Feita para ele… Olivia Tate estava cansada da vida fútil da alta sociedade e das imposições de sua mãe. Pena que ela só chegou a essa conclusão quando estava no altar, prestes a dizer “aceito”. Mas antes de embarcar em um casamento infeliz, Liv decide fugir. Desamparada e sem dinheiro, ela quer deixar seus antigos costumes para trás. Mesmo que seja trabalhando como empregada de um militar exigente. O tenente Cade Grant é rude, sensual e tem um coração de pedra. Mas Liv consegue driblar as barreiras desta alma ferida com sua inocência, despertando nele um

desejo avassalador. Agora Cade está disposto a ensinar tudo o que ela precisa saber… entre os lençóis.

– Saia da frente, Cade! – Não. – Por quê? – perguntou. – Porque... – Ele entendia cada batida e cada pulsação do coração de Liv porque tinha a mesma sensação, o que o fez querer jogar a cabeça para trás e gritar de alívio, por senti-la outra vez. Então ele fez exatamente o que desejava fazer: beijou-a de forma firme, possessiva, ávida, e sentiu-a tremer enquanto gemia. Ela já se entregava quando ele se afastou. Um beijo como aquele só podia terminar em um lugar, e apesar de Liv ser forte e corajosa,

estava vulnerável demais sob seu teto e seu domínio. Ele a observou enquanto se recuperava. – Foi uma lição por brigar comigo – disse ele.

Querida leitora, Incapaz de continuar se subjugando às vontades de sua mãe, Olivia Tate decidiu mudar de vida. Ela estava disposta a fazer qualquer coisa para sobrevier sozinha, até mesmo trabalhar como empregada de um ex-militar cabeça-dura. O tenente-coronel Cade Sullivan é um homem atormentado pelo passado, e prefere manter-se isolado. Mas Olivia desperta nele um desejo tão avassalador que nem mesmo este obstinado militar consegue controlá-lo. Logo, os dois se rendem a

uma paixão que mudará para sempre seus destinos. Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books

Susan Stephens

DONA DO CORAÇÃO Tradução Michele Gehardt

2015

CAPÍTULO 1

ELE ESTAVA entediado,

não conseguia ficar sentado por muito tempo. A rede de televisão perguntara se poderia realizar a entrevista na cozinha de Featherstone Hall, assim ele pareceria mais humano e acessível. Achando que publicidade ajudaria a alavancar seu projeto, ele concordara, e agora estava sob os holofotes das câmeras enquanto uma menina com

unhas sujas batia a claquete em seu rosto. – Já chega – disse ele, levantando-se. – Mas, coronel Grant... Cade – obviamente achou que ao chamá-lo pelo primeiro nome ele se acalmaria, mas fracassou –, você não terminou de entrevistar as candidatas a... empregada do herói. – Você se refere àquelas patetas. – Não apareceu mais ninguém... então, para evitar que a entrevista fosse um fracasso, providenciei candidatas. – Patetas de sua equipe? É, sei. – Ele empurrou a cadeira. – Agora podem arrumar suas malas e ir para casa, a entrevista foi cancelada.

Ele levantou-se sabendo que seu tamanho era intimidante. Deveria saber que era um erro deixar qualquer um invadir sua vida. Só permitira desta vez porque tinha esperanças de que a cobertura da televisão promovesse seu projeto de transformar Featherstone Hall em um centro de reabilitação para soldados, um serviço que estava determinado a expandir por todo o país. A repórter só tinha interesse em histórias de heroísmo com muito sangue. Ele se retraíra com aquilo. Quando ela disse que acrescentar aquele tipo de coisa fazia milagres com a audiência, teve vontade de dizer que tinha sorte por não ser homem, do

contrário a convidaria a se retirar. Sabia que não podia culpá-la e rangia os dentes enquanto esperava a equipe de filmagem empacotar o equipamento. Ele deveria ficar feliz por ela não saber da realidade por trás de imagens na televisão. Assim que o último deles se retirou, começou a limpar tudo e, quando empilhou as xícaras sujas em uma pia já cheia de louças, toda a pilha tombou. Praguejou alto ao se cortar nos cacos de vidro. Saiu à procura de curativos. Como a casa podia ter se transformado num caos enquanto estivera fora? A primeira empregada que contratara era difícil e

intransigente, na verdade o tipo de pessoa comparável a ele. Ele deveria saber que ser faixa preta em caratê e ter mais barba do que ele não garantiria a ela um status de deusa do lar, e como resposta ao insulto, ela se demitira um dia depois, dizendo que era impossível conviver com ele. Agora não havia uma única resposta ao anúncio para uma substituta. A repórter disse que sua reputação amedrontara todos, ele e sua aparência, ele imaginou, julgando o modo como a equipe de filmagem olhara suas cicatrizes. Suspeitou que gostariam de ter filmado mais de perto para chocar os telespectadores. Passando a mão pela

barba, se olhou no espelho, não podia culpá-los. Ao ouvir uma batida na porta piorou ainda mais. Ele já devia saber que alguém da equipe de filmagem esqueceria algo. – Sim? – Ele escancarou a porta e foi forçado a baixar o olhar para avistar uma pequena infeliz desgrenhada na sua entrada vestindo uma roupa extravagante. – Posso entrar? – perguntou. Ele percebeu tudo com um só olhar. Algo dentro dele ficou balançado o que exigiu firmeza e mais um lembrete de que as aparências enganavam. A menina era jovem com cabelo cor de

mel, encharcado e emoldurando um rosto em forma de coração. Usava uma tiara precariamente pendurada em sua cabeça e sapatos prateados arruinados, o que parecia ser um vestido de noiva e um véu rasgado e imundo de lama... e agora podia ver que estava chorando, se de dor ou alívio, não podia saber. Uma coisa ele sabia, o vestido não era uma fantasia. – O que você quer? – perguntou ele, desconfiado. – O emprego que você anunciou... a placa no portão? Chegando para trás, ele mexeu na barba. Precisava de alguém e rápido,

mas primeiro precisava se certificar de que tinha esse direito. – Você está se candidatando para ser minha empregada? – Eu sei que não pareço bem – disse. – É claro que eu preferia estar apropriadamente vestida para a entrevista. – Mas? – Mas os acontecimentos me atropelaram. – Tudo bem, você pode entrar. – Posso me aquecer? – perguntou, passando por ele para esfregar as mãos diante da lareira. – Vá em frente. – Era um pedido razoável. Ela tremia, ele não sabia se de

frio ou de choque. Fechou a porta e virou-se encontrando-a retirando o véu. Seus braços pálidos ficaram rosados com a luz do fogo, dando-lhe um ar de vulnerabilidade. Onde antes em sua mente havia raiva, impaciência e frustração, agora havia curiosidade e um lampejo de desejo. ENTRE O voo de seu casamento e sua aterrissagem ali na cozinha de Featherstone Hall era tudo um horrível borrão, até aquele momento, quando tudo entrara no foco. Sua sensibilidade estava em alerta máximo, graças ao homem encostado na porta, de braços cruzados e cabeça inclinada, avaliando-

a. O poder de seu olhar, a largura de seus ombros e até seu silêncio eram impressionantes. Quando desceu do ônibus e encontrou as placas com anúncio de emprego, imaginara alguém mais velho a entrevistaria, não um pedaço de mau caminho com jeans e camiseta apertada. Aquele homem era diferente de Horace, seu quase marido que deixara no altar. Sufocando um soluço de culpa ao pensar no olhar de Horace quando o deixara, Liv começou a arrancar o vestido de noiva que não merecia usar. – O que pensa que está fazendo? – Tirando isso... – respondeu ela. A voz do homem era baixa e rouca e

despertou coisas proibidas dentro dela, coisas que instigaram sua culpa ao ponto de ter que confessar. – Eu fiz algo horrível. – Assaltou um banco? Matou alguém? – Pior. – Pior? – Sério, fiz sim e agora não posso voltar atrás. – Ruim assim? – Posso ficar aqui? – Acho que é melhor começarmos com as apresentações, não acha? – Liv Tate – murmurou e se recompôs o bastante para estender a mão macia com unhas perfeitamente

feitas e acrescentar: – Meu primeiro nome é Olivia, mas meus amigos me chamam de Liv. Ele a cumprimentou com a mão direita sem ferimentos. Considerando sua óbvia angústia, o aperto de mão de Liv o surpreendeu, e a soltou antes que alguma sensação mais comprometedora tomasse conta dele. – Eu disse meu nome, mas ainda não sei o seu. – Perdão. – Ele fez uma pequena reverência. – Coronel Cade Grant... mas pode me chamar de Cade. – Cade... Quando apertaram as mãos, ele ficou abalado e lembrou por que se afastara

das pessoas, especialmente de mulheres como aquela. Evitava ter sentimentos o tempo todo. – Algo errado? – indagou ele, enquanto continuava a encará-lo. – Minha vez de me desculpar. Só fiquei surpresa ao ouvir seu nome. Não liguei uma coisa à outra quando vi a insígnia da família no topo do anúncio porque dizia Grant Featherstone Carew. – Imagine quando vou pedir crédito. A ironia em seu olhar a fez rir. Também ficou surpresa quando reconheceu o impulso primitivo dentro de si como a potente e deslumbrante luxúria. Não poderia estar mais irritada

consigo pela falta de concentração. Refez-se para responder. – Sim, posso entender por que prefere abreviar. Coronel Cade Grant, o herói de guerra local? Como era lenta. Abandonar seu próprio casamento deve ter mexido com seu cérebro. Mal se podia pegar um jornal ou ligar a televisão sem que houvesse alguma reportagem sobre a bravura de Cade Grant sob o fogo cruzado. As razões de sua estadia prolongada eram vagas, mas ninguém questionava os direitos de um herói. – É claro que ouvi falar de você, quem não ouviu? E sei que eu não

devia ficar olhando. – Para quê? – perguntou. – Para as cicatrizes? – Cicatrizes? – Franziu a testa e seus olhos brilharam ao focalizá-las. – Desculpe, eu não tinha notado. Só estava pensando como é muito mais bonito ao vivo do que na televisão. Surpreso, ele quis sorrir. Atrapalhada com os pequenos botões do vestido, virou de costas para ele. – Pode me ajudar com isso, por favor? Hesitou e então pensou: por que não? Ela sentiu Cade se movimentar atrás dela. Seu calor a cercava, causando-lhe

arrepios. Podia sentir seu cheiro, limpo e almiscarado com um toque de pasta de dentes. Ela prendeu o fôlego quando ele aproximou-se e a tocou. – Essa coisa horrível que você fez... já está pronta para me contar? Contaria no momento em que pudesse respirar de novo! Tinha esperança de que ele não perguntasse. Sentia-se muito envergonhada. Magoara a todos, especialmente sua mãe, que se dedicara tanto para que esse dia acontecesse. Para não mencionar ambas as famílias, e Horace. A culpa bateu forte ao pensar em Horace. – E então? – pressionou Cade.

– Eu abandonei meu noivo no altar. Ela esperava por uma reação, mas Cade só disse “hum” e começou a abrir os botões de cima do vestido. A ponta de seus dedos tocando em sua pele fez ser impossível falar mais. – Continue. Agora que começou, vá até o fim. – Horace era inofensivo, ele era bacana, não merecia isso. – Ele deve ter feito algo errado. – Não, é só que... – Fique quieta, por favor, ou não consigo desabotoar. – O pior crime de Horace... – O pior crime de Horace? – Cade a encorajou.

– Ele era bom demais – desabafou, afastando-se. – Bom demais? Como assim? – Mas muito imaturo, sabe. Sempre que Horace via uma menina bonita no clube, ele... – E mordeu o lábio. Não poderia ser tão desleal, nem mesmo naquele momento. – Eu entendo. Não, Cade não entendia, ao menos ela esperava que não. Horace era inofensivo e certamente menos preparado para a noite de núpcias. Sua mãe nunca falara com ela sobre sexo, mas havia revistas para orientá-la, e alguns artigos foram muito úteis, mas

quando chegou a hora não conseguiu encarar, não com Horace. – Eu me sinto péssima, Horace era um fofo. – Presumo que foi por isso que concordou em se casar com ele. E o porquê de tê-lo abandonado também. Nunca se fariam felizes. PARA CADE, Horace parecia um bobão, mas não um mau sujeito. O que Liv contara esclareceu as coisas. As atitudes foram drásticas, mas ele podia entender por que havia fugido de um casamento desastroso que faria ambos infelizes. De todas as situações malucas que já vivera, e foram muitas, esta era moleza.

Como exatamente pretendia ajudá-la com aquela mistura de emoções quando estava acostumado a lidar com homens, combatê-los e comandá-los? Não tocava em uma mulher havia anos. Os botões que queria que ele abrisse se estendiam até seu cóccix. Quando abriu o primeiro, percebera como sua pele era macia, e no momento em que levantara o cabelo e vira a pequena marca de nascença, teve vontade de prová-la. Matou imediatamente o pensamento. – Agora pode abrir o resto sozinha. Livrando-se do vestido, ficou de frente para ele usando apenas uma combinação de seda.

– Detesto ter que pedir, mas você teria um suéter para me emprestar? Ela o fitou com seus olhos azuis, e ele precisou de um momento para concentrar-se. – Um suéter? – Qualquer coisa dele vestida nela arrastaria no chão. Com seus pés descalços e aparência suja, parecia uma criança abandonada... uma Cinderela, e ele não era um Príncipe Encantado. Já estava se arrependendo da decisão de deixá-la entrar. Que negócio era aquele de permitir que alguém tão jovem e vulnerável entrasse em sua vida? – Um suéter velho, qualquer coisa – insistiu.

Ele fez uma careta enquanto ela embolava o vestido de noiva. – Vou pegar um saco de lixo. – Vendo os olhos dela se encherem de lágrimas, ele poderia ter se socado por suas palavras descuidadas, mas de qualquer forma trouxe o saco e abriu-o. Demorou horas para que dobrasse e colocasse o vestido lá dentro. Ele só pôde perceber todo o sofrimento dela pelo tempo que levou para colocar a tiara e o véu em cima do vestido, teve que admitir em um surto de irritação. Se aquilo tudo significava tanto para ela, por que fugira do casamento? Ele estava tão ocupado sentindo uma emoção próxima ao

ciúme que se esqueceu de esconder seu ferimento. – Ah, não, você está sangrando! – exclamou, olhando para a mão dele. – O quê? – Ele fingiu indiferença. – Deixe-me ajudá-lo, é o mínimo que posso fazer. Precisava de ajuda. Olhou a bagunça à sua volta, mas, então, decidindo que ela já passara por muita coisa naquele dia, mudou de ideia. – Foi apenas um pequeno corte, não é nada. – Você deveria limpá-lo. Não, venha aqui que eu limpo. – Você? – Ele deu um meio sorriso de surpresa enquanto ela se dirigia até a

pia. – Sou enfermeira. – Enfermeira? Agora parecia realmente interessado, e ela precisava um emprego, se possível com acomodação. – E bem treinada. Enquanto Cade continuava a observá-la interessado, sentiu o rosto queimar. Ele era muito maior, mais alto e mais sexy do que qualquer tela de trinta e seis polegadas podia exibir. Era difícil, senão impossível, parar de olhar para ele. E o que fazia com que toda mulher olhasse para a área abaixo do cinto de um homem? Rapidamente desviou o olhar para os pés tamanho

extragrandes, enfiados em botas militares. – Sua mão – disse. – Eu disse, não é nada. Ao se entreolharem, ela viu seus reflexos no espelho, e pela primeira vez no dia teve vontade de rir. Seus rostos estavam exatamente no mesmo ângulo teimoso, apesar de duvidar que ele estivesse tremendo por dentro. – Preciso limpar o ferimento – informou. – Venha. Ele hesitou; estava acostumado a comandar, não gostava da nova sensação. – Se você não deixa que uma simples mulher o ajude – disse com ironia –,

que tal eu cuidar da sua mão em troca de um suéter? – Feito. – Seu interesse tinha sido atiçado. Liv podia ter levado um baque hoje, mas estava longe de estar derrotada. – Com uma condição. – Qual é? – Enquanto procuro um suéter, você vai se sentar naquela cadeira e elaborar um currículo. A não ser que tenha trazido um, é claro. – Está falando sério? – Estou. – Apesar das bizarras circunstâncias da chegada de Liv, ele gostou do que viu, seu mau humor anterior diminuíra na hora.

O brilho que surgiu nos olhos de Cade fez partes dela intocadas por um homem despertarem, não era de se espantar com tanta testosterona à sua volta. Enquanto ele passava a mão pelo cabelo grosso e escuro, precisou lembrar-se de que mantivera sua virgindade por tanto tempo que perdera o desejo. Ah, é mesmo?, perguntou sua consciência. Cade provocara algum tipo de magia em sua região pélvica. Reassumindo o ar empertigado, estendeu a mão, pronta para inspecionar. Não podia arriscar perder sua aura de profissionalismo agora que ele lhe oferecera a oportunidade de

candidatar-se ao emprego. Preparou-se para pegar a mão dele. Era grande, forte e bronzeada... sabe-se lá com que tipo de experiência. Enquanto segurava os dedos, foi difícil concentrar-se no ferimento, que felizmente não exigia pontos. – Mantenha a mão debaixo da torneira. – Assim? – Cade pressionou-a contra a pia. Ela assentiu, lutando para conter os pensamentos enquanto seu corpo respondia a ele, culminando com uma sensação de tremedeira entre as pernas. – As acomodações estão incluídas no emprego? – Estava determinada a

manter o foco nisso. – Para a candidata vitoriosa, posso oferecer mais do que um suéter. Cade tornava impossível a concentração. Sua voz precisava parecer tão familiar como se já se conhecessem há muito tempo? Ainda sentindo maravilhosas pontadas lá embaixo, largou a mão dele. – Desinfetante? – Debaixo da pia, ou iodo dentro daquela gaveta ali. Ela percebeu o olhar perspicaz de Cade seguindo-a pela cozinha. Ele era esbelto e malhado, a camiseta justa mostrava seu abdômen definido. Podia estar determinada a manter o nível

profissional, mas não podia negar que Cade Grant era um pedaço de mau caminho. – Nesta gaveta? – Quando abriu-a, logo fechou ao encontrar inúmeras caixas de camisinhas. Agora estava nervosa, suas bochechas ficaram rosadas. – Tudo bem, não era esta gaveta, é ao lado. Um homem típico. Não tinha a menor ideia de onde nada ficava. Ela achou o iodo, fechou a gaveta e virou-se. – Os curativos estão aqui. – Pegou a latinha escondida atrás das torneiras.

– Bem, eu vou... – Ele só conseguia se impressionar com sua rápida recuperação, apesar de pensar no sobe e desce de seus seios deslizando debaixo da fina seda. – Então era aí que estavam. – Fez-se de inocente enquanto ela lançou um olhar de reprimenda.

CAPÍTULO 2

LIV

começar a fazer o currículo, mas era impossível concentrar-se com um oficial do exército observando-a. – Talvez se você se sentar eu possa me concentrar. – Você é muito mandona para uma mulher descalça e com roupas de baixo. A autoconfiança de Liv desapareceu. Conseguia lidar com problemas TENTOU

práticos, mas quando o foco era a sexualidade... perdia o prumo. – Quer ou não que eu me candidate à vaga? – Seu olhar se dirigiu aos lábios de Cade, firmes e cheios de cicatrizes. Não podia permitir que percebesse o quanto precisava do emprego nem como desejava loucamente que ele a beijasse. – Fique um pouco parado, por favor. – Ao retornar para a tarefa, ela sentia o rosto queimando. – Mais alguma instrução? – Por enquanto não. – Talvez eu deva falar sobre sua obsessão por disciplina na entrevista. Ela não se atreveu a levantar o olhar.

– Fale sobre tudo que achar relevante. – Não se preocupe, é o que pretendo... Enquanto seu coração tentava sair pela boca, Cade apertou os olhos cinzentos para analisá-la. Olhos incríveis que pareciam enxergá-la por dentro. Ele era um homem incrível. Ela não sabia o que a aguardava quando bateu na porta, mas também não pensou que seria um homem bronzeado e musculoso, com ombros largos o bastante para içar um boi, tão perfumado que precisou lutar contra a vontade de esquecer o currículo e

simplesmente fechar os olhos para respirar fundo. – Parece que você não fez muito progresso – observou ele, olhando para o papel em branco na frente dela. – Primeiro estou formulando frases de cabeça. – Quando não estou imaginando como seria sentir sua barba arranhando meu pescoço... – Você vai escrever alguma coisa? – indagou Cade. Recompondo-se, Liv avaliou todas as possibilidades. Resultados escolares, bons. Habilidade no golfe, inexistente. Habilidades na cozinha, excelentes, graças ao colégio interno. Hobbys? Leitura de romances e assistir a filmes.

Certamente não seria a escolhida de Cade, Liv pensou dando uma olhada em seu rosto impassível, mas, imaginando que ele poderia querer um pouco de emoção em sua vida, escreveu de qualquer forma. Escreveu mais rápido suas qualificações como enfermeira, tinha orgulho delas. Trinta segundos depois, entregou a folha preenchida para Cade. Ele não conseguia parar de olhar para Liv e pensar nas estranhas peças que o destino pregava. Não havia outros candidatos e ela era enfermeira. Poderia haver melhor opção? Ele ficou muito aliviado quando ela vestiu o velho suéter do exército que ele trocou

pela folha. A cor não ficou bem, e era tão grande que parecia um vestido disforme. Sua silhueta esguia ficou escondida, mas não o bastante... até com o rosto enlameado, era linda. – Você não vai ler? Ele prestou atenção ao papel em sua mão, registrando os pontos importantes como, a idade, 22, estado civil, solteira. – Bem, parece tudo em ordem – informou ele, devolvendo o papel. – Eu aceito, você pode começar agora? – É só isso? – Só – confirmou. – A vaga é sua. – É? – Levantou-se. – Tem certeza de que não está brincando?

– Nunca brinco – garantiu. – Depois discutiremos sobre salário, por enquanto concordo com um teste durante este fim de semana. – AH... – NADA estava resolvido ainda. Precisaria se destacar em tudo. – Vai ser um fim de semana particularmente cansativo. Acha que pode lidar com isso? – Sim... – A mãe dela sempre dissera que não tinha jeito para nada e que não sobreviveria no mundo real. Até mesmo quando o hospital fechou e ela perdeu o emprego, sua mãe a culpou. Algo dizia que o mundo de Cade era muito real e que as provas que teria que

enfrentar, também. Será que sua mãe estava certa? Deveria casar-se logo com um homem condescendente como Horace? Não! – sim –, concordou, novamente com convicção. Livrou-se das dúvidas. Se não tentasse fazer alguma coisa sozinha, nunca saberia do que era capaz. – Muito bem, se você sobreviver ao fim de semana, falaremos sobre valores. Por enquanto, sugiro que tire estas roupas. – Ah é? – Liv engoliu seco, lembrando-se das camisinhas na gaveta. Aquilo estava indo rápido demais. – Vou mostrar seu quarto.

– Ainda não – disse, ganhando tempo. – Quero dizer, gostaria primeiro de fazer uma faxina aqui. – Tudo bem... Acho que não há hora melhor do que agora para começar... Por que Cade a olhava daquela maneira? Fazia os pelos de sua nuca se arrepiarem. Ele preferia ver Liv lavando louças em uma camisola de cetim do que descalça com um suéter de lã. Era pequenininha e tímida, mas seus lábios carnudos, olhos escuros e seios volumosos eram uma dádiva. Liv mergulhou os braços na água até os cotovelos. Sentia a química entre eles e não sabia o que fazer. Sonhara com

algo assim a vida toda, e agora que estava acontecendo, não tinha ideia do que fazer. Será que Cade sentia também? Esperava que não. Exatamente como sua mãe dissera, precisava deixar as oportunidades para outras mulheres e concentrar-se nas poucas coisas que fazia bem, como lavar louças. O rosto dele se iluminou, estava errado ao pensar que o destino trouxera uma enfermeira, na verdade era um anjo. Transformaria aquele buraco imundo em uma casa linda e limpa. Fazia tanto tempo que não sorria de verdade que seus músculos do rosto rangeram.

– Não vai ajudar? – As palavras saíram antes que pudesse evitar. Qualquer coisa era melhor do que Cade observando-a. – Você não tem panos de prato limpos? – Talvez esta fosse a razão de ele estar afastado – Olhe, tem um aqui. Ele ficou admirado por aceitar. – Não se preocupe, vou colocar na lista quando formos fazer compras. – Nós vamos fazer compras? Ela sorriu para ele. – Por favor, me passe o resto daquelas coisas. Ele pegou a pilha de talheres, que escorregou das mãos ensaboadas de Liv e caiu dentro da pia, espalhando água

para todos os lados. Quando ela gritou e pulou para trás, ele precisou segurá-la. – Fique aqui, espere até eu secar o chão ou você pode escorregar. – Ele se agachou. Os pés dela também tinham respingos de espuma e ele decidiu secálos antes de cuidar do chão. Suas unhas pareciam conchas, pintadas de rosa bem claro, por causa do casamento, ele deduziu. Eram os menores e mais macios pés que já vira. Torcendo o pano de prato, secou-os cuidadosamente. O lugar ficou tão silencioso que podia ouvir a respiração dela. A tensão os unia como uma descarga elétrica. Ele levantou e apoiou um dos pés dela em seu joelho. Quando o levantou

novamente para secar a sola, deu um gemido animado. – Cócegas? Ela não respondeu, não conseguiria. Colocando aquele pé para baixo, ele torturou-se novamente com o outro. A tentação de massagear os pés dela e mostrar como eram sensíveis era irresistível. Liv precisou se apoiar na pia, não tinha nada a ver com equilíbrio, e tudo a ver com as sensações que a invadiam. Nunca soubera que era capaz de ter sensações tão fortes, e Cade só estava secando seus pés, embora na realidade fizesse muito mais. Queria gemer e exprimir seus sentimentos, pensar e respirar normalmente, mas não era

possível. Precisava escondê-los e fingir que nada acontecia. Pelo amor de Deus, ele estava só secando seus pés! Pés eram úteis para andar, chutar bola e, ocasionalmente, no verão para usar sandálias de tirinhas. Não para serem pontos eróticos, ou eram? Ele não podia acreditar que estava fazendo aquilo, não podia estar chegando àquele ponto, precisava parar já. – Vamos parar com isso. Ainda não mostrei o lugar para você. – Ah, isso seria ótimo – concordou ela, muito animada, grata pela folga e se esquecendo da determinação anterior de ficar na cozinha até que tudo

estivesse arrumado. – Então, o trabalho inclui acomodações? – Uma acomodação. Não é o Ritz. – Tudo bem. Liv hesitou na porta, morrendo de medo de dar um passo rumo ao desconhecido com um homem que não conhecia, e tratando-se de Cade... Ao menos tentaria ficar com o emprego, ou então teria que concordar com a avaliação de sua mãe. Tomando coragem, seguiu Cade até a parte principal da casa. Featherstone Hall estava maltratada, longe de ser a imponente casa que imaginara.

– Que tristeza – murmurou enquanto Cade a conduzia pelo salão de baile vazio. Podia imaginá-lo tempos atrás com muita música e alegria, mas agora era só um enorme espaço vazio, servindo de alojamento para uma colônia de aranhas. – Venha – Cade chamou-a, como se também ficasse triste com aquilo. Será que era só sua imaginação?, perguntou-se Liv enquanto subiam as escadas. Havia vários lances, começando com uma imponente escadaria e terminando com um lance estreito de degraus que levava até os quartos do sótão.

– Dependências dos empregados? – perguntou. – Exatamente. Era pior do que imaginara. O quarto que Cade lhe mostrou parecia não ver tinta havia séculos. E ele esperava que sua equipe ficasse? Mas já fora mimada o suficiente, vivera confortavelmente por muito tempo. – Isso está bom. – Tem certeza de que está bom para você? Ela se perguntava quando teria sido a última vez que o cabelo dele foi cortado no estilo militar. Já devia fazer algum tempo, deduziu, vendo-o descabelado. – Positivo – confirmou.

Será que ele deixou o cabelo crescer para cobrir as cicatrizes? Agora que ele tirara o cabelo da testa, podia vê-las melhor. – Ultimamente não tenho subido aqui – ele admitiu. – E como pode ver, as coisas ficaram meio negligenciadas. Ela sentiu uma pontinha de alegria por ele se importar, suspeitava que ele tivesse um lado humano, só o escondia bem. Talvez estivesse se iludindo e não deveria se deixar enganar, já gostava demais de Cade Grant. – É tudo do que eu preciso. Uma cama, uma janela e uma porta. Ele queria sorrir, mas se conteve. Estavam em sintonia. Sentira o mesmo

no dia em que entrou para o exército. – Eu não me importaria se fizesse algumas melhorias. Caso ficasse por muito tempo, deveria fazer mais do que algumas melhorias, Liv refletiu, e não apenas na casa.

CAPÍTULO 3

CADE

cheio de surpresas, Liv pensou, olhando as roupas que ele levou para cima. Ele a fizera sorrir ao pedir que as levasse a uma lavanderia que fizesse serviços rápidos. Como aquilo era bonito. Ele precisava cuidar das roupas de sua avó. Liv estava prestes a deixar seu quarto no sótão para a primeira de suas missões, depois de instalar-se em trinta segundos, ERA

tempo que levou para escancarar a janela, arrumar a cama e descobrir que Cade tinha muito que aprender sobre roupas de cama. O coração dele, porém, estava no lugar certo, não só por isso. Como mágica, ele apareceu com algumas roupas militares aceitáveis para ela, um conjunto de moletom no tamanho certo. Aparentemente, ele dava cursos quando estava em casa e mantinha um estoque de roupas. Depois ele insistiu em dar-lhe algum dinheiro, para qualquer coisa que pudesse precisar. Quando recusou dizendo que suas necessidades eram poucas, cedeu após ele erguer a sobrancelha. Deveria

comprar algumas roupas, uma solução de momento. Garantiu que devolveria cada centavo com seu salário. – Ainda não contratei você. Aquilo fez com que ficasse duplamente determinada a conseguir o emprego. Cade parecia um pouco rude à primeira vista, a vida o tornara assim. Ela vira de relance um lado diferente dele, e, por mais bem escondido que estivesse, gostou do que viu. Era fácil encontrar desculpas para um homem que fazia com que ela se arrepiasse só com um olhar. Você tem muito o que fazer naquele quarto, disse Liv com firmeza para sua

consciência. Para alguém que vivia entre rendas e babados, era uma tela em branco que estava ansiosa por começar a pintar. Este era o resumo, tudo o que Cade lhe atirasse, precisava pegar. Não tinha nenhum outro lugar para ir. Depois do fiasco do casamento, não tinha intenção de ser conhecida como uma fugitiva em série. As pessoas já achavam-na irresponsável o bastante, só porque enxergava as coisas de modo diferente. Era sua oportunidade de provar o contrário. A ideia de ir até a cidade na tarde de seu casamento abortado a assustava, mas em algum momento teria que aparecer, então por que não agora?

ELE FRANZIU a testa ao ver Liv caminhando pela rua. Não lhe passou pela cabeça que ela ou qualquer pessoa acima de 17 anos não soubesse dirigir, o que fez com que perguntasse a si mesmo o que mais faltava em sua educação. Relembrando sua reação ao ver as camisinhas, considerou a possibilidade de ser virgem e se propôs a assumir o papel de professor e, aparentemente, seu corpo concordou com a proposta. Cade observou o vestido de casamento arruinado dentro do saco plástico no topo da lixeira. O que teria feito Liv desistir de seu casamento? Devia saber no que estava se metendo.

Concluíra que ela também era teimosa. Obviamente não sabia que o ônibus só passava a cada duas horas e que acabara de perder o último. Poderia correr atrás dela para explicar, mas algo dizia que ela não gostaria, queria fazer as coisas à sua maneira para provar que era capaz. Ela mal parou no ponto antes de começar a descer pela estrada. Será que sabia a que distância ficava o próximo ponto? Havia uma bicicleta enferrujada guardada nos fundos da garagem, ou ele poderia levá-la até a cidade, mas ele não esperava que recrutas sob seu comando tivessem iniciativa? Algo dizia a ele que Liv faria exatamente isso.

Além do mais, já sofrera o bastante naquele dia, e caso se parecesse um pouco com ele, precisava de um tempo para encontrar suas próprias soluções. O que quer que tivesse acontecido a ela naquela manhã na igreja, tratou de deixar para trás e seguir em frente com sua vida. Ele só podia admirar e até invejá-la um pouco. Deixou-a ir em frente, e afastou-se da janela. OLIVIA TATE, antes conhecida como uma patricinha puritana, esperou o máximo que pode pelo ônibus, depois pegou uma carona para a cidade com um motorista de caminhão que até ofereceu dividir seu hambúrguer.

Na hora em que ela saltou da caminhonete cidade, seu bom humor foi rudemente quebrado pela mulher do vigário que não perdeu tempo em dizer que não era bem-vinda à cidade. – Estou admirada que tenha coragem de dar as caras! E pelo amor de Deus, o que você fazia com um... motorista de caminhão? Os olhos de Liv se estreitaram. Aquele tipo de coisa sempre acontecia e só agora notara como as pessoas eram ridículas? – Big Harry? – indagou, fingindo surpresa. – Ora, ele é meu amigo. Agarrando-se às roupas da avó de Cade para se confortar, virou-se para a

rua e para a próxima etapa de sua missão. LIV ERA a primeira a admitir que tinha um problema com sapatos. Nunca passava por uma liquidação sem dar uma espiada. Procurava por sapatos adequados para usar em Featherstone, robustos, de amarrar e com saltos baixos, decidiu, forçando-se a ignorar as inúmeras prateleiras de sapatos de marca com desconto. Ela gastou um pouco do dinheiro de Cade, depois mais um pouco, dizendo para si que trabalharia para devolver, antes de se abrigar da chuva em uma

casa de chá enquanto esperava pelo ônibus. Após tomar o último gole de seu café, olhou para o relógio. Estava na hora de buscar as roupas na lavanderia. Toda vez que Liv pensava nelas, sorria. Decidira que Cade era do tipo cão que ladra, mas não morde. Estava na hora de ir. Pegara na rodoviária uma lista com os horários do ônibus, não queria perdê-lo novamente. Obviamente poderia pegar um táxi, Liv refletiu, olhando a chuva pela janela, Cade lhe dera dinheiro suficiente... E fazê-lo pensar que era uma fracote?

ELE FORA de carro até a cidade para comprar lâmpadas, não para procurar por Liv. Foi só uma coincidência passar por ela na loja de chá. Ele freou o carro, feliz ao vê-la sentada perto da janela e já que acabara de fazer suas compras e a chuva estava diminuindo, resolveu em um de seus momentos de cavalheirismo, oferecer carona. Mas no instante em que se preparava para estacionar, notou que a temível srta. Tate já caminhava pela rua em direção à lavanderia. Então planejara tudo para coincidir com o horário do ônibus... Bom para ela. Ele rangeu os dentes antes de pisar no acelerador, apesar de o dentista já

tê-lo advertido sobre isto. Para um homem que sentimentos, era algo perigoso.

evitava

NA VIAGEM de volta, Liv caiu na real. O caminho até Featherstone foi cheio de culpa e sua cabeça estava nas pessoas que deixara para trás. Como estariam se sentindo, como Horace estaria? Ela sabia que deveriam estar juntos naquele momento. Encarando os fatos e o convencendo como sua vida seria melhor sem ela. Como estariam seus pais? Liv fraquejou, não conseguia distinguir chuva de lágrimas, ao jogar o cabelo encharcado para trás. Que

bagunça fizera. Agora aquela mulher intrometida na cidade inventaria histórias, falaria de Big Harry e apavoraria sua mãe. O encontro a fizera deixar uma mensagem no celular de seu pai para tranquilizá-lo, sabendo que dos dois, ele estaria mais calmo. Escrevera uma carta também e colocara no correio. Estragara o dia especial de sua mãe, e quaisquer que fossem as desavenças passadas, amava seus pais, só o medo e a insegurança de sua mãe é que fizeram com que agisse daquela maneira. Liv devia ter percebido e encontrado uma maneira de quebrar a distância, abraçando, tocando e tranquilizando-a...

Ao avistar Featherstone Hall e o carro amassado de Cade estacionado, Liv se derreteu. Cade Grant podia dominar seus pensamentos em um piscar de olhos. Voltar era emocionante e assustador, ele a deixava vulnerável. Era como equilibrar-se na beira de um precipício sabendo que um sopro poderia derrubá-la. Pensar nele, tão grande e sexy, parecia assustador e desafiador. Tinha a sensação de que fizera a coisa certa mesmo que de maneira errada. Era imperdoável ter arruinado seu casamento, causado dor à sua mãe e deixado Horace no altar. Segurando o precioso pacote da lavanderia, Liv apressou o passo, havia

prometido fazer um bom jantar, e todos os ingredientes estavam em sua sacola de compras. Liv se corrigiu, estavam em sua sacola artística da última moda. Não resistira e abocanhara a última da loja. Aquilo fez com que se sentisse orgulhosa, talvez por ser sua apólice de seguros para que se mantivesse no emprego, deveria ficar ao menos até poder devolver o dinheiro que Cade emprestara. – QUE HORAS você acha que são? – Hora do jantar? – As bochechas de Liv coraram. Nunca um homem havia falado com ela naquele tom, e não sabia como responder. Cade parecia furioso,

mas por quê? Checou as horas, não estava atrasada, fizera tudo o que ele pedira. Seu olhar de tigre com espinho na pata a magoara mais do que ele podia imaginar. Então ela desmoronaria? Refazendo-se, encarou com firmeza. Não fracassaria, não desistiria. – Não fique aí parada – disse ele impaciente. – Está molhando tudo. – Sua compaixão me surpreende – comentou ela. – Aconteceu algo que o perturbou enquanto eu estava fora? Fitou-a desconfiado. Convidara um trapo de mulher para fazer parte de sua vida e ela mudara radicalmente de uma hora para outra. Não era o bastante

para perturbá-lo? Ele desejava se sentir daquela maneira? Queria ter qualquer sentimento? Além do mais, não conseguia ficar longe dela. Ela estava em todo lugar, sua essência invadira a mente, o corpo dele, sua casa. Seus pensamentos foram interrompidos quando ela foi até a lareira. O modo com que seu rosto se iluminou ao se aquecer contrastou nitidamente com o humor dele. Tentou manter o mau humor, mas naquele instante, ela estava se ajoelhando como uma criança no tapete em frente à lareira com as mãos esticadas. Desviou o olhar analisando que deveria pensar

duas vezes antes de apresentar uma menina como Liv ao seu mundo sombrio. Liv estava aliviada por ter sido capaz de dar as costas a Cade e olhar para as chamas. Estava certa de que ele ficaria feliz por vê-la novamente quando entrou na cozinha. Estava feliz com a perspectiva de vê-lo outra vez, mas seu humor rapidamente a desanimou. Esperara demais dele, só isso. Por que teria prazer em revê-la? Ela ainda não provara nada, mas aquela noite era sua grande chance. Cozinharia para Cade a melhor refeição que ele já provara. Recusava-se a ficar de mau humor só porque ele estava e não tinha

intenção de ficar acuada a noite toda como se estivesse assustada. – Você fez um belo fogo – elogiou. – Daqui para frente será serviço seu. Estaria a confundido com Cinderela? Ela tentou frear a língua ao olhar a pilha de toras pesadas. – É melhor você ir se trocar, estou faminto, quero jantar logo. Ela achava que era fácil trabalhar como empregada? – Sinto muito – desculpou-se, em tom agradável, lembrando-se do que o emprego significava –, só achei que deveria me secar um pouco. – Ela o encarou e teve a satisfação de vê-lo desviar o olhar. Ela desconfiava de que

Cade não estava habituado a ser desafiado. Trabalharia o mais duro que pudesse e cooperaria com toda sua habilidade, mas não se acovardaria em sua presença. – Pelo menos você tem seu uniforme – disse ele. Estava tão perdida em pensamentos que demorou um pouco para entender. – Meu uniforme? – Sim, você pode se trocar antes de servir o jantar. Precisa se acostumar a usá-lo. Ficou paralisada, entendia que Cade se sentisse mais à vontade com pessoas uniformizadas... mas onde estaria o uniforme?

– Como assim? – perguntou ela, olhando em volta para procurá-lo. – O que você está procurando? Está bem aqui. – Ele segurou o saco da lavanderia. – Mas são as roupas de sua avó. – Minha avó? – Você não tem avó. – Isso mesmo. – Ou de um parente mais velho... Cade ergueu as sobrancelhas. – Então isso... – Liv olhou para o pacote no chão – é meu uniforme? – Exatamente – respondeu Cade. – E agora eu sugiro que vá vesti-lo. Presumo que ainda esteja interessada no emprego.

– É claro que estou. – Muito bem, então. Eu trabalho com horários rigorosos. Vou dar a você mais tarde um rascunho de minhas necessidades, mas uma coisa nunca irá mudar: o jantar é servido sempre às 19h. Como se dissesse: Posso confiar que nunca mais vai se atrasar? – Mais uma vez, desculpe. Como conseguira soar tão calma quando Cade fora tão irracional? Talvez fosse por sua determinação, mas agora entendia por que ele tinha problemas em manter funcionários. – Gosto de tudo com regularidade.

Precisou se abaixar para pegar os pacotes antes que Cade pudesse ver o sorriso em seu rosto. – Vou colocar o jantar à mesa às 19h em ponto. – Entendido. – Entendido – repetiu, segurando o fôlego até que o coronel Grant saísse da sala, quando enfim pôde fazer uma boa careta. AO FECHAR a porta, sua respiração estava ofegante. Fechar os olhos não impedira as evidências. A blusa por baixo do casaco de Liv estava encharcada, revelando o contorno de seus seios nos mínimos detalhes. Ele não confiava em

si para ficar mais um momento no mesmo lugar que ela, quanto mais rápido vestisse o uniforme, melhor seria. Ele só precisava imaginar a empregada anterior usando a mesma roupa e os dois estariam a salvo. Ele poderia voltar a respirar normalmente e agir como um homem normal em vez de como a besta ansiosa por sexo em que havia se transformado.

CAPÍTULO 4

O

era a roupa mais abominável que Liv já vira. Mal suportava se olhar no espelho. Meias de lã enrugadas no tornozelo, uma saia disforme azul-marinho com um paletó quadrado, tão feio que merecia ser rasgado e jogado no fogo. Quando pensou na farda elegante que ele usava para trabalhar, ficou furiosa que ele esperasse que qualquer um que UNIFORME

trabalhasse com ele vestisse aquele lixo. Teria uma conversa com ele. Não, iria se acalmar imediatamente e aceitaria que não tinha alternativa, precisava andar na linha pelo menos por enquanto. Afinal queria ou não o emprego? Liv se acalmou arrumando os pequenos bibelôs e acessórios femininos que comprara para fazer sua vida no sótão mais suportável. Não precisou de muita coisa para transformar o quarto, só uma vela perfumada, uma manta de chiffon barata, mas bonita, jogada no encosto da cadeira, um relógio e um par de pantufas debaixo da cama, ah, e um

pequeno vaso de flores e também um romance... Perfeito, pensou, sorrindo ao observar o resultado final, mas havia ainda mais uma ou duas coisas que pretendia mudar. Caso Cade esperasse que um empregado usasse aquelas acomodações, fosse ou não, seria necessária uma reforma geral, e para ajudá-lo faria uma lista. Liv ficou balançada ao pensar em alguém, que não ela, ficasse com o emprego em Featherstone, outra pessoa morando com Cade. Queria proteger seu lugar. Seu corpo reagira, só em pensar nele de uma maneira que não podia ignorar. A reação física era muito

mais emocionante do que observar o cobertor na cama de ferro. A pulsação insistente entre suas pernas a fez suspirar de prazer enquanto o velho trapo cinza sobre sua cama só a incomodava. Parecia uma velha peça do exército, provavelmente da grande guerra. Aquilo era só o começo. Havia um único sabonete ressecado na pia rachada e manchada de ferrugem e uma toalha de mão que já vira dias melhores. Cortinas frágeis pendiam tristemente nas janelas dizendo que a claridade da manhã passaria por elas, e um tapete puído que só piorava o ar de total decadência.

Ela afastou-se com a mão nos quadris, balançando a cabeça. Featherstone Hall deve ter tido seus dias de glória, mas aquele não era um deles. Daria a lista de melhorias para Cade quando se encontrassem novamente na hora do jantar. OLHOU DUAS vezes quando ela entrou na cozinha. Como alguém podia parecer tão sexy vestindo aquilo? Até com sapatos baixos suas pernas pareciam fantásticas. Tudo o que ele podia imaginar agora era descascar Liv como se ela fosse uma fruta madura e depois saboreá-la inteira.

– Espero que goste de carne vermelha – disse ela, indo até a geladeira. O coração dele disparou. – Adoro carne vermelha. Ele estava feliz pela primeira refeição decente em dias e preparado para saboreá-la. – Se você quiser relaxar na biblioteca, levo uma taça de vinho, ou cerveja se preferir – ofereceu, dando um largo sorriso. – Uma cerveja cairia bem, obrigado – agradeceu. DEPOIS DE vestir seu avental, Liv estalou os dedos. Estava pronta para começar.

Estava determinada a impressionar Cade e este era o modo. Fora a primeira aluna nas aulas de culinária da Cordon Bleu na Escola Smythson para moças, e o impressionaria, Liv pensou determinada. Lembrando os conselhos da sra. Smythson de que um bom cozinheiro deveria ser calmo e organizado, planejara a refeição como se fosse um treinamento militar e tinha certeza de que Cade não deixaria de se impressionar. Ela descascou, picou, lavou, ralou, amassou, temperou e depois cozinhou carne e legumes pelo tempo exato. Quando terminou, enxugou a testa, depois limpou as beiradas do prato com

um pano limpo que guardara especialmente para aquele momento. Ela se afastou e suspirou. O prato estava lindo. Pela primeira vez, Liv tinha motivo para se sentir confiante. ELA LEVARA a cerveja em uma taça de vinho, mas ele decidira ignorar o fato quando Liv abriu a porta e o aroma que invadiu suas narinas sugeriu molho de carne e batatas coradas, purê de cenoura e nabo caramelado... a desilusão não demorou muito. – O que é isso? – indagou ele, olhando para o prato.

Havia algo no prato que, para ele, parecia uma ervilha minúscula no topo de uma passa gigante. O rosto de Liv se iluminou. Não era de se admirar que Cade estivesse surpreso. Decidira lhe fazer uma surpresa em seu primeiro dia com um prato que levava sua assinatura... uma mistura delicada de lascas de carne salpicadas com wasabi, servidas com crocante de pimenta verde e cebola. O prato todo não ocupava mais lugar do que uma xícara de chá, arrumado como uma obra de arte. Havia um toque de purê de cenoura para acrescentar cor e textura, e é claro, não se esquecera de uma única rodela de carne, menor do que uma moeda de

cinquenta centavos. Um espetáculo! Nunca se sentira orgulhosa antes, mas pela expressão de espanto no rosto de Cade, e que continuava a olhar maravilhado para o prato, sentiu-se assim. Obviamente ele estava impressionado com sua habilidade e experiência, para não mencionar o trabalho que tivera para encontrar os ingredientes certos e depois prepará-los tão bem. Era muito bom ser apreciada. – Não é o bastante! – Enfiando o garfo em sua gloriosa criação, Cade colocou tudo na boca e engoliu de uma vez só. Depois se virou para ela. – Talvez você não tenha notado, senhorita, mas eu não sou um duende.

Sou um adulto que espera uma refeição adequada, não uma porção para fadas. Os olhos dela encheram-se de lágrimas, mas se conteve, não fracassaria. Sua mãe sempre disse que era um fracasso. Não aconteceria novamente. – Por favor, me desculpe. – Ela desejou que sua voz não tivesse saído como um sussurro. Desejou não querer sair correndo da sala. Mas, de alguma maneira, conseguiu manter os pés firmes no chão e disse uma mentira. – Não se preocupe, era só a entrada. Cade assentiu com uma careta e ainda franzia a testa quando afastou o prato.

– Eu não preciso de comida sofisticada, não precisava ter tanto trabalho. – Não é trabalho nenhum. Percebeu que ela estava à beira das lágrimas e se conteve. – Onde estão aqueles ingredientes frescos que você comprou na cidade? – perguntou ele, como se tivesse acabado de se lembrar deles. – Faça algo simples que possa preparar rapidamente. Ele não estava acostumado a lidar com mulheres sensíveis, mas suspeitava que, se dissesse algo menos agradável, Liv desataria a chorar. – Você prefere o prato principal agora ou mais tarde? – perguntou ela

com firmeza. – Se preferir, posso lhe dar um tempo. – Liv – ele já estava levantando de seu lugar –, eu vou com você. Ela levantou a mão para detê-lo. – Não, eu prefiro que não venha. Ele sentou-se novamente enquanto saiu apressada da sala. Cade sentiu-se terrível, como um homem que não sabia se levantar e ajudar uma mulher às lágrimas. Inquieto, ele mudava de posição na cadeira. Estava alheio a sentimentos, aos sentimentos de Liv? Ele realmente se sentara ali, como um ricaço arrogante fazendo-a esperar até que ele apontasse suas falhas? Ele nunca se sentira daquele modo por

nenhuma mulher, talvez porque nenhuma mulher o fizera enxergar no que se transformara. Por que Liv? O que Liv tinha que o desarmara e trouxera seus sentimentos de volta? Realmente ficou chocado ao ver lágrimas em seus olhos e saber que ele as havia provocado, não fora sempre assim. Os campos de batalha o tornaram frio e distante, foi como se manteve vivo, mas aquela era a vida civil, e era melhor que se acostumasse, não queria se transformar em uma pedra de gelo. Queria relembrar como rir, relaxar e compartilhar um sorriso. Liv dera o melhor de si naquela noite e

ele estragara tudo. Agora só dependia do esforço dele, e ele se esforçaria. ENCOSTADA NA parede da cozinha, mordeu o lábio para não chorar, tudo o que desejava fazer era gritar desesperadamente o quanto era inútil. Cade a expusera, demonstrando suas fraquezas e fazendo-a se dar conta do quanto era inexperiente e ingênua e do quanto precisava aprender sobre tudo. Ela começaria bem ali, naquele exato momento, não fracassaria em seu primeiro dia de emprego, só teria que se esforçar mais. Liv procurou na dispensa ingredientes para o prato principal. A

geladeira estava mais bem abastecida com ovos, verduras, legumes e cerveja... Ao recompor-se, o rosto de Liv se iluminou ao ver um pedaço de bacon na bancada da cozinha e se aproximou para examiná-lo. Estava em uma bandeja por baixo de uma peneira gigante. A carne tinha um tom vermelho atraente e a gordura em tons de creme era bem distribuída. Sua boca se encheu de água ao imaginá-la em lascas finas tostadas no forno. Havia preparado uma de suas sobremesas mais leves, ovos nevados, talvez fosse melhor servir algo mais substancial... – Simplesmente delicioso – disse Cade, para alívio de Liv. Ela preparara

um suflê acompanhado de lascas de bacon torrado, feito em um estalar de dedos. – Onde você encontrou um bacon tão gostoso? – indagou. – Eu acho que minha fazenda produz o melhor, eu só preciso do Troféu no Grande concurso South Western para provar ao mundo, mas este estava maravilhoso! – Suspirando satisfeito, ele deu um tapinha em sua barriga sarada. Um toque de temor invadiu os sentimentos agradáveis de Liv. Ela deu de ombros. Aquela foi a conversa mais amigável de Cade desde que chegara, bem melhor que sua indelicadeza anterior. Então, se ele estava se esforçando, também se esforçaria.

– Estou feliz que tenha gostado. – Você ainda não me contou onde encontrou um bacon tão bom. Talvez eu devesse me preocupar com minhas chances no concurso de amanhã. Acho que tenho um concorrente à altura... Olivia? – insistiu ele, quando permaneceu em silêncio. Liv gostaria de estar a quilômetros dali e apagar este dia de sua memória. Ela não conseguia parar de imaginar o que estava prestes a acontecer e que não seria nada bom para ela. Agora deveria confessar. – Era o seu bacon. Cade deu uma gargalhada. Ele apoiou as mãos sobre a mesa parecendo

merecidamente um mestre nas pesquisas, um homem no controle de todas as situações, menos, evidentemente tratando-se de seu bacon. – Eu não entendi – disse ele, virando-se para ela. – Eu disse que era o seu bacon. Enquanto Cade permanecia em um silêncio sombrio, as palavras saíam torrencialmente da boca de Liv. – Eu cortei aquelas fatias que você acabou de comer do pedaço de carne que estava lá na cozinha. Você tem facas excelentes na gaveta. Não sei se sabe, mas são muito afiadas.

Cade se levantou bem devagar. Plantando as mãos sobre a mesa, ele se inclinou até ela. – O que você disse? Ela não conseguia parar de tagarelar sobre as maravilhosas facas de Cade até que ele deu um soco na mesa, silenciando-a com o susto. – Fale sobre o bacon. Os olhos dele se estreitaram até parecerem pontos de luz. Ele falava sério? – O bacon? – Isso mesmo. A voz de Cade estava ameaçadoramente baixa, e de repente a mesa entre eles parecia uma barreira

pequena demais. Mas o que mesmo dissera a si sobre aceitar humildemente a culpa? Já não tivera o bastante disso em casa com sua mãe? Não era disso que fugira? Caso não tomasse uma atitude, aquilo não a perseguiria para sempre? Cerrando os punhos, manteve a cabeça erguida. – Você acabou de comer seu bacon. Eu cortei daquele pedaço que estava lá na cozinha. – Daquele pedaço? Aquela era meu bacon premiado! Liv encolheu-se quando ele ergueu as mãos para pentear o cabelo com dedos irritados.

– Não só comeu, como também gostou! Você não me avisou, como eu podia saber que era sua carne preciosa? Você disse para eu fazer o jantar, eu fiz, dei meu melhor mas você não gostou, eu tentei de novo e fracassei pela segunda vez, segundo você. Você está tão envolvido mentalmente com sua brigada que não se preocupa com os civis. Você nem os vê, não é de se estranhar que ninguém queira trabalhar para você. – Ela gesticulou com raiva. – É deste modo que você transmite confiança para as suas tropas? Não! Eu acho que não. Certamente, ele nunca quisera beijar um de seus soldados e, até Liv gritar

com ele, nunca havia pensado nisso. – Não é de se espantar que ninguém queira trabalhar para você. Eu não quero trabalhar para você! – Arrancou o avental e o jogou aos pés dele. – Eu me demito! Desta vez, ele a escorou contra a porta com todo seu peso para impedir que fosse embora. – Liv. – Não diga nada, não estou interessada. – Eu ia me desculpar. Os olhos com aquela expressão sombria e perigosa, os lábios sensuais, o rosto forte e aquele corpo pecaminosamente desejável, tudo

aquilo esperando por seu perdão? Era demais da conta. O coração dela batia como as asas de um beija-flor, mal podia respirar. Nunca estivera tão perto do perigo. Nunca ficara tão perto do corpo de um homem. – Não vou deixar você passar, Liv. Que alívio! – Ah, é mesmo? – O desejo de desafiá-lo e brigar com ele levando-a à loucura. – Vamos ver! Quando ela gritou, Cade a agarrou. Houve um momento do mais completo silêncio quando os olhos dela se arregalaram de susto. Só o vira calmo e, naquele momento, via seu outro lado.

O pequeno tufão que era Liv Tate mal alcançava seu peito. – Saia do meu caminho, Cade, eu estou avisando. Quando tentou passar, ele ficou na sua frente. Tentou dar a volta pelo outro lado, mas ele a seguiu. Com as mãos acima de sua cabeça apoiadas na porta, ele a encurralara. – Saia da frente, Cade! – Não. – Por quê? – perguntou. – Porque... – Ele entendia cada batida e cada pulsação do coração de Liv porque tinha a mesma sensação, o que o fez querer jogar a cabeça para trás e gritar de alívio, por senti-la outra vez.

Então ele fez exatamente o que desejava fazer: beijou-a de forma firme, possessiva, ávida, e sentiu-a tremer enquanto gemia. Ela já se entregava quando ele se afastou. Um beijo como aquele só podia terminar em um lugar, e apesar de Liv ser forte e corajosa, estava vulnerável demais sob seu teto e seu domínio. Ele a observou enquanto se recuperava. – Foi uma lição por brigar comigo – disse ele. Ela o olhou ainda com as costas das mãos escondendo a evidência do quanto havia gostado da experiência. – Você nunca mais...

– Eu nunca mais vou fazer isso! Que tal assim? – Não era a resposta que esperava. Liv Tate era várias coisas, mas não uma boa atriz. Ela ainda suspirava, querendo mais. – E quanto ao bacon... o concurso começa amanhã e aquela carne estava reservada para ficar devagar na temperatura ambiente. O que você sugere que eu envie para participar agora? O olhar de Cade era mais fatal do que o beijo. Nunca ficara tão conscientemente excitada, queria mais daqueles beijos, daquela experiência. Ah, como ele era gostoso, sua mente estava cheia de imagens dela debaixo

de Cade enquanto ele fazia mágicas por todas as partes de seu corpo. – E minha participação no concurso? – insistiu ele. – Tenho certeza de que vai pensar em alguma coisa. Ele precisou de toda sua força para tirar o orgulho de vencedor da cabeça, mas sua voz estava rouca, o que o fez rir. O sorriso formou uma covinha em seu rosto, provocando arrepios nela. Agora não conseguia parar de olhar para os lábios dele. Será que a beijaria novamente? Como nada aconteceu, desviou o olhar. Os olhos de Cade estavam sombrios, quase negros, e os dela também. Seus rostos estavam tão

próximos que compartilhavam o mesmo ar. De repente, ele se afastou, deixandoa decepcionada. – Achei que tivesse se demitido. – Pegando o avental descartado, ele entregou-o a ela. – Sim, eu me demiti. – Tentou ficar séria, mas era impossível ficar irritada de novo com Cade, tão sexy e com o cabelo nos olhos. Quando ele inclinou o rosto para observá-la, seus lábios se incharam. O beijo a transformara em uma panela de pressão sem válvula de escape, e agora ele achava que podia simplesmente ir embora?

– Não vá se esquecer do meu pudim. – Lançando um olhar irônico, ele saiu.

CAPÍTULO 5

A CABEÇA de Liv girava quando ela se refugiou na cozinha. Suas emoções estavam à flor da pele quando entornou os ovos nevados na pia. – O que vou fazer agora para sobremesa? – perguntou para o vazio. Pudim seria a última coisa em que pensaria. Limpar aquela espuma branca era como dizer adeus à sua inocência. Não podia se fazer de inocente quando

em tudo o que pensava era nos lábios firmes de Cade junto aos seus. Que beijo! Que jantar! Que dia! – Pudim? – Cade! Você me deu um baita susto! – E despertou seu desejo. Não podia continuar daquela maneira, pensando no beijo e se esquecendo do trabalho. – Não tem problema se não tiver pudim. – Achei que você não ia gostar, então joguei fora. – Ele precisava cruzar os braços e se encostar à parede? Ele a deixava nervosa. – Hum, que tal bolinho com geleia e creme de ovos? Ele assentiu, mas ela virou-se. Cade carrancudo e mal-humorado ela podia

suportar, mas Cade bem-humorado e sexy precisava evitar. – Misture o creme de ovos enquanto eu faço o bolinho – instruiu. Ela parecia tão vulnerável tentando fazer seu trabalho que ele teve vontade de abraçá-la. Um sentimento tão estranho que ele não sabia o que fazer. – Tudo bem – concordou ele, ficando surpreso consigo mesmo. – Mas vamos esclarecer uma coisa – disse. – Enquanto estivermos cozinhando, você está sob meu comando. – O quê? – Acho que comecei mal – disse, dando espaço para ele.

– Mas? – Ele inclinou o pescoço. Pegando um pano de prato branco acenou para ele. – Trégua? Ele não conseguia acreditar que era tão bom fazer algo juntos, não acreditava que ainda estivesse ali. Ele a beijara, testara, desejara, fora em frente e desistira. Seu rosto estava cheio de marcas e tinha gênio bastante para derrotar qualquer um, menos Liv Tate. Por alguma razão, parecia que nem percebia seus defeitos. Cade continuava olhando para ela, mas fingia que não percebia. A batalha ainda não estava ganha. Ela lutaria para manter o emprego, e se Cade desistira e

mudara de ideia, seria melhor não é mesmo? Permitiria que se concentrasse no trabalho. A PEDIDO de Cade, comeram a sobremesa juntos na cozinha. Os bolinhos de geleia com creme de ovos estavam deliciosos e acabaram todos. – Legal o trabalho de equipe – comentou Cade, empurrando a tigela. E agora, o que aconteceria depois que arrumassem tudo? Liv pensou, ansiosa. Suas fantasias não a prepararam para a realidade. Cade a olhava de modo divertido, como se soubesse o que pensava.

Quanto mais ele se soltava, mais tensa ela ficava. Era normal que uma potencial empregada e seu patrão se sentassem tão próximos na cozinha? – Foi um jantar maravilhoso, Liv – elogiou Cade, tocando a mão dela. Ela puxou-a enquanto ele acrescentava: – Estou perdoado? Desta vez, foi cuidadosa ao responder. – Digamos que por enquanto está em teste. – Como Cade sorriu, não perdeu tempo, retirou as louças e começou a limpar a mesa. Ele a ajudou com a limpeza, cozinharam e comeram juntos. Era difícil se lembrar da última vez que

fizera tudo aquilo com alguém. Também não se lembrava da última vez que rira em voz alta ou flertara. Liv trouxe de volta o melhor dele, era perfeita para o trabalho que tinha em mente, não podia arriscar assustá-la e ela ir embora. Ele precisava de sua formação médica e de suas habilidades organizacionais. Liv poderia ser uma das forças motivadoras de seu projeto para os centros de reabilitação. – Então você vai falar sobre o que quer que eu faça e quais são minhas responsabilidades? – perguntou. – Sim, é claro. – Então se estiver pronto, eu gostaria de ouvir sua lista de exigências, depois

eu digo a minha. – Como assim? – Minha lista de exigências para ficar. – Ela segurava o lápis e sua expressão era firme. – Sua lista? – Pela primeira vez, ele emudeceu. – Você vai ter minha lista, quando e se eu contratá-la. – Mas eu pensei... Sua testa enrugada sugeria “não pense, cumpra as ordens”. Ela correspondeu com um olhar que fez com ele se esquecesse de suas boas intenções de fazê-la cair na real de um modo mais agradável. – Preciso saber de uma coisa – disse ela, de modo grosseiro.

– O que, por exemplo? – O que gosta e não gosta e em que não devo tocar, como por exemplo, em seu bacon. Ele queria rir. Gostava do jeito dela e do modo que mantinha o sangue frio sob pressão. Fez resumidamente o que ela pediu, mas quase se esquecera da segunda parte da pergunta: – Obrigada, e agora é minha vez. – Sua vez? – Minha vez de listar minhas condições para ficar. Você teve dificuldades antes em manter funcionários, e estou disposta a mudar isso para você.

Enquanto falava sobre as horas de trabalho que considerava razoáveis e sobre melhorias que deveriam ser feitas nos quartos do sótão, ele deixou que a voz suave dela o invadisse enquanto permitia que suas fantasias eróticas tomassem as rédeas de seus pensamentos. Os uniformes que ela solicitou que fossem substituídos seriam bem curtos e bem justos revelando cada centímetro daquele corpo sexy. – E devem ser de secagem rápida para economizar energia... Cade? Você está me ouvindo? – É claro que estou – respondeu ele, sobressaltado.

– Eu não uso nada de segunda mão. Acho que qualquer um que venha a trabalhar aqui vai ficar satisfeito em receber um uniforme novo e moderno que não os faça parecer um burro de carga. Em sua imaginação, não conseguia visualizar Liv parecendo um burro de carga. – Você concorda com a roupa de cama? – Certamente. – Ao menos havia algo com que ele podia ficar entusiasmado. Fora do quartel ele gostava que sua roupa de cama fosse da melhor qualidade.

– Então vamos comprar roupas de cama e uniformes – concluiu ela, para encerrar. – Tudo bem. – Ele ainda tinha o pensamento centrado em Liv usando qualquer outra roupa mais atraente. – Talvez fosse melhor manter o uniforme – murmurou ele, pensando alto. – O quê? – perguntou. – Podemos falar sobre isso se eu decidir ficar com você – disse ele, achando bastante razoável. – Se eu decidir ficar – respondeu –, o que ainda não é certo, sendo assim eu concordo em adiar sua decisão sobre meu uniforme, mas a roupas de cama e banho não são negociáveis.

Ela prosseguiu mencionando uma quantia que o deixou mudo e depois pediu uma carona até a cidade na manhã seguinte para fazer as compras. – Quem emprega quem aqui? – questionou ele. – Eu diria que estamos ambos em teste, não acha? – disse, muito séria, mas havia um brilho em seu olhar. Estava se divertindo, Cade percebeu, e ele também. LIV O surpreendeu novamente ao se levantar com o nascer do sol na manhã seguinte, já estava na cozinha quando retornou de sua corrida. Em poucos minutos, já havia um bule de chá sendo

aquecido no fogão, o aroma de bacon frito fez sua boca encher de água apesar de pensar que só poderia ser de seu bacon premiado. Eles trocaram um olhar seco e ela deu de ombros. – Desculpe, mas achei que podia usálo, deduzo que não vá mais para a competição, não é? Ele lançou um olhar de advertência, fingindo não corresponder ao efeito de Liv de banho tomado e cheirando a rosas. Ela vestia um casaco que deve ter comprado na cidade que, ao contrário das tradicionais roupas militares que ele encontrara, delineava suas formas com perfeição. A peça era do tamanho

exato, meio justo. Seu cabelo longo cor de mel brilhava em suas costas como uma perfumada cortina dourada. Ela o deixara solto, do jeito que ele mais gostava. Ela fritou os ovos com perfeição e lhe estendeu uma caneca de chá. Suas mãos se tocaram levemente. Fogos estouraram dentro dele. Pelo sorriso enigmático dela, não conseguia definir o que pensava. Era só ele quem sentia a eletricidade entre eles? Não era típico dele ficar balançado daquela maneira, mas as bochechas coradas de Liv podiam ser por qualquer coisa, do calor do fogão à agitação por causa... dele.

Ele sorriu de leve com o pensamento, ao menos até cair na real: precisava das habilidades de Liv e não poderia tê-las caso a tratasse como amante. Havia uma decisão a tomar, seria mais fácil se se encaixasse no pacote. Liv o deixava confuso, e ele tinha sorte de ter planos para ela naquele dia. Seus planos colocariam um fim na invasão de hormônios que tomava conta dele, e sua relação com ela retornaria ao âmbito profissional. Primeiro, ele se viu indo às compras, conforme tão gentilmente determinara. NO CAMINHO para a cidade, ele notou como Liv corava facilmente. Naquele

momento em que a ajudava a carregar as coisas que compraram até o quarto, subindo as escadas, não conseguia tirar os olhos de seu traseiro. A conversa mole de concentrar-se nos negócios era muito fácil, mas colocá-la em prática era muito mais difícil. Pior ainda quando chegaram ao quarto e viu as mudanças que fizera. Ele fixou o olhar na cama de ferro. Ele esperava mesmo que dormisse ali naquele colchão duro só com um lençol velho e um fino cobertor cinzento para se cobrir? Não era de se estranhar que sua última empregada tivesse se demitido, mas também não tivera o bom senso de Liv para pedir mudanças.

Enquanto Cade observava o quarto, teve certeza de que cometera algum erro. Devia ter insistido em carregar os pacotes para cima sozinha. O sótão nunca lhe parecera pequeno, mas naquele momento, pareceu. Cade era um homem enorme e parecia que o quarto encolhera, sem deixar espaço para se mover. E onde não podia tocálo, podia senti-lo. Ele esquentava cada parte de seu corpo, suas pernas ficavam como gelatina, e por dentro se derretia. A cada movimento, tomava ciência de sua excitação e da quente pulsação no ápice de suas coxas. Ela o desejava, precisava dele, queria que Cade a ensinasse tudo que sabia sobre prazer.

A sensação em suas partes baixas era insuportável, e só ele poderia aliviá-la. Ansiava sentir a paixão de seus lábios a dominando, desejava que suas mãos a controlassem e senti-lo dentro dela, precisava tê-lo... Abra seus embrulhos, Liv, ordenou a si. Ele prestou atenção nas melhorias feitas, tentando ignorar o aroma de flores do campo que se espalhava a cada movimento dela. Tais melhorias incluíam um vaso de flores ao lado da cama, seu romance e um minúsculo despertador. Havia mais algumas coisas do dia a dia, como lenços de papel. O quarto com cheiro de limpeza parecia

de alguma forma mais aconchegante. Certamente Cade estava se excitando. O quarto de uma mulher era um lugar íntimo que detinha os segredos da alma e revelava mais sobre ela do que mil currículos. Ele subira até lá na esperança de ver um lugar seguro e limpo, em vez disso entrou no lar aconchegante que Liv criara do nada. – Eu vou providenciar o aquecimento para você – ele prometeu quando o vento soprou através da antiga esquadria da janela de uma só vidraça. – À noite pode ficar frio – concordou.

Alarmes de perigo soaram na cabeça dele, a última coisa que precisava naquele momento era imaginar Liv encolhida de frio na cama. – Bem, vou deixar você sossegada. A não ser que queira minha ajuda, é claro. – Não, obrigada, eu dou conta. Obrigada, Cade. – Ela o fitou bem nos olhos e abriu um sorriso verdadeiro, sem nenhum toque debochado ou desafiador. – Obrigada por tudo isso... O olhar dele foi atraído para a roupa de cama e o modo como ela a acariciava. Ele queria aquelas mãos nele, porém ao mesmo tempo sabia que agradecia mais do que algumas toalhas

e cobertores, mas sim uma oportunidade, quando na realidade era ele quem devia agradecer. Aquilo o impediu de fazer o que queria fazer, porque Liv merecia mais do que um encontro em um quarto de sótão incentivado pela luxúria. Ela precisava de um homem que gostasse dela e lhe desse todo o carinho que faltava em sua vida. Esse homem não era ele. Como poderia quando ainda tentava voltar à normalidade com o som dos gritos da guerra ecoando em sua cabeça? Um guerreiro atormentado como o coronel Cade Grant era a última coisa que Liv precisava em sua vida.

– O QUE é isso? – Liv ficou surpresa ao encontrar o café da manhã pronto à sua espera na mesa da cozinha. – Eu preparei para você. Apesar de você ter feito meu café da manhã, não comeu nada, então pensei... – Posso cuidar de mim sozinha – lembrou. – Está tentado me dizer que não estou no seu nível na cozinha? – Ele se fingiu de ofendido. – Eu seria tão boba? Ela estaria flertando com ele? O pensamento o atingiu abaixo da cintura. Por que estava flertando com Cade? O pensamento de perder a virgindade com um homem como ele era insano.

Era como estar em um cruzeiro quando um barco a remo podia apresentá-la ao mar. – E então? – perguntou ele. – Não vai comer o que preparei para você? – Parece delicioso... – Então fiz você ficar com água na boca? – Ah, é claro que sim... – Bem, não demore muito para comer, porque eu queria que terminasse antes do fim da tarde. Liv pensou ao que ele estava se referindo, mas logo seu pensamento concentrou-se em atacar a comida. Não percebera o quanto estava faminta.

CAPÍTULO 6

LIV SE recostou com cuidado contra a superfície fria da antiga banheira. Ela se retirara para seus aposentos no sótão depois do café da manhã que Cade preparara, pois precisava de uma pausa em cobiçá-lo. Um pequeno toque na porta fez com que ficasse em pé imediatamente, fazendo uma onda molhar o chão. Sentiu-se da mesma maneira quando ele parecia preencher

todo o quarto, mas agora estava nua e estavam separados apenas por um pequeno pedaço de madeira. – Vai demorar muito aí dentro? Pulando da banheira, agarrou uma toalha e a prendeu bem firme. – Espero que não tenha se esquecido da tarde atribulada que teremos pela frente. – É claro que não... – O Instituto de Brinkley para Mulheres? Cade fez parecer que ela deveria saber. – É claro – respondeu, aliviada. – Vista as roupas militares que deixei aqui fora para você.

Ao recostar na porta, seus braços se arrepiaram e não teve nada a ver com a temperatura do banheiro. Que distância havia entre eles naquele momento? – Eu presto o mesmo serviço para as senhoras do Instituto. – Sério? – Cade fala das roupas, sua boba!, sua voz interior advertiu. – Então isto é algo que sempre faz? – Eu forneço a um grupo de cada vez, é por isso que eu tinha roupas para emprestar quando você apareceu na minha casa. Ah, e não se esqueça de seu tênis. Pode ser que algumas das senhoras sejam desajeitadas quando cozinham e o chão pode ficar escorregadio...

Cade estava se distanciando. – Tudo bem. – Ela escutou atentamente tentando imaginar a cena do que estava acontecendo bem atrás da porta, antes que pudesse responder que precisava falar com ele novamente. – Tudo bem, vou usar tênis. E nada de resposta. Ela podia ouvir os passos dele desaparecendo na escada. Será que ocorrera a ele que estava nua? ELE ESTAVA louco, em pé do lado de fora do banheiro conversando com Liv enquanto estava nua? A imaginação dele forneceu o que o sussurro de Liv não pôde. Ela o desejava, e ele também.

Mesmo do lado de fora com os ventos do norte ameaçando transformar suas partes íntimas em cubos de gelo, ele não conseguia pensar em mais nada além de Liv nua, sexy e molhada o desejando. Ele não conseguia lamentar por ser candidata ao emprego, mas conseguiria trabalhar com ela sem transformar seus sonhos eróticos em realidade? Não tão rápido... não tão rude... Mais suave, mais demorado, causando um prazer indescritível e deixando ambos completamente viciados... Ele começou a considerar as possibilidades. Por um curto prazo, conseguiria conter sua libido, mas nada

em seus projetos para os centros de reabilitação seria em curto prazo. Ele precisava de uma assistente por muito tempo para que aquele sonho especial se tornasse realidade. Muito tempo com Liv significava que teria certas dificuldades. Ele a observava correndo com campo, sabendo que esta seria sua única chance de fazer Liv desistir da ideia de ficar com ele. Compartilhar a carga de trabalho de Featherstone não era o que desejava, trabalhar com ele era a última coisa de que precisava, merecia algo melhor. Ele vira o modo que o olhara, mas era só porque ainda estava se recuperando por ter desistido do

casamento. Ele não tinha opção a não ser endurecer com ela. Para afastá-la gentilmente, precisava ser cruel. A FORÇA da ventania era enorme e a chuva caía forte. Por que Cade não a prevenira do que esperar? Tudo bem, cara durão, você acha isso engraçado? Liv correu toda a pista na direção de Cade, que estava tão lindo que precisava evitar demonstrar com a expressão de seu rosto. Cade, com calças à prova d’água, coturnos e com uma jaqueta escura evidenciando seus ombros largos, era um pacote e tanto, uma amostra assustadora de sua força em combate. Seus mamilos

endureceram contra a blusa quando parou em frente a ele. O cabelo escuro ondulado e a barba rala fizeram-na agradecer os agasalhos militares. Ela teria usado roupas de inverno se soubesse o que a esperava. – Treinamento, hein? – Eu disse treinamento? – Os olhos sombrios dele ficaram mais sombrios ainda quando se entreolharam. A química entre eles disparou um alarme em seu peito. – Você disse que as senhoras do Instituto viriam. – E elas vêm... – Cade se virou para sorrir para o corajoso grupo que corria em direção a eles. – Olá, senhoras! Já

estarei com vocês. Satisfeita? – indagou ele a Liv. Apertando os lábios, Liv emitiu um som incompreensível. – O Instituto de Moças mudou bastante desde o tempo de nossas mães – disse Cade, inocentemente. – Eles não ensinam só a cozinhar, sabe? Não era sorte ter encontrado um grupo que malhava ferro em vez de cozinhar bolinhos de geleia? Estava sendo obrigada a correr no lugar para não congelar. Pelo menos não teria que ficar por muito tempo. – Por falar em comida, é melhor eu voltar para esquentar a sopa para que esteja pronta quando você voltar.

– Você não vai a lugar nenhum. Você faz parte deste exercício, soldado. – Você não pode estar falando sério! – Liv exclamou esperançosa, encarando Cade. – Estou sim, é exatamente isso. – Foi difícil conter o riso. Ele não esperava que a vitória fosse tão rápida. – Sem problemas. – Ela deu de ombros, indiferente. – Gosto de desafios. Ele estreitou os olhos. – Tudo bem, querida, é exatamente o que vai ter. Não havia nenhuma nota de romance em seu olhar, Liv pensou, rangendo os dentes de frio. Ela

marchou com Cade a pequena distância para saudar suas visitantes. Ele parecia imune ao frio e, na opinião de Liv, ele subestimara o fato de que uma barraca não era proteção suficiente para um treino em campo. Agarrando na manga de Cade, inclinou o rosto no ângulo necessário para dar credibilidade à sua opinião. – Você v-vai p-precisar fazer uma f-ffogggueira para manter as senhoras a-aque-ccidas da p-p-próxima v-v-vez que f-f-fizer isso. O coração de Liv parou quando o olhar de Cade a alfinetou como uma baioneta. E por que exatamente estava pendurada em seu braço? Retirando

sua mão, ela a enfiou bem fundo no bolso do casaco. – Bem pensado, soldado – disse-lhe ele prontamente –, acrescente um braseiro à sua lista. – Ele se virou caminhando pelo que agora Liv via ser um completo campo militar de treinamento. – Você está ficando louco? – perguntou, se aproximando. – Se não é capaz... – Não estou preocupada comigo. – Liv olhou para o grupo de mulheres amontoadas debaixo do abrigo temporário que Cade construíra. – Lidere dando o exemplo – aconselhou Cade –, é o que ensino aos

meus homens. Liv achava certo salientar que eram mulheres e algumas delas bem idosas. – É o que me faz ficar tão orgulhoso em liderá-las. Não se preocupe, vou pedir que peguem leve com você por ser sua primeira aula. – Você não vai fazer uma coisa dessas. Tarde demais. Vira o brilho naquele olhar e sabia que Cade estava disposto a testá-la até o limite. A pergunta era por quê? Ela podia ter sido criada para passar roupas e dobrar toalhas perfeitamente, mas, se ele achava que era uma fresca fracote, estava prestes a ter uma grande surpresa.

– A srta. Tate é nova aqui – ele explicava antes que Liv pudesse alcançá-lo –, então peço que todas peguem leve com ela. – Não é necessário. – Ela lançou um olhar determinado. – Estou ansioso por isso. – Este é o espírito – algumas das mulheres disseram em coro. Liv correu para a linha de largada determinada a mostrar a Cade do que era capaz. Tudo estava indo bem, concluiu Cade ao ver Liv se posicionar ao seu lado. Para falar a verdade, isso não estava seguindo exatamente seu plano. Ele deveria ter considerado o quanto

Liv ficaria sexy de uniforme e mais ainda sem eles. – Cade? – rosnou para ele. – Quando vai começar essa corrida? Vamos congelar se não começar logo. Ela ficava bem com o vento esvoaçando seu cabelo e com os pequenos punhos cerrados. Seu rosto era a imagem da determinação. Que diabos, seu rosto era uma perfeição... – Já! – Liv gritou o mais alto que podia. Honestamente, o que havia de errado com Cade? Com uma largada melhor do que imaginara, Liv diminuiu o ritmo. Não parecia certo que uma das convidadas

ganhasse a corrida, mas logo Cade estava ao seu lado incentivando-a. – Você fez uma ótima largada, agora mantenha o ritmo. Enquanto Cade disparava na sua frente, Liv reconheceu que as mulheres na corrida deveriam ter o dobro de sua capacidade física. Depois de sua explosão inicial, o ritmo já pesava. Ela observou as senhoras mais velhas cambaleando corajosamente pelos pneus e ficou esperando que Cade fosse atrás delas, assim poderia escapulir daquela parte do trajeto, mas ele a esperou chegar. – Se achar que não consegue, é só dizer.

– Eu consigo. – Faça no seu ritmo – sugeriu Cade, para ajudá-la, correndo para trás ao seu lado. Praguejando algo, Liv se livrou dos pneus e continuou. Cade prosseguiu ao seu lado. – Srta. Tate, eu não fazia ideia que conhecia tal palavreado. – Tem muita coisa que não sabe sobre mim. – Percebe-se. Seus dedos dos pés teriam se enroscado com o tom de voz perverso de Cade, caso não estivessem inchados dentro do tênis.

– Desacelere ou todos vão pensar que você está tentando fugir de mim. – Por que pensariam isso? Será que ele pretendia continuar com aquilo? Conversar durante a corrida estava tirando suas forças. Aquela era a intenção de Cade, Liv percebeu. Ver como ele usava seu corpo sem nenhum esforço a excitava. Precisava ficar de pernas bambas justo naquele momento? – Diga-me, srta. Tate, comparado a um vestido de noiva como é a aerodinâmica de uma roupa de treino? – Quer parar? – Ofegante ela parou para colocar as mãos nos joelhos. –

Honestamente, acho que você quer sabotar meu treino. – Tudo menos isso... A voz dele mudara. Ela o olhou. Bateu um frio em sua espinha. Será que Cade estava flertando com ela? Havia uma árvore bem atrás dela e, se levantando, se apoiou para retomar o fôlego, que se recusava a retornar. – Vá sem mim – sugeriu, louca para ficar sozinha até se acalmar um pouco. – Estou bem aqui. Ela olhou para os lábios dele, queria prová-los novamente. Queria ser tirada do sério ali mesmo, àquela hora, a céu aberto, correndo perigo de que qualquer uma das senhoras os visse. Na

verdade, o elemento perigo só aumentava seu desejo por Cade. Ele percebia o calor em seu rosto e podia facilmente imaginar o resto. Cade a desejava naquele momento, ali na lama, com os galhos quebrando por debaixo deles ao pressioná-la contra o chão. Ele queria rolar com ela até que seu cabelo estivesse cheio de folhas e beijá-la até que seus lábios volumosos pedissem que ele se esquecesse do vento e da chuva e a possuísse. Queria saciar a fome de desejo que sentia, mas como levaria algum tempo... – Cade? Ele sorriu e, então, se virou. Ela não queria que ele fosse embora, o que

significava mais para ele do que mil palavras. – Como posso ajudá-la? Borboletas revoaram dentro dela ao considerar as possibilidades. O que Cade poderia fazer? Como ela queria contar, como precisou dizer a si para não dizer. – Não estou com pressa. Ela engoliu em seco, nervosa. – Você não precisa ter pressa, porque me alcança fácil. – As palavras saíram abafadas enquanto ele se aproximava. Ele ficou a um passo dela, e, quando a respiração deles se misturou, os sentidos dela se encheram com o cheiro másculo, almiscarado e sexy dele. A

boca de Liv ficou seca enquanto o leve sorriso de Cade fazia um estrago em seu corpo virginal. Como seria ser tocada intimamente por ele? Seu corpo estava antecipando o efeito. Mesmo assim não chegava nem perto da realidade. Liv se viu dando um suspiro. Com a mão apoiada na árvore, Cade a fitou bem dentro nos olhos. – Por que está com tanta pressa de fugir de mim, Liv? Sem comentários? Não é típico de você ficar sem palavras. Nem de ficar excitada daquela maneira, Liv pensou enquanto seu olhar parava nos lábios de Cade. Ela podia praticamente senti-los e tinha

impressão de que aquele beijo delicioso ficaria marcado em sua boca para sempre. Fechando os olhos desejou que ele a dominasse e beijasse novamente, mas em vez disso ele disse sem rodeios: – Você tem razão, é melhor eu ir embora. Quando abriu os olhos foi para ver o sorriso conhecido de Cade. Ele sabia o quanto gostara do beijo e como se sentia naquele momento. Ele estava se divertindo com aquelas preliminares virtuais. Ela se recuperou rapidamente do estupor erótico para uma feroz determinação num piscar de olhos,

antes de virar o rosto na direção do vento para a próxima etapa do percurso. – Desta vez, vá no seu ritmo – aconselhou Cade, se afastando. – A última coisa de que preciso é que caia em cima de mim. Ignorando o duplo sentido, assegurou-lhe com firmeza. – Nenhuma chance de isso acontecer. Liv disparou bruscamente enquanto Cade já estava longe. Suas pernas tremiam tanto que era maravilhoso colocar um pé diante do outro sem cair. Depois de um encontro quase íntimo com Cade, precisava de comida quentinha e de um banho

reconfortante, não de um treino com chuva, vento e frustração sexual. CADE PLANEJARA uma parada no meio do percurso para que elas se reabastecessem, e Liv ficou grata, assim como o restante das senhoras, por encontrar garrafas com chá quente e uma grande variedade de bolos e biscoitos. Ainda tremendo de frio, cansaço e outras coisas mais, ela se entupiu de comida o máximo que pôde enquanto se certificava de que todas fizessem o mesmo. Todas aquelas tolices de “meu corpo é meu templo” foram por água abaixo. Ela fora a vida toda o tipo de menina certinha e

empacada, Liv concluiu, enchendo a caneca enquanto conversava com as outras mulheres sobre as vantagens de se usar e lavar fibras sintéticas para aquele tipo de atividade. Animando-se com o calor do grupo, escondeu o rosto no vapor de sua caneca até que Cade ordenou que voltassem para o campo de batalha. Liv se lembrou de que havia sido campeã de corrida de trote na escola três anos seguidos e agora não seria derrotada por um paredão vertical e pelo ego de Cade. Tudo bem, devia ter uns 7 ou 10 anos na época, mas aquele olhar de homem durão a estava irritando, era melhor não pensar, caso

quisesse cruzar a linha de chegada, mas deu uma trombada em Cade na base do paredão que a deixou sem ar. Ele a levantou, perguntando: – Você está bem? Ela estava ocupada demais retomando o fôlego e tentando manter seu equilíbrio na lama, para responder. Ocupada demais lutando contra o desejo de permanecer onde estava na segurança dos braços do sedutor Cade. Libertando-se determinada, cambaleou para trás a fim de olhar os obstáculos intransponíveis à sua frente, um deles incrivelmente lindo, o outro não tão sedutor, feito de madeira.

– Posso dar uma mãozinha? – ofereceu Cade. – Não, obrigada – Liv respondeu, determinada. Ela encontrara um ponto de apoio, ele chegou para trás enquanto tentou uma... duas vezes alcançá-lo, antes de cair de novo. O instinto o fez se aproximar, mas esticou as mãos impedindo-o. Respirando fundo, tentou novamente, e dessa vez conseguiu quebrar todas as unhas na tentativa. Superando o desastre, ela se lançou com garra até o topo e conseguiu. Escalando, lançou um olhar antes de desaparecer do outro lado.

– O que está segurando você, soldado? O coração frio? Escrúpulos morais? Ela fazia ideia de como era provocante? Desafio e vulnerabilidade era uma combinação que despertava interesse nele. Ele se manteve dignamente em silêncio até ouvir Liv cair a salvo do outro lado e correr, depois escalar a parede como um gato e alcançar seu topo, aterrissando do outro lado quase sem fazer barulho. ELA PRECISAVA parar, estava exausta. Avaliou a corrida com as mãos nos joelhos, lutando para respirar. Alguém devia tê-la avisado quando se

candidatou ao emprego que isso envolveria correr uma maratona em condições polares e chuva torrencial. Era alto verão na Inglaterra, o que esperava? Quando Cade a alcançou, Liv engasgou. – Agora eu não posso nem respirar? – Não sei, pode? Ele invadiu seu espaço, chegando perto o bastante para tocar nela sem encostá-la. Existia algum prêmio para excitação? Caso existisse, Cade ficaria em primeiro lugar. Era como se ele colocasse um escudo invisível entre eles permitindo que o visse, mas não que o tocasse. Conclusão: estava

tremendamente frustrada. Tentou disfarçar, apesar de algo no olhar sombrio de Cade dizer que estava perdendo seu tempo com a tentativa. – Está se divertindo? – Ele desviou o olhar para seus lábios. – Demais. E você? – Ela abriu a boca para respirar conforme o desejo aumentava. – Eu gosto de desafios. – Eu também. – Como podia disfarçar os sentimentos quando sua respiração se acelerava, aumentando a tensão entre eles? – Você nunca vai saber do que é capaz se não tentar, Liv.

– Você tem toda razão. – Saber do que Cade era capaz era o suficiente para levar seu nível de consciência até a zona de perigo. A alegria em seu olhar a invadiu de calor até culminar com o insistente pulsar no ápice de suas coxas. – Só preciso me certificar de que o desafio continue. Caso ele não continuasse, nunca ficaria aliviada, e ao pensar nisso... – Está preparada para prosseguir? Ela fechou os olhos, estava mais do que preparada. – Então, venha – Cade sussurrou baixinho, como se quisesse convencê-la a ir para a cama –, vamos terminar o que começamos.

Ela se levantou e o viu ir embora correndo, imaginando se Cade tinha alguma ideia do estado em que a deixara. Partes de seu corpo estavam tão preparadas com seu desejo que não tinha certeza se conseguiria correr. Ela precisava correr. Precisava terminar o treino. Era um teste tanto para ela como para todas as outras. Era um marco, uma mudança radical em sua autoestima, não podia fracassar, a não ser que quisesse voltar para sua antiga vida. Pelo menos agora havia só a tirolesa sobre o rio para vencer, Liv se consolava enquanto seguia as instruções de Cade. A cadeira virou.

Para evitar que virasse, era preciso prender uma alavanca na base. Uma das senhoras se esquecera de prender e Liv caiu no rio congelante, berrando como uma alma penada. Ela debatia-se desorientada, quando Cade veio salvá-la. – Saia de perto de mim! Ele a pegou no colo. – Você é mal-agradecida, hein? – Espero que fique ensopado! – Já estou, mas não podia deixar você se afogar. Ele caminhou com ela até o barranco onde as outras senhoras do Instituto esperavam para parabenizá-lo.

– Você é um herói – uma delas disparou. – Seu... – A mão de Cade tampou a boca de Liv, antes que pudesse acrescentar um comentário. – E você dá muito mais trabalho do que parece – Cade sussurrou para Liv enquanto sorria para as senhoras. Enquanto Cade a segurava firme com a mão próxima a um dos seios, ela entendeu por que ele pensava daquela maneira. – Cade, as senhoras... – Não se preocupe, eu tenho planos para elas. – Ah, tem? – Tenho, elas vão para casa.

CAPÍTULO 7

DEPOIS DE ajudar na limpeza do local, Liv voltou para Featherstone com Cade para se despedir da equipe do Instituto de Senhoras. Ficar perto dele era como estar em uma estação de energia elétrica. Ela precisou concentrar-se para despedir-se de cada rosto alegre pressionado contra as janelas do micro-ônibus e sabia por que todas as senhoras queriam ver

Cade uma última vez. Era mais do que o fato de ele ser sexy, robusto e lindo. Havia um lado dele que ainda não conhecia, um lado mais gentil e que intensificava ainda mais seu desejo. Ela achava que o dia fora um contraste gritante na vida de um soldado como Cade, mas ele colocou a mesma energia e entusiasmo que provavelmente levaram-no ao ápice de sua carreira. Ela entrou na cozinha antes dele, preocupada com seu futuro incerto. Era como se o destino lhe avisasse que fosse embora naquele momento caso não quisesse ir longe demais. Ela prosseguiu.

Quando Cade se juntou a ela, havia uma calma que não existia antes entre os dois. Todo o exercício pesado e o frio valeram à pena. – Você se saiu bem hoje. – E você está surpreso? – Ela o instigou sentindo um toque de satisfação com o elogio. O que quer que pensasse sobre si mesma, não podia negar que a menina fresca chegara longe. – Um pouquinho – admitiu Cade. – E agora você precisa de um bom banho quente. Sua expressão deve ter revelado seu pensamento, um banho morno em um sótão gelado poderia esperar.

– Podemos comer primeiro? – sugeriu. – Eu não quero que pegue um resfriado. Era preocupação com ela ou com a empregada? Talvez porque se sentisse muito bem consigo mesma, achou que poderia conceder benefício da dúvida. – Fiquei surpresa, eu me diverti. – Ainda bem. Eu pretendo ter diversos grupos diferentes a cada mês. – Então você deixou o exército? – Não. Aquela única palavra a encheu de pavor. As cicatrizes dele deixavam claros os riscos que havia corrido.

– Mas você não voltaria aos campos de batalha, não é? – Eu sou um oficial da ativa, vou para onde precisam de mim. No momento é aqui. – Por quanto tempo, Cade? – Talvez estivesse demonstrando muito interesse, mas por ter perfeita consciência daquelas cicatrizes. Quantas mais seriam necessárias? – Não sei dizer. Enquanto eu estiver por aqui, pretendo treinar uma equipe para ficar no meu lugar em Featherstone Hall quando eu estiver fora. Banho quente. – Primeiro vou fazer o jantar – Liv insistiu, teimosa.

– Você está completamente encharcada e congelando –, Cade apontou para enfatizar – e, se não se importa, prefiro que fique longe da cozinha por enquanto. Podemos esquentar a sopa juntos depois que estivermos limpos. Juntos. Quando se entreolharam, Liv tremeu por dentro. Seria muito fácil se apaixonar perdidamente por Cade só pela atração física. – Desculpe por seu banheiro, Liv, se é isso que está fazendo você evitar o banho... Liv tentava decifrar os pensamentos por detrás do olhar complexo de Cade.

– Vou levar você até uma parte da casa que ainda não viu – informou ele, como se tivesse tomado uma decisão. – É uma parte da casa que posso garantir que tem bastante água quente. – Parece uma boa ideia. Ele abriu a porta para Liv passar. Ela sabia muito pouco a respeito de Cade ou de seus planos para Featherstone, pensou Liv, curiosa, ao desamarrar seus sapatos. – Por que está fazendo isso? – Eu não quero sujar tudo. – Fique com os sapatos. Não quero que escorregue. Cade era um homem de muitos contrastes. Caso fosse um pouco mais

agradável com ela... – Você está pronta? – Estou sim – confirmou, se perguntando qual Cade provocava mais reviravoltas em seus sentimentos: o gentil e pensativo ou o bem-humorado e debochado. Ele subiu as escadas dois degraus de cada vez, levando-a rapidamente por um regimento de antepassados pomposos. Era como se, tendo tomado sua decisão, estivesse ansioso para mostrar-lhe algo. – Aqui dentro – gritou ele, quando hesitou no patamar da escada. Ao entrar no banheiro, ela olhou ao redor. Era enorme e bastante

imponente. – É o banheiro da família? – Ela estava impressionada com as novidades e, ao reparar melhor, notou que o banheiro não só era novo, mas também adaptado para cadeiras de rodas. Sempre que achava estar começando a conhecer Cade, descobria outro lado dele. – Você pode usar este banheiro até nós reformarmos o seu – explicou ele, e no silêncio que se seguiu, Liv percebeu palavras não ditas pairando entre eles. Era como se as atrocidades das experiências vividas por Cade no campo de batalha tivessem se juntado a eles. Ele as estava dividindo com ela e, ao

fazer isso, revelava facetas que Liv se sentia privilegiada em conhecer. Tudo que ele vira, os medos que tivera que superar... tudo estava ali com eles naquele banheiro que Cade Grant devia ter construído como sua salvação. – Tome um banho rápido – instruiu ele de modo brusco, trazendo Liv de volta para o presente, – depois nos encontramos na cozinha para jantar. – Uma onda de sensações deixou claro que era hora de obedecer. Ela percebeu que Cade se refugiava com praticidades e rotina, sempre se comportava como se fosse estranho às emoções, mas havia mais emoções naquele lugar do que em um mundo de promessas vazias. O

banheiro era projetado para acomodar doentes e feridos graves. O mundo podia estar cheio de boas intenções, mas o que havia acontecido para que Cade transformasse suas intenções em realidade? – Lá embaixo em dez minutos? – Tudo bem. – Ela prestou atenção. Achava que Cade estava escondendo alguma coisa, mas o que e por quê? Por que o exército lhe concedera uma licença estendida? As experiências que levaram-no a ser condecorado por bravura foram levemente esboçadas, como era de costume em tais acontecimentos, mas por que confiaria

nela o bastante para contar qualquer coisa, quando mal se conheciam? E agora ainda a levara até ali... Aos poucos começava a entendê-lo, e quanto mais sabia sobre ele, mais queria saber. Ainda não tinha certeza sobre quais poderiam ser os planos dele, mas desejava de todo coração fazer parte deles. DESCENDO AS escadas, ele colocou as mãos no rosto. Havia horas em que as lembranças atormentavam-no, e aquela era uma delas. Ele apertou a cabeça com as mãos lutando contra a mesma sensação de

fracasso que o perseguia desde seu retorno da guerra. Sacrificar um para salvar muitos parecia uma equação simples quando se deixava a emoção de lado. Quando o helicóptero levantou voo foi o que dissera para si, foi preciso. Precisava ser forte na frente de seus homens, mas tinha deixado seu irmão para trás. Disseram a ele que Giles estava morto e dependia dele levar os outros dali em segurança, mas ele vira seu irmão? Tinha certeza de que o que lhe contaram era verdade? Agora tinha que viver com essa dúvida, e ainda não era castigo suficiente. Por que ele havia levado Liv para aquele banheiro? Por que não deixou

que se virasse com suas acomodações? Ela não esperava por mais, não era desse tipo. A verdadeira questão era: ele teria levado qualquer outra pessoa ali ou estava se aproximando de Liv? Será que alguém além dela teria observado aquele lugar com tanta compaixão no olhar e compreendido exatamente o que Cade estava tentando fazer? Ele precisava mais do que uma empregada em Featherstone, precisava de alguém para trabalhar ao seu lado, alguém que não se acovardasse, não julgasse e que conseguisse enxergar seres humanos atrás de cicatrizes e corpos dilacerados.

Espantando a nuvem negra que o atormentava, ele se levantou. Arrumando um pouco o cabelo, começou a descer as escadas. A última pessoa que ele poderia imaginar que preencheria a vaga que ele oferecia era a patricinha que aterrissara na sua porta com o vestido de noiva arruinado. Pelo menos foi o que pensou a respeito de Liv Tate quando ela chegou a Featherstone, agora já não tinha tanta certeza. Tentou não pensar em mais nada. Ela veio juntar-se a ele na cozinha com o rosto sem maquiagem e com o longo cabelo solto e ensopado. Ela escolheu vestir uma linda roupa azul-

clara que deve ter comprado na cidade. Será que sabia que a calça justa realçava as curvas de seus quadris? Ele xingou baixinho. Precisava eliminar a fixação pela aparência física de sua potencial empregada, tinha que deixar de lado todos os sentimentos por Liv. Ela era bem qualificada para o emprego e tinha coragem, era tudo o que ele precisava saber, seu corpo sensual não era da conta dele. Liv ficou tensa ao entrar na cozinha e sentir Cade observando-a. Estava tensa por que se sentia à vontade de estar ali e não queria que ele lhe dissesse que não conseguira o emprego e teria que ir embora. Queria fazer perguntas sobre o

banheiro, mas algo lhe disse para não se intrometer. – Sopa? Ela precisava se acostumar a ver Cade no fogão, Liv percebeu, ficando mais calma. Ele estava mexendo a sopa que havia preparado. Era uma parceria estranha. – Sim, por favor. Ele estava lindo, descalço de calça jeans larga em seu corpo esbelto. Estava usando mais uma camiseta que parecia bem velha e desbotada, mas justa nos devidos lugares. – Poderia pegar as tigelas? Quando ele virou-se, o coração dela disparou.

Liv parecia distraída e ele não conseguia prestar atenção em nada que não fosse ela. Era como se estivesse presente até no ar, seu perfume preenchia a cozinha, substituindo o aroma de cebola, tomate e manjericão. Por que precisavam de comida quando parecia boa o bastante para se comer? Eles fizeram uma refeição simples em silêncio. Ele teve a sensação que ambos tinham problemas para examinar e ponderar. As coisas estavam mudando aos poucos entre eles. A tranquilidade que estavam começando a sentir havia sido substituída pela tensão e pressão, mas

ele se lembrou de que precisavam trabalhar juntos. – Gostou da sopa, Cade? Ele levantou o olhar e não conseguiu desviar. – Estava muito boa, obrigado. – Talvez ele precisasse de outra tigela, pois nem se lembrava de ter comido a primeira. Só conseguia prestar atenção em Liv. Ela serviu mais um pouco para ele com suas mãos delicadas e competentes. Seus seios roçaram no ombro dele e quando afastou-se para colocar a panela no fogão, ele ficou estudando o seu corpo. Pensar nas curvas daqueles quadris em suas mãos

havia se tornado uma obsessão. Ele não precisava imaginar, tinha certeza de que as nádegas dela caberiam em suas mãos. Não devia se imaginar abrindo caminho entre aquelas coxas firmes debaixo do tecido azul-claro nem permitir que seu olhar permanecesse no ápice das coxas que o excitavam. Desesperado, soltou a colher e levantou-se. Limpando a louça, soletrou o alfabeto de trás para a frente com um grau de concentração que teria impressionado um monge. – Que bom que gostou da sopa – comentou ao juntar-se a ele na pia. – Agora eu sei do que você gosta... – Desviou o olhar para os lábios dele. –

Você prometeu contar o meu destino – lembrou. – Prometi? – Você sabe que sim, Cade. Ela esbarrou nele ao passar, e seu perfume o deixou maravilhado. Ele virou-se para olhar para ela, mais precisamente para engolir Liv e sua inocência. Já fazia muito tempo desde que alguma coisa mexera com os sentimentos dele daquela maneira, e ele não estava com pressa de discutir se ela estava aprovada ou não o para trabalho. – E então? – indagou, ficando na frente dele. – Você não pode mais adiar, Cade, preciso de uma resposta.

A resposta dele foi jogar o pano de prato no cesto de roupa suja que Liv solicitara. Caso aceitasse o posto em Featherstone, seria exigido dela muito mais do que preparar sopa e lavar pratos. Seria necessário tempo e dedicação. – Cade? Estou empregada ou não? Ele teve vontade de rir ao ver o queixo saliente de sua guerreira mirim. – Você acha isso engraçado? – perguntou, tensa. – Não, é claro que não. – Esta situação não é nada engraçada para mim. Eu preciso de um emprego, e se você não quiser me dar...

– Não vamos tirar conclusões precipitadas. – Não, não vamos – devolveu. – Não pense que pode me fazer de boba e me carregar por aí até se cansar de mim. Você me deve uma resposta, Cade. Ele cerrou os dentes, olhando para olhos que não tinham medo de enfrentá-lo. Toda vez que ele fazia isso, tinha consciência da tempestade de luxúria lutando contra sua sensatez. A tempestade venceu. Ele queria se perder com ela, esquecer tudo e, desta vez, gemeu. – Você está bem? – Ela ficou preocupada na hora.

– Estou sim. – Muito sangue correndo para a cabeça. O relógio tiquetaqueando sobre a lareira combinava com os batimentos cardíacos. Era só ele que sentia o furacão que os envolvia? O rosto de Liv não revelava nada além do fato de ser carinhosa, adorável, vulnerável e que talvez precisassem um do outro. Aproximando-se, ele enrolou uma mecha do cabelo cor de mel em seu dedo e lentamente puxou-a para perto.

CAPÍTULO 8

LIV ESTAVA

tremendo, consciente de que Cade iria beijá-la novamente, e apavorada de que ele também... Isso era o que desejava, ainda assim... Estava com medo que se ele desse um passo, não haveria volta. Seu coração já estava comprometido com Cade, acrescentando-se o lado físico, estaria perdida.

Conforme ele a puxava para perto, sentia desejo, esperança. Era indescritível, maravilhoso sentir a pressão do corpo dela contra o seu. Ela era frágil, porém forte, dócil mas ansiosa. Talvez ele tivesse ficado encantado pelo perfume de uma mulher pura e linda, intocada por toda a violência e crueldade que ele conhecera. Ele queria alimentar-se daquela inocência e fazê-la percorrer por suas veias até que ele esquecesse... Cade tomou cuidado para não assustá-la. Tornou tão fácil para ela esquecer seus medos e enquanto a puxava para perto dele, dando-lhe a

oportunidade de saborear cada momento. Quando já não havia espaço entre eles, Cade disse exatamente o que gostaria de fazer, baixinho e com a voz rouca, fazendo com que ela mordesse os lábios úmidos na tentativa de silenciar seus gemidos de expectativa. Cade não tinha nenhuma de suas inibições, o tempo todo a reduzia a uma estonteante massa de calor e sensualidade com o olhar confiante de um homem que sabia exatamente o que estava fazendo. A princípio, estava insegura sobre o que ele esperava dela e se movia com hesitação em resposta às suas sugestões, mas quando finalmente

tomou coragem para erguer os braços e acariciar sua forte nuca estava lhe dizendo sem palavras: eu quero isso. As sensações explodiram dentro dele na primeira tentativa de toque de Liv. O desejo de celebrar a vida em toda sua maravilha o surpreendia, mas ainda assim ele se conteve. Não suportaria assustá-la com a força de seu desejo. Resistiu até que se viu tocando seus lábios no dela e compartilhando seu suspiro. Ele beijou-a com carinho, explorando seus lábios, beijando mais forte enquanto ela se derretia agarrando-se a ele à procura de alívio. Ele beijou sua nuca arranhando-a com sua barba rala

e sentiu-a tremer de excitação. Ele fez um pequeno movimento com os quadris, depois um mais forte que a fez gemer de desejo. Ela queria sentir sua ereção e o segurou quando ele movimentou novamente os quadris. Agora, dar prazer a ela era seu único objetivo, queria seus apelos mais do que qualquer coisa, queria vê-la se desmanchando em seus braços. Queria segurá-la enquanto ela se mexia incontrolavelmente sob ele e continuar sem parar até que dormissem nos braços um do outro. Enquanto se entregava a Cade, seus beijos ficavam cada vez mais quentes e apaixonados. Os seios haviam crescido infinitamente

com as carícias, e quando ele enfiou a mão entre suas pernas, gritou satisfeita, louca por ele. Precisava daquilo como de ar. Aquele era o momento pelo qual havia esperado a vida inteira, só que, com Cade, era muito melhor do que imaginara. Ela se entregou, suplicando, e afastou as pernas para que ele pudesse explorála. Não queria nada no caminho de seu toque hábil, tão delicado e intuitivo. Era como se ele pudesse sentir o que sentia, e como se pudesse fazer seu desejo crescer. Ela estava lisonjeada, sensível, cheia de vida e desesperada por banir os fantasmas do olhar de Cade.

Para ele tratava-se de excitação, fome, força, tudo indo de encontro ao alívio e à limpeza da mente de toda aquela sobrecarga. Ele podia sentir o calor subindo em Liv e correspondeu imediatamente. A única coisa que o detinha agora era o fato de ser pequena e delicada. Não queria machucá-la. Ele beijou-a ávida e vorazmente. Todo o tempo Liv, gemia, movendo-se constantemente para mostrar do que precisava e do que mais gostava, estava com muita pressa. Ela tirou o suéter antes que ele o fizesse. Ele recusava-se a ser apressado e, fechando os olhos, permitiu tatear seus seios com as sensíveis pontas dos dedos. Uma

sensação atrás da outra o invadia enquanto ele delineava cada mínimo detalhe... uma renda delicada protegia o glorioso volume. Os mamilos duros provocavam sua mão. Alcançando suas costas, ele abriu o sutiã para que pudesse sugá-lo e prová-lo para alegria de seu coração e satisfação de Liv. As mãos dela estavam ocupadas tirando a camisa de Cade de dentro das calças. Estava desesperada para sentir sua pele nua contra a dele. Ele ajudou-a e ela deu um gemido involuntário ao vê-lo... os músculos torneados, o bronzeado, a firmeza do abdômen, uma perfeição, era como uma escultura de bronze, queria mais, o desejava por

inteiro. Toda aquela potência e força à sua disposição era de enlouquecer. Fechando os olhos, flutuou livre em uma nuvem de sensualidade, estava perdida em um sonho erótico em que Cade era o protagonista. Uma onda de sensações a invadiu com um prazer pulsante entre suas pernas enquanto se movia inquieta, dizendo a Cade sem palavras do que precisava dele naquele instante. Delineando seus ombros enormes, aprendeu o caminho dos músculos e de suas cicatrizes. Tudo parecia perfeito para ela, mesmo as pequenas imperfeições. Desejava Cade, queria seu carinho final, mais do que

isso, ele mexia com ela de uma forma quase mística. Ela queria sexo, era uma mulher, oferecia a ele uma fuga. Ele nunca se cansaria de acariciar e sugar aqueles lindos seios? Ele desejava se perder na escuridão das sombras perfumadas do corpo dela. Ele a provocou com os dedos, e enquanto se moviam Liv pegou a mão dele e colocou entre suas pernas, onde já sentia sua falta. Ele riu baixinho nos lábios dela, sabendo o quanto o desejava. Ele sentia o calor úmido de seu corpo através da calcinha e sua necessidade pulsante de se liberar. Ele sorriu baixinho enquanto a guiava, e ela mantinha as pernas abertas e sua

pélvis contra ele, o que permitia que ele explorasse a área superaquecida sem tocar nenhuma vez no local que ela desejava. – Por favor. – Ela suspirou devagar se contorcendo para tentar sentir a pressão dos dedos dele. – Por favor – zombou ele baixinho, concedendo a ela uma demorada e hábil carícia. Ela gritou, sua boca se encheu de prazer, e então ele começou novamente, beijando, instigando e provocando até chegarem ao objetivo final. Quando chegaram, ele conseguiu de alguma maneira alcançar a gaveta ainda beijando-a. Revirando tudo, encontrou o que procurava. Com a

proteção no devido lugar, virou-a e encontrou seu caminho entre as coxas dela. Tirou sua calcinha de renda antes mesmo que ela estivesse acomodada, e não perdeu tempo, logo prendendo suas pernas na cintura dele. – Sim – gemeu ela, entregando-se aos braços de Cade. Ele estava fora de si, perdido em algum lugar, de olhos fechados, procurando, preparando, provocando e se antecipando. Liv estava louca de desejo, úmida e acolhedora, enquanto ele estava teso. Ele fez uma tentativa só com a pontinha e ela gritou, fez mais uma e penetrou-a, não havia mais volta. Os quadris dele estavam flexionados, os

músculos tensos em prontidão, mas o grito dela agora era de medo. – O que foi? – perguntou ele, mal conseguindo retomar o fôlego a tempo, seus pulmões arfavam, o coração pulsava furiosamente, não conseguia pensar direito... no começo não entendeu, só depois. Ficou aterrorizado pelo que quase acontecera, chegara perto demais, perigosamente perto. – O que você não me contou? – Ele se afastou, virou a cabeça para trás se recusando a acreditar. Ela permaneceu em silêncio por um longo tempo, depois disse sem jeito: – Uma virgem de 22 anos. Engraçado, hã?

– Hilário – disse ele, friamente. Retomou o fôlego, reordenando o pensamento. Soube então que não podia usar Liv para esquecer nem ser usado para realizar alguma fantasia infantil. Quando tentou afastar-se, ela o abraçou mais forte. – Não! – gritou – Não pare. Ela o abraçou mais forte ainda. – Cade, por favor... Ele se ajoelhou e escondeu o rosto entre as pernas dela, iria satisfazê-la de outra maneira. – Não! – implorou com a voz rouca – Assim não... Ele cometeu o erro de olhar para ela.

– Eu sei exatamente o que estou fazendo – afirmou com firmeza. – Quero você, Cade. Ele deveria desistir e lhe dar uma lição, mostrar o quanto aquilo era perigoso, mas já haviam passado dessa fase havia algum tempo. – Você não faz ideia de como vai se sentir depois. Ele gemeu quando Liv o segurou e, enquanto o acariciava, as posições se inverteram, agora era a agressora. – Não faça isso. – Por que não? – sussurrou ela. – Se você não fizer, Cade, vou encontrar alguém que faça.

Ele ficou tenso. As palavras dela deixaram-no com mais raiva do que ele podia imaginar. Ele tentou dizer para si que era uma ameaça vazia e, enquanto ele ainda lutava com esse pensamento, ela empurrou seus quadris em direção a ele e estava feito. Era muito tarde para voltar atrás, agora ele estava mergulhado em seu interior, se acalmando e aproveitando cada momento delicioso até se retirar vagarosamente. – De novo. Ele obedeceu, expressando seu prazer com um gemido enquanto se enterrava e mexia os quadris contra ela.

– Que delícia, Cade – murmurava conforme ele se movia dentro dela. Liv facilitou puxando os joelhos para trás, se abrindo para ele. Não deveria ser assim, não na bancada de uma cozinha com o prazer crescendo dentro deles até ser liberado com uma sensação lancinante. Ela atingiu o clímax quase imediatamente, o que era de se esperar, apenas quando ela se aquietou novamente, foi que o arrependimento bateu nele. A fuga que ambos procuraram e encontraram durou pouco. A liberdade, a libertação das lembranças já estava acabando. – Vá tomar um banho – sugeriu ele, murmurando no meio de seu cabelo

enquanto a acalmava com carícias. – Você vai se sentir melhor depois de se refrescar... Ela mal conseguia assimilar a informação. Cade se afastava dela como se nada tivesse acontecido, como se não tivessem feito nada. Para ela era um marco na sua vida. Exatamente como ele avisara que seria... Ele afastou-se para fechar o zíper da calça. Lavou as mãos na pia da cozinha e secou. Penteou o cabelo, vestiu a camiseta e apertou o cinto. – Ainda aqui? – perguntou ele de modo suave, brincando. Liv não olhou para ele. Fisicamente trêmula, tentando se acostumar com

seu novo eu, achou o sofrimento insuportável. Correu para vestir suas roupas, pedindo que suas mãos não tremessem. Não era o momento de demonstrar fraqueza, era hora de descobrir que cometera um erro terrível e tentar encontrar uma maneira decente de repará-lo. DE VOLTA ao seu quarto no sótão, Liv jogava suas poucas posses em bolsas sem o cuidado costumeiro. Chegara à conclusão de que voltar para casa era o menor dos males. Não podia ficar em Featherstone como um caso de caridade que Cade estava cuidando,

não quando se apaixonara por ele e o amava com cada átomo de seu ser. A humilhação a aguardava na casa de seus pais em Acacia Drive, não tinha dúvidas, mas nada poderia ser pior do que a dor em seu coração. Ela parou na janela ao avistar Cade caminhando no quintal. Conseguia entender sua necessidade de se afastar. O ar na casa estava pesado. A sensação era de que ambos voltavam aliviados à normalidade. Ela deveria estar feliz por ele estar lá fora, pois significava que poderia ir embora sem estardalhaço. Não conseguiria enfrentar uma conversa, muito menos desculpas, para quê? Ela enxergara a possibilidade de

um romance com Cade através de lentes cor-de-rosa, quando a realidade era muito mais complicada do que se permitira imaginar. Ela só pensara em suas próprias necessidades, não nas dele, e devia ir embora antes que expusesse o quanto era superficial. Precisava ir antes que se apaixonasse ainda mais... ELE ENTROU no celeiro onde sua Harley estava desmontada. Mexer em sua máquina possante o manteve são antes, mas ajudaria agora? Ele avisara a Liv que ficaria mudada com o que aconteceria entre eles, deveria ter se lembrado de avisar a si mesmo também.

Ele acabara de abrir a porta do celeiro quando ouviu a porta da cozinha bater. Ele não se virou, apenas olhou para o relógio e viu que faltavam dez minutos para o ônibus passar. Ela havia calculado tudo com perfeição, melhor assim, ele disse para si. Ela iria para casa e acertaria as coisas com sua família. Eles entenderiam e a aceitariam de volta, era o que as famílias faziam. NO ÔNIBUS, Liv percebeu que só podia culpar a si mesma e não podia dizer que Cade não a avisara. Só podia culpar a insanidade que a invadiu, uma insanidade chamada luxúria. Agora só queria que o ônibus chegasse o mais

rápido possível até o subúrbio, da mesma maneira que desejou uma vez fugir de Acacia Drive. Como um mapa na cabeça, conseguia visualizar tudo que acontecera desde que fugira da igreja, incluindo o beco sem saída que acabava em Cade Grant. Era arrogância sua imaginar que encontrara sua alma gêmea. Ela fantasiara o sexo com um herói local sem pensar com quem estava lidando ou nas consequências. Não enxergara nada além do fato de ele ser bonito e que ser sua empregada era seu passaporte para fugir de casa. Cade estava mais danificado pela guerra do que ela podia imaginar e não estava preparada para lidar com isso.

Conceder sua virgindade a ele como algo precioso parecia-lhe agora um truque baixo e infantil. Cade precisava de uma mulher madura e inteligente ao seu lado. Assim ela engoliria seu orgulho e voltaria para casa para pensar em um plano melhor. Ela procuraria emprego de enfermeira, navegaria na internet para encontrar cursos que gostasse, qualquer coisa seria melhor do que esperar plantada que a vida lhe desse uma oportunidade. Faria seu próprio destino, trabalhando e pensando com a cabeça. Ela mudaria sua vida, mas não daquela maneira. Quando o ônibus parou no cruzamento Liv se virou para dar uma

última olhada na velha mansão, que estava só aguardando para ser trazida de volta à vida. Cade faria isso e muito mais com seu projeto de transformar Featherstone Hall em um centro de reabilitação... Ela se recostou no banco com um sorriso triste ao entender que nunca faria parte daquilo.

CAPÍTULO 9

O CELULAR tocou enquanto Cade saía do local onde pretendia construir uma academia para o Centro de reabilitação. Ele o tirou do bolso com impaciência, incomodado com a interrupção, e quando viu quem era, fez uma careta. Levando o celular ao ouvido, prestou atenção nas nuvens cinzentas, tentando adivinhar os pensamentos de uma garota linda e delicada, com cabelo cor

de mel, virgem e inocente demais para fazer parte de sua vida complicada. Desta vez, ele conseguiu, ainda era um alto oficial e seu comandante precisava dele. Ouviu a voz entrecortada do homem pedindo que comandasse o regimento naquele fim de semana em sua ausência. Além da posição que ocupava, o homem era seu mentor e amigo. O comandante deixou claro que o mais alto escalão estaria lá, e que se Cade quisesse realizar seu sonho de transformar Featherstone em um centro de reabilitação para soldados, deveria estar lá também, conhecendo as pessoas certas, causando uma boa impressão.

Ambos sabiam o significado daquilo sem entrar em detalhes sentimentais, normalidade era a chave. Cade deveria convencer a todos de que sua experiência nos campos de batalha chegara ao fim. – Soldados de escritório não fazem ideia do que nós passamos – disse-lhe o comandante sem demonstrar emoção. – Você precisa mostrar a eles seu lado mais leve. Cade quase deu uma gargalhada. Os dois sabiam que ele não tinha um lado mais leve. Não havia mais sentimentos refinados dentro dele, toda ternura que um dia ele possa ter possuído fora arrancada nas trincheiras, na lama, e

com os gritos daqueles que não pode salvar. Ele nunca se permitiria ter sentimentos novamente, como poderia quando fracassou em salvar seu próprio irmão? Quando passou a mão nos olhos, a imagem do rosto de Liv veio à sua mente. Era um argumento que se recusava a ser silenciado. Ele sentia sua falta, contava o tempo longe dela em horas, minutos e segundos em vez de dias. Mesmo longe havia apenas uma semana, já era demais. Ela havia partido mesmo só há uma semana? Ele sentia falta de seus desafios, de seu sorriso, de sua doçura e de seu frescor e de sua beleza inocente... cerrou os dentes ao

relembrar. Quem melhor do que Liv para convencer os homens que mandavam? Quem com voz mais suave e gentil, para não mencionar as habilidades de enfermeira e determinação? O tratamento com carinho era essencial em qualquer centro de reabilitação, o comandante lembrara. – Você já pensou nesse lado das coisas, não é, Cade? Vejo que tem orçamento para enfermeiros treinados, mas francamente, as instalações que você quer abrir precisam ter coração... Aquela era uma característica que ele não possuía. Passara a semana se perguntando se ainda possuía um

coração. Será que Liv conseguiria lidar com pessoas que haviam perdido tanto: orgulho, emprego, movimento, pessoas que passaram pelas mais terríveis experiências? Será que ela deixaria sua vida fácil de paparicos se ele pedisse? Ou a vida de Liv era diferente do que deixara transparecer? De onde veio aquele pensamento ele não sabia, e esperava pelo bem de Liv que estivesse redondamente enganado. Ele fora insensível ao deixá-la partir, o pensamento de que ele pudesse tê-la abandonado a um destino pior o atormentava, era difícil aceitar, e continuaria atormentando-o até que ele descobrisse a verdade, ele precisava

conferir. Agora, tratava-se muito mais de Liv do que do centro de reabilitação, ele precisava saber se estava bem. – Não há dúvidas de que uma mulher ao seu lado seria uma vantagem, Cade – dizia o comandante. – Faria com que a cúpula o enxergasse com carinho, de um ângulo diferente. A voz do velho homem ecoou no vazio que ambos sentiam. Vazio que vinha de muitas perdas e muito pouco tempo para se amar. – Isso está resolvido – assegurou ele rapidamente ao comandante. – Uma menina da cidade... – Uma mentira necessária, disse para si mesmo.

Encontraria uma maneira de trazer Liv de volta. – Excelente – disse o comandante, obviamente aliviado. – Eu diria que você tem grandes chances se conseguir isso. – Eu vou conseguir – disse Cade, lembrando-se do que estava em jogo. – Então devo dizer a eles que aguardamos você e a jovem senhorita no baile? Ele foi atingido por um lampejo de inspiração. – Por que não o realizamos aqui em Featherstone? – Você tem certeza, Cade? Isso significaria muitos problemas para

você... Enquanto o comandante fazia a pergunta, ele se lembrava de Liv observando o salão e dizendo como parecia triste. Ela poderia mudar aquilo, e poderia ser um desafio que não recusaria. – Tenho certeza – afirmou ele, sentindo-se mais confiante de repente. – Vamos realizar o baile aqui. Vou dizer à ajudante para iniciar os preparativos. Ele terminou a conversa com o comandante de forma animada. Sim, estava completamente recuperado, e o projeto em Featherstone estava bem encaminhado. Fazer o baile do regimento com sua “jovem senhorita”

não seria apenas um dever, mas um prazer para ambos. Ele desligou e guardou o celular. O dever o deixaria novamente em evidência pública, onde ele poderia conseguir apoio à sua causa. Ainda havia um pequeno senão a considerar... Liv deveria estar ao seu lado no baile, e naquele momento não estava em condições de conversar. Ele caminhou em direção ao celeiro onde passou uma semana de esforços concentrados em sua Harley. Não tinha certeza do que dizer a Liv, pensaria nos detalhes pelo caminho, tinha certeza de que a encontraria em casa. Para onde mais iria?

ELE FOI até o endereço que Liv escrevera no currículo. Era uma pequena casa de bairro, uma entre muitas. As cortinas balançaram quando ele desligou a poderosa máquina e tirou o capacete. Ele achou que poderia parecer intimidador naquele mundo de gramados aparados e carros ultralimpos. Ele sempre fora diferente, do contra, aventureiro... mas podia ver que ali era o lugar de Liv, naquele cenário seguro para os modos rebuscados e perfeitos de uma dama. Ele mudou de ideia no instante em que a porta se abriu e viu a mãe de Liv. – Senhora Tate? – Ele mal podia acreditar que a mulher à sua frente

dera à luz Liv. Liv... ele conseguiu vê-la no corredor e percebeu que visitas ali eram uma novidade. Sentiu sua alma deixando-o e envolvendo-a para protegê-la. Ele a desejava debaixo de suas asas, precisava dela. Aos poucos voltou a atenção para a mãe de Liv quando bufou impaciente. Liv poderia estar na espreita, mas não seria boba, não depois do modo que ele lhe tratara. – Eu vim procurar sua filha – informou ele. A mulher estalou a língua desaprovando. Ela não o convidou para entrar. – Por favor, se importaria em chamar Liv? – pediu ele.

Foi o sotaque que o ajudou. Apesar de sua aparência descuidada, pareceu gentil e bem-educado. Levou algum tempo até que a mãe de Liv o recebesse em vez de bater com a porta em sua cara. Aproveitando-se da situação ele estendeu a mão. – Cade Grant do Centro de Reabilitação Featherstone – disse-lhe ele com arrogância pela primeira vez, mas funcionou. A expressão da sra. Tate mudou de um modo conhecido para ele. Acontecia quando as pessoas farejavam o dinheiro. – Coronel! – exclamou, obviamente impressionada. – Não quer entrar?

– Gostaria de conversar com sua filha em particular se possível. – Claro... – Ela chegou para o lado dando a ele uma visão mais clara de Liv. – Vou disponibilizar a sala da frente para você. – Pensei em darmos uma volta... – ele falava com Liv que estava pálida e parecia ter chorado. Será que era culpa dele? É claro que sim, e de sua mãe também. A mulher era uma tirana, ele vira o suficiente para saber. Precisava tirar Liv dali. A atmosfera dentro da casa o estava sufocando. Era tão sombria que nem a luz de Liv a

penetrava. Ela estava desconfiada e cautelosa. Por que estava surpreso? Ela chegara até ele depois de sair dali, passando por uma cerimônia de casamento desastrosa, e estava de volta. Não estava certa por estar cautelosa? Ele sentiu uma necessidade enorme de enfrentar sua mãe e arrancá-la dali para tomar ar, e ele segurou sua mão e de fato enfrentou sua mãe. – Liv, vamos caminhar um pouco? Ela só balançou a cabeça. Ao menos não desapareceu pelo corredor para dentro da casa. Ele ficou tenso à espera do que faria. Pareceu uma eternidade até que murmurasse.

– Com licença, por favor – disse para sua mãe, passando por ela, tomando cuidado para não esbarrar nela. Eles caminharam em silêncio pela vizinhança refinada até que ela virou-se na direção de uma calçada que levava a um parque. Foi até os balanços, sentando-se em um deles. O cabelo cobria o rosto, escondendo sua expressão. O som de seus sapatos arrastando no chão era uma lembrança devastadora do que ele fizera a ela. – Você pode me perdoar? – pediu ele, sem rodeios e com o olhar triste. – Por que está aqui, Cade? Por sua causa – eu preciso de você. Era o que ele queria dizer.

– Preciso de sua ajuda. – Ele se conteve, ela já sofrera o bastante. Ela deu um sorriso amarelo. – Você precisa de mim? Por que agora? – Aconteceu uma coisa, Liv, uma oportunidade de devolver vida ao salão de bailes... – Ele sentiu uma tremenda culpa quando viu seu olhar de reprovação. Ela estava relembrando de como a tratara depois que fizeram amor e de seu comentário de como parecia triste o salão naquele estado negligenciado. Ela sabia bem que ele estava usando isso como isca. – Não estou entendendo – disse. – Por que você quer devolver vida ao

salão? – Para o baile do regimento, a chance de conseguir apoio para o meu centro de reabilitação. – E é para isso que precisa de mim? – Ela o olhou de rabo de olho. – Isso. Olha, Liv, eu entendo como se sente. – Ignorando a triste exclamação dele, ele continuou: – Preciso deste favor. – Nada poderia tê-lo preparado para o modo com que seu coração disparou quando olhou para ele. – Como você tem coragem de me chamar para voltar para Featherstone? Naquele momento, ele percebeu a humilhação e a vergonha dela em voltar para casa; a dor em deixá-lo. A

sinceridade de Liv só lhe causara dor, sua mãe, o noivo de quem fugira e agora dele. Ainda assim ele precisava insistir. – Estou pedindo que volte comigo porque sei que é a pessoa que pode dar o apoio que preciso para meus soldados. Ela olhou para ele. Caso ele tivesse colocado de outra forma, se tivesse pedido qualquer outro favor, negaria. O que deveria fazer? Ela esquecera como as coisas podiam ser difíceis em casa. Após somente uma semana, sentia como se tivesse sugado sua vida. Amava Cade, e voltar com ele causaria mais dor ainda, mas como poderia ignorar aquele pedido?

Ele interrompeu seus pensamentos. – Não se trata de cuidar da casa, Liv, é muito mais do que isso. Estou pedindo que se junte a mim em Featherstone e trabalhe ao meu lado. Ele pedia o impossível, apesar de ser o que havia sonhado. Ela sempre quis estar nos planos de Cade, mas seus sonhos o incluíam. Porém, se aquilo era tudo, ao menos poderia usar sua experiência na enfermagem da maneira certa... poderia trabalhar com Cade. E onde tudo terminaria?, sua voz interior perguntou. Talvez em lugar nenhum, mas a causa que Cade defendia estava muito acima de suas preocupações. Ela

transformara o conto de fadas em realidade no dia em que desistiu de seu casamento, agora cabia a ela resolver sua vida, a ninguém mais, nem a Cade. Ela parecia tão triste que ele teve vontade de abraçá-la, mas perdera esse direito no dia em que permitira que Liv se afastasse dele. Caso ele quisesse alguma chance de reconquistá-la, deveria esquecer o que aconteceu entre eles, mas como, quando parecia tão pálida, abalada e magoada? A Liv que ele conhecia o teria enfrentado. Em uma semana mudara drasticamente, e ele sentiu-se responsável. Ele não precisava perguntar onde estava seu brilho. Olhando para a casa da família

de Liv, ele sabia que fora humilhada com as duras palavras de uma mulher desprezível. A raiva subiu à sua cabeça quando pensou no que ele permitira que Liv enfrentasse. O desejo de defender todos aqueles sob sua proteção significava que deveria evitar ir até aquela casa sombria e dizer à mãe de Liv que não merecia uma filha linda... Uma linda filha... Ele se refez em um piscar de olhos. Uma olhada no relógio dizia que não havia tempo para fazer aquilo do modo que gostaria. O salão de bailes estava em ruínas e um jantar para o regimento era um acontecimento pomposo.

– Liv, você precisa vir comigo agora. A expressão tensa de Cade provocou certo medo em Liv. – Você está escondendo algo de mim? O que há de errado, Cade? – O exército precisa de mim. Ela ficou em choque. – Você quer dizer que vai embora novamente? – Não, nada disso. Ela levantou-se tão rápido que ficou tonta, mas, quando Cade estendeu a mão para segurá-la, segurou na barra de metal e o dispensou. Ele viu a cor voltar para seu rosto e, então, como se estivesse retomando sua determinação, Liv ficou ereta como

uma marionete com os fios esticados. Aquele era o momento para forçar uma decisão dela que ele suspeitava que queria tomar. – Você vem comigo ou não? – perguntou ele. – Preciso de uma resposta agora. Ela o teria seguido até o fim do mundo e voltado, mas não aprendera sua lição em Acacia Drive? Não sabia que seguir cegamente os planos de outra pessoa só a deixara profundamente insatisfeita e não trouxera nada além de problemas? Agora viveria a vida à sua maneira. – Eu entendo o que está tentando fazer, mas não sou crucial para seu

projeto, você não precisa de mim. Você é quem vai servir de inspiração para seus soldados. – Eu? – Cade a interrompeu. A expressão dele tornou-se sombria. – É claro que sim. – Mas primeiro eu preciso conquistar os burocratas. – Eles não vão recusar você – exclamou Liv –, um herói de guerra. Cade se afastou largando a corrente o que provocou um ruído estridente, Liv sentiu uma nuvem de frieza tomar conta dele. A vida militar de Cade era assim, envolta em mistérios. Eles nunca falaram sobre suas experiências nos campos de batalha

– O que você fez deve ajudar para alguma coisa – argumentou ela. – E se você quiser ir em frente com este plano – acrescentou com teimosia –, vai precisar todas as armas que tem. Você é um herói. – Eles podem me chamar do que quiserem – ele a interrompeu –, desde que eu consiga o apoio de que preciso para meus soldados. É disso que precisam. – E se você liderar o projeto, eles darão. – Você acha que é simples assim? – Acho que é tudo, menos simples, mas me decepciona pensar que a

medalha que ganhou por bravura não conte nada para sua causa. – É só um pedaço de metal em um cofre. Não vai trazer meus soldados de volta. Era quase possível ver seu sofrimento de tão intenso. – Cade. – Eu preciso de você – afirmou ele –, preciso que faça isso por mim, preciso de você ao meu lado no baile do regimento para provar... – ele deu um suspiro – provar que voltei ao normal. – Ele sorriu ao dizer aquelas palavras. – Preciso de você comigo, Liv, para provar que tenho um coração além do dinheiro e das instalações.

Ele precisava dizer tudo aquilo com tanta frieza? – Então isso quer dizer que também está me oferecendo um emprego? – Você vai ter meu veredito sobre seu futuro a longo prazo depois do baile. – Chantagem? – Só meu modo gentil de persuasão. – Ele fez um sinal de trégua com as mãos – Está tudo errado, Liv. Por que você não volta comigo para casa? Podemos conversar no caminho. Liv olhou para Acacia Drive. Precisava fugir de casa ou teria que esquecer seus planos de abrir suas asas. Talvez a posição que Cade oferecia não fosse a resposta, mas ao menos era um

começo. Quaisquer que fossem os problemas, ainda queria fazer parte e ajudar Cade a concretizar seu projeto, mas também tinha problemas. Para Cade e para o resto do mundo, poderiam parecer pequenos, mas minavam sua confiança diariamente. Ela pediria a ele que fizesse algo em troca por sua cooperação, algo grande, tão embaraçoso e arriscado que até ela mesma duvidava de sua sanidade. – Tudo bem – concordou, de queixo erguido. – Eu vou com você, mas só se concordar com minhas condições. – Vá em frente – disse ele. Cade ficou animado. Não fazia ideia do que viria pela frente. Segurou o

portão para ela, que se dirigiu para Acacia Drive. Ela tentou ensaiar um pequeno discurso na cabeça, mas parecia loucura. Cade pensaria que era por desespero. Ambos estavam desesperados por alguma coisa. – Bem, estou esperando – ele pressionou. Ela engoliu seco, nervosa. Era sua chance e não haveria outra melhor. Precisava expor claramente o que queria, e era aproveitar a vida ao máximo. Ela ansiava por algo especial em sua vida, aquele sentimento por um momento na vida em que estivesse no topo da montanha. Talvez todo o resto fosse mediocridade, mas queria as

estrelas e não se satisfazer com a lua. Ela queria Cade, e que ele a ensinasse tudo sobre fazer amor. Ela sabia que não era a noite perfeita para diversão, mas faria com que fosse, pois precisava de uma noite cuja lembrança durasse toda sua vida. – Estou esperando para ouvir suas condições – disse ele. Ele ainda estava otimista, tendo vencido a primeira parte do trato. Ele esperava que saísse com algo como, quero um vestido novo, por favor... Apoiando-se, falou: – Eu quero dormir com você. – O quê? – Ele não tinha certeza de ter ouvido direito.

As bochechas dela estavam coradas de vergonha quando continuou: – Eu quero que passe uma noite comigo e me ensine tudo sobre sexo...

CAPÍTULO 10

– VOCÊ

que eu faça o quê? Aulas de sexo em troca de sua presença no baile? – A expressão escandalizada de Cade dizia tudo, desta vez fora longe demais. – É sério, Cade. – Liv mal teve chance de pronunciar as palavras antes que Cade a segurasse. – Por favor, me diga que não ouvi direito. QUER

– Ouviu sim. Você precisa da minha companhia para o baile... bem, essa é minha condição. Cade balançou a cabeça com um olhar que dizia que o mundo enlouquecera. Depois houve uma explosão de palavras como, sangue frio, insanidade e chantagem. – Não é chantagem, Cade – assegurou-lhe –, é um contrato verbal entre nós com benefícios para ambos os lados. – Um contrato verbal? – Seu sorriso virou uma carranca. – Você está louca. – Talvez – Liv concordou –, mas é a minha condição.

– Deixe-me entender direito. Você quer que eu faça sexo com você em troca de sua companhia no baile? – Não, Cade – disse Liv, baixinho –, espero muito mais do que isso de você... Cade sufocou a vontade de rugir de raiva. Ele queria praguejar contra o destino e derrubar a parede mais próxima. Ele encontrara Liv aos pedaços em sua casa onde deveria estar a salvo. Ele se culpava por aquilo e agora por isto. Será que não tinha amor próprio? Seria ele culpado pelo estado de Liv? Caso fosse, nunca se perdoaria. – Você aceita? – pressionou. Para salvá-la de um destino pior, ele precisava tirá-la de lá de um modo ou

de outro. Ele mal podia suportar o olhar firme de Liv. Ela era uma novata no assunto coragem. Ele conhecia todo tipo de coragem mas o fato daquela boa e gentil menina se sentir um fracasso por causa de outras pessoas, inclusive ele, partia seu coração. Sim, ele acabara de descobrir que tinha um coração. – Eu quero ajudar você, Cade, mas também preciso de ajuda. – Não – advertiu-lhe ele, contendo sua onda de humilhação. – Não diga mais nada, você sabe que vou ajudar você. – Vai concordar com minhas condições?

Ela falou seriamente sobre um problema que acreditava ser só seu. A tristeza brotou dentro dele misturandose à raiva. – Temos um acordo – falou ele. Tudo o que ele queria era levá-la para casa e protegê-la, o resto resolveria depois. – Obrigada... Ele ignorou os agradecimentos e a mão que estendeu para cumprimentálo. Sua única intenção agora era proteger Liv. – Você não mudou de ideia? – perguntou ela, colocando a mão de volta no bolso.

– Não, eu não mudei de ideia. – Ele olhou de novo para a casa e para Liv. Não poderia tê-la encontrado em posição mais vulnerável, mas também considerou as palavras do comandante sobre os centros de reabilitação precisarem de um coração. Talvez se explicasse melhor seus planos a Liv, ela veria o quanto precisava dela e se esqueceria daquela ideia louca. – Eu tenho um sonho, Liv. Enquanto Cade falava, a tensão entre os dois diminuía, Liv não ousava nem respirar para que ele não parasse de se abrir. O fato de aquele homem enorme cheio de cicatrizes ter um sonho e querer compartilhá-lo com ela a tocara

profundamente. Ficaram na calçada sem perceber o tempo passar, e quando ele não sabia mais o que dizer, soube que o apoiaria no baile sem condição alguma. – Eu vou ajudar você como eu puder, mas você deve me envolver totalmente, preciso saber de tudo que há para saber. – Por exemplo? Cade ficou imediatamente desconfiado. O precioso pacto de confiança entre eles foi facilmente quebrado. Ela apressou-se em tranquilizá-lo. – Só peço que me deixe a par de tudo. Eu não vou seguir às cegas suas ordens, Cade. – Não como fizera por

toda sua vida até aquele momento, e o que ganhara? – Se quer minha ajuda, deve me envolver... – Você quer dizer que devo dormir com você? Ele parecia amargo e depois de tudo que confidenciara a ela, só podia concordar que sua parte no acordo parecia superficial. – Não se preocupe – disse ele. – Não vou decepcioná-la. O tom de sua voz a fez murchar por dentro. Cade era experiente, enquanto ela era um passarinho assustado e, estava pronta para admitir, uma sonhadora. Não queria que ele descobrisse que estava apaixonada por

ele ao ponto de estar disposta a se humilhar por uma noite em seus braços. Ela ficou em choque quando ele a encostou no muro do vizinho. – Você não faz ideia de com o que está brincando, Liv! As mãos de Cade estavam apoiadas em ambos os lados de seu rosto. Ela não conseguia encará-lo e não conseguia fugir. Estava envergonhada demais para admitir que queria muito mais do que um breve contato na cozinha e que queria se sentir uma mulher de verdade. Ele estava atormentado. – Você não faz ideia do que está pedindo.

– Eu sei o que sinto aqui dentro, Cade. – Cerrando o punho, bateu no coração. – Não ouse me dizer que não sei... – Não sabe... – Então prove! – Vamos começar assim... – A paixão da raiva deu lugar ao suave gemido de Liv quando ele a beijou. – Não – murmurou ela, fazendo uma tímida tentativa de afastá-lo. – Assim não, Cade. – Não? – Ele a desafiou. O jeito como seus olhos escureceram e que ela passava a língua pelos lábios mostravam outra coisa. Desesperado para fazê-la entender, usou seu mesmo sussurro

rouco. – Assim não, então como? Você vai me dar instruções? Vai me dizer até onde posso ir? Ela ficou vermelha, sentindo-se culpada. – Eu preciso que faça algo importante por mim, exatamente como precisa que eu faça por você. Segurando o queixo dela, ele virou seu rosto para ele. – Não é a mesma coisa – respondeu ele, com firmeza. Era uma perversa influência dos filmes e romances que ela amava e deixavam-no louco. – Isto não está certo, Liv! É errado! E pior, é perigoso para você... – Mas eu confio em você – protestou.

– Você não me conhece – disse ele, sem rodeios –, e você não faz ideia de como vai se sentir quando nossa única noite acabar. – Afastando-se ele balançou a cabeça. – Realizada? É como acha que vai se sentir? – Ele percebeu que ela não estava interessada em escutar. Aquilo não era bom. – Se você não quer... – Ela empalideceu – Se não consegue... – Quem disse que eu não consigo? – Ele puxou-a para perto. Beijar Liv para ele era tão natural como respirar, a necessidade de protegê-la deixando-o louco. Ela se sentiu especial e desfrutou melhor. Sua doçura o invadiu com uma onda de inocência, levando embora

toda maldade. Entrelaçando os dedos no cabelo dela, acariciou sua cabeça, amando a sensação e seu perfume, quando se afastou, fechou os olhos com um sorriso nos lábios enquanto tentava mantê-la viva para que pudesse desfrutá-la um pouco mais. Sem compreender a expressão no rosto dele, talvez interpretando como o jeito masculino de vitória, reagiu da maneira que ele esperava que Liv reagisse naquele momento. Com um som furioso pisou no pé dele, não antes de fazer algo que o deixou de joelhos. Ele se esquivou sorrindo. – Uau! Combate desarmado!

Colocando as mãos na cintura, ele ficou na frente dela, ou pelo menos na frente da fera em que havia se transformado. Ainda havia muita força de vontade mesmo depois do que Liv enfrentara. Ele queria sorrir alto de tão feliz que estava por ela. As coisas para ele também mudaram radicalmente, pois não parecia mais um cordeiro indo para o matadouro, e sim uma mulher que decidira assumir o comando de sua vida. Então ele percebeu que não era a única que estava se arriscando ao passarem a noite juntos... – Não ouse me tocar – avisou, chegando para trás. – Não estou...

– Pronta para mais um? – desafiou-a. Liv ainda cobria a boca com as costas das mãos como se não pudesse acreditar no que ele fizera e não queria admitir que gostara. – Só preciso que me avise quando for fazer isso! – exclamou, visivelmente perturbada. – Bem, assim não é divertido – argumentou ele, secamente. Cade era o pior tipo de machão! E acabara de nomeá-lo seu instrutor de sexo? O que estava imaginando? Era tarde demais para arrependimentos. Tarde demais para se preocupar por estar ofegante como se tivesse corrido uma maratona. Ela não fazia ideia de

como seria desafiar Cade para lhe dar lições sobre sexo. Ela sentia-se viva como se tudo fosse possível, sentia-se fantástica. Seus lábios estavam inchados e formigavam com outras partes de seu corpo que não ousava pensar naquele momento. – Não ouse tentar isso de novo sem me avisar primeiro. – Ou você vai fazer o quê? A ironia em seu olhar mexeu com ela. – Ou não vou errar meu alvo. O sorriso de Cade se alargou. – Você vai ter que me perdoar por me deixar levar – zombou. – Esqueci

que ainda não definimos o dia em que nosso acordo entra em vigor. Liv ainda lutava para respirar normalmente quando percebeu que dormiriam juntos antes do baile. Teria que ser naquela noite! Definitivamente hoje, antes que perdesse completamente a coragem. – Que tal após o jantar? – sugeriu. – Acho ótimo, gosto da ideia de um compromisso. Vendo uma covinha no canto da boca de Cade, percebeu que ele estava começando a se animar, e não tinha ninguém além de si para culpar.

ERA DIFÍCIL de acreditar que tudo tivesse acontecido tão rapidamente, Liv refletiu quando pararam em frente à casa. Será que Cade normalmente agia daquela maneira? Seu estômago se embrulhou ao pensar na possibilidade. – Não tenho o que vestir... – Ela estava desistindo rapidamente da ideia de voltar para Featherstone. Fazer papel de boba uma vez fora ruim o suficiente, mas duas vezes? – Uma visita às lojas vai resolver. – Vão fechar antes que cheguemos lá. – Não nessa máquina. – Cade sorriu e olhou para a moto. Liv arregalou os olhos.

– Você não espera que eu vá com você até as lojas na garupa disso aí, não é? – Por que, não? – indagou, Cade. – É o meio mais rápido de evitar o trânsito do fim de semana. Você tem cinco minutos para se trocar. Ela estava em bom estado, Liv refletiu, afundada em luxúria e paralisada de medo. Agora esperavam que ela se transformasse de um passarinho engaiolado em uma motociclista selvagem e aventureira, o que seria uma mudança radical. Cade em cima de uma Harley era uma atração e tanto. Algo dentro dela dizia

que era hora de mergulhar no desconhecido. – Você sabia que eu viria, não sabia? – Eu não contava com suas condições como parte do plano. – E se eu recusasse? – Eu encontraria alguém para vir comigo. – Cade olhou para trás onde duas garotas ainda sorriam quando eles passaram pela calçada de braços dados e lhe deram duas olhadas. – Você disse cinco minutos? – Liv confirmou com os dentes cerrados. – O que for preciso para tirar essa coisa de lã azul e colocar algo mais apropriado para andar de moto na cidade.

Agarrada a Cade com os braços em volta dele? – Vou me trocar rápido. – Estou contando com isso. Ele não precisava estar tão bonito quando disse aquilo, emoldurado naquele cabelo negro ondulado e com um rosto que parceria não ver gilete havia uma semana. Sim, Cade era lindo, mas ela imaginava que podia parecer intimidante para algum general atrás de uma mesa. Ele realmente precisava dela a bordo. – E então? – ele pressionou. – Não foi um bom começo. Mais três minutos e eu caio fora.

– Acalme-se soldado, ou vai precisar voltar... Levar na brincadeira era uma coisa, mas agora que sua decisão estava tomada, precisava tentar a todo custo não estragar tudo. O desejo por Cade efervescia dentro dela. A dor que seu beijo despertara era algo que só ele poderia resolver. Será que conseguiria fazer o que ameaçou e se esquecer de seu amor por ele depois de uma noite em sua cama? Poderia dormir com ele e ficar ao seu lado durante o baile fingindo ser sua namorada, sabendo que não significava nada para ele? Conseguiria convencer o alto escalão do

exército a compartilhar do sonho de Cade? Liv concluiu que o sonho conseguiria vender, qualquer coisa além seria o inferno. E os sonhos de Cade não valiam o inferno? – As lojas vão fechar logo – gritou ele, quando ela chegou à porta de entrada. – Três minutos – confirmou, sorrindo. Cade devolveu o sorriso O SORRISO de Cade a acompanhou pela entrada, passando por sua mãe, e se manteve com ela até subir as escadas correndo. Continuou a confortá-la

enquanto procurava seus jeans no quarto. Achou um nos fundos do armário, e um suéter peludo cor-derosa que a fez sorrir ao lembrar-se de brigar com sua irmã Carly para ver quem o vestiria. Botas de salto alto para completar o visual? Será que motoqueiras usavam? Ela calçou mesmo assim e fez uma pose no espelho. Aquele papel de insolente era novo para ela, talvez tivesse feito tudo errado. Liv concluiu que de nada adiantaria se tivesse feito certo, dando uma última olhada no quarto antes de se despedir de Acacia Drive para sempre, assim esperava. Cade estava apoiado na moto quando voltou. Ele não pareceu

perceber sua transformação de Sandra Dee em motoqueira. Talvez fosse melhor assim, Liv concluiu, porque Cade no comando da Harley parecia mais agressivo do que nunca e, na verdade, deliciosamente perigoso. Ela suspirou trêmula ao pegar o capacete que ele segurava para ela. – É assim que se coloca? – Suas mãos tremiam. – Deixe-me ajudar. Ela não respirou enquanto Cade a ajudava a ajustar o fecho. Ela estava indo longe demais, mas não era Cade e alguma emoção em sua vida que tanto queria?

Ela ficou imediatamente sem ar quando Cade deu a partida e acelerou. Não teve tempo para pensar. Ela o segurou com tanta força que podia sentir seus músculos se mexendo através da jaqueta de couro. – Gostou? – perguntou Cade quando encontrou uma vaga na porta da loja. Se gostou? Deveria responder com sinceridade? Suas pernas ainda tremiam quando saltou da moto, e seu corpo todo formigava depois de se agarrar a Cade. – Gostei – respondeu com firmeza, vendo algumas comparsas de sua mãe olharem escandalizadas. – Nunca me

diverti tanto – anunciou em voz mais alta e desafiadora. – Então você devia sair mais – Cade observou secamente. Ela teve vontade de bater nele com sua bolsa, mas adorava o sorriso dele, mesmo debochando dela. – Talvez – concordou. Tirando o capacete, sacudiu o cabelo e ficou de pé. Ele notou o grupo de mulheres que os observava e imediatamente quis proteger Liv. O que estava acontecendo com ele? Colocando seus braços de modo protetor em volta dela, levou-a para dentro da loja.

Ele não conseguia se lembrar de se divertir tanto quanto naquela volta de moto. Dirigir rápido com Liv atrás dele foi mágico, sentiu-se muito bem com ela agarrada a ele. Depois o modo como enfrentou aquelas mulheres, tudo em Liv colocava um sorriso em seu rosto. Ele abriu a porta e deixou-a entrar. Mesmo com aquele acordo louco entre eles, gostava cada vez mais dela. O que ele gostava mais é que não havia nem uma ponta de arrependimento em seu olhar. Aquilo o fez querer sugerir que o acordo já estava valendo a partir daquele momento.

Eles pegaram a escada rolante e de repente começaram a correr um atrás do outro como duas crianças. Ele a deixou ganhar, sendo assim o esperava no topo, com a cabeça jogada para trás, relaxada e sorrindo. Olhou para ela se perguntando se já se sentira tão leve algum dia. UMA VEZ no departamento de vestidos de festa, ele foi levado a uma confortável cadeira enquanto Liv foi para um vestiário atrás de uma tela. – Eu prefiro andar por aí – disse ele, educadamente à vendedora. Até onde ele sabia aquela era uma missão para escolher um vestido discreto. A mulher

ao seu lado no baile deveria ser discreta e demonstrar um ar de competência que conquistaria a confiança das pessoas. Algo disse a ele que Liv seria a pessoa certa. Tudo de que precisava agora era do vestido, algo discreto o bastante para não assustar as mulheres, mas feminino o bastante para intrigar os homens. Este último pensamento inundou sua mente com uma lista de solteiros fardados. Seu instinto de líder ficou em alerta máximo. De maneira nenhuma perderia Liv para algum homem com rosto macio e sem cicatrizes, ou para qualquer outro homem, nunca. Pelo menos, não no baile.

Quase fizera um buraco no carpete até que ela aparecesse com o primeiro vestido. Seu coração se revirou. – Muito curto – disse, balançando a cabeça, não percebera que suas pernas eram tão longas. Ela o puxou para baixo, parecendo tímida e acanhada. Mordendo os lábios, ele desviou o olhar, agindo como se desaprovasse o vestido revelador, quando na verdade estava impressionado. – Vou experimentar outro. – Tudo bem, faça isso. Ela estava lindamente constrangida quando a vendedora levou-a embora. Ele precisava relaxar e parar de olhar

para o relógio. Eles chegaram rápido, a loja não fecharia tão cedo. Ele imaginou que aquilo se transformaria em uma longa sessão. Ele estava certo. – Muito justo – disse ele, sobre o vestido seguinte, desejando que o usasse só para ele. “Vermelho demais. “Muito de velha para você. “Muito escuro. “Muito...” As palavras lhe faltaram. Quem disse que ficava bem em uma peneira? Deviam ser colocados em um paredão e... – Não gosta desse também?

Levantou da cadeira como um foguete quando percebeu que ela estava quase às lágrimas. Como poderia saber que Liv tinha essas frescuras? – Se você gosta... – Estendendo a mão ele ajeitou o babado igual a uma massa de torta em volta de seu pescoço. Seu dedo quis fazer um caminho até sua boca. Ele a estava consolando, disse para si com firmeza. – Eu só acho que você não precisa de tanto enfeite... – Não? – Ei, pare de fungar. A vendedora, que estava visivelmente acostumada com lágrimas e fricotes, chegou rápido com uma caixa de lenços de papel. Ele pegou um.

– Estou bem – disse-lhe Liv, recusando. Ela girou lentamente na frente do espelho, olhando seu reflexo de modo critico – Você pode estar certo. Esse é muito enfeitado. – Eu estou certo – ele assegurou, ficando feliz por concordarem ao menos uma vez. – Não se preocupe, tenho mais vestidos lá atrás. Mais uma vez se recompôs para fazer a sutil ameaça. Quando apareceu com o vestido seguinte, ele deu um suspiro e parou de andar. Ela estava linda. Etérea, bonita e extremamente sexy.

– É esse. Quanto é? – perguntou ele, aliviado. Disseram-lhe e ele esperava que seu espanto não fosse óbvio. – Tudo bem, vamos levar. – Enquanto a vendedora lançava um olhar triunfante para a gerente e ele sussurrava só para que Liv ouvisse: – Quer que eu ajude você a tirá-lo? – Não será necessário – respondeu acanhada. Ele adorava sua voz tímida em situações como aquela. Era excitante. – Embrulhe, por favor – ordenou ele para a vendedora, feliz com a distração. Eles compraram sapatos e uma bolsa também, mas sem combinar, não era legal, dissera Liv. Tudo bem, o que ele

entendia sobre moda? Ele cedeu também ao xale de cashmere. Ele a vira olhando e tentando agir como se não se importasse em deixá-lo para trás. Ele gostava de mimá-la e ver sua expressão de surpresa quando fazia isso. Era um enorme contraste muito bem-vindo com a expressão no rosto de Liv quando ele a encontrara em Acacia Drive.

CAPÍTULO 11

CADE FORA muito generoso,

Liv nem sabia como agradecer. Disse que pagaria, mas logo arrependeu-se quando ele perguntou como. – Com meu salário se você me contratar – respondeu. – De que outra forma? O olhar de Cade a fez desejar não ter perguntado.

Ah, tudo bem, só teria que acertar os detalhes depois. Cade fez questão de dizer que o baile era ideia sua e que cabia a ele cobrir quaisquer despesas. Neste momento, ela sorriu e agradeceu. Ainda sentia-se um pouco estranha pelo que acontecera entre eles, para não mencionar tudo que os aguardava, mas Cade parecia estar levando tudo na boa, como também deveria. Liv montou na garupa da Harley depois que Cade guardou seus embrulhos no compartimento embaixo do banco. Será que era possível não pensar em sexo quando Cade estava por perto?

Quando ele acelerou, o ronco do motor parecia zombar de sua ignorância sobre sexo e da experiência da Cade em quase tudo. Conforme se embrenhavam no trânsito noturno, precisou resistir à tentação de apoiar o rosto nas costas dele. Percebendo que era um pensamento perigoso, mudou o foco e concentrou-se no fabuloso vestido que escolhera para ela. Era de longe o mais caro da loja, um sonho de vestido em chiffon de seda laranja, com corte enviesado por cima de uma justa anágua coral... Cade dissera que realçava a cor de seu rosto, mas era só olhar para ele que

isso acontecia. Nada era bom demais para sua acompanhante no baile, ele dissera, descartando a preocupação dela com a despesa. Era o vestido perfeito para a ocasião, e assunto encerrado. – Teremos um desfile de moda quando voltarmos – Cade informou pelo intercomunicadores em seus capacetes. – Ah, teremos? – Ela brincou com ele. O coração dela batia forte ao pensar no encontro depois do jantar, que se aproximava com rapidez. Cade desacelerou a moto ao se aproximarem da esquina da rua de Featherstone.

– Eu só vou guardar a moto, você pode descer e me fazer uma surpresa. – Ótimo. – Ela precisou forçar a voz. Era difícil de acreditar como fora tola. Aulas de sexo com Cade? Estava maluca? Quando ele parou a moto, ela desmontou e tirou o capacete, devolvendo a ele com cuidado para não se tocarem. Ela esperava que ele não pudesse ler seus pensamentos enquanto lhe entregava os pacotes, eram proibidos. Ela só conseguia prestar atenção no corpo de Cade e na protuberância por baixo de seu jeans que não enganava. Seu traseiro parecia bom de morder...

Liv lembrou-se de que em poucos instantes teria oportunidades de fazer isso. – Algo errado? – perguntou Cade, franzindo a testa. Muitas coisas. – Não, nada. Liv segurou os pacotes enquanto Cade subia na moto. Seu jeans estava ajustado aos contornos que logo seriam revelados em toda sua gloriosa nudez, e como nunca o vira completamente nu, sua imaginação trabalhava freneticamente. – Desça até a cozinha quando estiver pronta – gritou ele.

– Estou pronta – murmurou Liv, ansiosa. Perder a virgindade fora incrível, continuar sua educação sexual com a tutela de Cade, então, a fazia tremer de emoção, ou seria de medo? Ela só tinha certeza de que quanto mais o amasse, mais teria a perder, e o amava demais. BALANÇANDO A cabeça para tirar o cabelo dos olhos, ele se acalmou. Era a única maneira de lidar com um corpo rebelde que conhecia, e ele estava reagindo de verdade. Faminto por muito tempo, ansiava por Liv. Uma vez provada, nunca esquecida. Aqueles momentos na cozinha não o

satisfizeram, foram só um tira-gosto quando ele precisava de um banquete para satisfazer sua fome por Liv. Era virgem, sua consciência o lembrou. Ele se esquecera? Não, e compensaria isso agora. Cade só gostaria de que não tivesse inventado esse esquema maluco; as coisas deviam acontecer naturalmente, mas ela tinha que marcar um encontro... Seu corpo achava a proposta interessante mesmo que ele reprovasse. Ele queria Liv. E tentou socar a parede, mas só pensou mais nela. Era simples e complicado assim. Olhando para o espelho, ele encarou os fatos: era velho demais para Liv. Ele

vira coisas demais, tinha tantas cicatrizes interiores quanto exteriores. Rico e bem-sucedido, talvez, mas perseguido pelas perturbações que perseguem os aventureiros desde o início dos tempos. Ele precisava de um porto seguro e até o momento não encontrara. Agora Liv aparecera do nada, com todas suas frescuras e delicadezas, exigindo que ele lhe ensinasse sobre sexo. Então deveria virar as costas para ela? Bastante simples, pensava, mas ele era um protetor, não um canalha. Enterrando o rosto em uma toalha, esfregou-o com impaciência. Ele queria mais do que sexo com Liv, mas o que

poderia oferecer-lhe quando não conseguia se esquecer do passado? O que precisaria fazer para seguir em frente com sua vida? Jogando a toalha de lado, remexeu a barba impaciente. Olhou seu reflexo, como se o coronel Grant fosse alguém de quem não gostava muito. Parecia um cara mal de algum filme com todas aquelas cicatrizes. Pensou novamente em Liv e em como sua beleza, pureza e inocência contrastavam fortemente com ele. Não devia ir adiante com isso, mas queria. LIV OLHOU o espelho, admirada. Na eterna busca em vê-la casada, sua mãe

lhe ensinara o que combinava com ela, mas aquele vestido era a roupa mais impressionante que já usara. É claro que custou muito mais do que seu orçamento de costume. Ela sempre se baseara em acessórios bonitos e baratos. Não era necessário gastar tanto, mas Cade insistira e estava certo sobre a cor ficar bem nela. Ela nunca vestira laranja antes. Imaginou-se ao lado de Cade de farda... e imaginou Cade sem farda, então disse para si que era melhor parar de pensar nele e descer, antes que perdesse a coragem. Cade estava acendendo o fogo quando entrou na cozinha. Ele

levantou-se lentamente. – Você está linda... mesmo... mas tem uma tira enrolada, venha cá. Ela mesma poderia ter consertado sozinha, mas que graça teria? O toque de Cade fez com que tremesse, precisou desviar o olhar. Ela podia provocá-lo, mas não esconder seus sentimentos, não quando o olhar malicioso de Cade fazia cada parte de seu corpo tremer. Aquilo era loucura. Sentiu-se virgem como jamais se sentira, e então teve pensamentos horríveis, e se Cade mudasse de ideia agora que a vira? E se ele não pudesse cumprir sua parte no acordo? Seria muito ruim?

Ela ficaria aliviada? – Você vai conseguir – disse ele secamente. – Agora colocar seu jeans, temos trabalho a fazer. – Para o baile, é claro... – Ela ficou aliviada. – Eu já volto! Ela subiu as escadas correndo, certa de que Cade estava feliz por ter uma desculpa para não ir em frente com sua parte do trato. ESTAVA AJOELHADA esfregando quando Cade chegou por trás. – O salão está limpo, ou você não percebeu que eu contratei serviços de limpeza depois de seu comentário sobre ele parecer tão triste?

Colocando para trás uma mecha de cabelo, Liv largou a escova no balde. – Sabe como é, estou começando a achar que você gosta de me ver como Cinderela. – Gosto de ver você ajoelhada aos meus pés... – Cade! O que está fazendo? – Adivinha. O queixo de Liv caiu quando Cade se agachou. – Você é mau mesmo. Ele a pegou nos braços. – Você não sabe nem a metade. – Sua sobrancelha se ergueu de modo atraente enquanto ele olhava o rosto dela. – Mas é disso que se trata, não é?

– Quando suas bochechas coraram, ele continuou com a agonia. – Aula de sexo, não é o que você queria? – Você é mau mesmo. – Sou muito mau, não sou? – Cade parecia achar divertido. Ela gemeu enquanto ele acariciava seus seios e queria mais, mas Cade tinha outros planos. – Fique ajoelhada – ordenou ele. – Mas desta vez no tapete, é mais macio. Ela começou a tremer. Havia um tapete imenso e macio em frente à lareira. – Relaxe – aconselhou Cade, indo para trás dela.

Ele a segurou pela cintura, esfregando-se nela. Antes que percebesse, estava em seus braços, levantando os quadris o mais alto que conseguia, expondo cada centímetro de suas partes pulsantes e sensíveis contra a pressão insistente da ereção de Cade. – E agora? – murmurou ele, dandolhe uma pequena palmada. – Assim é bom? Ele esperava uma resposta? Precisava de toda sua energia só para respirar, era sua resposta. – Acho que está na hora de tirar suas roupas. O tom malicioso de Cade a excitou mais ainda.

– Que roupas? – Tudo, até a calcinha. O rosto de Cade estava impassível, sua falta de expressão era ainda mais excitante. Ele falava sério sobre dar aulas sobre prazer. Liv se viu exibindo a fenda entre seus seios sem nenhuma vergonha. Ela queria fazer aquilo. – Lindo – sussurrou Cade. – Agora deite-se e feche os olhos. Ela obedeceu, e então gritou quando algo gelado roçou sua barriga. – O que é isso? – Mandei fechar os olhos. Ela se curvou na direção dele enquanto o cubo de gelo fazia seu

caminho tentador. – Você preparou tudo antes de chegarmos aqui. – Olhos fechados. A voz de Cade estava afiada, seu tom sério a fez estremecer. Depois do gelo veio um líquido, e Cade o seguiu com a língua. – Champanhe? – Liv adivinhou, seus sentidos estavam aguçados agora que não podia ver. A resposta de Cade foi seguir o caminho até seus seios. – O que vai fazer agora? – Ela esticou a mão para sentir o que ele segurava. – Vou colocar uma venda em seus olhos. Avise caso não goste de alguma

coisa. Ela fez um voto de silêncio a partir daí. Cade a ergueu para retirar seu sutiã e quando se livrou dele cuidou de um dos seios, depois do outro. Seu hálito quente, barba áspera e língua experiente e suave causaram todo tipo de estrago por dentro dela enquanto ele os mordiscava, lambia, puxava e chupava. Ela estava louca de desejo, não conseguia ver através do veludo da venda e concentrou-se em tudo o que Cade fazia. Champanhe escorrendo em seu corpo e o hálito quente de Cade em sua barriga. Ele descia cada vez mais,

empurrando sua calcinha até que ficasse completamente nua. – Fique parada – instruiu, quando ela se contorceu de prazer. Ela tentava ficar parada, mas não era fácil com Cade abrindo suas pernas. Estava completamente exposta para ele. Era tudo tão deliciosamente perverso, e o mais excitante é que não sabia o que esperar. Ela soltou um gritinho quando algo lhe fez cócegas. – É uma pena? Cade permaneceu em silêncio enquanto continuava a provocá-la. – Eu quero mais. – Agora ele a estava carregando pelo salão de baile. – Para onde está me levando? – Ela afundou o

rosto no peito nu de Cade. Será que ele estava completamente nu? – Onde estamos? – Ela explorou com as mãos o lugar onde ele acabara de colocá-la. – Em uma chaise particularmente valiosa – respondeu Cade, juntando-se a ela. – Posso tocar você? Seu riso baixinho vibrou no silêncio. – Você pode fazer o que quiser comigo. – Tudo bem, vamos começar com isso... Ele suspirou. Era a vez de ela surpreendê-lo. – Tenho um ótimo professor – lembrou, apreciando a textura e o

tamanho de sua ereção. Cade se moveu e Liv suspirou decepcionada quando ele ficou fora de seu alcance, mas então ele estava ajoelhado na frente do sofá com as pernas dela sobre seus ombros. – É bom? – murmurou ele, fazendo uma pausa para respirar. Ela só conseguiu gemer, aprovando e advertindo para que ele não parasse. Ele puxou-a para cima dele. Movendo-se para montar nele, afundou devagar, em um ritmo que lhe agradasse. A sensação de ser preenchida aos poucos por Cade era especial, ele também achava, a julgar por seu gemido de prazer.

– Você é boa aluna – murmurou, aprovando, olhando para ela com seus olhos entreabertos. Foi a vez dela de dar instruções. – Eu quero mais, muito mais, quero tudo – insistiu ela, começando a se mover. Segurando suas nádegas, Cade ajudou-a a definir o ritmo, e quando se estabilizou usou uma das mãos para estimulá-la e a outra para segurá-la e guiá-la. Sua técnica era sensacional e logo deixou-a incapaz de retribuir. Descansando em cima dele, tudo o que conseguia fazer era respirar enquanto Cade trabalhava para aumentar seu prazer. Ele a embalava gentilmente,

fazendo com que só reagisse e sentisse, enquanto os quadris, a boca e as mãos dele faziam mágicas. – Estou com medo – gemeu Liv, quase chegando ao orgasmo. – Então, vou parar – ameaçou Cade. – Não se atreva! – respondeu. Cade riu baixinho enquanto aumentava o ritmo, mas diminuiu quanto percebeu que ela não o seguia mais. Mas estava perdida da melhor maneira possível. Ficou parada e ele se moveu novamente para penetrá-la fundo. Movia-se com ela, matando sua sede, movendo-a até que estivesse satisfeita, e enquanto ela gemia e soluçava,

implorava que não parasse. Abaixou-a lentamente, acariciando seu cabelo sedoso e beijando suas pálpebras até que se acalmasse. Quando ela se virou para olhá-lo, ele sentiu-se o homem mais sortudo do mundo. – Isso é tudo? – murmurou, quase incapaz de pronunciar as palavras de tão drogada pelo prazer. Ele deleitavase em seus lábios, perguntando-se se nunca se cansaria dela. – Fim da primeira lição. – Tem muitas lições ainda? Ela parecia tão preocupada que ele riu ao se soltar dela. – Você precisa de tempo para pensar no que aprendeu até agora...

Quando ele tirou a venda, ficou incrédula. – Você usou meu espanador como venda? Cade abriu um sorriso. – Como eu disse, você precisa pensar no que aprendeu, as coisas nem sempre são o que parecem. – Seu... – Cuidado – ele advertiu, distribuindo beijos em seu rosto – ou não chegamos à lição dois... Ela não ousou perguntar o que ele usou como pena. Uma teia de aranha, talvez? Liv se cobriu disfarçadamente quando Cade vestiu seu jeans. Pelo

menos a garrafa de champanhe no gelo era bem real. – Você não usou uma teia de aranha, não é? Ela precisava ter certeza, aranhas lhe causavam arrepios. – Teias de aranha? Por que eu faria isso? Um delicioso arrepio passou por ela. A mão de Cade era tão forte e bronzeada e ainda assim tão sensível. Seus talentos não tinham fim, ou seus sentimentos por ele? – Você está reclamando? – questionou ele, puxando-a mais para perto.

– Só por você ter parado. – Eles trocaram um olhar que fez o coração de Liv querer sair pela boca. – Quem disse que eu parei? – indagou Cade, fazendo Liv gritar de emoção enquanto ele a pegava no colo. – No piano de cauda? É sério? – Uma aluna com suas habilidades óbvias está pronta para a lição número dois. – Então estou me saindo bem? Ela ainda duvidava de si? – Mais do que bem – tranquilizou ele – Você ainda duvida? – Com você, não – confessou – porque... – Ela ficou vermelha. – Por quê? – perguntou ele.

– Porque eu confio em você. Foi um momento tranquilo e sério no meio de uma fantasia erótica. Sentimentos crescentes dentro dele o invadiram com pensamentos, até Liv lembrá-lo. – E a lição número dois? – Flexibilidade. Pronta para a próxima lição? Sua resposta foi um suspiro animado quando ele a penetrou fundo. O GUERREIRO e a donzela têm muito mais em comum do que suspeitavam, Liv pensou enquanto Cade tirava um fabuloso arranjo de flores do caminho deles.

Fechando os olhos, deixou o inebriante perfume das flores se misturar ao calor de Cade até se espalhar em sua mente como um embriagante feitiço de amor. Cade estava certo sobre a utilização de todos os sentidos, mas poderia tê-la avisado sobre a poderosa magia que duas pessoas poderiam gerar ao fazer amor. Ela podia sentir a energia pairando em volta deles como um halo de luz. Não se tratava de dar ou ter prazer, tratavase do encontro de duas almas. Ela estava cada vez mais apaixonada por ele, Liv percebeu, mas seria aquela a coisa mais distante na mente de Cade?

Teria ele só a intenção de lhe proporcionar bons momentos? – Ei, onde você está? – murmurou ele. – A salvo nos braços de um homem muito mau... – É isso? – Ele se divertiu um pouco, depois ficando sério. Ela queria mais do que tudo saber o que Cade pensava naquele momento. Enquanto ele acariciava seu rosto com uma das mãos, virou-se para beijar a outra. Segurando seu queixo, ele virou seu rosto para ele. – Você é única, Olivia Tate. – Certamente sou – concordou, tentando valorizar-se.

– Não, é sério – murmurou Cade, beijando-a. – Não importa por quanto tempo eu procurasse, eu nunca encontraria alguém que se compare a você, Liv. Fechando os olhos, sentiu a sintonia entre eles. O magnetismo de Cade a atraíra com uma força irresistível, não queria mais nada da vida naquele momento além de se deitar com ele e compartilhar do calor e vigor de seu corpo. – Eu o amo – sussurrou, contra sua pele almiscarada enquanto Cade a posicionava para o prazer, apesar de ele não ter ouvido, pois se movia

suavemente para dar a lição número três.

CAPÍTULO 12

BEIJANDO O

topo da cabeça de Liv, Cade pegou-a no colo. – Nós precisamos de um banho. – Longo e frio – sugeriu. Eles precisavam de algo para se acalmarem, não conseguiam tirar as mãos um do outro. – Depois da ducha fria, uma boa banheira quente.

Liv lançou-lhe um olhar de interrogação. Não acenderia o fogo deles novamente? Ela estava reclamando? Para ele, o olhar de Liv era um sinal de alerta. Ele não conseguia fugir da verdade. Ela estava apaixonada. Ele deveria saber que era jovem e impressionável. Ele vira sua confiança crescer e agora ia destruí-la? – Para onde está me levando? Ao falar, aconchegou-se nele. Ele a estava levando para cima. – Bem-vinda aos meus aposentos privados. – Ele empurrou a porta com

os ombros. – Como pode ver, ainda está em reformas. Ele tentou permanecer alegre e despreocupado, mas não foi fácil com Liv em seus braços fitando-o como se fosse um príncipe encantado. Ela estava no céu nos braços de Cade e adoraria dar uma olhada melhor ao redor, mas ele não quis ficar. Ela assimilou o que pôde. Sofás de couro confortáveis um em frente ao outro, sobre um lindo piso de madeira restaurada, e vários almofadões coloridos deixavam o lugar mais acolhedor ainda. Havia plantas enormes em vasos de planta gigantes, contrastando com as paredes lisas

marfim. O cheiro de madeira nova e o calor de Cade era uma mistura deliciosa. Não importava o quanto seu aposento era espetacular, nada poderia tê-la preparado para seu fabuloso banheiro. – Uau! – sussurrou. – Invasores entraram enquanto eu estava fora. Levaram tudo, deixaram o banheiro pelado. Era algo com que eu não havia contado, mas honestamente reformar Featherstone não estava em meus planos naquela época. Posso imaginar, pensou Liv, desviando o olhar das cicatrizes de Cade.

– E você precisava de um lugar para tomar banho quando voltasse. Ela não queria pressioná-lo pedindo explicações. Se ele quisesse, contaria em seu próprio tempo. Ele deu de ombros, desprezando todo o luxo ao redor. – Eu deixei os decoradores à vontade. Só pedi que mantivessem as características originais intactas. – O que fizeram muito bem – comentou Liv. E acrescentaram todas as conveniências conhecidas para um homem moderno. Até aquele momento não havia lhe ocorrido que Cade era um membro genuíno da aristocracia britânica. Aquilo não era um quartel

espartano, parecia mais um spa. As paredes eram de vidro escuro, exceto a do fundo, atrás do chuveiro, onde a cor mudava para um espetacular escarlate. Havia uma pia de pedra em uma das paredes que combinava perfeitamente com o piso de pedra, e talvez a característica mais incomum de todas fosse a iluminação. Era de fibra ótica que mudava de cor de acordo com o humor, naquele exato momento estavam ajustadas em um vermelho sutil, que combinava perfeitamente com seu sensual estado de espírito. Ela ficou desapontada quando Cade mudou-a para branco.

Liv notou que ele estava com espírito prático. Só ela sofria com a dor da separação? Ela observou-o ligar o chuveiro e regular a temperatura. Não conseguia parar de olhar quando ele tirou a camisa. Não conseguia se acostumar em ver como ele era forte e poderoso. – Venha – convidou ele, virando-se para fitá-la. – O que está olhando? O homem que eu amo, Liv pensou, desviando o olhar. Ele estava determinado a fazer um novo e eficiente recomeço e dar um fim àquelas aulas ridículas. – Não vai se juntar a mim? – perguntou ela roçando nele ao passar.

– Não diga nada – advertiu ele, suavemente. – Nem uma palavra. Ele só conseguia pensar em suavizar a expressão preocupada no rosto dela. Ele puxou-a para perto dele debaixo da água quente e sentiu-a relaxar. Ela ainda precisava daquilo. Tranquilizarse. Ele só prolongava a agonia dandolhe segurança. Era difícil manter-se firme quando a nuvem de vapor fazia com que Liv parecesse menor ainda e mais frágil do que nunca. Sua vulnerabilidade e o fato de que começava a confiar nele eram obstáculos que ele não sabia como evitar.

– Tome cuidado. – Estendeu a mão para segurá-la quando ela ficou na ponta dos pés para pegar o sabonete na prateleira. – Não quero que escorregue. Seu cuidado a encantava, mas era tarde demais para ser cuidadosa. Ela caíra em um mundo sensual e sonhador onde só eles existiam. Liv suspirou feliz e se apoiou em Cade quando ele começou a lavar seu cabelo. Era realmente excitante tê-lo para atender às suas necessidades e, levantando os braços de forma provocante, tirou o cabelo do rosto e jogou para trás. – Lição quatro? – Estendendo o braço para trás, abraçou-o, quanto ele

beijava sua nuca e brincava com seus seios. Ele adorava os gemidos de prazer dela e já estava acariciando seus mamilos... cheio de boas intenções! Ela sentiu o volume da ereção de Cade em suas costas, o que a deixou excitada, fazendo-a se contorcer. Ele o desejava, o queria naquele momento. Estava ansiosa para ser possuída por ele. Ela se curvou exibindo suas nádegas como um convite irrecusável. Ela precisava que ele a tocasse. Precisava que ele assumisse o controle de seu prazer, a instigasse, como só Cade sabia fazer.

Ele mergulhava rapidamente em um mundo erótico, onde não tinha o controle do que era certo a se fazer. Diminuiu a iluminação no chuveiro, e com o vapor fazendo uma sibilante trilha sonora, o desejo era irresistível, mas não havia pressa. Após lavar o cabelo de Liv, ele a ensaboou. Seus suspiros de prazer eram suficientes para ele, tudo mais estava no limite de sua consciência, dando-lhe uma fuga e um alívio do constante tormento. – Cade. Ele concentrou-se novamente em Liv. Beijando sua nuca, ele perguntouse se ela também estaria em seu mundo de sonhos e, então, beijou-a

novamente. Encostou-se nele até não haver mais nenhum espaço entre os dois. – Eu assusto? – perguntou ele, ao se separarem. Ele a vira olhando suas cicatrizes. Ela ficou em silêncio por alguns instantes, e então disse: – Não, Cade, você não me assusta, mas o que aconteceu a você, sim... – Não vamos falar nisso e estragar tudo – falou ele, friamente. Liv recuou com o tom de voz de Cade. Para fazer as pazes, ele acariciou os seios. – Eu adoro sua boca – sussurrou ela tentando distraí-lo dos pensamentos

sombrios. – Eu também adoro sua boca. – Me beije... – De novo? – Beije-me e esqueça... Ele sorriu ao ver sua ingenuidade. Ele queria que fosse tão fácil de esquecer quanto Liv achava que era. Como continuava a encará-lo, foi fácil beijá-la. Cade a beijou profundamente, não conseguia descrever o que sentia, algo tão forte e puro que só poderia estar feliz por ainda ser capaz de vivêlo. O calor de Liv e seu corpo flexível continuavam a minar seu autocontrole até que sua melhor parte teve bom senso. Quanto mais insistisse, mais ele

deveria resistir. Seus sentidos estavam completamente envolvidos, mas não seu coração e aquilo não era justo. Ele deu um passo para trás. Ela o seguiu, agarrada a ele, sua voz doce chamava o nome dele, envolvendo cada parte de Cade com a sensação. Ela não o deixaria sair. Seu lugar era com ele. Ela sentia as cicatrizes de Cade tanto na ponta dos dedos quanto no coração. Ele queria protegê-la dos horrores que o assombravam, mas quando pedira que fosse poupada da verdade? Ela poderia fazê-lo esquecer, a sede de libertação era de ambos. Segurando as nádegas dela com suas mãos fortes, Cade levantou-a,

ajudando-a a prender suas pernas em volta da cintura dele. – Não pare agora – implorou, quando ele fez uma pausa. – Cade, me segure bem forte. – Mas ele colocou-a no chão. – O que eu fiz de errado? – perguntou, desesperada. A culpa era dele, a dor na voz de Liv era seu castigo. Ele balançou a cabeça e negou-se a olhar para ela. – Saia do chuveiro, Liv. – Sua voz aumentara um tom e ele virou-lhe as costas. Um músculo saltou em seu rosto quando a porta do chuveiro bateu, e depois a do banheiro. Recompondo-se, ele tirou a água dos olhos. Pegou uma

toalha ao sair do chuveiro. Fizera a coisa certa. Liv achava que sexo era o destino, quando ele sabia que era apenas o começo da jornada. Ele ainda não estava preparado para ter um relacionamento com ninguém, e talvez nunca estivesse. Preocupava-se demais com Liv para levar adiante. Secando o cabelo de qualquer maneira, ele pegou uma blusa limpa no armário e vestiu. Colocou o cinto no jeans, calçou o tênis e saiu do quarto. Estava a caminho da sala de ginástica quando ouviu o barulho de água na banheira de hidromassagem no outro banheiro. Ele não conseguiu resistir e abriu uma fresta da porta. Precisava ter

certeza de que ela tinha tudo de que precisava, mas a verdadeira razão era que não suportava ficar longe dela. Apoiando-se na moldura da porta, ele chamou seu nome. Ela não podia ouvir com o barulho da água. Pensar na teimosia ao seguir com os planos deles o fez sorrir. Ele se afastou, fechando a porta silenciosamente e deixando-a em paz. Era o que ele deveria ter feito. Dissera tantas vezes para si que não era bom para Liv e que deveria se afastar... Tirando os sapatos, entrou descalço no banheiro. Achava que ela estava com raiva, mas em vez disso ela o olhou de modo compreensivo e a emoção o pegou de surpresa.

– Sinto muito, Liv... – Por quê? Em vez de julgá-lo, estendeu a mão para recebê-lo. Quando viu Cade, seu coração se encheu de emoção. Ela estava bastante aliviada que ele tivesse vindo vê-la. E um Cade nu, nunca deixava de tirar seu fôlego. Não havia um centímetro nele que não fosse bronzeado, rígido e definido mas mesmo assim ele estava completamente inconsciente de como era lindo. Até as cruéis cicatrizes faziam-no parecer mais humano, mais real e mais vulnerável aos olhos dela. Virando o rosto para o teto e fechando os olhos, ela afundou

devagar na espuma. Sabia do tormento na cabeça dele, queria facilitar e não piorar as coisas, mas não conseguia ficar parada por muito tempo, e logo estava dando pequenas olhadas para ver seus olhos fechados e boca apertada. Em que estaria pensando? Ela tentou concentrar-se em respirar normalmente e esquecer o quanto o desejava, mas ter Cade a seu lado era como ter um poderoso motor funcionando e estava ansiosa para acelerá-lo. Ela não resistiu por muito tempo à tentação. – Ei! – exclamou ele, passando a mão nos olhos quando ela o molhou. – Só verificando se você está acordado.

– E eu consigo dormir com você por perto? – Seu olhar sombrio a fulminava, então ela espirrou mais um pouco de água nele, gritando de emoção quando Cade mergulhou na banheira. – Você precisa de disciplina, mocinha. – Ah, sim, por favor – brincou, rindo de Cade, aliviada enquanto a tensão dele sumia e ele segurava seus braços. Não foi fácil agarrá-la toda coberta de espuma, mas foi um esforço agradável. Ele nunca havia brincado daquela maneira. Ela escapulia dele como uma graciosa foca, e foi divertido bater para lá e para cá até pegá-la em seus braços novamente.

– Prometa que vai ficar parada por um instante para não se machucar. – Qual é minha recompensa se eu concordar? – perguntou, olhando no fundo dos olhos dele. – Vou pegar leve com a disciplina – disse ele. Ela afastou-se dele. – Não tem graça. – E então começou a respingar água nele novamente. Ele ficou tentado a mostrar como podia ser divertido, mas se lembrou a tempo de suas boas intenções. – O que eu disse a você sobre provocar homens? – Você é diferente. – Está tão certa disso?

Sentada na água, ela encarou-o de igual para igual. – Estou absolutamente certa, ou eu não estaria aqui, nem você... Eles descansaram por um momento e então ele respingou água nela. Quando ele conseguiu pegá-la, já haviam inundado o banheiro e Liv gritava entusiasmada. – Ei, já chega – disse ele, pegando-a no colo para acalmá-la. Quando apoiou sua cabeça nos ombros dele, foi difícil não se sentir realizado, e quando ela levantou o olhar, ele beijou-a, no início gentilmente, provocando-a com os lábios fortes, depois de modo profundo e apaixonado, com toda sua alma.

Quando Cade largou-a e relaxou ao lado da banheira, ela tinha sua própria montanha de homem para brincar. Traçou o contorno de seus lábios com a ponta da língua, e quando ele virou a cabeça para trás, passou-a pela barba rala em seu pescoço. As orelhas foram as próximas, orelhas masculinas, fortes, firmes, bronzeadas e sedutores. – Você acha possível ficarmos intoxicados um pelo outro? – perguntou, quando Cade pegou-a de novo seus braços. – Estou só imaginando – disse, não querendo distraí-lo por muito tempo para que a beijasse novamente.

O corpo e a alma dele pegavam fogo. Sua racionalidade e todos os conselhos que ele mesmo dera para si se calaram quando ele beijou Liv. Será que teria problemas? Cade enrolou-a em toalhas e carregou-a para o quarto dele, que tinha uma decoração masculina, móveis simples e chão de madeira maciça. A cama era enorme e os lençóis, brancos e macios, o colchão parecia um peruano legítimo em tons sutis de terra. Ele retirou-o e deitou-a no colchão firme. Ela escapuliu para baixo do lençol de linho que cheirava a sabão de boa qualidade. Ela suspirou forte por antecipação quando Cade deixou cair a

toalha e juntou-se a ela na cama. Seu corpo era um convite ao pecado, e quando ele a puxou para perto, o encontro de seus corpos quentes com os lençóis frios era algo que nunca sentira antes. – Lição cinco – Cade brincou, sorrindo contra sua boca. – Qual vai ser? – Sexo na cama, para variar.

CAPÍTULO 13

CADE

afundou em Liv sem preliminares. Era algo que ambos precisavam. Moveram-se juntos como se já fossem amantes há muito tempo, dando e recebendo, em busca de reafirmação e libertação. Após atingir seu limite e matar o desejo dela, ele arrumou os travesseiros sob sua cabeça. Pegando-a nos braços, provocou-a acariciando sua boca com os lábios até SE

finalmente beijá-la com ternura, como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Traçando o contorno dos enormes ombros de Cade, Liv conheceu o caminho de seus músculos e cicatrizes. Tudo parecia perfeito aos olhos dela. Ele continuou a beijar todo seu corpo, parando em alguns pontos... sua nuca, seus braços cheirosos, e finalmente seus seios, que eram lindos. Volumosos e macios como pêssegos e abençoados com mamilos rosados, sempre sensíveis ao seu toque. Ele a acariciou até que implorasse por mais, se contorcendo por baixo dele como se não pudesse mais esperar.

Era difícil de acreditar que já tivessem desfrutado de tanto prazer e ainda desejassem mais. – Paciência – murmurou ele, quando se contorceu por debaixo dele. Ele queria que Liv sempre se lembrasse da experiência pelos motivos certos. Por incrível que pareça, estava em chamas novamente. Ela não fazia ideia de quantas zonas erógenas existiam em seu corpo até Cade mostrar. Ela nunca imaginara que mãos como as dele pudessem ser sensíveis e hábeis como as de um pianista. Cade era grande em vários aspectos e ainda assim tão sensível às suas necessidades. Livrando-se do lençol, ele

colocou um travesseiro por baixo dos quadris dela. Liv gemeu quando suas pernas naturalmente se separaram. Enquanto Cade se movia por cima dela, ela se deliciava observando seu corpo nu. Nunca se acostumaria a ter toda aquela força e poder à sua disposição, pois jamais teria oportunidade. Sentindo sua súbita tensão, Cade parou. Ela esticou o braço para acariciar seu peito e, lembrando-se da lição sobre os sentidos, fechou os olhos e se perdeu no sonho erótico. Cade a beijou na boca, e, quando ele a acariciou, o prazer cresceu até que finalmente ondas pulsantes de prazer se alojaram entre suas pernas.

Ele se afastou novamente. Sentandose, ele olhou para ela, exposta e sem nenhuma tentativa de se cobrir. Era como se todas as barreiras entre eles tivessem sido removidas. Esticando-se, Cade enfeitiçou-a com uma das mãos fazendo-a ficar boquiaberta e com os olhos vidrados de prazer. A necessidade de que ele acabasse logo era grande demais. – Relaxe – disse. – Vai ficar melhor ainda se você relaxar. Ela estava quase lá quando ele parou. – O que você está fazendo? – indagou, preocupada, enquanto ele mexia na conhecida gaveta da mesinha

de cabeceira. – Deixe que eu faço isso, eu quero. – Por que não me deixa ajudar você? – Cade sugeriu. – Não. – Ela afastou a mão dele. – Esqueceu que sou enfermeira? – Eu não me esqueci de nada que você contou. Uma onda de sensações tomou conta de Liv enquanto seus dedos ágeis completavam o trabalho. Ela não queria interpretar o que Cade dissera, mas isso não impediu que sua emoção fosse grande e ela suspirou. – Você está bem? – Estou ótima. – Ela descobrira que não era fácil estar apaixonada.

Liv percebeu, enquanto levantava o rosto para Cade beijá-la, que havia ido longe demais para voltar atrás. Seu coração, corpo, mente e alma estavam comprometidos com aquele homem. Ela esperara a vida inteira por isso, mas nada poderia tê-la preparado para a realidade, nem mesmo as lições de Cade, refletiu com tristeza. – Ei, não fique tão séria – advertiu ele –, isto é para se aprender com alegria. Ela relaxou. Enquanto durasse, não perderia um único minuto se lamentando. Aliviado ao sentir a mudança nela, Cade também melhorou seu humor e

começou a brincar, provocar e rir com ela, até que finalmente ela o segurou com as mãos em uma tentativa frustrada de controlá-lo. Seus dedos mal pegavam metade dele. – O que eu devo fazer com isso? – brincou com a boca na dele. – Tenho certeza de que vai pensar em algo – murmurou ele –, você sempre pensa, mas até lá... Liv gemeu, passando facilmente suas pernas por cima dos ombros de Cade. Ela estava completamente vulnerável, completamente exposta. Ainda assim quando ele passou a língua por ela, só conseguiu levantar ainda mais os quadris para encorajá-lo a continuar. O

calor da língua úmida e áspera se movendo com impressionante habilidade era bom demais, como viveria sem aquilo? – Ah, Cade, isso é bom demais... não pare, não pare nunca mais. – E então suas palavras se misturaram com gemidos sedentos de prazer. Ela queria Cade, naquela hora, não aguentava mais esperar. – Por favor – implorou quando ele parou para tomar fôlego. Não foi preciso dizer mais nada, Cade obedeceu ao seu comando. Viril e irresistível, ele a encarou firme enquanto ele a provocava com seu membro ereto. Ela gemia com expectativa, mas ele a fez esperar.

– Agora! – implorou coma voz rouca. – Preciso de você agora. Ela o estava usando, mas olhá-la lhe dava tanto prazer que ele não se importava. Sua intenção era desistir e ensinar a Liv uma lição diferente, mas era tarde demais, agora ele precisava ir até o fim. Agarrando-se aos quadris dele, movia-se ferozmente. – Devagar – murmurou ele, tomando o controle. Ela não conseguia falar nem pensar, era só desejo, amor e felicidade. Ela gemia no ritmo, agradecida enquanto Cade se movia bem fundo dentro dela. Ele a levou ao limite rapidamente,

trabalhando constantemente e com habilidade até que com um último forte impulso, ele a levou das trevas à tempestade cósmica com explosões de luz. Para ele, isso era bem mais do sexo. Ele se sentia tocado e privilegiado em ver Liv descansando as mãos por cima da cabeça, confiante e sensual. Ele assistiu à transformação dela em mulher em seus braços, e despertou sentimentos que ele nunca imaginara. Ele se sentia mais forte quando a abraçava e podia se afogar com o perfume de seu desejo. Ela o transformara em um romântico, algo que ele pensara ser impossível.

Tomaram banho juntos, entrelaçados. Havia uma urgência por beijos agora que sabiam que o tempo passava rápido e que logo o tempo deles, juntos, terminaria. – Não me deixe – pediu, aproximando-se dele. Jamais poderia ficar com ela, não da maneira dela. Ele se enganara por bastante tempo achando que poderia ser como todos, que merecia ser feliz, amar, e que poderia fazer os sentimentos durarem. Não se arriscaria, nem mesmo por Liv. – Cade... – Ela o segurou pelo pulso ao perceber que ele queria se afastar. Ela era tão teimosa quanto ele.

– Você precisa descansar – disse ele. Foi a maneira mais gentil que encontrou para deixá-la. LIV ESTAVA na cama de Cade imóvel e com o coração apertado. Não houve olhares prolongados, ele gentilmente se desvencilhou e saiu. Ele era como areia escorrendo entre seus dedos. As dúvidas que sempre tivera voltaram para assombrá-la. Ela amava Cade de verdade, mas para ele aquilo foi só um breve intervalo em sua vida e agora estava tudo acabado. ELA AINDA estava na disputa pelo trabalho? É claro que não! Era tão

maluca quanto estúpida? Liv tentou e fracassou ao tentar parar de pensar enquanto estava deitada em sua cama horrível no sótão. Precisava superar aquilo, tinha que esquecer Cade e seguir em frente com sua vida... Ele estaria no quarto dele olhando para o teto? O que faria agora? Contrataria outra empregada? Ele encontraria alguém com as qualificações adequadas para fazer o que era necessário? Pulando da cama, ela começou a caminhar. Cade deve estar dormindo profundamente. Ele tentara avisá-la em que estava se metendo, mas ela não escutou. Cruzando os braços sobre a

cabeça, tentou calar a verdade; não queria escutar. ELE TENTARA dormir, mas acabou andando de um lado para o outro no quarto. Depois perguntou-se aonde aquilo iria levá-lo. Jogando uma toalha nos ombros, foi descalço fazer ginástica. Um treino duro sempre o ajudava a esquecer... parou nos pés da escada do sótão, e então continuou caminhando. Liv merecia mais do que aquilo. Ele levaria adiante a proposta para acompanhá-lo no baile e depois a demitiria. Precisava pensar nela e deixála ir embora. Ele encontraria outra pessoa para prestar os serviços que suas

instalações tanto precisavam – outra enfermeira, alguém mais velho... não queria pensar naquilo agora. OLHANDO PARA a escuridão, Liv estava perdida em seus pensamentos. Pensara que as lições de amor resolveriam seus problemas, mas só pioraram. Alguém deveria tê-la avisado. Alguém avisou, e este alguém foi Cade. Ela sentou-se na cama, era esta sua vida agora? Sentia pena de seu futuro? Será que não podia encarar a experiência de outra maneira? Ela iniciara uma jornada de autoconhecimento e podia voltar para

casa novamente ou seguir em frente e ver isso como o ponto da virada, a hora de evoluir, de parar de sonhar acordada e enfrentar as consequências de seus atos. ELE NÃO poderia ter ficado mais surpreso ao topar com Liv após sua corrida na manhã seguinte. A névoa ainda estava baixa sobre a grama molhada de orvalho esperando que o sol a dissipasse. Ela estava voltando como ele, correndo, mas vindo da direção oposta. – Eu não esperava ver você de pé tão cedo. – Ele segurou a porta da cozinha para ela, tendo resolvido manter tudo o

mais normal possível entre eles. Ele confiava na palavra dela. Não podia arriscar ter qualquer problema antes do baile. – Quer tomar café? – perguntou ela, sorrindo como se estivesse tudo bem no mundo. – Ou primeiro prefere tomar banho? Por um momento, ele ficou surpreso. Mas não era isso o que ele queria da Liv profissional, rápida e pronta para trabalhar? Mas aquilo não impediu seu ego masculino de ficar ferido. Ela não deveria ao menos estar um pouco abatida? Sua consciência disse para ficar esperto. Isto era o que ele queria. Ele

desejava tudo de bom a Liv, com todo seu coração. – Suco de laranja? – Ele foi até a geladeira. – Vou espremer algumas. – Boa ideia, estou faminto, vou cozinhar, podemos tomar banho depois. – Vou tomar banho de banheira – lembrou ela, secamente. – A não ser que tenha consertado o chuveiro do meu banheiro durante a noite. Ele quase sorriu. Precisou se segurar. Qualquer um que escutasse acharia que eram veteranos na parceria da administração do lugar. – Eu vou consertar – prometeu.

– Mas não agora pela manhã – disse Liv –, temos muito que fazer antes do baile, e para o caso de você esquecer, eu prendi o número de um encanador no quadro de avisos... – Quadro de avisos? – E então ele viu, um enorme quadro de avisos de cortiça que ela havia pendurado na parede. – Você fez isso? – Seu kit de ferramentas estava na garagem servindo de casa para uma colônia de aranhas. Ele curvou os lábios murmurando uma reposta. Liv era cheias de surpresas. Ela o surpreendeu mais uma vez quando ele desceu do banho e encontrou-a pronta sair.

– Aonde você vai? – O coração dele disparou enquanto procurava por malas para ter certeza de que não estava indo embora. – Você quer que eu fique bonita hoje à noite, não quer? Cabeleireiro, manicure, pedicure – argumentou. – Eu pensei que sua beleza fosse natural. Ela virou o rosto de lado para conferir o visual dele. – Como sua barba? Era tão fácil um provocar o outro... – Você vai se lembrar de fazer a barba para hoje à noite, não vai, Cade? – Sim, querida...

Ele ganhou mais um olhar debochado de reprovação. Passou os dedos pela barba quando Liv saiu. Ótimo, era estratégica e organizada, ele não tinha dúvidas de que se sairia bem no baile. Era exatamente o que ele queria, não era? Ele praguejou alto quando ficou sozinho. QUANDO ELA entrou na sala naquela noite, fez com que ele perdesse o fôlego. Seu espírito vibrante instantaneamente encheu de luz a decadente sala de estar onde combinaram de se encontrar. Ele aquecera as mãos na lareira, tentando

imaginar como ficaria com um toque de maquiagem, cabelo arrumado e usando o vestido que lhe dera, mas quando entrou pela porta descobriu que sua imaginação não era lá grande coisa. Parecia uma peça de porcelana, valiosa demais para ser tocada, uma estatueta em tons de marfim, damasco e alaranjado, um tesouro para ser admirado a distância. Na suave luz do fogo, seu cabelo brilhava como ouro e seus olhos estavam vivos e atentos. – Você está ótima! – E você está incrível... E estava mesmo. Sempre o acharia incrível, qualquer que fosse a situação. Concordaram em se reunir ali para que

a equipe do exército, convidada para dar vida novamente a Featherstone, pudesse ter uma boa impressão da ocasião, e teve que sorrir ao ver Cade de cabelo cortado e barba feita, conforme pedira. Vestia o que dissera ser seu uniforme de gala, mas a explicação nem de longe a preparara para a realidade de ver Cade em toda sua elegância. O paletó azul-escuro tinha botões dourados na frente e a coroa e a estrela denotando sua patente de coronel estavam orgulhosamente exibidas em dragonas de fios dourados. O paletó tinha gola alta recortada revelando um colete de igual opulência e ficava atravessado no forte peitoral

com uma magnífica espada pendurada. Com sua visão periférica, via as coxas musculosas de Cade em evidência nas calças apertadas que ele contara serem conhecidas como jardineiras no jargão do exército. Feita sob medida, a bainha ficava presa sob as botas pretas, polidas como espelho, conhecidas botas de bagunça, outra brincadeira dos meninos, deduziu. Tudo nele tinha uma aura de comando, desde o brilho de suas esporas ao cassetete coberto com uma tampa de prata com a insígnia de seu regimento. A única ligeira falha era a sombra meio azulada de sua barba já se espalhando das bochechas ao queixo. Mas não havia nada que se

pudesse fazer com a testosterona dele. Agora deveria ignorar o guerreiro se quisesse ter alguma esperança de manter a mente clara e ajudar Cade a alcançar seu objetivo. – E então, o que você acha? – perguntou ele com ironia. Emoções mais complexas do que com as quais poderia lidar invadiram o coração de Liv. Medalhas brilhavam no peito de Cade sob a luz da lareira, um lembrete sombrio de que o esplendor de seu uniforme, bem como sua impecável apresentação como oficial da ativa. Era uma celebração à sobrevivência bem como um tributo aos seus colegas mortos.

– Minha intenção não era fazer você chorar – garantiu ele, secamente. – Não foi você, é que tem algo no meu olho. – Posso ajudar? – Não – disse, afastando-se. A última coisa que desejava era que Cade a tocasse. – Eu me viro. – Não somos um casal nada feio – observou enquanto ela se virava de costas para se recompor. – Nós disfarçamos bem – concordou Liv, tendo se refeito o bastante para se virar e encará-lo. – Você, certamente – murmurou Cade. Liv deu de ombros e depois sorriu. Eles se entreolharam como se

quisessem ter certeza de que tudo daria certo, até que Cade deu um sorriso irônico e a convidou: – Bem... vamos? Liv hesitou e então permitiu que ele a acompanhasse ao salão.

CAPÍTULO 14

CADE TINHA uma surpresa aguardando por Liv do lado de fora. Ele tirou um buquê de uma das cadeiras da entrada e ofereceu a ela. – Rosas cor-de-rosa... – Ela inalou com prazer o delicado perfume. Tão femininas, adorou. – Preciso prendê-las no seu vestido. – Ah... – Prefere que eu não faça isso?

– Não... – Ela olhou brevemente para Cade. – São lindas, tão antiquadas. Quero dizer, gostei muito. – Ele a deixava confusa demais. – Está me dizendo que o cavalheirismo já era? Ela sorriu nervosa. – É claro que não. – Não quando se tratava de Cade. Foi um toque adorável. Será que ele faria aquele tipo de coisa se fossem namorados de verdade? Não percebera que ele era romântico. A cada passo que davam em direção ao salão, Liv tomava mais ciência das flores. Amou e amava Cade e acima de tudo o fato de ele ter pensado em lhe

dar um presente. Sob seu toque, as pétalas pareciam frias e úmidas, e o seu perfume pairava no ar. Talvez fosse só um truque para fazer com que as pessoas acreditassem que era sua namorada, mas amou do mesmo jeito. – Talvez você ache o evento muito sério e formal – disse ele ao som de risadas e música se aproximando. – Talvez eu ache que tradições sejam importantes. O leve sorriso de Cade a aqueceu e ocorreu a Liv que não era a única ansiosa sobre a noite. Aquele projeto significava muito para ele, e era crucial que tudo corresse bem. Não era exagero

dizer que o sucesso do projeto dependia daquele evento. Foi a vez de Cade ficar surpreso ao Liv ser recebida pelo nome por seu recruta. Ele fez uma reverência quando abriu a porta dizendo: – Que bom vê-la novamente, srta. Tate. – Que bom vê-la novamente? – perguntou Cade, franzindo a testa para Liv quando ela lhe deu o braço. – Como meu recruta conhece você? – Estive com ele mais cedo. – Fazendo o quê? Ela não pôde deixar de ficar emocionada com o toque de

desconfiança na voz de Cade. Será que, talvez, ele estivesse com ciúmes? – Eu queria checar se estava tudo em ordem para esta noite – admitiu, vendo a expressão de Cade cada vez mais séria. – Eu contei uma pequena mentira. Disse que você havia me enviado para lhe fazer um relatório. Não fique zangado, eu precisava ter certeza de que tudo correria bem. – Ah, precisava? – Quando corou e desviou o olhar, fê-lo rir. Liv Tate era uma joia rara. – Obrigado – sussurrou ele em seu ouvido. Por que ficou surpreso com o que ela fizera? Sabia de sua coragem. E quando olhou o salão ao seu redor vendo sua

transformação soube que também era uma eficiente organizadora. Todos queriam dançar com Liv. Chegaria a vez dele? Teria que tomar uma providência caso nada mudasse. Pelo bem da gentileza, deveria ao menos dançar uma música com ela, era seu dever depois de tudo que fizera. Ele caminhava impaciente ao redor da pista de dança. Quanto tempo durava uma valsa? – Eu estava pedindo patrocínio para sua causa – disse ela, voltando sem fôlego para perto dele. – Pode acrescentar o general à sua lista. – Minha lista?

– Sua lista de patrocinadores. Não se preocupe – acrescentou ela, olhando o salão lotado ao seu redor. – Um a um, e eu chego lá. – Eu já percebi. – Cade? Cade – repetiu, mais alto desta vez, erguendo a sobrancelha. – Você não está com ciúmes, está? – É claro que não! – afirmou ele. É claro que não, pensou Liv. O homem de pedra tinha coração? Não, é claro que não, só ela cometia os erros do coração. – Então, você não vai dançar comigo? – indagou ela, olhando o rosto sério de Cade. Por um terrível instante, achou

que ele recusaria, mas então ele olhou para ela. – Seu cartão de dança já não está cheio? – Vou riscar alguém para dançar com você. – Ela se conteve, mas não por muito tempo. – Tudo bem, por você vou rasgá-lo. – A ideia dos cartões foi sua, não foi? – Isso mesmo, eu achei bonitinho. – Bonitinho? Ou algo antiquado do tempo de sua avó? Liv olhou para o buquê. – Tudo bem, agora estamos quites... vamos dançar? Deve ao menos parecer que estamos namorando. – Está convidando ou ordenando?

– Pedindo educadamente – disse ela, arregalando os olhos, brincando com ele. – Tenho que ficar ao lado direito do meu futuro chefe. – Não fique muito convencida, mocinha. Você ainda não conseguiu o emprego. Mas vou conseguir, Liv pensou, enquanto Cade a puxava para perto dele. Eu preciso. – Vou me certificar de que não consiga viver sem mim – disse ela. O que seria fácil demais, Cade percebeu ao sentir o calor de Liv através da farda. Dançar com ela era outra oportunidade de contrastar sua frieza e inflexibilidade com algo mais leve e

vulnerável. Não estava certo se gostava de como fazia com que se sentisse. Eles precisavam colocar uma música lenta justo agora? Quando ele fechou os olhos, o perfume de flores silvestres tomou conta dele, e ele sentiu cada parte do corpo de Liv colada nele. Bem que poderia estar nua. Ele abriu os olhos novamente. Não era hora de se perder em sensualidades, o que era muito fácil ao lado de Liv. Movendo-se com Cade ao ritmo lento da música, Liv parecia minúscula e feliz sob sua proteção. Apoiou o rosto em seu peito, e quando as pessoas sorriam em sinal de aprovação era

quase possível acreditar que eram um casal de verdade. – Eu não sabia que você dançava tão bem – sussurrou, fazendo-a se arrepiar com seu hálito quente e mentolado. – E eu não achava possível alguém se mexer com tanta habilidade usando botas com esporas – respondeu ela quando o ritmo da música acelerou. – Esporas? – Sim, esporas. – E logo flertava com ele, o ambiente era propício com candelabros brilhantes, champanhe, orquestra, roupas bonitas, oficiais fardados acompanhados por lindas mulheres usando vestidos longos, todos para lá e para cá na pista de dança.

Quem não queria flertar em uma noite assim? Cade cronometrara perfeitamente as músicas e logo estavam no meio da multidão ao som de uma valsa vienense. Devia saber que o senso de ritmo dele vinha sem o menor esforço. Ele precisava se sentir tão perfeito também? Não demorou muito para perceber o temor do coronel Cade. Ele era ídolo de todos apesar de fazer pouco de si. Até os velhos generais grisalhos haviam amolecido ao vê-la ao seu lado. Caso soubessem que, na verdade, era uma vadia sem vergonha que arrastara o herói deles para a cama,

não perderiam um minuto de seu tempo com ela. Liv pensou de forma sensata que tudo o que sabia sobre Cade dizia para que não confundir fantasia com realidade. Ele mantivera sua parte no acordo, e agora ela precisava garantir que a noite fosse um sucesso. TODOS O felicitaram por seu lindo par, uma menina charmosa. Estrela com brilho próprio, foi como os generais descreveram Liv. Foi, sem dúvida, a atração da noite, mas falhara no teste como empregada. Ele não podia contratar alguém que se sentia tão bem em seus braços ou que ficasse tão bem

de cor-de-rosa, uma cor tão insignificante. Ainda bem que havia várias nuances, salmão, fúcsia, rosa choque, cereja, pêssego... – Cade? Por que está gemendo? Está se sentindo bem? – Eu estou bem. – Ou pelo menos ficaria depois que enumerasse baixinho todas aquelas cores para se acalmar. Segurou Liv bem perto para o que seria sua terceira dança. Era impossível seguir quaisquer de suas decisões anteriores. Quando ela o fitou nos olhos, ele não queria ver mais nada, nem estar em nenhum outro lugar. Ele não conseguia tirar os olhos de Liv quando se afastou para continuar sua missão de dar o

braço a rudes generais e dizer-lhes como seria importante que o apoiassem. Parecia impossível, mas Liv fez ainda mais sucesso durante o jantar do que na pista de dança. Como sabia de tantos assuntos? Então, percebeu o verdadeiro interesse que tinha nas pessoas, fazendo-lhes perguntas, deixando mesmo o mais duro dos generais solto e compartilhando histórias com ela. Ele percebeu que sua propaganda foi recebida com enorme entusiasmo. Ela tomava cuidado com a bebida, tomando basicamente a água, para que pudesse continuar a campanha sem tropeços até a hora de ir embora.

Quando os discursos terminaram veio a surpresa final. A princípio, achou que ela tivesse saído de perto dele pelos motivos habituais, mas quase teve um ataque quando a viu subir no palco e pegar o microfone. Cade estava se levantando quando o general que estava ao lado de Liv segurou seu braço. Quando ela bateu no microfone para chamar a atenção de todos, ele pensou: o dentista que se dane, e rangeu os dentes com toda força. Esquecendo o general, colocaria um fim naquilo. Ele quase o fez, mas, quando sua companheira da mesa do outro lado, uma velha princesa de sangue real se

virou para cumprimentá-lo por sua jovem dama, foi forçado a sentar-se em silêncio e escutar: primeiro as maravilhas que ela dizia sobre Liv e depois o que Liv dizia sobre ele. Sentou-se de cara feia enquanto ouvia um relato completo de suas virtudes e da importância dos centros de reabilitação para soldados. Como se já não fosse o bastante, ela terminou pedindo a atenção de todos para as folhas que estavam sendo distribuídas. – É algum tipo de petição – informou-lhe a princesa, olhando por cima da armação de seus óculos de leitura. – Sua jovem dama pediu para lermos e assinarmos, caso concordemos.

Ele pegou sua cópia. Era uma petição para apoiar seu projeto, cujas cópias deveriam ser entregues no número 10 de Downing Street para Sua Majestade, a Rainha. Ele não podia culpar Liv por sonhar alto. Após assinar sua cópia com um floreio, a princesa avisou que era melhor que todos de sua mesa assinassem, senão, se veriam com ela. Ele olhou à sua volta. Todos assinavam. – Você fez um milagre, minha querida – disse a princesa para Liv quando ela retornou à mesa. – Ah, não, foi Cade quem fez – disse, sentando-se novamente em silêncio. Ela não o olhou, e ele não sabia o que dizer.

Pela primeira vez, ficou confuso. – Eu não sei como agradecer... – Não agradeça – sussurrou ela, discretamente, olhando-o nos olhos –, não diga nada. A lembrança de outra ocasião bem diferente, quando as mesmas palavras foram ditas e o significado delas para ambos, invadiu seus pensamentos, e Cade ficou aliviado quando ela se virou e ele teve a chance de se refazer. Liv se recusava a acreditar que Cade quisesse monopolizar sua atenção após o jantar. Seu humor havia melhorado e a música também. Os dias da mistura de realidade com fantasia estavam

terminados. Cumpriam os termos do acordo, nada mais. – Vamos lá fora? – sugeriu ele. Ela olhou na direção do lugar para onde alguns casais foram se refrescar. Portas envidraçadas levavam a uma varanda com vista para o jardim, e realmente era tentador, mas estava a salvo, não cederia aos encantos de Cade com tantas pessoas em volta. – Sim, eu gostaria. A quem tentava enganar? Liv pensou quando a luz da lua refletiu no rosto de Cade. Amava aquele homem, uma deliciosa mistura de alma perspicaz e vagabundo. Suas medalhas o tornaram conhecido como um guerreiro

embrutecido, mas ele era sensual. Queria se aproximar e tocar mais do que apenas seu rosto sério, como se seu toque pudesse desfazer seus conflitos internos. – Você sabia que é uma milagreira? Olhe o que fez hoje aqui... – Foi inspirado por você – recusavase a ficar com os créditos. – Ainda não acredito que todos assinaram a petição. – Todos assinaram – reafirmou Cade. – Depois que você conseguiu o apoio do general e da princesa, houve uma verdadeira avalanche de assinaturas. Ninguém queria ser deixado de fora dessa elite quando souberam que a petição ficaria diante do Primeiro-

Ministro e da Rainha. Não há dúvidas de que graças a você meu projeto vai se realizar. – Estou tão feliz por você, Cade. – Liv não cedeu ao impulso de fazer qualquer contato físico, sabendo que facilmente sua imaginação criaria asas com Cade segurando suas mãos, olhando em seus olhos, beijando sua mão, e tudo mais de que gostava. Estava cansada de fantasias. Trabalharia com Cade, caso a contratasse, porque acreditava em sua causa, em Cade e no bem que poderia fazer. Era o bastante, precisava ser o suficiente.

– Você está bem aquecida? – indagou ele enquanto o vento bagunçava seu cabelo. Ela respondeu à pergunta com um arrepio que não tinha nada a ver com a temperatura, e sim com o fato de a mão de Cade ter esbarrado em seu ombro ao ajustar sua echarpe. – Acho que não está bem protegida. – Ele virou-se para a porta. – Eu estou bem. – Ela colocou a mão no braço dele. Não tinha a intenção, mas ao retirá-la tão devagar seus sentimentos traíram-na. – Você também? – Eu também? – indagou Liv, tentando permanecer imune ao calor

dos olhos de Cade. – Nós sentimos a mesma coisa um em relação ao outro, não é? Então por que fingir? Ela respirou fundo quando ele puxou-a para perto. – Porque é preciso – disse ela se soltando. – Sabemos que isso não vai levar a lugar nenhum, Cade. Ele continuou lutando contra seus sentimentos, sabendo que nunca poderia fazê-la feliz, mas não queria perdê-la por nada nesse mundo. Ele poderia deixar seus demônios nas trevas se permitisse que o amor entrasse em sua vida.

Ela se esquivou quando ele tentou beijá-la, mas ele a trouxe de volta. – Não faça isso – pediu ele com carinho contra seu rosto – ou vai se tornar um hábito que você não vai conseguir mudar. Ela levantou o rosto para ver Cade sorrindo. Havia no olhar dele tudo o que sempre desejou: aconchego, humor, ternura, mas depois do que acontecera entre eles não se enganaria que aqueles sentimentos só estavam ali por seus esforços em nome dele naquela noite. – Não – murmurou, quando ela tentou se afastar novamente –, não vou deixar você sair.

– Cade... Interrompeu seus argumentos como só ele conseguia fazer: com um beijo tão intenso que ela poderia esquecer facilmente que tudo não passava de uma mentira. Quando a soltou, ela teve vontade de esmurrar seu peito e gritar: Por que está fazendo isso? Porém, não faria nada para estragar a noite dele ou chamar atenção. Naquele momento, assumira aquela expressão sombria que dizia que Cade havia se fechado dentro de si. No momento em que ele sentia uma conexão, algum sentimento, lutava contra como se existisse algo nas

profundezas de sua mente que o apavorava. – É melhor eu entrar – disse ela, com esperteza, não querendo deixar que nada ameaçasse o sucesso da noite. – Não posso ficar muito tempo longe da festa. Enquanto voltava para dentro, preparou-se para esquecer o que acabara de acontecer. Queria de Cade muito mais do que um beijo, mas ele não tinha nada mais a oferecer. Nunca faria parte do mundo de Cade porque era um mundo sem emoções. Deveria manter distância entre eles, pois não confiava em si para resistir. Quando seu

outro lado da alma chamasse deveria fingir-se de surda. Para onde iria?, Liv pensava, mordendo os lábios ao se encostar nas portas de vidro enquanto as pessoas dançavam em frente a ela. Exatamente como dissera a Cade lá fora, não podia simplesmente ir embora, precisava ficar até a noite terminar. Tinha que encontrar o recruta e pegar a pasta que deixara mais cedo com ele. Precisava passar nas mesas e recolher as petições assinadas... Ao menos, com Cade longe de suas vistas poderia escapar da atração que exercia sobre ela.

Não por muito tempo. Acabara de recolher a última petição quando o avistou. Sua vontade era correr e contar que ninguém deixara de assinar. Ele conseguiria construir seus centros de reabilitação, e Featherstone seria o primeiro. Como faria aquilo quando valorizava sua sanidade? Não demorou muito até ele vê-la. Ele observava o salão ao seu redor com expressão séria que sugeria que ninguém dava as costas a Cade Grant. Ele nunca parecera mais guerreiro ou mais másculo. Ou mais atraente? Pare bem aí, a consciência de Liv advertiu. Já bastava de fantasias. Estava mais para esposa suburbana do que

imaginara e já estava na hora de se acostumar com a ideia de que homens como Cade não eram para seu bico. – Ele deu o fora em você, não foi? – O quê? – Liv olhou sem compreender o lindo jovem oficial em frente a ela e então imaginou que ele vira seus olhares para Cade. – Você nunca vai domá-lo. Cade Grant é de uma raça diferente de pessoas como eu e você. Liv franziu a testa. – De uma raça diferente? – Que expressão terrível. Imaginou que seu rosto havia revelado como ficara chocada. – Com licença...

– Você vai se arrepender – o oficial avisou-lhe. – Você nunca vai conhecêlo de verdade, nenhum de nós conhece. Talvez, não, Liv pensou, caminhando pela multidão, mas não estava disponível no mercado. LIV TENTOU segurar a emoção até chegar à cozinha e fechar sua pesada porta. O jovem oficial estava certo, gostasse ou não. Cade nunca a amaria, era incapaz de amar. Ele evitava sentimentos como se fosse outro inimigo no campo de batalha. Não importava o que tentasse, nunca ficaria próxima a ele, fora ingênua o bastante para achar que fazer

amor com ele os aproximaria. Tivera esperança que aproximaria... Lágrimas brotavam de dentro de Liv dando lugar à frustração. O que adiantava se apaixonar por um homem que era incapaz de se emocionar? Tirando o lindo vestido que Cade lhe dera, deixou-o cair no chão e, com a frustração explodindo dentro dela, o chutou para o lado. Tirou os sapatos e jogou a bolsa no chão, brigada com o mundo, ou ao menos com a vida, até que se lembrou de repente das rosas. Minhas rosas... No chão as examinou e viu que sobreviveram. Suas lágrimas pingaram nas pétalas quando cuidadosamente as

soltou do vestido. Segurando-as com carinho, encheu a pia de água e as deixou flutuando. Ainda estava em pé de calcinha e sutiã quando ouviu passos se aproximando. Reconhecendo o caminhar determinado de Cade, correu para a escada dos fundos. Subiu correndo, bateu a porta do sótão e trancou a fechadura. – Liv, você está bem? – perguntou Cade, do pé da escada. – Liv, responda... Ela ficou nervosa quando ele começou a subir. Quando ele parou no patamar de sua porta, havia o silêncio da calmaria de antes da tempestade. Ele

deve ter visto o amontoado de roupas, seu sapato, sua bolsa, as rosas... – Liv? – Ele socou a porta. – Liv está tudo bem aí dentro? Você está passando mal? Dor de cotovelo contava? – Liv, fale comigo, abra a porta. – Não. – Por que não? Alguém disse alguma coisa a você? Alguém magoou você? O rosto do jovem oficial veio à sua cabeça, mas mal conseguia repetir. – Liv, abra essa porta para conversarmos cara a cara. E fraquejar? Pelo amor de Deus, para o bem de ambos não era melhor romper?

Enquanto Cade tentava convencê-la, encostou-se contra a parede. – Vá embora. – Liv – aumentou a voz –, você vai me contar o que aconteceu ou preciso derrubar a porta? Ela ainda pensava no assunto quando Cade entrou porta adentro. – Cade, seu... – Animal irracional? Se você queria alguém civilizado devia ter ficado em Acacia Drive, Liv. Por que fugiu de mim assim? – Porque... – Como poderia lhe dizer a verdade? Que o amava e para sempre amaria, e que o jovem oficial só confirmara seus receios de que Cade

não queria ter raízes ou o tipo de família com que sempre sonhara. Recusava-se a se ver trinta anos depois calmamente gerenciando a casa dele... ou pior, se ele se casasse, de se ver garantindo que as coisas corriam bem em Featherstone enquanto outra mulher criava os filhos dele... – Sua imaginação está se rebelando novamente, não é? – Não... – Ela corou com culpa. – Você ainda não tem confiança em si, não é, Liv? – Os ombros dele relaxaram. – Acho que eu não deveria estar surpreso. Você foi educada para manter a aparência, mas aqui dentro... – estendendo o braço ele tocou seu

peito com as pontas dos dedos – você está confusa. – Não estou não. Uma brisa carregaria sua autoconfiança. Não estava preparada para ouvir a verdade, não quando Cade falava com voz tão gentil e compreensiva. Não confiava em ficar perto dele nem mais um minuto nem queria que sentisse pena dela, mas que a amasse. – Não fuja de mim de novo – avisou ele quando ela tentou empurrá-lo para passar. Ela hesitou por um instante antes de procurar refúgio no banheiro, onde se trancou.

– Vou precisar destruir todas as portas desta casa até conversarmos? Não houve tempo para responder antes que outra porta viesse abaixo. Então ela se rendeu. – Você esqueceu como se abre uma porta? Ah, esqueci, cavernas não têm portas! Seu comentário o desmoronou. – Nada de portas, Liv – avisou ele, tentando não demonstrar raiva em seu olhar. Ela estava muito magoada para isso. – Por favor – pediu ele, segurandoa pelo braço quando caía. – Eu já tenho bastante trabalho de restauração a fazer, como pode ver. – Deixe-me ir, Cade, isto não é justo.

– O que não é justo? Não faz sentido, Liv. Liv? – Ele segurou-a com firmeza para que o encarasse. – Vai me dizer do que se trata? – Ele não suportava ver os olhos dela tão tristes e cheios de lágrimas. – Eu te amo. Ela falou com tanta raiva que ele custou a entender. – E isso é tão terrível assim? – É claro que é – disse. Como se ele não soubesse. – Explique. – Ele a segurou firme quando tentou fugir. – Eu quero uma vida tranquila, Cade.

– Uma vida tranquila? – Ele não conseguia ver Liv deprimida, voltada para dentro de si. – Minha mãe estava certa sobre mim. – Sua mãe? – Ele não conseguiu disfarçar seu tom de voz. – No fundo, eu sou uma patricinha. Ele começava a compreender. – Uma aproveitadora? – acrescentou ele, amavelmente. – Exatamente – respondeu, como se ele tivesse descoberto algo para concorrer com a teoria da relatividade de Einstein, e deu um breve olhar agradecido. – Obrigada por compreender e facilitar tudo para mim.

– Como assim? – Ele cerrou os dentes, era a última coisa que ele queria. – Como eu fiz isso? – Você me mostrou que não importa o que sentimos um pelo outro, obviamente estamos equivocados. Ele mostrou isso? Ele não desejava o melhor para Liv? Então seria melhor assim. No entanto, obviamente esperava ouvir alguma coisa, mas as palavras faltaram, então ele mexeu na barba esperando que algo lhe ocorresse. – Eu quero ajudar você com seu projeto – prosseguiu – e vou. Provavelmente serei uma ótima empregada em pouco tempo e ficarei

feliz em ajudá-lo a encontrar outra pessoa. – Outra pessoa? – Ele deve ter perdido alguma coisa. A que estava se referindo? Ele queria Liv e mais ninguém. – Alguém qualificado de verdade. – Eu escolho meus funcionários. – Talvez não fosse o melhor momento para se constatar o óbvio, mas nem com toda sua boa vontade ele estava pronto para aceitar que o estava deixando. – Agora eu vejo que deveria ter ficado com Horace. – Horace? – Ele coçou a cabeça. – Que inferno, quem é Horace?

– O homem com quem eu deveria estar casada. Sua coragem aumentou quando ele se lembrou do homem que abandonara no altar. – Não me diga, Horace era um agradável e seguro mauricinho? – Isso. Além do mais, talvez o tipo certo de homem para mim – disse, pensativa, o que a fez fazer mais uma careta. – E como você vai resolver isso? – Talvez eu o fizesse feliz se tivesse tentado mais. – É mesmo? – Enfiando as mãos no bolso de suas calças, ficaram ainda mais

justas na virilha. – Acho que é melhor você explicar aonde quer chegar. Alheia à crescente tensão de Cade, ficou mais confiante e se sentou na beirada da cama. – O que eu deveria estar procurando é um macho beta calmo e gentil – confidenciou. Ele relaxou. – O que foi? – perguntou, indignada quando ele começou a rir. – Você o mataria – disse ele, sem rodeios.

CAPÍTULO 15

ERA

a calmaria depois da tempestade, sua chance de falar. – Demolidor de casas! – exclamou Cade baixinho quando examinava o estrago na porta. Liv não conseguia acreditar nas paixões que os dois invocavam e ainda tinha certeza de que estava certa. – Eu devia ter ouvido as pessoas que me conhecem. COMO

– Eu conheço você. – Não, não conhece. – Ela balançou a cabeça. – Vamos analisar os fatos. Sei de sua paixão, e como é prática e organizada. Se os outros a conhecem tão bem, por que fizeram você acreditar que o único propósito de sua vida é ter um marido? Eles não conhecem você como eu conheço. – Você só me conheceu há duas semanas – ressaltou. – Tempo bastante para eu saber que seu coração é grande demais para viver uma vida entre o clube de golfe e o salão de beleza. Você tem muito mais a oferecer.

– Você não acredita nisso. – Eu só sei de uma coisa, sem nenhuma dúvida... – ficando na frente dela, Cade segurou seus braços. Ela ficou arrepiada em cada centímetro de seu corpo. – Não – disse ela, quando ele segurou mais forte, fazendo ser impossível pensar. – Ou você o quê? O que vai fazer, Liv? Pisar no meu pé de novo? Acho que agora você se arrepende de ter danificado seus sapatos de salto na parede. Estou certo? – Isso não tem graça, Cade... – Certo, é tudo uma farsa. Você é uma menina complexada e

problemática, determinada a seguir uma vida fútil que não combina com você. – Como pode ter certeza? – Liv ficou séria em uma tentativa de afastar os efeitos do sorriso sensual de Cade. – Eu tenho certeza. Confrontos são minha especialidade. Se existe algo em que sou bom, é em avaliar rapidamente pessoas e situações. Então ele beijou-a, preferindo não lhe dar chance de discutir. – Cade, isso não é justo... – Quem disse que eu jogo limpo? – Ele se afastou. – Aonde você vai? – Desculpe, eu disse que ia ficar?

– Cade. – Obrigado por sua companhia hoje, Liv. Você foi maravilhosa, sem sua ajuda eu nunca teria conseguido tanto sucesso para o meu projeto. Ela ainda se recuperava quando ele acrescentou: – Agora, eu vou descer para tomar um conhaque, e depois vou dormir. Você ainda quer falar alguma coisa comigo? – Absolutamente, nada. – Ela virouse suspirando. CADE TOMOU uma chuveirada, se enfiou em um jeans e em uma camiseta velha

e desbotada, antes de descer para tomar seu conhaque. Ele não queria beber, mas também não queria dormir. Hora de dar um tempo, ele refletiu, servindo uma dose generosa de seu melhor conhaque em uma taça de cristal. Estava cansado de brincar com Liv e de lutar contra suas perturbações interiores. A chave era manter distância dela, disse para si com firmeza, era bem simples. Ele já havia matado meio copo do líquido que queima a garganta quando a lenha estalou na lareira, lembrando-o de atiçar o fogo. De cócoras, certificou-se de que duraria a noite toda. Ele achava que aquele era o

tempo que ele gostaria de sua companhia. Quando as chamas surgiram, ele lembrou-se de Liv e seu instinto protetor veio à tona. Não fazia sentido mantê-la ali e oferecer-lhe um emprego, seria um tormento para os dois. Não era justo instigá-la quando ele não tinha nada a oferecer, mas não dar o emprego a ela lhe traria um problema maior. Nunca encontraria ninguém que se encaixasse tão bem no papel. Mas era a coisa certa a se fazer, ele concluiu. Ele tomara decisões difíceis no passado e esta não era diferente. Sua força o definia, era quem era e fez o que todos justificavelmente esperavam

dele. Seu calcanhar de Aquiles era a emoção e não permitiria que ninguém mexesse com ela, nem mesmo Liv. Seu breve flerte com a vida estava com deveria estar, morto e enterrado... – Cade... Ele sentiu um arrepio quando ouviu a voz de Liv. – Eu imaginei que ainda estivesse aqui embaixo. Eu também não consegui dormir. – Quer uma bebida? – Ele se levantou interessado em manter a paz, agora que estava clara em sua cabeça a decisão de terminar tudo, mas, quando se virou e a viu, percebeu que não seria tão fácil.

Ela estava linda e com ar inocente, sem maquiagem e de cabelo solto. Só os olhos mostravam seu cansaço e tensão, com olheiras os emoldurando... mas usava pijamas de algodão na cor que ultimamente era a favorita dele; rosa. – Não, obrigada – respondeu, indo aquecer as mãos na lareira. – Você não está sentindo frio naquele quarto, está? – Não, eu tenho cobertores. Ela tremia. Ele também não conseguia se aquecer. Achava que o gelo da rejeição se instalara em ambos. Quando seus olhares acidentalmente se encontraram, as promessas que fizera facilmente se evaporaram e ele precisou

caminhar pela sala para manter alguma distância entre eles. – Não – disse ele, bem alto –, eu não quero outra bebida. – E largou o copo. – Desculpe se interrompi. – Você não me interrompeu. – Desculpe pela porta. – Pelo estrago? Fui eu que causei, de qualquer forma precisavam ser trocadas. – Ainda assim, eu insisto que desconte o valor do reparo do meu salário. Ele reduziu-se ao tamanho de uma noz. Precisava dizer que não conseguira o emprego, seria justo.

– Você estava certo sobre a paixão também. Tenho um temperamento difícil, não é? Era uma característica que tinham em comum. – De qualquer forma, não é por isso que estou aqui. – Ah? – Fiz uma lista com nomes para você. Queria que estivesse armado e preparado para sua próxima reunião com os poderosos. Eu vou com você, se quiser, mas acho que nada pode dar errado. – Liv, eu preciso lhe dizer algo. – Não... – Seus olhos encheram-se de lágrimas. – Acho que eu já sei o que é.

Não precisa se sentir mal por não me contratar. Pode contratar uma agência de limpeza para ajudar com a casa, e existem milhares de enfermeiras maravilhosas que dariam tudo por uma chance de ajudá-lo com o centro. Nem precisam morar aqui, mas é melhor deixar o sótão preparado. Ainda o ajudava, estudando a melhor maneira de continuar seu projeto. Sem ela. – Preciso de mais do que uma enfermeira bem treinada. – Ele balançou a cabeça sabendo que era errado começar algo que ela já sabia como terminaria. – Liv, isso é mais

difícil do que eu pensei. Não quer se sentar? – Apontou para o sofá em vão. – Pare por aí, acabar com nosso acordo é fácil. Você só precisa dizer “desculpe, Liv não funcionou”, e eu vou embora, mas acho que não é o que você quer. Acho que quer me explicar por que eu preciso ir. Seria mais fácil se eu fosse embora agora, mas, antes disso, quero ajudá-lo. O silêncio tomou conta da sala, só interrompido pelo relógio em cima da lareira e a lenha estalando na lareira. – Você não pode ficar porque eu não tenho nada a oferecer. Você merece mais do que eu posso dar.

– E se eu não quiser nada mais? – Mordeu o lábio tentando conter as lágrimas. Aquele não era seu momento. Não se tratava de suas emoções ou sobre como se sentia. Dedicaria sua vida a ele, tratava-se da oportunidade de Cade ter uma vida, e para isso conteria suas lágrimas para sempre. – Desculpe que tenha que ser assim. – Não precisa ser assim. – Ela cruzou a sala e segurou firme no braço dele, sentindo a conexão entre eles. Era essencial que ele não se escondesse novamente no mundo que habitava. – Não faça isso, Cade, não tente suas táticas militares comigo, não vai funcionar.

– Tem que funcionar – insistiu. – Por quê? De que você tem medo? Ele soltou seu braço. – Você tem que ir embora. – E se eu não for? E se eu não for embora até descobrir o que incomoda você e o que posso fazer para consertar? Você está preso a mim, Cade. – Liv... – Eu não faço parte de seu exército e você não pode me mandar embora. – Você não pode consertar isso, por mais determinada que seja. Ela deixou as palavras dele soarem por um momento e, quando a última onda sonora desapareceu, ela disse suavemente:

– Me teste... – Seu rosto estava tão calmo que reprimiu as vozes que gritavam dentro dele. Afundando-se no sofá, ele escondeu o rosto nas mãos e implorou. – Por favor, Liv, me deixe agora, eu preciso ficar sozinho. – Cade, se quer que eu vá embora, tem que me dizer o porquê. Ela sentou-se ao lado dele. Ele a queria ali e também que fosse embora. O cheiro da guerra estava em sua mente e a necessidade de ter seu perfume inocente em suas narinas superava a necessidade de protegê-la da verdade.

– Perdi meu irmão. – Ele parou de falar. Olhou para a mãozinha que segurava a sua e sentiu Liv derramar sua força. – Na guerra? – sussurrou. – Foi, meu irmão Giles, na guerra – falou rápido para terminar logo. Ela apertou sua mão quando ouviu sobre levantar voo com o helicóptero e sobre os meninos que precisara deixar para trás. Mortos, seus homens disseram que os capturaram. Seu irmão e os outros estavam mortos. – Ah, Cade... – Eu forcei meus olhos até bem longe, além dos nossos pontos de encontro, sempre à procura, sempre.

– E com esperança, até hoje. – Como sabe disso? – Porque você nunca se despediu, nunca teve a chance de enterrar seu irmão, de beijá-lo e dizer tudo o que nunca teve a chance de dizer. A emoção tomou conta dele por um momento, mas ele se refez e sentou-se. Aquela não era sua tragédia, mas a de Giles e ele decepcionara seu irmão. – Eu não o salvei. – Você não pôde salvá-lo. – Eu nunca soube se ele estava vivo ou morto, e ainda não sei. – Seus homens garantiram, você não confia neles? – Eu o abandonei.

– Você salvou muitos. – Mas deixei Giles à sua própria sorte. – E as pessoas que salvou? Elas não contam? O tom incisivo foi para arrancá-lo do passado e conseguiu. – Mas você não vê o que eu fiz? – Eu vejo que se sente culpado e entendo por quê. Pergunte a si mesmo. – Soltando as mãos dele, segurou o rosto. – Algum de nós agiria com tanta bravura? Nós nos sentiríamos menos culpados que você se salvássemos tantas vidas, mas deixássemos o soldado que mais amávamos para trás? Você fez tudo que foi humanamente possível,

Cade, salvou o máximo de pessoas que pôde naquele dia. – Mas deixei meu irmão lá morto, talvez... Ficando feliz por Cade considerar pela primeira vez a possibilidade de seus homens estarem certos sobre Giles estar morto, Liv agarrou suas mãos para mantê-lo no lugar. – Mas você salvou o irmão de alguém, o filho de alguém. Seu irmão teria feito menos se tivesse em seu lugar? Você tentou, Cade. Você fez todo o possível que cada um de nós teria feito. – Abraçou-o quando o fogo estalou e a fumaça os envolveu de modo aconchegante, bem diferente do

fogo cruel dos campos de batalha. Só podia imaginar o quanto ele vira e sofrera. – É por isso que quero que vá embora. – Ah, Cade... estavam bem onde foram deixados? Ele balançou a cabeça de um lado ao outro devagar e ela sabia que não havia palavras para descrever como ele se sentia e tentou ajudá-lo. – Você sente um vazio, e ainda assim está cheio de tristeza e culpa. Ela se conteve, sabendo que não era o momento de demonstrar emoções. – Não existe nada dentro de mim além de sentimentos mórbidos que eu

não consigo me livrar. – Você está muito errado, Cade, consegue sim. – Você merece mais. – Eu mereço você. Havia tanta certeza em seu olhar que Cade ficou tentado a acreditar. Pegando as mãos dele, olhou nos seus olhos como se pudesse derramar sobre ele sua última gota de força e assegurou: – Você não vai se livrar de mim tão fácil, Cade Grant. Você não é vazio, não está desfigurado nem com cicatrizes por dentro ou por fora. Você é perfeito para mim.

Ele balançou a cabeça, mas deu um sorriso irônico. – Perfeito eu não sou. – Tudo bem, quase perfeito. Como ele queria que fosse fácil. Inquieto, levantou-se e caminhou. Alcançando a lareira, apoiou-se na pedra fria de costas para ela, observando as chamas e enxergando nelas seu futuro vazio. – Não consigo esquecer, Liv, nunca vou esquecer. – Então, não temos nenhuma chance? – A dor na voz de Cade partiu seu coração. Podia ver tudo claramente agora, por que ele estava tão distante, por que se sentia culpado e não se

permitiria se alegrar com nada nem um pouquinho, sem se arrepender depois. A tristeza e o sentimento de culpa por seu irmão nunca o deixariam. Mas ele estava jogando sua vida fora, que tipo de homenagem seria para Giles? – Você não tem que esquecer. É um direito. Lembre-se dos bons momentos de quando eram meninos, de seus arranhões, dos momentos sérios e dos não tão sérios também. Lembre-se de tudo, Cade. Você tem coragem para isso, não tem? – Coragem? – Haverá momentos em que você só vai querer fugir, ficar quieto e refletir. Todos entendem isso, eu entendo, mas

não se feche, Cade. Viva sua vida como seu irmão gostaria de viver. Não desperdice sua vida zombando de seu sacrifício. Viva uma vida que honre todos seus homens, incluindo Giles. Ele chorava, lágrimas silenciosas escorriam pelo rosto de pedra. Desta vez, não segurou suas mãos, era hora de deixar Cade com seus pensamentos. – Não me deixe. Ele não olhou para ela quando estendeu a mão. Ela segurou sua mão e ficou na frente dele. – Olhe para mim, Cade. Ele obedeceu.

– Nunca se envergonhe de seus sentimentos, celebre-os. Estamos vivos e temos sentimentos, o que há de errado nisso? A resposta de Cade foi puxá-la para perto dele. – Você é boa demais para mim. Fechando os olhos, sentiu a força, o perfume, a essência do homem que amava, até que Cade aos poucos relaxou o bastante para que voltassem ao sofá de mãos dadas, onde observaram o fogo em silêncio, perdidos em pensamentos, mas confortados por não estarem sozinhos.

CAPÍTULO 16

AS CORTINAS

balançaram e a luz da manhã atravessou-as, quando acordaram. Cade acariciava seu rosto, Liv sentiu, e foi o que a acordou. – Desculpe, eu devo ter dormido. – Você precisava, devia estar exausta, se empenhou muito no baile. – Ah, não foi nada. Você vai ter cãibras sentado assim metade da noite comigo roncando em cima de você.

– Não seria a primeira vez. – Eu não ronco. – Mas deve me achar macio... Os acontecimentos da noite anterior se derramaram no cérebro sonolento de Liv. – Eu não acho nada disso. Ou no seu mundo é normal as pessoas se desculparem por terem um coração? – É isso que eu tenho? – Acho que sim. – Posso dar a você, então? – Como assim? – Acho que você cuidaria dele melhor do que eu, então gostaria de dar a você para manter seguro, se quiser.

– Falar por entrelinhas não é com você, Cade. – Me apaixonar também não. – Você me ama? – Não fui claro? – Ah, Cade! – exclamou, suavemente. – Somos tão diferentes – disse ele, como se cavasse motivos para Liv mudar de ideia sobre ele. – Você é muito jovem. – E? – E eu preciso de você. – Cade, eu... – Prefere um marido, bom, seguro e descomplicado? Já falamos sobre isso.

– Eu ia dizer que o amo, mas você disse marido? – Não vai se fazer de difícil agora, vai? – Não entendi. – Entenda isso. – Ele calou-a com um beijo. – Acho que devemos oficializar nosso acordo. – É sério? – Sobre amar você? Sobre querer ser desafiado todos os dias? – É claro que não, entendo perfeitamente. – Liv, está na hora de deixar de ser tão compreensiva. – E o que você quer?

Cade cantarolava enquanto fingia pensar. – Eu quero viver com uma garota que me desafia cada minuto do dia? – Não imagino que você queira perder mais muitas portas... – Ou seria melhor procurar uma linda menina, quieta, de boa família, no clube de golfe? – Ele acariciou sua barba por fazer enquanto pensava. – Cade, você é impossível! – Ah, e você é a pessoa mais fácil do mundo para se conviver. Ninguém disse que seria fácil – disse ele, abraçando Liv. – Mas se você, algum dia, se tornar calma e previsível e sempre bem-

comportada, vou colocar você no colo, e... – E o quê? – Mando você embora daqui. – Você e o exército de quem? – Para isso, não preciso da ajuda da minha brigada. – Escapei por um triz – murmurou Liv. – Achei que fosse me deixar ir embora. – Eu devia ter deixado, mas agora que está comigo, o que faço com você? Ele quase desmaiou com a sugestão de Liv. TRÊS MESES depois, a cerimônia de inauguração do primeiro centro de

reabilitação Giles Grant transcorreu sem problema algum em Featherstone Hall, graças à organização impecável de Liv. Até sua mãe, com quem já se entendera, foi forçada a admitir que a propriedade era impressionante, apesar de a sra. Tate acrescentar que como estava tudo bem, Cade não tinha desculpas para não se casar com sua filha. – Eu não creio que ele ouse tentar escapar – disse Liv em uma voz calma apreciando o lindo anel de safiras e brilhantes que Cade lhe dera naquele dia. Era uma herança de família. – Bem, um anel de família não custou nada a ele, não é? – A mãe de

Liv comentou com amargura. Liv precisou esforçar-se muito para não trocar olhares com sua irmã. Sua mãe nunca mudaria, as duas aceitaram o fato. O melhor que podiam esperar era uma trégua. Quando sua mãe apressou-se para ir ao encontro de seu pai, Liv trocou um olhar tranquilizador com Cade, que estivera por perto caso precisasse. Ela podia ter-lhe dito que podia lidar com a situação. Seu amor lhe dera confiança para lidar com a maioria das situações, inclusive com sua mãe. Cade voltou para seu grupo aliviado. Ele não esquecera aquela visita à Acacia Drive e da expressão no rosto de Liv.

Havia coisas que ele guardava na memória por segurança. Aquele olhar no rosto dela era uma delas, ele nunca deixaria que se Liv sentisse assim novamente. Tinha muito a lhe agradecer. Era impossível descrever a sensação de liberdade. Ele estava totalmente engajado em seu projeto com a mulher que amava ao seu lado. O que mais poderia querer da vida? Liv provara que ele podia ter tudo, e ele retribuiria fazendo todos os dias dela desafiadores, excitantes e... – Aterrorizantes – dissera, sem rodeios um mês antes do casamento. – Eu não posso. – Eu sei que vai precisar de muita fé.

– No mínimo. – Mas tenho certeza de que está pronta para o desafio. Preciso saber, aceita ou não? – Como agora dormiam juntos na cama dele, agora deles, ele aprendera que a última coisa que queria na cama era discutir. – Então? O que vai ser? Em cima ou embaixo de mim? ELA OPTOU por baixo, como se ainda fosse virgem, mas agora se arrependera, já que isso significava saltar na frente. O último mês passou por sua cabeça enquanto esperava para pular do precipício. Estranho como a vida provocava isso em situações sem volta.

Liv e sua irmã Carly cuidaram juntas dos detalhes do casamento de Liv. Seria realizado em Featherstone, que fora totalmente restaurada, ficando melhor do que em seus tempos de glória. A cerimônia seria celebrada na pequena capela da propriedade pelo capelão do exército. Elas trouxeram junto a sra. Tate, após fazer um pacto para ignorar seus comentários ácidos, que aumentavam conforme o grande dia se aproximava. – Você tem tudo organizado menos como pretende chegar à capela – reclamou a sra. Tate. – Será que você tem segundas intenções? – acrescentou esperançosa, mas não convencida de

que a confiante Liv era alguém com quem podia lidar tão facilmente como antes. Elas acabavam de decidir as flores do casamento, e uma vez que Liv se resignara a escolher as cores e concordara em usar a florista de sua mãe, a sra. Tate pareceu determinada a resolver cada detalhe que faltava. – Liv ainda não decidiu se vai usar uma carruagem ou um carro vintage – Carly explicou. – Pode ser até que vá a pé para a capela. – A pé? Eu espero sinceramente que qualquer filha minha diga não à possibilidade de caminhar até seu próprio casamento! Foi ideia de Cade? – perguntou, ansiosa para colocar a

culpa de tal violação de etiqueta a alguém que não fosse da família. – Por que caminhar seria um problema? – perguntou Liv. – Chocaria o pessoal do clube de golfe? Carly teve que esconder o rosto quando sua mãe ficou mais melancólica. – Sabe, Horace ainda tem esperanças. – Horace. – Carly fez uma careta para Liv. – Imagino que ele possa sonhar. – Vocês duas podem rir. Mas, se querem saber, Horace ofereceu seu carro para o casamento, e é um sedã muito bonito. Olivia, se você pedisse, duvido que ele cobrasse pelo aluguel. Liv tentou não rir enquanto dizia:

– Mãe, eu garanto que a última maneira que vou chegar à capela será no sedã maravilhoso de Horace Heptinstall. – VOCÊ ESTÁ pronta? – Cade perguntou a Liv no dia do casamento. Para dizer a verdade, não deveriam se falar, muito menos se ver antes da cerimônia, mas em uma ocasião como aquela era inevitável. – Não... eu mudei de ideia. – Moviase ansiosa dentro do abraço de Cade. – Simplesmente não consigo. – Não consegue? – Estou com medo.

– Não há nada a temer, já fizemos tantas vezes. – Não assim! – Abraçou-o o mais forte que pôde. – Eu não posso. – Sim, você pode, não confia em mim? – Você sabe que eu... A cidade inteira ouviu os gritos de Liv. E então ela se recuperou o suficiente para abrir os olhos a ponto de se divertir. Muito. – ONDE ESTÁ esta aquela menina? – perguntou tensa a sra. Tate olhando o relógio pela enésima vez. – Todos se preocupam em chegar ao casamento no

horário, menos minha filha. Espero que não me decepcione pela segunda vez. Virando-se no banco, a sra. Tate lançou um olhar esperançoso para Horace, que acabara de chegar e fazia todos se levantarem do banco para conseguir o melhor lugar. – Pior, onde está Cade? – disse Carly, incapaz de resistir a uma maldade. – Quero dizer, não é o noivo que deve chegar antes da noiva? – É melhor você se preocupar com seu marido – rebateu a sra. Tate. – Gostaria de saber por que Lorenzo ainda está lá fora. – Contando vantagens, como todo machão latino.

Felizmente, Carly não teve tempo para o resto do discurso, Lorenzo acenava para ela da entrada da capela. Ao seu sinal, Carly tomou seu lugar no corredor. – Com licença a todos... posso ter um momento de atenção, por favor? Um silêncio preocupante tomou conta. – Acho que a noiva chegou. – Carly e seu marido deram um sorriso. – Então, se todos quiserem me seguir, Liv pediu que todos a recebessem lá fora... Cade estará lá também – avisou, quando um murmúrio de ansiedade se iniciou. Houve um estampido do lado de fora. Qualquer coisa fora do comum que

acontecesse em Branchester era uma desculpa para um drama, e o casamento de uma Tate havia obtido certa notoriedade... No momento em que Carly trouxe sua mãe para fora, os convidados especulavam. – O que pode estar acontecendo? – O sr. Tate, que aguardava com orgulho para escoltar sua segunda filha ao altar, perguntou, piscando para Carly. – Não precisa parecer tão feliz – a mãe das meninas disse de modo grosseiro. – Onde estão? É o que eu gostaria de saber. – A sra. Tate olhou para a rua.

– Tente olhar para cima, mãe – sugeriu Carly, começando a acenar freneticamente como todos. A sra. Tate engoliu em seco. A noiva estava de branco. Um macacão branco, precisamente. Para alívio de Liv, preso com segurança ao noivo. Cade fez um pouso perfeito, como se espera de um coronel da Real Força Aérea. Um capelão aterrissou logo depois. A cerimônia fora realizada durante um salto de paraquedas, e agora o capelão realizaria a bênção na capela. No momento em que Cade e Liv aterrissaram, Lorenzo e Carly esconderam o casal atrás de uma

grande cobertura branca, dando-lhes a oportunidade de trocar as alianças e talvez um beijo. – Eles nunca vão sair de lá? – reclamou a sra. Tate. Liv teve chance de tirar seu macacão e colocar o véu e uma saia rendada, não esquecendo os sapatos de cetim creme com saltos estratosféricos. – É melhor eu levar você até a igreja – disse Cade – ou vai afundar na grama com esses saltos. Houve uma calorosa saudação quando ele a pegou no colo. Cade estava com sua farda completa, que o recruta de regimento trouxera, e Liv achou seu marido magnífico.

Segurando o chapéu com uma das mãos e a neta mais velha com a outra, até a sra. Tate sorria quando correu atrás dos noivos. Bem, todos se divertiam, por que também não podia? Todos os convidados estavam em clima de festa e amando cada momento da surpresa. E verdade seja dita, a noiva estava particularmente corada. Durante a cerimônia, era como se todos os pensamentos amáveis ao longo dos séculos se reunissem para abençoar Liv e Cade na minúscula capela de Featherstone Hall. Os pensamentos felizes ecoavam por parentes e amigos que se reuniram para apoiá-los, bem

como os profissionais de saúde e homens em serviço que vieram para compartilhar seu sonho. Os votos de Liv para seu marido eram como as palavras de amor deveriam ser: – Amar e ser amado, a maior felicidade que existe – disse a Cade. Todos pegaram lenços quando o coronel Grant disse à sua esposa: – Na medida em que o amor cresce em você, sua beleza cresce, pois o amor é a beleza da alma. – Cade é romântico? – exclamou a sra. Tate, surpresa, olhando para seu marido. – É uma surpresa – concordou o sr. Tate, piscando para Carly.

– Você é pragmática, sra. Grant Featherstone Carew – murmurou Cade enquanto o padre lhe dizia para riso geral, que era hora novamente de beijar a noiva. – E você um romântico, Coronel Cade. Liv sussurrou, sabendo que encontrara seu par perfeito. – Eu não posso prometer uma vida segura e previsível comigo – Cade advertiu sussurrando nos lábios de Liv. – Por exemplo... – Por exemplo? – Ela suspirou pensando em todas as deliciosas possibilidades.

– Por exemplo, pretendo ensinar você a dirigir depois da lua de mel. – Neste caso, nossa lua de mel nunca vai ter fim... Cade calou Liv com um beijo e, quando a soltou, o padre pediu aplausos. – Aulas de direção – murmurou Cade, sorrindo. – Não com você. Se acha que em algum momento vou me deixar comandar por você... Liv arrepiou-se com a expressão de Cade, que prometia todo tipo de emoções uma vez que estivessem a sós. – Eu posso prometer seguramente uma greve geral.

– Excelente, eu esperava que dissesse isso. Antecipando sua reação à minha proposta, andei planejando algumas novas medidas disciplinares para controlar a situação. – Ah é? – É. – O coronel Grant garantiu à sua noiva ao descer do altar ao som de um hino empolgante. – Bem, primeiro deixe-me contar minhas novidades – disse ela ao chegarem à entrada. – Parece que todo trabalho incansável que você teve com minhas aulas, deu resultado. – Ah é? – É sim. – Liv pulava de alegria ao pegar as mãos de Cade. – Estamos

esperando alguns recrutas, Cade. Gêmeos. – Precisou ficar na ponta dos pés para contar o resto. – Duas meninas! O guerreiro fingiu gemer antes de cair na gargalhada. Pegando sua adorada esposa no colo, disse: – Você me fez o homem mais feliz do mundo, Liv Tate. – Amém – murmurou Liv.

AMANTE SEDUZIDA Lynne Graham Mikhail Kusnirovich, magnata russo do petróleo e temido homem de negócios, relaxou o corpo longo na cadeira de couro do escritório e olhou para seu melhor amigo, Luka Volkov, incrédulo. – É assim que você quer passar sua despedida de solteiro? Fazendo trilhas? É sério?

– Bom, a festa já aconteceu, e preciso dizer que foi um pouco demais para mim – confessou Luka, cujo rosto normalmente bem-humorado mostrou desagrado com a lembrança. De altura mediana e bastante robusto, Luka era professor universitário e autor aclamado de um livro recente de física quântica. – A culpa é do seu futuro cunhado – lembrou Mikhail, seco, pensando nas dançarinas eróticas contratadas por Peter Gregory para a ocasião, tão distantes da personalidade tímida do seu amigo que a chegada de um grupo de terroristas no meio da comemoração teria sido mais bem-vinda.

– Peter teve a melhor das intenções – afirmou Luka, saindo imediatamente em defesa do insuportável banqueiro. Mikhail ergueu as sobrancelhas e seu rosto moreno e esguio assumiu uma expressão sombria. – Mesmo que eu tenha dito que você não iria gostar? Luka enrubesceu. – Ele tenta, apenas não sabe como fazer, é isso. Mikhail não disse nada, porque pensava com amargura em como Luka havia mudado desde que ficara noivo de Suzie Gregory. Apesar de os dois homens terem pouco em comum, exceto a ascendência russa, eram

amigos desde que se conheceram na Universidade de Cambridge. Naquela época, Luka não teria problema algum em dizer que um homem grosso, chato e fanfarrão como Peter Gregory não merecia um minuto do seu tempo. Mas agora, Luka botava panos quentes e era subserviente às vontades da noiva. Mikhail cerrou os perfeitos dentes brancos, insatisfeito. Ele nunca se casaria. Como o macho alfa que era, jamais iria mudar sua personalidade para agradar a uma mulher. Só pensar nisso já dava arrepios em alguém criado por um homem cujo ditado favorito era “um frango não é um pássaro e uma mulher não é uma pessoa”. O falecido

Leonid Kusnirovich adorava repetir aquilo para irritar a refinada babá inglesa que contratara para cuidar do filho. Sexista, brutal e sempre insensível, Leonid horrorizara-se com o jeito delicado da babá, temendo que ela transformasse seu filho em um fraco. Mas, aos 30 anos, não havia um pingo de fraqueza nos 1,90m bem distribuídos de Mikhail, nem no seu desejo desmedido por sucesso ou no seu apetite por um amplo e variado cardápio de mulheres. – Você gostaria de Lake District... é um lugar lindo – declarou Luka.

Mikhail fez um esforço imenso para não aparentar a decepção que sentia. – Você quer fazer trilhas em Lake District? Achei que você estava pensando na Sibéria... – Não vou conseguir tirar tantos dias de folga, e não sei se estaria à altura do desafio – admitiu Luka, passando a mão na barriga levemente saliente, com alguma culpa. – Não estou tão em forma quanto você. Viagens para a Inglaterra na primavera e exercícios leves se encaixam mais no meu estilo de vida. Mas será que você conseguiria dispensar a limusine, o luxo e o seu exército de assessores por alguns dias?

Mikhail franziu a testa, não pela ideia de viver sem luxo, mas prevendo o trabalho de convencer sua equipe de que não iria precisar deles por dois dias inteiros. Ele não andava sem uma equipe de seguranças. Stas, o chefe da segurança, era quase excessivamente protetor, e cuidava de Mikhail desde que ele era criança. – Claro que consigo – respondeu, com sua firmeza natural. – E me privar um pouco dos meus luxos só pode me fazer bem. – Você vai ter de deixar sua coleção de celulares para trás, também – desafiou Luka. Mikhail ficou tenso.

– Mas por quê? – Perguntou, desanimado. – Você não vai parar com o trabalho se levar os celulares – apontou Luka, bem consciente do jeito workaholic do amigo. – Não gosto da ideia de ficar esperando no topo de uma montanha qualquer, congelando, enquanto você avalia preços de ações. Conheço você.

425 – LEIlÃO DE SONHOS – KATE HARDY Jack Goddard está obstinado a comprar a propriedade da família de Alicia Baresford – e levá-la para a cama como parte do acordo! Para ele, Alicia é apenas mais uma conquista. Mas ela fará este poderoso magnata mudar de ideia! 426 – VINGANÇA & LIBERDADE – MAYA BLAKE

O amor e o ódio se misturam quando Theo Pantelides conhece Inez, a filha de seu inimigo. Ele queria vingança acima de tudo. Ela, liberdade. Agora, ambos precisam decidir o que seguir: suas ambições ou seus corações. 428 – AMANTE seduzida – LYNNE GRAHAM Kat dedicou sua vida a cuidar das irmãs mais novas. Agora, estava desesperada e totalmente falida. Entretanto, a proposta de Mikhail Kusnirovich poderia transformar todos os seus sonhos em realidade. Ele pagaria todas as dividas dela em troca de um mês de puro prazer…

Últimos lançamentos: 424 – O CALOR DE SEUS BEIJOS – MAYA BLAKE

Próximos lançamentos: 429 – O DIREITO DO SHEIK – LYNNE GRAHAM 430 – UMA NOVA MULHER – CATHY WILLIAMS 431 – IMAGEM REAL – LYNNE GRAHAM 432 – UMA NOITE POR TODA A VIDA – MAISEY YATES

433 – DESAFIANDO O DESTINO – LYNNE GRAHAM

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

S855d Stephens, Susan Dona do coração [recurso eletrônico] / Susan Stephens; tradução Michelle Gehardt. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Harlequin, 2015. recurso digital Tradução de: Housekeeper at his beck and call Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-398-1744-3 (recurso eletrônico) 1. Romance americano. 2. Livros eletrônicos. I. Gehardt, Michelle. II.

Título. 15-19074

CDD: 813 CDU: 821.111(73)-3

PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: HOUSEKEEPER AT HIS BECK AND CALL Copyright © 2008 by Susan Stephens Originalmente publicado em 2008 por Mills & Boon Modern Heat

Projeto gráfico de capa: Nucleo i designers associados Arte-final de capa: Isabelle Paiva Produção do arquivo ePub: Ranna Studio Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4º andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: [email protected]

Capa Texto de capa Teaser Querida leitora Rosto Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12

Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Próximos lançamentos Créditos

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