dito  até  aqui  sobre  o  início  do  ​ ethos  de  juventude  e  do  nascimento  do  rock,  historicamente,  o  rádio  contribuiu  para  muitas  mudanças  sociais.  Podemos  afirmar  que  foi  um  dos  pioneiros  no  empoderamento  das  classes  mais  baixas,  permitindo  não  só  uma  aproximação  ao  que  era  considerado  valor  cultural,  como  também  o  consumo de algo, até então, exclusivo de quem era parte das classes mais altas.  Podemos  apontar  as  formas  de   acesso  ao  meio  de  comunicação  como  uma  das  vantagens  do  rádio  em  relação  à  televisão.  O  rádio  pode  ser  acessado  de  qualquer  lugar  e  é  20

portátil  há  muito  anos,  enquanto  a  TV  culturalmente  ficava  em  um  lugar  fixo ​ ,  era  uma  tecnologia  maior  que  o  rádio  e  quase  sempre  era  acessada  em  lugares  comuns  a  várias  pessoas:  em  casa  com  a  família,  no  bar  com  os  amigos  etc.  Estar  em  torno  de  uma  televisão  significou  durante  muitas  décadas  estar  reunido  com a família. Simbolicamente, representava  o momento em que a família toda estava junta.   ​ Banda  gaúcha  formada  em  2004  que  mistura  sertanejo  com  hardcore  e  são bastante  questionados  por sites  tradicionais  do   mundo   do  rock,  como  o  Whiplash.net.  Matéria  sobre  a  banda  disponível  no  link  . Último acesso em março de 2016.  20  ​ Até  o  início  dos  anos 2000 pelo tamanho do equipamento. Um pouco depois  disso, aprimoraram os aparelhos  para as TV’s portáteis que surgiram bem depois da invenção da TV, e muito depois da invenção do rádio portátil  19

 

28    O  consumo,  sem  deixar  de  existir  nos  lugares   públicos,  passa  a  ser  feito  predominantemente  no lar,  num  contexto familiar, mais ou menos pontuado  pelos ritmos da vida quotidiana, individual e coletiva. A imagem típica desta  época  é  a  da  família   reunida,  depois  do  jantar,  à  volta  do   seu  televisor.  Compreende­se,  assim,  o  facto  de  que  os  estudos  clássicos  sobre  o  ver  televisão  –  nomeadamente  os  estudos  de  autores  como  David  Morley  ou  Roger  Silverstone  –  se  centrarem em “descrições  de  campo  [que]  tomam o  lar  como  unidade  geográfica  e a  família como  unidade sociológica  mínima  de  análise”  (Silveira,  2004,  p.  65).  Como  sublinhava  um  desses  autores  numa  das  mais  emblemáticas  obras  sobre  essa  televisão, “a televisão  é um  meio  doméstico.  É  vista  em  casa.  Ignorada  em  casa.   Discutida  em  casa.  Vista  em  privado  e  com  membros  da  família  ou  amigos”3  (Silverstone,   1994, p. 24).  A televisão ainda é um dos componentes  da centralidade que o  lar  assume  para  o  indivíduo  enquanto  espaço  de  individualidade  ou  de  partilha. (SERRA, FRANCISCO, 2013, p. 87)   

Contudo,  temos  que  admitir  que  o  rádio  demorou   bastante  para  crescer  e  superar  a  chegada  e,   principalmente  a  hegemonia  que  a  televisão  conquistou.  E  esse  é  exatamente  o  principal  ponto  para  entender  como  o  rádio  manteve­se  em  meio  a  tantos  avanços  tecnológicos,  mudanças  de  hábitos  e  necessidades  das  pessoas.  O  rádio não precisou ser  uma  tecnologia  ou  um  meio  de  comunicação  superior  tecnologicamente  a  nenhum  outro.  Ele  ocupa  bem o espaço que lhe cabe, ou em outras palavras, o rádio consegue ser uma tecnologia  complementar,   ainda  que  tenha  sido  essencial  na  “era  do  rádio” e no início dos programas de  notícias,  por  exemplo.  Uma  das  grandes  vantagens  do rádio enquanto mídia é o fato de poder  ser  consumido  junto  a  outros  meios  de  comunicação.  Ele  consegue  propor  uma  parceria  em  diversos  meios  e  usa  cada  cenário  tecnológico  para  evoluir  também.  Uma  das  melhores  maneiras  de  ilustrar  a  boa  convivência  do  rádio  com  a  televisão  está no videoclipe. Os clipes  já eram sucesso no tempo em que o programa da Rede Globo de Televisão, o Fantástico, tinha  uma  programação  especial  que  incluíam  videoclipes  e  bastante  espaço  para  a  música.  Em  21

seguida,  com  a  MTV   brasileira,  os  videoclipes  ganharam  mais  força  trazendo  consigo  uma  nova  maneira  de  consumir  música.  Mais  do  que  simplesmente  ouvir  as  letras  e  melodias,  os  espectadores  queriam  ver  efeitos,  luzes  e  cores.  A  televisão,  enquanto  nova  tecnologia,  despertava  uma  euforia  entre  os  espectadores,  por  trazer  as  imagens  que  o  imaginário  social  criava  em  relação  às  músicas,  artistas  e  radionovelas  (e,  em  alguns  casos,  desconstruía   ​ Music  Television   ­  “A   MTV  Brasil  foi  uma  emissora  de  televisão  brasileira  pertencente  ao  Grupo  Abril  dedicada  ao  público  jovem.   Nasceu  no  dia  20  de  outubro  de  1990  como  a   primeira  rede de  televisão  aberta  segmentada,  sendo  a  versão  nacional  da  MTV“.  Disponível  em    Último acesso em março de 2016.  21

 

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também,  mas  sem  deixar  de  entreter e aumentar a audiência). ​ A princípio este cenário reforça  mais  a  importância  da  TV  sobre  o  rádio,  porém,  talvez,  o  interesse  pelos   videoclipes  das  músicas  só  existia,  uma  vez  que  elas eram consumidas primeiro, enquanto produto midiático,  através do rádio.   Além  disso,  o  grande  problema  da   TV  no  Brasil  é  a  indústria  que  envolve  o  meio,  levando em consideração o sistema capitalista nacional.  Aparecer  em  um  programa  de  alto  índice de audiência como o Cassino  do  Chacrinha, que era visto  por 30 milhões de espectadores em média, era uma  forma de divulgar mais facilmente o  trabalho  de um músico para todo o país.  Mas  os  inconvenientes  não  foram  apenas  os  vestuários,  os  trajes  foram  apenas  um  minúsculo  atrito.  A  reclamação­denúncia  do  vocalista  dos  Engenheiros  do Hawaii, citada anteriormente, foi colírio perto das denúncias  de  roqueiros  sobre  um  “esquema”  que  girava  em  torno  do  ​ Cassino  do  Chacrinha:  o jabaculê,  ou como  é popularmente  conhecido,  jabá.  Em 23  de  janeiro  de   1987,   o  jornal  Folha  de  S.  Paulo  publicava  a  reportagem  intitulada:  “Como  se  fabrica  o  sucesso”.  Nela  roqueiros  denunciavam  que  para  participarem  do  programa  do  “Velho  Guerreiro”   era  necessário  que  fizessem  alguns   shows  de  graça,  todos  organizados  e  capitalizados  pelo  produtor  Leleco  Barbosa  –  filho  de  Chacrinha  – e  realizados em clubes da  Baixada  Fluminense.  Segundo  Paulo  Ricardo,  entrevistado  pelo jornal,  era  uma  troca  normal. “Você  faz play­back de graça, segundo o  vocabulário de  música   pop  “designa  a  oferta  de  favores  financeiros,  sexuais  ou  de  outra  natureza  em   troca  de  promoção  e  divulgação”  (SHUKER,  1999,  p.180).  o  dinheiro fica com o  produtor do  Chacrinha e é divulgado na TV”. O Capital  Inicial  fez  doze shows pelo subúrbio  para  pagar as  quatro apresentações no  programa.  Felipe  Lemos,  baterista  da  banda  de  Brasília,  ainda  ressaltou:  “Sabemos  que  a  gravadora  Polygram  pagou  para  que  pudéssemos  nos  apresentar  novamente”.  Leleco  Barbosa se defendia  na mesma reportagem:  “Isso  não  existe,  não  é  uma  troca  de  nada”.  (ENCARNAÇÃO,  2009,  p.  119­120).     

Não  estamos  com  isso  afirmando  ingenuamente  que  não  há  práticas de jabá no rádio,  nem  que  ele  seja  um  meio  mais  democrático  que a televisão. No entanto, conseguir um lugar  de fala e visibilidade na TV parece ser ainda mais difícil do que fazê­lo pelo rádio, ainda mais  se  levarmos  em  consideração  que há rádios voltadas para gêneros musicais específicos, como  é  o  próprio  caso  dos  nossos  objetos  de  estudo,  enquanto  praticamente  não  há  canais  específicos  de TV  para cada, o que poderia levar a  uma ideia de que haveria mais espaço para  bandas de rock na rádio do que na televisão. Ou, ao menos, com menor esforço financeiro por  parte das bandas para tal. 

 

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Após  esse  período,  a  internet  começou  a  ganhar  força  e  houve  uma  suposta  maior  democratização  das  mídias.  Talvez,  não  impactando  de  forma  direta  na  TV  e  no  rádio,  num  primeiro  momento,  mas  trazendo  a  ideia  de  que  aquela  hegemonia  televisiva  não  precisasse  existir.   Em  suma,  a  hegemonia  da  televisão  continua  existindo  até  os  dias  de  hoje,  apesar de  sofrer  com  a  diminuição  da  audiência  em  relação  às  décadas  anteriores,  e,  devo  frisar,  não  posso  afirmar  que  situações  de  barganha  ainda  não  aconteçam  de  forma  a  desprestigiar  os  artistas  e  profissionais  da  música.  Contudo,  acredito  que  o  sistema  que  envolve  os  meios  de  comunicação  no  Brasil  esteja  mais democrático e aberto a  novas possibilidades.  Diretamente,  isso  significa  uma  pulverização  da  massa  e  uma  diminuição  na  hegemonia  de   determinado  meio.  E  nesse  movimento  acontece  o  que  o  rádio  já  fez  em  relação  à  TV  décadas  atrás:  adaptou­se  e  negociou  diretamente  com  os  novos  meios  sem  se  mostrar  como  algo  ameaçador, mas sempre presente quando o assunto era música.    

2.3  Internet e novas possibilidades: webrádio, streaming e sites de redes sociais   

 

O  rádio  atravessa  os  anos  90 embalado por  mudanças tão velozes quanto a  sintonia  digital,   que  substitui  os  botões  do  dial.  Emissoras  tradicionais  correm  atrás  de  fórmulas  inovadoras  para  manter  posições,  segurar  os  antigos  anunciantes   e  captar  volumes  expressivos  de  publicidade.  Outras  lutam  para  recuperar  o  prestígio   do  passado,  incorporar  a  tecnologia  emergente e vencer as incertezas.​  ​  ​ (DEL BIANCO, 1996, p. 1) 

O  surgimento  da  internet   possibilitou  uma  série  de  novos  caminhos  para  a  música.  Compartilhar  músicas,  fazer  downloads  de  álbuns  ou  até  mesmo  divulgar  algum  trecho  de  alguma  canção   se  tornou  cada  vez  mais  fácil  e  rápido,  principalmente  com  o  surgimento  e  aprimoramento  contínuo  da  web,  a  melhora  nas  tecnologias  e  a  ampliação  dos  serviços  de  internet.  As  pessoas  que  já  estavam  próximas  da  música  através  do  rádio,  por  exemplo,  ganharam mais possibilidades de acesso e formas de tornar a música parte do seu cotidiano.   Um  dos  maiores  debates  a  respeito  da  internet  diretamente  relacionado  ao  mercado  fonográfico  é  causado  pela  oportunidade  de os usuários obterem músicas e até álbuns  inteiros  de  forma  gratuita.  Considerado  por  uns  como  crime  e  por  outros  apenas  como  livre  acesso  à  cultura,  o  download  divide   opiniões  até  hoje.  Ele  surgiu  em  1999,  com  o  Napster,  programa  de  compartilhamento   de  arquivos  criado  por  Shawn  Fanning  e  ganhou  em  pouco  tempo  um   

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número  considerável  de  usuários.  Foi   o   início  de  uma  era  tecnológica  que  prometia  revolucionar  o  mercado  cultural  mundial  e  que  assustava  os  grandes  nomes  da  indústria  fonográfica.  Podemos  compreender  a  internet  como  uma  grande  convergência  midiática  que  engloba  som,  imagem,  textos  e  vídeos  para  transmitir  uma  mensagem  (MAGNONI,  ALMEIDA, 2009, p. 2). Com o avanço  da conexão via banda larga, a melhoria nos programas  disponíveis  para  downloads,  sites  cada   vez mais completos e atualização nos meios de acesso  à  internet,  ficou  mais  simples  ouvir  e  até  mesmo  baixar  arquivos  de  música  na  web.  Os  programas  para  downloads  foram  se  multiplicando  e  em  menos  de  uma  década  após  o  surgimento  do  Napster  o  livre acesso a arquivos com álbuns de música inteiros já causava um  sério  problema  para  gravadoras  e  empresas  que  dependiam  da  venda  de  música  para  se  manter atuantes.  Por  consequência,  o  mercado  sofreu diversas mudanças, grandes gravadoras e grandes  rádios  não  tiveram  opção  a  não  ser  se  adaptarem  ao  que  estava  acontecendo  nesse  novo  mercado.  “Com  o  advento  de  novos  aparelhos  de  reprodução  sonora  e  a   sedimentação  de  novas  práticas  de  escuta  desenvolvidas  a  partir  das  mídias  digitais”  (CHAGAS,  2010,  p.4)  22

comprar  CDs  não  parecia  fazer  mais  sentido.  Os  famosos  Discmans ​ ,  sucessores  dos  23

Walkmans ​ ,  deram  lugar  a  dispositivos  que  “rodavam”,  “liam  conteúdos  sonoros,  de  áudio  24

no  formato  mp3  e  aceitavam  transferência  de  até  16GB   ou  32GB em unidade de medida de  25

informação  digital,  nesse  caso  convertido  em  som.  Os  IPods   foram febre no início dos anos  2000  e  causaram   uma  diminuição  considerável  nos  lucros  em  impérios  da  música  como  as  gravadoras  Universal,  Sony  Music  entre  tantas  outras  mundo  afora,  pois  proporcionavam   ao 

 ​ “​ Pelo  final  de  1984,  os  engenheiros  da  Sony  conseguiram  encaixar  um  CD  player  no  tamanho  um  pouco  menor  de um bloco de madeira. O protótipo  D­50 foi apelidado de Discman  Sony, o primeiro CD player portátil  lançado  para  os  amantes  da  música.   A  companhia japonesa  Sony estava  confiante  sobre  a  sua  rentabilidade.”  Disponível  em    Último  acesso em março de 2016.  23   “​ A  Sony  foi  a  primeira  empresa a  fabricar  este tipo  de  rádio  em tamanho  pequeno,  no  final  dos  anos  1950.  Uma  cultura  de  miniaturização de  aparelhos  foi  desenvolvida  e  resultou  na  primeira versão do Sony  Walkman,  aparecendo no  mercado  em 1980. Foi um sucesso rápido, por ser pouco maior que uma fita cassete.” Disponível  em    Último   acesso  em  março de 2016.   24  ​ “Gigabyte  (GB)  é  uma  unidade  de  medida de informação que  equivale a  1 000 000 000 bytes ou 109 bytes e  dependendo  do contexto, pode representar 230 =  1 073 741 824 bytes ou 1024 megabytes (Mb).” Disponível em   Último acesso em março de 2016.  25   “​ iPod  é  uma marca  registada  da  Apple  Inc.  e  refere­se  a  uma série de tocadores de áudio digital projetados e  vendidos  pela  Apple.  Desde  2008,  a  linha  de ​ iPods  ​ inclui  o  ​ iPod classic,  o  ​ iPod  shuffle,  o  ​ iPod nano e o​ iPod  touch.” Disponível em  . Último acesso em março de 2016.  22

 

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usuário  uma  liberdade  muito   maior  em  relação  ao  que  ouvir  e  quando  ouvir,   muitas  vezes,  dispendendo  dinheiro  apenas  com  o  dispositivo   de  escuta  musical  e  não  o  conteúdo  sonoro.  Assim,  as  próprias  rádios  tiveram  que  se  reconfigurar  nesse  cenário,  dando  início  às  rádios  virtuais:   

 

As  rádios  virtuais  não  dependem  de  autorização  ou  concessão  oficial,  precisam de poucos  recursos de custeio  e se beneficiam da cultura criativa e  colaborativa  dos  internautas.  Se  não  houver  uma   reação  rápida  dos  radiodifusores,   elas  poderão  retirar  do  rádio  convencional  uma  fatia  considerável  de  público  e  com  a  utilização  de  características  e  estratégias  típicas  dele.  Hoje,  as rádios  de  internet são estimuladas pela interatividade e  pela  difusão simultânea facilitadas  pela popularização dos  terminais móveis  da web.​  ​ (MAGNONI, ALMEIDA, 2009, p. 3 e 4)  

Não  há  como  negar  que  as  transformações  em  algumas  tecnologias  como  celulares  e  computadores  afetam  diretamente  outras  tecnologias  como  o  rádio  e  a  TV.  Foi  assim   com  a  tecnologia  analógica  que  foi  aos  poucos  dando  lugar  à  digital,  com  os  LP’s  que  deram   lugar  às  fitas  cassete  e  assim  sucessivamente,  levando  em  consideração que “dar o lugar para outra  tecnologia”,  nesse  caso,  não  significa  desaparecer,   mas  perder  força  no  mercado  e  uso  dos  usuários.  Dentro  desse raciocínio se enquadra também o rádio e a internet. Apesar de algumas  pessoas  acreditarem  que  o  rádio  desaparecerá  por  conta  da  internet  (nessa  situação  considerando  o  difusor  e  não  a  emissora),  a  internet  mostra  que,  exatamente  por  ser  multimidiática ela consegue englobar a todos, inclusive as webrádios.     Entretanto,  a  tradição  de  sintonia  em  tempo  real,  que sempre  foi apontada  como  uma  das  principais  vantagens  do  rádio   poderá  ser  superada   pela  internet.  Isso  porque  a  web  pode  disponibilizar  o  conteúdo  simultâneo  ou  por  demanda. Ou seja,  o ouvinte pode acessar  qualquer conteúdo  a qualquer  hora,  mesmo  que  já  tenha   sido  veiculado  ao  vivo.  ​ (MAGNONI,  ALMEIDA, 2009, p. 3 e 4)   

Com  as  webrádios,  a  forma   de  se  comunicar  com  os  ouvintes  mudou,  pois  a  internet  exige,  de  certa  forma,  que  se  mostre  mais  próximo  de  quem  está  consumindo  seu   produto,  nesse  caso,  compondo  a  audiência  da  emissora.  Assim sendo, as emissoras criaram  perfis em  sites  de  redes  sociais,  abriram  mais  as  programações  para  novas  bandas  e  começaram  a  interagir  mais  com  o  público  mostrando   para  ele  como  a  emissora  funciona,  quem  são  as  pessoas  que  fazem  os  programas  e  assim  por  diante.  Essa  mutação  dos  meios  radiofônicos,   

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que  pontuo  aqui  mais  uma  vez,  nem sempre são fáceis e no caso das emissoras Rádio Cidade  e  89  fm  Rádio  Rock  trouxe  uma  nítida  necessidade  de  mudança  na  forma  de  fazer  rádio.  A  música  é  importante, mas  não é mais o único motivo a levar o ouvinte a se fidelizar. Entender  esse  movimento  mercadológico  e  se  adaptar  é  fundamental  para  se  manter  vivo  dentro  de  indústria  cada  vez   mais  mutável  e  instável.  Com  isso,  iremos  agora  no  próximo  capítulo  analisar  as  estratégias  utilizadas  pelas  duas  rádios  para  retornarem  ao  dial  após  um  hiato  em  seus funcionamentos.             

 

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CAPÍTULO 3  O rock está de volta!   

O  rock  passou por um período relativamente negativo nas paradas de sucesso.  Ele não  sumiu  de  fato  do  ​ mainstream​ ,  pois  algumas  rádios  ainda  tocavam  o  gênero  musical  junto  a  diversos  outros  gêneros  ao  longo  de  suas  respectivas  programações.  Mas,  ainda  assim,  perdeu muito do que havia conquistado nas décadas anteriores e passou a ocupar o sucesso do  underground  e/ou,  o  que  podemos  considerar,  o  insucesso  do  ​ mainstream​ .  Algumas  emissoras  como  Mix  fm  e  Jovem  Pan  fm,  que  inseriam  uma  música de rock entre uma pop e  outra,  ou  uma  black  music  e  outra,  foram  a  “salvação”  do  rock  durante  esse  período.  Foi  o  intervalo  menos  engajado  do  rock,  em  relação  ao  momento  político  no  contexto  histórico da  época,  e  o  intervalo  de  certa  forma  mais  romântico  também.  Muitas  bandas  que  surgiram  nessa  época  preferiam  falar  sobre  amor  e  questões  mais  “supérfluas” em suas composições a  ter  que  se  expor  e  enfrentar  o  público  com  opiniões  e  composições  defendendo  determinado  posicionamento,  dentro  de  uma  lógica  política  governamental.  Foi  o  período  da  chegada  de  26

algumas  subdivisões  do  rock  ao  Brasil,  como  é  o  caso  do ​ emocore ​ , que chegou por aqui no  início  dos  anos  2000.  E  o  surgimento  de  outros  subgêneros  como  o  ​ happy  rock  (ou  “rock  feliz”) que nasceu no final da década de 2000.   Foi durante essa década de  declínio em relação à venda de discos e audiência nos anos  2000,  que  a  rádio  Cidade e  a 89 retornaram, trazendo junto para o mercado atual duas marcas  consolidadas,  demonstrando  força  como ​ lovemarks ​ entre os roqueiros e abrindo possibilidade   de novas formas  de interação.  A  volta do rock às paradas foi aos poucos e ganhou força com a campanha iniciada no  ar  pela  89  (até  então  a  rádio  de  pop,  dance  e  black  music)  e  se  fortaleceu  com  a  campanha  que  os  artistas  iniciaram  após  o  retorno  da  89  fm  (agora  sim  como  rádio  rock)  para  que  a  rádio  Cidade  também  voltasse.  Quando  ambas  voltaram  houve  um  processo  de  resgate  da  memória  afetiva  dos ouvintes com programações clássicas e com programas nostálgicos onde  os  locutores  expressavam   toda  sua  alegria  em  estar  de  volta.  Com  a  volta  das  rádios  e  o  resgate  do  afeto  dos   ouvintes  e  fãs  de  ambas,  as  duas  rádios,  enquanto  marca,  só  cresceram.  Criaram  lojas  com  a  logo  das  rádios  estampada  em  todos  os  produtos  e  aumentaram,  ainda 

 ​ É  a  vertente  romântica  do  hardcore,  subgênero  do rock  derivado  do  punk, movimento cultural e musical que  surgiu nos anos 1970 em resposta à cultura hippie.  26

 

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mais,  o  vínculo afetivo com  os fãs do rock.  As rádios viraram sinônimo de “bom” rock’n roll  e,  observando  a  circunstância  da  volta  de  ambas,  traziam  uma  afetividade  e  marca  de  qualidade  para  quem  era  fã  do  gênero.  Os  passos  seguintes  foram  o  apoio  a  campanhas  culturais,  sociais  e  a  retomada  de  festivais  de  música.  A  89fm  chegou  a  fazer  um  show  de  reencontro  com  seu  público  chamado  “O  jogo  agora  é  outro” e a rádio Cidade um show com  o Rappa na Fundição Progresso ­ RJ.   

3.1 – O lugar da memória afetiva   

Os  fãs  do  rock  são  em  geral  bastante  engajados  com  o  som  e  ritmos  do  rock. Porém,  além  disso,  são  também  tidos  como  alinhados  com  o  entorno  social  relacionado  a  ele.  A   maioria  do  público  leva   a  sério  o  posicionamento  de vida, e com isso quero dizer convicções  e  princípios,  que  o  gênero  musical  propunha.  Ouvir  rock’n  roll  significa  muito  mais  do  que  simplesmente  ouvir  a  determinado  gênero  de  música.  É  (ou  era  para  alguns)  também  se  comprometer  com  as  atitudes  e  com  o  visual de um roqueiro, para demonstrar sua opinião de  todas  as  formas  possíveis,  inclusive  visuais.  Esse  movimento  aproximava  os  fãs  de  uma  construção  coletiva  cultural  por  fazer  parte  de  suas  vidas   desde  muito  cedo,  dado  que  a  cultura  em  torno  do  rock  envolvia,  entre  tantas  outras  características,  uma  construção  da  imagem  de  si  perante  a  sociedade  e  um  pertencimento  a  um  coletivo  uníssono  em  alguns  aspectos,  principalmente  musical  e  visual.  Esse  contato  geralmente  começava  na  adolescência,  ,  quando  criando  vínculos  emocionais  fortes  e  presentes  no  dia   a  dia  desses  entusiastas.     Em  sua  análise  da  memória   coletiva,   Maurice  Halbwachs   enfatiza  a  força  dos  diferentes  pontos  de  referência  que  estruturam  nossa  memória  e que a  inserem  na  memória  da  coletividade  a  que  pertencemos.  Entre  eles  incluem­se  evidentemente  os  monumentos,  esses  lugares  da  memória   analisados por Pierre Nora,  o patrimônio  arquitetônico  e seu  estilo, que nos  acompanham  por  toda  a  nossa  vida,  as  paisagens,  as  datas  e   personagens  históricas  de  cuja  importância  somos  incessantemente  relembrados,  as  tradições e  costumes, certas regras de interação, o folclore e a música, e, por  que  não,  as  tradições  culinárias.  Na  tradição  metodológica  durkheimiana,  que  consiste  em  tratar  fatos  sociais  como  coisas,  torna­se  possível  tomar  esses  diferentes  pontos  de  referência  como  indicadores   empíricos  da  memória coletiva  de  um determinado  grupo,  uma  memória  estruturada com  suas  hierarquias  e  classificações,  uma  memória  também  que,  ao  definir  o  que  é  comum  a  um  grupo  e  o  que,  o  diferencia  dos  outros,  fundamenta  e  reforça  os   sentimentos   de  pertencimento  e as fronteiras sócio­culturais. Na   

36  abordagem  durkheimiana,  a ênfase  é dada  à força quase  institucional.  dessa  memória coletiva,  à duração, à continuidade e à estabilidade. Assim também  Halbwachs, longe de ver nessa memória coletiva uma imposição, uma forma  específica  de  dominação  ou  violência  simbólica,  acentua  as  funções  positivas  desempenhadas  pela  memória  comum,  a  saber,  de  reforçar   a  coesão social, não pela  coerção,  mas  pela  adesão  afetiva  ao  grupo, donde o  termo  que  utiliza, de  "comunidade afetiva". Na tradição européia  do século  XIX,  em  Halbwachs,  inclusive,  a  nação  é  a  forma  mais  acabada   de  um  grupo,  e  a  memória  nacional,  a  forma  mais  completa  de  uma  memória  coletiva.  Em  vários  momentos,  Maurice  Halbwachs  insinua  não  apenas  a  seletividade  de  toda  memória,  mas  também  um  processo  de  "negociação"  para  conciliar  memória  coletiva  e  memórias  individuais:  "Para   que  nossa  memória  se  beneficie  da  dos  outros,  não  basta  que  eles  nos  tragam  seus  testemunhos:  é preciso também que  ela não tenha  deixado de concordar com  suas  memórias e  que haja  suficientes pontos de contato entre ela e as outras  para  que  a lembrança que os  outros nos  trazem possa  ser reconstruída sobre  uma base comum”.​  ​ (POLLAK, 1989, p. 1)     

  É  com  base  na  memória  afetiva  que  cada  indivíduo lembra de  fatos da sua infância e  adolescência  e  sente  algo  em  relação  a  isso.  Ela  é  responsável  por  resgatar,  em  alguns  momentos,  seus  impulsos  emocionais  e  sua  identificação  enquanto  participante  de  algum  grupo social. É também responsável por fazer lembrar, emocionalmente, quem nós somos.  Mercadologicamente  falando, essa memória é ativada pela  publicidade em campanhas  para  os  jovens  que  incentivam  a  compra,  sem  necessariamente  dizer  para  os  telespectadores  comprarem.  Outra  forma  bastante  comum  de  ativação  é  pela  música,  principalmente  quando  27

falamos  do  Brock   dos  anos  1980  que  tinha,  na   maioria  das  músicas  refrãos  de  fácil  assimilação.  “O  refrão,  elemento  básico  da  canção   popular  massiva,  pode  ser  definido  como  um  modelo  melódico  de  fácil   assimilação  que  tem  como  objetivos  principais  sua  memorização  por   parte  do  ouvinte  e  a  participação  (“cantar  junto”)  do  receptor  no  ato  de  audição“  (JANOTTI JUNIOR, 2006, p. 5). É baseada na identificação social de cada pessoa e  resgasta  junto  com  cada  campanha,  os  ”instintos”  afetivos  de  cada  consumidor.  A  memória  afetiva  pode  se  posicionar  a  favor  ou  contra  algum produto, ou no caso dessa monografia, de  algum  gênero  musical  ou  emissora  de  rádio,  baseado  em  experiências  anteriores  boas  ou  ruins.  É  o  primeiro  passo  para  o  vínculo  criado  pelas  ​ lovemarks​ ,  pois  trata  de  uma  primeira  identificação  gratuita,  pautada  apenas  no  que  a  marca  parece  oferecer  (e  em  algumas  vezes, 

 “​ O  BRock  está associado  a  uma  parcela  da  juventude que desponta no meio  cultural no contexto  da transição  para a democracia aos primeiros anos da Nova República”. (ROCHEDO, 2011, p. 2).   27

 

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pautada  apenas  em  uma  campanha),  mas  que,  muitas  vezes,  é  o suficiente para ganhar um fã  da marca.   Após  esse processo de conquista afetiva, as marcas ganham verdadeiros defensores de  seus  produtos  e  conceitos,  pois  passam  a  fazer  parte  da  vida  de  cada  um  daqueles  consumidores.  Algumas  empresas  são   especialistas  em fazer com que seus fãs sintam  que ela  28

faz parte da sua vida. É o caso, por exemplo, do tênis Converse All Star ​ :    Através  da  história,  observou­se  que  a   Converse  passou  a  partir  dos  anos  1970  a  se  deslocar  do   basquete  para  ser  asociada   aos  movimentos   de  contracultura. O tênis  era  utilizado  pelos músicas e fãs para mostrar que não  faziam  parte  do  sistema  social  vigente  naquele  contexto.  Usar  o tênis  era  fazer  parte  de  um  grupo  ideológico.  O  que  se  observa  agora  é  um  movimento inverso: a  marca se associa a estes ícones musicais, celebridades  do cinema e outras personalizades culturais para se estabelecer  na mente dos   consumidores.  A  imagem  destes  representantes   de  rebeldia,  juventude  e   autenticidade é deslocada para a marca. A mensagem publicitária indica que,  se  o   indivíduo  quer  ter  e se identifica  com  esses valores, ele deve  comprar  um Converse.​  ​ (NORONHA, 2010, p. 57)     

Saber  aproveitar  essa  memória em cada um dos seus consumidores é o primeiro passo   para  se  tornar  uma  ​ lovemark,  ​ isto  é,  uma  marca  que  esteja   relacionada  à  identidade  e  memória  afetiva  dos  consumidores,  gerando  fãs  e  defensores  da  mesma.  Seguindo  essa  lógica,  podemos  observar como  as rádios se comunicam com seus ouvintes e aproveitam essa  memória  afetiva  para  aproximar  os  antigos  fãs  das  “novas”  rádios,  seja  utilizando  memes  e  fotos  de  cantores  e   bandas  dos  anos  1980  e  1990,  seja  tendo  uma  programação  predominantemente composta por ​ classic rock.   

   

3.2 A força das rádios como lovemarks    

Para  entender   a  força  das  rádios  como  marcas  e  como  o  afeto  dos  consumidores  influencia  diretamente  no  crescimento  e  nos  rumos  traçados  por  elas  como  lovemarks,  é  preciso  se  voltar  um  pouco  para  publicidade  e  observar  o  terreno  no  qual  pisamos  quando 

 ​ A  Converse  All  Star  tem  um  projeto  mundial  chamado  “​ Converse  Rubber  Tracks”,  ele  “  é  uma  verdadeira   comunidade  de  estúdios  de  gravação  profissionais  espalhada  pelo mundo inteiro.  Artistas  de  todos  os gêneros  podem  se  inscrever  e,  se   selecionados,  gravam  sem  custo  algum  e  ainda ficam  os  direitos  de  suas  músicas.”   trecho retirado do site “​ http://converse.com.br/rubbertracks/​ ”. Último acesso em 06 de abril de 2016.   28

 

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falamos  em  marketing.  Como  Dotto  (1998)  afirma:  “A  prática  das  atividades  de  Marketing  deixou  de  ser  uma  questão  futurista  ou  de  status,  e  passou  à  condição  essencial  para  uma  rádio  FM  manter  sua  competitividade”  (1998,  p.  18).  Frase  dita  na  mesma  época  em   que  o  rock  estava  perdendo  sua  força  e  seu  espaço  no  mercado  fonográfico  brasileiro  para  ritmos  como  axé,  pagode  e  sertanejo.  Em  uma  das  entrevistas  realizadas  ao  longo  da  construção  desse  trabalho  uma  das  frases  que  mais  chamou  atenção  foi  dita  pelo  Rubens  Hiroshi,  chefe  de  produção  da  89  fm   A  Rádio  Rock,  que  dizia  o  seguinte:  “Vamos  deixar  as  coisas  bem  claras:  rádio,  televisão  e  qualquer  outro  meio  de  comunicação  são  negócios.  São  empresas  como  qualquer  outra  que   precisam  pagar  suas  contas.”  A  concepção  do  produtor  chefe  da  rádio,  entendendo  a  emissora  como  uma  marca,  mostra  como  o  rock  pode  perder  parte  do  sentido  de  sua  ideologia  por   não  conseguir  manter  a  rádio  apenas  com  o  “rock  de  verdade”  (nesse  caso  referindo­se  ao  estilo  de  vida  para  além  do  som)  e  também  como  essa  dita  ideologia  pode  ser  vendável  e  transformada  em  um  diferencial  para  a  rádio,  dentro  e fora do  segmento  em  que  está  inserida.  Como  foi  o  caso  da  própria  89  fm,  que  aumentou  consideravelmente sua audiência após a volta do rock como único segmento da emissora.  O  consumo  é  algo  inerente   a  esse  sistema  e  ainda  que  alguns  roqueiros  mantenham  uma  postura  resistente  ao  rock  comercial e apaixonada pelo suposto “verdadeiro rock’n roll”,  é  preciso  observar  que  até  o  rock  mais  clássico  e  “autêntico”,  dentro  dessa  lógica,  pode  ser  comercial.     Cada  vez  mais  os  consumidores  estão  se  familiarizando  com  as  diversas  marcas  de  produtos e  serviços  que  estão  presentes no mercado. Marcas não  são   apenas  um  nome,  um  termo,  ou  um  símbolo.  São,  além  disso,  a  combinação destes fatores que tem como propósito identificar a promessa de  benefícios,  associada  a   produtos  ou   serviços   de  um  ofertante,  de  modo  a  diferenciá­los dos concorrentes,  são além  de  tudo  significados. Significados  que  se  apresentam  de  maneira  diferente  para  cada  indivíduo.  Cada  um  constrói  sua relação com  a marca de  maneira distinta do outro, influenciado  pela  experiência  vivida  com  ela,  pela  confiança  que  depositam  nela  e  personalidade  que   lhes  atribui.  Todo  esse  processo  de   envolvimento  e  construção  de  significados  da marca algumas vezes  gera  o que foi nomeado  de  lovemarks,   marcas  do  coração  ou  marcas  que  amamos.  Kevin  Roberts  estudioso  do  assunto  que  produziu  o  livro  intitulado  Lovemarks:  o  futuro  além  das  marcas,  define  lovemarks  como  um  caso  de  consumo  que  gera  fidelidade  além  da  razão.  (2005,  p.143).  Como   dito  anteriormente  a  experiência   exerce  grande  influência  na  relação  do  consumidor  com  a  marca,  e  a  grande  característica  das  lovemarks  é  a  forte  ligação  com  o  emocional  do  público,  suas  histórias  de  vida  e  outras  experiências  que  os  ligam afetivamente a marca.​  ​ (ARBEX, DA DALT, 2013, p. 4)   

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“As  ​ lovemarks  ​ são  o  que  o  próprio  nome  sugere  –  marcas  amadas.  Seu  relacionamento  com  o público encontra alicerce na emoção, na simplicidade dos sentimentos,  e  na  força  que  o  vínculo  baseado  em  amor  pode  fornecer” (GRÄTSCH, 2013, p. 11). Dentro  do  rock,  essa  identificação  começa  muito  cedo  e  tem  como  resultado  uma  emoção  presente  nos  signos  relacionado  ao  gênero  musical  em  questão.  Consideramos  que  ambas  as  rádios  aqui  estudadas  são  lovemarks,  pois  as  duas  conseguem  mobilizar  o  público  a  defendê­las  e  acompanhá­las  cotidianamente,  a  interagir  ao  vivo  através  do  telefone,  através  da  internet  e  através  das  ações  externas,  sem  que  se  façam  necessárias  grandes  estratégias  de  fala  ou  persuasão.  Nota­se  também  tal  engajamento  por  meio  do  crescimento  comercial  das  lojas de  cada  rádio  que  inclui  novos  produtos  personalizados  e  novas  maneiras  de fazer o fã vestir­se  com  a marca. A mobilização, apesar de ser incentivada pela rádio “marca”, é ouvida pelos fãs  como  a  rádio  “rock”,  ou  seja,  a  música  está  diretamente  ligada  à  marca  e  vem  em  primeiro  lugar  na  lembrança  do  ouvinte,  por  isso,  quando  ele  participa  de  qualquer  ação  da  rádio,  ele  associa a participação ao rock,  diretamente.  Apesar  dessa  característica  afetiva  explorada  pelas  rádios  em  seus  fãs,  nenhuma  das  rádios  (nem  a  rádio  Cidade,  nem  a  89  fm)  mostraram  de fato uma estratégia bem estruturada  e  organizada  pelos  produtores  e  executivos  das  rádios  para  que  isso  aconteça.  Ao  contrário,  transpareceram  uma  dúvida  em  relação  à  boa  parte  da  comunicação  feita  através  de  sites  de  redes  sociais,  o  próprio  site  da  rádio  e  ações  externas  como  festivais,  blitz,  entre  outros.  O  marketing  acaba  sendo  feito  de  forma  espontânea,  com  os  interlocutores  da  rádio  se  colocando  no  lugar  dos  fãs   e  imaginando  o  que  eles  gostariam  de  ouvir,  ler  e  ter  enquanto  seguidores  da  marca.  Nesse  caso,  essa  espontaneidade e empatia dificulta o desenvolvimento  de alguma estratégia de marketing, como aponta Claudio Arpagaus Dotto:    Pode­se constatar que não existe como atividade de Marketing nas  emissoras  estudadas,  um  Sistema  de  Informações  de  Marketing  –  SIM,  caso  se  considere  uma  forma  organizada e  sistemática  de observá­lo, que seja capaz  de  alimentar  o   responsável  pelas  decisões  com  informações,  tanto  em  qualidade,  quanto   em  quantidade,  no  momento  exato  em  que  houver  uma  solicitação.  As  emissoras  também  não  possuem  um  plano  de  Marketing  formal  e  sistematizado,  que  forneça  as  diretrizes  básicas  para  atuação  das  emissoras  estudadas  junto  aos  seus  dois  mercados  e  permitam  decisões  baseadas em informações  objetivas. O que se observou é  que  o improviso e  a   informalidade  prevalecem  como  estratégia  de  conduta  das  rádios   FM   

40  pesquisadas,  em  suas  atividades,  dificultando  assim, o desenvolvimento  de  um  Composto  de  Marketing  Integrado  que  satisfaça  os  consumidores  e os  objetivos organizacionais. (DOTTO, 1998, p. 20)   

Se  tornar  uma  lovemark  para  cada  consumidor  é  o  objetivo  de  muitas  marcas,  principalmente  em   outros   ramos  do  mercado,  como  vestuário,  maquiagem  e  eletrônicos,  por  exemplo.  Um  outro  ponto  positivo  para  as  lovemarks  é  a  possibilidade  de  unir  “afeto  com  afeto”,  ou,  em  outras  palavras,  se  associar  a  outra  lovemark  ou  marca  de  determinado  produto  que  tenha  o  mesmo  (ou  quase   o   mesmo)  público.  Nesse  caso,  um  bom  exemplo são  as  cervejas  das  rádios.  A  89  fm  se  juntou  com  a  cervejaria  Caravelle  e  criou  a  cerveja  “Caravele  89  ­  A  Rádio  Rock”.  Já  no  caso  da  rádio  Cidade,  a  cerveja  escolhida  foi  a  Therezopólis, criando a “Therezópolis Rádio Cidade”.  Toda  essa  conjuntura  soma  para  o  que  temos  hoje:  jovens,  fãs  de  rock  e  ideologicamente  em  harmonia  que  se  identificam  afetivamente  com  as  rádios  e  consomem  seus  produtos  como  parte  daquilo  que  os  transforma  em  “roqueiros  de  verdade”.  É  uma  validação  social  cultural  proporcionada  por  cada  experiência  relacionada  ao  rock,   e  nesse  caso,  também,  relacionada  as  rádios.  Em  entrevista  para  essa  monografia,  Pamella  Renha,  comunicadora  da  rádio Cidade disse: “Quando encontram comigo, com Paulinho, com Pedro,  com  Jean...  eles  personificam  a  gente  como  rádio.  E  é  um  negócio   muito  louco  por  que  a  pessoa  não é meu fã, ele  é fã da rádio. E aí, ele acha que ele me ama, mas ele não me ama, ele  ama  a  rádio.”.  Essa  frase  exemplifica  bem  o  que  é  essa  identificação  com  as  marcas  e,  consequentemente,  esse  afeto.  No  exemplo  citado  por  ela,  é  o  afeto  pela  rádio  personificado  nos comunicadores, ampliando essa ideia, o mesmo afeto sentido pela rádio, é na  verdade, um  amor pelo rock.   

3.2.1 89 FM a Rádio Rock traz os fãs de volta    

A  Rádio  Rock,  89  fm,  surgiu  em  dezembro  de  1985,  na  cidade  de  São  Paulo.  No  mesmo  período  em  que  o  rock  começava  a  se  consolidar  aqui  no  Brasil  e  alguns  eventos  também  iniciavam  suas  atividades,  como  o  primeiro  Rock  in  Rio  que  contou  com  vários  grandes  nomes  da  música  nacional  e  internacional,  entre  elas  a  banda  Queen.  Era  também  o  início  do  que  seria  a  democracia  brasileira,  um  momento  conturbado  marcado  pelo  fim  do  golpe de 1964 (contado em detalhes no livro “89 fm ­ A história da rádio rock do Brasil”).   

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Figura 2 ­ A Rádio Rock 

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(Fonte: Portal Rock Line)        

Pode  ser  considerada  uma  rádio  de  rock  que  pensa  dentro  das  ideologias   do   rock  e  é  engajada  socialmente  e  politicamente.  Ao  longo  de  sua  existência,  até  agora,  a  rádio  participou  de  diversas campanhas importantes, a primeira delas foi em  1992,  comandada pelo  Dr.  Drauzio  Varella  contra  a  Aids,  e  ao  longo de todos esses anos vieram várias outras como  campanhas  pela  paz,  campanhas  de  adoção  de   animais,  entre  tantas  outras,  mostrando  os  valores  necessários  para  representar  os admiradores do gênero  musical em pauta. No entanto,  apesar  disso,  os  diálogos  e  discursos  da  rádio  sempre  demonstraram  um certo oportunismo e  nenhuma  preocupação  se em cada fala emitida pela rádio havia a acentuação de determinados  preconceitos  e/ou  estereótipos.  O  slogan  da  rádio,  no  ano  de  sua  estreia  era  “89  FM  –  A  Rádio  do  Rock,  o  Túmulo  do  Samba”,  em  um  período  onde  o  rock  estava  consolidado  e  o  samba  havia  caído  das   paradas  de  sucesso.  Defender  o  rock como gênero musical superior e,  concomitantemente,  rebaixar  os  outros  gêneros  a  “músicas  ruins”  era  uma  constante.  Esse  discurso  só  mudou  quando  o  rock  começou  a  perder  força  no  mercado  fonográfico  e  a  possibilidade de mudança de estilo da rádio era iminente.  

 ​ Disponível  em  .  Último acesso em maro  de 2016.  29

 

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A  89  fm  não  utilizava   o   nome  “A  Rádio  Rock” desde sua mudança de estilo musical,  em 2006. Foram seis anos de muita música  pop,  black music e música eletrônica até  o  retorno  de,  talvez,  a  maior  rádio  rock  e  uma  das  maiores  rádios  fm  de  SP.  A  volta  da  “Rádio  Rock”aconteceu  um  pouco  antes  do  que  seria  o  fim  da  emissora.  Pouco  antes  de  vender  a  rádio  para uma igreja, o dono e os diretores da rádio decidiram voltar com  o  rock como forma  de  se  despedir  dessa  que  havia  sido  uma  das  melhores  rádios  do  segmento  durante  muitos  anos.  Mas  para  a   surpresa  deles,  o  pedido  de  retorno  foi  muito  maior  do  que  o  esperado.  E  assim  foi  feito,  eles  instigaram  os  fãs  através  da  programação  da  própria  rádio  e procuraram  patrocinadores  pelos  bastidores.  “Assim  que  assinou  o  contrato  com  o  site  UOL,  o  que  permitiu  a  salvação  de  seu  negócio,  Junior  já tinha dinheiro e argumento para ir atrás de seus  antigos  talentos.  Com  pouco  tempo  para  ajeitar  a  casa  antes  da  reestreia,  o  diretor  sabia  que  aquelas  cinco vozes ajudariam a trazer de volta o que ele chama de “DNA da rádio” (RUBIN,  30

2013) ​ .   A  volta  da  rádio  aconteceu  no  dia  21  de  dezembro  de  2012  e  foi  um  sucesso.   Junto  com  ela,  voltaram  alguns  dos  comunicadores  que  faziam  a  rádio   rock  antes  da  mudança  de  estilo  musical,  como:  Luka,  P.H.  e  Thiago  DJ.  O   crescimento  online  foi  consideravelmente   grande,  principalmente  depois  de  retornar  no  dial  fm  e  implementar  a  webrádio,  através  do  site da UOL.   31

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Os  passos  seguintes  foram  os  sites  de  redes  sociais  como  Facebook ​ ,  Twitter ​ ,  33

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Instagram   e  Snapchat ​ .  A  rádio  continuou  demonstrando  um  enorme  domínio  comunicacional  e  ganhando cada vez mais acessos em suas páginas nos  sites de redes sociais,   ​ Trecho retirado da matéria “A 89, a Rádio Rock, voltou de mãos dadas com o UOL” no  site da  revista Exame,  disponível   em    .  Último  acesso em março de 2016.  31  ​ O Facebook  é  uma  rede  social  que  permite  conversar  com  amigos  e compartilhar  mensagens, links,  vídeos e  fotografias.  Disponível   em    Último acesso em março de 2016.  32  ​ Trata­se  de  uma  ferramenta  que  permite  que  sejam  escritas  mensagens  de  até  140 caracteres  e  enviadas  a  pessoas  pré­cadastradas   para   tal.  Os  usuários  escolhem  de  quem  gostariam  de  receber  suas  mensagens  e  convidam   amigos  para  compartilhá­las.  Disponível  em   . Último acesso em março de 2016.  33  ​ Instagram  é  uma  rede  social  de  fotos  para  usuários  de  Android  e  iPhone.  Basicamente  se  trata  de  um   aplicativo  gratuito  que  pode  ser baixado  e,  a  partir  dele,  é  possível  tirar  fotos  com o  celular, aplicar efeitos nas  imagens  e  compartilhar  com  seus  amigos.  Disponível  em   . Último acesso em março de 2016.   34  ​ Snapchat  é  uma  rede  social  e  aplicativo  mensageiro  semelhante   ao  WhatsApp  Messenger,  mas  que  envia  imagens  pelo  bate­papo  que  só  duram  alguns  segundos,  sendo  'destruídas'  em  seguida.  Disponível   em  .  Último acesso em  março de 2016.   30

 

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além  de  seguidores.  No  entanto,  deve­se  observar  como  é  feita  tal  comunicação  e  a  maneira  de  interagir  com  os  ouvintes.  A  Rádio  Rock  é  uma  marca  jovem,  apesar  de   também  manter  boa  parte  do  seu  público  da   primeira  fase  rock  da  emissora,  e  boa  parte  da  comunicação  é  feita  nitidamente  direcionada  para  o  público  jovem.  Por  isso,  é  interessante  analisar  que,  ainda  que  a  rádio  tenha  a  intenção de se manter jovem,  politicamente engajada e “descolada” 35

,  ela  reforça  alguns  estereótipos  e  preconceitos  também,  como:  um  programa  para  falar 

sobre  futebol  formado  apenas  por  homens,  integrantes  do  sexo  feminino  que  reforçam  o  padrão  de  beleza  presente  em  nossa  atual  sociedade  (visualmente  e  verbalmente),  por  exemplo.  No  entanto,  mercadologicamente,  é  uma  emissora  menos  polêmica  e  menos  preconceituosa  que  outras rádios do mesmo segmento musical e mais consciente do seu papel  enquanto  marca  jovem.  Muitas  vezes  filiada  a  campanhas  de  adoção  de  animais,  doação  de  sangue e preservação ambiental.   Com  isso  podemos  dizer  que  a  Rádio  Rock,  que  já  era  uma  lovemark  antes  da  mudança  dos  anos  2000,  retomou  os  fãs   e  o  prestígio  daqueles  que  já  eram  seguidores  da  marca. Criou então uma loja online e voltou aos festivais, ora participando, ora produzindo. O  próximo  passo  foram  as  lojas  físicas  e   hoje,  três  anos  depois  de  seu  retorno,  podemos  dizer  que  a  rádio  obtém  sucesso  no  que  faz,  ainda  que  haja  uma  comunicação  e  um  plano  de  marketing  a  ser  melhorado,  de  modo  geral,  ela  mantém  um  bom  faturamento,  um  número  considerável de seguidores e uma comunicação ativa e convincente.     

3.2.2 ­ Os fãs trazem a Rádio Cidade de volta   

A  rádio  Cidade  foi  inaugurada  em  01  de  maio  de  1977,  em  meio  a  ditadura  militar  e  na  mesma  época  da  consolidação  da  música  pop  no  Brasil.  “Naquele  momento,  o  ator  John  Travolta  era  o  ícone  de  uma  geração  onde  todos,  a  cada  final de semana, tentavam encontrar  o  seu  próprio  ​ Saturday  Night  Fever​ ”  (LEPETRI,  2015,  p.  3).  Surgiu  como uma emissora até  então  popular,  que  tocava  de  tudo  um  pouco,  principalmente  pop,  dance  e  rock.  Com  uma  proposta  inovadora  para  a  comunicação  de rádio, a rádio Cidade trazia um jeito novo de falar  com os fãs e entreter os ouvintes, de forma mais próxima e empática.  Uma maneira inovadora  de  se  comunicar  com   o   público  que  é  utilizada  até  hoje  por  diversos  locutores  brasileiros.  35

 

 ​ Gíria que significa: atual, moderno, sociável. Fonte Último acesso em março de 2016. 

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Inclusive,  defendem  os  comunicadore  da  rádio,  foi  graças  a  rádio Cidade  que todas as outras  rádios  começaram  a  entreter  dessa  maneira, que é utilizada por quase todas as emissoras hoje  em  dia.  Principalmente  nos  tempos  atuais  que  contam  com  a  internet,  a  empatia  com  o  público é essencial e a interação personificada é cada dia mais valorizada   

Figura 3 ­ Rádio Cidade 

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(Fonte: Wikimedia)      

Culturalmente  falando,   ela  foi  responsável  por  uma  tentaiva  de  implantação  de  uma  cultura  pop  no  Brasil.  E,  no seu auge de audiência e no auge da música pop no Brasil, a rádio  migrou para Portugal. (LEPETRI, 2015).   Foi  na  década  de  1990  que  a  rádio  Cidade,  em  parceria  com  a  Rádio  Rock  de  São  Paulo,  começou  a  migrar  para  o  segmento  rock’n  roll,  até se definir apenas como rádio rock.  Nesse momento, o rock contava com nomes como Pitty, Raimundos, Los Hermanos e Charlie  Brown  Jr  em  alta  na  programação.  Mas  o  rock  estava  em  baixa   no   país e não  era visto como  atrativo  para  investidores  ou  agências  de publicidade. O faturamento caiu e a rádio, em 2006,  se viu obrigada a abandonar o dial fm e ocupar apenas a posição de webrádio.      ​ Disponível  em  .   Último acesso em março de 2016.  36

 

45  Apareceu  uma  proposta de filiação à  Oi FM, e  foi feita a opção de manter a  Rádio  Cidade   apenas  na  internet.  Uns  seis  anos  depois,  a  Oi  acabou,  e  a  gente  estava  estudando  voltar com  a Rádio Cidade, quando veio  a volta da  Jovem  Pan  FM. Resolvemos arriscar nos filiar  a eles, e a coisa não deu certo  ­ relembra o  executivo, que também  é diretor artístico da JB FM (rádio que,  junto  com  a Cidade, forma o  Sistema Rio de Janeiro de Rádio). ­ Foi a volta  da  89FM  (​ emissora  de  São  Paulo​ )  ao  rock  (​ em  julho  de  2013​ )  que  nos  animou a  trazer a  Cidade de volta à  FM aqui no  Rio.  O barulho foi grande,  37 vimos que dava para fazer aqui também​ . (​ ESSINGER, 2014)      

Nessa  época,   já  adotava  algumas  estratégias  de  mercado  para  atrair  alguns  fãs  e  manter  tantos  outros  que  continuavam  acompanhando  a  rádio,  como  os  módulos  com  subgêneros  do  rock  para  quem  queria ouvir apenas classic rock, ou drop, ou heavy metal, por  exemplo.   Quando  a  Rádio  Rock,  89  fm,  voltou  em  São  Paulo,  abriu  espaço  para  o  rock  no  mercado  nacional  mais  uma  vez.  Meses  depois,  a  Jovem  Pan  abandonou o dial fm do Rio de  Janeiro,  abrindo  espaço  para  uma possível volta da rádio Cidade. Como contou amella Renha  em  nossa  entrevista:  “E  quando  essa  oportunidade  surgiu,  eu  conversei  com  o  Tico  (Santa  Cruz  ­  Detonautas) e era aquela época de manifestação de professores que tava tendo e tal. Aí  eu  falei:  “Tico,  tá  tendo  uma  chance  da  rádio  Cidade  voltar  e  eu  preciso  muito  do  apoio  de  alguém.  E  só  com  alguém  grande  com  números  expressivos  (de  seguidores)  que  a  gente  vai  conseguir  fazer  essa  volta  das  pessoas  acreditarem  que  ela  pode  voltar.  Mas  não  pode  sair  como  um  pedido  interno,  então   você  inventa  o  que  você  quiser.”  Aí  ele:  “Então  tá. Só deixa  eu  voltar,  porque  eu  tô  aqui  na  manifestação  dos  professores,  aí  depois  eu  faço  isso.”.  E  eu  “então  tá”.  De  fato,  quando  voltou  ao  dial  fm,  a  rádio  Cidade  parecia  ter  sido  convocada  pelos  fãs.  Diversos  artistas,  como Matanza, Pitty,  Vespas Mandarinas, Raimundos, Tihuana e  CPM22  por  exemplo,  se  solidarizaram  com  o  movimento  e  postaram  fotos  com  placas  pedindo a volta da rádio.    

Figura 4   

 ​ Trecho retirado da matéria “Rádio Cidade,  o regresso nas ondas do rock” no  jornal “O Globo”, disponível em  .  Último  acesso  em  março de 2016.   37

 

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  38

(Artistas e fãs com cartazes da campanha #voltaradiocidade ​ )     

 ​ Disponível  em  <​ https://twitter.com/MarkinhoJr/status/429355256162443264​ >.  Último  acesso  em  abril  de  2016.  38

 

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Figura 5 

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(Cantora Pitty com cartaz da campanha #voltaradiocidade ​ )   

Figura 6 

 ​ Disponível  em  .  Último  acesso  em  abril  de   2016.  39

 

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(Jimmy, vocalista da banda Matanza, com cartaz da campanha #voltaradiocidade ​ )     

Foi  então,  no  dia  10  de  março  de  2014,  que  de  fato  a  rádio  Cidade  retornou  e  está,  desde  então,  fortalecendo  a cena do rock no Brasil. Assim como a 89, a rádio Cidade também  tem  loja  virtual,  itens  personalizados  e  diversos  aparatos  para  instigar  a  memória afetiva dos  fãs  do  gênero.  O  sucesso  da  rádio  no  Rio  de  Janeiro  também  é  grande  e  uma  nova  consolidação  mercadológica  não  parece  estar  muito  longe.  Contudo  uma  análise  em  relação  ao  uso  dos  sites  de  redes  sociais  e   do   posicionamento  da  rádio  enquanto  marca  se  faz  necessário.  A  rádio  Cidade  tem  utilizado  a  interatividade  desses  novos  tempos  de  forma  bastante  positiva  sob  um  viés  mercadológico.  As  interações  estão  presentes,  assim  como  na  89  fm,  em  sites  como  Facebook,   Twitter,  Instagram  e  Snapchat  e  somam  uma  quantidade  cada  vez   maior  de  seguidores  adquirida  através  do  marketing  da  rádio  e  transformada  em 

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 ​ Disponível em <​ http://voltaradiocidade.tumblr.com/image/71300432154​ >. Último acesso em abril de 2016. 

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público  presente  em  shows  e  blitz  realizadas  pela  emissora.  Como  disse  Pamella  Renha  em  entrevista  para  este  trabalho,  o  sucesso  da  rádio  Cidade  na  Baixada  Fluminense  e  na  zona  Norte  é  bastante  grande  e  o  crescimento  pode  ser  visto  de  diversas  formas.  Uma  delas  é  o  Centro  Cultural  João  Nogueira,  o  Imperator,  localizado  no  Méier  e  reformado  pouco  tempo  antes  da  volta  da  rádio e hoje palco de grandes shows organizados pela emissora. No  entanto,  problematizar  é  preciso.  A  rádio  Cidade  representa  uma  marca  jovem  e,  apesar  de  ter  um  grande  público  mais  velho  derivado  do  primeiro  estágio  da  rádio  no  dial  FM,  toda  a  comunicação  é   feita  em  linguagem  jovem  e  atual.  Cada  vez  mais  novas  bandas  se  fazem  presentes na programação e o diálogo direto com os jovens nas redes sociais é constante.   No  entanto,  a  preocupação  com  o  reforço  de  estereótipos  e  preconceitos  é  mínima  e,  infelizmente,  fortalece  uma  cultura  presente  no  rock  desde  seus  primórdios (apesar de, como  dito  no  primeiro capítulo deste trabalho, a pioneira do rock ter sido uma mulher, muitas vezes  ignorada  pela  história).  O   rock  ainda  carrega  muito  machismo  em  diversas  cenas,  de  uma  maneira geral, e movimentos feministas são cada vez mais comuns, inclusive dentro do rock.    Segundo  Camargo (2011, p. 155),  “a  cena  do rock de mina surge enquanto  oposição  ao  sexismo  presente  no  rock  e  no  punk  (...)  a  partir  de  práticas  como  a  elaboração   de  fanzines  e  letras  de  música  feministas”   e,  embora  essas  meninas  estabeleçam  um  diálogo  com  outros  movimentos  culturais  (como o punk), elas carregam traços singulares”. (CASADEI, 2013, p. 4)     

Muitas  cantoras  debatem  bastante  sobre  essa  questão  e  tentam,  cada   vez  mais,  lutar  contra  esse  preconceito.  “Em  entrevista  a  Rolling  Stone,  Pitty  falou  sobre  o  machismo  no  rock.  ‘‘O  rock  é  um  reflexo  da  nossa  sociedade”,  disse  ela,  que   continuou:  “Existem  setores  extremamente  patriarcais,  e  o  rock  é  um  deles.  É  difícil.  No  início,  eu fazia de tudo para não  41

ser  vista  como  ‘a  garotinha’’.   Nesse  panorama,  é  preciso  pontuar  o  fato  de  a  rádio  não  se  preocupar  com   temas  como  esse,  e  além  disso,  reforçar  algumas  dessas  questões  com,  por  exemplo,  uma  mulher  “sem nome”,  chamada de “estagiária gostosa”, que aparece sempre nas  fotos nos sites de redes sociais de costas para mostrar/enfatizar o bumbum.     

  Trecho  ​ retirado  do   site  TV  Foco.  Disponível  em   . Último acesso em março de 2016.  41

 

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Figura 7   

  (Na legenda dessa imagem, estava escrito: “A galera da Hora dos Perdidos botou a Estagiária  42

Gostosa pra trabalhar hoje.” Fonte: Página da Rádio Cidade no Facebook ​ .)     

Não  pretendo  com  tais  fatos   reduzir  o  sucesso  da  rádio  a  um  machismo  intrínseco  e  naturalizado  não  só  no  rock,  como  também  na  nossa  sociedade.  Nem  tão  pouco  direcionar o  objetivo  deste  trabalho  para causas feministas e sociais, mas pontuar o quão necessário é para  uma  marca  é  se  posicionar  e  ter  consciência  de  seu  tamanho  e  do  poder  de  fala  que  se  tem  com  o  sucesso  apresentado  por ela, principalmente quando se tem tanto domínio tecnológico,  com  módulos  diferentes  em  seu  site  e  aplicativo  para  celular,  por  exemplo,   e  tanto  sucesso  mercadológico (apesar da ausência de um plano de marketing bem definido).     

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  Diponível  em    . Último acesso em março de 2016. 

 

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CONCLUSÃO   

Portanto,  podemos  concluir  que   o   rock  sempre  foi  muito  importante  na  vida  dos  fãs  do  gênero,  desde  o  seu  surgimento  até  os  dias  de  hoje.  No  início,  fortaleceu  o  movimento  negro  americano  e  deu  origem  ao  que  chamamos de classic rock hoje em dia. Depois, iniciou  e  consolidou  o  movimento  jovem,  auxiliando  na  criação  do  termo  “juventude”  e  empoderando  esses  que  tinham   menos  destaque  na  sociedade.  A  figura  do  jovem,  como  vimos,  foi  construída  como  alguém  que  tem  uma  constante  vontade  de  lutar  pelos  seus  direitos  e  ideologias,  sempre  ao  lado  de  conquistas  políticas  e  pautando  discursos  de  luta  e  otimismo  em  relação  à  sociedade.  Tal  construção  se  deu,  em  parte,  relacionada  à  própria  consolidação do gênero musical do rock.  Tivemos  como  objeto  de  estudo  neste  trabalho  duas  rádios  voltadas  a  esse  gênero:  a  Rádio  Cidade  e  a  89  FM.  O  início de ambas as rádios foi marcado por um momento histórico  brasileiro  cheio  de  lutas  e  embates  políticos.  Em  nenhum  momento  durante  esta monografia,  tive  a  intenção  de  me  estender  ou  relacionar  os  meus  argumentos  à  política  brasileira  ou  estrangeira.  Mas,  não  se  pode  negar  que  tanto  no  início  das  rádios  como  durante  suas  respectivas  voltas,  o  momento  político  brasileiro  era,  no  mínimo,  instável.  Dito isto, defendo  aqui  a  importância  das  rádios,  enquanto  rádios  do  segmento  rock,  para  os  fãs  do  gênero  musical  em  questão.  E  também,   a  relevância  de  ambas  enquanto  meios  de  comunicação  e  informação  para  a  sociedade.  Trazendo  a  fala  de  Pamella  Renha  em  sua  entrevista  para este  trabalho:  “geralmente  o  rock,  ele  é  uma  forma  de  protesto  também  sabe?  E  quando  esses  jovens  não  tem  muito  o  que  protestar  você  acaba  fazendo  o  rock  fofinho  e  acaba  não  tendo  aquela  identificação  que  você  tinha  com  o  Legião  Urbana”.  E  é  por  isso,  segundo  a  programadora,  que  a  audiência  das  rádios  só  aumenta.  Esse  entrelaçamento  discursivo  entre  rock  e  protesto,  rock   e  afirmação  de  identidade,  em  meio  a  disputas  de  gosto  mediadas  por  determinadas marcas, é central para as rádios.   Enquanto  marcas,  podemos  considerá­las  um  sucesso  mercadológico.  Com  fãs  engajados  e  consumidores  convencidos  de  terem  em  mãos  o  melhor  que  o  rock  pode  lhes   oferecer,  as  rádios  conseguem  cativar  os  roqueiros  dessa  nova  geração  e,  ao  mesmo  tempo,  agradar  aqueles  que  eram  jovens  no  início de cada uma. Utilizam da melhor maneira possível  as  estratégias  disponíveis  para  conquistar  cada  vez  mais  cada  ouvinte,  e,  ainda  que  não   

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tenham  nenhum  plano  de  marketing  ou  estratégia  online  traçada,  conseguem  superar  as  incertezas  causadas  pela  internet  com  um  meio  de  comunicação  tido  por  muitos  como  ultrapassado, mas que se atualiza a cada década.   A  internet  ainda  parece  um  campo bastante desconhecido para as rádios. A impressão  que  temos  é  de  um  improviso  feito  por   demanda  e  enquanto  está  tudo  funcionando  bem,  continuam  assim.  Isso  não é necessariamente ruim, considerando a velocidade de mudança da  internet  e  a  dificuldade  plausível  de  adaptação  em  tão  pouco  tempo.  Contudo,  talvez,  um  melhor  planejamento   evitasse  falhas na comunicação e pudesse demonstrar como de fato essa  interação impacta a favor das marcas.    Como  observado,  é  importante  ressaltar   o  fato  de   uma  organização   patrocinar  um  evento  cultural,  é  extremamente  compensador  tanto  para  a  empresa  quanto  para os funcionários  e seus clientes,  pois estes  acabam por  receber  benefícios  emocionais  que  resultam  do  orgulho  de  estarem  associados  a  uma  instituição  que  apoia  e  incentiva  eventos  culturais  contribuindo  com  as  iniciativas  que  tem  valores  que  vão  de  encontro  aos  seus. Porém, este não é o único aspecto importante, observa­se ainda que em  determinados  eventos  há  a  oportunidade  da  empresa  fazer  contato  direto  com  um  público  segmentado,  oferecendo  a  este  acesso  a  determinadas  atividades com as quais se identificam e são apaixonados‟ .  (ARBEX, DA DALT, 2013, p. 3).     

Com  seus  próprios  festivais  e  organizações  culturais,  as  rádios  demonstram  experiência  e  boa  gestão de marca. Cada uma dessas intervenções é necessária para  continuar  presente no imaginário afetivo de cada ouvinte e manter­se como símbolo do rock para os fãs.  Não  à  toa,  poucas  pessoas  lembram  da existência de outras rádios quando o assunto é rock.  É  o  caso  da  Kiss  fm  (SP),  que  sempre   esteve  no  dial  e  não  passou  por  nenhuma das alterações   sofridas  pelas  rádios  objetos  dessa   monografia.  Mas,  como  disse  Rubão  (89  fm)  durante  a  entrevista,  ter  muita   audiência  não  significa  ter  uma  receita  razoável  e  pode,  muitas  vezes,  não representar nada em relação ao faturamento da emissora e/ou anúncio publicitários.  Concluo,  portanto,  que  as  rádios  possuem  um   cenário  mercadológico  a  favor  de  suas  ambições  ou  o  que  seriam  os  próximos  passos  dentro   de  uma  empresa  em  crescimento,  levando  em  consideração  o  surgimento  de  novas  bandas  nacionais  e  internacionais,  as  intervenções  políticas  nas ruas e o fato de já serem consolidadas enquanto ​ lovemarks​ . Apesar  de  considerar  o  mercado  fonográfico  imprevisível,  acredito  que  as  rádios  conquistaram  um 

 

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espaço  no  mercado  bastante  importante  e  dificilmente  perderão  tanto  a  ponto  de  terem  que  mudar de segmento e/ou abandonar o dial fm (novamente, no caso da rádio Cidade).      

 

 

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Anexo 1 ­ Entrevista 89 FM a Rádio Rock   

Monique:  ​ A  rádio  (89  fm)  teve  um  período   de  consolidação  nos  anos  1980  e  1990  aqui (em SP) e depois ela mudou para pop. É isso mesmo? Como foi esse processo?  Rubão  ­  89  fm:  ​ Na  época,  isso  foi  em 2005 ou 2006, se não me engano ­ não lembro  exatamente  o  ano  ­  a  direção  da  89  fm  chegou  a  conclusão que havia uma necessidade dessa  mudança de segmento, pois consideravam que o público havia mudado. As características dos  ouvintes  e  a  forma  de  ouvir   rádio  estavam mais ecléticos e por isso chegamos a conclusão de  que  deveríamos  abrir  a  programação.  Não  ser  apenas   uma  rádio  rock  e  começar  a  tocar  músicas  mais  pops,  além  de  dance,  black  music  e  tudo  mais.  Foi  basicamente  em  virtude  dessa leitura da situação da época.    Monique:  ​ A  partir  desse  momento  ​ vocês  começaram  a se denominar uma rádio pop?   Ou ainda eram a rádio rock, mas que tocava música pop também?  Rubão  ­  89  fm:  ​ Nós  começamos  a  trabalhar  só  como  89,  não  existia  mais  uma  assinatura  como  “a  rádio  rock”,  então  tudo  que  nós  comunicávamos  no  ar  era  sempre  89  e  apenas  isso.  Mesmo  quando  acontecia  alguma  campanha,  não  usávamos  “a  rádio  rock”.  Era  uma  das  orientações  da  época  que  não  fizessemos  com  que  as   pessoas  lembrassem  que  erámos  a  89  “a   rádio  rock”,  porque  era  uma  marca   forte  e  a  ideia  era  divulgar  uma  nova   marca.    Monique: ​ Mas foi apenas pelo público que aconteceu essa mudança?  Rubão  ­  89 fm: ​ Não. Foi principalmente por faturamento comercial. Vamos deixar as  coisas  bem  claras:  rádio,  televisão  e  qualquer  outro  meio  de  comunicação  são  negócios.  São  empresas  como  qualquer  outra  que  precisam  pagar  suas  contas.  Conta  de  energia  elétrica,  ECAD  e  toda  a  parte  trabalhista.  Precisamos  honrar  esses  pagamentos.  A  partir do momento   que  o  faturamento  comercial  não  cobria  mais  nossos  custos  e  nós  detectamos  uma  queda  na  audiência  da  rádio  ­  audiência  nesse  caso  o  IBOPE  ­.  O  IBOPE  é  o  instrumento  que  as  agências  de  publicidade  tem  como  guia  para  fazer  os  anúncios.   Com  a  diminuição  da  audiência,  nosso  departamento  comercial  junto  com  a  direção   decidiram  mudar  o  perfil  da  rádio  para  aumentar  o  volume  da  audiência.  A  ideia  era   atingir  mais  pessoas  para  que  esses   

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números  pudessem  atrair  mais  patrocinadores,  anúncios  e  tudo  mais.  Esse  foi  o  objetivo.  E  não  por  que  o  dono  da  rádio   um  belo   dia  disse:  “Ah,  não  gosto  mais  de  rock,  “tô”  de  mau  humor,  vamos  mudar  tudo!”.  Claro  que  não  é  assim,  tudo  é  negócio.  E  não  adianta  a  gente  dizer  só  pela  parte  ideológica:  “ah,  a  gente  só  toca  rock,  não  vamos  pensar  na  parte  comercial!”.   Infelizmente  nós  vivemos num sistema capitalista. Nós temos uma empresa com  contas,  tributos,  impostos  e  não  é  uma  coisa  simples.  É  óbvio  que  quando a direção teve que  tomar  essa  decisão  na  época,  achou  melhor  tomar  essa  decisão,  não  foi  fácil,  porque  sabiam  que  havia  todo um histórico. Você está falando de uma marca, de uma instituição que já tinha  uns 20/21 anos. Então é muito difícil.   

Monique: ​ E como vocês decidiram fazer o contrário: voltar com a rádio rock?  Rubão  ­  89  fm:  ​ Aconteceu o seguinte: a rádio conseguiu ter volume de audiência, ela  aumentou.  Porém,  nosso  retorno  financeiro  não  melhorou  muito.  A  rádio  ia  ser  arrendada,  essa  é  a  verdade!  Estava  até  com  um contrato assinado com uma igreja e tudo mais. Num ato  meio  de  loucura,  desespero  ou  qualquer  coisa  do  tipo,  o  dono  da  rádio  decidiu  fazer  uma  despedida  e  voltar  com  a  rádio  rock  no  ar  por  algumas horas, só pra ver o que aconteceria. E  aí  o  cara  fez.  A  repercussão  gerada  em  redes  sociais  como:  facebook  e  tudo  mais,  foi  muito  grande  e  a  gente  percebeu  que ainda existia uma marca muito forte. Isso empolgou o dono da  rádio  a  tal  ponto  que   ele  resolveu  quebrar  esse  contrato  que  estava  assinado  com a igreja, de  arrendamento,  e  correu  atrás  de  parceiros  para  que  a  rádio  pudesse  voltar,  e  voltar  a  ser  a  rádio  rock  mesmo,  nos  moldes  que  o  pessoal  já  conhecia.  A  coisa  começou  a  caminhar  e  a  gente  começou  a   comunicar  isso  no  ar  também,  de  uma  forma meio velada.  Mas a verdade é  que  estávamos  correndo  atrás  de  alguém  para,  pelo  menos,  bancar  esse  início  né?!  (risos). E  esse  início  foi  marcado  pelo  UOL.  O UOL ajudou a gente nesse início de processo, tanto que  nós ficamos uma época como “UOL 89 ­ A rádio rock”.   Monique: ​ Mas isso já acabou, certo?  Rubão  ­  89  fm:  ​ É,  isso  já acabou. Foi por um ano isso. Agora é “89  ­ A Rádio Rock”  normal, não tem nenhum ​ naming rights​ .  Então  assim,  nós  percebemos  que   a  força  da  marca  é  muito  relevante.  E  analisando… Isso é  uma  opinião  pessoal  e  não  da  direção.  Estou  falando  eu,  Rubens,  produtor  da  rádio  que  já  estou  aqui  desde  1997.  Quando  a   gente  deixou  de  ser  a  rádio  de  rock,  nós  abrimos  a  programação   da  rádio  e  tudo  mais,  foi  um  erro.  Mas,  acho  que  foi  um  erro necessário para a   

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rádio  ter  cometido,  porque  hoje  eu  tenho  certeza  que  realmente  é  a  força  da  marca  que faz a  diferença   enquanto  rádio.  O  que  eu  quero  dizer  é:  se  você  não  tem  uma  marca  forte,  que  as  pessoas  lembrem,  você  não  consegue  patrocínios  e  tudo  mais.  Então,  por  exemplo, vou falar  de  outras  rádios  fortes  em  São  Paulo só que em outros segmentos. Por exemplo, CBN, é uma  rádio  de  notícia.   É  o  forte  deles.  Eles  podem  não  ter  um  volume  de  audiência  grande  como  tem  as  rádios  ditas  populares,  mas  quando  você  ouve  um  break  comercial  deles,  você  vê  a  quantidade  de  clientes  grandes que eles tem. Por que? Porque eles tem  uma rádio qualificada,  que  informa,  tem  colaboradores  de  renome…  Eles  tem  uma  marca  forte  por  causa  do  conteúdo  deles.  O  que  eu  vejo  para  o  rádio  é  isso. Faz diferença você ter um conteúdoe você  ter  uma  marca   forte.  Só  volume  de  audiência,  hoje,  não  dá  retorno  comercial.  Não  basta  apenas  você ter grandes números de audiência. Você precisa somar isso… claro que você tem  que ter audiência também, mas você precisa ter uma marca relevante.   

Monique:  ​ Quais  são  as  principais  diferenças  da  rádio  antes da programação pop e da  rádio após o retorno do rock?  Rubão  ­  89  fm:  ​ É  difícil  dizer  as  diferenças.  Porque,  por  exemplo,  eu  estou na rádio  desde  1997  pra  cá,  e  muita  coisa  mudou.  Quando  eu  entrei  na  rádio  a  internet  engatinhava,  era  discada.   E  a  internet  mudou  tudo.  A  internet  fez  todo  esse  mercado  de  entretenimento  mudar,  de  mídia  e   tudo  mais.  O  jeito como a gente consome mídia mudou. Pode ver que, por  exemplo,  televisão...  A   televisão  aberta  está  sofrendo. Cada ano que passa vem diminuindo o  número  de  pessoas  que  assistem  conteúdo em tv aberta, porque “o cara” fica assistindo vídeo  no Youtube e procura ‘N’ coisas na internet.    Monique: ​ Quais são as estratégias da rádio dentro da internet?  Rubão  ­  89  fm:  ​ Vamos  ser  sinceros:  a  gente  ainda  está  aprendendo  a  lidar com isso.  Dizer  que  tem  uma  estratégica  específica?  A  gente  não  tem.  A  gente  faz  alguns vídeos aqui,  com  artistas  que  vem   aqui,  põe  lá  no  Youtube  e  tal,  mas  não  tem  como  te  dizer  que  existe  uma estratégia pré determinada para isso. Até porque nós estamos tentando entender tudo isso  que  está  acontecendo.  Porque  é tudo muito imediato e sempre surge algo novo. A gente ficou  brincando  um  pouquinho  com  o  Periscope,  por exemplo, mas a gente nem sabe exatamente o  que  isso  vai  gerar  pra  gente  de  retorno.  Se  vai ajudar ou não, se vai atrapalhar. A gente usa o  instagram  para  divulgar  nossos  programas  ou  fazer  promoções,  mas,  de  fato,  é  difícil   

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mensurar  o  quanto  ajuda  ou se não ajuda. Mas de qualquer forma a gente sabe que não dá pra  ignorar.  Existe.  E  existe  muita  gente  que  consome  isso,  que  usa…  Então  assim,  o  que  nós  temos  trabalhado  é:  a  gente  não  quer  ser  uma  rádio  que  só  toca  música,  como  se  fosse  uma  playlist  que  fica  disparando  música  automaticamente.  A  gente  trabalha  com  apresentadores  aqui,  que  não  são  locutores, são apresentadores. Claro que, por exemplo, nós temos a Luka, o  Tatola,  o  Zé  Luís,  que  não  são  locutores,  são  apresentadores,  comunicadores. Então, isso faz  uma  diferença.  Porque  tem  rádios  que  preferem  ter  locutores  padrão,  o  cara  que  anuncia  e  “desanuncia”  música,  de  forma  rápida  e  você  quase  nem  se  identifica  com  esse  cara.  Você   não  sabe  como  é  o  nome dele, porque eles são muito parecidos. O Carlos X é parecido com o  Eric  Y,  por  que  é  a  mesma  técnica, mas você não identifica a personalidade do cara. Mas são  estratégias.  Estratégias  que  algumas  rádios  adotam.  Eu,  particularmente,  não concordo muito  com  isso porque eu acho que o ouvinte perde um pouco aquela coisa do rádio amigo, “o rádio  é  seu  amigo”,  o  rádio  é   aquele  “trequinho”  que  tá  ali  na   mesinha  ou  no  celular,  que  você  tá  ouvindo  música,  mas  o  cara  fala  um  negócio  e  você  dá risada num dia que , de repente, você  está  de  mau  humor.  E,  sei  lá,  o  cara  fala  alguma  besteira  que  muda  sua  vida,  uma  coisinha  boba,  ridícula  as  vezes.  E  tem  rádios  que  já  não  permitem  isso,  e  acredito  que  isso  é  ruim.  Então assim, são interpretações e jeitos de se conduzir o négocio, entendeu?    Monique:  ​ Você  disse  que  a  marca  89  tem  um  grande  peso  e  um  grande  nome. Você  acha  que  essa  aproximação  tem  a  ver  com  a  memória  afetiva  dos  fãs,  ouvintes  da  rádio?  Foram eles que deram essa força para a rádio voltar?  Rubão  ­  89  fm:  ​ Sim,  total.  Porque  a  marca  89  foi desenvolvida desde 1985, mas ela  fez  diversas  coisas  diferentes  que  criaram  essa  ligação  afetiva:  fizemos  campanhas  contra  a  violência,  pela  paz,  ajudamos  em  campanhas  para  pessoas  carentes,  fizemos  festivais…  Fizemos  campanhas  criativas  e  engraçadas.  Tivemos  até  o  pessoal  do  humor,  sobrinhos  do  Ataíde,  que  foram  caras  que  revolucionaram  o  mercado  de  humor  no  rádio  aqui  em  São  Paulo. Estabeleceram um formato diferente do que acontecia de humor em rádio. Essas coisas  vão  se  somando  e  ficam  na  memória  afetiva,  fora  o  lado  musical.  Também  tem  isso,  porque  existe  todo  um  contexto  aí  da  época.  Em  1985,  por  exemplo,  quando  a  rádio começou, era o  ano  da  reabertura  democrática,  o  Brasil  estava  saindo  de  uma  ditadura  militar  e  a  molecada  tinha  um  anseio  por música jovem mais contundente e você estava podendo a começar a falar  as  coisas  que  você  queria  falar.  Você  não  podia  na  época  da  ditadura,  mas  essa  geração   já   

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podia  falar.  Então  uma  série  de  fatores  foram  ajudando  aí,  no  caso  do  rock,  veio  o  grunge.  Então  tudo  isso  foi  marcando   e  a  rádio  tava  nesse  meio  todo,  no  meio  de  todo esse processo   junto  com  o  cara  que  queria  ouvir  tudo  isso.  O  cara que tava: “meu, o que está acontecendo?  O  que  é  isso  aí?  O  que  é  esse  Nirvana,  o  que  é  o  Guns’N  Roses?  O  que  que  tá  rolando”  e  a  rádio fez muito parte desse processo.     Monique:  ​ Você  acha  que  foi  essa  geração  que  fez  a  rádio  voltar ao sucesso agora ou  que existe uma nova geração?  Rubão  ­  89  fm:  ​ Isso  é  uma  coisa interessante.  É essa geração (de 1985) junto com os  filhos,  porque  eles  vão  contando,   a  89  é  um  legado.  Por  exemplo,  o  cara  que  é  mais  velho e  tem  um  filho  pequeno  ele   fala:  “Oh,  quando  eu  ouvia  rádio,  a  rádio  legal  era  a  89.  Os  caras  faziam  isso,  os  caras   tocavam  não  sei  o  que.  Eu  conheci essa banda por causa da 89”. O cara  falando  pro  filho  dele.  O  cara  ouve  aquilo.  E  quando  a  rádio  voltou  juntou  o  pai  e  o  filho,  é  que  nem  o  cara  que  curte futebol o pai fala: “na minha época, cara bom era o Zico”, e mesmo  se  o  filho  não  tenha  visto  o  Zico  jogar  ele  vai  falar  “po,  o  Zico  era  bom.   Meu  pai  falou  que  era  bom,  então  era  bom  ​ memo​ ”.  São  coisas  desse  tipo,  você  vai  contando  a  história  e  vai  passando  pra  frente,  vai  compartilhando  com  as  outras  gerações  e  o  nosso  desafio  é  esse,  continuar  sendo  relevantes.  Quando  nós  falamos  “ouça  o  novo,  viva  o rock”,  quando a gente  fala isso a gente não está renegando o passado do rock. Pelo amor de Deus!  O  rock é um  som  que  nasceu  há  60  anos  e  tem  muita  história.  É  óbvio  que  a  gente  reverencia  todos  de  Elvis,  Chuck  Berry,  os  clássicos  que  todo  mundo  gosta,  Metallica,  AC/DC, Guns, mas a gente tem  que  ficar  de   olho  nas coisas que  estão acontecendo agora, olhando pra frente também, porque  as  coisas  vão  evoluindo,  vão  mudando.  Você  vê  com  a  internet por exemplo, eu sou um cara  mais  velho,  então  eu   sequer  imaginava,  quando  começaram  a  falar  de  internet,  fiquei  pensando:  “nossa meu, vou poder  conversar com um cara que mora “lá não sei onde”, de uma  maneira  tão  rápida  e  fácil”,  é  muito  louco  isso!  Eu  sou  de  uma  geração  que  isso  não  era  simples,  não  era  uma  coisa  fácil  imaginar  esse  tipo  de  coisa.  Você   vê  como  a  tecnologia  impacta  em  todas  as  coisas.  E  na  música  é  a  mesma  coisa,  a  evolução  é  constante.  Essa  molecada  que  faz  som  hoje,  consegue gravar um disco em casa, monta um “estudiozinho” lá,  faz  um  tratamento,  já  tem  o  software…  produziu  o  negócio.  É  bem  mais  simples.  Só  que  as  características são muito diferentes.      

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 ​ Monique:  ​ E  quais  são  os  novos  caminhos?  Porque  o  rádio  é  um  meio  de  comunicação  que   foi  se  adapatando,  já  enfrentou  a  TV,  criou rádio  alternativas e hoje encara  streaming de música e Youtube.  Rubão ­ 89 fm: ​ Essa é uma discussão muita ampla.  Cada vez que eu penso sobre isso,  as  vezes,  eu  mudo  de   opinião,   porque as coisas vão “rolando”. Mas eu acho que  o  rádio, para  continuar  sobrevivendo  como  negócio,  o  meio  rádio,  eu  acredito  que,  talvez,  ele  tenha  que  voltar  aos  seus  primórdios.  Porque  ele  era  entretenimento,  com  aquela  coisa  do  cara  no  auditório,  comunicador  que  chama  o  pessoal  para  ouvir, sabe? Uma coisa de show, sabe? No  nosso  caso,  nós  somos  uma  rádio  que  toca  música,   óbvio,  nós  temos  que  continuar  tocando  música.  Mas  não  basta  apenas  tocar  música  e  fazer  uma  programação  legal.  Nós  temos  que  acrescentar  coisas  aí  e  esse  aspecto  talvez   seja  um  caminho,  investir  em  novos  talentos  que  tem  essa  “pegada”  de  comunicador.  Que  falta,  falta mesmo.  Eu não sei se essa é a fórmula, o  caminho, mas o que eu vejo é mais por esse caminho. Como você disse tem o streaming, você  pode  colocar  ‘N’  músicas  lá  do  seu  gosto.  Que  dizer…  O rádio tem uma diferença, você não  sabe  o  que  vai vir depois e você não sabe o que que o cara vai falar sobre aquilo, e o jeito que  ele  vai  falar,   como  ele  vai  falar.  E  é  essa  magia  que  pega,  que  é  o  diferencial.  É  como  você  vai  criar  essa   magia,  e  aí  é  que  eu  acho  que  talvez  o  rádio  tenha  um caminho. Não sei se é o  caminho, mas é o que eu penso hoje, pode ser que amanhã eu até mude de ideia (risos).           

 

 

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Anexo 2 ­ Entrevista Rádio Cidade   

Monique: ​ Como era a rádio no seu início, por volta da década de 1980?  Pamella  Renha  ­  Rádio  Cidade:  ​ A  rádio  Cidade  surgiu  dia  1º  de  maio,  no  dia  do  trabalhador,  não  sei muito bem se em  1976  ou  1977.  Ela surgiu e queria ter uma comunicação  diferenciada  das  outras  rádios  porque antigamente era “boa noite” com aquela voz imposta. E  nessa  época  a  gente  tinha  Sandoval,  a  gente  tinha  Mansur,  e  eram  pessoas  muito  especiais  para  a  rádio   Cidade,  porque  eles  não  eram  locutores,  eles  eram  comunicólogos,  as  pessoas  mesmo  sem  conhecer  achavam  que  já  conheciam  eles  a   muito  tempo,  era  um  jeito  diferente  de  fazer  rádio.  É  o  que  hoje  em  dia  se  faz  em rádio, foi  graças a rádio Cidade daquela época,  de  você  se  envolver  mais  com  o  ouvinte.  E  nessa  época  você tocava um  pouco de tudo, já no  final  da  década  de  1970  você  tava  ainda  com  a  música  dance  e  aí  depois  que  veio o rock, na  época  do  rock  nacional,  mas  nessa  época  a  rádio  Cidade  não  era  uma  rádio  rock,  era  mais  uma  rádio  popular.  Ela  pegava  um  pouco  de  tudo.  Até  na  década  de  1990  tinham  uns  programas  que  eram,  sei  lá,  Tchacabum,  uns  troços  assim,  misturava  muito  axé...  então  era  uma  rádio popular. Até que  um belo  dia em 2000, fechou uma parceria com a 89 (SP) para ser  a  rádio  rock  e   aí  que  a  rádio  Cidade  virou  a  rádio  rock,  foi  aí  que até hoje a gente é rock né?  Mas  a  rádio  Cidade  surge   popular,  ela  era  mais  uma  rádio  popular  e  ela  veio  junto  com  a  galera  FM  O  dia,  um  dos  criadores  da  FM  O  dia  trabalhou  aqui  na  rádio  Cidade.  E  aí  em  2000, quando a gente se juntou, virou a rádio rock junto com a 89 (SP) e aí era uma coisa bem  maior  né?  Era  uma  rede.  O  que  tocava  em  São  Paulo,  tocava  no  Rio  e  tinham outros lugares  também,  saiu  espalhando  rádio  Cidade  nessa  época.  E  aí  a  rádio  acabou.  E  aí  a  gente  foi pra  web  e  na web  a gente continuou com o segmento rock, que era a “Cidade webrock”, ela tinha,  e  a  gente  ainda   tem  na  verdade,  os  módulos:  tinha  classic  rock,  tinha  drop  que   era  mais  pra  galera  de  surf  e  tal…  era  muito  maneiro.  E  aí  surgiu  a  oportunidade  da rádio Cidade voltar e  isso  foi  um  ano  depois  da  89  (SP)  voltar.  A  89  (SP)  voltou  e  um  ano  depois  a  rádio  Cidade  voltou.  E  quando  a  gente   voltou,  também  voltou  com  o  segmento  rock  e a gente tá há 2 anos  trabalhando  esse  segmento.  Que eu não vou dizer para você que é simples assim, porque é um  segmento  diferente  e  aqui  no  Rio  de  Janeiro a gente acaba não  tendo com quem competir né?  Porque só a gente que oferece rock.   

 

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Monique: ​ Porque você acha que aconteceu esse declínio da rádio Cidade?  Pamella  Renha  ­  Rádio  Cidade:  ​ Rock  envolve  muita  coisa  né?  O  rock  é  para  a  galera  da  margem,  ele  é  para  uma  galera   diferenciada.  É  tipo  o  rap,  são  para   pessoas  que   vivem  aquilo.  E  geralmente  o  rock,  ele  é  uma  forma  de  protesto  também  sabe?  E  quando  esses  jovens  não  tem  muito  o  que  protestar  você  acaba  fazendo  o  rock  fofinho  e  acaba  não  tendo  aquela  identificação  que  você  tinha  com  o  Legião Urbana, que além de escrever letras   incríveis  sobre  política  também  sabia  falar  muito  bem  de  amor.  Eles  sabiam  do  que  eles  estavam  falando,  o  rock  da  década  de  1980 e por isso que era tão bom. Aí na  década de 1990  você  vem  com  Raimundos  que  também  era  bom  para  caramba,   era  uma  mistura  do  c***,  forró  com  rock,  então  era  uma  parada  diferente.  E  você  vai  tendo  transformações  desse  mercado  porque   você  tem  o  Raimundos  na  década  de  1990, aí você vem  com Los Hermanos  ali  já  indo  pros  anos  2000  e  você  tem  Detonautas,  tem  a  Pitty,  mas  fica  ali,  tudo  meio  que  “aonde  vamos?”  depois  de  uma  certa  fase.  E  aí você acaba tendo outras bandas tipo Forfun e  Dibob  que  acaba   mostrando  uma  outra  realidade  pra  essa galera. Que não é muito bem quem  trabalhando  com  rock   sabe? Não é a mesma coisa, não é a mesma pegada. E aí envolve muita  coisa.  Envolve  que  o  rock  não  tava  dando  mais  dinheiro,  as  pessoas  não  estavam  tão  interessadas  no  que  o  rock  estavam oferecendo na época, não estou dizendo que essas bandas  eram ruins ou boas, não é  isso não.  Eu acho  que as pessoas não estavam comprando o barulho  sabe?  E  aí  ela   voltou  a  ser  underground  como  ela  é,  porque  o  rock  é  underground.  E  aí  tem  outras  bandas,  mas  essas  bandas  não  estão  no  mainstream  né?  E  hoje,  o  grande  barato  das  coisas,  é  que  tem  muita  banda  boa  que  está  no  underground,  que  dá  super  certo,  que  o  mainstream  não  mostra  e  mesmo  assim elas dão super certo. É um grande aprendizado para a  mídia  e  é  um  bom  aprendizado  também  para  quem  vive  de  música,  de  como  fazer  a  “roda  girar”.  Acho  que  não  tinha  mais  como  fazer  a  roda  girar  naquele  momento  pro  rock.  Acho  que  agora  tá  começando  a  ter esse movimento de novo. Pode não ser só por conta da volta da  rádio  Cidade  e  da  89,  mas  acho  que é um ponto principal sim. Porque quando você começa a  ter uma rádio que toca rock, você entra num lugar...num clubezinho por exemplo, que tem um  pagode  de  domingo  e  aí  ele  fala:  “ah,  porque  eu  não  vou  abrir  na  segunda  tocando  rock?”  e  aquilo  dali  vai  aumentando,  as  pessoas  vão  ficando  mais interessadas, as pessoas começam a  olhar  mais  pra  baixada  fluminense  pra  ver  que  de  fato  tem  muito  evento  de  rock  lá  acontecendo,  ou  pra  zona  norte  sabe?  E  essas  pessoas  vão  se  encontrando,  essas  bandas  vão  se  misturando  e  as  pessoas  vão  se  conhecendo.  E  aí  vai  fazer  a  roda  girar,  é  assim  que   

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acontece. É um puxando o outro, um ajudando o outro.    Monique: ​ Como aconteceu esse movimento para a rádio Cidade voltar?  Pamella  Renha  ­  Rádio  Cidade:  ​ A  rádio  Cidade  ficou  parada  do  dia  6  de  março de  2006  e  aí  a  gente  acabou.  E  na  semana  seguinte  eu  tava  na  web.  Nós ficamos 8 anos fora do  ar,  até  que  vagou  o  102,9fm.  A  Jovem  Pan  acabou  não  dando  certo  aqui  no  Rio,  mais  uma  vez.  E  aí começou aquela correria e pintou uma chance da rádio Cidade voltar. E quando essa  oportunidade  surgiu,  eu  conversei  com  o  Tico  (Santa  Cruz  ­  Detonautas)  e  era  aquela  época  de  manifestação   de  professores  que  tava  tendo  e  tal.  Aí  eu  falei:  “Tico,  tá  tendo uma chance  da  rádio  Cidade  voltar  e  eu  preciso  muito  do  apoio de alguém. E só com alguém grande com  números  expressivos  (de  seguidores)  que  a  gente  vai  conseguir  fazer   essa  volta  das  pessoas  acreditarem   que  ela  pode  voltar.  Mas  não  pode  sair  como  um  pedido  interno,  então  você  inventa  o  que  você  quiser.”  Aí  ele:  “Então  tá.  Só  deixa  eu  voltar,  porque  eu  tô  aqui  na  manifestação  dos  professores,  aí  depois  eu  faço  isso.”.  E  eu  “então tá”. E  eu tava no meio da  manifestação  dos  professores  também,  falando  com  ele  pelo  twitter,   esperando  um  ônibus  e  pensando  “será  que  ele  vai  falar?”,  aí  passei a madrugada olhando a rede e pensando “po, ele  não  vai falar”. Aí no dia seguinte, a tarde,  ele me mandou a foto e disse “postei, vamos ver!”.  Cara,  foi  um  negócio  absurdo!  Eu  lembro  que  eu  fiquei  assustadíssima.  Nosso  diretor  na  época  era  o  Alexandre  Hovoruski  e  eu  dizia:  “Hovoruski  ele  postou,  ele  postou.”,  e  a  gente  começou  a  olhar  e  tinham  muitos  número  e  muitos  compartilhamentos,  e  muitas  pessoas  curtindo  e  pedindo  pela  volta.  E  foi  ótimo  para  ver,  mesmo  se  a  rádio  Cidade  não  voltasse,  óbvio  que  seria  triste  porque  eu  não  estaria  aqui  e  nem  você  estaria  aqui  fazendo  seu  TCC  sobre  isso,  mas  foi  muito  maneiro  ver  essa  mobilização  das  pessoas. Porque é uma marca, a   gente  não  pode  esquecer,  é  uma  marca! A pessoa vestir uma marca é muito diferente de você  vestir  a  camisa  de  um  time,  sabe?  E  a  pessoa  veste  a marca como se fosse de um time, como  se  fosse  fã  da  banda  é  uma  coisa  muito  diferente.  E  trabalhar  em  rádio  é  isso.  Você  não  vê  uma  pessoa  usando  uma  blusa  do  SBT  e  vangloriando,  ou  da  Globo…  rádio  Cidade  é  isso,  são  pessoas  que  amam  muito  a  rádio.  E  quando  encontram  comigo,  com  Paulinho,  com  Pedro,  com  Jean...eles  personificam  a gente como rádio. E é um negócio muito louco por que  a  pessoa  não  é  meu   fã,  ele  é  fã  da  rádio.  E  aí, ele acha que ele me ama, mas ele não me ama,  ele ama a rádio.  

 

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Mas  pra  ela  voltar  foi  muito  por  conta  das  pessoas  mesmo,  porque  é  uma rádio rock.  Por  mais  que  no  início  a  gente  não  tivesse  assinando  como  rock,  é  uma  rádio  rock  e   as  pessoas  sentiam  falta.  Então,  as  pessoas  que  fizeram  a  rádio  Cidade  voltar.  O  fundo  foi  esse  sabe?  Na  hora  de  argumentar  “vamos  ver  o  que  vai  acontecer?”,  aí  óh,  você  não  queria  que  voltasse,  a  culpa  é  sua,  então  faz  o  negócio  acontecer.  Óbvio  que  a  gente  não  pode  jogar  a  culpa  pra  cima  dessas  pessoas,  mas  basicamente  sim,  eles  que  fizeram  com  que  a  gente  voltasse!  Pra  gente  mostrar  que  as  pessoas  amam  a  marca,  você   vai  queimar  uma  marca  dessas?  Vamos  voltar  e  vamos   ver  no  que  dá.  E  a  gente  voltou!  O  dia  da  volta  foi  maravilhoso,  7h  da  manhã  do  dia  10  de  março.  Foi  muito  louco. Louco aqui dentro, louco lá  fora,  vendo  as  mensagens.  Era  como,  sei  lá,  ganhar  a  copa,  num  nível  menor,  num  nível  nosso.  Foi  muito  emocionante  e  é  muito  emocionante  saber  que  a  rádio  Cidade  ainda  está  aqui 2 anos e que vai continuar porque a gente trabalha muito pra  isso. É um trabalho duro, as  pessoas  não  imaginam  como   é  trabalhar  em  rádio,  você  vira  a  noite  trabalhando  aqui  dentro  ou  em  outro  lugar,  ou  em  shows.  Março   por  exemplo  é um mês cheio de shows, eu estou em  shows  desde  sexta  e  hoje  eu  tenho  mais  um  e  amanhã  também.  E  é  assim,  as  pessoas  trabalham  muito  porque  gostam,  porque  é  prazeroso  você  encontrar  uma  pessoa  que  é  fã  da  rádio  Cidade  e  ela  te  abraçar  e  falar  que  é  sua  fã,  por  mais  que  você  saiba  que  ela  não   é,  aquele momento que você tem de personificar a rádio, a marca, é muito incrível.   

Monique:  ​ Quais  são  as  estratégias  da  rádio  para,  ao  mesmo  tempo:  consquitar  o  público de agora, os novos roqueiros, e manter o público que trouxe a rádio de volta?  Pamella  Renha  ­  Rádio  Cidade:  ​ A  gente  toca  muito  classic  rock.  Tem  que  tocar  o  que  é  bom!  A  gente  não  pode  esquecer  de  bandas  como  Led  Zepellin,  Beatles  e  é  incrível  você  estar  no  meio  da   tarde  e  ouvir  Beatles  e  daqui  a  pouco  você   liga  e  tá  tocando  Nirvana,  sei  lá.  E  esse  é um trabalho maravilhoso dos programadores aqui da rádio Cidade, eles sabem  muito  bem  como  fazer  isso  de  colocar  o  que  é  novo  no  lugar  do  novo  e  o  que  é  velho  e   colocar  ali,  mistura  os  dois  e  fazer  o  que  hoje  é  a  rádio.  A  rádio  fez  uma  pesquisa  muito  grande  no  ano  passado  para  saber  quem  eram  de  fato  nossos  ouvintes  e  o  que  a  gente  tava  fazendo  de  errado  pra  conseguir  entender  melhor...  E  foi  muito   boa  essa  pesquisa  pra  gente,  pra  descobrir  como   a  gente  devia  fazer…  e  é  exatamente  isso,  é  um  trabalho  muito  de  programação.   São   eles  que  fazem  as  músicas,  são  eles  que  fazem  aquele,  sei  lá,  você  está  dentro  do  carro  e  você  fala  “nossa,  quanto tempo que eu não  ouço isso” ou então “nossa, que   

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banda  boa,  quem  são  eles?”.  Então  a  gente  tem  cada  vez  mais  feito  isso.  aí  agora,  por  exemplo,  a  gente  tem  um  programa  muito  novo,  tem  menos  de  um  mês,  chamado  “Cidade  Delivery”,  entra  como  se  fosse  um  menu  dele  as  10h  da  manhã,  12h  ele  entra  no  ar  e  você  meio  que  pede  como  se  fosse  um   “prato  feito  ou  PFzinho”  das  músicas.  E  todo  dia,  de  segunda  a  sexta,  tem  2  músicas  que  são  novas:  1  banda  nacional  e  1  internacional.  Não  vai  influenciar  em  nada  na  programação,  é  mais  para   você conhecer, pra você curtir… E  se você  não  gostar  também  tá  valendo.  Antigamente  a  rádio  te  apresentava  as  coisas,  essa  era  a  função  da  rádio.   Hoje  a  rádio  já  não  te  apresenta  tanta  coisa,  porque  você  tem  um  universo  infinito  de  possibilidades.  Você  tem  Spotify,  você  tem  Youtube,  sei  lá,  tem  um  monte  de  ferramentas.   Então  acaba  que  a  rádio  não  te  mostra   tanta  coisa porque não tem mais como te  mostrar  tanta  coisa,  não  da  forma que era feito antigamente.  Mas, curiosamente, para o rock,  algumas  pessoas  não  procuram  muito  o  novo.  Porque  o  novo  assusta,  porque  o  novo  não  agrada…  É uma discussão que a  gente fica brincando de “O velho é  sempre bom. Não o novo  é  sempre  bom.  Ah,  então  quer  dizer  que  você  prefere  beber  um  whisky  5  anos  do  que beber  um  whisky  20  anos?  Não,  não  é  por  aí…  Ah,  então  vamos  entrar  num  acordo!”  O  barato  é  isso,  você  ter  um  programa  chamado  “Cidade  delivery”,  que você vai conhecer 2 músicas. O  legal  é  você  ter  no  domingo  “A  vez  do  Brasil”,  pra  te  apresentar  bandas  novas, pra você ver  que  o  rock está em diversos lugares  e que você não pode estar em todos  os lugares. É por isso  que  você  acaba  não  conhecendo  as  bandas.  Você  pode  achar  ruim?  Pode achar ruim, óbvio.  Não  é  pra  você gostar  de tudo. Mas é pra você  pelo menos entender que existe gente fazendo  música,  que  está  fora  do  seu  quadrado.  Que  as  vezes  a  gente  não  enxerga  mesmo,  é  normal.  Então  é  assim  que  a  rádio  Cidade,  hoje,  apresenta  as  novidades  para  as  pessoas.  E  eu  acho  que  tem  que  ser  assim  mesmo,   aos  poucos  ou  se   o   cara  já  ouviu,  ele  vai  ficar  “felizão”  de  estar ouvindo o que ele já ouviu aqui na rádio Cidade. Eu acho que é isso.   

Monique:  ​ Você  citou  alguns  sites  de  streaming,  e  eu  queria  saber  de  você  porque   rádio em tempos de streaming?  Pamella  Renha  ­  Rádio  Cidade:  ​ Porque  rádio  é  seu  companheiro.  Streaming  nunca  vai  ser  seu  companheiro. Streaming vai ser o cara que vai dizer assim, um slogan muito ruim.   Sei  lá,  “Itaú  feito  para  você”  e  pronto.  O  rádio  não.  O  rádio  é  o  cara  que chega e fala assim:  “Boa  tarde,  tá  um  solzão  nesse  Rio  de  Janeiro  maravilhoso,  óh  o  tempo  hoje  pode  chegar  a  43°  então  bota  seu  biquini  e  vai  pra  praia…”  então  é  ele  que  está  conversando  com  você   

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naquele  momento  que  tá  muito  stressante,  todo  mundo  tá  muito  irritado.  A  “Hora  dos  Perdidos” é ótimo pra isso, porque as 17h da tarde tá todo mundo ferrado no trânsito e a gente  tá  ali  falando   um  monte  de  bobagem  sabe?  E  aí  o  cara  fala  “po,  em  uma  hora  passou  correndo,  menos  uma  hora  de  trânsito,  muito  obrigado”.  Isso  o  streaming  nunca  vai  te  oferecer.  O  rádio  é  o  seu  companheiro  e  ele vai ser o seu companheiro, vai ser o cara que  vai  te  comunicar  coisas e até hoje não existe uma ferramenta que seja mais rápida do que o rádio.  A  internet  pode  ser,  mas  a  internet não vai assim tão rápido quanto o rádio, porque o repórter  vai  correndo  para não sei onde, mostra o que está acontecendo, por que o repórter aéreo… e a  internet  não  tem  isso.  Ele  obviamente  pega  uma  maior  quantidade,  mas  o  rádio  te  dá  aquele  momento,  ​ real  time  e  pronto,  foi,  acabou.  E  rádio é isso, é o seu companheiro. O cara  que tá  ali naquele quadrado mágico, saindo um som… E que você se envolve com ele.    

Monique:  ​ Como  acontece  a  interação  de  vocês  nas  redes  sociais  e  qual  o  impacto  dessa interação na rádio?  Pamella  Renha  ­  Rádio  Cidade:  ​ A  gente desde o início acredita que as redes sociais  é  o  lugar  onde  você vai estar com o seu ouvinte. Aquele cara que ama  você, que te odeia, que  gosta,  que  não  gosta,  que  faz  tudo  e  não  faz  nada.  Mas  a  gente  precisa  estar  perto  dele,  eu  preciso  entender  ele,  eu  não  posso  deixar  ele  sem  resposta,  eu   não  posso  deixar  ele  muito  bravo comigo. Óbvio que ele pode ficar bravo, mas ele não pode ficar muito bravo sem razão.  Então  a  gente  sempre  priorizou  muito,  muito,  muito,  muito  essa  galera.  E  cada  vez  mais   a  gente  tenta  ficar  mais  envolvidos  com  eles.  É  uma  parada  que  a  gente  faz  mais  porque é um  lugar  onde  a  gente  pode  encontra  o  ouvinte  virtualmente.  É  o  único  lugar  onde  a gente pode  saber  quem  exatamente  tá  ouvindo  a  gente.  Eu  preciso  responder  qual   foi  a  música  que  ele  ouviu  há  2  horas  atrás,  eu   preciso  falar  pra  ele  que  a  promoção acabou. Eu preciso informar.  Eu  não  posso  ignorar  ele,  porque  eu  não  gostaria  de  ser  ignorada.  Acho  que  a  gente  tem  sempre  que pensar assim,  eu não gostaria que uma empresa fizesse isso comigo. Então eu não  posso  fazer  isso  com  ele.   E  a  gente  sempre  teve  esse carinho  de explicar, por mais que possa  parecer  uma  parada  que  tá  na  cara  dele,  sabe:  “Pega  ali  a  sua  seta  e  leva  até  a  programação,  entendeu?”,  o  telefone  do  whatsapp  a  gente  passa  milhões  de  vezes  e  os  caras  ainda  pedem,  então  tem  que  ter  um  carinho com essa galera, tem que mostrar de quem é o aniversário hoje,  quem  morreu,  se  saiu  uma  nota  importante,  tem  que  te fazer rir depois do almoço, são coisas 

 

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assim  que  eu  penso  e  como  eu  faço  as  redes  sociais,  então  eu  sempre  pensei  dessa  forma  porque eu gostaria de ver isso na minha timeline.   

Monique: ​ Quais são os novos projetos da rádio e o que vocês esperam do futuro?  Pamella  Renha  ­  Rádio  Cidade:  ​ Eu  acho  que  a  rádio  finalmente  se  encontrou  e  tá  num  caminho  certíssimo.  Acho  que  a  gente  tá  indo  pro  caminho  que  a  gente  quer   ir  e  que  deveríamos  sempre  ter  ido.  Eu  não  sei,  não  posso  te  falar  o  que  eu acho do futuro, mas acho  que a gente tá mandando bem a beça, sabe? Acho que a gente tem feito tudo no maior carinho  possível,  nosso  aniversário  tá  chegando,  na  verdade  já  passou,  mas  a  festa  mesmo  está  chegando  e  a   gente  tá  trabalhando  muito  em  cima  disso  pra  ser  um evento muito bacana não  só  pra  gente,  mas  pro  público  também.  A  gente  quer  cada  vez  mais  estar   interagindo  e  fazendo  parte  da  vida  do  outro  porque  aqui  a  gente  sempre  acreditou  que  o  rádio  é  companheiro.  Então,  sei  lá,  no  dia  que  a  gente  desacreditar  nisso  acho  que  a  gente  não  vai  mais  ter  a  rádio  Cidade,  por  que  a  gente  faz questão disso, a gente faz questão de ouvir o seu  problema.  Tem  uma  menina  que  dá  bom  dia  para  a  rádio  Cidade  todo  dia,  e   eu  todo dia dou  bom  dia  pra  ela,  mando  coração  e  ela  fica  muito  feliz.  Mas  acho que é isso, a rádio Cidade é  cada  vez   mais...  é  ser  uma pessoa mesmo, sabe? Ser aquela  pessoa que as pessoas  vão gostar,  que  tá  ali,  que  tá  te  mostrando  as  coisas,  está  tentando  te  ajudar  na  medida   do  possível, tá  te  levando  pra  um  caminho  pra  você  enxergar  outras  coisas  pra  você  não  ficar  tanto  tempo,  batendo  cabeça  e  falando  sobre  rock,  rock,  rock,  rock…  “rock  é  isso,  rock  não  é  isso  que  você  tá  tocando!”.  Cara,  hoje  em  dia,  a gente tá no século XXI, tem vertente de tudo, tem até  vertente  no  pagode,  como  é  que  não  vai  ter  no  rock?!  A  gente  já  tinha  antes,  imagina agora.  Então  acho  que  o  próximo  plano  da  rádio  é  esse,  é  ficar  cada  vez  mais  próximo  do  ouvinte.  Compreender  mais  o  que  ele  tá  querendo  e  poder  justificar,  as  vezes,  quando  falha.  E  acho  que  a  gente  tenta  sempre  ser  sincero, sempre!  Sempre ser sincero com o ouvinte. Então acho  que  esse  é  nosso  caminho  mesmo,  com  streaming  ou  sem  streaming,  o  rádio  é  para  você  quando você está ali no carro e é seu companheiro e é isso que tem que ser.     

 

 

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Referências Bibliográficas   

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