Tinha uns 20 anos e achava que já havia experimentado muita coisa. Menos vodka Natasha, essa não dá. Uma vez fugi da faculdade e fui com um pessoal para a Rua Augusta, no caminho como todo jovem que se acha imortal, compramos a vodka mais "em conta" de vulgo Natasha. E umas latinhas de pepsi (quente) pra dar uma adoçada. Apaguei. Lembro de estarem me acordando no estacionamento já na Augusta, desci e inventaram de ir na Outs, sentei na frente e comecei a vomitar. Mas todo mundo ficou olhando de uma forma estranha, não parecia que eu havia apenas vomitado, apontavam para algo no chão e falaram que eu havia vomitado um osso. Não lembro disso. Só lembro de que o segurança não queria me deixar entrar porque de acordo com ele eu estava tendo uma "overdose", ai alguém me levantou pra entrar, pegou minha carteira pra pagar a entrada e só. Essa é uma historia simples de "loucura", mas não vou ficar falando muito disso, porque não tenho saco e porque não lembro da maioria. Meu nome é Caio, toco guitarra e canto na banda Sky Down de Santo André - São Paulo. Sai do útero da minha mãe no dia 7 abril de 1987 em São Caetano do Sul mas sempre morei em Santo André também no ABC Paulista e fui criado basicamente por duas mulheres, pais divorciados, situações chatas, blah blah blah. Gosto de musica desde cedo, minha mãe sempre ouvia em casa, no carro e depois eu ficava ouvindo fita k7 e vinil das novelas que ela comprava, com isso tinha contato com tudo, desde rock ao pop (bom e ruim). Um dia meu tio vendo que eu passava boa parte do dia ouvindo musica e martelando uma guitarra de plástico trouxe vários cds que ele gostava pra eu ouvir: Hendrix, Sabbath, Joelho de Porco, Titãs, etc. Meu interesse por rock e posteriormente punk rock veio logo na pré-adolescência, tinha dois primos e uma prima próximos que eram mais velhos, moravam perto de casa e que haviam ido em shows do Metallica, Sepultura, L7, Nirvana, Ramones, além de terem sua própria banda. Ficava ouvindo as historias deles, sobre os punks do ABC, as brigas com os carecas, os góticos, os shows que iam, os papos sobre as novidades das bandas que gostavam. Passava um bom tempo na casa deles fuçando as coisas perto da vitrola e vendo capas dos discos do Iron Maiden, Motorhead, Dead Kennedys, Ramones, Metallica, achava que aquelas pessoas eram de outro mundo. Algumas vezes quando eu ficava importunando meu primo ele me expulsava do quarto pegando sua guitarra e mandando eu ir tocar pra me distrair. Então eu ficava sentado em algum

outro cômodo da casa tocando guitarra sem a mínima ideia do que estava fazendo (até hoje é meio assim). Boa parte dos meus dias era ouvindo radio e gravando as musicas que gostava em fitas. Ganhei um violão com uns 11 anos e nessa epoca comecei a fazer aula. Fazia violão clássico com um professor de oitenta e poucos anos que me fazia ler partituras e afinar o violão com diapasão. Tudo isso numa casinha minúscula no bairro junto com um menino que fazia aula de violino. Acredite, o som de alguém aprendendo a tocar violino é pior do que um gato arranhando uma lousa. Mas fazíamos umas "jams" juntos, tipo tocar "Asa Branca" do Luiz Gonzaga. Sair da aula tocando qualquer coisa era foda, mas com o tempo o professor começou a não simpatizar muito quando comecei a falar que gostaria de aprender alguma coisa do Ramones ou Black Sabbath e depois de um tempo acabei parando as aulas. Como ainda moro no mesmo bairro de vez em quando passo na frente da casinha onde tinha aulas, é uma casa cheia de gatos, mas nunca mais vi o senhor que me ensinou a tocar. Nessa época o jeans rasgado e as camisetas de banda já não eram o "uniforme" pós-escola, eu já tentava usar isso mesmo nas aulas. Ia com camiseta por baixo, ou levava na mochila para colocar em algum momento da aula. Não tinha MTV em casa, fui ter lá pelos 16, 17 anos, porque o prédio que morava não tinha antena UHF. Então basicamente a MTV não me influenciou muito diretamente, mas gostava de ouvir amigos contando historias dos programas que passavam lá, tipo "Piores Clipes", os do João Gordo e de vez em quando na casa de algum amigo eu conseguia assistir algo. Tinha um amigo que gravava muita coisa em vhs, aqueles clipes raros que só passavam de madrugada, programas especiais de bandas, e depois essas fitas rodavam com a galera (valeu André!). Vi muito video pela primeira vez assim, clipes como "Smells Like Teen Spirit", "Psycho Therapy" e de trocentas outras bandas. Havia uma loja no centro de Santo André (que existe até hoje) que vendia muitos shows e especiais de bandas em vhs, você comprava por tipo dez reais uma fita vhs com todos os clipes do Ramones, tinha banda que nem tinha clipe direito e não enchia nem metade da fita, mas era a única oportunidade que tinha para ver aquelas figuras que eu via na capa de discos se mexendo de verdade. Ouvia algumas rádios também, tipo a 89FM, comprava fita cassete virgem ou pegava alguma velha e deixava no TAPE B pronta pra gravar qualquer musica que achava interessante. As pessoas reclamam de rádio (eu sou uma delas hoje) mas era também uma das únicas opções pra você ouvir algo, seja pop ou mesmo nos programas tipo do Gordo.

Outro programa que era foda e sempre via foi o Musikaos do Gastão Moreira, ver Buzzcocks, Uk Subs, Olho Seco, Ratos de Porão, Pin Ups, Thee Butchers' Orchestra, Sepultura, Marky Ramone, Cólera, etc, na tv aberta era foda. Nessa época comecei também a montar bandas na escola com quem tocava algo também, num geral eram covers. Algumas das bandas soavam legais, outras uma merda, mas era sempre divertido. Depois de um tempo comecei a ter banda com pessoas fora da escola, o que era mais divertido porque eram pessoas que fumavam, ouviam rock o dia todo, tinham gosto musical mais parecido e era fora daquele ambiente chato de escola. Preferia lidar com gente cheirando cola (e fazer o mesmo) do que gente falando sobre matérias, professores e provas no meio dos ensaios. A melhor coisa na época era voltar da escola, tirar o uniforme, pegar a guitarra e ir num galpão perto de casa ensaiar (o apelido do galpão era "Ressaca"). Claro que isso tinha um custo, como a escola começou a pouco importar, passar de ano nela começou a ser um desafio. Haviam também festivais com bandas da região, era a oportunidade de ir ver uma banda ao vivo, fumar e encher a cara de vinho ou qualquer bebida barata. Morava no bairro de Camilopolis em Santo André e lá todo mundo tinha banda, de todos os estilos, punk, metal, grunge, hardcore, etc. Existia um lugar ao lado do meu prédio onde uns caras um pouco mais velhos ensaiavam com sua banda, era do lado de um salão de cabeleireiro, bem pequeno, colocaram umas divisórias, num "cômodo" era uma mini sala com tv e videogame, no outro ficava a bateria e o equipamento para ensaiar e tinha um banheiro também. De vez em quando dava um pulo lá pra ver os ensaios. Pra mim essa era a visão de ter uma banda de verdade: ter um lugar pra ensaiar. Um tempo depois essa banda se rachou e o baterista e baixista me chamaram para formar uma nova com eles que durou por volta de quase um ano. Tocar com eles foi muito legal, uns anos depois reencontrei o baterista, fazia muito tempo que não nos viamos ou conversamos, como eu era mais novo ele me travava como um irmão mais novo, botamos o papo em dia e combinamos de nos encontrar. Pouco tempo depois, quando estávamos voltando a nos aproximar, ele faleceu num acidente de moto. Quando tocávamos juntos ele era a pessoa que me

ajudava nas composições, tenho até hoje um caderno com varias letras e poemas dele. Um dia faço algo com isso. Com uns 14 anos eu era grunge, punk e wicca (hehe). E gostava de pichar também, normalmente com canetão ou giz. Acabava arrumando confusão com esses guardinhas que ficam de moto na rua ou quando tentei engolir o pino da lata por causa da policia, mas isso durou pouco. Era uma forma de matar o tempo. Teve um natal que o tédio era tão grande que eu e uns amigos fomos na missa de natal da igreja do bairro, enquanto as pessoas ficavam lá cantando e com as mãos abertas para cima, ficávamos com o dedo do meio levantado e louvando. Era fazer coisas desse tipo e ir na casa de algum amigo ou amiga que tivesse aqueles bares na sala, com varias bebidas que ninguém toma, assaltávamos as bebidas e misturávamos tudo, suco tang com vodka, conhaque com batida, licor de ovo, etc. Um dia inventamos de comprar uma garrafa de Bahianinha achando que aquilo era ótimo porque era doce e terminou com quase todo mundo indo para o hospital e jurando de nunca mais tomar nada. Ninguém tinha dinheiro ou muito menos recebia mesada, era tudo dinheiro que você pegava de troco das coisas que comprava para mãe, vó, tio, juntávamos o de todo mundo e íamos em alguma padaria comprar algo ou no mercadinho onde um amigo que tinha banda conosco trabalhava, assim ninguém enchia o saco. Ter banda nessa época significava em ensaiar, ensaiar, ensaiar e fazer um show de vez em nunca. Praticamente alguns ensaios viraram shows já que era ponto de encontro de amigos e amigas. Ensaiávamos em qualquer lugar, na "Ressaca", no quarto da casa de alguém, em apartamento, em sótão, com guitarra, baixo, com bateria, sem bateria. Um dia ensaiando num apartamento minúsculo de um amigo com tudo no talo, uma senhora começou a esmurrar a porta pra pedir para abaixar o volume das coisas, nisso alguém gritou do quarto que não iria abaixar e ai aparece o filho da mulher com dois metros de altura, cara de psicopata, vestindo uma camiseta do Kreator e falando que iriamos abaixar o volume sim porque a mãe dele queria assistir tv. Pedal de distorção era luxo, o normal era ligar algum amplificador no talo pra distorcer um pouco. E tudo isso era demais. Por conta disso ainda hoje toco apenas com um pedal de distorção, sem outros efeitos, tem muito efeito que acho legal na guitarra mas acho legal ver nos outros, não é comigo. Meu cerebro dá um nó se tenho mas de um pedal para pisar, fora que até o final do show sairiam todos voando. Um dia aprendo.

Let There Be Light Cuz We're a Mess Os anos foram passando, tentei fazer faculdade de alguma coisa mas não deu muito certo, passava mais tempo pensando no que eu poderia fazer pra não ir a aula do que estudando algo. Nessa época comecei a trabalhar numa empresa grande como programador (eu fazia faculdade de Sistemas de Informação). Pra mim o trampo e a faculdade eram só alguma coisa ($) pra eu continuar bancando banda, shows, etc. Continuei tocando e entrei para tocar baixo numa banda de horror punk chamada Difuntos. Tocávamos bastante e tinha uma galera que curtia por ai, até hoje de vez em quando vem alguém comentar sobre. Tocar no Difuntos foi um lance bem louco, tocamos em praticamente todos os buracos que existem por aqui. Só não tocávamos em esgoto porque tampa de boeiro é pesada de ficar carregando. Uma das primeiras vezes que ganhei alguma coisa (tirando agua e olhe lá) foi com o Difuntos, uma vez fomos tocar num lugar chamado Estação Jovem em São Caetano do Sul (fomos a primeira banda a tocar lá), é um lugar com quadra, céu aberto, bancado pela prefeitura. Ai entramos numa sala e vimos que tinha vários lanches, sucos, bebidas e pensamos - poxa que sorte de quem vai poder comer tudo isso, e nisso a moça que estava organizando vira para nós e fala "isso tudo é para vocês, podem pegar, se precisarem de algo me falem", olhamos um para o outro e assim que ela virou as costas começamos a encher os bolsos com tudo que tinha enquanto comíamos ao mesmo tempo, sai da sala uns 40 quilos mais cheio, cheio de pão, suco e agua nos bolsos. Paralelo a essa banda, eu e o baterista (que hoje toca no Periferia S.A com os caras do Ratos de Porão) tocávamos numa outra apenas pra tirar sons que gostávamos e nessa banda quem foi tocar baixo era o André Arvore, que até então eu não conhecia. Num intervalo no primeiro ensaio dessa banda, ele sentou na bateria e ficamos tocando algumas musicas, me liguei que mesmo ele tocando baixo nessa banda, ele também tocava bem bateria. No final das contas, depois de uns 2 anos eu sai do Difuntos e consequentemente fui afastado da outra. Nessa eu e o André comentamos de marcar umas horas num estúdio e ficar tocando Stooges sem se preocupar se aquilo viraria algo. Queríamos fugir um pouco das bandas

que víamos por ai, mas sem reinventar a roda. Começamos a ensaiar do meio para o final de 2011, éramos só nós dois, eu tocando guitarra, cantando e o André na bateria. Eram ensaios feitos no meio da semana de madrugada, comentei que poderíamos trabalhar numas musicas que eu tinha feito e compor nosso material. Com isso surgiu a Sky Down e com algumas musicas prontas alugamos algumas horas no mesmo estúdio que ensaiávamos em São Caetano do Sul para ensaia-las, e disso saiu nosso primeiro EP "Let There Be Light Cuz We're a Mess" no começo de 2012, gravado apenas por mim e pelo o André (como não tínhamos baixista, toquei baixo nesse EP). Gravamos as 4 músicas que tínhamos junto com um cover de "No Feelings" do Sex Pistols. O nome do EP era uma brincadeira nossa em relação a bagunça do momento, os ensaios e da vida num geral, de estar de saco cheio do emprego. Que nos dessem luz, porque estava tudo uma bagunça. Dessas musicas do começo a que mais gosto é a que quase nunca tocamos em shows, "Some Peace". São musicas simples, "Another Nightmare" por exemplo fiz esperando o André chegar no estúdio porque ele estava atrasado. Pouco tempo depois do EP gravado e lançado, fomos atrás de baixista para começar a fazer shows. Um amigo nosso comentou que o Japa que toca no Conjunto de Música Jovem MERDA estava morando no ABC, que tinha gostado do EP e estava afim de tocar. Marcamos de nos encontrar e conversar num lugar onde rolava shows gratuitos aqui em Santo André e pouco lembro do que falamos (por algum motivo nebuloso), lembro que dei uma copia do EP pra ele e falamos pra aparecer num ensaio nosso num sábado as 10h da manhã. Era o horário que ensaiávamos na época e hoje não sei onde estávamos com a cabeça pra ensaiar sempre nesse horário num sábado, lembro de sair na sexta voltar só o bagaço, pegar as coisas e ir ensaiar eu e o André só o bagaço. Sem querer acabou sendo tipo um teste pra ver se o Japa estava afim mesmo e ele apareceu com as musicas tiradas e empolgado porque tocávamos Wipers. Tendo a banda completa comecei a buscar shows e quem abriu as portas foi o Wlad Cruz do ZonaPunk. Eu escrevia para o site, cobrindo shows, fazendo resenha de discos e havia uma festa do ZonaPunk em tributo ao Joey Ramone, ele estava procurando bandas para tocar lá e todas as bandas deveriam tocar algum disco do Ramones na integra, insisti para o Wlad colocar a Sky Down mas que iriamos tocar nosso material junto com alguns b-sides do

Ramones, ele topou na hora e esse show rolou em maio de 2012 na Outs em São Paulo. Ficamos todo ano de 2012 tocando pelo ABC, São Paulo e interior. Em 2013 o Japa se mudou para a terra do Quique Brown do Leptospirose em Bragança Paulista, e o último show dele conosco foi por lá também na finada Casa 30, lembro apenas da primeira hora que chegamos lá, depois tenho alguns flash e só lembro de umas 5h da manhã eu e mais uns cinco caras num Fiat Uno andando pela cidade ouvindo Racionais. O Japa voltou sangrando pra casa, quase quebrou meu pé abrindo uma porta e acordei com uma sede fora do normal. Na real acho que nem dormi. Dizem que depois do nosso show por lá a Casa 30 ficou com algumas regras para manter uma certa ordem. Bragança é uma cidade que guardamos na (falha) memoria com carinho. Nisso convidamos o Tales que mora aqui em Santo André também e que já conhecia há um tempo. Com essa formação seguimos fazendo shows e compondo material novo. ...nowhere Trabalhei um bom tempo como programador (socorro!) e cheguei a cursar alguns anos de faculdade nessa area, mas não tinha nada a ver comigo. Depois de largar a faculdade, juntar uma grana e mandar o trabalho que levava paralelo a banda a merda, botei na cabeça que deveriamos lançar um disco. Não queria fazer outro EP, sei que as pessoas hoje consomem musica de forma diferente e o EP por ser mais compacto é o que agrada. Mas optamos por fazer um disco mais cheio, as musicas refletem o que a banda era na epoca e o que estava passando pessoalmente, então não fazia sentido separar aquelas musicas. Queria mudar um pouco de ares e gravar num lugar diferente e que captasse o som que tinha na cabeça. E dai surgiu o ...nowhere, ele foi todo gravado no Estúdio Costella do Chuck Hipolitho, gravamos o instrumental das dez musicas em um dia, uma atrás da outra, porque queríamos que soasse como uma banda tocando numa garagem e porque as pessoas na banda trabalham e só podiam tirar um dia de folga para isso. A urgência era necessária. O disco foi gravado todo pelo Chuck e pelo Paulo Senoni, queríamos um estúdio e alguém que pudesse captar a ideia crua que tínhamos em mente. Tendo o disco pronto, mas não lançado, fiz algumas copias em fita k7 com capa desenhada a mão e copiada aqui no som de casa mesmo. Mandei para alguns amigos e pessoas que gosto do trabalho, infelizmente não deu pra mandar para todo mundo que eu gostaria porque consegui poucas

fitas, mas queria resgatar um pouco daquela cultura do pessoal lançar fita/cd promo ou advanced antes do disco sair. É um passo atrás de divulgação, mas é um exemplo de coisa que acredito ser legal e se perdeu com o tempo e internet. Na epoca o ZonaPunk pontuou dizendo que "SST e Sub Pop poderiam ter lançado ...nowhere, ficaria bem em seus respectivos catálogos, mas provavelmente ninguém vai investir uma grana no trio paulista, e teremos este como mais um daqueles álbuns para serem descobertos com o tempo". É como vejo o disco também, é um disco que soa como um álbum de garagem e hoje, um ano depois vejo até que ele tem uma certa ingenuidade.

Com o disco concluído comecei a pensar sobre a capa, sabia que era um disco que soaria cru, então queria algo que entregasse o disco pela capa, de preferencia uma foto. Nesse tempo me deparei com uma reportagem sobre um fotografo canadense chamado Lincoln Clarkes que havia feito um projeto no final dos anos 90 onde ele tirava fotos de garotas viciadas em heroina num bairro do Canada. Eram fotos de um ponto de vista cru, retratando bem a vida daquelas mulheres que eram ignoradas e mal vistas pela sociedade. Existiu até um serial killer que se aproveitou da fragilidade delas matando algumas, não sei nem se a garota da capa esta viva hoje. Enfim, consegui o contato do Lincoln Clarkes e falei com ele para usarmos a imagem na capa do disco, ele perguntou como a banda soava, expliquei mais ou menos e ele topou na hora. Sou eternamente grato a ele por sua atenção e por disponibilizar a imagem para usarmos. Pouco antes do lançamento decidimos gravar um clipe, que fosse rápido, sem muita firula e basicamente a banda tocando num quarto com vários amigos e amigas. Escolhemos "Liar" como o primeiro single, é a canção mais punk e minimalista do disco, são 1:40 gritando sobre como algumas pessoas amam mentir sendo o que não são e no final das contas acabam mentindo para si mesmas. Gravamos o clipe numa tarde dentro de uma estamparia nos fundos da casa do diretor do clipe (Daniel Cardoso da MondoCão Filmes aqui de Santo André), compramos um monte de bebida para

o pessoal passar a tarde e começamos a gravar. Quem já gravou clipe sabe que mesmo se for simples passasse um bom tempo ajeitando as coisas (luz, som, equipo, etc) e nesse meio tempo todo mundo foi ficando um pouco alterado. O que se vê no vídeo são vários takes depois de todos (inclusive a banda) ficarem a tarde toda "se divertindo". No final as meninas pegaram os instrumentos, sentaram na bateria, todo mundo pulando nas coisas, quebrando, derrubando e o resultado é o que esta lá na edição final. Tem uma edição que não lançamos, acho que só com as meninas tocando, um dia disponibilizamos por ai. As pessoas falam que o disco é grunge, que é punk, que é alternativo, teve gente que falou até que achava stoner com surf music (!), pra mim é apenas punk feito numa garagem. O nome do disco vem de como nos sentíamos em relação a nossa volta, nossa perspectiva e num geral fala sobre como o ser humano é um bicho escroto e como é necessário filtrar as pessoas a nossa volta. Lançamos o ...nowhere no final de maio de 2014 junto com o clipe de"Liar" e a recepção foi muito boa, com ele conseguimos tocar pela primeira vez em cidades do interior de São Paulo que não haviamos ido antes e ir para outros estados também. Lugares que eu nem imaginava conhecer. Como Brasília e Goiania, que fomos a convite da menina mentora agitadora cultural por trás desse zine aqui e de outros: a Querolx. Um dia ela veio e me perguntou quando iria ver um show da Sky Down, eu nem conhecia ela e muito menos ela a nos, mas vi que era doida o suficiente pra simpatizar com ela. Brasília é uma cidade legal, é tudo reto e não sei como as pessoas que dirigem lá conseguem saber de onde saíram e pra onde vão. Foram três shows doidos e com um pessoal legal, talvez a maior lembrança foi ter ficado até as 6 da manhã na rodoviária em Goiânia, pisando em barata e bebendo o que sobrou do show, porque achávamos que os ônibus de lá para Brasília saiam de hora em hora. Burros. No final de 2014 gravamos um single homenageando duas bandas que gostamos: Cólera e The Germs. Depois desse single lançado, entrei em contato com o Don Bolles, baterista do lendário Germs, e para minha surpresa ele ouviu nossa versão, gostou e comentou que a bateria estava errada no refrão, mas porque ele não sabia tocar na epoca, então inventava umas coisas que só ele conseguia tocar. Fiquei um bom tempo conversando com ele sobre Germs, as influencias dele, do Pat Smear,

etc. Foi um dos momentos mais legais que já tive na Sky Down. Para 2015 continuamos trabalhando na divulgação do ...nowhere, lançamos mais um clipe dessa vez para a música que batiza o disco, "Nowhere", feito pela MondoCão Filmes também. Nesse caso o clipe foi um pouco mais elaborado seguindo o roteiro de um filme inacabado chamado "Inferno" do diretor francês Henri-Georges Clouzot que o Daniel Cardoso havia sugerido logo depois de "Liar" sair. Gravamos o clipe num periodo de uns três finais de semana. Além da MondoCão Filmes, algumas amigas ajudaram no trabalho de produção do clipe seja participando ou nos bastidores. Tenho planos de fazer mais um clipe dessa vez para a musica "Kindness", cheguei até a esboçar uma ideia sobre, mas acabou ficando engavetada. Essa é uma musica pró-feminismo, fala de como hoje em dia muitos homens adoram incentivar a liberdade feminina mas dentro dos limites impostos por eles e um trecho da letra peguei de uma musica da banda The Gits, formada pela cantora Mia Zapata, que foi assassinada em 1993. Gosto e tenho muito respeito pelo feminismo, me preocupo com o tema e em como me posiciono sobre, porque o feminismo é a voz das mulheres, não somos nós (homens) que temos que dizer a elas o que devem fazer. Por isso gostaria que esse clipe fosse todo feito por mulheres. Recentemente entramos em estúdio novamente e lançamos um single novo ("Human Being"), que foi gravado dentro do projeto Rubber Tracks da Converse e fizemos o lançamento num programa na 89FM aqui. Foi a primeira vez que tive contato com alguma mídia dessas que as pessoas dizem grande. Sei que esse espaço é uma exceção. Anos depois, eu que era ouvinte da rádio na adolescência, estava lá no ar com uma musica da minha banda sendo tocada nela, sem precisar fazer campanha ou qualquer mutreta/jabá para tocar. É engraçado ter conseguido várias coisas, oportunidades, sem por exemplo nem possuirmos um selo/gravadora (alo selos?!) ou qualquer outra ferramenta de apoio, acho que isso mostra o quanto as coisas aqui são esquisitas e o quanto é importante se virar sem ficar preso a nada ou alguém. Não tem selo? lance a música por você mesmo e faça ser ouvido. Não tem show? organize seu próprio show, não dependa de produtores locais. Temos mais força de vontade e ideias do que grana para investir, assim como muitos outros por ai. Não tenho aquele "complexo de underground" no qual você tem que esconder sua banda no fundo do esgoto, não to nem ai pra isso. Se você faz qualquer tipo de arte, você deve mostra-la, ninguém grava um disco pra pegar ele e esconder na gaveta. Se o Ian MacKaye não tivesse trabalhado duro com o Fugazi, aqui no Brasil nunca iriamos ter ouvido falar dele ou da banda, assim como tantas outras e toda essa cultura do DIY. É como

o Jello Biafra diz: "don't hate the media, become the media". O futuro da Sky Down é hoje, talvez o próximo disco venha um pouco diferente, mais arrastado, mais sujo e pesado, mas com alguma coisa mais "acustica". Não sei. Não temos compromisso em agradar determinado publico ou seguir formulas. Se as pessoas gostam, fico muito feliz, se não tudo bem. Fazemos a música que gostamos, acreditamos e é isso o que importa. Não somos uma banda de muitos planos para o futuro, tudo que temos vontade de fazer tentamos fazemos agora. Minha vida não é interessante, as vezes é divertida, maluca, as vezes chata e desinteressante. Muita gente quando conta sua historia fica pintando ela, romantizando de alguma forma. Não tenho saco pra isso. Tem uma citação do Johnny Rotten do Sex Pistols que resume bem o que é tocar numa banda: "O que se vê em todo documentário sobre bandas, antes ou depois, é como tudo é maravilhoso. Isso não é verdade. É difícil, um inferno. É horrível. É gostoso até certo ponto. Mas se sabe por que o esta fazendo você tolerará tudo isso, pois o trabalho no fim do dia é o que importa. Nós conseguimos ofender todos aqueles de quem estávamos cheios." É isso.

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Ouvia algumas rádios também, tipo a 89FM, comprava. fita cassete virgem ou pegava alguma velha e deixava no TAPE B pronta. pra gravar qualquer musica ...

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