WILLIAN WILSON “Que dirá ela? Que dirá a horrenda consciência, aquele fantasma no meu caminho?” Chamberlayne

melhor que, por enquanto, eu me chame William Wilson. Não quero envergonhar mais a minha família com os horrores que cometi com o meu verdadeiro nome, que já foi objeto de desprezo e de abominação. E com muita razão. De fato, tenho muitas, e nesses últimos anos, então, não gosto nem de lembrar. Mas eu vou lhes contar, para que vejam como, em pouco tempo, um homem se acaba na miséria, no crime, nas maiores baixezas. Os outros homens tornaram-se vis, pouco a pouco. Mas de mim, num só instante, o caráter se desprendeu como uma capa. Fui perverso, escravo de todas as tendências más. Deixei-me levar pelos mais extravagantes caprichos e as mais indomáveis paixões. Agora a morte se aproxima. Meu desejo é penetrar nesse vale sombrio acompanhado pela compaixão e simpatia dos meus semelhantes. Minha esperança é de que acreditem que tenho sido vítima de circunstâncias superiores ao controle humano. Gostaria que descobrissem, para mim, entre pormenores que vou lhes contar, uma desculpa de fatalidade, pequeno oásis perdido num deserto de erros. Sou filho de uma raça de temperamento imaginativo. Sensível, facilmente excitável. E, desde a infância, mostrei ter herdado o caráter da família. Isso cresceu comigo. Acompanhou-me sempre. Eram muitas as tendências más, e meus pais nada podiam fazer para detê-las. Por isso mesmo, muito cedo, tornei-me o senhor de minhas próprias ações As mais amenas recordações do inicio de minha triste carreira estão ligadas à vida escolar. Lembro-me da casa grande, velha e irregular. Casa de aldeia, cercada de gigantescas árvores antigas. As casas todas eram extremamente antigas. Era um lugar de sonho e que excitava a fantasia. Ainda hoje sinto na imaginação o arrepio refrescante de suas avenidas, seus bosques, seus terrenos imensos. A casa da escola era limitada por uma alta e sólida muralha de tijolos, encimada por um acabamento de argamassa e cacos de vidros. Era a nossa prisão, e dela só saíamos três vezes na semana. Todos os sábados à tarde, passeios curtos pelos campos vizinhos. Duas vezes, nos domingos, ao ofício religioso, pela manha e à noite. O pastor da igreja era o diretor da escola. Difícil crer que a doce figura que pregava no púlpito era a mesma do monstruoso homem que impunha o cumprimento da lei no colégio. Paradoxo grande demais para ser entendido! Num canto da muralha, o portão de ferro, pesado, bem trancado, guarnecido de ferrolhos e espigões pontudos, ameaçadores.

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E o campo de recreio. Plano, sem árvores, recoberto de cascalho fino e duro. Sem bancos ou coisa parecida. Ficava nos fundos da casa. Na frente, o jardim. Agradável, todo plantado. Servianos apenas de passagem, em raras ocasiões. Na chegada ao colégio. Nas férias de Natal e São João. E na saída definitiva. Para mim, o que mais impressionava era o casarão, misterioso como um palácio encantado. Suas voltas e reviravoltas e um mundo de subdivisões incompreensíveis. Tantas que eu, nos cinco anos em que ali estive, nunca fui capaz de precisar onde ficava o dormitório que me cabia. A sala de aulas me parecia a maior do mundo. Nos cantos da sala havia os compartimentos onde passávamos nossos momentos de terror. Era a hora em que, no “santuário”, enfrentávamos nosso diretor, o reverendo dr. Bransby. Foi aí, na monotonia aparentemente triste de um mundo sem grandes motivos para recordar, que se deu o meu desenvolvimento para o erro e se completou a minha maturidade para o crime. Era a rotina: despertar pela manha, as ordens à noite para dormir, o estudo, as lições, os feriados, os passeios. O campo de recreio: suas intrigas. Minha natureza ardente, autoritária e vibrante fez com que eu tivesse uma acentuada ascendência sobre todos os colegas, mais velhos que eu ou não. Todos não. Menos um, que, embora não fosse meu parente, possuía o mesmo nome e o mesmo sobrenome que eu. Só meu xará, entre todos da minha turma, atreveu-se a competir comigo. Nos estudos, nos esportes, nos jogos do recreio. De maneira alguma aceitava minha liderança. Eu o tratava com certa superioridade. Tentava submetê-lo à minha vontade. Ele resistia. E sua rebeldia me embaraçava. No fundo, sentia medo dele. Não se limitava a competir comigo, a tentar sobrepujar-me, mostrando aos demais que me era superior. Ou igual a mim. Ia mais longe. Interferia aos meus próprios propósitos obstinadamente. Na escola, todos julgavam como se fossemos irmãos. Digo-lhes que, se tivéssemos sido irmãos, teríamos sido gêmeos. Já lhes expliquei, eu creio, que não tínhamos nenhum grau de parentesco. Saibam, pois; e se espantem como eu: depois de ter deixado o colégio, vim saber, por acaso, que o meu xará nascera no dia 19 de janeiro de 1813, precisamente a data do meu nascimento. Era espantoso o prazer que tinha em me contradizer, irritar e mortificar-me. Espantoso ainda que eu não pudesse, apesar de tudo, odiá-lo totalmente. Brigávamos diariamente. Mas é difícil definir meus reais sentimentos para com ele. Formavam uma mistura complexa e desigual. Animosidade petulante, sem ódio. Pelo contrário, alguma estima. Mais respeito, temor, um mundo de curiosidade. Para muitos, Wilson e eu éramos amigos ou companheiros inseparáveis. É isso mesmo. Este estranho estado de nossas relações me favorecia os ataques. Ironias, pilhérias e tudo o que pudesse tocar os seus pontos fracos. Estes, eu tudo fiz para conhecer a fundo. E, conhecendo-os, pude usá-los sempre que quis. Ele revidava, é claro. E também conhecia os meus fracos. Sua própria existência e presença diária ali, no mesmo colégio que eu, já eram uma

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constante provocação. Sempre detestei meu sobrenome vulgar e o prenome tão comum. Ora, a mim já bastava ser o portador de tamanha antipatia. Vergonha até. Imaginem aparecer outro, uma repetição daquilo que eu mais odiava em mim. William Wilson! O sentimento de vexame era constante. Isto sem falar no fato de sermos da mesma idade e semelhantes no fato de sermos da mesma altura, além do contorno geral da figura e os traços fisionômicos. E o rumor que corria na classe de que éramos parentes me deixava exasperado. Eu não podia admitir nenhuma similaridade de espírito, pessoa ou posição. Afinal, era uma perfeita imitação de mim mesmo. Palavras e gestos. Roupa, maneira de andar. Até minha voz não lhe escapava. Seu surro característico (uma deficiência o impedia de elevar a voz) tornou-se verdadeiro eco do meu. Estranhíssimo retrato esse. O meu consolo estava no fato de ser a imitação, ao que parece, notada somente por mim. E pelo meu xará. Sim, ele sabia do efeito produzido por tudo isso no meu íntimo. Parecia rir, em segredo. Que a escola não percebesse a satisfação e o sarcasmo da parte dele sempre foi um enigma para mim. Desagradável ao extremo era o ar de proteção que assumia para comigo. Sua intromissão nos atos de minha vontade. Sua interferência. Esta tomava, às vezes, o caráter dum conselho; sugerido, insinuado, mas um conselho. Concordo, agora, com mais idade, que eu teria me tornado um homem melhor e, portanto, mais feliz se não tivesse rejeitado as sugestões certas que me dava, em formas de significativos sussurros. Estes só me inspiravam ódio e desprezo. Assim me tornei rebelde à sua antipática vigilância e, cada dia, mais e mais abertamente detestei sua insuportável arrogância. Nessa mesma ocasião, durante uma violenta discussão, descobri em sua pronúncia, na sua atitude, no seu aspecto geral, algo que me chocou e, ao mesmo tempo, me interessou vivamente. É que me faz relembrar coisas da minha primeira infância. Daí eu ter ficado com a impressão de que conhecera aquele estranho ser em época muito distante. Procurei não pensar nisso. A enorme e velha casa, com suas incontáveis subdivisões, tinha amplos aposentos que se comunicavam uns com os outros e onde dormia o mais número de estudantes. Havia uma quantidade enorme de compartimentos pequenos, sobras da estrutura que a habilidade econômica do dr. Bransby transformara em dormitório. Mas só podiam acomodar uma única pessoa. Um desses era ocupado por Wilson. Uma noite, resolvi pregar-lhe uma peça. Depois que todos já dormiam, levantei-me. Com uma lâmpada na mão, dirigi-me, com cuidado, ao quarto do meu rival. Entrei em silêncio, deixando a lâmpada do lado de fora. Pela respiração tranquila, vi que estava dormindo. Voltei, apanhei a lâmpada e aproximei-me da cama. Abri o cortinado devagar e deixei cair a luz no seu rosto, bem perto. Olhei. Um frio percorreu o meu corpo. Então, eram aquelas, aquelas as feições de William Wilson? Vi, de fato, que eram as dele, mas algo havia em torno delas que me fez tremer em febre. Vi então que não eram. Pelo menos, não era assim que parecia quando acordado. Que seria isso?

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O mesmo nome, os mesmos traços, o mesmo dia de chegada ao colégio. Meu andar, minha voz, meus costumes, meus gestos! Seria tudo isso o resultado de uma imitação apenas? Horrorizado, trêmulo, apaguei a lâmpada e saí silenciosamente do quarto abandonei naquela noite o velho colégio, para nunca mais voltar. Passou o tempo. Esqueci, ou melhor, enfraqueceu em mim a lembrança do que se passara no colégio do dr. Bransby. Vi-me de novo na escola. Agora em Eton. Foram nãos de loucura, de desregramento, de vícios. Uma noite convidei um grupo dos piores estudantes para uma bebedeira secreta no meu quarto. A orgia se prolongaria, como sempre, ate a manhã. Nossa extravagância estava no auge quando a aurora já se anunciava. Excitado pelo jogo e enlouquecido pela bebida, eu propunha um brinde irreverente quando fui procurado por alguém que desejava falar comigo no vestíbulo. Saltei apressadamente até lá. Na sala iluminada pela luz fraca do alvorecer, estava um jovem de minha altura e vestido exatamente da maneira como eu me trajava no momento. Precipitou-se para mim e sussurrou ao meu ouvido: William Wilson. Minha embriaguez desapareceu. O espanto, a emoção e, acima de tudo, a atitude e as palavras sussurradas em mistura com lembranças dos dias passados deixaram-me em choque. Quando me recuperei, ele já havia partido. Durante semanas pesquisei, investiguei, tentando descobrir. Quem era esse Wilson? E de onde vinha? Que desejava de mim? Por que eu? Consegui saber apenas que um acidente em sua família provocara sua saída do colégio do dr. Bransby, na tarde do dia em que eu fugira. Logo deixei de pensar no caso. Minha ida para Oxford encheu o meu tempo. Ali continuei minha vida de dissipação com que já me habituara. A mesada alta que meus pais me reservavam favorecia minhas extravagâncias. Eu gastava com os mais ricos herdeiros da Grã-Bretanha. Agora, então, eu me excedia numa multidão de novas loucuras. A última era o aprendizado das artes mais vis dos jogadores profissionais. Tornei-me adepto dessa desprezível ciência. Com minha inteligência e falta de escrúpulos, praticava-a como um meio de aumentar minha renda (que já era enorme), à custa de meus colegas fracos de espírito. Fazia dois anos que eu me ocupava desse modo, com amplo sucesso. Um dia, chegou à universidade um jovem de descendência nobre. Glendenning. Rico, mas de intelecto pobre. Marquei-o, levei-o a jogar. Fiz com que ganhasse, no início. Em pouco tempo eu o tinha preso em minha teia. Agora, era executar o plano, usando-o. Encontramo-nos na casa de um colega que nem desconfiava de meus propósitos. Esse seria o encontro final, decisivo. Com jeito, consegui reunir oito ou dez outros amigos. Afinal o aparecimento do baralho. Tudo tramado cuidadosamente, de maneira a parecer casual.

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A vigília ia noite adentro. Finalmente consegui a manobra definitiva. Glendenning como meu adversário. Sozinhos. E o baralho. E o jogo. O meu jogo: a trapaça vil. Os outros assistiam. O jovem, que já bebera bastante, estava nervoso. Perdia. E perdia, sem vez. Em período muito curto tornara-se meu devedor de uma grande soma. Então, depois de uma dose grande de vinho do Porto, fez o que eu estivera prevendo: dobrou a parada. E, assim, foi, sem ganhar nunca, ate que uma exclamação sua, de extremo desespero, nos fez entender que eu o levara à ruína total. Criouse uma atmosfera de embaraço, de tristeza. Meus amigos me olhavam com desprezo e reprovação. Eu começava a provar o amargo peso da angústia quando as portas se escancararam com tamanha violência que as velas se apagaram de uma só vez. A escuridão, porém, não era total, e conseguimos perceber que um estranho penetrara na sala. Estava envolto apertadamente numa capa. E, de qualquer maneira, podíamos sentir que ele estava entre nós. E sua voz soou na sala num sussurro que me fez estremecer até os ossos. Cavalheiros – disse-, estou cumprindo um dever. Que me perdoem, portanto. Mas não posso deixar de informá-los sobre o caráter da pessoa que, esta noite, aqui, ganhou de todos, e uma soma enorme de Lord Glendenning. Não preciso falar muito. Basta que examinem o forro do punho de sua manga esquerda e procurem os vários pacotinhos ocultos nos bolsos grandes demais de seu roupão bordado. Ao terminar, partiu sem demora. Podem imaginar as minhas sensações. Preciso dizer horrores que senti? Muitas mãos me agarraram e, na busca, tudo foi conforme ele dissera. Na manga as figuras essências do jogo, e nos bolsos, certo número de baralhos. Não houve mais nada além do silêncio de desprezo. Nenhum comentário. Eu teria preferido que houvesse. Fui convidado a deixar a casa e aconselhado a abandonar Oxford. E o fiz antes do raiar do dia. Iniciei minha viagem num estado de horror e vergonha. Fugi em vão. A má sorte me perseguiu. Paris, Roma, Viena, Berlim, Moscou! Mal eu punha o pé numa cidade, já possuía prova da passagem daquele Wilson antes de mim. Avisando, advertindo a todos a respeito de meu caráter. Tomado de pânico, eu fugi dele como de uma peste. E ate os confins da terra fugi em vão. E sempre, sempre me perguntando: “Quem é ele?”, “Que deseja?”. Sem nenhuma resposta. Ele existindo, me perseguindo, imitando-me outras vezes. E eu sem poder, em momento algum, ver bem as feições do seu rosto. Uma loucura. Eu sucumbia passivamente àquele imperioso domínio. William Wilson era sábio, majestoso, onipresente e onipotente. Eu o odiava, mas o temia também. Resolvi, então, resistir. Parecia-me que o seu poder aumentava quando eu enfraquecia. Proporcional. Achei que devia reagir. Não mais me submeter à escravidão.

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A ocasião apareceu em Roma. Eu estava num baile de máscaras. Era carnaval. Estava irritado. Já me excedera no vinho. E uma outra embriaguez tomava conta de mim. Aliás, eu só estava ali por aquele motivo. Procurava alucinado a jovem, bela e alegre esposa do caduco dono da casa. Agora, eu a havia visto de longe e me apressava a chegar até ela. Neste momento, senti um leve toque no ombro. E o maldito sussurro! Dentro do ouvido. Cheio de cólera voltei-me e agarrei-o pelo pescoço. Trajava ele uma roupa exatamente igual à minha. Uma capa espanhola, apertada na cintura por um cinturão de onde pendia uma espada. O rosto encoberto por uma máscara de seda preta. Com voz rouca de raiva, insultei-o o mais que pude. E ameacei atravessá-lo com minha espada se prosseguisse aquela perseguição. E o arrastei comigo para fora do baile. Numa pequena sala, atirei-o para longe com fúria. Fechei a porta. Ordenei que puxasse a arma. Puxou-a em silêncio e pôs-se em guarda. A luta foi curta. Eu estava possuído de uma força brutal. Encostei-o na parede e mergulhei, muitas vezes, minha espada em seu peito. Creio que não há expressão com que se possa descrever aquele espanto, aquele horror que se apossou de mim diante do que estava à minha frente. Primeiro, vi o espelho. Erguia-se, agora, ali, onde nada fora visto antes. Parecia-me um espelho imenso. Refletia a minha própria imagem. Com as feições lívidas e manchadas de sangue. Avançava ao meu encontro, com um andar fraco e cambaleante. Assim parecia, eu disse. Mas não era. Era o meu adversário, William Wilson. Agonizava. A máscara e a capa, no chão. E tudo nele, da roupa ate as feições do seu rosto, era eu. A mais absoluta identidade. Era o próprio eu. Era Wilson. Mas falava. Não mais num sussurro. Mas como eu próprio, com minha voz, minhas palavras, minhas ideias, minha emoção. Minha agonia. Minha morte. E dizia: ─ Venceste e eu me rendo. Contudo, de agora em diante, tu também estás morto... Morto para o Mundo, para o Céu e para a Esperança! Em mim tu vivias... e, na minha morte, vê, por esta imagem, que é a tua própria imagem: assassinaste a ti mesmo!

POE, Edgar Allan.

Histórias extraordinárias. Tradução e adaptação: Clarice Lispector. Rio de

Janeiro: Ediouro, 2005. p.102-112.

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