De uma história de amor, ao abandono. Entrevista com a advogada Lindinalva Alice Laranjeira Por: José Everton e Leandro Bruno Inajá em foco: Vendo as fotos que a senhora viu, como a senhora se sente com essa situação? Triste de morrer, como se tudo tivesse acabado, meu sonho de ver os mortos num lugar digno acabou. Inajá em foco: Como surgiu a idéia de dar inicio construção ao cemitério? Por que o cemitério anterior, “Quando a gente fazia não tinha mais lugar pra o buraco vinha o enterrar os mortos. Eu cabelo da pessoa, costumava a não perder um enterro, era a primeira a pegar ainda minando o óleo na veia do caixão. Então por da cabeça.” essa razão eu me sentia triste, até cavava buraco de quem não podia pagar. Eu cavava junto de um coveiro chamado Napoleão que só tinha um braço. Cansei de cavar até pra cigano ser enterrado. Eu sentia tristeza que não tinha lugar pra enterrar. Quando a gente fazia o buraco vinha o cabelo da pessoa, ainda minando o óleo da cabeça. Ai aquilo me deu uma tristeza. Então pedi ao padre de inajá para encabeçar um pedido ao povo para fazer um cemitério. Foi então que tomei conhecimento que Maria Leó tinha vendido uma área para o cemitério. Ela me disse que era verdade e mostrou o local. E eu fui lá fazer. Chamei o povo de Inajá e todo mundo ajudou. Jaci Batalha me ajudou muito. Ele deixava o material lá, ele dava ferro, cimento. E se o povo não pagava ele perdoava. O terreno foi vendido, segundo Maria Leó, o terreno foi vendido a prefeitura. E ai começamos a fazer e todo mundo ajudou. Dentro de trinta dias, o cemitério já estava enorme. O material era guardado dentro da casinha que fiz, onde eu dormi vários dias lá dentro. Miguel Cazuza me deu o nome pra igreja de São Miguel, ele disse: eu darei a estátua. Porém tive que vir embora. Inajá em foco: Porque decidiram chamar o cemitério de Parque da Saudade? Olhe o cemitério é parque da saudade, mas a igreja é São Miguel. Esse nome é porque Seu Miguel queria que fosse colocado Parque das Laranjeiras. Ai eu disse: bote ai, quem tá fazendo é você, então ele disse: será Parque das Laranjeiras. Frisei – Deus que livre, não! Bote Parque da

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saudade, pois quem vai pra lá só deixa saudade. Eu troquei o das Laranjeiras que Miguel cazuza e Zé Paulino queriam por da Saudade, Miguel me ajudou muito, até quando morreu. E eu ainda vou comprar a estátua de são Miguel pra colocar lá, em lembrança a ele. Ainda vou voltar lá pra limpar essa sujeira, juntamente com o povo. Inajá em foco: O que foi construído primeiro as paredes do cemitério ou a igreja? Tivemos que construir primeiro a igreja para guardar os materiais, que o povo dava. Eu cansei de dormir lá mesmo para não roubarem os cimentos, pois não cabia no de Santo Antônio. Era muita coisa, ali todo mundo doou. Inajá em foco: Percebe-se que o cemitério ainda não foi terminado. Por que a senhora não terminou? Por que eu vim embora. Minha mãe morreu logo que comecei o cemitério. Ai tive que vir embora, pois lá não tinha com o que me sustentar. Inajá em foco: Qual a maior dificuldade que a senhora teve para construir o cemitério? O povo não colocou dificuldade. Só por parte do “O povo não colocou prefeito, pois ele me mandou dificuldade. Só por parte parar, pois ele disse que não do prefeito. Ele disse que era de minha competência. não era de minha Ele e Afonso Melo. No dia que competência.” morreu um Zé Carlos que era deficiente, eu estava indo pro enterro dele. Estavam terminando o cemitério ai Armando pediu para parar. Ele perguntou qual o meu interesse em fazer o cemitério. Ai contei que os mortos estavam sendo tratados como animal. Eu ia pros enterro, era quem enterrava. A gente cavando pra enterrar e não tinha lugar (no de Santo Antônio). Então, mandei ele se retirar, disse que só saia quando fechasse a porta do cemitério. E se ele não sair eu jogo pedra. Hoje ele mesmo está enterrando no cemitério que ele mandou parar. Porém não paro, pois pedi pra fazer e o senhor disse “Eu me chamo “urubu que iria fazer, todo de cemitério” prefeito que entra pedi pra fazer, mas nunca fizeram. Eu me chamo “urubu de cemitério”. Minha vida é carregar copo, todo enterro eu estava lá, eu e Napoleão. Enterrava até os ciganos, que o povo não queria enterrar. Diziam que não iam pagar pra abrir a cova. Era Napoleão cavando e eu com a pá na mão

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De uma história de amor, ao abandono. tirando terra, quando menos se esperava, olha a cabeça do povo, olha uma “quando menos se canela do povo, é brincadeira? Se esperava, olha a cabeça Napoleão for vivo ele do povo, olha uma canela vai confirmar. Todo do povo, é brincadeira?” mundo conhece ele. O único empecilho que encontrei foi esse. O prefeito que me proibiu. Ele disse que o povo da prefeitura iria terminar, mas nunca encostaram. Então mandei o filho de Anselmo acelerar (a construção) do portão, não tinha dinheiro pra pagar então fui atrás de Jaci. Eu não pegava em dinheiro. Era um livro que o povo depositava no banco do Brasil. Os pedreiros os que podiam ajudar ajudavam os que pediam pra pagar a gente pagava. O povo me dava um papel dizendo: depositei tal valor. A gente comprava soja, fazia um fogo bem grande, botava numa panela pra dar comida aquele povo que ajudou na construção. Era um verdadeiro mutirão e dentro de trinta dias fechei-o na chave. Inajá em foco: Por que você decidiu sair de Inajá? Olhe depois que minha mãe morreu, eu tive que vir embora, pois não tinha como me sustentar. Ai de mim se tivesse ficado em minha terra. Hoje eu tenho a minha mansão. Digo que é minha mansão não por luxo, mas por ser minha casa. Eu nunca tive luxo, mas tive amor por minha terra. Tive que sair por necessidade. Porque todos são meus conhecidos e não “Eu saí de minha tenho coragem de cobrar terra, mas minha dos meus conhecidos. Eu saí de minha terra, mas minha terra jamais saiu terra jamais saiu de mim. de mim.” Mas voltarei. Assim que me aposentar voltarei. Nunca dependi de prefeitura, sempre fui amiga de todos os políticos. De todos os prefeitos. Se ainda estivesse lá, nem uma cassa teria para morar, até pra vir pra cá (Petrolina) tiveram que me dar um carro. Inajá em foco: Quando a primeira pessoa foi enterrada o muro já tinha sido erguido? Tinha apenas uma banda. Eu botei lá no canto e fiquei tomando de conta dele enquanto terminavam o muro. Foi o pai da mulher de José Cabeçote. João Jacinto se não estou enganada. O segundo foi um anjinho que coloquei do outro lado. Porém sem saber da demarcação correta enterrei o anjinho além da área comprada. Só depois descobri que ela pertencia a Clóvis. Ele foi reclamar, eu

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mandei ele desenterrar.Ele me disse que eu não podia ter feito aquilo. Ainda rendeu um bom bate boca. Inajá em foco: Hoje vendo a situação, o que você acha que deve ser feito para reverter a situação? Que se coloque uma pessoa pra tomar conta daquilo. Juntar toda a comunidade pra nomear uma pessoa pra tomar conta daquilo, isso por amor. Eu aposentada tomo conta daquilo ali a troco de nada. Só por amor e zelo por nossos antepassados. Eu tenho amor só a essas coisas, que não há retorno. Os mortos vão me retornar em que? Só voltando aposentada pra continuar. Deixa-me triste uma coisa dessas, me acaba, é mesmo que me dar uma paulada. Tanto trabalho que tivemos. Para você ter uma idéia o trator que usamos foi à prefeitura de Ibimirim que cedeu. Não consegui em Inajá, ai Beta conseguiu pra mim. Pedi ao prefeito Mário Almeida ele mandou através de Beta. A prefeitura de Inajá não negou, mas se omitiu. Você falou que o cemitério era pra haver gavetas? O que houve com esse planejamento? O muro todo era pra ser com gavetas. Foi feito pra ser. Tinha também as ruas. Era tudo com rua. Tinha inclusive um mapa feito por um topógrafo, ele se chamava Chiquinho ele era de Petrolândia .Não sei afinal que fim teve esse planejamento. Inajá em foco: Qual a opinião que a senhora tem sobre o que a Presidente da Câmara municipal de Inajá falou? Discordo, é certo que a comunidade tem que ter certa obrigação com aquela casa (o cemitério). Pois é nossa casa depois de morto. Todos devem zelar. Só que a prefeitura tem por obrigação de cuidar. Arrumar um administrador. Agora eles acham que por que foi o povo que fez, o povo é quem deve se virar pra cuidar. Se a cidade tivesse dez pessoas do meu jeito, não precisaria de prefeitura, estado, governo nenhum. Pois faço tudo com amor. Inajá em foco: Qual a mensagem que você tem ao povo inajaense? Eu morro de saudades de todos. E peço que todos tenham amor a essa cidade que é tão hospitaleira. Quando vou pra festa de junho é como se eu ganhasse um coração novo. Ano que não vou meu coração está lá.

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