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ATO V - "DEEP TULIP"

Se for comparar as pessoas desse mundo, eu posso dizer que eu sou de um tipo especial. Não muito especial, entretanto, existem algumas outras pessoas como eu. Elas não atingem seu potencial máximo, o que também não quer dizer que eu também atingi. E eu, ainda por cima, já tô muito velho pra ficar brincando de subir o nível do meu poder. Eu já contei que eu uso as seringas. Portanto, eu não bebo o suco de ossos. Portanto, a minha forma de manipular a Arcana é mais sutíl. Eu não posso gerar um incêndio com o estalar dos dedos, ou levantar os mortos, ou retorcer uma árvore com um conjunto de palavras ditas de forma estranha, ou assumir o corpo de uma outra pessoa com estímulos sensoriais. Todas essas coisas são incríveis, mas eu não sou especial o suficiente pra isso. O que eu fiz pra resolver isso foi aprender todo o resto que fosse possível. O Corvonato Amarelo me aceitou, então eu aprendi sobre o mundo à minha volta e como eu poderia me aproveitar dele. A Cabala Motriz me aceitou, e então eu aprendi sobre os mundos além desse, e como eu poderia tirar proveito disso, é claro. Os Cavaleiros de Baldwyn, o Monastério dos Mata-Magos e os Cavaleiros Neon me aceitaram, e então eu aprendi como enfrentar situações em que eu estava em desvantagem por falta de poder. Tudo o que eu podia fazer eu fiz, e saí de casa muito cedo pra atingir meus objetivos. Absorver todo o conhecimento que eu poderia. A maioria desse conhecimento era muito raso. Nesse mundo, você precisa se empenhar de verdade pra virar o mestre de alguma coisa. É ai que as amizades entram. Conheça as pessoas certas que as portas certas se abrem. De alguma forma, isso me levou à Run, a entrar na Legião dos Bravos e me fazer conhecer as melhores e mais bizarras pessoas desse mundo. Amila estava lá também. Não foi a primeira vez que eu vi um djinn, ou no caso mais

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específico, uma shiitan. A Cabala Motriz tem todo o tipo de gente, os Mata-Magos também. Alcaçuz sempre foi a mais bonita shiitan que eu vi desde sempre. Mas ela não é só bonita. Um dia vocês vão ter a oportunidade de vê-la em ação e vão entender. Ela era uma Hariqjaria, coisa que só shiitani mulheres podem ser, infelizmente. Não que eu pudesse aprender de qualquer forma. Utilizar o corpo, exalar perfumes do corpo, daí seu apelido, e enlouquecer os alvos. Amila foi a única Hariqjaria que conseguiu atordoar um observador que eu conheci. Ela diz que nem é a mais forte delas. Que está longe disso, aliás. Até hoje eu sinto vontade de conhecer essa organização. Eu disse tudo isso com um propósito. O de explicar o porquê de eu fazer o que estava prestes a fazer. Mas acho que isso é pular um pouco demais os acontecimentos. Da última vez que nos falamos, eu estava ao lado do meu amigo Bisão, indo conversar, com as mãos nos bolsos, com um de seus "associados". — Hoi, Bisão. Não me ferra, cara! Eu preciso pôr a comida na mesa das crianças. Eu até ficaria sem comer, você sabe. Mas agora eles já são quase vinte. Cada vez mais eu tenho que entrar nesse mundo lazarento que eu queria me afastar. É dívida atrás de dívida. Me dá umas moedas aí e tá tudo certo, beleza? Me arranja só o da comida das crianças... — Como está Jia Li, traste mal-acabado? — Ela é a wukong mais forte que eu já conheci, Bisão! Você sabe. Você viu ela. Não é mais uma gravidez que ia abalar aqueles quadris fartos. E ela continua em forma. Minha mulher é impressionante... Parece que o traste mal-acabado parou pra pensar um pouco. Eu ainda não tinha visto um wukong contemplando alguma coisa nos meus trinta e tantos anos de vida...

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— Mas ela acabou de ter mais uma wukongzinha agora. Tao Ling é o nome dessa agora. Ela tá um pouco debilitada do parto. Talvez eu precise de coisas especiais pra cuidar dela enquanto ela tá assim. — Que tipo de coisas, Syaoran? O wukong estava prestes a falar alguma coisa, mas o Bisão o interrompeu. — Eu vou te dar umas moedas, mas me conta aquilo que eu te perguntei, então. — Tá vendo aquela árvore ali? — Tô. — Você vai andar um pouco além dela e virar à direita. Essa rua é deserta demais para pessoas como nós, as pessoas que tem medo das coisas. Mas se você andar por ela e virar à direita de novo vai estar numa paisagem mais agradável... Nosso querido camarada Syaoran nos colocou em um bom lugar, devo admitir. Não sei se foi algum projeto do regente da cidade, um dia falo sobre ele, mas tinham algumas árvores nas encostas das ruas, que poderiam ajudar a acobertar pessoas em posições estratégicas, como a que a gente estava agora. Bisão e eu nos empertigamos em uma das construções que estavam de frente com o lugar da qual tanto procuramos. Um galpão. Não se parecia com um galpão qualquer, entretanto. As coisas em Deep Tulip, esse agrupamento de casas que nos encontrávamos, eram feitas para parecem outras. Usualmente, residências. Às vezes as construções pareciam aquelas residências que abrigavam várias pessoas de uma vez. O que eu só lembro de ter visto na Montanhese, pelo nome de repúblicas. Com certeza aquilo era um galpão, e o que quer que a nossa intuição estivesse querendo nos dizer, nós sentíamos

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que acertamos na cadeia de eventos, e o nosso próximo passo estava lá dentro. Ainda estava claro. Demoraria um pouco para escurecer, e Bisão e eu estávamos empertigados no telhado daquela casa vazia. Era um telhado reto, ao menos. Tinha uma muretinha, onde podíamos gozar de uma camada extra de proteção. Tomamos o cuidado necessário para que não fossemos avistados tanto pelos meliantes que estivessem dentro do galpão quanto pelas pessoas que poderiam nos observar da rua. Tinha um pequeno detalhe que era mais difícil de ocultar. — O seu cheiro, bobinho! Como eu ia me esquecer? Amila havia me derrubado no chão e enchido minhas bochechas e a minha testa de beijos. Não me orgulho em dizer que eu pensei coisas impróprias naquele momento, de várias formas. — Eu pedi pra você me esperar, que eu resolvia isso pra você, não é? — A sua cidade é muito chata, Penas! Eu precisava de um pouco de ação! — O coliseu... — Chato! — Você poderia ter ido apreciar as Ganjoku... — Somos melhores que as Ganjoku Shutsuensha. Não tem nada para ver ali. Amila não tinha saído de cima de mim ainda, e falava tudo aquilo com um sorriso contagiante no rosto. É impossível pra mim ganhar qualquer argumentação com ela. Totalmente injusto, como se eu me importasse! — Bem-vinda, Alcaçuz! — Cheguei!

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— Prazer em conhece-la, Amila. Meu nome é Jonz Porter! — Você é o amigo de infância do Penas? — O amigo? — O penas sempre pareceu uma criança solitária. E ele só falava de um tal de Bisão! — Então sou eu! Sua vida é triste, Aquile! — Por alguns momentos ela foi mesmo, não tenho como dizer o contrário! Mas, agora estou com meus dois melhores amigos, vejam vocês! E eles aparentemente estão se dando bem. — Isso vamos ver. Durante todo esse período, Amila estava com uma expressão inquisitiva, como se fosse aplicar um teste de trigonometria para o coitado do Jonz assim que ele tentasse abrir a boca pra falar. — Eu não me importo em competir, mas eu sei quando não tenho chances de ganhar. Pode ficar com o Aquile inteiro pra você. — Que negócio é esse? — Combinado. — Pera ai! Bisão sabia contornar seus problemas e sair com a solução mais pacífica possível. Talvez seja por isso que ele esteja na milícia. Estou juntando os pontos aqui. De qualquer jeito, Amila sempre trouxe com ela uma vivacidade revigorante, não importa em que ambiente estivesse. Cercada pelo céu negro de Velynian, desanuviado, onde era possível ver em toda sua beleza as quatro luas, as quatro quase cheias, Vorvusk sim, a única cheia, Amila contava histórias de antes e depois de fazer parte da Legião dos Bravos. Histórias sobre o Motriz, histórias sobre o Lâminas,

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sobre a Balas. Coisas que eu nunca soube sobre todos os outros. Talvez todos confiassem na Alcaçuz como eu confiei, durante aquele período. Não chegamos a perder nossa hora, mas a noite já tinha ido, por um bom tempo. Era quase meia-noite. Deixando aqui a nota de que Velynian gira apenas em torno de si mesma, e que existe a papa, que é o sangue dos deuses, conduzindo o mundo para a segurança do seio dos valardianos. Isso fazia com que as coisas fossem mais exatas, como um mundo com um criador deveria ser. O dia dura 20 horas, os momentos do dia são bem definidos, mudando um pouco no verão, onde se tem mais duas horas de dia, e no inverno com duas horas a mais de noite. Os valardianos são um tanto quanto detalhistas com o seu trabalho, eu presumo. Não havia vivalma na rua, até que no momento seguinte havia muitas. A informação que conseguimos com o fintroll infiltrado na Venganza estava correta e, aparentemente tinha acontecido novamente. Carroças se dirigiam para o galpão. Três delas. Amila e eu tínhamos uma habilidade muito boa que nos fazia conseguir cair com estilo, mas Bisão aparentemente não. Foi engraçado ver Amila o segurar pela cintura e descer com ele debaixo dos braços. Vou ceder dessa vez. Ele não soltou um pio, mas a cara de assombro e de confusão durante e depois, as duas foram impagáveis. Fomos em direção ao galpão, com a intenção de nos mesclar entre as carroças para entrar, até que avistamos a pele azulada da pessoa que abria a porta para que os veículos entrassem. — Elfos? — Jidjabi, Penas! — Esse não é o momento!

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Amila me deu um tapa no ombro, que não fez barulho algum e fez uma cara tão emburrada que eu não sabia se ela me perdoaria por tamanha atrocidade cometida. — Agora já temos as nossas certezas, pessoal! — Pode contar com isso, grandão! — Então a gente vai entrar, Penas? — Pode contar com isso, Alcaçuz!

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