Traduzido por Degmar Ribas 1ª Edição

Rio de Janeiro 2014

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Todos os direitos reservados. Copyright © 2014 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina. Título do original em inglês: The Lazarus Life David C. Cook, Colorado Springs, USA Primeira edição em inglês: 2008 Tradução: Degmar Ribas Preparação dos originais: Elaine Arsenio Capa: Wagner Francia ProMeto gri¿co e editoração: Fagner 0achado CDD: 248 - Vida Cristã ISBN: 978-85-263-1169-5 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário. Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373 Casa Publicadora das Assembleias de Deus Av. Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro – RJ CEP 21.852-002 1 edição: 0aio/2014 Tiragem: 4.000

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DETICATÓRIA

A Vida de Lázaro Obra dedicada a Lázaro de Betânia, século I d.C., Giotto di Bondone, século XIV d.C., e Dallas Willard, século XXI d.C.

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AGRADECIMENTOS

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screver um livro comum sobre um assunto tão extraordinário foi uma jornada incomparável para mim. Estimulante e exaustiva. Eu conhecia a história de Lázaro há muitos anos, como você tambpm conhece. 0as foi somente após folhear um livro de arte que vi, como pela primeira vez, mais do que nunca vira com a narrativa de João em seu Evangelho. Página após outra, o livro de arte revelava Lázaro saindo da sepultura. Artistas primitivos, medievais, renascentistas e modernos, todos tentaram registrar em tela o que João dizia em seu Evangelho. Cada pintura conta uma parte diferente da história, mas todas a¿rmam o mesmo: a vida de Lázaro p possível Juntos, as pinturas e o Evangelho compuseram um tipo de ¿lme para ver sempre que eu precisasse ou quisesse. Passei a verme nos quadros, especialmente naquele apresentado neste livro de Giotto di Bondone. Giotto é reconhecido como um pioneiro em sua arte, porque foi um dos primeiros pintores italianos a apresentar estados de ânimo, expressões e emoções em suas pinturas. É amplamente reconhecido como um elemento importante no movimento artístico renascentista italiano. No quadro que Giotto pintou sobre a história de Lázaro, alguns dos observadores têm auréolas, outros não. Uns fogem de Lázaro, outros o tocam. Alguns o adoram, outros duvidam. Lázaro está presente, é claro, mas quase morto, e completamente envolto nas bandagens terríveis da sepultura. É como se Giotto houvesse decidido colocar ali a cada

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um de nós — bem no meio da história — com Jesus e Lázaro, em um estágio singular de nossa jornada espiritual. Não creio que algum dia eu consiga conhecer tudo sobre Lázaro. Espero que você também não. Quando descobri algumas das noções que Lázaro nos oferece, comecei a proferir palestras, pregar sermões e usá-lo como ferramenta para ajudar pessoas a entender como acontece, realmente, a transformação. Os resultados foram, quase sempre, tão encorajadores, que percebi haver algo que deveria prestar atenção e desenvolver mais profundamente. Estou em dívida com cada artista que pintou e cada autor que já escreveu uma palavra sobre este assombroso homem chamado Lázaro. Cada um de vocês ajudou-me de maneira signi¿cativa. Tive o privilégio de trabalhar com várias editoras para decidir qual se adequaria mais à obra A Vida de Lázaro. Finalmente escolhi a David C. Cook para publicar este livro, e estou muito feliz por tê-lo feito. David C. Cook é uma editora de transformação e adotou o lema “Transformando Vidas”, que você verá na contracapa. Interessei-me particularmente pela David C. Cook em razão do seu compromisso com a igreja local — um lugar que, por toda a minha vida, tentei ajudar. 0eus mais profundos agradecimentos à equipe da David C. Cook por crer neste projeto e por me oferecer John Blase como editor, que surgiu com as palavras quando eu, temeroso, não soube continuar, e aprimorou as outras. Você sonhou comigo, e juntos vimos surgir entre nós mais que um livro. 0eus agradecimentos especiais a Elisa Fryling Stanford, que passou horas comigo desenvolvendo os capítulos, preenchendo lacunas e ampliando meu próprio entendimento de A Vida de Lázaro. Ambos reconhecemos que A Vida de Lázaro pareceu assumir uma vida que era maior, mais profunda e ampla do que palavras digitadas em um computador ou impressas em uma página. Talvez isso seja verdade Durante todo o período de escrita deste livro, estiveram ao meu lado amigos queridos que não apenas sabiam sobre transformação, mas que são, para mim, troféus de mudança. Entre eles, cito: Rick Campbell, John e Denise .apitan, Chuck e .im 0illsap, Sean e Kathy Buchanan, Lea e Susie Courtney, Russell e Kate Courtney, Jim e Renee Hughes, Frank Rudy, Bob e Sherry

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AGRADECIMENTOS

Sprotte, Jim e Leta Van 0eter, Scott e Beth Shaum, e Greg e
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SUMÁRIO Agradecimentos ..................................................................... 7 CAPÍTULO 1 Eu Sou Lázaro: Encontrando-se na História ......................... 13 CAPÍTULO 2 O Jesus que Parece Demorar: À Espera da sua Presença...... 25 CAPÍTULO 3 Preso na Sepultura: Quando a Vida Chega a um Beco sem Saída...................................................................................... 41 CAPÍTULO 4 A Voz do Amor: O Salvador o Chama pelo Nome ................ 57 CAPÍTULO 5 O Cheiro da Transformação: As Confusas Realidades da Transformação Espiritual ................................................. 77 CAPÍTULO 6 Saindo para a Vida: Decidindo Sair da Escuridão ................ 91 CAPÍTULO 7 Identi¿cando as 0ortalhas: Reconhecendo aquilo que o Prende........................................................................ 107 CAPÍTULO 8 Removendo as 0ortalhas: Aceitando a Ajuda de uma Comunidade de Amor ........................................................ 127 CAPÍTULO 9 Vivendo na Luz: O Poder da Transformação ...................... 141 CAPÍTULO 10 A Vida de Lázaro: Vivenciando a Transformação Vitalícia... 157 Notas....................................................................................... 169

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CAPÍTU ULO Eu Sou Lázaro: Encontrando-se na História

Estava, então, enfermo um certo Lázaro, de Betânia... — como narrou João, o discípulo amado, em João 11.1.

• Todos temos a alma enferma e necessitamos de transformação. • A transformação não resulta de merecer amor. Resulta de ser amado. • Somente Jesus oferece a vida que ansiamos. • A história de Lázaro é a história da vida cristã.

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u sou Lázaro. E acredito que você também. A história de Lázaro é a nossa história. Eu o convido a acompanhar-me nesta narrativa, e espero que você a considere sua, assim como eu dela me apropriei. É a história contínua de alguém passando por transformação. Alguém que precisa de um milagre para ser íntegro e perfeito. A Vida de Lázaro é a história do nosso anseio por uma transformação profunda e duradoura. Porém, é mais que isso — muito mais. É um convite à vida, mas você perceberá que este chamado é diferente de tudo o que já recebeu. Ao aceitarmos este convite, veremos Lázaro cada vez mais fraco e desesperado pela cura, pedindo-nos que avaliemos nossa própria condição espiritual. Quando todos os esforços de parentes e amigos falharem, e não conseguirem persuadir Jesus a aparecer e consertar a situação, seremos convidados a explorar os ressentimentos escondidos em nossos corações com respeito a um Jesus que nem sempre aparece a tempo — e com respeito à nossa própria comunidade de familiares e amigos bem-intencionados que frequentemente falham conosco. Quando Lázaro morre e é sepultado, surge um convite para que espiemos os lugares escuros de nossas vidas; os lugares escuros que nos conservam sepultados quando ansiamos por uma nova existência. Quando Lázaro ouve uma voz — não qualquer voz, mas a de Jesus — nós, também, podemos aprender a ouvir hoje a mesma voz quando ela nos chamar para virmos para fora. Quando Lázaro se “desenreda” de sua situação, podemos nos desenredar do nosso próprio estado, mesmo que seja um processo complicado. Lázaro sai da sepultura, envolto em bandagens, e examinamos as “ataduras” de nossas vidas: autorrejeição, medo, culpa, pecado, vergonha e desapontamento que nos impedem de ter o vigor espiritual renovado. E quando Lázaro, ressuscitado, sai para a sua nova vida, temos um vislumbre da vida à qual Jesus nos convida hoje — a perigosa, recompensadora, radical e poderosa vida transformada. A história de Lázaro é sobre anseios e progressos. É sobre expectativas não satisfeitas e desilusões com Deus. Sobre superação de obstáculos. Sobre enfrentar desapontamentos a ¿m de

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prosseguir. É sobre liberdade e vida. Sim, vida A vida que Jesus descreveu, ao dizer: “Eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância” Jo 10.10 . Talvez estejamos desiludidos com o ministério, o trabalho, a família, ou tudo isso. Quem sabe estejamos cansados de esperar que as circunstâncias nos transformem a existência. Quiçá nos encontremos enterrados em uma sepultura, esmagados pelo passado e pelo futuro. 0as Deus nos chama para que saiamos ao encontro de algo possível: a vida que jamais sonhamos.1

Procurando algo mais Não somos os primeiros a ser conduzidos à vida abundante por meio da história de Lázaro. Enterradas sob a irregular cidade de Roma há catacumbas escuras, o lugar em que foram sepultados os primeiros crentes. 0uitos desses primeiros cristãos foram perseguidos, aterrorizados e maltratados. 0as a história de Lázaro inspirou-os de tal modo que pessoas comuns — e não teólogos, sacerdotes ou papas — pintaram suas interpretações artísticas em afrescos que podemos ver ainda hoje. Na verdade, mais de sessenta interpretações da ressurreição de Lázaro podem ser encontradas, entalhadas e pintadas, nas paredes escuras dos túneis que levam às sepulturas. Essas antigas paredes de pedra calcária revelam imagens de Jesus Cristo diante de uma sepultura aberta, da qual emerge um homem envolto em bandagens, semelhante a uma múmia. Quando as famílias enlutadas naquele passado distante vinham a essas sepulturas, as pinturas lembravam a elas de que aquilo que acontecera a Lázaro poderia ocorrer com elas. A¿nal, as melhores histórias da vida — as que mais nos inspiram — são sobre homens e mulheres que anseiam o mesmo que nós. São histórias de pessoas que encontram algo ou alguém que lhes modi¿ca a trajetória da vida. A vida de Lázaro, um homem comum do século I, é este tipo de história. Inspirou pintores italianos da Renascença, como Giotto e Caravaggio a aplicar tintas de cores vivas sobre telas brancas e a mostrar-nos aquilo que meras palavras não conseguem transmitir. Em seus últimos anos de vida, o pintor holandês Vincent van

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Gogh identi¿cou-se de tal maneira com a história de Lázaro que pintou a sua própria face como o rosto transformado de Lázaro emergindo da sepultura. Atualmente, estou em um momento em que sinto praticamente o mesmo que van Gogh pode ter sentido. A vida ¿nalmente começa a acontecer. E não quero que ela volte a ser como antes. Quero viver a vida que Jesus deseja para mim. E você? Se ouvirmos falar de Lázaro hoje, normalmente será ao lado de uma sepultura recentemente aberta. O pastor lê as famosas palavras de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” Jo 11.25 . Essas palavras trazem consolação. 0as as palavras de Jesus nunca foram destinadas aos mortos. Elas são para os vivos — nós somos as pessoas que necessitam que a mensagem de Lázaro traga esperança às vidas cansadas. Nós somos os que precisam de transformação. A Vida de Lázaro nos oferece uma oportunidade para vivenciar aquilo que mais ansiamos. No princípio do livro de João, lemos sobre Jesus transformando água em vinho na celebração de um casamento. Ele transforma água. 0ais tarde, João mostra Jesus multiplicando pães e peixes para alimentar milhares de pessoas. Ele transforma pães e peixes. Estes milagres atraíam as pessoas a Deus. 0as quando chegamos a João 11, deixamos a água, os pães e os peixes para trás, e a transformação acontece em carne e sangue — a vida de uma pessoa comum, chamada Lázaro. Esta única vida nos emociona agora de tal maneira que desejamos que fosse a nossa.

Mais na vida Como Lázaro, você e eu sabemos o que é não ser transformado. • Não afetado pelo poder de Deus. • Inalterado pelas promessas de Jesus. • Impermeável como um pedaço de granito à obra penetrante do Espírito. É possível ter uma vida saudável — em que temos um trabalho, nos casamos com alguém a quem amamos, temos ¿lhos, enterramos nossos pais, e frequentamos a igreja de nossa esco-

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lha — e ainda perder aquilo que Jesus prometeu que poderíamos ter. Podemos chamar isso de uma vida saudável de silencioso desespero. A vida espiritual é, antes de mais nada, uma vida, ou não é vida alguma. É mais do que as emoções do amor, ódio, paixão e desejo, mais do que decidir racionalmente o que comer, onde dormir e em que crer. Sim, fomos criados por Deus para viver uma vida física, com olhos que creem, corações que batem e mãos que tocam. E, sim, fomos criados para ter uma vida emocional com paixões e desejos, e uma vida intelectual com o livre arbítrio. 0as muitos dos homens e mulheres que conheço e com quem trabalho a¿rmam sentir-se mais mortos que vivos, mais adormecidos que acordados, mais anestesiados que apaixonados. Por quê? Porque seguimos os ensinamentos de Jesus e silenciosamente perguntamos: “É isto? Esta é a vida de qual Jesus falou? Não há nada mais que isto”? Lázaro mostra o “mais” da vida de que você e eu temos sede. 0ais do que conhecemos agora, para que possamos viver antes de morrer. João Batista explicou da seguinte maneira: “Não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai, porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar ¿lhos a Abraão. E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo” Lc 3.8,9). A vida que Jesus descreve, na história de Lázaro, não é uma melhoria ao nosso padrão de vida. Não é um segredo a ser aprendido, nem uma fórmula a seguir.2 A vida espiritual oferecida por Jesus, que Paulo nos ensinou e a Igreja Primitiva vivenciou, é uma vida transformada. Uma mudança profunda na alma, no nosso DNA. Uma vida que vem somente de Jesus, que identi¿ca a si mesmo como a única vida de que necessitamos.

Doença da alma Não é preciso muito tempo para perceber que é verdade o que a Bíblia diz: Ninguém está isento de pecados.3 Ninguém escapa de ser doente na alma. A nossa doença parece repetir-se pelas páginas e capítulos de nossas vidas. E até segue um padrão previsível: fazemos resoluções e promessas a Deus e tentamos mudar,

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mas sofremos recaídas. Damos dois passos à frente, mas um passo atrás quase sempre nos mata. Conseguimos reunir energias para romper um vício, para nos livrarmos de um hábito autodestrutivo, para não estarmos sempre “tão irados, com tanto excesso de peso, tão ansiosos, tão duvidosos, tão obsessivos, tão egoístas” ou o que quer que seja sempre haverá algo, não? que traz doença às nossas almas e nos desespera. Isto é o que Dallas Willard chama de “administração do pecado” — quando usamos os nossos esforços para tentar controlar o pecado, e não lidamos com ele de uma vez por todas. Um pouco de sexo cibernético não é tão mau como ser um viciado, não é mesmo? Um pouco de culpa, um pouco de raiva, um pouco de inveja é melhor do que uma vida consumida por isso, certo? Tentamos administrar o nosso coração, mente, alma e forças da melhor maneira possível. No entanto, o tempo todo a vida que Jesus nos prometeu parece além do nosso alcance. A alegria e a paixão que Deus designou para nós é como o pote de biscoitos que nunca seremos altos o su¿ciente para alcançar. Será que não estamos cansados de mudar apenas o su¿ciente para sobreviver? A mudança de fora para dentro pode parecer boa na igreja aos domingos, mas nos deixa vazios e inquietos durante os seis outros dias da semana.4 A pseudo transformação não toca as doenças mais profundas da alma. Não nos leva além das questões, dos problemas e dos pecados que nos impedem de experimentar a vida que Jesus prometeu.5 A pseudo transformação deixa-nos doentes porque não queremos realmente mudar, e temos de viver com os resíduos da culpa e da vergonha em virtude de nossos repetidos esforços para endireitar a vida. Uma vida fora da sepultura é o que desejamos. A vida real. A vida autêntica. A vida abundante que Jesus promete. A história de Lázaro oferece-nos a oportunidade de explorar como realmente acontece a transformação — às vezes nas áreas em que menos esperamos.

O olhar de cereal Havia um menino que tomava o café da manhã com o pai todos os dias. Sentava-se à mesa ansiando por um momento substancial com este homem, chamado papai. 0as em vez de conver-

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sar ou contar piadas, ou mesmo “o que há para comer hoje?”, ele sempre servia o mesmo prato: o “olhar de cereal”. O olhar de cereal. O olhar que tomava conta dos olhos do pai enquanto a sua mente vagava em outro país — um lugar de prazos no trabalho, problemas com um colega, uma crise que reivindicava a sua mente e o seu coração, possivelmente até mesmo esperanças e sonhos não concretizados. O pai assentava-se com este olhar enquanto o menino continuava olhando, sempre mantido a distância, e nunca convidado a esta terra distante. O pai mastigava seus cereais, e o menino mastigava os dele. O mais próximo que ¿cavam um do outro era quando levavam as tigelas vazias até a pia da cozinha. O pai então ia trabalhar, fazer coisas que não podia fazer em casa, ou não fazia. O Pontiac branco se afastava, deixando o menino em meio à poeira, incapaz de ver seu verdadeiro caminho. Comecei este capítulo dizendo “Eu sou Lázaro”. E sou. Certa vez, no entanto, Lázaro foi um menino. Também fui. Os cereais eram reais. E o menino era real. E também o pai. É difícil escrever estas palavras, pois a minha intenção não é culpar ninguém, mas testemunhar. 0uitos dos homens da geração do meu pai eram emocionalmente distantes. Achavam difícil dar o que nunca haviam recebido. Era assim para o meu pai. Eu o entendo. 0eu pai sustentava bem a família. Sempre tínhamos pão à mesa. 0as o homem não vive apenas de pão. Nem os meninos. E o menino com um coração faminto cresceu, e tornou-se um homem com uma doença na alma — eu. Não consigo sequer lembrar-me de haver ouvido de meu pai as palavras de que mais necessitava e desejava: “Amo você, Steve”. Eu tive de supor isso. Tive de imaginar, adivinhar ou supor que era amado e digno de ser amado. Durante os capítulos da minha vida, este mesmo tema, a necessidade de ouvir que era amado, aceito e validado, emergia e levantava a cabeça como um dragão. Combatia e feria o dragão momentaneamente, mas a fera recusava-se a morrer. A minha doença da alma penetrava em cada emprego que eu arranjava, em cada amizade que desenvolvia e em cada pessoa que eu tocava, até mesmo minha esposa e ¿lhos. Encontrava-me costumeiramente distante, capturado em um olhar próprio. O sucesso de Harry Chapin de 1974, “Cat’s in the Cradle”, tornou-se completamente

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verdadeiro para mim: eu havia crescido para ser exatamente como papai.

Quando o amor é negado Os psicólogos nos dizem que o amor próprio é adquirido na vida, ou não existe. Ninguém nasce com ele. Quando crianças, esperamos que nossos pais deem aos nossos corações aquilo de que eles tão desesperadamente precisam. Nestes primeiros anos, as coisas podem dar maravilhosamente certo, e esta também é a época da vida em que as coisas podem dar dolorosamente errado. Quando o amor é negado, o coração não prospera. A vida sem amor não tem signi¿cado, exceto fazer coisas, desempenhar, produzir e realizar. Quando a a¿rmação, a aceitação e o valor próprio são negados, ou não conseguem crescer dentro de nós, ¿camos com lacunas e temos de preenchê-las com algo. Desde cedo, aprendemos palavras de adultos, como: Realizar. Prosperar. Adquirir. Conquistar. Foi exatamente o que ¿z. Aprendi a ser amado fazendo, desempenhando e alcançando. Tornei-me um empreendedor para que pudesse ir a qualquer lugar — qualquer lugar onde me sentisse amado. Vendi o maior número de ingressos para o churrasco da escola, e fui recompensado. Tornei-me engraçado para que gostassem de mim. Tornei-me responsável para ser respeitável. 0ereci o amor dos outros, e tentei merecer o amor de Deus. Eu vivia na terra dos “se-então”: Se eu for bom, então... Se eu me comprometer, então... Se eu for à igreja várias vezes na semana, então... Quanto mais eu fazia estas coisas, mais celebrado e valorizado sentia-me. As pessoas aplaudiam quando eu citava as Escrituras. Homens apertavam a minha mão, e mulheres produziam sorrisos com olhos cheios de lágrimas quando eu lhes dizia, aos cinco

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anos de idade: “Vou ser um missionário na China”. Naqueles anos, como muitas pessoas, aprendi a viver duas histórias: Uma era pública, e a outra, muito particular — reservada apenas aos que eu sentia que me entenderiam. Estas histórias particulares são onde a obra da transformação é tão desesperadamente necessária. Em público, aprendi o sistema, e deu certo. Para ser amado, precisava fazer as coisas certas, agir corretamente e realizar grandes tarefas. Um rapaz ou uma jovem pode fazer isso razoavelmente bem, durante várias décadas, e foi exatamente o que ¿z... coisas extraordinárias para conseguir aprovação e aceitação. Coloquei todos os meus troféus, empregos e realizações nas lacunas de minha alma. 0as a dor não cessava. 0eu coração sabia que havia algo errado. Todas as minhas realizações não preenchiam um coração necessitado de amor — apenas amor. Nos relacionamentos íntimos, no trabalho exigente e nos anseios interiores, a minha doença da alma reaparecia. Percorri uma longa estrada para descobrir que nenhum homem como amigo, nenhuma mulher como amante ou nenhuma vocação signi¿cativa podiam oferecer-me o que Jesus proporcionou a Lázaro: a vida. A história de Lázaro convida-nos à verdade de que a transformação não começa merecendo o amor. A transformação não depende dos nossos esforços para acontecer. Ela começa quando você é amado. Foi o que aconteceu a Lázaro. A carne e o sangue nunca poderão transmitir este tipo profundo de amor aos nossos corações. Somente a Voz do Amor o fará. Apenas o amor transforma. Não o poder. Não a coerção. Não os programas. Não as dicas e técnicas. Somente o amor; e somente o amor de Deus.

Toda alma precisa de cura As suas preocupações e a sua doença na alma podem não ser as mesmas que as minhas, mas alguma coisa está trazendo-lhe ao íntimo uma doença — um anseio por algo diferente da vida que tem vivido até agora. Qual é a doença da sua alma? As lacunas? O que está acontecendo, que faz com que você deseje poder mudar? Lázaro signi¿ca “aquele a quem Deus ajuda”. Precisamos da ajuda de Deus, como Lázaro precisou. Quando nos encontramos

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doentes e cansados de estar doentes e cansados, somente a ajuda de Deus nos servirá. O mesmo ar que inÀou os pulmões vazios de Lázaro e o trouxe de volta à vida pode ser soprado em você e em mim. A mesma enfermidade — a doença de pensar que podemos merecer o amor de Deus — que traz a morte tem uma resposta em Jesus. Este Lázaro tão coberto de bandagens e mumi¿cado emerge com a única coisa que importa — a única coisa que realmente tem valor. A vida, pura, livre, irrestrita e ressuscitada, é ¿nalmente sua. E, como eu acredito que todos somos Lázaros, também pode ser nossa.

Jesus fez mais do que declarar um fato A Bíblia está cheia de narrativas como a de Lázaro; histórias que vão muito além da exposição de fatos. Elas nos confrontam com uma verdade que envolve a mente enquanto penetra a alma. Não simplesmente a verdade — a verdade transformadora. A verdade que nos abrirá os corações e preparará as mentes para entender os mistérios da vida espiritual. Com a história, podemos entrar no drama do que está sendo narrado. Os nossos sentidos estão engajados; podemos tocar, ouvir, ver, cheirar e provar tudo o que os fatos não conseguem transmitir. Com o uso magistral que Jesus faz da metáfora, nós nos tornamos o ¿lho pródigo, o solo rochoso, o pastor que busca a ovelha desgarrada em perigo. Uma boa história oferece uma janela pela qual espiamos o que nunca teríamos descoberto sozinhos. Uma boa história acende algo dentro de nós que não pode ser ignorado e nunca será esquecido. Uma boa história nos informa. E nos modi¿ca. Assim, quando entrar na história de Lázaro, coloque-se no Oriente 0édio, na aldeia de Betânia há dois mil anos. Sinta a brisa quente no rosto e a terra aquecida pelo sol debaixo dos pés. Com os cinco sentidos que Deus lhe deu, sinta, pessoalmente, como uma pessoa comum pode mudar. Para ajudá-lo a descobrir esta história incrível com todos os sentidos, a interpretação que o artista Giotto fez da vida de Lázaro está no interior da capa frontal deste livro.6 Uma das minhas

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obras favoritas. Todos os personagens que João menciona estão nesta cena incrível que Giotto capturou magni¿camente. Lendo a história de João e vendo a pintura que o artista fez com óleos, podemos ver a nós mesmos como realmente na história. À medida que nos movermos na narrativa, examinaremos alguns dos diferentes personagens e veremos como suas reações e percepções do que aconteceu naquele dia podem informar hoje as nossas vidas. 0encionarei a pintura ocasionalmente, e espero que você também o faça. É uma imagem poderosa que tem a capacidade de motivar pensamento, reÀexão e oração. A história de Lázaro não é um exemplo de sermão, não é um caso humorístico, e não é uma fórmula para que nos sintamos bem a respeito da vida de fé. Não é nada menos que uma demonstração corajosa, às vezes crua e gloriosamente real, de transformação espiritual de vida. Quando entrarmos nesta história, não teremos apenas boas noções sobre como ser transformados por Deus. Sentiremos a transformação verdadeira. Ou Desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência, e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? (Rm 2.4)

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CAPÍTU ULO O Jesus que Parece Demorar: À Espera da sua Presença

Ouvindo, pois, que >Lázaro@ estava enfermo, ¿cou ainda dois dias no lugar onde estava. — João 11.6

• Um dos mistérios da vida espiritual é o fato de que, às vezes, Jesus não vem quando mais precisamos. • Esperar que Jesus venha é parte do processo de transformação. • A transformação envolve trabalhar em meio aos desapontamentos e desilusões da vida. • Temos esperança na nossa transformação quando percebemos que nós vemos o hoje, e Deus, a eternidade.

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magine a cena: 0aria e 0arta percebem que seu irmão está tão doente que pode não sobreviver. Que maravilhoso o fato de que seu amado amigo Jesus está na região As duas irmãs enviam uma mensagem a Jesus dizendo que seu amado amigo está doente. Supõem que Jesus virá logo. Ele não curara outras pessoas com quem nunca havia sequer conversado antes? 0as Jesus não aparece. Não atende as súplicas das irmãs que imploram que venha. Ele ¿cou onde estava. Seria tentador querer determinar o lugar exato onde Jesus estava com relação ao seu amigo moribundo. Há dúzias de teorias a respeito da localização de “Betânia para além do Jordão”, a última localização conhecida de Jesus antes que comece a história de Lázaro Jo 10.40-42 . 0as se con¿armos na história, perceberemos que o lugar não é de essencial importância. Se fosse, João o teria enfatizado. O que é destacado é que Jesus ouviu a notícia e decidiu ¿car por mais tempo onde estava onde quer que fosse por dois mais dias. O que importa não é tanto “onde”, mas “o quê”. E o “o que” é que Jesus demorou. Onde está Deus? Por que Ele não faz alguma coisa? Perguntas como essas devem ter se agitado nos corações dos três amigos de Jesus em Betânia. Cristo, o seu grande amigo, aquEle em que criam, não apareceu no momento de maior necessidade. Deve ter parecido que Ele não somente estava “além” das redondezas físicas, mas também “além” de se preocupar com o seu amigo à morte. Deus não vê que precisamos dEle? Deus não se importa? Quando entro na história de Lázaro e percebo que Jesus não se levantou imediatamente para ir a Betânia, tenho de admitir que ¿co perturbado. Fico perturbado porque uma resposta rápida parece ser a atitude cristã a tomar quando alguém está em necessidade. 0as Jesus não interrompeu o que estava fazendo e não se apressou para socorrer. Ele deixou o Lázaro, que ¿cava cada vez pior, a ansiosa 0arta e a preocupada 0aria sozinhos, às próprias custas e diante da realidade da morte. Ele demorou. Jesus ¿cou exatamente onde estava durante dois outros dias v. 6 . Por que Ele ¿cou afastado por tanto tempo quando necessitavam dEle tão desesperadamente? Tão desesperadamente, é ver-

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O JESUS QUE PARECE DEMORAR

dade, e por causa da sua ausência, Lázaro morreu. Os corações dos que esperaram e esperaram e esperaram que Jesus aparecesse devem ter ¿cado caóticos, com perguntas, ira e confusão. Quando Jesus não aparece hoje, lutamos para navegar em meio ao mesmo caos em nossos corações. Ele não se importa conosco?

Por que Jesus demora? 0aria e 0arta pareceram arrogantes na maneira como lidaram com a situação. A¿nal, sabiam que Jesus era um homem atarefado. Tinha muitas pessoas para ver e muitos afazeres. Ainda assim, disseram-lhe: “Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas” v. 3 , lembrando-o do seu amor por Lázaro, esperando que isso o persuadisse a deixar todos os outros doentes para vir curar seu irmão. No entanto, durante dois dias inteiros, quarenta e oito horas, Jesus continuou fazendo o que quer que estivesse fazendo, e que não foi registrado pelas testemunhas oculares de sua vida. As irmãs poderiam ter esperado que Jesus ¿zesse o mesmo que ¿zera pelo centurião, que simplesmente pediu a Jesus que “dissesse somente uma palavra” — até mesmo a distância — e o servo enfermo ¿caria curado 0t 8.5-13 . 0aria e 0arta poderiam ter dito: “Jesus, tu amas Lázaro Todos sabem que tu o amas. Assim, cura-o, de onde estiveres, e todas as pessoas te louvarão e saberão que tu és o 0essias”. Curar Lázaro a distância teria sido glorioso, não acha? 0as não aconteceu. Na verdade, Jesus sequer enviou uma mensagem dizendo que estaria ali tão logo quanto possível Ele demorou. Você conhece esta palavra — demorar? 0aria e 0arta podem ter sentido que tinham direito à presença de Jesus, pensando que Ele deveria fazer algo por elas, porque, a¿nal, cuidavam dEle frequentemente. Certamente Ele as ajudaria agora em seu momento de necessidade. Quando Jesus não respondeu aos apelos de 0aria e 0arta, elas provavelmente perceberam que não o conheciam tão bem como julgavam. Como as horas de espera converteram-se em dias, Jesus não correspondeu às suas expectativas. E pode ser que Ele não corresponda às nossas. Na história de Lázaro, Jesus rede¿ne

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normal para todos nós. O Jesus que tarda não oferece uma garantia de que as coisas sairão como deveriam. Quando Jesus ouviu as notícias sobre a condição de Lázaro, retirou-se “para os desertos” para orar, como Lucas a¿rma que Ele fazia às vezes Lc 5.16 ? O isolamento e o silêncio acalmaram o seu coração pesaroso pela triste doença de Lázaro? Quando me preocupo, desejo comer tudo o que está à minha frente. Quando minha esposa está ansiosa, se ocupa limpando a casa e tirando as ervas daninhas do jardim. Quando o meu melhor amigo está preocupado, faz longos passeios de bicicleta pelos montes para “entender” o que está acontecendo. O que quer que Jesus estivesse fazendo, deve ter parecido sem importância para 0aria e 0arta, uma vez que esperavam que Ele chegasse. Talvez Jesus realmente quisesse ir correndo de volta a Betânia, mas este foi um daqueles momentos em que teve de submeter sua própria vontade à do Pai. Temos alguma evidência de que Jesus estava na região do deserto, onde Satanás o havia tentado durante quarenta dias. Possivelmente este momento tivesse a mesma importância para Jesus: Se tu és o Filho de Deus, corre de volta e salva o teu amigo. Talvez Jesus estivesse pronto a ajudar o amigo moribundo, mas o Pai lhe tenha dito: “Não, Filho. Não podes fazer o que queres. Há um plano maior em ação. Ainda não é chegada a hora”. 0aria e 0arta ¿caram na incerteza espiritual do se pelo menos. Se pelo menos Jesus tivesse vindo. Se pelo menos tivessem sido mais persuasivas na mensagem que lhe enviaram. Se pelo menos Jesus realmente entendesse. Se pelo menos soubesse quão enfermo Lázaro estava. Quando nos sentimos sozinhos, em meio às próprias circunstâncias ou doenças da alma, as nossas mentes enchem-se de questões semelhantes. Por que as nossas orações continuam sem ser atendidas? Será que os nossos problemas interessam e preocupam a um Deus que domina o Cosmos? A última coisa que Jesus disse aos discípulos, antes de subir aos céus, foi: “Eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” 0t 28.20 . Assim, onde Ele está, quando precisamos que nos ajude em nossa máxima necessidade? O Deus que tarda. O Jesus que faz outros

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planos. O Espírito que paira, mas nunca desce onde estamos. Ele não é Emanuel, Deus conosco? Jesus subiu os degraus das Torres Gêmeas do World Trade Center enquanto elas estavam implodindo, ou estava demorando em algum outro lugar? Jesus vai a Darfur ou está demorando em um lugar mais sossegado? Fica do lado de fora de salas cirúrgicas enquanto os médicos lutam para salvar uma vida? Fica longe da mulher que nunca se casou e sempre desejou fazê-lo? Demora quando uma criança está sendo maltratada e não há ninguém para protegê-la? Tenho de admitir outra vez: estas coisas me incomodam. São apenas um novo aspecto para a tão antiga pergunta: Por que um Deus amoroso permite tanto sofrimento no mundo?

Vivendo nos períodos intermediários Quando lemos a história de Lázaro, temos a vantagem de saber que Jesus efetivamente apareceu — no ¿m. 0as 0aria, 0arta e o moribundo somente sabiam que Deus estava ausente. Durante dias de silêncio, conheceram apenas a sepultura. Exatamente como 0aria e 0arta, vivemos em períodos intermediários em muitas áreas de nossa vida. Em meio a doenças, dúvidas e fraquezas, tentamos conservar em nosso coração a esperança de que quando Jesus ¿nalmente aparecer, tudo ¿cará bem. 0as como atravessaremos o período de espera? “A vida pela fé é uma aventura desconcertante. Raramente sabemos o que virá a seguir, e poucas coisas acontecem como previmos. É natural supor que, uma vez que sou o eleito e o amado de Deus, conseguirei dEle tratamento favorável e benefícios generosos”.1 Esta situação intermediária — esta “aventura desconcertante” — é uma experiência necessária à vida espiritual. Não pode ser omitida nem abreviada, embora muitos de nós tentemos fazer exatamente isso. O convite é para con¿ar em um Deus que nos faz esperar. O nosso temor é que Jesus não apareça para nós — não agora, e talvez nunca. Neste período intermediário, terremotos de dúvidas podem derrubar os nossos sistemas de fé.

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0uitos de nós negociamos nossa con¿ança em Deus e a fé em Jesus em troca do que tem sido chamado de “ateísmo funcional”.2 O ateísmo funcional diz que a vida compete a nós e a ninguém mais. Nós temos de fazer algo — qualquer coisa — para consertar as nossas crises diárias e dilemas espirituais. Deus não está por perto; talvez Deus nem mesmo exista. O autor Parker Palmer escreve que o ateísmo funcional está em ação quando dizemos “palavras piedosas sobre a presença de Deus em nossas vidas, mas cremos, ao contrário, que nada de bom irá acontecer, a menos que façamos com que aconteça”.3 Viver nos períodos intermediários pode fazer com que até mesmo a pessoa mais devota sucumba a estas “palavras piedosas”. Em vez de esperar por Deus, trabalhamos para realizar nossa própria transformação. 0as a história de Lázaro indica que neste período estranho, quando parece que estamos sozinhos, Deus está em ação. Invisível. Despercebido. Aparentemente, sem se envolver. Silenciosamente, Ele é “Deus conosco”. O psiquiatra Gerald 0ay fundou o Shalom Institute for Spiritual Formation. No último livro que escreveu, antes de sua morte em razão do câncer, descreve como os períodos intermediários, quando Deus parece ausente, são exatamente quando está em ação. 0ay usa a natureza e o poder aparentemente adormecido da estação do inverno para nos ajudar a entender esta importante época espiritual. Ele escreve: Veados e coelhos em silêncio, peixes e sapos e tartarugas praticamente imóveis, serpentes em suas covas, pássaros de verão desaparecidos, e pássaros de inverno agora aqui, árvores escuras e nuas, sementes e casulos e larvas e todo o resto debaixo da terra, nas profundezas, onde você não consegue ver a vida acontecendo. A vida é rica no período de imobilidade, em que a seiva corre, as células se curam, a transformação acontece... Dentro de todos nós, nas profundezas de nossos invernos, estão acontecendo coisas; coisas inimagináveis até que venha a primavera, e talvez, nem mesmo então.4 Vivenciar o Jesus que demora signi¿ca não ter ideia do que está acontecendo em você ou à sua volta. No pleno despertar da fúria do inverno, você nem mesmo sabe se a primavera virá. O inverno é tudo o que você conhece. É tudo o que é real. O resto pode ser nada mais que um sonho.

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Hoje, estou no período intermediário entre a vida que quero viver e a vida que estou vivendo. Estou entre a fé que desejo ter e as dúvidas que crescem dentro de mim. Estou entre me tornar quem Deus quer que eu seja e ser a pessoa que sou agora. Estou entre o céu, onde tudo estará resolvido, e a terra, onde tenho de viver agora. Somos como 0aria, 0arta e Lázaro em muitos aspectos. Agarramo-nos à crença de que a nova vida virá. Enquanto isso, porém, lutamos para crer que algo esteja acontecendo. Nesta espera, no período intermediário, algo profundo ocorre conosco. Algo acontece dentro de nós. É assim que deve ser, porque a transformação é um processo de mudança de dentro para fora, e não de fora para dentro. A mudança de fora para dentro é cosmética. É o tipo de conserto temporário, a que estamos acostumados. Lázaro ensina que a transformação autêntica é possível, não somente para si, mas também para nós — que precisamos dela agora É o tipo de mudança de que falou João Batista: “Não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai, porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar ¿lhos a Abraão” Lc 3.8). O empolgado escritor do Novo Testamento ainda diz-nos que o Espírito de Deus virá para “dentro” — “transformando-vos de dentro para fora” Lc 3.16). O apóstolo Paulo a¿rma: “Para mim tenho por certo que as aÀiç}es deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” Rm 8.18 . Neste momento, não vemos esta glória: é algo que “há de ser”. Agora, vemos apenas as nossas di¿culdades. Os dilemas que enfrentamos nos consomem — perder o emprego, ser vítima de violência, ser tratado de maneira injusta, ser solitário, ¿car doente, ser uma 0aria ou 0arta ou Lázaro dos tempos modernos. Contudo algo mais está acontecendo. Alguma outra pessoa está trabalhando nos períodos intermediários.

Esperando para ser transformado Esperar por Jesus não é um ato passivo. Esperar por Jesus é um trabalho da alma. O autor Henri Nouwen escreve:

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O segredo de esperar é a fé de que a semente foi plantada, de que algo começou. Esperar ativamente signi¿ca estar completamente presente no momento, na convicção de que alguma coisa está acontecendo onde você está, e que você deseja estar presente nisto. Uma pessoa que espera é alguém que está presente no momento, que crê que este momento é o momento.5 Quando esperamos, cedemos o controle, entregamos as nossas vontades, desistimos das falsas esperanças e percebemos que, se alguma coisa vai acontecer, terá de ser pela obra de Deus. Jeremias nos lembra: “Assentar-se solitário e ¿car em silêncio; porquanto Deus o pôs sobre ele. Ponha a boca no pó; talvez assim haja esperança. Dê a face ao que o fere; farte-se de afronta” Lm 3.28-30). O silêncio da espera parece inútil. No entanto, como veremos, algo acontece enquanto esperamos que não pode acontecer em nenhum outro momento. Durante a espera, tornamo-nos mais cientes de Deus e de nós mesmos. Quando crescemos, na percepção de Deus e na consciência de nós mesmos, sentimos que algo está acontecendo conosco. Esta é a lenta obra de transformação que não pode ser apressada com Jesus aparecendo antes do que foi orquestrado. Com a espera, tornamonos mais curiosos a respeito das nossas almas no nosso interior, e do mundo no exterior. Nós imaginamos. A espera é um convite à imaginação, para pensar mais intensamente, ponderar, contemplar — uma arte perdida no nosso mundo enlouquecido. Quando nos encontramos em um Jardim do Getsêmani dos tempos modernos, como uma sala de espera de hospital, ou uma casa vazia depois de um divórcio, ou outro dia à procura de emprego, a espera ajuda-nos a de¿nir o que queremos e o que necessitamos. Percebemos que a nossa transformação não compete a nós — e nunca foi assim6 Se alguma coisa for acontecer, Deus deve fazê-lo. Na espera, a nossa transformação é realizada porque Deus faz o que não conseguimos.

Jesus nunca está com pressa Quando 0aria e 0arta ¿caram com Lázaro, quando amigos e parentes vieram chorando pela sua perda, quando os dias passa-

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ram depois que Lázaro foi posto na sepultura, pergunto-me se eles pensaram sobre o que realmente sabiam a respeito de seu amigo Jesus. Como a sua ausência poderia fazer sentido, considerando quem Ele era? Porque mesmo quando não temos as respostas, podemos nos apegar às coisas que sabemos ser a verdade. Uma verdade que 0aria e 0arta já sabiam sobre Jesus é que Ele não se apressava. Na verdade, trinta anos se passaram entre o miraculoso nascimento de Jesus e o princípio do seu ministério público. 0ateus, 0arcos e Lucas, os biógrafos da vida de Cristo, somente falam de uma ocasião da infância de Jesus. O restante de sua vida está oculto. Eles nada têm a informar sobre o seu ministério de transformação, as suas diversas atividades ou obras milagrosas. Não o ouvimos dizer “0e convém tratar dos negócios de meu Pai” entre os doze e os trinta anos. Ele permaneceu obscuro e oculto do mundo necessitado e das pessoas famintas durante três décadas — trinta anos Podemos reÀetir sobre isso e pensar: Que perda de tempo! Neste período de espera, as condições sociais estavam piorando sob a autoridade romana. A situação política deteriorava-se sob o governo de Herodes. A expectativa de vida no século I não excedia os quarenta e poucos anos em razão das doenças e condições primitivas. Durante todo este tempo, Jesus permaneceu em uma carpintaria fabricando banquinhos e escabelos. Ele nos mostraria como viver mais tarde — quando Deus julgasse adequado, e não antes. Jesus apareceu no momento correto: “na plenitude dos tempos” de uma perspectiva celestial, e é tudo o que sabemos. Jesus ainda tem uma maneira de aparecer em um momento que não se baseia em calendários humanos ou em relógios digitais. A palavra tempo nas Escrituras tem dois signi¿cados em grego. Chronos é o tempo literal, que pode ser calculado ou planejado. Daí obtemos a palavra cronologia. Chronos refere-se a eventos que acontecem em sucessão, em períodos do passado, presente e futuro. A outra palavra para tempo que os autores do Novo Testamento usam é kairos. O tempo kairos é muito diferente do tempo chronos; é o “momento determinado pela vontade de Deus”, um período de duração indeterminada em que a atividade divina interrompe o Cosmos. É um “intervalo” no tempo sequencial em que Deus aparece.

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Naquele dia quente, em Betânia, quando Lázaro morreu, nenhum apelo das irmãs suplicantes ou de discípulos preocupados poderia fazer com que Jesus operasse em seu tempo chronos humano. Todos tiveram de esperar pelo momento kairos. Até que chegasse esse momento, Jesus tardaria, Lázaro ¿caria cada vez mais fraco e morreria, e as irmãs pesarosas lamentariam a perda. Como 0aria e 0arta, temos em mente o tempo chronos em que Jesus deveria chegar. O nosso mundo acelerado molda não apenas a nossa cultura, mas nossas crenças sobre como Deus deveria agir. Temos di¿culdade para entender que a transformação é um processo lento. Considere o oleiro moldando o barro em uma roda. Quando aparece um defeito ou uma mancha, ele torna a moldar o barro. Ele trabalha a argila até transformá-la na imagem desejada. Este não é um processo rápido; não deve ser. É intencional, deliberado, e tem um propósito. Pode parecer lento para o observador, mas todo o instante o oleiro tem o tempo em mente. O oleiro, como Jesus, sabe sobre kairos. No ¿nal, vemos belas obras de artesanato, porque o oleiro esperou o momento exato.

Uma glória maior L. B. Cowman, uma missionária na China, fora casada com um homem muito doente. Quando o marido ¿cou enfermo demais para trabalhar, o casal retornou aos Estados Unidos onde ela cuidou dele ainda por seis anos, até que ele morreu. Em seu livro clássico, Streams in the Desert, Cowman relata o que aprendeu sobre o Jesus que tardou durante a doença e a morte de seu marido. Um de seus mais poderosos exemplos descreve como ela guardou, por quase um ano, um casulo de uma mariposa imperador, em forma de garrafa. Ela se perguntava como o inseto maduro poderia sair pela abertura minúscula, mas não sabia que a pressão no processo de saída forçava o Àuido em direção às asas. Ela escreve: Pude testemunhar os primeiros esforços de minha mariposa aprisionada para escapar do longo con¿namento. Duran-

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te toda a manhã, observei pacientemente enquanto o inseto tentava e lutava para se libertar. Ela não parecia capaz de ir além de certo ponto, e no ¿nal a minha paciência havia se esgotado. As ¿bras do con¿namento provavelmente estariam mais secas e menos elásticas do que se o casulo tivesse sido deixado durante todo o inverno em seu habitat natural, como a natureza deve ser. De qualquer forma, pensei que seria mais sábia e mais misericordiosa que o Criador, e decidi ajudá-la. Com a ponta de minhas tesouras, abri a malha do casulo para tornar a saída apenas um pouco mais fácil. Imediatamente e com perfeita facilidade, minha mariposa rastejou para fora, arrastando um grande corpo inchado e pequenas asas encolhidas Observei em vão a ¿m de ver o maravilhoso processo de expansão em que as asas silenciosa e rapidamente se desenvolveriam diante de meus olhos. Ao examinar as manchas delicadamente belas e os sinais de várias cores que estavam todos ali, em miniatura, esperei ansiosamente para vê-los assumir o seu tamanho de¿nitivo. Esperei que a minha mariposa, a mais bela de sua espécie, aparecesse em toda a sua perfeita formosura. 0as foi em vão. A minha ternura inapropriada fora a sua ruína. A mariposa sofreu uma vida abortada, rastejando dolorosamente durante sua curta existência em vez de voar pelo ar em asas de arco-íris.7 A transformação é lenta, não porque Deus não nos ama, mas porque tem em mente propósitos maiores. Já lhe ocorreu que Deus quer que você se transforme ainda mais do que você deseja? Cowman escreve ainda: “Oh, que visão limitada eu tenho Como posso saber que uma dessas dores ou gemidos deve ser aliviado? O amor perfeito e sábio, vê a perfeição do seu objeto, não se encolhe fracamente, fugindo do sofrimento atual e momentâneo... Tendo este glorioso propósito em vista, Ele não alivia o nosso clamor”.8 Enquanto 0aria e 0arta estavam agonizando por causa da ausência de Jesus, Ele disse aos discípulos que a enfermidade de Lázaro era “para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glori¿cado por ela” Jo 11.4 . 0aria e 0arta estavam presas a uma

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visão terrena da morte. Jesus sabia que o bem maior viria. Cristo pode ter pensado: Talvez, em minha demora, elas desejam a glória de Deus ainda mais do que desejam que Lázaro viva. Talvez a minha demora mude a postura de seus coraç}es, para que digam: “Não se faça a minha vontade, mas a tua”. Isso são apenas conjeturas, mas tocam em um mistério na vida espiritual que ultrapassa o raciocínio. Quando Jesus tarda, temos muito a considerar. O assunto da glória vai além de nossa perspectiva horizontal e permite que o Deus transcendente apareça nos momentos mais incomuns. O tema da glória é quando Deus faz alguma coisa grande e recebe o crédito, o que é difícil de entender quando estamos em uma crise e apenas precisamos que Ele apareça. 0as as ocasiões em que Deus parece distante e silencioso tornam-se o combustível para o fogo em que a glória começa a arder brilhantemente. A linguagem da glória é a linguagem do mistério. O que os discípulos poderiam ter pensado a respeito da glória, em sua existência terrena, empoeirada e precária? 0as Jesus estava pronto para satisfazer as necessidades de seus amigos com os mistérios de Deus.

O poder das expectativas Recentemente, alguns amigos compraram uma bela casa, que disseram ser a “casa dos sonhos”. Imaginavam-se recebendo amigos em seu belo terraço, observando crepúsculos do Colorado acima do Pico Pikes. 0as depois que se mudaram para a nova casa, logo se aborreceram com o tráfego da movimentada estrada interestadual e pelo trem nas proximidades, que apita várias vezes por dia. A “casa dos sonhos” rapidamente revelou-se uma ilusão. As suas expectativas foram frustradas. A casa dos sonhos fez com que enfrentassem diversas ilusões que precisavam ser “desiludidas”. Como meu amigo Tim gosta de me lembrar: “o desapontamento é o resultado de expectativas não satisfeitas”. Isso é verdade para cada aspecto de nossas vidas. O que eu espero de meus amigos? De meu cônjuge? De minha carreira? De meus ¿lhos? Se estou desapontado, será que esperei coisas erradas? Como posso viver na realidade e ainda continuar me dirigindo para o que realmente quero na vida, na igreja e nos relacionamentos?

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Da mesma maneira que os membros da família de Lázaro, em Betânia, tiveram de lidar com seus desapontamentos com Deus, com os outros e consigo mesmos, temos de manejar os nossos. As expectativas não satisfeitas podem criar um tremendo tumulto na vida espiritual. O Jesus que tarda dá-nos a oportunidade de encarar nossas fantasias e ilusões e aceitar algo maior.

Como lidar com a desilusão Quer tenhamos consciência disso ou não, muitos vivemos com a ilusão de que “a vida deveria ser fácil”, ou “quando você se tornar cristão, a vida entrará nos eixos”. Essas duas declarações são mais que declarações; elas revelam um coração que alimenta um falso senso de realidade. Esta irrealidade sempre leva a um desapontamento após outro. Construímos uma falsa fundação para a vida cristã e os relacionamentos. A palavra desilusão é normalmente usada em um contexto negativo, como estar desapontado e desesperado a respeito de algo. 0as a desilusão tem o potencial de ser uma experiência positiva. Desilusão signi¿ca “estar despido de falsas impressões ou conceitos equivocados”. Estar desiludido signi¿ca desistir de falsas ideias a respeito de Deus, de nós mesmos e dos outros. O pregador britânico Oswald Chambers, e, mais recentemente, a autora Gail 0acDonald sugeriram que deveríamos praticar a “disciplina da desilusão”.9 Esta disciplina leva-nos a identi¿car e modi¿car as ilusões que temos no coração sobre como a vida deveria funcionar e como Deus deveria se comportar. Chambers explica da seguinte maneira: “A recusa em se desiludir é a causa de grande parte do sofrimento na vida humana. A coisa funciona da seguinte maneira: se amamos um ser humano e não amamos a Deus, exigimos da pessoa toda a perfeição e retidão, e quando não as obtemos, tornamo-nos cruéis e vingativos. Exigimos de um ser humano o que ele não é capaz de dar. Existe um único ser que pode satisfazer o último abismo doloroso do coração humano, e este ser é o Senhor Jesus Cristo”.10

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Chambers diz aquilo que cada peregrino que luta com o Jesus que tarda precisa perceber: somente Jesus Cristo pode satisfazer o último abismo doloroso do coração. Esta percepção propiciou-me um “momento de Lázaro” — um instante de discernimento, consciência própria e de Deus — em minha jornada. Na minha doença de alma, desejara que o meu pai ¿zesse por mim aquilo que apenas Jesus pode fazer: amar-me incondicionalmente. Posso não encontrar a cura completa para as minhas feridas de infância nesta vida, mas a verdade do amor de Deus foi o princípio do processo da minha libertação do que mantinha o meu coração refém a respeito de meu pai terreno e de meu Pai celestial. Trabalhar com as minhas ilusões foi a chave. Aceitar a verdade do amor de Deus me libertou. Se Jesus é o único que pode nos satisfazer, o que fazer quando até mesmo Cristo deixa de aparecer? Posso imaginar 0aria e 0arta preparando o corpo de Lázaro para o sepultamento, dando vazão a lágrimas raivosas. Cada lágrima liberava mais desapontamento. Cada gemido revelava a sua decepção com Jesus. Cada uma delas lamentou a mesma con¿ssão desiludida feita a Jesus: “Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido” 0arta em João 11.21 e 0aria em João 11.32 . A con¿ssão que compartilharam revela a ilusão que dividiam: coisas ruins não irão acontecer se Jesus estiver presente. Esta ilusão foi a raiz de seu devastador desapontamento. Como aconteceu com 0aria e 0arta, as nossas ilusões são a raiz de nossas devastadoras decepções com Deus, com os outros e consigo mesmos. Aqui está a verdade: as ilusões levam a desapontamentos e a expectativas não satisfeitas. Uma parte necessária da jornada em direção a ser uma pessoa transformada é a prática da disciplina da desilusão. Temos a tendência de nos apegar a muitas ilusões em nossas vidas, em vez de aceitar o que é verdade. Por exemplo, ilusões sobre como deve ser o Natal “perfeito”, como deverá ser aquele casamento de conto de fadas, ¿nalmente conseguir o emprego que combina uma vocação com a necessidade do mundo, descobrir aquele relacionamento que preencherá o vácuo no coração... estas ilusões, e muitas mais, podem alimentar os nossos desapontamentos na vida e com os

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Aprovado pelo Conselho de Doutrina. Título do original em inglês: The Lazarus Life. David C. Cook, Colorado Springs, USA. Primeira edição em inglês: 2008.

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