Sonhando Com Você Lisa Kleypas Livro 02 da Série Apostadores

No refúgio de sua casa no interior da Inglaterra, Sara Fielding escreve as histórias com que todos sonham. Agora, com um novo livro e uma inata imaginação empurram essa jovem bem educada e de aparência frágil a adentrar no perigoso mundo de Derek Craven. De mero batedor de carteiras nas ruelas de Londres a proprietário da casa de jogos mais exclusiva da capital. A fulgurante ascensão de Craven o converteu em um dos homens mais ricos da Inglaterra e também o de coração mais duro.

Título original: Dreaming of you Título em espanhol: Sueño contigo Casal principal: Sara Fielding & Derek Craven Gênero: Histórico Série: Livro 02 da Série Jogadores Série Gamblers (Lisa Kleypas) 1. Then Came You (1993) (Traduzido e revisado ARE – Quando você chegou) 2. Dreaming of You (1994) (Traduzido e revisado ARE – Sonhando com você)

A Karen Churchill Bodager com amor..... Estou feliz de ter tão bom gosto com amigos.

Lisa Kleypas

Sonhando com você

CAPÍTULO UM

A solitária figura de uma mulher estava parada nas sombras. Apoiada contra a parede de uma ruinosa pensão, seus ombros encurvados como se estivesse doente. Os duros olhos verdes de Derek Craven oscilaram sobre ela quando saiu do beco dos fundos da casa de jogos clandestinos. Semelhante vista não era insólita nas ruas de Londres, sobre tudo nos bairros pobres, onde o sofrimento humano era visível em toda sua variedade. Aqui, a uma distância curta, mas significativa do esplendor de St James, os edifícios eram uma massa desmoronada de sujeira. A área estava infestada de mendigos, prostitutas, estelionatários, ladrões. Seu tipo de gente. Aqui não se encontraria nenhuma mulher decente, especialmente depois do pôr do sol. Mas se era uma puta, estava vestida estranhamente para isso. Sua capa cinza se separava na frente para revelar um vestido com gola alta feito de pano escuro. A mecha de seu cabelo presa debaixo de seu capuz era de um castanho pouco definido. Era possível que esperasse por um marido errante, ou possivelmente era uma empregada que se perdeu. As pessoas olhava furtivamente à mulher, mas passavam por ela sem romper o passo. Se permanecesse aqui muito mais tempo, não havia dúvida que seria violada ou roubada, inclusive agredida e assassinada. Um cavalheiro iria em sua direção, perguntar por seu bem-estar, expressar preocupação por sua segurança? Mas ele não era nenhum cavalheiro. Derek deu a volta e se afastou, cruzando o pavimento ruinoso. Ele tinha crescido nas ruas, nascido nos bairros pobres, cuidado desde a primeira infância por um grupo de esfarrapadas prostitutas, e educado em sua juventude por criminosos de todo tipo. Estava familiarizado com os esquemas utilizados para aproveitar-se dos imprudentes, dos poucos e eficazes momentos que se demora para roubar um homem e esmagar sua garganta. Com freqüência usavam mulheres em tais complôs como cobaias ou como vigilantes, ou inclusive assaltantes. Uma suave mão feminina podia fazer muito dano quando segurava em torno de um porrete de ferro, ou quando usava uma meia carregada com uma libra ou dois de peso. Finalmente Derek se deu conta de passos perto dele. Algo neles causou um formigamento ao longo de sua coluna. Dois passos pesados, pertencentes a homens. Deliberadamente mudou o passo, e eles se adaptaram para igualar-se. Estava sendo seguido. Possivelmente tinham sido enviados por seu rival Ivo Jenner para provocar danos. Praguejando silenciosamente, Derek começou a virar uma esquina. Como esperava, eles andaram de pressa. Rapidamente deu a volta e agachou sob o golpe de um punho apertado. Confiando no instinto e nos anos de experiência, mudou seu peso para uma perna e repartiu golpes sinistro com seu pé, atirando um golpe no estômago de seu atacante. O homem soltou um ofego surdo de surpresa e cambaleou para trás. Voltando-se de repente, Derek se equilibrou contra o segundo homem, mas era muito tarde... Sentiu o ruído surdo de um objeto metálico sobre suas costas e um impacto cego sobre sua cabeça. Atordoado, caiu pesadamente ao chão. Os dois homens avançaram lentamente sobre seu corpo crispado. -Anda rápido. -disse um deles, sua voz apagada. Lutando, Derek sentiu que

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sua cabeça se virava para trás. Arremeteu com um punho apertado, mas seu braço foi jogado na terra. Uma navalhada cruzou seu rosto, um rugido amortecido em seus ouvidos, a umidade quente fluindo em seus olhos e sua boca ... Seu próprio sangue. Balbuciou um gemido de protesto, se retorcendo para liberar da aguda dor. Passou rapidamente. Não podia detê-los. Sempre tinha temido à morte, por alguma razão soube que chegaria assim, não em paz, e sim com dor, violência e escuridão. Sara deixou de ler a informação que tinha juntado até esse momento. Olhando atentamente através de seus óculos, deu voltas na cabeça às novas palavras de baixo calão que tinha ouvido nessa noite. A língua da rua mudava rapidamente de ano em ano, um processo evolutivo que a fascinava. Apoiando-se contra uma parede em busca de privacidade, estudou minuciosamente os apontamentos que tinha tomado e rabiscou umas correções com seu lápis. Os jogadores se referiram ao jogo de cartas e se advertiram uns aos outros de tomar cuidado com as "trituradoras", o que possivelmente tinha a intenção de descrever à polícia. Uma coisa que ela não tinha entendido ainda era a diferença entre "vigaristas" e "ladrões de carteira", ambas as palavras estavam acostumadas referir-se a ladrões de rua. Bem, teria que averiguá-lo ... Era imperativo que usasse os términos corretos. Em suas duas primeiras novelas, Mathilda e O mendigo, tinham elogiado sua atenção pelos detalhes. Não queria que seu terceiro, ainda sem título, fosse tachado por falta de precisão. Perguntou se os homens que chegavam e se iam casa de jogo clandestino seriam capazes de responder suas perguntas. A maior parte deles tinha má fama, com os rostos sem barbear e uma higiene pobre. Possivelmente seria pouco aconselhável perguntar algo que poderiam não acolher bem uma interrupção em sua farra noturna. Por outro lado, tinha que falar com eles sobre seu livro. E Sara sempre tomava cuidado por não julgar às pessoas pela aparência exterior. De repente ouviu uma briga perto da esquina. Tratou de ver o que acontecia, mas a rua estava coberta pela escuridão. Depois de dobrar o maço de papel que tinha anotado para formar um livrinho, deslizou-o em sua bolsa e se aventurou para frente com curiosidade. Uma corrente de palavras grosseiras levou cor a suas bochechas. Ninguém usava semelhante linguagem em Greenwood Corners exceto o velho Mr. Dawson, quando bebia muito ponche especialmente no festival anual de Natal da cidade. Havia três figuras ocupadas em uma luta. Parecia que dois homens sustentavam a um terceiro sobre o chão e o agrediam. Ouviu os sons de punhos esmurrando sobre a carne. Franzindo a sobrancelhas timidamente, Sara agarrou sua bolsa de mão enquanto observava. Seu coração começou a palpitar como a de um coelho. Seria imprudente implicar-se. Estava aqui como observadora, não uma participante. Mas a pobre vítima fazia tais gemidos lastimosos ... E de repente seu horrorizado olhar captou o brilho de uma faca. Vão assassinar ele. A toda pressa Sara abriu sua bolsa procurando a pistola que sempre levava em suas viagens de investigação. Nunca a tinha usado com alguém antes, mas tinha praticado tiro em uma fazenda no campo do sudeste de Greenwood Corners. Tirando a pequena arma, apontou-a e falou. -Parem agora mesmo!-gritou ela, tratando de voltar sua voz forte e autoritária. -Insisto em que se detenham imediatamente! Um dos homens levantou o olhar para ela. O outro ignorou seu grito, levantando a faca uma vez mais. Eles não a consideravam uma ameaça. Mordendo o lábio, Sara levantou a trêmula pistola e apontou a esquerda deles. Não podia

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matar ninguém, duvidava que sua consciência o tolerasse, mas possivelmente o ruído forte os assustaria. Estabilizando sua mão, apertou o gatilho. Quando os ecos do disparo da pistola se apagaram, Sara abriu os olhos para ver os resultados de seus esforços. Para seu assombro, compreendeu que tinha acertado sem querer a um dos homens... Deus querido! Ele estava de joelhos, agarrando a ferida jorrando sangue em suas mãos. Bruscamente se desabou com um ruído. O outro homem ficou congelado. Ela não podia ver seu rosto no escuro. -Parta agora. -ouviu dizer Sara com a voz tremendo de medo e consternação. -Ou... Ou atiro em você também! Ele pareceu desvanecer-se na escuridão como um fantasma. Sara se arrastou sobre o chão até os dois corpos. Ficou olhando com a boca aberta de horror, e a cobriu com seus dedos tremendo. Definitivamente tinha matado um homem. Rodeando com cautela seu corpo cansado se aproximou da vítima que foi atacada. Seu rosto estava coberto de sangue. Gotejava de seu cabelo negro e encharcava a parte dianteira de sua roupa. Uma sensação de náusea a invadiu enquanto perguntava se o resgate tinha chegado muito tarde para ele. Sara colocou a pistola de volta em sua bolsa. Sentia frio por toda parte e estava tremendo. Em seus vinte e cinco anos protegidos, não tinha visto nada como isto. Olhou de um corpo ao outro. Quem dera houvesse uma patrulha á pé por perto, ou um dos renomados e bem treinados policiais da cidade. Encontrou-se esperando que algo ocorresse. Alguém descobriria por acaso a cena muito em breve. Uma sensação de culpa se arrastou através de sua emoção. Meu Deus! Como poderia viver consigo mesma sabendo o que tinha feito? Sara olhou atentamente à vítima do roubo com uma mistura de curiosidade e compaixão. Era difícil ver seu rosto através de todo o sangue, mas parecia ser jovem. Sua roupa estava bem feita, a classe de roupa que se devia encontrar em Bond Street. De repente viu mover-se seu peito. Ela piscou surpreendida. -S-senhor?-perguntou inclinando-se sobre ele. Ele se impulsionou para cima, e soltou um aterrorizado gemido. Uma mão grande agarrou o tecido de seu sutiã, apertando muito forte para permiti-la afastar-se. Outra mão se elevou até seu rosto. Sua mão descansou sobre sua bochecha, seus dedos trêmulos lubrificado de sangue. Depois de um frenético intento de escapar, Sara caiu ao lado dele. -Frustrei seus atacantes, senhor.-Corajosamente tratou de afastar seus dedos de seu sutiã. Seu apertão era como ferro. -Acredito que posso ter salvado a vida. Me solte ... Por favor ... Ele demorou muito em responder. Pouco a pouco sua mão desapareceu de seu rosto e desceu devagar por seu braço até que encontrou seu punho. -Me ajude a levantar. - disse bruscamente, surpreendendo-a com seu jeito de falar. Não esperava que um homem que usava roupa tão fina falasse com um morador de bairro pobre. -Seria melhor que pedisse ajuda ... -Aqui não.-conseguiu ofegar. - Cabeça oca. Não ... A roubariam e estripariam em um segundo. Ofendida por sua dureza, Sara esteve tentada a dizer que um pouco de gratidão não seria mau. Mas ele devia estar consideravelmente dolorido. -Senhor,-disse timidamente,-seu rosto ... Se me permite tirar o lenço de minha bolsa ... -Você disparou com a pistola?

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-Teme que sim. - Colocando com cuidado sua mão dentro da bolsa, afastou a arma e encontrou o lenço. Antes que pudesse tirá-lo ele apertou mais seu punho.Deixe-me ajudar.-disse brandamente. Seus dedos se afrouxaram, e ela levou para diante o lenço limpo e prático de linho. Com cuidado o aplicou em seu rosto e apertou o linho dobrado contra a horrível incisão que tinha da sobrancelha até a metade da bochecha. Isto lhe desfiguraria. Por seu bem, esperava que não perdesse um olho. Um assobio de dor escapou de seus lábios, salpicando a de sangue. Estremecendo, Sara tocou sua mão e a levou a seu rosto. -É possível sustentar isto em seu lugar? Bem. Agora, espere aqui, tentarei encontrar alguém que nos ajude ... -Não.-Ele seguiu sustentando o tecido de seu vestido, cravando seus dedos na suave curva de seus seios.-Estou bem. Me leve a Craven’s. Na rua James Street. -Mas não sou forte o bastante, nem conheço a cidade. -Está perto daqui. -Que aconteceu com o homem que disparei? Não podemos simplesmente deixar o corpo. Ele soltou um gemido sardônico. -Que a desgraça caia sobre ele. Me leve a St James. Sara se perguntou o que faria ele se ela se negasse. Parecia ser um homem de temperamento inconstante. Apesar de suas feridas, ainda era bastante capaz de fazer danos. A mão em seu seio era grande e muito forte. Devagar Sara tirou os óculos e os colocou em sua bolsa. Deslizou seu braço sob o casaco, e ao redor de sua magra cintura, ruborizando-se consternada. Nunca tinha abraçado a um homem exceto seu próprio pai, e a Perry Kingswood, seu quase prometido. Nenhum deles se parecia com este. Perry estava bastante em forma, mas não era comparável absolutamente com este estranho alto e magro. Ela conseguiu ficar de pé, cambaleou-se quando o homem a usou como alavanca para levantar-se. Não tinha esperado que fosse tão alto. Ele firmou seu braço ao redor de seus pequenos ombros enquanto mantinha o lenço apertado sobre seu rosto. Soltou um leve gemido. -Está bem, senhor? Quer dizer é capaz de andar? Isso produziu uma gargalhada. -Quem demônios é você? Sara deu um passo vacilante em direção a St. James, e ele cambaleou a seu lado. -Senhorita Sara Fielding, -disse ela, logo acrescentou cautelosamente de Greenwood Corners. Ele tossiu e cuspiu uma baforada de saliva de sangue. -Por que me ajudou? Sara não pôde evitar notar que seu sotaque tinha melhorado. Soava quase como um cavalheiro, mas o rastro ainda estava aí, suavizando suas consoantes e aplanando as vocais. -Não tinha opção. -respondeu ela, resistindo sob seu peso. Ele se agarrou as costelas com seu braço livre e se sujeitou a ela com o outro. -Quando vi o que aqueles homens estavam fazendo ... -Tinha outra opção. -disse com voz áspera.-Poderia ter fugido ... - Voltar as costas a alguém em perigo? A idéia é impensável. -Fazem isso a todo o tempo. -Não de onde vim, asseguro. Notando que se afastavam para o meio da rua, Sara o guiou de volta à beira, onde estavam ocultos na escuridão. Esta era a noite mais estranha de sua vida. Ela

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não esperava caminhar por um subúrbio de Londres com um estranho espancado. Ele separou o lenço de seu rosto, e Sara se tranqüilizou ao ver que a hemorragia tinha diminuído. -Será melhor que o sustente contra a ferida- Disse ela.-Devemos encontrar um médico.-surpreendeu-se de que ele não tivesse perguntado pelo alcance do dano.-Pude ver que agrediram seu rosto com uma larga navalhada. Mas não parece ser profunda. Vai curar bem, pode ser que seu aspecto não fique muito afetado. -Não importa. O comentário afiou a curiosidade de Sara. -Senhor, tem amigos em Craven's? É por isso que vamos lá? -Sim. -Por acaso tem a sorte de conhecer Sr. Craven? -Eu sou Derek Craven. -O Sr. Craven? -Seus olhos se arregalaram com excitação. -O mesmo que fundou o famoso clube e procede da vadiagem e... Realmente nasceu em um deságüe como diz a lenda? É verdade que você ... -Baixe a voz, maldita seja.-Sara não podia acreditar em sua sorte. -Isto é uma verdadeira coincidência, Sr. Craven. Estou em processo de investigação para uma novela sobre jogo. É por isso que estou aqui a esta hora da noite. Greenwood Corners não é o tipo de lugar muito mundano, e portanto achei necessário vir a Londres. Meu livro será um trabalho de ficção que incluirá muitas descrições de pessoas e lugares significativos para a cultura do jogo... -Jesus.-grunhiu.- Dou-lhe uma maldita fortuna, se mantiver a boca fechada até que cheguemos ali. -Senhor ...Sara atirou dele para afastá-lo de um montão de pequenos escombros, no qual poderia haver-se cansado. Sabendo que ele estava sofrendo dor, ela não se ofendeu por sua grosseria. A mão apertada em seu ombro tremia. -Quase estamos fora dos bairros pobres, Sr. Craven. Você estará bem. A cabeça de Derek dava voltas, e lutou por manter o equilíbrio. O golpe em sua cabeça parecia ter tirado de repente os miolos para fora do lugar. Apertando mais a pequena forma a seu lado, ele igualou seus passos arrastados aos seus. Apoiou-se mais pesadamente sobre ela até que o tecido de seu capuz acariciando seu ouvido. Uma espécie de assombro surdo o agarrou. Às cegas seguiu à pequena estranha faladora e esperou. Por Deus que ela o estivesse conduzindo na direção correta. Era o mais próximo a uma prece que jamais tinha feito. Perguntava-lhe algo. Ele lutou para concentrar-se em suas palavras. -... Deveríamos subir os degraus adiante, ou há outro caminho? -A porta lateral.-resmungou, dando uma olhada atrás do lenço.-Por ali. -Caramba! Que edifício grande. Sara olhou o clube com temor. O enorme edifício estava encabeçado por oito colunas Luxuosas e sete frontais, e bordejado por duas asas. Tudo estava rodeado por um corrimão de mármore. Teria gostado de ter subido as escada da frente e ter visto o célebre salão, cheio de vidros de coloridos, veludo azul, e lustres com luzes. Mas certamente o Sr. Craven não quereria mostrar-se assim diante dos membros do clube. Depois que o levasse ao lado do edifício, desceram um degrau curto de escadas que conduzia a uma pesada porta de madeira. Dereck agarrou o trinco e abriu a porta com um empurrão. Imediatamente se aproximou deles Gill, um de seus empregados. -Sr. Craven!-Exclamou o jovem, seu olhar se lançou no lenço encharcado de sangue apertado no rosto de Derek, aos olhos apreensivos da Sara. -Por Deus! ... -Vá procurar Worthy.-resmungou Derek.

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Ele passou roçando Gill e atravessou o pequeno hall artesanal. A tortuosa escada conduzia a seus apartamentos privados. Contemplando a subida de seis passos, fez gestos bruscamente para que Sara o acompanhasse. Surpreendida de que ele quisesse que ajudasse a subir a escada, Sara vacilou. Ela deu uma olhada no empregado jovem, que já se afastava deles e desaparecia sob um amplo salão atapetado. -Venha.-Derek disse bruscamente, fazendo gestos outra vez.-Acredita que tenho toda a noite para estar aqui de pé? Ela foi imediatamente para ele, e ele pôs um braço forte ao redor de seus ombros. Juntos começaram a subir as escadas. -Quem é Worthy?-Perguntou, deslizando um braço ao redor de sua dura cintura para estabilizá-lo. -O encarregado.-As costelas de Derek pareciam cortar suas tripas como facas. Seu rosto ardia como o fogo. Ouviu-se falar com você mesmo, todos os anos as classes particulares abandonadas por revelar seu marcado sotaque de morador de bairro pobre. -Worthy ... Ele faz tudo... Ajuda-me no clube. Confio nele ... Com minha vida.Ele tropeçou no patamar e choramingou uma maldição. Sara apertou seu braço em sua cintura. -Espere. Se cair, não poderei levanta-lo. Devemos esperar alguém mais forte para que o ajude no resto do caminho. -Você é forte o bastante. -Ele começou o seguinte lance, seu braço agarrado ao redor de seus ombros. -Sr. Craven.-Protestou Sara, torpemente ascenderam outros dois passos. Sara estava aterrorizada que ele pudesse deprimir-se e cair pela escada. Ela começou a animá-lo, dizendo algo que pudesse pensar para mantê-lo em movimento. -Quase chegamos... Venha, você é muito teimoso para subir os degraus... Mantenha-se de pé ... Ela respirava com força pelo esforço quando subiram o último degrau e chegaram à porta de seus apartamentos privados. Cruzaram a entrada e chegaram a um salão decorado com metros de veludo cor ameixa em rico relevo. Seu olhar assombrado tomou nota do couro dourado em relevo sobre as paredes, o régio desfile de portas janela, e a esplêndida vista da cidade. Seguindo as instruções resmungadas do Sr. Craven, ajudou-lhe até o quarto. O quarto estava revestido com damasco verde e elaborados espelhos. Esta continha a cama maior que jamais tinha visto em sua vida. Ruborizando-se profundamente, Sara refletiu que nunca tinha estado no quarto de um homem antes. Foi tirando a vergonha preocupada enquanto o Sr. Craven avançava lentamente e se metia na cama, com botas e tudo. Tombou-se de costas com um ofego e ficou muito quieto. O braço sujeito com força sobre suas costelas relaxadas. -Sr. Craven? Sr. Craven .... -Sara se abateu sobre ele perguntando-se o que fazer. Ele tinha desacordado. Seu corpo comprido imóvel, suas mãos grandes meio apertadas. Baixando a mão em seu pescoço, desarrochou sua gravata manchada. Com cuidado desenrolou o tecido e separou o lenço de seu rosto. A navalhada ia desde sua fronte direita, cruzando a ponta de seu nariz, e descia a beira da maçã de seu rosto esquerdo. Embora seus traços estejam apagados, eram fortes e regulares. Seus lábios separados para revelar uns dentes deslumbrantemente brancos. Manchas acobreadas de sangue cobriam sua pele morena, incrustadas nas linhas grossas de suas sobrancelhas e em suas longas pestanas. Avistando um lavabo pelo quarto, Sara se apressou para ele e encontrou

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água fresca na jarra. Depois de verter o líquido na bacia, levou ao criado mudo. Umedeceu o pano e apertou em seu rosto, apagando o sangue e a sujeira. Enquanto limpava seus olhos e bochechas, a água o reanimou, e ele soltou um som rouco. Suas espessas pestanas se elevaram. Sara fez uma pausa em sua tarefa quando se encontrou a si mesma olhando diretamente nos olhos verdes intenso, da cor da erva durante uma manhã fresca de primavera. Havia uma estranha sensação em seu peito. Ele levantou sua mão, tocando uma das mechas de seu cabelo avermelhado que caía de seus adornos. Sua voz era rouca. -Seu nome ... -Sara. -sussurrou. Nesse mesmo momento dois homens entraram no quarto, um deles pequeno e com óculos, o outro mais alto. -Sr. Craven.-disse o pequeno com serenidade.-Trouxe o Doutor Hindley. -Uísque. -pigarreou Derek.-tive que tirar o lixo. -Esteve em uma briga?-Worthy se inclinou sobre ele, seu rosto suave envolto em surpresa.-OH, não. Seu rosto.-Ele olhou fixamente com desaprovação a Sara, que se mantinha a parte retorcendo as mãos.-Espero que esta jovem vala a pena, Sr. Craven. -Não lutava por ela.- disse Derek, antes que Sara pudesse intervir.-Foram os homens de Jenner, acredito. Dois deles armados com uma navalha lançaram-se sobre mim na rua. Este pequeno camundongo ... Tirou uma pistola e deu um tiro a um dos bastardos. -Bem.-Worthy olhou para Sara com uma expressão muito mais cálida.Obrigado, senhorita. Foi muito valente de sua parte. -Não fui valente absolutamente. -disse Sara com seriedade. -Não parei para pensar. Passou muito rapidamente. -Em qualquer caso, devemos nossa gratidão.-Worthy vacilou antes de acrescentar-Sou empregado do Sr. Craven para tratar com as brigas, assim como ... -Deu uma olhada no corpo manchado de sangue de Craven e terminou sem convicção. -qualquer outro assunto que requeira minha atenção. Sara sorriu. Worthy era um homem muito agradável, com traços pequenos, bem proporcionados, escasso cabelo na cabeça e óculos brilhantes colocados sobre seu nariz comprido. Havia um ar de paciência nele que adivinhou não seria fácil afetar. Juntos ele e o doutor se inclinaram sobre a cama, tirando os sapatos e a roupa de Craven. Sara se afastou, afastando modestamente o olhar. Ela começou a sair do quarto, mas Craven disse algo bruscamente, e Worthy a deteve. -Acredito que seria melhor que não partisse ainda, senhorita ... -Fielding.-murmurou ela, mantendo os olhos no chão.-Sara Fielding. O nome pareceu despertar seu interesse. -Alguma relação com o S. R. Fielding, a novelista? -Sara Rose -disse isso uso minhas iniciais pelo anonimato. O doutor elevou os olhos da cama com uma expressão de prazer surpreso. - Você é S. R. Fielding? -Sim, senhor. As notícias pareceram animá-lo: -Que honra! Mathilda é uma de minhas novelas favoritas. -Foi meu trabalho de mais êxito.-admitiu Sara modestamente. -Minha esposa e eu passamos mais de uma tarde analisando teorias sobre o final da novela. Atirou-se Mathilda da ponte para terminar com sua miséria, ou decidiu procurar a expiação para seus pecados ... -Me perdoe.-disse uma voz gelada da cama.-Vou sangrar até morrer. Mathilda pode tornar-se aos peixes. Sara franziu a sobrancelha.

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-OH, sinto muito. Doutor Hindley, por favor ocupe do Sr. Craven imediatamente.-Ela olhou para Worthy.-Onde quer que espere? -Eu vou na sala ao lado, com sua permissão. Pode pedir por chá e refrescos. -Obrigado. -Enquanto Sara ia ao salão, pergunto que ocorria com Mathilda que sempre inspirava semelhante interesse. A popularidade do livro nunca deixava de assombrá-la. Até houve uma recente representação da história. As pessoas começaram a falar do caráter da Mathilda como se fosse uma pessoa real, parecendo desfrutar de debates infinitos a respeito da conclusão da novela. Depois de escrever a história de uma moça que escapou do campo e tinha seguido nos caminhos pecaminosos da prostituição, Sara deliberadamente tinha deixado uma possibilidade no final. Na última página Mathilda estava em equilíbrio na beirada da ponte de Londres, com a decisão de terminar sua vida arruinada ou comprometer-se consigo mesma a uma existência desinteressada de fazer o bem a outros. Os leitores poderiam formar suas próprias opiniões sobre o destino de Mathilda. Pessoalmente, Sara não queria saber se Mathilda vivia ou morria... O caso era que tinha aprendido o engano de seus costumes. Lembrando de sua bolsa pendurada esquecida em seu braço, Sara investigou dentro e encontrou seus óculos. Esfregou os sobre a manga até que brilharam, os colocou sobre o nariz, e localizou seu caderno. "Jogar aos peixes", refletiu, anotando a expressão desconhecida. Devia pedir a alguém que explicasse mais tarde. Devagar tirou a capa e a pôs sobre o respaldo de uma poltrona. Sentiu-se como se estivesse apanhada na garra de um leão temporariamente desocupado. Depois caminhou até as janelas, afastando as pesadas cortinas cor ameixa para revelar uma visão da rua. Toda Londres estava justo fora desses finos vidros, um mundo de gente ocupada, absorta em suas próprias vidas. Deu a volta para olhar os espelhos dourados que adornavam as paredes, e os móveis suntuosos estofados com veludo pintado e bordado. As mesas, com pedras semipreciosas incrustadas, estavam enfeitadas com acertos de flores frescas de estufa. A sala era formosa, mas muito extravagante. Sara preferia a pequena casinha de campo em que viviam ela e seus pais. Havia um pomar nos fundos, e árvores frutíferas que seu pai cuidava meticulosamente. Tinham um pequeno jardim, uma pastagem, e um velho cavalo cinza chamado Eppie. Os móveis descoloridos em sua pequena sala estavam constantemente cheios de convites. Seus pais tinham muitos amigos. Quase todos em Greenwood Corners tinha vindo de visita em um momento ou outro. Isto, pelo contrário, era um palácio esplêndido e solitário. Sara estava de pé frente a uma viva pintura a óleo representando deuses romanos envoltos em alguma celebração decadente. Foi distraída por um gemido no quarto ao lado, e uma maldição do Sr. Craven. Deviam estar costurando a ferida de seu rosto. Sara tratou de ignorar os sons, mas depois de alguns momentos, a curiosidade a obrigou a investigar. Indo à entrada, viu Worthy e o Doutor Hindley inclinados sobre a cabeça de Sr. Craven. A parte inferior de seu corpo coberto por um lençol branco estava imóvel. Mas suas mãos se moviam nervosamente em seu colo, como se tivesse vontade de se separar de um empurrão o doutor. -Dei todo o medicamento que pude, Sr. Craven.-comentou o Doutor Hindley, dando outro ponto no corte. -Maldita intriga... Nunca funciona comigo. Mais uísque. -Se somente fosse paciente, Sr. Craven, isto estaria acabado em minutos. Outro gemido aflito estourou.

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-Maldito seja e todos outros em seu pestilento, sangrento, apavorante, negócio de cadáveres .... -Sr. Craven.-interrompeu Worthy a toda pressa.-O Doutor Hindley faz todo o possível para reparar o dano feito a seu rosto. Ele trata de te ajudar. Por favor não o chateie. -Está muito bem. -disse o doutor com calma.-por agora sei que esperar dele.-Ele seguiu unindo as beiradas da pele com pontos pequenos e cuidadosos. Tudo esteve tranqüilo durante um momento, e logo Derek soltou um grito surdo. -Por todos os diabos. Não me importa o que parece. Me deixe em paz ... -Ele fez um movimento para levantar-se da cama. Sara entrou no quarto imediatamente. Estava claro que Craven tinha um gênio forte, mas ele devia ser enrolado para que agüentasse. Seria uma vergonha não deixar que o doutor salvasse o que pudesse de seu rosto. -Senhor,-disse ela com brios -sei que é incômodo, mas deve deixar que o doutor termine. Agora não pode preocupar-se com seu aspecto, mas poderia mais tarde. Além disso... -Ela fez uma pausa e acrescentou de forma significativa -um homem grande e forte como você deveria ser capaz de agüentar uma pequena dor. Asseguro-lhe que não é nada comparado ao sofrimento que uma mulher agüenta no parto! Devagar Derek se tornou para trás do colchão. -Como sabe? -Uma vez estive presente em um parto em Grenwood Cornes. Durou durante horas, e minha amiga suportou a agonia com apenas um som. Worthy a olhou de uma maneira suplicante. -Senhorita Fielding, estaria mais cômoda na sala ao lado... -Distraio o Sr. Craven com um pouco de conversa. Isto poderia afastar de sua mente a dor. Não preferiria isso, Sr. Craven? Ou deveria partir? -Tenho opção? Fique. Agite suas gengivas. -Fala sobre Greenwood Corners? -Não. -Derek juntou os dentes com força e sufocou um grunhido.Sobre você. -Muito bem. -Sara se aproximou da cama, tomando cuidado de conservar uma distância discreta.-Tenho vinte e cinco anos. Vivo no campo com meus pais... -Ela fez uma pausa quando ouviu o gemido ofegante do Sr. Craven. O ponto causava dor. -Continue. -disse ele bruscamente. Sara procurou desesperadamente mais que lhe contar. -É-estou sendo cortejada por um jovem que vive no povoado. Compartilhamos o mesmo carinho pelos livros, embora seus gostos sejam mais refinados que os meus. Ele não aprova a ficção que escrevo. Ela se aproximou mais lentamente e olhou fixamente para Craven com curiosidade. Embora fosse incapaz de ver seu rosto, tinha uma boa vista de seu peito, que estava coberto por uma grande quantidade de cabelo negro. A vista era alarmante. Os únicos peitos masculinos que tinha tido o privilégio de ver antes do momento atual eram aqueles das estátuas gregas sem cabelo. Em cima de sua magra cintura e de seu diafragma, seu peito e ombros eram poderosamente musculosos, e estavam manchados com contusões. -Sr. Kingswood, esse é seu nome, esteve me fazendo à corte durante quase quatro anos. Acredito que sua proposição chegará logo. -Quatro anos? Sara se sentiu ligeiramente à defensiva diante de seu tom de

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brincadeira. -Houve algumas dificuldades. Sua mãe é viúva, e ela confia muito nele . Vivem juntos, compreende? A Sra. Kingswood não gosta de mim. -por que não? -Bem ... Ela não considera nenhuma mulher o bastante para seu filho. E tem aversão à matéria que escolhi para minhas novelas. Prostituição, pobreza... -Sara se deu de ombros.-Mas são questões que têm que ser tratadas. -Especialmente quando você faz dinheiro delas. -O suficiente para manter a meus pais e mim mesma de um maneira cômoda. -admitiu com um sorriso .-É você um cínico, Sr. Craven. Seu fôlego assobiou entre seus dentes quando a agulha perfurou sua pele. -Você também o seria se soubesse algo sobre o mundo fora de seu pestilento povo.-O suplício fazia com que seu sotaque escapasse outra vez. -Greenwood Corners é um lugar muito agradável. -disse Sara, ligeiramente irritada. -E sei muitas coisas sobre o mundo. Derek conteve o fôlego durante um momento, logo o deixou sair de repente. -Caramba!, Quanto tempo mais... -Um pouco mais.-murmurou o doutor. Derek lutou por manter a mente na conversa com Sara. -Escrever livros sobre putas... Apostaria que nunca... Brincou um pouco com um homem em sua vida branca como uma pureza. O Doutor Hindley e Worthy começou a reprová-lo, mas Sara sorriu astutamente. -Brincar um pouco? ... Nunca ouvi essa maneira de falar antes. -Você não esteve o suficiente nos bairros pobres. -Isso é verdade. -disse ela seriamente.-Devo fazer várias visitas ali antes que minha investigação esteja completa. -Você não voltará .-informou-a.-Deus sabe como durou tanto. Maldita pequena tola, que vaga pelos bairros pobres de noite ... -Este é o último ponto. -anunciou o Doutor Hindley, com cuidado atando o fio. Derek suspirou aliviado e se calou. Worthy deixou a cabeceira e foi até Sara, sorrindo a modo de desculpa. -Perdoe ao Sr. Craven. Ele só é grosseiro com pessoa que gosta. -Estará bem?-sussurrou. -Certamente. Ele é um homem muito forte. Sobreviveu coisas piores que isto. -Worthy a olhou atentamente, sua expressão abrandando-se com preocupação.-Está tremendo, senhorita Fielding. Sara assentiu e respirou fundo. -Suponho não estou acostumada a tanto entusiasmo. -Ela não tinha compreendido quão desconcertada estava até agora. -Tudo passou tão rapidamente. -Deve descansar um pouco,-insistiu Worthy -e acalmar seus nervos com um pouco de brandy. -Sim ... Possivelmente um pouco, em uma xícara de chá. -Ela entrelaçou os dedos. -Fico com uns amigos de meus pais, os Goodman. É tarde... Eles poderiam preocupar-se... -Assim que esteja preparada, teremos uma carruagem privada que a transportará a qualquer parte que deseje. -Worthy!-A voz desgostosa de Derek os interrompeu. -Detenha esse maldito cochicho. Dê um pouco de dinheiro ao camundongo de campo e envia-a de volta de onde veio.

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Worthy começou a responder, mas Sara o parou com um ligeiro toque em seu braço. Ajustando seus pequenos ombros, ela se aproximou da cama. -Sr. Craven,-disse com calma,-é muito amável em me oferecer uma recompensa, mas tenho dinheiro suficiente para satisfazer minhas necessidades. Entretanto, estaria agradecida se me permitisse percorrer seu clube, e possivelmente fazer umas perguntas a seus empregados. Como mencionei antes, escrevo uma novela, e você poderia me ajudar ... -Não. -Sr. Craven, isto é um pedido razoável, considerando o fato que te salvei a vida esta noite. -Nem por sonho.-Sara ficou desconcertada. -Mas aqueles dois homens tratavam de te matar! -Se quisessem agora estaria morto. -Então ... Seu objetivo era ... Deliberadamente marcar seu rosto?-Ela retrocedeu horrorizada. -Mas por que queria alguém fazer tal coisa? -O Sr. Craven tem muitos inimigos.-comentou Worthy, seu rosto redondo e preocupado.-Em particular um homem chamado Ivo Jenner, que possui um clube rival. Mas não teria esperado que Jenner fizesse algo assim. -Talvez não. -resmungou Derek, fechando os olhos.-Talvez fosse outro. Worthy ... Tira ela daqui. -Mas Sr. Craven.-protestou Sara. -Venha.-Disse Worthy, falando com cuidado. Ele a afastou da cabeceira. A contra gosto Sara o seguiu a sala do lado. Ficando sozinho, Derek soltou uma suave gargalhada transpassada de amargura. -Maldita seja, Joyce.-sussurrou, e levantou uma mão para tocar os pontos sobre seu rosto. Depois que o Doutor Hindley partiu, Worthy a chamou para um chá e remexeu o fogo na lareira. -Agora,-disse em tom agradável, sentando-se em uma cadeira perto de Sara,-podemos falar sem interrupção. -Sr. Worthy, você poderia tratar de fazer entender o Sr. Craven que eu não seria uma chata, ou o incomodaria. Tudo o que quero é observar as atividades no clube, e fazer algumas pergunta... -Falarei com o Sr. Craven,-Asseguro-lhe Worthy.-e te permitirei visitar o clube amanhã enquanto o Sr. Craven esta indisposto.-Worthy sorriu diante de seu óbvio entusiasmo.-É um privilégio que poucas vezes concedido a mulheres, já sabe, exceto durante as noites de reunião. Havia só outra dama a qual inclusive permitia cruzar a soleira. -Sim, ouvi falar dela, chamavam-na A rebelde Lily. Foi a amante de Sr Craven durante uma série de anos, verdade? -As coisas não são sempre o que parecem, senhorita Fielding. Foram interrompidos por uma criada levando uma bandeja de chá e delicados sanduíches. De maneira eficiente Worthy verteu o chá de Sara e aplicou uma quantidade generosa de brandy. Equilibrando a taça e o pires sobre seu colo, Sara mordiscou um sanduíche, sentindo como se despertava de um pesadelo devagar. Ela esticou seus pés úmidos para o fogo quente, tomando cuidado de não expor seus tornozelos. -Há só uma condição que devo te pedir.-disse Worthy, se recostando em sua cadeira.-Não deve aproximar-se do Sr. Craven, nem de fazer nenhuma pergunta. De fato, insisto que tome cuidado de evitá-lo. Você será livre de falar com qualquer um no clube. Trataremos todos de ser tão complacentes como possível.

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Sara franziu a sobrancelha decepcionada. -Mas o Sr. Craven poderia me ser de grande ajuda. Há coisas que eu gostaria de perguntar a ele... -Ele é um homem extremamente reservado que passou sua vida tratando de escapar de seu passado. Asseguro que ele não vai querer falar de si mesmo. -Há algo que você pudesse me contar sobre ele?-Ela bebeu a goles seu chá e olhou esperançosa o encarregado. -Ele não é fácil descrever. Derek Craven é o indivíduo mais complicado que já conheci. Ele é capaz de ser bom, mas... -Worthy bebeu um pouco de brandy e contemplou as ricas profundidades da taça. -Temo-me que o Sr. Craven muito freqüentemente se mostre a ser o mesmo homem de atitudes arruinadas. Ele provém de um mundo mais selvagem do que você poderia compreender, senhorita Fielding. Tudo o que sabe de sua mãe é que era uma prostituta que trabalhou em Tiger Bay, uma rua da zona portuária aonde os marinheiros e criminosos vão se servir. Deu a luz em um deságüe e o abandonou ali. Algumas das outras rameiras se compadeceram do filho e o protegeram durante a primeira parte de sua vida em bordéis locais e casa de entrevistas. -OH, Sr. Worthy.-disse Sara com a voz estrangulada. -Que terrível para um menino ser exposto a semelhantes coisas. -Ele começou a trabalhar aos cinco ou seis anos como criado de limpador de lareira. Quando ficou de maior para subir, recorreu à mendigagem, o roubo, o trabalho de plataforma... Há um período de uns anos dos quais ele não falará absolutamente, como se nunca tivessem existido. Não sei o que fez naquele tempo ... Tampouco desejo saber. De alguma forma em meio de tudo isso ele adquiriu um entendimento sobre as cartas e os números. Em sua adolescência ele se educou a si mesmo o suficiente para fazer o corredor de apostas de Newmarket. Segundo ele, foi naquele tempo que concebeu a idéia de dirigir seu próprio clube de jogo um dia. -Que extraordinária ambição para um moço com semelhantes origens. Worthy assentiu. -Teria sido um extraordinário lucro para ele construir um pequeno abrigo na cidade. Em troca, sonhava criar um clube tão exclusivo que a maioria dos homens poderosos no mundo clamariam para que os permitisse ser sócios. -E isso é precisamente o que tem feito. -maravilhou-se ela. -Sim. Ele nasceu sem um xelim só seu nome... -Worthy fez uma pausa. Nasceu sem um nome, na realidade. Agora é mais rico que a maior parte da pequena nobreza que freqüenta seu clube. Ninguém é realmente consciente de quanto possui Sr. Craven. Bens raízes, casas, ruas repletas de lojas que pagam aluguel e arrendatários, coleções de arte particulares, iates, cavalos de corridas ... É assombroso. E mantém a pista de cada quarto de vintém -Qual é seu objetivo? Que deseja em última instância? Worthy sorriu ligeiramente. -Posso dizer uma palavra. Nunca está satisfeito. -Vendo que ela tinha terminado seu chá, perguntou se queria outra taça. Sara negou com a cabeça. O brandy, a luz da luz, e a voz tranqüila de Worthy combinaram tudo para acalmá-la. -Agora devo partir. -Trarei uma carruagem. -Não, não, os Goodman vivem uma curta distância daqui. Irei a pé. -Tolices. -interrompeu com firmeza o encarregado.-É pouco aconselhável para uma dama ir em todas as partes a pé, sobre tudo a esta hora da noite. O que te passou o Sr. Craven é um exemplo de perigo que poderiam acontecer com você também.-Ambos se levantaram. Worthy esteve a ponto de dizer algo mais, mas

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suas palavras se desvaneceram, e ele a olhou fixamente de uma maneira estranha. A maior parte do cabelo de Sara os soltou de suas presilhas a seus ombros, o brilho vermelho da luz dançando sobre os cachos castanhos. Havia algo estranhamente comovedor em sua pitoresca beleza, passada de moda, que seria facilmente passado por cima nestes dias em que se preferia a beleza mais exótica. -Há algo quase do outro mundo em você... -murmurou Worthy, bastante esquecido de si mesmo. -passou muito tempo desde que vi semelhante inocência no rosto de uma mulher. -Inocente?-Sara sacudiu a cabeça e riu. -OH, Sr. Worthy, sei tudo sobre o vício e o pecado -Mas se manteve intacta.-Sara mordeu o lábio pensativamente. -Parece que jamais ocorre nada em Greenwood Corners.-admitiu ela.Sempre escrevo sobre as coisas que faz outras pessoas. Às vezes sinto-me desesperada por viver, por ter aventuras e sentir coisas, e... - Interrompeu e fez uma careta. -Logo não sei o que digo. O que deve pensar de mim? -Penso,-disse Worthy com um sorriso -que deseja aventura, senhorita Fielding teve um verdadeiro susto esta noite. Sara se alegrou pela idéia. -Isso é verdade. -Ela ficou séria imediatamente.-quanto ao homem que disparei, não tive a intenção de fazer mal a ele. -Salvou o Sr. Craven de uma desfiguração horrível, se não da morte. -disse Worthy com cuidado.-Sempre que se sinta culpada pelo que tem feito, poderia lembrar-se disto. O conselho fez com que Sara se sentisse melhor. -Permitirá que volte amanhã? -Insisto em que o seja assim. Deu de presente um sorriso encantador. -Bem, nesse caso ... -Tomando-se de seu braço devotado, permitiu-lhe escoltá-la abaixo. Derek estava estirado sobre a cama. O remédio corria por suas veias, deixando-o inativo, enjoado. Isto fez pouco por aplacar a dor, ou sua autorepugnancia. Seus lábios se apertaram em um sorriso amargo. Quase teria preferido que seus atacantes tivessem feito uma besta sorte dele, em vez de lhe dar uma insignificante navalhada que o fazia parecer menos que um monstro e mais que um idiota. Pensou em Joyce, e esperou um sentimento de traição, cólera, algo exceto essa sensação de fria admiração. Ao menos ela se preocupava o suficiente por algo para tomar medidas, inclusive se isso fosse seu próprio orgulho. Enquanto que ele não tinha o valor suficiente para preocupar-se com nada. Tinha tudo o que jamais tinha desejado... Riqueza, mulheres, até o prazer de olhar os que o excluíram na entrada de seu clube. Mas durante os dois últimos anos todos seus antigos apetites vorazes se secaram, e não ficava nada, um jovem Embora o sentimento fosse leve, tinha sido suficiente para fazer com que o perseguisse. Não podia negar que tinha havido muitas noites divertidas, cheias de jogos sofisticados e depravação sensual... E custava muitíssimo lhe fazer sentir-se depravado. Finalmente Derek tinha terminado a relação, consigo mesmo assim como com ela. A lembrança voltou para ele, e ele voltou a viver em um estupor drogado. -Não diz a sério. -havia dito Joyce com sua sedosa voz divertida no princípio. -Nunca me deixaria.-Ela se estirou sobre a cama, seu corpo nu sem dissimular pelos lençóis enrugados de linho.-me diga, Quem haveria depois de mim? Alguma aborrecida criada do campo? Alguma pequena atriz com o cabelo claro e meio vermelhado? Não pode voltar para isso, Derek. Desenvolveste um

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gosto por coisas mais refinadas. Derek tinha sorrido abertamente por seu tom confidente. -Vocês as damas aristocráticas e suas vulvas de ouro. Sempre pensam que é algo assim como honra para mim as tocarem. -Ele a contemplou com seus zombadores olhos verdes.-Acha que é a primeira mulher que sabe atirar ? Estava acostumado a ter fêmeas de sangue nobre como o seu que me pagavam por fazer isto. Você o tem grátis. O belo rosto de Joyce, com seu pequeno nariz aristocrático e as maçãs do rosto bruscamente esculpidas, de repente estavam cheio de raiva. -Bastardo mentiroso. -Como acha que consegui o dinheiro para começar meu clube? Chamavamse a si mesmas meus patrões.-Derek dedicou um áspero sorriso, vestindo a calça. Os lábios vermelhos de Joyce se separaram em um sorriso zombador. -Então não foi nada mais que uma puta? Uma puta?-A idéia claramente a excitou. -Entre outras coisas. -abotoou a camisa e ficou frente ao espelho para endireitar a gola. Joyce levantou da cama e caminhou até ele, fazendo uma pausa durante um momento para admirar seu corpo nu no espelho. Casada há um ano jovem com um velho conde viúvo, ela tinha satisfazendo seus impulsos sexuais tomando uma longa fila de amantes. Desfaria rapidamente de qualquer gravidez, já que nunca arruinaria sua figura com filhos, e o conde já tinha gerado seus próprios herdeiros com sua primeira esposa. O engenho ardiloso e a beleza de Joyce a tinham feito favorita da sociedade. Uma encantada depredadora, que se dedicava a arruinar a qualquer mulher que percebia como uma ameaça para sua própria posição. Com umas quantos palavras cuidadosamente escolhidas e algumas "coincidências" brilhantemente tramadas, Joyce sabia fazer migalhas a boas mulheres inocentes e as colocavam nas profundidades da desgraça. Derek também Mirou fixamente no espelho, vendo o que Joyce queria que visse, o contraste erótico entre sua forma vestida e sua nudez dourada e branca. De vez em quando Joyce podia parecer tão cândida como um anjo, mas ele a tinha visto converter-se em uma bruxa com o cabelo selvagem e uma rosto retorcido, gritando no topo do êxtase e agarrando-o com suas largas unhas. Era a mulher mais licenciosa que tinha conhecido, disposta a fazer algo por prazer, não importava a libertinagem. Eles eram exatamente iguais, pensou com gravidade, ambos existem só para satisfazer suas próprias necessidades. Mantendo os pálidos olhos azuis em seu rosto inexpressivo, Joyce passou a mão sobre seu estômago plano, procurando sua entre - perna com sua mão. -Ainda me deseja. -murmurou ela.-Posso sentir o quanto. É o amante mais satisfatório que tive, tão grande e duro... Derek a afastou tão bruscamente que ela calou de novo na cama. Como esperava dela abriu as pernas e o esperou. A surpresa amanheceu em seus olhos quando se deu conta de que ele não ia agradá-la. -acabou-se. -disse categoricamente Derek.-Nota promissória todas suas dívidas de Bond Street. Existe algo nesse pequeno joalheiro que você gosta tanto, e carrega-o a minha conta. -Ele deixou a gravata de seda negra pendurada frouxa ao redor de seu pescoço e se deu de ombros dentro de seu casaco. -por que faz isto? Quer que suplique?-Joyce sorriu provocativamente. -Me coloque de joelhos diante de você. Como você gostaria disso! -Quando ela se ajoelhou no chão e inclinou o rosto para o frente de sua calça, Derek a fez subir, sujeitando com força as mãos sobre seus ombros.

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-me escute, Joyce .... -Faz-me mal! -Não menti para você. Não fiz promessas. Quanto tempo achas que continuaria isto? Ambos conseguimos o que desejávamos. Agora acabou. Ela o olhou iradamente. -Isto só terminará quando eu disser, e não antes! A expressão de Derek mudou. -Então é isso. -disse ele e riu.-Seu orgulho está ferido.-Bem, diga a seus amigos absolutamente o que quiser, Joyce. Diga que foi você que rompeu. Estarei de acordo com tudo o que diga. -Como te atreve a falar nesse tom de superioridade, pobre ignorante! Sei quantas milhares de botas lambeu para chegar onde está, e também todos outros! Os cavalheiros vêm a seu clube, mas jamais convidam a suas casas, ou a suas festas, ou permitem comer em suas mesas ou te aproximar de suas filhas, e sabe por quê? Porque não o respeitam, consideram você para rasparem seus sapatos abandonado nos bairros pobres de onde veio! Pensam em você como a forma mais baixa de ... -Muito bem.-disse Derek, um sorriso sem humor cruzando seu rosto.-Sei de tudo isso. Economize seu fôlego. Joyce o olhou atentamente, ao parecer compreendendo que seus insultos não o tinham afetado absolutamente. -Não tem sentimentos, verdade? É por isso que ninguém pode te fazer mal, porque está morto por dentro. -Isto é. -disse brandamente. -E não se preocupa por ninguém. Nem sequer por mim. Seus faiscantes olhos verdes encontraram os seus. Embora ele não respondesse, a resposta era clara. Jogando para trás seu braço, Joyce o golpeou com toda sua força, o golpe soou como o agudo estalo de uma pistola. Automaticamente Derek se moveu para devolver o golpe. Mas sua mão se deteve antes de alcançar seu rosto. Ele a baixou devagar. Seu rosto era escuro e frio. -Posso fazer com que me deseje. -disse Joyce com voz rouca. -Há coisas que ainda não fizemos juntos jogos que eu poderia te ensinar ... -Adeus, Joyce. -Ele deu a volta e abandonou o quarto. A recusa dele pelo seu corpo foi insultante mente, como se tivesse recusado uma oferta não desejada do segundo prato na mesa de jantar. Joyce ficou vermelha de raiva. -Não. -grunhiu. Não me abandonará! Se for outra mulher, arrancarei seus olhos! -Não é outra mulher. -chegou sua resposta sardônica. -É somente aborrecimento. -De repente seu sotaque mudou ao tosco e terminante pobre.-Ou como à pequena nobreza gosta de chamar "tédio". Ela saiu correndo do quarto, ainda nua, gritando atrás dele enquanto ele descia a escada. -Volta neste instante ... Ou pagará por isso cada dia de sua vida! Se não puder te ter, ninguém o terá! Entende-me? Pagará por isso, Derek Craven! Derek não tomou sua ameaça a sério, ou talvez não tivesse se preocupado. Fazia o que tinha planejado com sua vida, sonhando que ao final do longo e perigoso caminho do êxito estivesse unido com semelhante decepção. Agora tinha conseguido tudo que desejava, e não havia nada que desejasse. Maldito tédio, os de mente atordoada se aborreciam. Fazia alguns anos, nem sequer conhecia o que significava a palavra. A enfermidade de um homem rico pensou, e riu com gravidade pela irônica apreciação.

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CAPITULO DOIS Sara se vestiu com cuidado para sua visita ao palácio dos jogos. Levava o melhor vestido que possuía um cinza azulado com três dobras enfeitados na prega, e um sutiã com gola alta adornado com rendas. Tinha poucos vestidos, mas pareciam todos de pano bom e forte. Quão vestidos preferia não se aderiam a nenhum estilo particular que passasse da moda. Esperava que as manchas de sangue pudessem sair das roupas que tinha lavado ontem à noite. Houve uma verdadeira cena quando Sara voltou tão tarde, salpicada de sangue. Em resposta às perguntas frenéticas da Sra. Goodman, Sara tinha explicado brandamente que tinha encontrado um pequeno problema durante sua investigação. -Nada pelo que preocuparem, simplesmente me detive para emprestar ajuda a um estranho. -Mas todo esse sangue... -Nem um pouco dele é meu. -Sara a tranqüilizou com um sorriso. Finalmente tinha desviado a Sra. Goodman do problema de como tirar as manchas. Juntas tinham aplicado uma massa de amido e água fria a seu casaco e vestido. Essa manhã a roupa estava encharcada de uma mistura de genebra, mel, sabão suave, e água. Depois de prender o cabelo afastando do rosto, Sara cobriu as mechas castanhas com um chapéu de cordão de espiga. Satisfeita com seu aspecto, procurou em um de seus baús uma capa. Uma olhada através do vidro da pequena janela tinha revelado que era um dia tipicamente frio de outono. -Sara! -a voz perplexa da Sra. Goodman vagou até ela enquanto descia a escada. -Uma magnífica carruagem particular parou em frente da casa! Sabe algo sobre isso? Intrigada, Sara foi à porta da modesta casa dos Goodman e abriu uma fresta. Seu olhar captou a vista de uma carruagem negra laqueada, brilhantes cavalos cor ébano, e um chofer e um criado vestido com bombachas,e chapéu. A Sra. Goodman se uniu a ela na porta. Por toda a rua, afastaram-se as cortinas para os lados e rostos curiosos apareceram nas janelas. -Nenhuma carruagem assim foi vista nesta rua antes.-disse a Sra. Goodman.-Olhe o rosto da Adelaida Witherbane, acredito que seus olhos estão preparados para saírem de órbita! Sara, Em nome do céu que está se passando? -Não tenho nem idéia. Sem dar crédito, viram como o criado subia os degraus da casa dos Goodman. Ele era auto. -Senhorita Fielding?-Perguntou com referência. Sara abriu mais a porta. -Sim? -O Sr. Worthy enviou uma carruagem para a transportar a Craven’S assim que estiver preparada. O olhar desconfiado da Sra. Goodman voltou do criado a Sara. -Quem é esse Sr. Worthy? Sara, Tem algo a ver com seu comportamento misterioso de ontem à noite? Sara se deu de ombros evasivamente. A Sra. Goodman se lembrou da tardia chegada de Sara, seu aspecto despenteado, e as manchas de sangue sobre sua roupa. Em resposta à multidão de perguntas, Sara tinha respondido brandamente que não havia nada para preocupar-se, tinha estado ocupada com a investigação de sua novela. Finalmente a Sra. Goodman se rendeu.

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-Compreendo, -havia dito misteriosamente - que sua mãe me escreveu é verdade. De baixo dessa superfície tranqüila há uma natureza obstinada e reservada! -Minha mãe te disse isso? -perguntou Sara surpreendida. -O que disse deve ser o mesmo! Ela escreveu que está acostumada a fazer tudo o que desejas não importa quão excêntrico seja, e que poucas vezes responde qualquer pergunta que começa com as palavras 'onde' e ' por que'. Sara sorriu abertamente a isso. -Faz muito tempo aprendi a não explicar coisas às pessoas. Isto os induz a pensar que têm direito a tudo que faço. Devolvendo sua mente no presente, Sara recolheu sua bolsa e suas luvas, e começou a partir com o criado. A Sra. Goodman a deteve com um toque em seu braço. -Sara, acredito que seria melhor te acompanhar, em interesse de sua segurança. Sara conteve um sorriso com seriedade, sabendo que a curiosidade da mulher mais velha corria desenfreada. -É muito amável de sua parte, mas não há nenhuma necessidade. Estarei bastante segura.-foi à carruagem e fez uma pausa enquanto dava uma olhada na altura do criado.-Isto era bastante desnecessário. -murmurou. -Tinha a intenção de caminhar até Craven esta manhã. -O condutor e eu estamos a seu serviço, senhorita Fielding. O Sr. Worthy insistiu que você não deveria ir mais a pé por Londres. -Necessitamos também de escolta armadas? -Sara estava envergonhada por toda a pompa e o espetáculo. A carruagem teria sido muito mais conveniente para uma duquesa que para uma novelista de um pequeno povoado do campo. -Sobre todas as escolta. O Sr. Worthy disse que você tem tendência a freqüentar lugares perigosos. -Abrindo a porta da carruagem com uma flor, ajudando a chegar ao conjunto de degraus atapetados. Rindo com arrependimento, Sara se recostou entre as almofadas de veludo e arrumou as saias. Quando chegaram ao clube de jogos, o mordomo a deixou entrar no salão com deliciosa cortesia. Imediatamente apareceu Worthy com um sorriso cortês. Recebeu-a como se fosse uma velha amiga. -Bem-vinda a Craven's, senhorita Fielding! Sara tomou seu braço enquanto ele a introduzia no clube. -Como está o Sr. Craven esta manhã? -Não tem apetite, e os pontos são feios, mas o resto está bem. -Worthy observou Sara enquanto girava em um círculo no centro do suntuoso salão. Sua expressão se transformou maravilhada. -Meu Deus! -era tudo que ela podia dizer -OH, caramba!-Ela nunca havia visto semelhante luxo; o teto de painéis de vidro tingido, e lustres brilhantes, as paredes revestidas com colunas douradas, os tapetes de pesado veludo azul escuro. Sem afastar os olhos do magnífico entorno, procurou em sua bolsa seu caderno. Worthy falava enquanto Sara rabiscava com fúria. -Falei ao pessoal sobre você, senhorita Fielding. Eles estão dispostos a proporcionar qualquer informação á você que possa ser útil. -Obrigado, -disse distraidamente, ajustando os óculos e olhando atentamente as gravuras sobre as principais colunas.-Isto é um desenho antigo, acredito? -Scagliola, chamou o arquiteto. -Ela assentiu e seguiu tomando notas.

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-Quem foi o arquiteto? Parece com um pouco com Nash. -Não, o Sr. Craven acreditou que as idéias de Nash não eram suficientemente imaginativas. Além disso, o Sr. Nash estava bastante velho, e muito ocupado em projetos para o rei. Em troca o Sr. Craven escolheu um arquiteto jovem chamado Graham Gronow. Esclareceu a Gronow que queria um edifício tão magnífico que eclipsasse a Casa de Buckingham. Sara riu. -O Sr. Craven alguma vez fez algo com medidas? -Não -Disse Worthy com arrependimento. Indicou a entrada do salão central de jogos. -Acredito que poderíamos começar com uma visita geral ao clube. Ela vacilou. -Seria encantador, mas eu não gostaria de ser vista por nenhum dos clientes... -Não será, senhorita Fielding. É muito cedo. Os Londrinos mais de moda levantam tarde. -Eu gosto de me levantar com o sol. -disse Sara alegremente, o seguindo ao salão central. -Penso melhor a princípios do dia, e além disso ... -Ela se interrompeu com uma exclamação quando deu um passo por uma das entradas do quarto octogonal. Seus olhos se arregalaram enquanto olhava fixamente o famoso teto pintado. Estava coberto de suntuosas molduras de gesso e pinturas esplêndidas, e adornado por lustres de luzes enorme que jamais tinha visto. A mesa de jogo central estava situada diretamente sob a cúpula. Silenciosamente Sara absorveu a atmosfera do espaço. Podia sentir os milhares de dramas que se revelaram aqui; as fortunas ganhas e perdidas, o entusiasmo, a cólera, o medo, a alegria selvagem. Ocorreramlhe várias idéias para sua novela de repente, e escreveu tão rápido como foi possível, enquanto Worthy esperou pacientemente. De repente uma estranha sensação se arrastou sobre ela, uma sensação de comichão na nuca. Os movimentos de seu lápis diminuíram o ritmo. Transtornada, finalizou uma oração e deu uma olhada na entrada vazia. Uma consciência interior a incitou a olhar para cima do balcão que dava ao andar principal. Captou uma vaga vislumbre de alguém partindo... Alguém que tinha estado os observando. -O Sr. Craven.-disse entre dentes, muito brandamente para que o encarregado o ouvisse. Vendo que tinha terminado de tomar notas, Worthy assinalou às saídas no outro lado do salão. -Seguimos? Visitaram a sala de jantar e as bibliotecas com escrivaninha, uma longa fila de elaboradas salas para as cartas, áreas para fumar e a sala de bilhar, e o porão oculto onde os membros do clube poderiam ocultar-se em caso de uma incursão da polícia. Animado pelas perguntas de Sara e seu interesse absorto, Worthy contou tudo sobre as complexidades do jogo, a arquitetura do edifício, até as classes de comida e vinho que se serviam. Em todas as partes do percurso Sara não podia se separar de si com a sensação de que estavam sendo seguidos. Com freqüência dava uma olhada sobre seu ombro, suspeitando que poderia haver alguém olhando-os de uma porta ou uma coluna. Quando os minutos passaram, começou a ver muitos criados indo e vindo. Montões de garçonetes cruzaram os corredores levando faxineiras, cubos, e montões de panos de limpeza. As placas da porta eram polidas, os tapetes varridos, as lareiras limpas, e tirava a fundo o pó dos móveis. -Que bem organizado está este lugar. -comentou Sara enquanto subiam a

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magnífica escada central com sua pesada balaustrada dourada. Worthy sorriu com orgulho. -O Sr. Craven tem normas exigentes. Ele emprega quase cem criados para manter o clube que controla como um relógio. Cada um dos seis patamares da escada se dividiam em compridos corredores. Sara notou que a cor de Worthy aumentou quando perguntou para que eram aqueles quartos. -Alguns são os quartos dos criados. -disse incomodado.-Alguns são quartos temporários para convidados. Muitos são para o uso de... Ehh... As garotas da casa. Sara assentiu com normalidade, sabendo exatamente o que era uma garota da casa. Depois da investigação que tinha feito para Mathilda, estava muito contra a prática da prostituição. Compadecia-se das mulheres que estavam escravizadas por esse tipo de sistema. Uma vez que começavam semelhante caminho, era difícil, se não impossível, voltar atrás. Um de seus motivos para escrever com compreensão sobre as prostitutas foi mostrar que não eram as criaturas sem moral que as pessoas acreditavam que fossem. Não gostou da idéia de que o Sr. Craven aumentasse sua riqueza mediante a prostituição, era muito mais desagradável que o jogo. -Quanto ao benefício do Sr. Craven ganha através das garotas da casa? perguntou. -Ele não obtém nenhum benefício delas, senhorita Fielding. Sua presença se acrescenta ao ambiente do clube, e serve como uma tentação acrescentada aos clientes. Todo o dinheiro que as empregadas da casa fazem é para elas mesmas. O Sr. Craven também as oferece amparo, casas sem aluguel, e a melhor clientela do que provavelmente elas encontrariam nas ruas. Sara sorriu ironicamente. -Melhor? Não estou tão segura, Sr. Worthy. Por isso me haviam dito, os homens aristocráticos são tão peritos no abuso de mulheres, e a extensão da enfermidade, como os pobres. -Possivelmente gostaria de falar com as garotas da casa. Estou seguro que elas descreverão tantas vantagens como desvantagens do funcionamento no clube. Serão francas com você. Minha impressão é que elas a consideram algo assim como uma heroína. Sara se surpreendeu pelo comentário. -Eu? -Quando expliquei que você é a autora de Mathilda, todas se entusiasmaram o bastante. Tabitha lê a novela em voz alta às demais nos dias livres. Recentemente todas foram ver a obra. -Seria possível conhecer algumas delas agora? -Há esta hora geralmente dormem. Mas possivelmente mais tarde... Um grito de voz feminina os interrompeu. -Worthy! Worthy, maldito brincalhão, procurei-te por todo o maldito clube! -a mulher vestida com apenas um ondulante envoltório branco que era ligeiramente transparente, desceu apressada o corredor até eles. Era atrativa, embora seu pequeno rosto estivesse áspero pelos anos de vida dura. Ondulantes cachos de cabelo castanho, muito parecido ao de própria Sara, caíam atrás de seus ombros. Dedicou a Sara só o mais breve olhar. Sara teria gostado de trocar umas palavras amistosas, mas sabia de suas experiências anteriores com prostitutas que elas necessitavam uma quantidade razoável de confiança amistosa antes de conversar com alguém como ela. Por respeito, desprezo, ou vergonha, pelo geral evitavam olhar “a uma mulher boa” nos

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olhos. -Tabitha.-disse Worthy com calma. -Você a conhece? -Lorde Falou outra vez. -chegou sua resposta indignada. -O velho rasteiro com zelo! Tomou a Molly na última noite e disse que tinha pago á noite inteira. Agora quer partir sem pagar! -Ocuparei-me disso. -disse Worthy com calma. Ele deu uma olhada para Sara, que tomava notas. -Senhorita Fielding, importaria muito se a deixasse aqui durante uns minutos? A galeria a sua direita está cheia de pinturas formosas da coleção particular do Sr. Craven. -Por favor, adiante.-insistiu Sara. De repente Tabitha se animou muito. -É ela? -perguntou a Worthy.-É Mathilda? -OH, não -disse Sara.-Eu escrevi a novela titulada Mathilda. -Então você a conhece? É amiga dela? -Sara estava perplexa. -Não realmente. Entenda, Mathilda é um personagem fictício. Ela não é real. O comentário ganhou um olhar de repreensão de Tabitha. -Não é real? Li tudo sobre ela. E conheço uma moça que a conheceu. Trabalharam na mesma rua depois que Mathilda foi violada por Lorde Aversley. -me deixar explicar desta maneira ... -começou Sara, mas Worthy sacudiu a cabeça como se fosse inútil, e fez passar por Tabitha ao corredor. Rindo pensativamente, Sara perambulou até a galeria de arte. As paredes estavam cobertas de pinturas de Gainsborough, um cavalo e o cavaleiro de Stubbs, duas obras floridas de Rubens, e um magnífico Vão Dyke. Aproximando-se mais a um magnífico retrato, olhou-o com curiosidade. A pintura destacava uma mulher sentada em uma cadeira grande. Sua filha jovem estava de pé, uma pequena mão suspensa sobre o braço de sua mãe. As duas eram notavelmente formosas, com pele clara, cabelo escuro encaracolado, e olhos expressivos. Comovida pela tenra cena, Sara falou em voz alta. -Que encantador... Pergunto-me quem é? Sara não pôde evitar ser consciente da diferença entre o encanto brilhante da mulher no retrato e seu próprio atrativo. Supôs que o Sr. Craven esteja acostumado às mulheres muito belas, e sabia que não havia nada exótico ou extraordinário nela. Como seria ter a aparência que os homens encontram irresistível? Embora não houvesse nenhum som atrás dele, um sexto sentido fez com que seus nervos se estremecessem. Sara deu a volta. Não havia ninguém ali. Cautelosamente se endireitou os óculos e disse a si que era tola. Perambulando mais longe na galeria, olhou estreitamente as suntuosas pinturas. Como todo o resto no clube, pareciam ter sido escolhido por sua capacidade de impressionar. Um homem como o Sr. Craven provavelmente passaria sua vida colecionando material gráfico valioso, elaboradas habitações, mulheres formosas... Tudo era sinal de seu êxito. Colocando o caderno de volta em sua bolsa, Sara começou a afastar-se da galeria. Pensou em como poderia descrever o clube e seu dono fictício em sua novela. Possivelmente o idealizaria somente um pouco. Contrariamente aos que supunha que precisasse completamente de graça ou virtude, poderia escrever ela, ele ocultava um amor secreto pela beleza e a busca de posse em suas infinitas formas, como se expiasse... De repente um apertão poderoso comprimiu seu braço, e a parede pareceu abrir-se em um diante de seus olhos. Ela se desequilibrou, arrastada para um lado, tão rapidamente que tudo o que pôde fazer foi ofegar em protesto quando a força

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invisível tirou ela da galeria até um lugar de sufocante escuridão ... Uma porta secreta ... Um corredor oculto. As mãos a estabilizaram, alguém se envolveu ao redor de seu braço, outra sujeitou com força seu ombro. Piscando na escuridão, Sara tratou de falar e só pôde soltar um temeroso grito. -Quem... Quem... Ela ouviu a voz de um homem, tão suave como o veludo desgastado. Sentiu sua voz, o calor de seu fôlego contra sua testa. Começou a tremer violentamente. -por que está aqui? -perguntou. -Sr. Craven.-sussurrou com voz tremula.-Eu... Esta muito escuro aqui. -Eu gosto da escuridão .-Ela lutou por conter o fôlego. -Realmente encontra necessário me provocar semelhante susto? -Não planejei. Caminhou diretamente para mim. Não pude evitar. O medo de Sara deu passo à indignação. Ele não lamentava nada por havêla assustado... Ele fez por querer. -esteve me seguindo.-acusou ela.-esteve me observando toda a manhã. -Ontem à noite disse que não a queria aqui. -O Sr. Worthy disse que estava bem ... -Eu sou o dono do clube, não Worthy. -Sara esteve tentada a dizer quão ingrato era, depois do que ela tinha feito por ele ontem à noite. Mas não acreditou prudente discutir com ele enquanto estivesse aqui. Ela começou a retroceder muito lentamente, para a greta da luz onde a porta secreta tinha ficado entreaberta. -Você está bem. -disse com a voz suave.-Está completamente bem. Acho que irei agora. Mas ele não soltou o apertão sobre ela, e a forçou a mover-se. -Me diga o que fez decidir-se a escrever sobre o jogo. Piscando na escuridão, Sara tratou de reunir sua força. -Bem... Havia um moço em meu povoado. Um moço muito agradável, inteligente, que herdou uma pequena herança. Teria sido bastante para mantê-lo comodamente muitos anos. Mas decidiu provar e aumentar sua riqueza, não por meios honestos, a não ser mediante ao jogo. Perdeu tudo em uma noite. Em seu clube, Sr. Craven. Ele deu de ombros indiferentemente. -Passa todo o tempo. -Mas não foi suficiente para ele. -disse Sara.-Seguiu jogando, seguro que com cada tiragem dos jogos de dados recuperaria o que tinha perdido. Perdeu sua casa, seus cavalos e seus bens, o que ficava de seu dinheiro... Converteu-se na desgraça de Greenwood Corners. Isso fez com que me perguntasse o que tinha levado à semelhante comportamento. Perguntei a ele sobre isso, e me disse que não tinha sido capaz de deter-se. Chorava enquanto me contava que depois que tinha perdido tudo em Craven's, vendeu suas botas a alguém na rua e jogou às cartas com os pés nus em um maldito local de jogo. Naturalmente isto fez que com que me perguntasse sobre outras vidas que foram arruinadas pelas cartas e os jogos de dados. As fortunas que se perdem de noite nas mesas de jogos podiam usar-se para fins mais nobres que encher seus bolsos. Ela sentiu seu sorriso sardônico. -Estou de acordo, senhorita Fielding. Mas um insignificante livro não deterá ninguém de jogar. Algo que você escreva só os fará fazê-lo mais. -Isso não é verdade. -disse rigidamente. -Mathilda deteve alguém de visitar as putas? -Acredito que fez com que o público olhasse às prostitutas com uma

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perspectiva mais pormenorizada... -As putas sempre abrirão as pernas por um preço, -digo sem alterar-se -e a gente sempre apostará seu dinheiro. Publique seu livro sobre o jogo, e olhe que será bom. Olhe se manterá alguém no bom caminho. Eu antes esperaria que um morto revivesse. Sara avermelhou. -Jamais se preocupa ao ver os homens arruinados sair de seu clube, sem dinheiro, sem esperança, sem futuro? Não se sente responsável de algum modo? -Não os trago apontando uma pistola. Vêm a Craven's para jogar. Dou-lhes o que querem. E faço uma fortuna disso. Se eu não o fizesse outro o faria. -É a declaração mais egoísta, insensível que jamais ouvi... -Nasci nos bairros pobres, senhorita Fielding. Abandonado na rua, criado por putas, amamentado com leite e genebra. Esses pequenos bastardos que viu os ladrões de carteira e mendigos e peregrinos... Eu era um deles. Via finas carruagens entrar rua abaixo. Olhava fixamente pelas janelas dos botequins e todos os velhos cavalheiros gordos comendo e bebendo até que seus ventres estivessem cheios. Compreendi que havia um mundo fora dos bairros pobres. Jurei que faria algo, algo, para conseguir minha parte. Isto é tudo que jamais me preocupei. -riu brandamente. -E você acredita que me importa algum jovem pecador com bombachas de cetim que atiram seu dinheiro em meu clube? O coração de Sara martelava grosseiramente. Nunca tinha estado sozinha na escuridão com um homem. Queria escapar, todos os instintos a advertiam que estava em perigo. Mas mais profundo ainda, havia uma faísca de fascinação inconcebível... Como se estivesse suspensa na entrada de um mundo proibido. -Em minha opinião, -disse ela -Se usar seus pobres princípios como uma desculpa conveniente para desprezar toda ética o resto devemos viver. -Ética. -disse com desprezo. -Não posso nomear um homem, rico ou pobre, que não a desprezaria pelo preço adequado. -Eu não o faria. -disse firmemente ela. Derek calou. Ele era extremamente consciente da pequena mulher tão perto dele, pequena e despenteada, envolta na decência. Cheirava a amido e sabão, como todas as outras solteironas que tinha tido a desgraça de conhecer... as professoras dos filhos aristocráticos de seus clientes, e as tias solteironas que faziam companhia as senhoritas intocáveis, e as escritoras que preferiam um livro em suas mãos a um homem em suas camas."Ficar para vestir Santos" era o que chamavam semelhantes mulheres, objetos que tinha perdiam sua frescura e se reservavam até que pudessem servir de algum objetivo conveniente. Mas havia uma diferença entre ela e o resto. Ela tinha dado um tiro em um homem ontem à noite. Por ele. Suas sobrancelhas se juntaram até que doeu sua ferida. -Eu gostaria de partir agora. -disse ela. -Ainda não. -O Sr. Worthy estará me procurando. -Não terminei de falar com você. -Deve ser aqui? -Será em qualquer parte que eu diga. Tenho algo que você quer,senhorita Fielding, a permissão para visitar meu clube. O que oferece em troca? -Não me ocorre nada. -Nunca dou algo por nada. -O que quer que te ofereça? -Você é escritora, senhorita Fielding. -Zombou-se.-Use sua imaginação. Sara

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mordeu o lábio e considerou a situação com cuidado. -Se realmente acha a declaração que fez antes, -disse devagar -que a publicação de minha novela serviria para aumentar seus lucros ... Então interessaria me permitir fazer minha investigação aqui. Se sua teoria for verdadeira, tem a possibilidade de ganhar algum dinheiro com meu livro. Seus dentes brancos brilharam em um sorriso. -Eu gosto disso. -Então... Tenho sua permissão para visitar o clube? Ele deixou que passasse um longo momento antes de responder. -Está bem. -Sara sentiu um rápido alívio. -Obrigado. Como fonte de material, você e seu clube são incomparáveis. Prometo que tratarei de não ser uma moléstia. -Você não será uma moléstia, - corrigiu ele ou partirá. Ambos se sobressaltaram quando a porta secreta se abriu de par em par. Worthy estava ali, olhando fixamente dentro da sala. -Sr. Craven? Não esperava que se levantasse tão logo. -Ao parecer não. -disse Derek misteriosamente, suas mãos soltaram as mãos de Sara.- Ensinando a ela o lugar sem pedir minha permissão? Estás seguro de você mesmo estes dias, Worthy. -Foi minha culpa.-disse Sara, tratando de proteger ao encarregado.-Eu-eu insisti em sair com a minha. A culpa é toda minha. A boca de Derek se torceu. -Ninguém lhe pode fazer Worthy nada que não quer fazer, camundongo. Ninguém exceto eu. Ante o som da voz de Sara, Worthy olhou com inquietação em sua direção. -Senhorita Fielding você está bem? Derek saiu e a empurrou, piscando, à luz brilhante. -Aqui está sua pequena novelista. Somente estávamos discutindo. Sara olhou fixamente através de seus óculos a seu captor, que parecia ainda maior e mais imponente que a noite anterior. Craven estava esquisitamente vestido com calça cinza escura e uma camisa branca como a neve que acentuava seu bronzeado. Seu colete estava feito sem bolsos, ajustado a seu magro estômago sem uma ruga. Nunca tinha visto objetos assim de elegância em alguém do povoado, nem sequer Perry Kingswood, o orgulho de Greenwood Corners. Mas apesar de seu caro adorno, ninguém confundiria jamais Derek Craven com um cavalheiro. A linha de pontos em seu rosto lhe dava um aspecto maltratado, perigoso. Seus duros olhos verdes pareciam olhar diretamente através dela. Era um homem poderoso com arrogância e absoluta confiança, um homem que já não podia ocultar seu apetite pelas coisas mais refinadas da vida mais do que podia impedir que o sol saísse. -Não tinha intenção de ensinar à senhorita Fielding os corredores ocultos. comentou Worthy, suas sobrancelhas se elevaram sobre a fronte. Ele deu a volta para Sara. -Entretanto, agora que você sabe, poderia dizer que o clube está infestado de corredores secretos e pelos quais se pode observar a ação no andar. Sara deslizou um olhar inquisitivo a Craven, e ele leu seus pensamentos com facilidade. -Aqui não ocorre nada que eu não saiba. -disse Craven.-É mais seguro assim, para os membros do clube e para mim. -Realmente é.-murmurou ela. Somente havia o pequeno sinal de cepticismo em sua voz, mas não aconteceu.

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-Poderia encontrar alguns corredores úteis, -disse brandamente -já que não permitirão aproximar-se de nenhum dos convidados. -Mas Sr. Craven ... -Se quer ficar aqui, cumprirá com minhas regras. Não falar com os convidados. Nenhuma interferência nas mesas.-Ele deu uma olhada em sua bolsa, que estava volumosa.- Ainda leva a pistola? -Perguntou despreocupadamente divertido. -Trato de estar preparada para qualquer situação. -Bem, -Zombou-se Derek -a próxima vez que as coisas ficarem tensas por aqui, saberei a quem acudir. Sara estava em silêncio, seu rosto afastado. Inconscientemente tinha envolvido os dedos ao redor da zona de seu braço que tinha agarrado ele. Sua mão se movia com cuidado, como se afastasse a lembrança esfregando. Assim seu contato a repugnava, pensou Derek, e sorriu com gravidade. Sim se soubesse quantos pecados tinham cometido suas mãos, nunca se sentiria suja outra vez. Worthy limpou a garganta e falou com a sensata voz oficial de encarregado. -Muito bem, senhorita Fielding. Reatamos nosso percurso? -Sara assentiu, olhando para trás o corredor escuro. -Eu gostaria de ver aonde conduz isto. Derek observou com um sorriso reticente como os dois se aventuravam no corredor. Ele gritou depois ao encarregado. -Vigia ela. Não deixe que dê um tiro a alguém. A resposta de Worthy chegou amortecida. -Sim, Sr. Craven.-Derek fechou a porta de modo que se fundisse na parede. Ele fez uma pausa e se tranqüilizou contra um pouco de enjôo. Suas costelas machucadas tinham começado a doer. Devagar se dirigiu a seus apartamentos e procurou seu opulento quarto. A cabeceira e os postes de sua cama estavam esculpidos com querubins que levavam trompetistas e golfinhos elevando-se na crista das ondas. Tudo densamente coberto de ouro brilhava intensamente contra as cortinas de veludo bordado. Embora Derek soubesse que era de mau gosto, não se importava. -Uma cama apta para um rei. -era o que havia dito o fabricante de móveis, e o caro desenho o atraiu. Quando moço tinha passado muitas noites amontoado em portais e descia desvencilhadas escadas de madeira, sonhando com sua própria cama um dia. Agora tinha construído um palácio ... Só para descobrir que milhares de noites entre ouro e veludo nunca se levariam a sensação de privação. Ainda tinha fome de algo sem nome que não tinha a ver com os lençóis finos e o luxo. Fechando os olhos, dormiu ligeiramente, vagando em um perturbador sonho cheio de imagens de Joyce Ashby e seu brilhante cabelo dourado, seus pés brancos caminhando entre rios de sangue... De repente soube que não estava sozinho. Despertou bruscamente com um leve ofego, seus nervos alarmados. Havia uma mulher ao lado de sua cama. Seus olhos verdes a enfocaram, e sua cabeça escura caiu de novo no travesseiro. -Deus, é você.

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CAPITULO TRÊS Lady Lily Raiford se inclinou sobre ele, seus olhos escuros vibravam de preocupação. -por que não me disse que tinham te ferido? -Não é tão mau. -Embora tivesse uma expressão de fraqueza, aceitou os pequenos cuidados que lhe deu; o suave estalar de sua língua, o tato das pontas de seus dedos sobre sua ferida. Sua relação era assim amistosa, rixas de amigos. Poucas vezes se viam a sós, porque o marido de Lily, o conde de Wolverton, possuía uma natureza ciumenta. -Será melhor que te parta antes que Raiford nos encontre juntos, -resmungou Derek.-hoje não estou de humor para um duelo. Lily sorriu abertamente e se recostou em sua cadeira. -Alex confia em mim. -disse virtuosamente.-Além disso, ele sabe que estou muito ocupada com as crianças para ter um affer.-o breve sorriso se desvaneceu.Worthy me enviou uma carta esta manhã, me dizendo que tinham te ferido. Conheço sua facilidade para brigas, voltei-me louca de preocupação. Poderia ter sido um arranhão ou uma ferida mortal, ou algo parecido. Tinha que vê-lo por mim mesma. OH, seu pobre rosto. -Sua expressão se endureceu, e por um momento sua deliciosa beleza se obscureceu pela fúria.-Quem te fez isto? Ele tirou a mão que ela tinha colocado em seu braço. -As probabilidades estão em lady Ashby. -Joyce Ashby?-Os aveludados olhos negros de Lily se arregalaram, e falou impulsivamente. -Por que em nome de Deus?... Derek, me diga que não tinha uma aventura com ela! Me diga que não te parece com todos os outros pobres tolos que estavam tão encantados por esse falso cabelo amarelo e por esse lábio franzido e por esse movimento ondulante de seio que caiu diretamente em seu ambicioso puxão. Não, não diga nada, já vejo que é outra vitima. -franziu a sobrancelha e disse -Está escrito claramente em seu rosto. A única razão pela qual se atrevia a falar de maneira tão impudente era a estreita e duradoura amizade que compartilhavam. Ainda assim, caminhava perigosamente perto dos limites. Derek empurrou um travesseiro em cima dela, muito à maneira de um irmão que discute. -Sai daqui, bruxa insensível... Ela esquivou o travesseiro. -Como pôde ter um caso com Joyce quando sabe o que a desprezou? Sua boca se curvou com um sorriso insultante. -Está com ciúmes. -Lily soltou um suspiro exasperado. -Estamos a cima disso, e sabe. Adoro meu marido, pertenço a ele completamente, e você é o mais próximo amigo que tenho. Meus filhos o chamam de ' tio ' ... -Tudo muito íntimo. -Zombou-se. -Nunca houve nada entre você e eu. Quando me voltei para você por ajuda há todos esses anos, empurrou aos braços de Alex, pelo qual estou profundamente agradecida. -Deveria estar. -assegurou-a. de repente a tensão entre eles se dissolveu, e trocaram um sorriso. -Seu gosto por mulheres é abominável. -disse brandamente Lily. Ela recolheu os travesseiros atirados e as colocou atrás da cabeça. Derek se recostou e a olhou com os olhos entrecerrados. -Sua maneira de cuidar poderia matar um homem. -Com cautela ele tocou os pontos, que tinham começado a secar. Embora não admitisse em voz alta, sabia

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que ela tinha razão. Ela era a única mulher decente com a qual jamais se relacionou. Tinha amado Lily a sua maneira, mas não o suficiente para arriscar-se ao que sabia nunca estaria preparado. Ele não era apto para ser marido ou pai. Só tinha uma vaga consciência da palavra "família". Permanência, responsabilidade, compromisso, coisas que Lily necessitava... Essas que nunca tinha formado parte de seu mundo. De tudo que poderia estar seguro era da riqueza material que tinha colhido em quantidades assombrosas. Se pudesse obter um lugar no céu com dinheiro, ele teria o mercado monopolizado da eternidade. Olhou para Lily fixamente com expressão fechada. Com seus escuros cachos ciganos presos em uma intrigada trança, e sua forma magra em um elegante vestido, a gente nunca adivinharia que uma vez tinha sido amigos, tal como era Derek. Tinha havido um vínculo entre eles, os alicerces para compartilhar segredos e lembranças. Desde que tinha casado, Lily tinha elevado à sociedade privilegiada que Derek só permitia ver aos arredores. Os aristocratas poucas vezes se inclinavam a o convidar em suas fazendas, mas suas mulheres de sangue azul estavam mais que impaciente por tê-lo em suas camas. Para Derek era uma forma agradável de vingança, não menos porque exasperava Lily. -me conte que aconteceu com Joyce. -insistiu ela. -Rompi com ela faz uma semana.-Derek sorriu com gravidade quando recordou o grunhido furioso de Joyce.-Não gostou. Suponho que ela contratou a os dois para nivelar o resultado. -Como sabe que não é outra pessoa quem está por trás? Ivo Jenner, por exemplo. Ele sempre joga sujo... -Não. Os bastardos que saltaram sobre mim ontem à noite foram diretamente no rosto. -Com arrependimento se incorporou e se tocou a fila de pontos.-Eu diria que é o tipo de vingança de uma mulher. -Quer dizer que se Joyce não podia te ter, queria assegurar-se de que ninguém mais te teria? -Lily parecia afligida. -Asquerosa viciosa, e exatamente o que alguém esperaria de uma mulher como ela? Por que te relacionou com ela? Sua vida se tornou tão pesada e aborrecida que simplesmente não pôde resistir a seus encantos aristocráticos? -Sim. - disse Derek. -Durante anos te vi saltar de cama em cama... Quanto mais elitista e esnobe, mais as desejava... E por quê? Somente para demonstrar ao mundo que pode ter as melhores e mais solicitadas mulheres. Os homens como você consideram as mulheres só como troféus, e isto me enfurecem! -De agora em diante vou atirar-me há todas pouco atrativas e não desejadas. Agrada-te? As pequenas mãos de Lily tomaram uma das suas, e a agarrou apesar de seus esforços por soltá-la. -Direi o que me agradaria, -disse sério.-Tem-me quebrado o coração ver que te converte em um enfastiado e um cínico. Quero que encontre uma mulher, Derek, uma boa, livre, não uma de suas libertinas sofisticadas de sempre. Não estou sugerindo casamento, já que tanto te repele a idéia. Mas ao menos toma uma amante que traga certa paz a sua vida! Ele sorriu zombadoramente. -Isso não é pelo que um homem mantém a uma mulher. -Não é? Poderia nomear meia dúzia de homens cujas amantes são muito mais singelas e de família que suas mulheres. Uma amante é valorizada pela qualidade do companheirismo que proporciona, não pelos vulgares truques que

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possa conhecer na cama. -Como sabe tanto sobre isso? -Lily se deu de ombros. -ouvi falar os moços durante as caçadas, e no clube, e durante a sobremesa. As maiores partes do tempo se esquecem que estou ali. -Raiford deveria ter posto término faz tempo a seus anos de caça. -Alex está orgulhoso de que cace. -respondeu.-Deixa de tratar de trocar o tema. O que precisa é uma amante, Derek. Ele riu, voltando deliberadamente para marcar o sotaque que tão duramente tinha trabalhado por dominar. -Consigo todas as saias que desejo e ainda mais, encanto. Olhou com a sobrancelha franzida. -Precisa de 'uma amante', Derek, não seu habitual desfile de saias ligeiras. Sugiro-te que encontre a alguém que fosse uma companheira. Não pensaste alguma vez em passar todas as noites com a mesma mulher? OH, não me faça caretas! Acredito que deveria encontrar uma agradável viúva jovem do campo, ou uma solitária solteirona que te estaria agradecida por seu amparo. Se quiser, farei uma lista... -Escolherei minhas próprias mulheres. - disse com frieza. -Deus sabe a que velha escolheria para mim. -Qualquer que escolhesse ultrapassaria facilmente Joyce Ashby! Soltou a mão e suspirou. -Será melhor que vá. Danificará minha reputação se ficar mais em seu quarto, sobre tudo considerando sua fascinação pelas mulheres casadas. -Não te pedi que viesse. -replicou Derek. Mas quando se levantou para partir, pegou em sua mão e deu um beijo. -Fará o que te peço? -suplicou Lily, espremendo seus dedos. -Pensarei.-Seu tom foi tão amável que Lily soube que mentia. Entretanto ela sorriu e acariciou seu cabelo negro com carinho. -Isso está melhor. Algum dia me agradecerá meu sábio conselho. -começou a partir, logo fez uma pausa na entrada e o olhou de novo. -Derek ... Antes de subir aqui esta tarde vislumbrei a mais insólita mulher perambulando pelos salões dos fundos com o pessoal. Fazia toda classe de perguntas e anotava coisas. Derek se recostou contra os travesseiros, cruzando as pernas negligentemente. -É uma novelista. -Não me diga. Publicaram? -Ela escreveu aquele livro da Mathilda. -Essa é S. R. Fielding? -Lily riu surpreendidamente assombrada, voltando a entrar no quarto. -A famosa reclusa? Por Deus como conseguiu trazê-la aqui? -Ela me trouxe aqui ontem à noite, depois de me resgatar dos homens. Lily ficou boquiaberta. -Estás de brincadeira. De repente ele sorriu abertamente por seu assombro. -Tirou uma pistola e deu um tiro a um deles. Num momento de silêncio, e logo Lily começou a uivar de risada. -Deve nos apresentar.-suplicou.-Quem dera que consentisse em assistir uma de meu saraus, ou ao menos a uma discussão de salão. Deve me ajudar a persuadi-la a aceitar um convite! -Só diga que é Lily a rebelde. Ela está aqui para investigação para um livro. -Fascinante. -Lily começou a andar com esforço de um lado para outro. Uma mulher que escreve sobre putas,dá tiros aos criminosos nos bairros pobres,

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freqüenta clubes de jogo, e sem dúvida faz todo o possível por desenterrar seus sujos segredos. Acredito que seremos grandes amigas. Como é ela? Velha ou jovem? Simpática ou tímida? Derek deu de ombros. -É mais jovem que você, aproximadamente dez anos. Tranqüila, solteirona... -Ele fez uma pausa quando recordou a maneira prudente em que Sara tinha dado uma olhada debaixo dos encaixes de seu chapéu, o pequeno susto que deu quando se deu conta que tinha estado perto dele. -Tímida com os homens. -acrescentou. Lily, que sempre tinha dirigido ao sexo contrário com bastante habilidade, sacudiu a cabeça. -Não compreendo por que. Os homens são umas criaturas simples e com juízo. -A senhorita Fielding é de um povoado no campo. Um lugar chamado Greenwood Corners. Ela não sabe nada sobre os homens ou sobre a cidade. Perambula pelos piores subúrbios de Londres, para ela, todos os problemas se solucionam com 'por favor' e ' obrigado'. Não acredita que qualquer a roubaria ou violaria ... Por que não seria cortês. Sabe por que permiti vir ao clube e colocar o nariz por aqui? Porque se não o fizesse, ela visitaria cada casa de jogo clandestino e se acotovelaria com cada ladrão e cada maldito assassino que alguma vez moveu um cotovelo sobre uma toalha de mesa. -Ele começou a esquentar-se com o assunto, a nota despreocupada desapareceu de sua voz. -E quase está comprometida. Deus sabe que tipo de homem a deixaria perambular por Londres sozinha, a não ser que seja seu plano para desfazer-se dela! O idiota! Eu gostaria de lhe dizer o que acontece com as mulheres que andam pela cidade com pistolas em suas bolsas!... -Derek.-Havia um estranho sorriso em seu rosto.-Está mostrando seu sotaque pobre. Ele fechou a boca bruscamente. -Isso só acontece, -murmurou Lily -quando está excitado ou zangado por algo. -Nunca me zango. -OH, certamente que não. -respondeu ela, espetando com um olhar penetrante. Derek não gostou de sua expressão, o ar de superioridade das mulheres quando sentiam que sabiam algo que um homem era muito estúpido para entender. -Acreditei que já estivesse indo. -disse bruscamente -Ia, até que começou a fazer discursos sobre nossa senhorita Fielding. O que pensa ela de você? Horrorizada por seu horripilante passado, como imagino? -Está extasiada. -Suponho que tem feito todo o possível para ser ofensivo. -adoro isso. Chama-me ' fonte de material'. -Bem, chamaram piores coisas. Sobre tudo eu. -olhou seu rosto esfaqueado com autêntica consternação.-Quem me dera pudesse verte quando estiver bonito. Quanto demora em te tirar os pontos? -Não é meu tipo. -disse rotundamente. -É o momento que te diga algo, Derek... Nunca me impressionou particularmente. Os lábios de Derek se contraíram divertidos. -Uma queda estaria com ela na cama. Tombaria-se ali e tomaria apontando todo o tempo. Ela ... -Ele se deteve quando uma imagem atravessou sua mente ... O

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claro corpo nu de Sara Fielding sob o seu, seus braços entrelaçados cuidadosamente ao redor de seu pescoço, seu fôlego suave precipitando-se contra sua pele. A idéia era inquietantemente erótica. Franzindo a sobrancelha, obrigouse a concentrar-se no que Lily dizia. -... Seria muito mais segura que a classe de relação que tinha com Joyce Ashby! Será afortunado se sua beleza não se arruinar permanentemente por este último episódio. Bem, vou fazer com que Joyce lamente isto, te lembre bem do que te digo... -Lily.-Algo em sua voz a calou imediatamente.-Deixa o assunto.-Não vais fazer nada com Joyce. Lily se incomodou pela repentina e fria intensidade de Derek. A sua classe de olhar que tinha visto trocar entre homens com pistolas de duelo nas mãos, e entre jogadores que tinham investido suas fortunas à volta de uma carta. Os ganhadores eram sempre os que pareciam não preocupar-se. Ela ao mesmo tempo admirava e temia esse valor inquebrável. -Mas Derek, -protestou -não pode deixar que Joyce escape disto. Ela deve pagar por isso ... -Ouviu.-Derek jamais tinha permitido que ninguém saldará suas dívidas por ele. enfrentaria Joyce a sua maneira e em seu momento. Por agora decidiu não fazer nada. Lily mordeu o lábio e assentiu, desejando dizer mais, mas sabendo o perigo de provocá-lo. Ele permitiria suas brincadeiras amistosas e seu abuso até um ponto, mas havia uma linha que nunca se atreveria a cruzar. -Está bem. -murmurou. -Então me dê um beijo. Depois de sustentar seu olhar durante um momento, Derek se acalmou. Obediente mente deu um beijo rápido no seu rosto e deu de presente um suave sorriso. -Vêem nos visitar logo. As crianças estarão fascinadas por seus pontos, sobre tudo Jamie. Tocou-se a frente em uma saudação fingida. -Direi que fui atacado por piratas. "Derek", disse ela tristemente, perdoe-me por interferir. Eu só estou preocupada com você. Você teve uma vida tão difícil. Você sobreviveu aos horrores que a maioria das pessoas, incluído eu, nunca vai entender. -Isso foi no passado. -sorriu abertamente e disse em seu antigo modo presumido. -Agora sou um dos homens mais ricos da Inglaterra. -Sim, tem mais dinheiro do que alguém poderia gastar em uma vida. Mas isso não te trouxe o que esperava, verdade? O sorriso de Derek desapareceu. Nunca tinha achado a fome sem nome que lhe corroia, o vazio que encheria se só pudesse identificar. Como tinha adivinhado ela? Era algo que podia ver em seus olhos, ou ouvir em sua voz? Enfrentando seu silêncio, Lily suspirou e tocou uma mecha de cabelo negro estendida sobre sua testa. -OH, Derek.-Silenciosamente abandonou o quarto enquanto ele a olhava. No curso dos poucos dias seguintes permitiram a Sara perambular livremente por Craven's, enquanto evitasse os salões principais que os clientes freqüentavam. Estava satisfeita pelo montão crescente de apontamentos que tinha amontoado, que permitiria escrever uma detalhada descrição do clube de um cavalheiro. Logo poderia ampliar sua investigação a algumas das casas de jogo nas áreas periféricas, mas por agora havia trabalho de sobra por fazer aqui. Passava

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cada manhã sentada na cozinha, o maior salão e ocupada no clube. Os empregados de Craven's passavam pela cozinha para pegar suas comidas e alternar, dos que controlavam as mesas às garotas da casa que apareciam depois das longas noites de árdua atividade. A cozinha estava bem abastecida e meticulosamente organizada. Três filas de variada bateria de cozinha penduravam sobre a pesada mesa de trabalho central. As paredes estavam cobertas com barris de farinha, açúcar, e outras provisões. Uma variedade de molhos cozidos a fogo lento sobre os grandes fornos negros, enviavam uma desconcertante, mas deliciosa mistura de fragrâncias pelo ar. Tudo isso era domínio do chefe, Monsieur Labarge. Faz anos o Sr. Craven tinha contratado Labarge e a todo seu pessoal dos mais exclusivos restaurantes Parisianos e todos se mudaram a Londres. Em troca de seus assombrosamente altos salários, proporcionavam a melhor cozinha da cidade: uma deliciosa mesa fria mantida constantemente abastecida para os membros do clube e comidas esquisitamente preparadas que eram servidas nas salas de jantar. Monsieur Labarge era temperamental, mas era um gênio. Por isso Sara podia dizer, até o Sr. Craven tomava cuidado de não provocá-lo. Caso a debilidade do chefe pela adulação, Sara fez um esforço especial por elogiar suas criações, até que os extremos de seu bigode tremeram de orgulho. Agora ele insistia em servi-la suas especialidades, muitas delas renomadas em honra de Mathilda. A cozinha estava em constante atividade; criados e criadas ocupadas com as tarefas caseiras de lavar, cortar, raspar, e amassar, e criados carregados de bandejas de comida. O pessoal incluiu de boa vontade a Sara em suas conversas quando contavam histórias que abrangiam desde verdes até comovedoramente tristes. Adoravam falar com ela e observá-la anotar o que diziam. Logo começaram a competir por apanhar seu interesse. As prostitutas era especialmente atentas, dando a Sara idéia sobre os homens que visitavam o clube ... E sobre Derek Craven em particular. Sara desfrutava em particular o bate-papo animado de Tabitha. Embora fossem bastante diferentes em temperamento, aparentemente compartilhavam uma assombrosa semelhança, ambas do mesmo tamanho e altura, com o cabelo castanho e os olhos azuis. -Falarei sobre os senhores finos que vêm aqui.-disse Tabitha com seus olhos azuis cheios de brilho.-Gostam de estar quentes toda a noite, mas são os piores na cama. Duas sacudidas e acabou. -As outras fulanas riram em concordância. Quatro delas se reuniram ao redor de Sara em uma das mesas de madeira, enquanto os chefes de cozinha traziam pratos de delicadas omeletes para Mathilda e rangentes pãezinhos. -Isso e as provisões finas. .. Isso é que os atrai aqui. Mas as cartas são o que os faz ficar. -Com quantos homens esperam relacionar-se cada noite? -perguntou Sara em tom sério, seu lápis suspenso sobre seu caderno. -Com todos os que tenhamos vontades. Às vezes deixamos que nos sovem abaixo nos salões de cartas, e logo... -Sovar? -repetiu Sara, perplexa, e as prostitutas puseram-se a rir. -Somente um pouco de roçar e toque. -explicou Violet, uma loira baixa e robusta.-E gostam do gênero, o encarregado os leva acima e atiramos isso. -Mas nunca o Sr. Craven.-disse Tabitha.-Ele nunca convida a sua cama. -Ele consegue mulheres da alta sociedade. -comentou Violet seriamente. Condessas e duquesas e assim. Ante essa menção das preferências sexuais do Sr. Craven, Sara sentiu que ficava vermelha. Quanto mais aprendia sobre ele, mais misterioso se apresentava.

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Suas qualidades interiores se ocultavam depois de uma fachada dura como o diamante. Ele era empresário, acima de tudo. Proporcionava habilmente um excesso de elegante decadência que satisfazia não só à aristocracia mais alta, mas também o escuro mundo dos libertinos e as cortesãs do submundo. Sua gentileza com seus superiores sociais sempre era ligeiramente exagerado, cruzando a soleira da cortesia à brincadeira sutil. Sara estava segura que respeitaria a muito poucos deles, por estar familiarizado com seus mais escuros segredos. Através de sua própria rede de espiões e informantes, sabia as amantes que tomavam, o conteúdo de seus testamentos, até as qualificações que obtinham seus filhos em Eton e Harrow, e o que eles suportavam para herdar. Parecia que poucos homens se sentiam cômodos para perguntar sobre a terrível navalhada de seu rosto. Os membros da família real; Wellington, o célebre comandante militar; e os diplomáticos estrangeiros que gostavam de ficar o momento na mesa de jogo, todos possuíam um ar de tranqüila inquietação quando Craven estava presente. Quando contava uma piada, eles riam com muita jovialidade. Quando fazia uma sugestão, pelo geral era seguido com presteza. Ao que parece ninguém gostava de arriscar-se a ganhar seu descontentamento. Como Craven tinha afirmado a primeira noite que o tinha conhecido, nunca estava zangado. Sara tinha observado que seu humor podia estender do frio silêncio ao sarcasmo cortante, mas nunca gritava ou perdia seu autocontrole. Ele era uma figura misteriosa; arrogante, que zombava de si mesmo, sociável e, entretanto extremamente reservado. Debaixo de seus sorrisos mais agradáveis espreitava uma sombra de amargura sempre presente. A atenção de Sara voltou para a conversa enquanto Tabitha refletia em voz alta sobre a preferência de Craven pelas damas aristocráticas. -Não trocará ninguém por uma baronesa. -Ela riu calorosamente ao ver a curiosidade da Sara. -Deveria as ver nos bailes da assembléia, as putas nobres. Essas finas damas desejam nosso Sr. Craven, fazem-no. E por que não? Ele é um homem bom, sério, não como seus brandos e preguiçosos maridos que se interessam mais pelas cartas e a bebida que pelas mulheres. -Ela baixou sua voz de maneira conspiradora. -É forte como um touro, e somente conta isso. -Como sabe? -perguntou Violet com desconfiança. -Tenho amizade com a Betty, a criada de lady Fairhurst, -chegou a resposta satisfeita de Tabitha.-Ela me contou que uma vez os interrompeu por acaso, a plena luz enquanto Lorde Fairhurst se foi a Shropshire. O lápis caiu dos dedos frouxos de Sara, e ela se agachou sob a mesa para recolhê-lo. Podia sentir seu pulso correndo a toda velocidade. Uma coisa era escutar indiferença quando se falava de um estranho, mas como demônios poderia olhar nos olhos do Sr. Craven outra vez? Mortificada, fascinada, surgiu de debaixo da mesa. -Sério? -exclamou uma das mulheres. -O que fizeram eles? -Lady Fairhurs deu um real ataque. O Sr. Craven somente riu e disse que fechassem a porta. As putas riram bobamente com alegria. -O que mais, -continuou Tabitha sempre pode dizer o que tem um homem pelo tamanho de seu nariz, e o Sr. Craven tem uma bonita e grossa. -Não é o nariz. -disse Violet com desdém. -É o tamanho dos pés. À exceção de Sara, todas cacarejaram como umas afáveis bruxas. Em meio da hilaridade, Tabitha apoiou a cabeça em sua mão e olhou fixamente para Sara enquanto ocorria uma idéia. -Aqui tem um plano, senhorita Fielding ... Por que não traz você Matilde

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aqui amanhã para conhecer Sr. Craven? Eles fariam um magnífico casal. As outras mulheres concordaram. -Sim, ela derreteria seu coração! -Sim, sim, faça!. -Ela se enrolaria com o Sr. Craven em seu mindinho! Inclusive Monsieur Labarge, quem tinha estado escutando dissimuladamente a conversa, interrompeu impulsivamente. -Pela bela Mathilda, farei o bolo mais fino, tão ligeiro que flutuaria no ar! Sara sorriu desculpando-se e levantou os ombros em um encolhimento de impotência. -Temo-me que não posso. Não há nenhuma Mathilda. Ela ... Ela é só uma obra de ficção. A mesa ficou bruscamente calada. Todos a olharam fíxamente com expressões perplexas. Inclusive o chefe de cozinha que tinha feito uma pausa no meio do amontoamento de prato Sara tentou explicar mais. -Compreendam, criei o personagem de Mathilda como resultado da investigação detalhada e a análise. Ela é realmente um composto de muitas mulheres com as quais tropecei quando eu ... -Inteirei-me que agora Mathilde se uniu a um convento. -interrompeu Violet, e Tabitha sacudiu a cabeça. -Não, ela tem um protetor rico. Tenho um amigo que a viu percorrer a Rua Bond, outro dia. Crédito em todas as lojas mais refinadas, inclusive no Madam Lafleur. -O que levava? -perguntou uma das mulheres com impaciência. Tabitha ficou a descrever o esplêndido vestido de Mathilda e o criado que ia atrás dela. Enquanto a conversa animada seguiu, Sara refletiu sobre o que Tabitha havia dito sobre o Sr. Craven e seu assunto com lady Fairhurst. Perguntou se o amor tinha tido algo a ver em suas relações. Ele era um homem complexo, pisando na beira da respeitabilidade. Sem dúvida satisfazia seu sentido de justiça para manter aventuras com as mulheres dos aristocratas em segredo o desdenhavam por seu ordinarismo. E devia ser difícil para ele conter um sorriso zombador enquanto contava seus ganhos da noite, os patrimônios que habilmente despojava aos jovens lordes que se consideraram imensamente superiores. Era um mundo estranho o qual criou para si mesmo. Tinha tanta tendência á passar seu tempo com os guardas, os alcoviteiros, e os marotos da rua que eram empregados de meia jornada do clube como é, Sara fez uma pausa em meio de sua escritura para comer um bocado do prato de bolos que Monsieur Labarge tinha enviado. As delicadas tortas de nata de café pareciam dissolver em sua boca. As manchas de açúcar se amontoaram no mogno polido diante dela, e rapidamente as apagou com sua manga. Estava sentada em um dos quartos dos apartamentos privados de Craven, trabalhando em sua grande mesa de mogno. O majestoso móvel, com seus inumeráveis compartimentos e pequenas gavetas, estava desordenado com intrigantes pedacinhos; partes de corda, moedas soltas, jogo de dados e argolas. Parecia como se ritualmente se esvaziasse os bolsos em sua mesa. Ela não o teria esperado de um homem que conduzia sua videira a com semelhante precisão meticulosa. Enquanto consumia o último bocado de bolo, umas fichas de papel empilhadas em uma esquina da mesa chamaram sua atenção. Cativada, começou a estender a mão. Deteve-se bruscamente parou por sequer pensar em violar a privacidade do Sr. Craven. Inclinou-se de novo sobre seus escritos, baixando com cuidado a manga de

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marfim da pluma em um pote de tinta. Mas era incapaz de reatar seu enfoque de pensamento. Inutilmente fez conjeturas sobre o que poderiam conter as misteriosas notas. Deixando a pluma, Sara olhou com ânsia as fichas de papel, enquanto sua consciência empreendeu uma guerra com sua curiosidade. Infelizmente ganhou a última. Rapidamente arrancou os apontamentos de seu lugar de descanso. A primeira nota era uma lista de tarefas arbitrárias, com o nome de Worthy escrito na parte de acima: Worthy, substitui as toalhas de mesa nas mesas 2 e 4 Nega crédito aos Lores Faxton e Rapley até que saldem as contas. Que Gill prove a próxima entrega de brandy... Sara se compadeceu quando deu uma olhada na nota laboriosamente rabiscada. O manejo de Craven da palavra escrita não era nada mais que um açougue. Por outra parte, não havia nada mau com sua matemática. Em poucas ocasiões o tinha observado multiplicando e dividindo cifras em sua cabeça com desconcertante velocidade, reunindo facilmente as probabilidades das apostas e as percentagens. Ele podia observar o desenvolvimento de um jogo de cartas, calcular silenciosamente as cartas que se jogavam, e predizer a mão vitoriosa com infalível exatidão. Folheava os livros de contabilidade e rapidamente somava as colunas de cifras sem tomar jamais uma pluma. Seu outro talento era igualmente extraordinário, uma evidente capacidade de ver dentro da mente das pessoas. Podia sentir com infalível vulnerabilidade bem oculta e desviá-la com uma observação despreocupada. Seu olhar acordado tomava nota de cada expressão de uma pessoa, em um tom de voz fez com que Sara compreendesse com um pouco de surpresa que ele era bastante observador igual a ela, que ele também sentia um distanciamento entre si mesmo e o resto do mundo. Ao menos, pensou ela, isso era a única coisa que tinham em comum. Sara recolheu a segunda nota, que estava inscrita em um elegante estilo feminino, todos os laços pretensiosos e cachos. Era uma mensagem estranha, abrupta que deixou uma sensação de frio. Agora leva minha marca para que todos a vejam. Vêm vingar se te atreve. Ainda o desejo. -OH, caramba. -murmurou Sara , olhando fixamente a inicial minuciosamente rabiscada. Não tinha dúvida de que a referência "a uma marca" significava a navalhada no rosto de Craven. Que classe de mulher pagaria por arruinar o rosto de um homem? Como podia relacionar-se Craven com semelhante mulher? Devagar Sara devolveu as cartas a seu lugar, sem querer as ver mais. Possivelmente esta "J” sentia uma espécie de amor retorcido por Craven coberto de ódio. Possivelmente Craven sentia o mesmo por ela. Era difícil para Sara, que sempre tinha conhecido o amor como uma emoção doce e consoladora, entender que para outros às vezes era escuro, primitivo e sórdido. -Há tantas coisas que não entendo. -resmungou, tirando os óculos e esfregando os olhos. Perry sempre tinha sido incapaz de enfrentar a seus "caprichos"... Ele não via razão para interessar-se em algo fora de Greenwood Corners. Ela tinha aprendido a ocultar suas esporádicas frustrações, ou daria um de seus sermões sobre a sensatez. -O que faz em minha biblioteca? Sara deu a volta na cadeira e ficou vermelha. Derek Craven estava ali de pé com uma expressão insondável sobre seu rosto bronzeado.

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-Sinto muito. -disse com um olhar atraente. -No geral trabalho na biblioteca do Sr. Worthy, mas ele me pediu que hoje usasse seu escritório, já que você se foi e ele necessitava... Seus pensamentos foram interrompidos por uma voz tranqüila na entrada. -Há outras salões que poderia ter usado. -Sim, mas nenhum que oferecesse intimidade, e eu não posso trabalhar com distrações, e... partirei agora. -Isso não é necessário. -caminhou para ela. Embora ele fosse um homem grande de constituição forte, movia-se com graça felina. Sara baixou a cabeça, concentrando-se no mata-borrão da mesa. Pela extremidade do olho viu Craven tocar os óculos que ela tirou.-Quantos destes tem? -perguntou as dando um suave empurrão pela superfície da mesa. -Só dois. -Deixa-os por toda parte. Os encontro sobre prateleiras, mesas, nas beiradas dos Marcos, em qualquer parte onde ocorre as deixar. Sara recolheu os óculos e os colocou no rosto. -Parece que não posso recordar. -admitiu ela. -É muito desconcertante. Interesso-me por algo, e logo simplesmente os esquecimentos. O olhar de Derek deslocou às frases cuidadosamente formadas diante dela. -O que é isto? -Deliberadamente se inclinou sobre ela, agarrando suas mãos sobre a brilhante extensão do mogno. Aturdida, Sara se encolheu na cadeira, quando seus braços formaram uma jaula a ambos os lados dela. -É-estou escrevendo sobre os bairros pobres. Derek sorriu abertamente com seu tom muito despreocupado. Ele sabia exatamente quanto incomodava sua proximidade. Decidido a prolongar sua tortura, inclinou-se mais sobre ela, olhando a sedutora plenitude em seu sutiã e o brilho da pele branca em cima do laço em seu pescoço. Seu queixo quase tocava sua touca enquanto lia em voz alta seus apontamentos. -As ruas da cidade ... são ... Om....-ele fez uma pausa, concentrando-se na difícil palavra. Automaticamente Sara localizou a palavra com a ponta de seu dedo. -Ominosas .-disse ela.-Significa angustiosas... Sinistras.-endireitou-se os óculos quando escorregaram sobre o nariz.-Parecia um modo apropriado de descrever a atmosfera dos bairros pobres.-Descreverei o melhor.- disse.-É escura, e empresta. -Isso é verdade . -Sara se arriscou olhar sobre seu ombro. Ele estava bastante perto para que ela pudesse ver os fios das costeletas negras sob sua pele barbeada. Sua roupa deliciosa e o agradável rastro de aroma de sândalo não podiam ocultar a brutalidade que fervia tão perto da superfície. Ele era um homem perigosamente masculino. Perry Kingswood desprezaria. -Vá, ele não é nada mais que um bruto! - exclamaria Perry. -Um camponês vestido de cavalheiro! De algum modo Craven pareceu ler seus pensamentos. -Seu jovem do povoado... Kingsfield... -Kingswood. -por que permite vir a Londres sozinha? -Não estou sozinha. Fico com os Goodman, uma família muito respeitável... -Sabe o que estou perguntando. -disse Derek de maneira cortante. Ele deu a volta para ficar de frente a ela, sentando-se pela metade sobre a beirada da mesa. Passa seu tempo com jogadores, putas, e criminosos. Deveria estar a salvo com sua família em Greenwood Corners... -O Sr. Kingswood não está contente com a situação, - admitiu Sara. -de fato

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discutimos sobre isso. Mas eu fui muito obstinada. -Alguma vez conta às coisas que faz em Londres? -O Sr. Kingswood conhece minha investigação... -Não estou falando de sua investigação. - murmurou com os olhos sérios. Vai lhe contar que matou um homem? Sara empalideceu com ar de culpa, sentindo-se ligeiramente doente como sempre fazia quando pensava nessa noite. Ela evitou seu penetrante olhar. -Não acredito que valerá muito a pena contar a ele -Ah, você não acha? Agora vejo que classe de esposa será. Saindo às escondidas nas costas do pobre bastardo para fazer coisas que ele não saiba.... -Ah, você não acha? -Não é assim! -É exatamente assim. -Perry confia em mim.-disse Sara bruscamente. -Eu não confiaria em você se estivesse em seu lugar! -Seu humor se voltou sarcástico.-Eu a manteria comigo cada maldito minuto do dia ... Manteria você embutida com uma bola e uma cadeia, porque sei que de outra maneira escaparia para 'investigar' no beco escuro mais próximo com cada assassino e alcoviteiro que possa encontrar! Ela cruzou os braços e o olhou com desaprovação insolentemente firme. -Não há nenhuma necessidade de gritar, Sr. Craven. -Eu não ... -a voz de Derek se desvaneceu em silêncio. Tinha gritado algo que ele nunca fazia, Assombrado, esfregou-se o queixo e a olhou fixamente, enquanto devolvia seu olhar como um pequeno inquisidor. Sua atitude intrépida o provocava além da razão. Ninguém entendia quanto necessitava que alguém cuidasse dela? Não deveriam te permitir perambular sozinha por Londres. Por Deus, ela não deveria estar aqui só com ele. Nesse momento ele a poderia ter violado dez vezes. Enquanto continuava estudando-a, compreendeu que os óculos, havia uma mulher atrativa. Ela seria atrativa se não se vestisse como uma solteirona. Levantou a mão a seu gorro, acariciando a beirada com a ponta de seu dedo. -Por que sempre leva esta coisa sobre a cabeça? Os lábios de Sara se separaram pela surpresa. -Para manter meu cabelo em seu lugar. -Ele seguiu tocando a beira da renda. Uma curiosa tensão pareceu encher o espaço. -Tire -Temo-me que não tenha tempo de agradar seus caprichos, Sr. Craven. Meu trabalho acabou agora. Devo partir. Boa noite. Por um momento Sara custou para respirar. Seus intensos olhos verdes permaneceram sobre os seus. Ninguém a tinha olhado dessa forma, fazendo-a sentir calor e frio e insuportavelmente nervosa. Levantou-se de um salto da cadeira e se afastou uns passos. Escapou da biblioteca, esquecendo todas suas coisas, inclusive sua bolsa. Derek olhou a pequena bolsa de renda e esperou que ela voltasse. Depois que passou um minuto, soube que voltaria para pegar mais tarde, quando não houvesse nenhuma possibilidade de enfrentar-se com ele. Ele recolheu a bolsa e se sentou totalmente sobre a mesa, balançando uma perna despreocupadamente. Afrouxou a corda de seda e olhou dentro. Uns poucos bilhetes de uma libra ... O pequeno caderno e o lápis... A pistola. Derek sorriu ironicamente e abriu mais profundamente a bolsa até que encontrou umas moedas e um lenço. Extraindo o lenço de linho cuidadosamente engomado, sustentou-o ante seu rosto. Procurou o aroma de perfume ou de água de rosas, mas não havia nada.

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Alojadas no fundo da bolsa estavam os óculos reposto. Derek os examinou minuciosamente, as lentes redondas, a finos aros de aço, os pequenos. Deu uma olhada através delas às palavras que ela tinha escrito. Depois de dobrar os óculos, os colocou no bolso de seu casaco e fechou a bolsa. Quando Sara descobrisse que faltavam os óculos, assumiria que as teria deixado em algum lugar, como freqüentemente fazia. Era o primeiro ato de roubo que tinha cometido em dez anos. Mas tinha que os ter. Desejava possuir um pedaço dela. Deixando a bolsa como Sara tinha colocado sobre a mesa, Derek meteu as mãos nos bolsos e começou a andar sem destino. Pensou na maneira em que Worthy tinha cantado os louvores de Sara Fielding ontem. Nem sequer Lily Lawson, com todo seu brilhante encanto, tinha sido capaz de obter tal devoção do encarregado. -É uma dama com classe. -Havia dito Worthy em resposta a um comentário sarcástico de Derek.-A senhorita Fielding trata a todos os que conhece com bondade e cortesia, inclusive às garotas da casa. Antes de deixar o clube pela tarde, escreve voluntariamente às cartas que ditam alguns membros analfabetos do pessoal, de modo que possam mandar umas cartas a suas famílias. Quando viu que a prega do vestido de Violet necessitava um acerto necessário, pediu uma agulha e se ajoelhou no chão para consertá-lo. Uma das criadas me disse ontem que quando ela tropeçou e caiu ao chão com um montão de roupa branca em seus braços, a senhorita Fielding se deteve para ajudar a levantar.... -Talvez deveria contratá-la. -tinha interrompido Derek sarcasticamente. -A Senhorita Fielding é a mulher mais doce e tolerante que pôs o pé neste clube. E possivelmente deveria aproveitar esta oportunidade para dizer senhor, que o pessoal esteve queixando. -Queixando.-repetiu Derek sem inflexão. Worthy assentiu com rigidez. -Que você não tenha concedido o grau apropriado de respeito. Derek ficou mudo de assombro. -Quem diabos paga seus salários? -Você, senhor. -Então diga que não os pago uma maldita fortuna para ouvir suas opiniões! E dirigirei a sua Santa senhorita Fielding de qualquer forma que deseje! -Sim, senhor. -com um suspiro de desaprovação apenas audível, Worthy virou e desceu a escada. OH, Worthy de fato gostava muito. De todos. Derek nunca tinha sonhado que seu território seria invadido tão docemente e tão a fundo, ou que seus empregados seriam uns traidores tão dispostos. O misterioso encanto de Sara Fielding tinha cativado a todos em seu clube. Todos se esforçavam em agradá-la e acomodá-la. Durante as horas em que ela se sentava na biblioteca de Worthy, eles foram nas pontas dos pés silenciosamente pelos corredores como se temessem mortalmente distraí-la de seu trabalho. -Agora está escrevendo. -Derek tinha ouvido dizer a uma das garçonetes a outra reverentemente, como se estivesse levando a cabo algum santo sacramento. Derek endureceu o queixo. -Uma dama de classe. -soprou em voz alta. Ele tinha obtido seu prazer entre as coxas de mulheres com pedigrees superiores, damas de sangue azul e nomes ilustres com gerações de privilégio e riqueza nas suas costas. Mas Worthy tinha razão. Em particular Derek admitia que Sara Fielding fosse a única autêntica dama que jamais tinha conhecido. Não tinha nenhum dos vícios que Derek poderia descobrir tão facilmente em outras. Ciúmes, avareza,

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luxúria... Parecia estar por cima de tais defeitos. Por outra parte, ele sentia o fio de imprudência que algum dia poderia resultar sua ruína. Ele necessitava de alguém que o impedisse de meter-se á cabeça em problemas, ou ao menos tirar deles. Parecia pouco provável que seu desventurado pretendente Kingswood fosse apto para a tarefa. Derek estava seguro que Kingswood seria esbelto e de beleza clássica ao modo de Byron. Teria uma voz cultivada, certamente, e o cabelo tão claro como escuro era do próprio Derek. Sem dúvida Kingswood era um jovem fazendeiro do campo que não podia entender a imprudência. Finalmente ele madurecia em um corpulento velho cavalheiro que beberia muito no jantar e nunca deixaria os outros terminar suas orações. E Sara, como sua esposa carinhosa, toleraria sua grosseria com um doce sorriso, e guardaria suas frustrações para seus momentos privados. Quando tivesse um problema, trataria de solucioná-lo se por acaso mesma para impedir que ele se preocupasse. E seria fiel a seu marido. Só ele conheceria a visão dela com o cabelo solto e com uma fina camisola branca... Só ele a sentiria dormir confidencialmente contra ele. Fariam amor ocultos na escuridão e nas roupa de cama, com os olhos fechados, os movimentos dominado, com impaciência Derek passou as mãos pelo cabelo e se deteve no meio do quarto vazio. Ele não se comportava como sempre, não pensava como estava acostumado. Sentia-se como se devesse preparar-se para algum acontecimento catastrófico. O ar estava carregado de correntes candentes. Suas terminações nervosas pareciam irritadas. Algo ia acontecer ...Algo. .. E tudo o que podia fazer, ao que parece, era esperar. -Por favor me deixe aqui fora. -Pediu Sara ao condutor, dando um toque no teto da carruagem. Eram as oito da manhã, sua hora habitual de chegar ao clube. Antes que tivessem rodeado a entrada da frente, seu interesse tinha sido apanhado pela visão de várias carruagens carregadas alinhadas na lateral do edifício. Eram diferentes das carruagens habituais do mercado que traziam as partilhas de produtos frescos para a cozinha. O criado a ajuda a sair da carruagem e perguntou se queria que a esperassem ali. -Não, obrigado, Shelton. Entrarei no clube pela cozinha. -Embora Sara sabia que era impróprio, deu ao condutor um alegre e pequeno adeus com a mão alegre quando se afastou. Fez um imperceptível assentimento com a cabeça, embora ontem tivesse explicado minuciosamente a ela que não faria uma dama mostrar-se familiarizada com a ajuda contratada. -Deveria olhar sob seu magnífico e arrogante nariz. – Ele tinha ordenado com seriedade .-Não mais sorrisos nem a mim nem aos criados, senhorita. Tem que ser mais displicente com os criados, ou o que pensará as pessoas de você? -Na opinião de Sara, logo importava se ela se comportasse sem a arrogância esperada, já que teria ido de Londres. O som de vozes elevadas em uma discussão soava do beco. Sara atirou mais sua capa para rodeá-la no pescoço; tremendo quando o ar frio da manhã golpeou seu rosto. As carruagens estavam cheias de caixas de garrafas de vinho. Um homem baixo, corpulento caminhava como um pato aqui e ali, sacudindo o dedo e falando rapidamente com dois dos empregados de Craven. O homem parecia ser um comerciante defendendo a qualidade de suas mercadorias. -Cortaria o minha cabeça antes de aguar meus valioso vinhos, e você sabe! vociferou ele. Gill, um jovem inteligente que se tornou um dos protegidos de Worthy, tinha selecionado três garrafas. Abriu-as e examinou o conteúdo com cuidado. -O Sr. Craven ficou aborrecido com a última entrega de brandy. Não era

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apto para ser servido a nossos patrões. - O que lhe vendi era vinho de primeira! -exclamou o comerciante. -Para algum botequim da área do porto, possivelmente. Não para Craven'S.Gill tomou um pequeno gole, meneou-o ao redor de sua boca, e o cuspiu com cuidado. Ele assentiu em reprovação. –Não é aceitável. -É o brandy francês mais fino. -disse o comerciante com indignação. -Como atrevem a engoli-lo como se fosse pestilenta cerveja choca ... -Tome cuidado com sua linguagem. -disse Gill, notando de repente Sara. Lançou um sorriso rápido em sua direção. -há uma dama presente. O comerciante não fez caso à recém chegada. -Não me importa se estiver aqui a Rainha de Sabá, não há nenhuma necessidade de abrir as garrafas ... -Há, até que eu esteja convencido de que você não aguou seu licor. Enquanto os dois discutiam, Sara rodeou a lateral do beco para a entrada da cozinha. Absorta na animada conversa, não olhou por aonde ia. De repente uma forma enorme, escura se moveu perto do ângulo de sua visão, e ela ofegou quando se deu com um alto homem que levantava uma caixa de vinho sobre o ombro. -OH ... Automaticamente ele a sujeitou com seu braço livre. O anel de duro músculo ameaçou esmagando-a. A cabeça de Sara caiu para trás quando viu o rosto moreno em cima do seu. -Me perdoe, não viu a associação Americana de Advogados...- Ela se deteve e franziu a sobrancelha aturdida -Senhor ... Craven? Sara inclinou violentamente. Ao princípio não o tinha reconhecido. Ele ia sempre tão impecavelmente vestido, brandamente barbeado, cada corte em seu lugar. Hoje, uma incipiente barba negra sombreava seu queixo. Seus amplos ombros estavam cobertos com um pulôver de ponto e um casaco grosseiro. Sua calça de lã e suas botas tinham visto dias melhores. -Deveria estar esforçando-se assim?-perguntou com o cenho franzido. -Que acontece a suas feridas? -Estou bem. -Derek tinha parecido impossível atender seus assuntos habituais essa manhã; estudar minuciosamente os livros de contabilidade, repassar os montões de letras de mudança e letras bancárias. Cheio de frustração, tinha decidido trabalhar onde pudesse ser de alguma utilidade. Deu uma olhada para Gill, que estava ocupado na discussão com o comerciante de vinho, e logo voltou para Sara. Na colisão tinha feito cair seu gorro branco. Uma cinta de renda se inclinava sobre seu rosto. Contraiu a comissura da boca nervosamente com involuntária diversão. -Perdeu o gorro. -disse-lhe. -OH, vá. -Sara alargou a mão até sua cabeça, atirando para frente. De repente ele riu. -Assim não. Ouça, eu farei. Sara notou que seus dentes brancos estavam ligeiramente superpostos, dando seu sorriso o aspecto de um simpático malicioso. Foi então quando compreendeu por que tantas mulheres tinham sido seduzidas por ele. Seu sorriso tinha um encanto maliciosamente irresistível. Ela olhou fixamente seu peito enquanto ele desatava os cordões e colocava o gorro corretamente. -Obrigado.-murmurou, e tratou de tomar as cordas do gorro de seus dedos. Mas ele não os soltou. Ele sustentou os cordões em seu queixo com os dedos apertados. Levantando o olhar para ele confuso, Sara viu que seu sorriso tinha desaparecido. Com um movimento decisivo ele tirou o cordão oculto de seu cabelo o deixou cair. O gorro voou até uma área lamacenta e descansou ali

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languidamente. Sara levantou a mão no coque frouxo de seu cabelo, que ameaçava soltar-se de suas presilhas. As mechas castanhas brilharam com ardentes reflexos, escapando em delicadas mechas ao redor de seu rosto e pescoço. -Sr. Craven.-arreganhou sem fôlego.-Encontro seu comportamento inapropriado e ofensivo e não digamos....OH! -Ela gaguejou assombrada quando ele colocou a mão a seus óculos e os arrancou do seu rosto .-Sr.. Craven, co-como se atreve ... -Ela tocou com as mãos para recuperá-los. -Eu... Necessito dele ... Derek os sustentou fora do alcance enquanto olhava fixamente seu rosto. Isto era o que ela tinha mantido oculto sob o disfarce de velha dama ... A pele branca, luminosa, uma boca formada com surpreendente exuberância, um pequeno nariz perfeito, marcado na delicada ponte onde a beira de seus óculos a tinha apertado. Olhos azuis de anjo, puros e sedutores, coroados por umas sobrancelhas escuras em forma de asas. Era formosa. Poderia havê-la devorado em um bocado, como uma maçã vermelha. Desejava tocá-la, levar a algum lugar e arrastá-la debaixo dele, como se de algum modo pudesse apagar uma vida de pecado e vergonha dentro da doçura de seu corpo. Forçando-se a afrouxar os músculos, Derek se inclinou para recolher o gorro manchado. Sara o olhou em ofendido silêncio. Ele tratou de limpar o gorro de renda, obtendo só o barro mais profundamente no pano de um branco puro. Finalmente Sara se atreveu a recuperá-lo. -Estou segura que lavará. -disse resolutamente ela. Ela estava claramente triste. Derek sentiu um sorriso pesaroso sobre seu rosto. Quando devolveu os óculos, seus dedos nus, acariciaram os seus enluvados. Embora o contato fosse impessoal, fez com que seu coração pulsasse com inesperada energia. Ele decidiu enfeitiçá-la de novo com seu agradável humor habitual. -É uma pena cobrir um cabelo tão bonito, senhorita Fielding. -Sr. Craven estou quase impaciente por ouvir suas opiniões sobre meu aspecto. -Ela sustentava o globo enrugado como se fosse uma mascote ferida. Lançar meu gorro favorito à lama ... -caiu. - apressou-se a dizer. -não o lancei. Comprarei outro para você. O cenho persistiu entre suas sedosas sobrancelhas. -Não estou acostumado a permitir que os cavalheiros me comprem objetos de vestir. -Sinto muito. -disse, fazendo todo o possível por parecer arrependido. A brisa fria soprou outra vez, trazendo com ela o aroma de uma tempestade por chegar. Sara olhou o céu cinzento e limpou em uma gota de água errante que tinha chegado voando em seu rosto. -Pegará um resfriado. -disse Derek, com solícita preocupação. Ele encontrou seu cotovelo nas dobras de sua capa. Antes que ela pudesse afastar seu braço, ele a fez descer os degraus da entrada mais próxima, e abriu a porta. O calor e a luz da cozinha a envolveram em uma reconfortante sensação de bem-estar. -Quais são seus planos para esta manhã? -perguntou Derek. -vou tomar o café da manhã com o Sr. Worthy. Ele vai explicar - me sobre a reunião de comitê dos clientes que planejaram o baile da assembléia para esta noite. Seus olhos cintilaram perigosamente. -Não recordo dar permissão para te contar algo sobre meus clientes. Por que tem que saber como funciona tudo por aqui? Quem faz o que, e por que, e tudo sobre a pessoa que contrato, quanto dinheiro tenho, por qual lado do rosto começo a me barbear cada manhã...

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-Interrompendo com um suspiro assediado, retirou a capa dos ombros. Tomou o gorro molhado e deu a uma das moças próximas da cozinha. -Façamos algo com isto. -disse com brutalidade. Ele voltou para Sara e tomou seu braço uma vez mais. -Venha comigo. Sara recebeu com um severo olhar. -Onde vamos? -Mostrarei como decoraram a sala de jogo. -Obrigado. Seria encantador. -O seguiu sem vacilar. -Penso com muita ilusão na bola esta noite. Certamente não temos nada comparável em Greenwood Corners. -Se quer olhar, conseguirá uma boa vista do balcão do segundo andar atrás dos músicos. Sara não acreditava absolutamente que proporcionasse uma vista muito boa. -Não acredito que notasse se estiver de pé em uma esquina da entrada principal.... -Não. Isso não funcionaria. -Então tomarei emprestado uma máscara, e descerei para olhar mais de perto. -Não tem um vestido apropriado, camundongo. Camundongo... OH, como detestava o apelido que tinha colocado! Mas ele tinha razão. Sara baixou a vista a seu pesado vestido cor ameixa e se ruborizou. -Poderia conseguir algo. -disse corajosamente. Derek deu uma olhada zombadora, mas deixou passar seu comentário sem responder. -Só o submundo assistirá esta noite. A variedade mais libertina de aristocratas e estrangeiros, putas, atrizes... -Mas essa é precisamente a classe de gente sobre a que desejo escrever! -Você não está à altura de uma multidão de machos brincalhões. Estarão bêbados e preparados para a ação, e assumirão que você está aqui por uma razão. A não ser que esteja preparada para agradá-los, ficará acima onde estará a salvo. -Posso cuidar de mim mesma. -Não virá ao baile esta noite, senhorita Fielding. Abriu os olhos de par em par. -Me proíbe? -Aconselho- que não. -murmurou em um tom que teria feito com que Napoleão se acovardasse. Entraram na sala central de jogos, e Sara abandonou temporariamente a discussão. Nunca tinha visto um cenário de maneira tão extravagante. Era como um brilhante reino submarino, recordando os contos de Atlântida que a tinham encantado quando era menina. Das paredes penduravam cortinas de rendas azuis e seda verde. Uma lona grafite cravejada com conchas marinhas dava a impressão de um castelo sob o mar. Devagar perambulou ao redor do salão, inspecionando as esculturas em gesso de peixes, conchas, e sereias com o seio nu. Um chamativo cofre de tesouro cheio de jóias de fantasia estava imobilizado sob a mesa central de jogos. Na entrada o seguinte salão tinha sido convertido no casco de um navio. Extensões de renda azul e redes de prata foram penduradas no alto, dando a aparência de estar sob a água. -É incrível!.-disse ela. -Isto é ... Formoso, imaginativo. -deu-se uma volta lentamente. -E quando todos os convidados estiverem aqui, as mulheres com vestidos brilhantes, todas levando máscaras ... -um sentimento de desejo se arrastou sobre ela. Sorriu timidamente, levantando uma das bandeiras de seda e a

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deixou correr por seus dedos. -Nunca assisti a um baile antes. Danças folclóricas, certamente, e os festivais locais ... -a seda se enredou repentinamente em volta de seus dedos. Estava perdida em seus pensamentos, esquecendo a presença do homem que a observava. Toda sua vida tinha sido tranqüila e responsável, vivendo indiretamente através das experiências dos outros. Tinha sido suficiente conformar-se com a família e prosperar, e escrever. Mas agora lamentava as coisas que perdeu. Nunca tinha cometido um engano mais grave que esquecer-se de devolver um livro emprestado. Sua experiência sexual se limitou aos beijos de Perry. Nunca tinha usado um vestido decotado para mostrar seu seio, ou dançado até a alvorada. Nunca tinha embebedado realmente. Exceto Perry, os homens com os quais tinha crescido no povoado sempre a tinham visto como uma irmã e confidente. Outras mulheres inspiravam paixão e sofrimento. Ela inspirava amizade. Uma vez em que tinha sido tomada despreparada por um humor similar a este, lançou-se a Perry. Cheia de uma desesperada necessidade de estar perto de alguém, tinha pedido que fizesse amor com ela. Perry se negou, assinalando que ela não era a classe de mulher para ser tomada fora do casamento. -Estaremos casados algum dia. -tinha explicado ele com um carinhoso sorriso. -Assim que possa fazer com que minha mãe aceite a idéia. Não demorará muito tempo, e enquanto isso, você e eu rezaremos para termos paciência. Você significa para mim mais que uma hora ou duas de prazer. -Perry tinha toda razão, certamente. Inclusive tinha admirado sua preocupação por fazer o correto ... Mas tinha feito pouco por aliviar a pontada da recusa. Estremecendo-se diante da lembrança, Sara soltou a bandeira de seda e deu a volta para enfrentar-se a Craven. Ele a olhava com o olhar penetrante que sempre a inquietava. -O que aconteceu? -Ele estendeu a mão e tomou seu braço, descansando seus dedos ligeiramente sobre sua manga. -No que pensa? Sara estava muito quieta, sentindo o calor dele, a mão afundando-se pelo material pesado de seu vestido. Ele não devia estar assim perto ... Não devia olhá-la dessa forma. Ela nunca tinha sido tão consciente de alguém em sua vida. Uma louca idéia cruzou sua mente, que ele estava a ponto de tomá-la em seus braços. O rosto de recriminação de Perry flutuou brevemente diante dela. Mas se Craven tentava tomar liberdades... Ninguém saberia. Logo se afastaria dele, voltaria para sua vida normal no campo. Somente uma vez deixaria que algo se passasse. Algo que recordaria toda sua vida. -Sr. Craven. Subiu o coração à garganta, ameaçando obstruindo sua voz. -Possivelmente não importaria em me ajudar com minha investigação. Há algo que poderia fazer por mim. -respirou fundo e seguiu a toda pressa. -Vivendo em Greenwood Corners, a gente tende a ter uma experiência, mas bem limitada. Com segurança nunca conheci a um homem como você, e não espero conhecê-lo outra vez. -Obrigado. -disse secamente. -portanto, puramente em interesse da investigação ... Para alongar o alcance de minha experiência etc. ... Acredito que possivelmente poderia estar disposto a... Quer dizer, você consideraria ... -Sara fez um punho com suas mãos e se obrigou a terminar com franqueza. -Que você me beijaria.

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CAPITULO QUATRO A tentação exercia sua atração docemente. Derek não podia controlar os pensamentos horripilantes que alagavam sua mente. De todas as mulheres que conheceu, nenhuma jamais o tinha afetado como esta. Em sua desumana ascensão, tinha usado às mulheres, para o prazer e para benefícios próprios. E ele a sua vez tinha sido usado. Mas o jogo no qual era tão perito sempre era entendido por suas companheiras. Sara Fielding não compreendia o que era ele, e quanto tinha que temer por ele. Embora fosse a única coisa decente que fizesse, protegeria ela dele. Com cuidado estendeu a mão para ela. Seus dedos largos se curvaram com cuidado ao redor de seu queixo, como se dirigisse um objeto precioso. Sua pele era suave e frágil, como a seda mais fina. -Senhorita Fielding. -Sua voz era rouca. -Eu gostaria de fazer mais que te beijar.-Ele a observou enquanto suas pestanas desciam, ocultando parcialmente seus olhos azul escuro.-Eu gostaria de te levar acima a minha cama. E te manter comigo até amanhã. Mas você ... E eu... - Sacudiu a cabeça, e apareceu seu sorriso amistoso e zombador mostrando os dentes.-Faz sua investigação com Kingswood, camundongo. Ele a recusava. As bochechas de Sara ficaram vermelhas pela humilhação. -Eu-eu não estava pedindo para ir a sua cama. -disse tensamente.-Pedi um beijo. Um beijo não é um pedido tão chocante. pele.

Derek a soltou, o calor de seus dedos se desvaneceu imediatamente de sua

-Para você e para mim, um beijo é um engano. -assegurou a ela, e compôs um sorriso indiferente. Sara não devolveu o sorriso. Enfrentado a seu semblante perplexo, deu a volta bruscamente e se afastou a passos, deixando-a só no brilhante salão. Seu corpo começava a responder a sua proximidade, suas genitálias excitando-se com palpitante consciência. Se ficasse com ela um momento mais, ela conseguiria muito mais do que tinha pedido. Com incredulidade Sara o viu sair. Parecia como se não pudesse afastar-se dela rapidamente. Sua oferta tinha sido considerada e recusada imediatamente. De repente sua vergonha se transformou em desconcertante cólera. Por que a tinha recusado? Era tão pouco atrativa? Tão pouco desejável? Ao menos Perry tinha recusado seu convite por razões de honra. Derek Craven não tinha desculpa! Deu uma olhada ao redor do opulento salão. Haveria mulheres deslumbrantes, sofisticadas aqui essa noite. Craven dançaria, paqueraria, e as dirigiria com encanto sedutor. Depois da meia-noite a reunião começaria a desfazer-se. Haveria embriaguez, galanteria, alegria, e escândalos. Sara se rodeou com os braços. Não queria olhar de uma distância segura. Desejava estar aqui esta noite. Desejava converter-se em outra, alguém bastante descarada para capturar a atenção de Derek Craven. Em suas novelas, seus personagens sempre atuavam com audácia. Mathilda, sobre tudo, tinha sido intrépida. Se Mathilda quisesse ir à reunião, teria ido, e não importaria um nada com as conseqüências. Uma repentina rajada de entusiasmo fez com que Sara faltasse o fôlego. -Conseguirei meu beijo, Sr. Craven. E você nem sequer saberá que fui eu. Aterrorizada de que pudesse perder os nervos, Sara abandonou o salão. Bruscamente se controlou. Isto não a faria parecer desesperada.

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Cansada olhou o clube em busca de Worthy. Finalmente o encontrou em sua biblioteca, revisando os montões de cartas e ganhos. -Senhorita Fielding,-disse com um sorriso, deixando seus papéis de lado disseram-me que tinha decidido atrasar nosso café da manhã enquanto o Sr. Craven lhe mostrava... -fez uma pausa quando viu sua expressão. -Senhorita Fielding, aconteceu algo? Parece inquieta. -Temo-me que estou. Sr. Worthy, necessito de sua ajuda! -De repente o rosto do encarregado mudou, tomando uma séria austeridade que fez parecer desconhecido. -É o Sr. Craven? Se tiver feito algo para angustiá-la... -OH, não, não é isso absolutamente. Sr. Worthy, é preciso que eu venha na reunião esta noite! -A reunião? -perguntou o encarregado inexpressivamente, e soltou um suspiro de alívio.-Graças a Deus. Pensei ... Bem, não importa. Prometo que conseguirá uma vista excelente do balcão.... -Quero fazer mais que observar. Devo estar ali. Devo conseguir uma máscara de algum lugar, e um vestido, nada muito complicado, mas apropriado para ocasião. Você poderia me recomendar uma loja, uma costureira, alguém que fosse capaz de me ajudar com tão pouco prazo? Possivelmente eu poderia tomar emprestado um vestido e logo devolvê-lo mais tarde, ou refazer o que já tenho.... -Senhorita Fielding, está bastante nervosa. -exclamou ele, tomou a mão e ofereceu várias carícias paternais em um intento de acalmar seus nervos. -Não é você mesma.... -Tenho o resto de minha vida para ser eu mesma! -disse apaixonadamente. -Só por uma noite quero ser outra. Worthy continuou acariciando sua mão enquanto a olhava com preocupação. Seu olhar estava cheio de perguntas caladas. Ele considerou vários pontos de vista. -Senhorita Fielding -disse finalmente -você não entende a atmosfera nestas reuniões.... -Sim entendo. -Não estaria a salvo. Há homens que indubitavelmente farão inoportunos avanços.... -Sou consciente disto. Certamente posso dirigir aos bolinadores inofensivos aqui e ali. -Bolinadores? -ele repetiu aturdido. -Onde aprendeu essa palavra? -Isto não importa. O caso é que quero assistir ao baile esta noite. Ninguém saberá. Nem sequer o Sr. Craven. Usarei uma máscara. -Senhorita Fielding, a máscara é mais um perigo que um amparo. É só uma parte de couro, cinta e papel, mas leva às pessoas a desprezar suas inibições, e logo... -Ele fez uma pausa para limpar os óculos. Esfregou energicamente as lentes com sua manga. Sara suspeitou que ele parasse durante um tempo para pensar em um modo de dissuadi-la. - Posso perguntar o que provocou esta repentina determinação? Tem algo que ver com o Sr. Craven? -Absolutamente não. -disse ela, muito rapidamente.-É estritamente com fins de investigação. Eu... Penso escrever uma cena em minha novela que inclui um baile, e já que nunca estive em um, esta é minha única oportunidade de obter uma percepção exata das pessoas, a atmosfera... -Senhorita Fielding. -interrompeu. -Duvido que sua família, ou seu prometido, aprovasse isto.-Kingswood não é meu prometido ainda. E tem você

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razão, ele não gostaria. Ninguém que conheço gostaria. -Sara sorriu deleitada com a idéia. -Mas eles não vão ou seja o. Worthy a contemplou durante muito tempo, lendo a determinação em seu rosto. Soltou um suspiro muito a seu pesar. -Suponho poderia ter Gill e a um dos criados para vigiá-la. Mas se o Sr.Craven tivesse qualquer suspeita disto... -Ele não o terá. Nunca, jamais o averiguará. Serei completamente discreta. Evitarei o Sr. Craven como à praga. Agora sobre a costureira... Possivelmente poderia me recomendar uma loja séria? -Sim, efetivamente, - murmurou Worthy.-De fato, acredito que posso fazer algo melhor que isso. Acredito que conheço alguém que ajudará. Derek caminhou a passos nervosamente por seu quarto, tratando de ignorar a febre que corria por seu corpo. Estava faminto por uma mulher ... Por ela. Havia se sentido fascinado por ela desde a primeira manhã que tinha vindo aqui, com suas palavras imaginativas e suas maneiras elegantes, e seu sua teimosia. Como seria envolvê-la em seus braços e manter-se profundamente dentro dela? Lamentava ferozmente não havê-la conhecido. Deveria estar casada com seu pretendente no campo, e estar situada bem longe de seu próprio alcance. Ela estava feita para um homem decente. Uma punhalada de violentos ciúmes por Perry Kingswood fez com que Derek franzisse o cenho. -Sr. Craven? -chegou à voz de um mordomo na entrada. O criado se aproximou com um cartão colocado sobre uma bandeja de prata. Derek reconheceu o brasão do Raiford imediatamente. -É Lily? -Não, senhor o visitante é Lorde Raiford. -Bom. Que Deus me ajude se tiver que ver mais mulheres hoje. O faça subir. Não havia nenhum homem na Inglaterra mais diferente de Derek que Lorde Alexander Raiford, conde de Wolverton. Alex possuía uma confiança em si mesmo que só poderia provir de ter nascido em uma família nobre. Era um homem honorável com um sentido inerente da justiça. Tinha havido problemas em sua vida, dor e perda, que tinha vencido amplamente. Gostava dos homens por sua esportividade e seu senso de humor. As mulheres adoravam seu natural encanto masculino, e não digamos sua beleza. Com seu abundante cabelo loiro e ordenadamente penteado, possuía uma aparência particularmente leonina. Raiford poderia ter uma confusão com qualquer mulher que desejasse, mas ele estava apaixonado por sua própria esposa, Lily. Sua devoção por ela era uma fonte de entretenimento para os sofisticados membros da sociedade. Apesar de suas brincadeiras, em segredo muitos desejavam a classe de carinho e a união fiel que tinham os Raiford, mas nestes dias de matrimônios consertados não era possível. Alex tolerava a amizade de Derek com sua esposa porque sabia que seria necessário alguma vez, Derek protegeria Lily com sua própria vida. Durante anos, desenvolveu-se uma amizade entre os dois homens. -Vim para ver se Lily tinha exagerado sobre a cicatriz. -foram as primeiras palavras de Alex quando entrou na biblioteca. Ele estudou o rosto escuro de Derek sem alterar-se.-Não é o que eu chamaria uma melhora. Derek sorriu brevemente. -Vá a merda, Wolverton!.-sentaram-se diante do fogo com taças de brandy, e Alex aceitou um dos charutos que Derek o ofereceu. Depois de cortá-lo e acendêlo com cuidado, Alex inalou com grande prazer. Seus olhos cinza pareciam de prata na neblina da fumaça. Assinalou a cicatriz. -Como passou? Estão circulando uma dúzia de rumores, nenhum deles te

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favorece particularmente, poderia acrescentar. Derek o olhou penetrante mente. -Não importa. Alex ficou cômodo e o olhou pensativamente. -Tem razão. A cicatriz não é importante, e tampouco os rumores. O que importa é que lady Ashby te fez isto, e foi muito longe, provavelmente fará pior.-Ele sustentou sua mão em alto quando Derek tratou de interromper. -me deixe terminar. Há uma boa razão para preocupar-se. Joyce é uma mulher perigosamente imprevisível. Conheço-há á muito tempo. Felizmente consegui evitar o engano de me envolver com ela. Mas você.... -Agora acabou.- disse Derek rotundamente.-Posso dirigir a Joyce. -Não estou tão seguro. Espero que não acha que ignorando o problema, desapareça. Por isso posso dizer, Joyce converteu em um inferno a vida de cada homem que tomou como amante, embora seja a primeira vez que jamais tenha recorrido à mutilação física. -A boca de Alex se apertou com aversão. -Ainda com toda a beleza de Joyce, jamais teria desejos de me deitar com ela. Há algo impassível nela. Parece uma formosa e mortal serpente. Em nome de Deus por que te envolveu com ela? Certamente sabia. Derek vacilou. Era estranha a ocasião em que confiava em alguém, mas se houvesse um homem em quem confiar, era Alex. -Sabia melhor, -admitiu ele -mas não me importava. Conheci Joyce na recepção de Lorde Aveland. Falamos um momento. Pensei que era divertida, e tão... -Ele se deu de ombros.-A aventura começou nessa noite. -Como era ela?-perguntou finalmente, incapaz de conter a pergunta de interesse puramente masculino. Derek sorriu ironicamente. -Exótica. Gosta de truques, os jogos, as perversões.... Não há nada que não faria. Desfrutei disso um tempo. O problema começou quando finalmente me fartei dela. Ela não queria que terminasse. -Sua boca se torceu.-Ainda não quer. Alex bebeu uns goles de brandy e logo virou o líquido na taça, olhando-o com interesse adverso. -Derek,-murmurou -antes que meu pai morresse, ele tinha uma amizade próxima com Lorde Ashby. Embora Lorde Ashby seja um ancião, não perdeu sua agilidade mental. Eu gostaria de me aproximar dele discretamente e lhe pedir que terminasse com as palhaçadas de Joyce antes que ela faça algo pior do que já tem feito. -Não, -disse Derek com uma curta gargalhada.-Teria sorte se o velho louco não contratar a alguém para acabar comigo. Ele não acolheria muito bem a idéia de que a alta burguesia alardeará de atirar-se a sua esposa. Não interfira, Wolverton. Alex, que sempre tinha tido costume de solucionar os problemas dos outros, incomodou a negativa. -O que te faz pensar que estou pedindo sua maldita permissão? Você manipulaste e interferiu minha vida durante anos! -Não necessito de sua ajuda. Alex começou a perguntar algo, vacilou, e olhou indignado consigo mesmo. -Então ao menos aceita meu conselho. Deixa de ter aventuras com as mulheres dos outros. Encontra sua própria mulher. Quantos anos tem? Trinta? -Não sei. -Alex registrou a declaração com uma piscada de surpresa, e logo o considerou especulativamente. -Aparenta trinta. Já é hora mais que de sobra de que um homem se case e que produza um descendente legítimo. Derek levantou as sobrancelhas com fingido horror .

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-Uma esposa? Um pequeno Craven debaixo dos pés? Deus, não. -Então ao menos encontra uma amante. Alguém que saiba cuidar de um homem. Alguém como Viola Miller. Sabe que ela e Lorde Fontmere têm quebrado recentemente seu acerto? Viu a Viola antes ... Uma mulher cheia de graça, inteligente. Não concede seus favores. Se eu estivesse em sua situação, faria o que estivesse em meu poder por me converter em seu seguinte protetor. Acredito que á de convir que ela valha qualquer preço que tenha á pagar. Derek deu de ombros com irritação, querendo mudar de tema. -Uma mulher nunca soluciona nada. Só causa mais problemas. Alex sorriu abertamente. -Bem, estaria mais seguro com sua própria esposa que com qualquer outra. E tem pouco a perder te unindo à sorte de outros. -À desgraça gosta da companhia. -citou Derek acidamente. -Exatamente. Sua conversa perambulou a outros assuntos, e Derek perguntou se Alex e Lily planejavam assistir ao baile da assembléia no clube. Alex riu da idéia. -Não, eu não gosto dessa multidão de descaradas e putas, embora minha esposa realmente pareça desfrutar de tais reuniões. -Onde está? -Na costureira, encarregando d alguns vestidos novos. Ultimamente levou suas malditas calças na fazenda tão freqüentemente que nosso filho perguntou por que não tinha vestidos como todas as outras mães. -Alex franziu a sobrancelhas. Lily partiu apressadamente esta manhã. Não explicou por que. Recebeu alguma nota que não me deixou ler. Traz algo entre mãos. Maldita mulher, deixa-me louco! Derek conteve um sorriso, sabendo que Alex não trocaria um cabelo da cabeça por sua esposa. -S. R. Fielding!-gritou Lily com uma suave risada, agarrando a mão de Sara e sustentando-a com força. Seus olhos escuros brilhavam de prazer. -Não tem nem idéia de quanto admiro seu trabalho, senhorita Fielding. Senti tal afinidade com Mathilda. Ela poderia ter sido modelada depois de mim! -Você é a mulher do retrato, -disse Sara assombrada -na galeria do Sr. Craven.-A pintura tinha capturado à condessa fielmente, mas sobre o tecido parecia muito mais serena. A habilidade de um artista jamais poderia capturar completamente sua radiante segurança em si mesmo e transportar o animado brilho de seus olhos. -A menina na pintura é minha filha, Nicole. -disse Lily com orgulho.-Uma beleza, verdade? O retrato terminou faz alguns anos. O artista se negou a vendê-lo, mas Derek ofereceu uma absurda soma que não pôde recusar. Derek afirma que se pode conseguir algo por um preço. Seus lábios fizeram a réplica brandamente.-Às vezes acredito que tem razão. Sara riu cautelosamente. -O Sr. Craven é muito cínico. -Não sabe nem a metade. -disse Lily ironicamente, e despachou o tema com um movimento de suas mãos. De repente ela era todo o assunto. -Como Worthy descreveu a situação, temos a horrível necessidade de um vestido de baile. -Eu não tinha nenhuma intenção de colocá-la em semelhante problema, Lady Raiford. Obrigado por aceitar me ajudar. Worthy tinha arrumado para que Sara fosse levada a Madam Lafleur, a costureira mais exclusiva de Londres. Lady Raiford se encontraria ali com ela, havia dito Worthy, e além disso tinha deixado claro que Sara devia aceitar sua

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completa autoridade. -Lady Raiford sabe tudo sobre esta classe de coisas. Deve confiar em seu julgamento, senhorita Fielding. Em particular Sara suspeitava que Worthy estivesse longe de ficar impressionado por seu próprio sentido da moda. Entretanto, era a carência de recursos, não de gosto, o que sempre determinava seu guarda-roupa. Agora Sara se encontrou no célebre conjunto de salas em Bond Street, forradas com espelhos dourados e elegante tecido de seda cinza. Havia um ambiente intimida mente régio no Lafleur. Inclusive os agradáveis sorrisos das ajudantes faziam pouco por acalmar sua agitação. A idéia de quanto poderia custar seu capricho a acovardava, mas Sara ignorava obstinadamente a persistente preocupação. Mais tarde se queixaria e se estremeceria por causa de seu desenfreado gasto. Mais tarde seria prudente e responsável. -Por favor me chame Lily. -disse lady Raiford. -E não é um problema absolutamente, querida, especialmente em vista de tudo o que tem feito por mim. -Madame, fiz algo por você? -Salvar Derek da maneira que o fez, sem pensar no perigo para você mesmo... Sempre estarei em dívida com você. Derek é um amigo próximo da família. -Lily sorriu alegremente. -Um homem bastante interessante, não está de acordo? -antes que Sara pudesse responder, Lily deu a volta e captou uma figura que se mantinha à parte. Bem, Monique? Quanto tempo levará para pôr à senhorita Fielding impressionantemente formosa? A costureira se aproximou delas na porta, onde tinha estado esperando discretamente. Deu a boa-vinda a Lily com um carinho que revelava uma longa e antiga amizade, e logo se voltou para Sara. Com todo direito uma mulher da estatura e o êxito de Monique Lafleur seria distante, brilhando com orgulho um ar de arrogância. Em troca Monique era amistosa e amável, com um sorriso tão generoso como seu contorno. -Cherie. -tomou Sara pelos ombros e deu uma olhada apreciativa. -OH, sim. -murmurou.-vejo que há muito trabalho que fazer. Mas realmente desfruto de um desafio! Lady Raiford fez bem em te trazer. Quando terminarmos, prometo que você será uma feiticeira. -Possivelmente poderíamos encontrar algo singelo para você vestir ... -As palavras de Sara se perderam no repentino alvoroço enquanto Monique fazia gestos a seus ajudantes. Lily simplesmente se afastou com um sorriso. -Cora. -chamou a costureira. Venham, trazer os vestidos, é para hoje! Rápido, não há um momento a perder! Sara olhou desconcertada as quantidades de sedas e os veludos de vivos tons que eram gastos. -De onde vem tudo isto? Monique a arrastou a um quarto conjugado equipado com delicados móveis antiquado, cortinas decoradas, e espelhos ainda mais enormes que os dos quartos da frente. -Os vestidos pertencem a lady Raiford.-Habilmente se virou para Sara e a desatou o sutiã. -Desenho todos que ela usa. Quando a condessa adota uma última moda, todos em Londres a copia no dia seguinte. -OH, mas eu não podia tomar um dos vestidos de lady Raiford.... -Nenhum foi usado. -interrompeu Lily, as seguindo ao quarto.-Retocaremos um deles para você, Sara.-voltou sua atenção à costureira.-Os negros e os púrpuras não ficam bem absolutamente, Monique. E nada tão virginal como o branco.

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Queremos algo valente e chamativo. Algo o que a faça distinguir-se da multidão. Sara saiu de seu vestido e afastou os olhos em sua própria visão no espelho, vestida sem blusa, suas grosas meias brancas, e seus pesados calções. Monique deu uma olhada especulativa à prática roupa interior, sacudiu a cabeça, e pareceu tomar nota mentalmente de algo. Alargou a mão a um dos vestidos, virando a um e outro lado. -O rosa? -sugeriu, sustentando o brilhante cetim rosa diante da figura meio vestida de Sara. Sara conteve a respiração assombrada. Nunca tinha usado uma criação tão suntuosa. Rosas de seda adornavam as mangas e a prega do vestido. O sutiã com detalhe alto estava terminado com um faixa de renda de prata e uma fileira de laços de cetim. -Encantador, mas muito inocente. Lily sacudiu a cabeça pensativamente. Sara conteve um suspiro de decepção. Não podia imaginar nada mais formoso que o cetim rosado. Afanosamente Monique desprezou o vestido e olhou outros. -O pêssego. Nenhum homem será capaz de tirar os olhos de cima de você com esse. Tome, nos deixe prová-lo, cherri. Levantando os braços, Sara deixou que a costureira e sua ajudante Cora tirassem o vestido de cor pêssego sobre sua cabeça. -Acredito que teria que modificá-lo muito, - comentou Sara sua voz amortecida sob as delicadas capas de tecido. Os vestidos tinham sido ajustados para as linhas ágeis e pequenas de Lily. Sara estava mais amplamente dotada, com um seio generoso e quadris curvados, e uma pequena, cintura... Um tipo de figura que tinha estado na moda há trinta anos. O atual estilo Grego de detalhe alto não lhe favorecia particularmente. Monique colocou o vestido ao redor dos pés de Sara e logo começou a atirar para unir as costas. -Oui, lady Raiford tem o tipo que quer a moda. -Com energia juntou o apertado sutiã. Mas você, cherri, tem o tipo que adoram os homens. Sara se estremeceu quando seus seios foram empurrados para cima até que quase se transbordaram do sutiã de decote baixo. A prega da saia excepcionalmente ampla estava bordejada com três fileiras de folhas de tulipa. Sara custava acreditar que a mulher do espelho era ela mesma. O vestido pêssego, com suas capas transparentes de seda e o decote terrivelmente baixo, tinha sido desenhado para atrair a atenção de um homem. Era muito solto na cintura, mas seus seios se elevavam do sutiã com esplendor, juntando-os para formar uma atrativa abertura. Um amplo sorriso apareceu no rosto de Lily. -Que esplêndida você, Sara. Monique a olhou com ar de suficiência. -Com umas poucas alterações, será perfeito. Este é o vestido? -Não estou segura, -disse Lily, caminhando de um lado a outro ao redor do quarto enquanto olhava para Sara de todos os ângulos. -Possivelmente seja somente minha preferência pelos tons mais enérgicos... -fez uma pausa e sacudiu a cabeça com uma resolução que fez com que o coração de Sara se afundasse. -Não, não é tão espetacular para alcançar nosso objetivo. -Objetivo? -perguntou Sara, perplexa. -Não há outro objetivo que te ver adequadamente vestida. Certamente este é mais que adequado. Lily deu uma olhada insondável à costureira, que de repente encontrou um montão de motivos para deixar o quarto. Silenciosamente as ajudantes a seguiram.

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Confundida por sua repentina saída, Sara sacudiu a saia do vestido pêssego com fingida indiferença. -Possivelmente deveríamos conversar um pouco, Sara. -Revisando os outros vestidos, Lily sustentou uma criação de cor malva e violeta e fez uma careta. -Meu Deus. Não posso pensar por que fiz este. -deixou o vestido sem a devida atenção. -Exatamente por que é imperativo, como escreveu Worthy, porque que vai ao baile esta noite? -Investigar,-disse Sara, sem olhá-la nos olhos.-uma cena para minha novela. -De verdade? -um estranho sorriso brincou na boca de Lily. -Bem, não sei nada sobre escrever novelas. Mas tenho uma razoável compreensão da natureza humana. Possivelmente esteja enganada, mas assumi que a finalidade de tudo isto era fazer com que alguém se fixasse em você. -havia um tom sutilmente inquisidor na última palavra. Sara negou com a cabeça imediatamente. -Não, milady.... -Lily. -Lily, -repetiu obediente mente. -Não desejo nada pelo estilo. Não desejo atrair a atenção de ninguém. Quase estou prometida ao Sr. Perry Kingswood, de Greenwood Corners. -OH.-a condessa deu de ombros, olhando-a com amistosa compaixão. Então me equivoquei. Na realidade... Tinha pensado que poderia abrigar um interesse por Derek Craven. -Não. Ele não é absolutamente a classe de homem que eu... -Sara se deteve e a olhou inexprecivamente. -Absolutamente. -Certamente. Perdoe-me. Fui presunçosa. Sara tratou de deixar de lado o incômodo momento. -Não é que não tenha um bom conceito do Sr. Craven. Ele uma pessoa única.... -Não há nenhuma necessidade de passar nas pontas dos pés sobre a verdade. Ele é impossível. Conheço Derek melhor que ninguém. Egoísta, reservado, solitário... Muito parecido comigo há cinco anos, antes de me casar com Lorde Raiford.-Lily ficou atrás de Sara e começou a desabotoar o ajustado vestido.Provemos o de veludo azul. Tem a pele perfeita para ele. -Parecendo pouco disposta a falar do tema Derek Craven, liberou a fileira de botões dos pequenos laços de seda que os prendiam. -Mas por que está sozinho Sr. Craven? -exclamou finalmente. -Está rodeado de... -Sara franziu a testa enquanto deslizava as mangas pelos braços e saía do círculo do vestido pêssego. O silêncio se fez insustentável. -gente todo o tempo. Poderia ter a companhia de qualquer mulher que desejasse! Lily fez uma careta cômica. -Derek não confia em ninguém. Depois de ser abandonado por sua mãe e viver durante tanto tempo nos bairros pobres... Bem, temo-me que não tenha a mais alta opinião das mulheres, ou das pessoas em geral. -Ele tem uma alta opinião de você. -disse Sara, pensando no magnífico retrato na galeria privada de Craven. -fomos amigos durante muito tempo. -reconheceu Lily, de forma significativa, mas nada mais. OH, sei o que afirmam as intrigas, mas a relação era estritamente platônica. Possivelmente isto não te importa. Em qualquer caso, queria que soubesse a verdade. Sara sentiu um inexplicável prazer ao coração pela informação. Consciente do olhar perspicaz de Lily, Sara lutou contra o impulso de confiar nessa estranha pormenorizada, ela, que sempre protegia sua própria intimidade com tanto

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cuidado. Não vou ao baile para investigar, desejava exclamar, vou porque o Sr. Craven acredita que sou um camundongo do campo. E apenas me reconheço... Porque de repente faria algo para lhe demonstrar que se equívoca. .. Quando isto não deveria importar. Isto não deveria importar absolutamente. -O Sr. Craven me proibiu que fosse ao clube esta noite.-ouviu dizer Sara. -Fez? -respondeu imediatamente Lily. -Não me surpreende. -Afirma que não estaria a salvo entre o submundo. Vá, visitei bordéis e casas de jogo dos bairros pobres, e nunca sofri nenhum dano! É absolutamente injusto, sobre tudo em vista do fato de que sou eu quem o resgatou! -É claro que sim. -reconheceu Lily. -Do momento em que cheguei, quis me enviar de volta a Greenwood Corners. -Sim.-Lily se moveu para sujeitar o vestido azul. -Derek quer livrar-se de você, Sara, porque ele te considera uma ameaça. Sara riu com incredulidade. -Eu, uma ameaça? Asseguro-te que nunca ninguém pensou assim de mim! -Há só uma coisa que Derek Craven teme. -assegurou Lily.-É um completo covarde quando se trata de seus próprios sentimentos. Teve aventuras com dúzias de mulheres, e assim que há qualquer perigo de atar-se, desfaz-se dela e encontra outra. Quando o conheci pela primeira vez, pensei nele como um homem extremamente limitado, incapaz de amar, confiar, ou ser tenro. Mas agora acredito que esses sentimentos estão ali. Ele os engarrafou profundamente dentro dele desde que era um menino. E acredito que se aproxima rapidamente o momento em que não será capaz de contê-los mais. Não é exatamente ele mesmo nestes dias. Ultimamente vi marcas de que o muro que construiu ao redor de si mesmo está rachando. Preocupada, Sara alisou o veludo em seus quadris e baixou a vista ao chão. -Lady Raiford, não estou segura do que espera de mim.-disse com honestidade.-Amo o Sr. Kingswood, e tenho a intenção de me casar com ele..... -Sara, -interrompeu Lily com cuidado -ajudaria enormemente a Derek se demonstrasse esta noite que não é tão invencível como acha. Eu gostaria que você, ou qualquer outra, encontrasse uma fresta na armadura. Isso é tudo. -Ela riu calorosamente. -E depois voltará para Sr. Kingswood, que é um homem maravilhoso, estou segura ... E farei minha parte para encontrar a mulher adequada para Derek. -riu Lily. -Ela terá que ser forte, sábia, e bastante paciente para ter direito à santidade. -afastou-se para olhar Sara, e um sorriso apareceu em seu rosto. -Este,-disse energicamente -é o vestido. Sentaram-se juntas na carruagem de Raiford. Sara olhou fixamente fora da janela de trás de uma pequena cortina, olhando a corrente de gente que subia os degraus do clube. As mulheres tinham vestidos suntuosos e máscaras adornadas com plumas, jóias, e fitas. Seus acompanhantes vestiam trajes com etiqueta escura e singelas máscaras negras fazendo com que parecesse um baile de salteadores. As janelas brilhavam com a luz, enquanto os compasses da música da orquestra flutuavam na fria escuridão da noite. Lily observou a procissão e lambeu os lábios, saboreando o gosto refinado de brandy. -Esperaremos uns minutos mais. Parece muito cedo. Sara se envolveu na capa emprestada e estendeu uma mão à garrafa. O brandy era forte, mas suave, um fogo agradável que aliviou a tensão em seus nervos e tocou castanholas em seus dentes. -Meu marido provavelmente está perguntando onde eu estou. -comentou

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Lily. -O que lhe dirá? -Ainda não estou segura. Terá que ser algo que se aproxime da verdade. Lily sorriu alegremente. -Alex sempre pode dizer quando minto. Sara sorriu. Não só fez com que Lily Raiford obtivesse prazer ao recontar as histórias escandalosas de sua má conduta passada, mas também livremente dava suas opiniões sobre alguém e algo. Tinha uma atitude assombrosamente desdenhosa com respeito aos homens. -São fáceis de dirigir, e completamente previsíveis, -havia dito Lily antes. se lhes dá algo com facilidade, são indiferentes. Se nega algo, querem-nos desesperadamente. Enquanto meditava o conselho de Lily, Sara pensou que tinha tido razão em negar-se. Perry Kingswood sempre sabia que assim que se encarregasse de fazer uma proposta, Sara aceitaria. Possivelmente se ele não tivesse estado tão seguro dela, não teria demorado quatro anos em estar a ponto de comprometer-se. Quando voltar a Greenwood Corners, pensou Sara, serei uma nova mulher. Seria tão segura de si mesma e independente como Lily Raiford. E então Perry se apaixonaria como um louco por ela. Agradada pela idéia, Sara se levantou o ânimo com mais brandy. -Melhor ir com, mas cuidado com isso, -aconselhou Lily.-é bastante vigoroso. -É bastante potente. Chegou o momento de te pôr a máscara. Não esteja nervosa. -É uma máscara encantadora. -disse Sara, brincando com as estreitas fitas negras de seda antes de atá-la em seu lugar. Monique a tinha fabricado engenhosamente de seda negra com rendas, e brilhantes safiras azuis que faziam jogo com seu vestido. -Não estou nervosa absolutamente. -era verdade. Sentia-se como se alguma temerária desconhecida tivesse substituído seu habitual "eu" cauteloso. O vestido azul escuro se moldava a sua figura, decotado, seus seios pareciam preparados para sair do escasso sutiã. Uma ampla bandagem de cetim presa com uma fivela de ouro acentuava sua pequena cintura. A máscara cobria a metade superior de seu rosto, mas revelava seus lábios, os quais Monique e Lily tinham insistido em obscurecer com a mais clara insinuação de vermelho. Tinham arrumado laboriosamente seu cabelo alguns cachos no alto de sua cabeça, deixando uns cachos provocativamente contra seu rosto e seu pescoço. Um perfume que Sara recordava a rosas misturadas com o aroma mais profundo bosque tinha aplicado com moderação no seio e no pescoço. -Um triunfo, - tinha declarado Monique, desfrutando-se com a transformação. -Formosa, sofisticada, mas ainda viçosa e jovem .... Ah, cherri, terás muitas conquista esta noite. -Deslumbrante, -havia dito Lily, radiante de prazer. -Muita emoção causará. Sem dúvida ouvirá todas as fofocas amanhã pela manhã, Monique. -Bem, todas entrarão para perguntar quem é ela, cacarejando como uma multidão de galinhas ciumentas! Enquanto as duas se felicitavam, Sara tinha um cuidadoso reflexo desconhecido em espelho, seu estômago saltava de excitação. A imagem era de uma mulher experimentada, muito visada na arte da sedução. -Não um camundongo esta noite, - tinha sussurrado com um sorriso perplexo. -Nem sequer me reconhecerá Sr. Craven. Ante o som da voz vagamente desejosa de Lily, Sara voltou para o presente.

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-Se tiver qualquer problema esta noite -dizia Lily -só chama Worthy. -Não será necessário. -disse Sara com ligeireza, inclinado a garrafa para dar outro trago profundo. -Melhor diga algo a Worthy quando entrar. De outra maneira ele não te reconhecerá. Sara sorriu com ar de suficiência diante da idéia. -Tão pouco o Sr. Craven. -Não estou segura de que eu goste de olhar em seus olhos, -disse Lily com inquietação. -Tome cuidado, Sara. soube que ocorrem coisas estranhas nestes bailes de máscaras. Eu terminei casada depois de um particularmente memorável. Ouça, me devolva a garrafa. Acredito que bebeste o bastante. A contra gosto Sara devolveu o brandy, enquanto Lily pronunciava um último sermão. -Não aceite nenhuma aposta, nem que te enganassem para que jogue a frente com algum homem brincalhão antes que saiba o que passou. E te advirto que não vá aos salões de trás com ninguém, ali é onde as pessoas desaparece para uma conveniente queda. -Worthy não me contou isso. -Provavelmente estava muito envergonhado. -disse Lily misteriosamente. Esses salões estão desenhados para amortecer todo som, e estão cheios de móveis de duvidoso gosto sobre o que ocorreu todo tipo de coisas sórdidas. -Como sabe tanto sobre eles? -Os rumores, é obvio. -Lily sorriu de uma maneira que desdizia seu tom inocente. Saiu da carruagem, descarada. -Obrigado. -disse Sara com seriedade -Obrigado por tudo. Realmente desejo que me deixasse pagar o vestido, e a roupa intima de seda, e.... -Nem pensar, -interrompeu Lily. -e me pode contar tudo sobre o baile algum dia. Será pagamento suficiente. indicou rindo que se fosse com um gesto de mão. O criado ajudou Sara a descer da carruagem, e ela subiu sozinha os degraus. Possivelmente era só um pouco de enjôo pelo brandy, mas se sentia muito estranha. A noite era mágica, ameaçadora. Os degraus de mármore sob seus pés pareciam mover-se como a areia movida pela maré. Algo ia acontecer essa noite. Se a manhã trouxesse felicidade ou pesar, sabia que ao menos por poucas horas teria vivido tão audazmente como sempre tinha sonhado. -Madame? -perguntou o mordomo imperturbavelmente quando ela entrou no salão. Era sua responsabilidade eliminar aos convidados sem convite, de outra maneira os bailes de máscaras aumentariam até dimensões intratáveis. Sara sorriu ligeiramente enquanto se tirava a capa negra, revelando as suntuosas curvas de sua figura perfilada apertadamente no veludo azul. -boa noite, -disse ela, baixando sua voz . -Deve ser Ellison. A senhorita Fielding me falou que você. Ellison, quem tinha acreditado nela, na recente enfermidade de sua mãe a sua afeição pelo bolo de rins, claramente não a reconheceu. -É convidada da senhorita Fielding? -Sou muito intima dela, -assegurou Sara. -Ela disse que seria bem-vinda esta noite. -deu seus ombros. -Entretanto, se esse não for o caso.... -Espere, senhora... -um rastro de assombro entrou em sua voz impassível. Posso perguntar seu nome? Ela se inclinou aproximando-se dele. -Não acredito que fosse prudente. -confiou-se ela. -Temo-me que minha reputação tendesse a fazer as coisas bastante inoportunas.

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O rosto de Ellison ficou vermelho. Era fácil ler os pensamentos que davam voltas em sua mente. Uma mulher formosa, misteriosa, com uma vaga conexão com a senhorita Fielding... -M-madame. -gaguejou entusiasmadamente.-Poderia ser? Posso perguntar se você é ... Mathilda? A verdadeira Mathilda? Franziu seus lábios vermelhos pensativamente. -É possível. -deu sua capa e deslizou no edifício. Não sentiu nenhuma vergonha por sua astúcia. Depois de tudo, se alguém tinha o direito de assumir a identidade de Mathilda, era sua criadora! Um grupo de três jovens que tinham estado atrás de Sara na entrada a olharam fixamente com impaciência. -Ouviu isso? -gritou um deles. -Que me pendurem se não for Mathilda. -Isto poderia ser uma farsa. -advertiu um de seus companheiros razoavelmente. -Não, não, é ela. -insistiu o primeiro.-Tenho um amigo que passou uma tarde com Mathilda no Bath em Junho passado. Ela é tal como ele a descreveu. -Sigamo-la. -Mathilda não podia ter estado em Bath em Junho passado. -argumentou o terceiro. -ouvi que estava de viaje pelo continente com um dos Berkley. -Isso foi antes ou depois de que se uniu ao convento? Sara não deu conta dos três homens que debatiam e a seguiam. Tendo chamado a atenção de Worthy, atravessou a sala central de jogos. Seu avanço foi impedido por uma multidão de homens que de repente se ofereciam a trazê-la ponche, pedindo para dançar, suplicando sua atenção. Alguém entregou uma taça em sua mão, e ela aceitou com um sorriso. Fazendo uma pausa para beber alguns goles da amadurecida mistura, saboreou a corrente de calor que atravessou suas veias. Com graça levantou uma mão com uma luva negra para afastar um cacho que pendia de sua testa, e sorriu à multidão ao redor dela. -Cavalheiros, -disse com uma voz gutural -são um grupo de homens muito arrumados, e estou adulada por seus cuidados, mas estão falando todos de uma vez. Só posso com três ou quatro de uma vez. Eles renovaram seus esforços com entusiasmo. -Senhorita, posso acompanhá-la a uma sala de jogo.... -.... um copo de vinho? -.... um caramelo ou dois? -.... dança a valsa comigo? Sara recusou todos os convites com uma careta de arrependimento. -Possivelmente mais tarde. Devo partir para saudar um velho amigo, ou se afligirá por meu descuido. -Logo eu mesmo morrerei com o coração aquebrantado. -gritou um deles, e a reunião tentou seguir a Sara quando ela se deslizou à beira do salão onde estava Worthy. Sorrindo de júbilo, Sara ficou diante dele e fez uma pequena reverência. -Bem? -exigiu ela. O encarregado fez uma reverência respeitosamente. -Bem-vinda a Craven, madame. Quando o encarregado reatou seu exame absorto do salão, Sara franziu a sobrancelha ligeiramente e se aproximou um pouco mais. -Procura alguém? -perguntou com sua voz normal, seguindo a direção de seu olhar. -Ocorre algo? De repente os olhos de Worthy ficaram sobre ela. Ele tirou os óculos, limpou-os com brutalidade, e as voltou a pôr para olhá-la assombrado. -Senhorita Fielding? -perguntou com um sussurro sobressaltado. -É você?

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-Certamente que sou eu. Não me reconheceu? -sorriu com satisfação. Gosta da transformação? Lady Raiford é responsável por tudo isto. Worthy se engasgou e gaguejou, e parecia não poder responder. Enquanto dava uma olhada a sua figura deliciosamente exposta, seu rosto ficou branco com paternal consternação. Sara aceitou outra taça de ponche de um criado que a esvaziou com avidez. -Que delicioso está.-exclamou.-Faz muito calor aqui, verdade? Essa música é cativante, mal posso manter os pés quietos. Vou dançar esta noite, a valsa e... -Senhorita Fielding, -ofegou Worthy -esse ponche é muito forte para você. Farei com que Gill lhe traga uma bebida sem álcool... -Não, quero beber o que bebem todos outros. -inclinou a cabeça para ele até que seu fôlego perfumado de fruta embaçou os óculos. -E não me chame senhorita Fielding. Não há nenhuma senhorita Fielding aqui está noite. Worthy gaguejando sem poder conter-se, limpando os óculos uma vez mais. No espaço de uns segundos preparou um discurso que anunciaria sua saída imediata do baile. Nunca tinha suspeitado que Sara Fielding poderia transformarse em uma tentadora que avivava o sangue. Tudo nela era diferente; sua voz, seus movimentos, seu comportamento inteiro. Inclusive a forma de seu rosto parecia ter mudado. Quando Worthy voltou a colocar os óculos no nariz, ela tinha ido, levada por dois dos almofadinhas que conseguiam parecer aborrecidos e lascivos ao mesmo tempo. O encarregado começou a fazer gestos desesperadamente a Gill, esperando que entre os dois, pudessem evitar o desastre que começava. Se desse a casualidade de que o Sr. Craven a visse ... Sensível à expressão acossada e aos gestos violentos de Worthy, Gill se aproximou em frente do salão octogonal. -Problemas? -perguntou o jovem. -A senhorita Fielding está aqui! Devemos encontrá-la imediatamente. Gill se deu de ombros, sem ver nenhuma razão de preocupação. -Provavelmente está em algum canto em algum lugar, olhando e escutando a todos como sempre. -A senhorita Fielding não é ela mesma esta noite, - disse Worthy concisamente. -É uma situação perigosa, Gill. -Sonhas como se esperasse que ela causasse algum tipo de problema. disse Gill, e riu da idéia. -Essa doce, tranqüila pequena solteirona... -Essa doce, tranqüila solteirona é capaz de pôr este clube inteiro pra cima. vaiou Worthy. -Encontre-a, Gill, antes que o faça o Sr. Craven. Usa um vestido azul e uma máscara negra. -Isso descreve ao menos a duas dúzias de mulheres aqui. -indicou Gill.-E não acredito que possa reconhecê-la sem seus óculos .-empurrou o braço de Worthy, seu interesse estava ocupado em um assunto mais urgente, -A propósito, sabe o que ouvi justo antes de vir aqui? Pode ser que Mathilda tenha assistido ao baile. A Mathilda! Bem, eu gostaria de ouvir a senhorita Fielding tratando de afirmar que não há nenhuma Mathilda depois disto. -Encontre ela. -Disse Worthy com a voz estrangulada. -A Mathilda? -À senhorita Fielding. -Tentarei .-disse com receio, e se afastou. Worthy explorou a multidão em busca do vestido azul de Sara, golpeando brandamente o chão com o pé, enquanto considerava alertar mais os empregados do clube para procurar à evasiva senhorita Fielding, ouviu uma suave voz lenta que enviou um calafrio coluna abaixo.

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-Procura a alguém? Depois de engolir dolorosamente, Worthy se virou para confrontar o semblante sério de Derek Craven. -Senhor? -pigarreou. -Sei que ela está aqui. -disse Derek, seus olhos verdes sérios atrás da singela máscara negra que levava. -Não faz um minuto que a vi, pelos arredores para me buscar, fazendo perguntas, é tão sutil como uma correria de elefantes. Espero que possa evitar matar a essa puta com minhas mãos nuas, ou causá-la uma cicatriz para igualar a que ela me provocou. Aliviado e horrorizado a partes iguais, Worthy compreendendo que Craven se referia a lady Joyce Ashby. -Lady Ashby teve o descaramento de assistir ao baile? -Temporariamente se esqueceu do problema de Sara Fielding.-Quer que a tire do clube, senhor? -Ainda não. -disse Derek com gravidade.-Primeiro vou falar com ela. Joyce Ashby esperava ao lado de uma enorme coluna, olhando a multidão agitada como um gato estudando a sua presa. Seu corpo magro estava coberto com um vestido de seda dourada que combinava com seu cabelo. Uma máscara de plumas douradas e chapeadas cobria seu rosto estreito e perfeitamente esculpido. De repente uma dor opressiva atacou sua nuca, quando uma mão grande se torceu em seus cachos. O homem que não via atrás dela enroscou seus dedos com mais força, impedindo de virar a cabeça. A respiração de Joyce saiu em um vaio de dor. Devagar ela relaxou. -Derek.-murmurou, ficando perfeitamente imóvel. Sua voz era baixa e cheia de ódio. -Estúpida puta.-Sua mão se enroscou até que ela inalou bruscamente e se arqueou para aliviar o puxão em seu couro cabeludo. -Queria ver seu rosto. -ofegou. -É por isso que vim. Queria te explicar... -Sei por que está aqui. -Estive muito mal de minha parte, Derek. Não quis te fazer danos. Mas não me deixou nenhum recurso. -Não me fez mal. -Não posso permitir que me abandone. -disse Joyce com firmeza. –Não farei. Fui manipulada e abandonada por cada homem no qual alguma vez confiei. A primeira vez foi meu pai... -Não me importa. -interrompeu Derek, mas ela seguiu insistentemente, sem fazer caso da dor do apertão em seu cabelo. -Quero que entenda. Forçaram-me a me casar aos quinze anos. O noivo era tão velho como meu avô. Desprezei Lorde Ashby a primeira vista, o velho cabrito lascivo. Pode imaginar o que era, te colocar na cama com isso? -Sua voz se voltou ácida. -Sua pele enrugada, seus dentes podres, seu corpo enrugado com a idade... OH, que amante tão apaixonado era. Supliquei a meu pai não me vendesse a um velho, mas ele estava hipnotizado pela idéia das terras e a riqueza de Ashby. Minha família tirou um enorme ganho com o casamento. -Você também. -indicou Derek. -Prometi que daí em adiante tomaria qualquer prazer que pudesse encontrar. Jamais deixaria que ninguém me controlasse. Sou diferente de todas as mulheres tolas que permitem que os homens moldem suas vidas por muito que isto as agrade. Se te permitisse me abandonar tão facilmente quando te cansou de mim, eu não seria nada, Derek. Teria-me rebaixado à condição de uma menina de quinze anos que uma vez fui, obrigada a me submeter à vontade de um homem

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indiferente. Não serei abandonada, bastardo pobre presunçoso. Conteve a respiração quando a fez dar volta e ficou cara a cara com o semblante duro sombreado de Derek. Ele tinha tirado a máscara. -Aqui está sua vingança. -grunhiu. -Agrada-te? Paralisada, Joyce olhou fixamente a ferida costurada em seu rosto. -Realmente te fiz mal.-murmurou, parecendo intimidada e arrependida, e misteriosamente satisfeita. Derek voltou a colocar a máscara sobre o rosto. Quando falou outra vez, havia uma nota cansada em sua voz. -Saia daqui. Ela parecia estar autorizada pela vista de sua cicatriz. -Ainda te desejo. -Não me inclino diante de ninguém. -disse com brutalidade. -Sobre tudo diante de uma pequena bolsa usada como você. -Volta para mim, - suplicou Joyce. –farei sua vida muito doce. -Seu sorriso estava ameaçador. -Ainda é bonito, Derek. Lamentaria ver seu rosto reduzido a tiras. -Até você, jamais tinha conhecido uma mulher que tivesse que ameaçar a um homem para colocá-lo em sua cama. -o comentário mordaz deu branco, ele viu o rubor amontoar-se no contorno de sua máscara.-Não te cruze comigo outra vez, Joyce, -disse entre dentes, tomando seu braço em um apertão que a fez estremecer. -Ou te farei desejar estar morta. -Prefiro muito mais sua vingança a sua indiferença. Com um som de asco, Derek fez gestos a um garçom do clube que estava de pé a vários metros de distância e falava com uma mulher exoticamente vestida. Rapidamente se aproximou deles. -Tira ela daqui, - resmungou Derek, empurrando Joyce para ele.-e se a vejo voltar outra vez esta noite, terei sua cabeça. -Sim, senhor. -o garçom afastou Joyce com discreta pressa. Sentindo-se sujo, Derek tomou uma taça da bandeja de um criado que passava e bebeu de um gole rapidamente. Fez uma careta, enojado pela doçura enjoativa do ponche. Era algo forte, o licor desceu brandamente por seu esôfago e se assentou com um calor ardente em seu ventre. Esperou que aplacasse o ressentimento, a repugnância, e o pior de tudo, a pontada de compaixão. Compreendeu que era como protestar amargamente contra a própria impotência, a luta desesperada pelo domínio. Muitas vezes tinha procurado vingança pelas ofensas cometida contra ele.Para ele seria o cúmulo da hipocrisia fingir que ele era algo melhor que Joyce Ashby. O ruído no salão se fez quase ensurdecedor com as palhaçadas da multidão na mesa de jogo. Derek não se fixou no grupo ingovernável, tendo estado completamente submerso na cena com Joyce. Deixando a taça vazia de lado, aproximou-se mais à mesa de jogos. Comprovou o trabalho de seus empregados; recolhendo os jogo de dados, o "exibicionista" contratado para reclamar publicamente "as perdas" do banco e desse modo atrair o jogo mais forte, os garçons assegurando-se de que todos tinham taças cheias de ponche ou vinho. Os únicos dois que não atendiam suas tarefas eram os guardas, que supunha que levavam aos clientes à parte de acima do clube quando desejavam visitar uma fulana. Mas ninguém queria ir acima. O grupo de homens buliçosos, que abrangiam todas as idades e níveis de importância social, estava amontoados ao redor de uma mulher. Ela estava ao lado da mesa, lançando os jogos de dados de um copo no feltro verde. Ela estava paquerando simultaneamente com ao menos meia dúzia de jogadores.

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Derek sorriu a contra gosto, sua amargura se desvaneceu um pouco. Fazia anos desde que tinha visto uma mulher dirigir uma multidão de admiradores com tanta habilidade, não desde Lily Lawson em seus dias de jogo. Fascinado, perguntou-se de onde demônio tinha vindo. Ele conhecia todos os recém chegados em Londres, e nunca a tinha visto antes. Devia ser a esposa de algum diplomático, ou alguma seleta cortesã. Seus lábios eram vermelhos e faziam uma careta, seus ombros brancos atrativamente nus por cima do veludo azul de seu vestido. Ria com freqüência, sacudindo a cabeça para trás de uma maneira que fazia com que seus cachos castanhos dançassem. Como os outros homens pressente, Derek estava cativado por sua figura, os deliciosos seios redondos, a cintura pequena, tudo revelado por um vestido bem apertado que não se parecia absolutamente aos estilos Gregos sem forma definida das outras mulheres. -Um brinde pelo seio mais adorável de Londres! -gritou um garboso jovem libertino, Lorde Bromley. Estimulada e excitada, a multidão levantou suas taças com uma aclamação. Os garçons se precipitaram a trazer mais licor. -Senhorita, -suplicou um deles -rogo-lhe que lance os jogos de dados por mim. -Toda a boa sorte que tenho é dela, -assegurou-lhe, e sacudiu os jogo de dados na caixa tão energicamente que seus seios tremeram sob seu decote. A temperatura no salão se intensificou rapidamente quando uma multidão de suspiros de admiração deu a boas-vindas à demonstração. Derek decidiu intervir antes que o humor da multidão se fizesse muito carregado. A zorra não se dava conta da luxúria que estava incitando, ou fazia deliberadamente. De uma ou outra forma, desejava conhecê-la. Sara lançou os jogos de dados e riu com prazer quando saiu um triplo. -A casa paga trinta a um! -anunciou o crupier, e o rugido de gratidão do grupo só foi igualado por um clamor para a mulher que fez rodar os jogos de dados outra vez. Antes que pudesse dizer uma palavra, foi cuidadosamente arrancada da multidão por um par de mãos fortes. Os protestos foram sufocados imediatamente quando os homens reconheceram que o raptor era o mesmo Derek Craven. Suas características foram acalmadas quando Derek fez gestos a um grupo de sedutoras garotas da casa, que se filtraram pelo grupo com tentadores sorrisos. Devagar Sara elevou a vista ao rosto mascarado de seu captor. -Afastou-me do jogo. -Estava a ponto de provocar um distúrbio em meu clube. -Seu clube? Então você deve ser o Sr. Craven. -Seus lábios vermelhos se curvaram provocativamente.-Não queria causar problemas. Como posso compensá-lo? Ele a estudou atentamente. -Deve dar um passeio comigo. -Isso é tudo? Pensei que poderia fazer um pedido mais atrevido. -Parece decepcionada. Ela deu de ombros. -Com sua reputação, Sr. Craven, só é razoável esperar uma oferta indecente. Sua boca se curvou com um sorriso sutilmente... Um sorriso diferente, agradável como o de Sara Fielding. -Há todas as possibilidades de que a agrade. Ela riu. -Há uma possibilidade de que pudesse aceitar.

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De repente Sara pensou que se delatou. Algo em sua voz tinha despertado uma faísca de reconhecimento. Ele a olhava intensamente. -Quem é você? Sara inclinou a cabeça para trás para olhar ele, o desafiando a adivinhar. -Não me conhece? Todo sinal de sorriso desapareceu. -Tenho a intenção. -Uma sensação de realidade começou a transpassar a agradável névoa que a rodeava. Sara ficou imóvel, afastando-se meio passo dele. -É possível que chegasse alguém. -disse, desejando a volta de sua imprudência de antes. Necessitava de outra bebida. -Não partirá com ele. -Que acontece estou casada? -Ainda assim não partirá com ele. -Sara riu e fingiu alarme. -Me advertiu sobre os homens como você. Ele se aproximou para sussurrar no ouvido. -Espero que não faça conta. -Seus lábios acariciaram a sensível curva de seu queixo. Sara fechou os olhos enquanto um débil tremor se apoderava de seu corpo. Ela tratou de reunir a força para se separar dele, mas em troca se apoiou contra ele docilmente, como se não tivesse vontade própria. Apanhou-a delicadamente o lóbulo de sua orelha com seus dentes, e houve um murmúrio de sua voz. -Vêem comigo. Não podia. Seus joelhos estavam muito fracos. Mas de algum modo permitiu conduzi-la ao seguinte salão, em meio dos casais que davam voltas. Seu braço de apoio a rodeou, e seu indispensável apertão incluiu sua mão. Então assim era como se sentia ser sustentada tão estreitamente, ter um homem olhando-a fixamente com o desejo em seus olhos. -Nunca estiveste aqui antes? -disse ele. -Esta equivocado. Ele negou com a cabeça. -Te teria recordado. -Na realidade, -disse com uma voz muito baixa, -não estou aqui agora. Isto não está acontecendo absolutamente. Só estás visitando meu sonho. -Estou? -Ele dobrou a cabeça, sua boca sorridente muito perto da sua. Seu fôlego era quente contra seus lábios. -Então não desperte anjo. Eu gostaria de ficar por um momento.

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CAPITULO CINCO O braço de Derek Craven rodeava firmemente a cintura de Sara enquanto davam voltas em uma valsa sem esforço. Ele parecia saborear sua alegria. Paquerou descaradamente ela, e advertiu as olhadas invejosas de outros homens, e fez Sara rir acusando-a de colecionar os corações dos homens como seus brinquedos. Quando a valsa terminou e começou uma equipe, apartaram-se à beira do salão e aceitaram bebidas servidas por um garçom que passava. Enquanto Sara olhava a norma do baile, ficou de pé perto de Craven, balançando-se até que seus ombros se roçaram. Ele sorriu abertamente e deslizou um braço ao redor de sua cintura para dominá-la. Sara se deixou levar alegremente de volta para os casais que dançavam atraídas pela música. Derek atirou ela para si com agilidade. -Uma equipe não. Não caminha com o passado bastante seguro, anjo. -Anjo? -repetiu Sara, descansando contra ele. Comportamento pouco próprio de uma dama, sim, mas na alegre farra do baile, ninguém se deu conta ou se preocupou. -Põe- nomes a todas suas mulheres? -Não tenho nenhuma mulher. -Não acredito. -disse com uma risada tola, apoiando-se com mais força contra seu peito sólido. Ligeiramente suas mãos se cavaram sobre seus cotovelos, conservando seu equilíbrio. -Me diga seu nome. -disse. Ela negou com a cabeça. -Não importa quem sou. Seus polegares se moveram devagar sobre a superfície enluvada do interior de seus cotovelos. -Averiguarei antes que acabe a noite. -começou uma valsa, e ela deu a volta em seus braços para olhá-lo em tom de súplica.-Está bem.-disse com um sorriso, levando-a de volta à pista de baile. -Outra valsa. E depois te tirará a máscara. As palavras provocaram um desagradável sobressalto. Era a única ameaça que romperia o conjuro mágico que tinha efeito sobre eles durante a noite. Sara abriu a boca para dizer não, e logo pensou melhor. Uma negativa só serviria para que ele diga mais. -Por quê? -perguntou em troca, com uma voz provocadora. -Quero ver seu rosto. -Em te falarei sobre meu rosto. Dois olhos, um nariz, uma boca... -Uma boca preciosa. -A ponta de seu dedo perambulou sobre seu lábio inferior com uma ligeira carícia que ela poderia ter confundido com um beijo, e tinha fechado os olhos. A vaga satisfação que Sara tinha sentido por ser bastante inteligente para enganá-lo tinha desaparecido, dissolvendo-se em um calor frenético. Estava "bêbada", era o modo em que seu pai sempre dizia. Sim, muito bêbada. Essa era a explicação para as dolorosas emoções que se levantavam dentro dela. Essa noite, como se supunha, era um jogo, e Derek Craven não era nada mais que um descarado. Por que seu contato a enchia de semelhante desejo? Ele era a encarnação de todo o prazer proibido que ela nunca experimentara. Quem me dera esta noite nunca terminar... Quem me dera se Perry me abraçasse assim às vezes... Quem dera ... -Quero dançar durante muito, muito tempo. -ouviu dizer a si mesma... Ele

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tomou em seus braços e a olhou intensamente. -Tudo o que deseja. Derek não acreditava ser capaz de afastar suas mãos dela quando a valsa terminou. Não podia arriscar-se a soltar o único presente que tinha concedido a Divina Providência. Tinha tido que trabalhar, sofrer, roubar, e enganar por todo o resto. Tudo isso tinha requerido esforço. Mas ela simplesmente tinha aparecido, como uma fruta perfeita caindo de uma árvore em suas mãos estendidas. Quase estava enjoado de desejo. Ela devia haver sentido também. Suas respostas diminuíram a murmúrios mudos enquanto olhava fixamente através da máscara. Ela era formosa, experimentada, e bastante mundana para entender e aceitar as condições que ele oferecia. Não como a outra. Não como a dama refinada e inocente que era tão diferente dele como o gelo no fogo. Era tarde, e o clube estava transbordando. Tinham chegado mais convidados, contribuindo ao feliz alvoroço. Os casais se formaram quando todos os lordes, as damas, os libertinos, e as prostitutas procuraram um companheiro para a noite. No geral Sara haveria s chocado pelas brincadeiras obscenas lançadas por todos os lados, mas uma generosa quantidade de álcool tinha dado um brilho atrativo à cena. Ela riu das fortes piadas que ouvia, inclusive com as que não entendiam. Foi empurrada com freqüência contra Derek no salão lotado, até que ele a atraiu a um ponto mais protegido ao lado de uma das colunas de mármore. Sara foi assediada por convites para dançar, mas Derek os evitou a todos com sardônica diversão. Ele a tinha reivindicado ela para essa noite, e não teve nenhum problema em esclarecer aos que trataram de usurpar seu território. -Não recordo haver dado direitos exclusivos sobre minha companhia disse Sara, recostando-se na dobra de seu ombro. Ela podia sentir o batimento de seu coração diretamente contra seu peito, e a incrível força de seu corpo. O aroma do brandy, o amido de sua gravata, e a fragrância de sua pele bronzeada formava uma mistura embriagadora. Derek a olhou com um sorriso. -Quer estar com outro? Sara o considerou. -Não-disse com a voz entrecortada. -Ninguém mais no mundo. -era a verdade. Só havia essa noite era tudo que jamais teria com ele. Ela cruzou com seus olhos inquisitivos e tocou a lapela de seu casaco, alisando desnecessariamente. Em algum canto distante de sua mente uma voz reprovatória se intrometeu no momento... Ali estava ela, divertindo-se em um palácio de pecado com um descarado... Um descarado que estava a ponto de beijá-la. Seus dedos se enroscaram em seus cachos, desordenando seu cabelo, cavando sua nuca em um apertão seguro. Houve um ruído de seda e veludo quando as beiradas de suas máscaras se roçaram, e logo sua boca encontrou a sua. A princípio o beijo foi sereno e suave. Ele tomou seu tempo, saboreando, movendo devagar seus lábios sobre os seus. Sara não pôde evitar pensar durante um momento surpreso que seus beijos pareciam bastante com os de Perry. Mas tudo mudou em um momento imprevisível. Sua boca se voltou ardentemente quente, roçando a sua até que seus lábios se viram obrigados a abrir-se. Sara tremia assombrada pela introdução de sua língua. Era assim como beijavam os outros? Confundida pela intimidade, empurrou seu seio até que ele levantou a cabeça e a olhou. Havia chamas nas profundidades de seus olhos, como pequenas e intensas velas. -N-não diante de todos. -disse ela, agitando uma mão tremula à multidão. A

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desculpa era pouco convincente. Ninguém os olhava. Todos os farristas estavam absortos em suas próprias paqueras. Derek rodeou com seus dedos o punho enluvado com amabilidade e a saiu com ele para fora do salão central, passando por diante da sala de jantar e os salões de cartas, muito mais longe até que a música e o bate-papo se fundiu em um zumbido tranqüilo. Sara tropeçou atrás dele, seus tremores se desvaneceram. -Onde ... - foi tudo o que pôde conseguir dizer enquanto cruzavam a grandes passos pelo quarto. -Os quartos dos fundos. -Eu... Não acredito que seja uma boa idéia. -Seu passo não diminuiu. -Necessitamos de intimidade. -P-para o que? Ele insistiu em cruzar uma porta particular e entrar em um quarto brandamente iluminado. Os olhos grandes de Sara captaram a vista de paredes adamascadas de seda e uma peça de tom violeta sobre o embaraçado adorno em gesso. Poucos móveis estavam colocados ao redor do quarto; uma pequena mesa redonda e duas cadeiras douradas, um bonito biombo de bronze com painéis pintados, e uma espreguiçadeira. Sara se ergueu para trás cheia de pânico, mas a porta já estava fechada, e os braços de Craven a rodeavam. Sua mão agarrou sua nuca, e sua voz soprou calorosamente em seu cabelo. -Tranqüila. Tudo que quero fazer é te abraçar. -Mas não posso... -Me deixe te abraçar. -beijou-a no pescoço e a apertou mais estreitamente contra ele. Devagar Sara relaxou. Uma agradável frouxidão se estendeu desde sua cabeça aos dedos de seus pés, e de algum modo esqueceu que havia um mundo fora do círculo de seus braços. Só havia o calor de sua pele, empilhada dentro das capas de sua roupa. E o movimento de suas mãos enquanto ele dirigia os suaves músculos de seu pescoço e suas costas. Inclusive em sua inocência, ela era consciente do pecaminoso conhecimento de seu contato. Ele sabia abraçar uma mulher, como seduzi-la além da inibição. Às cegas ela levantou o rosto, e ele a beijou. Seus lábios pareciam retorcer a mesma alma de seu corpo. Sara se pegou a ele, envolvendo-se mais intimamente até que seus seios doloridos se apertaram contra seu peito. Ele a pegou pela cintura, apertando-a contra sua virilha. Quando ela sentiu o duro e insistente vulto de seu corpo, separou-se torpe mente. -Eu-eu bebi muito. Devo ir, devo... Derek soltou uma surda gargalhada e tirou sua máscara. Beijou seu vulnerável pescoço com voracidade, mordiscando a carne sensível. Ela ofegou, tratando de afastar-se, mas ele agarrou os cachos de seu cabelo em seu punho. Consolando-a em um murmúrio, empurrou-a com suavidade para desequilibrá-la e a sentou com cuidado na espreguiçadeira. As objeções fraquejaram em seus lábios, todas rapidamente sossegadas por sua boca. Ele a baixou o sutiã de veludo até que seus seios nus brilharam na luz dourada ... Seios magníficos com sedosos bicos. Fechando sua boca sobre um mamilo rosado, chupou e lambeu com cuidado até que ela gemeu e entrelaçou os dedos em seu cabelo negro. Ele levantou seus seios em suas mãos e usou seus lábios, seus dentes, e sua língua sobre eles, como se devorasse a doçura de sua carne. Sara gemeu e se arqueou para cima, empurrando seu mamilo mais fundo nas profundidades de sua boca. Sentiu que ele levantava suas saias, suas coxas poderosas sujeitando-a com

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força a ambos os lados de seus quadris. Ele se agachou sobre ela, beijando, cavando as mãos, acariciando, até que apenas em uma fração de prudência. Foi só esse pequeno pedaço de consciência o que a fez compreender que ele tinha estendido a mão até sua máscara. Ela afastou a cabeça com um grito afogado. -Não! -Sua mão se curvou debaixo de seu seio, seu polegar acariciando as áreas úmidas deixadas por sua boca. -Então de acordo. -disse brandamente. -Mantém seu disfarce. Não me importa quem é. -Não posso fazer isto. Não entende... -Não há nada que temer. -Ele arrastou seus lábios pelo profundo vale entre seus seios, cada palavra que dizia uma marca quente contra sua pele. -Ninguém saberá. Ninguém exceto você e eu. -Sua mão procurou a capa de sua roupa intima de seda. Um de seus joelhos se cravou entre as suas. O peso de seu corpo sobre o seu era delicioso. Desejava mais, desejava que ele apertasse com mais força, mais profundamente, até ficar esmagada debaixo dele. Tinha que o deter antes que o prazer se convertesse em desastre. Mas seus braços trêmulos a rodearam com mais força, e os únicos sons que escapavam de seus lábios eram ofegos entrecortados. Reconhecendo as marcas de rendição, Derek a beijou com uma mistura de triunfo e alívio. Esta noite, ao menos, não haveria horas vazias, nem frustração atormentada. Aliviaria suas necessidades dentro dela, e a usaria para esquecer... Daria a ela todo o prazer que nunca poderia dar a Sara Fielding... Sara... Maldita fora por meter-se em seus pensamentos incluso agora. Mas possivelmente simplesmente era de esperar. De algum jeito esta mulher se parecia com Sara. Tinha a mesma pele perfeita, e debaixo de seu embriagador perfume estava o mesmo aroma delicado... Tinha a mesma estatura... Silhueta ... Ele ficou imóvel. A perturbação parecia um golpe forte em seu peito. Com brutalidade arrancou a boca da sua e se levantou sobre os cotovelos. Estava suspenso sobre ela, ofegando com força. As baforadas atormentadas não eram suficientes para sustentá-lo. Nada era. -Não é você! -disse ele, as palavras se rasgaram em sua garganta. - OH, maldita seja, não é... Sara tratou de dar a volta quando sua mão tremula desceu até seu rosto e tirou sua máscara. Seus aturdidos olhos azuis elevaram a vista aos seus horrorizados. Ele estava pálido debaixo de seu bronzeado, a cicatriz se via áspera em relevo. Derek teria pensado que seu corpo não poderia excitar-se mais do que já estava, mas quando desceu o olhar para ela, ficou dolorosamente duro. A palpitação frenética, deliciosa de seu sangue o fez estremecer-se. Sara umedeceu os lábios. -Sr. Craven... -Te olhar. OH, Deus... O olhar de Derek ardia sobre a ascensão reluzente de seus seios, seus lábios inflamados pelos beijos. -Disse-te que não viesse aqui. -Seus dedos examinaram cuidadosamente a cascata avermelhada de seu cabelo. –Disse a você... Por quê? -Investigação? -Ela ofereceu a única palavra gaguejando como se isso explicasse tudo. -Merda!.-uma espantosa expressão se colocou sobre seu rosto, escuro e cruel e apaixonado. Parecia disposto a matá-la.

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Embora parecesse ser uma causa perdida, Sara tratou de defender-se. -Não pensei que chegaria tão longe. -balbuciou. -Sinto muito. Passou tão rapidamente. Eu estive bebendo. Não parecia real. E você estava tão... Eu ... Realmente não sei como ocorreu tudo isto. Sinto tanto, tanto ... -Ela se deteve consciente infelizmente inadequada que era a explicação. Ele estava em silêncio seu peso apertando-a contra a espreguiçadeira. A dura pressão de sua excitação parecia retumbar através de sua roupa. Sara se moveu com desconforto debaixo dele. -Fica aquieta! -Derek engoliu com força, seu olhar foi até a exibição viçosa de seus seios. -Sua ... Investigação. -Ele disse a palavra como se fosse obscena. Sua mão cobriu o seio, sua palma esfregou o mamilo até que este formou um casulo apertado. Tratou de soltá-la, mas seu corpo não obedecia. Cada nervo gritava em rebeldia. Desejava ela. Teria dado tudo o que possuía só por meter-se dentro dela. Respirando asperamente entre dentes, lutou por conter seu desejo. -Desejaria ser qualquer outra menos eu mesma. -disse Sara com desafiante amargura. -A classe de mulher com a qual... Dançaria ... E a que desejaria. E inclusive agora... Não lamento o que tenho feito. Não pode sentir nenhuma atração por Sara Fielding, mas ao menos sentiu algo pela mulher que fingi ser... -Não acha que te desejo? -perguntou com voz rouca. -Soube quando te negou a me beijar esta manhã... -Trata-se disso? Queria te vingar porque não a... -Craven parecia afogar-se com as palavras. Quando conseguiu falar outra vez, sua voz estava com uma deixa pobre. -Não era suficiente para você que tenha desejado como um cão brincalhão desde que chegou aqui -Cão brincalhão? -repetiu confundida. -Separado antes de terminar de unir-se. Ele apertou suas mãos a ambos os lados de seu rosto, olhando-a iradamente. -Desejava-te esta manhã, pequena provocadora. Quis fazer amor com você desde a primeira vez que... Imóvel quieto. -grunhiu as duas últimas palavras com uma brutalidade que a fez encolher-se. Ela deixou de retorcer-se imediatamente. Engolindo com força, ele se forçou a seguir.-Não te mova, ou não serei capaz de me deter. Escute-me. Vou soltar-te... E você vai partir. Não volte para o clube. -Pra sempre? -Assim que tem que ser. Volta para seu povoado. -Mas por quê? -perguntou Sara. Humilhantes lágrimas ameaçavam derramar-se de seus olhos. -Por que não posso !-Ele se deteve, seu fôlego repicando em sua garganta. Jesus, não chore! Não te mova. Não chore. Não volte. -Sara o olhou fixamente com os olhos azuis brilhantes. Sentia-se selvagem, drogada, bêbada de emoção. -Não quero partir. -disse ela com a voz pastosa. Os músculos de Derek tremeram pelo esforço de manter-se imóvel. Não queria arruiná-la ou fazê-la mal, e estava perto, muito perto, de lançar pela beira os poucos restos de honra que possuía. -O que quer, Sara? Isto? -Incitou-a com seu corpo, impulsionando-se contra ela com uma tosca investida.-Isto é o que conseguirá de mim. Sairei com você agora mesmo, e te enviarei de volta a Kingswood como uma pomba manchada. É isto o que quer, que te possua para meu prazer? -Ele empurrou outra vez, esperando que suplicasse por sua liberdade. Em troca ela ofegou e levantou os joelhos, instintivamente fazendo um berço para ele. Ele secou uma lágrima que caía com

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seus dedos. Um som gutural saiu de sua garganta, e ele baixou sua boca em seu rosto, lambendo o sedoso atalho de sal. ia saindo. Não podia deter-se. Empurrando a mão sob sua saia, ele encontrou a cintura de suas calcinhas e segurou debaixo delas. Estendeu beijos ávidos sobre seus seios pálidos e seu pescoço. Ela era tudo que tinha desejado, beleza e fogo arqueando-se contra suas mãos registradoras. Seus dedos vagaram pela pele Lisa de seu ventre, os topos brancos de suas coxas. Ela se sobressaltou de medo, mas ele a dominou e examinou sem cuidado a área do delicado cabelo encaracolado até que o suave coração de seu corpo se inflamou e se umedeceu. Acariciando-a com cuidado, cobriu sua boca de beijos, enquanto seu fôlego entrava precipitadamente em rítmicas explosões. Ela se retorcia de maneira incontrolável, soltando pequenos gemidos licenciosos que esquentaram seus sentidos até que ferveram. Sara cravou seus dedos na capa grossa de seu casaco quando se deu conta ele abria as calças. O tempo se deteve, como um pião que dá voltas rapidamente em um punho inflexível. O prazer se desdobrou e crescia em ondas alargando-se mais e mais enquanto ela se rendia ao homem decidido a desejá-la, o duro peso de seu corpo se preparou para conduzir-se dentro dela. -Sara.-disse uma e outra vez, seu fôlego escaldando seu ouvido.-Sara ... -Sr. Craven? -uma tranqüila voz masculina rompeu o feitiço. Sara se sobressaltou de medo quando compreendeu que alguém estava na entrada. Ela lutou por erguer-se, mas Derek a sujeitou, ocultando-a com seu próprio corpo. Ele procurou provar sua prudência. Finalmente soltou um gemido selvagem. -O que acontece? A voz de Worthy era forçada. Mantendo o rosto virado, falou com muito cuidado. -Não o teria incomodado Sr. Craven, mas á um rumor que Ivo Jenner foi visto no clube. Conhecendo seu costume de criar problemas, pensei que deveria ser informado. Derek esteve em silêncio durante quase meio minuto. -Parte. Irei me ocupar de Jenner... Se estiver aqui. - as últimas palavras estavam investidas de um profundo sarcasmo, deixando claro que suspeitava que o encarregado tinha inventado uma astúcia simplesmente para resgatar Sara. -Senhor, posso trazer uma carruagem para..? -Worthy fez uma pausa, pouco disposto a dizer o nome de Sara. -Sim.-disse Derek concisamente. -Parte, Worthy. O encarregado fechou a porta. Sara parecia não poder deixar de tremer. Apertou seus braços ao redor dos ombros de Craven e enterrou seu rosto contra a pele úmida de seu pescoço. Nunca tinha experimentado a dor do desejo insatisfeito antes. Doía. Doía como nada que jamais houvesse sentido, e não parecia haver nenhum remédio. Embora esperasse que Craven fosse cruel, ele foi amável ao princípio, abraçando-a com força contra seu corpo e esfregando em suas costas. -Cão brincalhão.-disse com uma gargalhada sem humor. -Poucos minutos e estará bem. Com rosto de espanto ela se retorceu contra ele. -N-não posso respirar. Ele sujeitou seu braço sobre seus quadris e apertou a boca contra sua têmpora. -Tranqüila. -sussurrou. -Tranqüila. -Quando seu tremor se aliviou, seu humor mudou, e a afastou bruscamente. -te cubra. -Ele se incorporou e agarrou sua cabeça em suas mãos.-Quando estiver pronta para partir, Worthy te levará até a

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carruagem.-Sara vestiu torpe mente sua roupa, vestindo o sutiã de seu vestido. Derek a observou até que seus seios estiveram ocultos. Ele se levantou para colocar o casaco e as calças. Cruzando a passos até o espelho que pendurado sobre a pequena lareira de mármore, arrumou a gravata e passou as mãos por seu cabelo despenteado. Embora o resultado final não fosse tão impecável como antes, ele parecia apresentável. Sara, por outra parte, reconhecia-se ser um completo desastre. Seu vestido estava desalinhado, enquanto seu cabelo caía pelas costas em uma cascata de cachos. Estava a beira das lágrimas. De algum modo manteve o rosto seco e a voz firme. -Possivelmente ambos poderíamos conseguir esquecer esta noite. -Isso que penso. -disse ele com gravidade. -Mas ainda mantenho o que disse antes. Não volte, senhorita Fielding. -Ele foi até a porta, fazendo uma pausa para afastar bruscamente Worthy, que esperava fora da soleira. -Se fosse qualquer outro, despediria você. Depois de te dar uma surra. -Ele abandonou o quarto sem olhar atrás. Sara estendeu a mão a sua máscara e a pôs. A porta estava fechada, mas ela sabia que Worthy a estava esperando. Devagar se levantou e voltou a arrumar o vestido. Só mantendo a mão sobre a boca pôde conter os soluços que ameaçavam estourando. Ela estava afundada na autocompaixão, ultrapassada só pelo ódio para o homem que a tinha recusado. “Não volte", repetiu suas palavras de antes, ficando vermelha. Ela tinha sentido cólera antes, mas nunca esta fúria abrasadora. De repente as palavras de Lily Raiford cruzaram sua mente... “Ele teve aventuras com dúzias de mulheres, e assim que há qualquer perigo de afeiçoar-se, desfaz-se dela e encontra outra...” Possivelmente neste momento Craven estava procurando outra mulher, uma que satisfaria suas regras, qualquer que resultassem ser. A idéia fez com que o estômago de Sara fervesse. -Bem, Sr. Craven.-disse em voz alta, sua voz tremia não me quer, encontrarei um homem que o faça. Maldito seja, e Perry Kingswood também! Não sou nenhuma Santa nem um anjo, e... E não quero ser uma mulher boa nunca mais! Farei o que gosto, e não tem nada que ninguém possa dizer a respeito! -Seu olhar rebelde voou até a porta. Assim que a atravessasse, Worthy a levaria a uma carruagem. Não havia razão que o convencesse de deixá-la ficar. Franzindo a sobrancelha, Sara deu uma olhada ao redor do quarto. Sua forma, quatro paredes com esquinas desfiladas, era conhecida. Recordava o outro quarto de acima, que estava provido de uma prateleira que se abria em uma das passagens secretas. Não havia nenhuma prateleira aqui, mas os painéis tinham mais ou menos a mesma forma ... Rapidamente tirou as luvas e cruzou a grandes passos até a parede, passando suas mãos sobre as bordas dos painéis. Pressionando, apalpando, procurou qualquer sinal de uma porta oculta. Justo quando começava a perder a esperança, encontrou uma pequena fechadura. Triunfalmente afrouxou o painel para fora, revelando um corredor escuro. Com um murmúrio de satisfação, deu um passo dentro e fechou o painel. Apalpando seu caminho com o passar do corredor estreito, avançou vários jardins e fez uma pausa pelo som do tinido de pratos e prata. Podia ouvir a voz, imperiosa de Monsieur Labarge, o chefe. Os ruídos estavam do outro lado da parede. Ele gritava com ira a algum ajudante desgraçado que ao parecer tinha molhado um pescado com o molho incorreto. Sem ter nenhum desejo de fazer uma magnífica aparição na cozinha, Sara passou a entrada oculta e avançou. Depois de um comprido trajeto pela escuridão,

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deteve-se em uma pequena entrada que supôs sair a um dos salões de cartas menos usados. Sara apertou o ouvido à greta da porta e deu uma olhada por um buraco. Parecia que o salão estava livre. Cravando as unhas na lateral do painel, empurrou até que abriu com um chiado de protesto. Suas saias rangeram sobre o batente. Fechando o painel, selou-o uma vez mais e soltou um suspiro triunfante. Uma voz inesperada a fez sobressaltar-se. -Muito interessante. Sara deu a volta e viu um homem desconhecido na sala. Ele era robusto e alto, com um queixo bem barbeado e o cabelo loiro avermelhado. Ele tirou a máscara para revelar um rosto atrativo, mas maltratado, com um brilho torcido e um sorriso inclinado. Havia uma razoável dose de pobreza em seu tom. Ele pronunciava o "v" em "muito" como se isto fosse uma "w", tal como fazia Derek Craven em seus lapsos ocasionais. Embora houvesse pouca reserva ardilosa em seus claros olhos azuis, seu sorriso era tão encantador que Sara decidiu que não tinha nada que temer a ele. Outro pobre bem vestido, refletiu. Ela alisou seu cabelo selvagem e esboçou um sorriso vacilante. -Se esta escondendo de alguém? -perguntou ela, com uma cabeçada para a porta fechada. -Poderia ser. -respondeu com tranqüilidade. -E você? -Sem dúvida. -ela empurrou alguns de seus cachos selvagens para trás e os colocou atrás de uma orelha. -De um homem.-adivinhou ele. -Quem mais? -Ela deu de ombros de um modo mundanamente prudente.por que você se esconde? -Digamos que não sou favorita de Derek Craven.-Sara soltou uma repentina gargalhada sardônica. -Eu tampouco. -Ele sorriu abertamente e assinalou com a mão uma garrafa de vinho colocada sobre uma das mesas de jogo. -Bebamos por isso. -Encheu uma taça e a deu. Ele levantou a garrafa até seus lábios e bebeu um gole do excepcional vinho com uma despreocupação que teria feito gritar a um francês. -Coisa fina, suponho, -comentou ele. -embora para mim seja tudo a mesma coisa. Sara inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos, fazendo rodar o sabor delicioso em sua boca. -Nada mais que o melhor para Sr. Craven. -disse ela. -Bastardo pomposo, nosso Craven. Embora nunca gostasse de insultar um homem enquanto bebo seus estoques. -Isto está muito bem. -assegurou Sara. - insulte tudo o que queira. O estranho a olhou com franca gratidão. -É uma bonita peça. Craven rompeu com você, então? A vaidade ferida de Sara se acalmou por seu olhar de admiração. -Não há nada que romper.-admitiu ela, levantando o vinho a seus lábios. -O Sr. Craven não me quer. -Maldito tolo. -exclamou o estranho, e riu de maneira incitante. -Venha comigo, minha pequena gata, e te farei esquecer tudo sobre ele. Sara riu e sacudiu a cabeça. -Acredito que não. -É meu sinal de falência? -Ele esfregou o rosto maltratado com pesar. Enviaram-me à lona muitas vezes.-Compreendendo que ele pensava que ela o recusava porque não era bonito, Sara interrompeu com aspereza. -OH, não, não é isso. Estou segura de que muitas mulheres encontrariam

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atrativo, e... Disse você me enviou ao chão? Não é o término de um pugilista? Uma vez foi boxeador? Parecendo presumido, ele esticou o peito uma polegada a mais. -Inclusive agora, poderia golpear a qualquer valentão a murros. Enchiam os degraus para ver-me brigar ... Sussex, Newmarket, Lancashire ... -Com orgulho destacou o nariz. - Quase cada osso em meu maldito rosto foi quebrado. Uma vez quase me romperam os miolos. -Que fascinante. -exclamou ela. -Nunca conheci um lutador. Nem sequer estive em um combate. -Levarei você a um. -Ele golpeou o ar com seus punhos em um par de combinações. -Nada como um bom combate, sobre tudo quando derramam burdeos. -Vendo que ela não entendeu o término, explicou com um sorriso. Sangue. Sara tremeu com aversão. -Eu não gosto da visão do sangue. -Isso é que o faz ficar excitante. Eu, estava acostumado a encher cubos durante uma briga. Um reverso, e ffshhh ...-ele imitou um vazamento de sangue saindo de seu nariz. -Pagam mais quando sangra. Sim, lutar me fez um homem rico. -Qual é sua ocupação agora? - Piscou os olhos um olho. - Na casualidade que manejo uma banca de risco, em Bolton Row. Sara tossiu um pouco e deixou a taça. -Você possui um clube de jogo? Tomou a mão e a beijou.-Ivo Jenner, a seu serviço, milady.

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CAPITULO SEIS Sara levantou sua máscara e olhou fixamente com incredulidade. O pícaro brilho nos olhos de Jenner foi substituído de improviso quando ele viu seu rosto. -Que bela é. -resmungou ele. De repente ela estourou em gargalhadas. -Ivo Jenner? Você não é absolutamente como imaginei. Na realidade é você bastante encantador. -Sim, vou tirar os calções com encanto esta noite, me dê meia oportunidade. -Ele avançou para preencher sua taça, oferecendo-a uma e outra vez uma dose generosa de vinho. -Você é uma uva sem semente, Sr. Jenner. -Isso sou eu. -coincidiu tranqüilamente. Sara ignorou o vinho e se apoiou contra a parede, cruzando os braços. -Acredito que seria sábio partindo tão rapidamente como é possível. O Sr. Craven o procura. Porque veio aqui esta noite? Para fazer uma travessura, suponho? -Nem me ocorreria! -Ele parecia ferido pela mesma idéia. -ouvi por parte dos empregados que você está constantemente conspirando para plantar espiões aqui, chamando à polícia para que façam jogadas a rede nos momentos de mais agitação ... O rumor é que inclusive provocou um incêndio na cozinha no ano passado! Tudo mentiras.-Seu olhar piscou sobre os montículos meio expostos de seus seios.-Não houve nenhuma prova de que eu tivesse algo a ver com isso. Sara o olhou com desconfiança. -Alguns inclusive suspeitam que contratasse homens para atacar o Sr. Craven no bairro pobre e esfaquear seu rosto -Não. -disse com indignação. -Não fui eu. Todos conhecem a atração de Craven pelas mulheres de classe alta. Foi uma mulher quem o fez. -bufou ele.-Atira à gata da cauda, e ela te arranhará. Isso é o que aconteceu com o rosto de Craven.Ele sorriu tão insolente.-Talvez foi você? -Não fui eu. -disse Sara zangada. -Em primeiro lugar, não tenho uma só gota de sangue azul, o que me faz totalmente pouco interessante para Sr. Craven. -Eu gosto disso, amor. -Para outra parte, -seguiu -eu nunca sonharia esfaqueando um homem somente porque ele não me desejasse. E não perseguiria a alguém que me tivesse desprezado. Tenho mais orgulho que isso. -E assim deveria. -Ivo Jenner riu profundamente. -É uma garota de primeira. Esqueça-te de Craven. Deixe-me te levar a um lugar melhor que este. Meu clube. As pompas não são tão finas, mas se joga forte e há tudo o que deseja beber, e nenhum Derek Craven. -Irá em algum lugar com você?-perguntou Sara , recolhendo sua taça de vinho. -Preferiria ficar aqui? -respondeu ele. Enquanto Sara bebia a bebida, contemplou a borda da taça. Começava a sentir-se melhor que antes, um pouco menos vazia. Ele tinha um propósito, pensou ela. Não havia possibilidades para ela em Craven, não com o Worthy e provavelmente o pessoal inteiro preparado para "escoltá-la". Mais ainda, esta seria sua oportunidade de seguir com sua investigação sobre os clubes de jogos. Certamente, Ivo Jenner não era o homem de confiança. Mas tampouco era Derek Craven. E, embora fosse rancorosa, a idéia de confraternizar com o rival de Craven não carecia de atrativo.

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Depois de voltar-se para pôr a máscara, Sara teve um sentimento decisivo. -Sim, Sr. Jenner. Eu gostaria de ver seu clube. -Ivo. Me chame Ivo.-Sorrindo amplamente, Jenner colocou sua própria máscara. -Espero que possamos partir sem ser vistos. -Teremos que nos deter na entrada da frente. Necessito de minha capa. - Irão nos deter. -advertiu ele. -Acredito que não. -Ela lançou um sorriso temeroso em sua direção. -Sinto muito afortunada esta noite. Ele riu em silêncio e dobrou seu braço de maneira incitante. -Eu também, amor. Descaradamente entraram nos salões principais e caminharam pelos arredores da multidão. Jenner demonstrou habilidade em manipular seu prêmio feminino fora do alcance dos eufóricos convidados, trocando alternativamente risadas e ameaças enquanto ele a levava pelos ombros. De braços dado, ele e Sara se dirigiram à entrada da frente do clube. Fizeram uma pausa para pedir a capa de Sara a Ellison, o mordomo. Ellison se ruborizou entusiasmado quando a viu. -Senhorita Mathilda! Certamente ainda é cedo. Sara agradeceu com um sorriso travesso. -tive um convite do mais intrigante. Para outro clube, na realidade. -Compreendo. O rosto do mordomo se inclinou com decepção.-Quer sua capa, então. -Sim, por favor. -Quando um guarda se precipitou para trazer a capa requerida, Jenner afastou Sara. -Ele te chamou de Mathilda, - disse ele com uma voz estranha. -Sim. -Essa quem é? Mathilda? Sobre a que escreveram o livro? -Em um sentido. -disse incomodamente. Era em definitiva uma versão retorcida da verdade. Não podia dizer seu verdadeiro nome. Ninguém devia saber que a educada e formal senhorita Sara Fielding tinha ido alguma vez a um baile e se embebedou, e tinha relacionado com homens de má reputação. Se a notícia de algum modo chegasse alguma vez a Perry Kingswood, ou a sua mãe... Estremeceuse com a idéia. Vendo o movimento involuntário de seus ombros, Jenner recebeu a capa e a cobriu ela reverentemente. Levantando a mechas ondulante de seu cabelo, soutou-o da capa de veludo. -Mathilda,- sussurrou.-a mulher que todo homem na Inglaterra deseja. -Isso é um grande exagero, Sr. Jenner... Ivo. -Jenner? -Tendo ouvido por acaso as poucas últimas palavras, o mordomo olhou bruscamente ao acompanhante mascarado de Sara. OH, não. Senhorita Mathilda, não diga que parte com este bruto libertino e perigoso ... -Estou bem.-tranqüilizou Sara, acariciando o braço do mordomo. É o Sr. Jenner é realmente muito doce. Ellison começou a protestar energicamente. -Senhorita Mathilda, não posso permitir... -Ela está comigo. -interrompeu Jenner, olhando iradamente ao mordomo. Ninguém pode dizer nada. -Imperiosamente arrastou Sara com ele e a fez descer os degraus para a linha de carruagens que esperavam. Com a ajuda de Jenner e um criado colocou um uniforme ligeiramente puído, Sara subiu em uma carruagem negra. Embora o interior estivesse limpo e apresentável, logo que igualava os veículos luxuosamente equipados aos quais se acostumou em Craven'S. Sara sorriu ligeiramente, refletindo como se estragou em

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questão de dias. Comida refinada, vinho francês, serviço impecável, e toda a opulência do clube de Craven ... Isto sem dúvida alguma era um contraste para Greenwood Corners. Ela baixou o olhar com inquietação a seus ornamentos emprestados. Tinha sido obstinado, frívolo, desconsiderado por sua parte ter posto Worthy e lady Raiford em problemas. Não se parecia com você mesma. Tinha mudado nos dias anteriores, e não para melhor. Craven tinha razão, deveria voltar para o povoado o quanto antes. Seus pais se envergonhariam se soubessem de sua conduta, e Perry ... Sara mordeu o lábio consternada. Perry a condenaria por semelhante comportamento. Ele era da velha escola, acreditando que os sentimentos naturais e os impulsos animais deveriam ser estritamente dominados. Cansada Sara recostou a cabeça contra as almofadas planas. Agora o Sr. Craven devia desprezá-la, pensou. A contra gosto recordou o prazer ardente de suas mãos sobre sua pele, e a marca quente de sua boca. Um tremor a atravessou pelos ombros, e seu coração pulsou com mais força. Que Deus lhe perdoa, mas não lamentava nada disso. Ninguém seria capaz de se separar dela a lembrança que permaneceria inclusive quando estivesse sã e salva metida com seu povo no campo. Quando fosse uma anciã, balançando-se serenamente em um canto da sala e escutando a suas netas rindo para seus bonitos camponeses, ela sorriria em particular com a idéia de que uma vez tinha sido beijada pelo homem mais patife de Londres. Seus pensamentos foram interrompidos por uma multidão reunindo-se fora do clube. Franzindo a sobrancelha, olhou a acumulação de veículos e as misteriosas figuras com traje negro rodeando o edifício. -O que está acontecendo? -Ela seguiu olhando enquanto a carruagem de Jenner se afastava. -Esses são policiais? -Poderiam ser. -Então vão ao clube? Durante um baile de máscaras? Os olhos azul claro de Jenner brilharam com prazer. -Isso parece. -Você é responsável por isto! -exclamou ela. -Eu? -perguntou com inocência. -Eu sou somente um simples empresário de jogo, amor. Mas seu sorriso satisfeito o traía. -OH, Sr. Jenner, isto é muito mal de sua parte. -sentou-se enquanto a carruagem seguia pela rua.-Não consigo ver o que obterá! O pobre Sr. Craven já teve bastante esta noite... -O pobre Sr. Craven? -repetiu com indignação. -Ah... Mulheres! Agora se pôs sua parte? -Não me ponho da parte de ninguém. -Sara concedeu um largo olhar de desaprovação. Por isso posso ver ambos são exatamente iguais. -Uma jogada a rede! -gritou alguém dentro do clube quando os oficiais atravessaram as portas. A alegre desordem do baile se converteu em uma tremenda animação. Os convidados se moviam pelos salões em grupos desorientados enquanto os empregados cobriam as mesas com habilidade, escondiam cartas e jogo de dados, e ocultaram o tabuleiro e as fichas. Os policiais entraram em no clube com agressividade, detendo-se para olhar às putas escassamente vestidas. Discretamente se serviu amostras da suntuosa mesa e dos vinhos caros, uma oportunidade excepcional para os membros da cidade. Acidamente Derek observou o processo de uma esquina no salão central. -Vá . -resmungou. Ivo Jenner tinha calculado sua travessura à perfeição, rematando uma noite

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já corrente com humilhação. A jogada a rede não era nada. Era o que tinha passado antes o que tinha resultado sua perdição. Derek não ficou excitado e em seco desde seus dias brincando de correr atrás das descaradas garotas de rua. Gostava inclusive menos agora do que tinha gostado então. Ardia-lhe a pele como se a tivessem queimado com gelo. Cada músculo de seu corpo estava tenso. Todos sabiam que era pouco saudável para um homem manter-se em semelhante estado. Contou os modos em que gostaria de castigar Sara Fielding por suas travessuras. Agora se tinha libertado finalmente dela, graças a Deus. Não mais tentaria não mais quentes olhos azuis, não mais notas, nem perguntas, nem "investigação" que a proporcionava uma desculpa para colocar o nariz em cada canto de sua desagradável vida. Abrindo o bolso de seu casaco, procurou o pequeno óculo. Sua mão se fechou ao redor delas com força. -Sr. Craven.-Worthy se aproximou dele com grande vacilação. A fronte grande do encarregado estava arada com profundas rugas. -Jenner. -disse sucintamente, apontando com a mão à polícia. -Pago-lhes o suficiente a esses bastardos para impedir que ocorra isto. -Parece que Jenner os paga mais.- disse Worthy, e se converteu no destinatário de um olhar gelado. Nervosamente limpou a garganta. -Acabo de falar com Ellison. Ele está bastante preocupado. -Meu mordomo nunca está preocupado. Worthy esticou o pescoço para olhar a seu patrão. Derek fixou um melancólico olhar sobre os oficiais invasores. -Esta noite está. -tivemos muitas jogadas a rede com antecedência. -Não é a jogada a rede. A razão pela qual Ellison está aborrecido é porque acaba de ver uma mulher que identificou como 'Mathilda' abandonando o clube com Ivo Jenner. -Assim Jenner se foi? Bem. Isto me evitará o problema de dar uma surra ao pequeno bastardo até lhe fazer pó. -Sr. Craven me perdoe, mas não entende. Ele... -Que não entendo? Que ele está com alguma mulher chamada Mathilda? Eu poderia encontrar uma dúzia de mulheres para você, todas fingem ser a maldita Mathilda. Isto é uma mascara Worthy. -Ele começou a afastar-se, falando com brutalidade sobre o ombro.-me perdoe, mas tenho alguns policiais aos que golpear na cabeça com ... -A Senhorita Fielding é Mathilda. -disse o encarregado sem rodeios. Derek se congelou. Sacudiu a cabeça como se limpasse os ouvidos. Devagar deu a volta para confrontar o homem mais baixo. -O que disse? -De algum modo a senhorita Fielding me evitou. Ela deve ter usado a passagem oculta que conduz aos salões de cartas. A 'Mathilda' que acaba de partir com lvo Jenner foi descrita com um vestido azul e comprido cabelo castanho, e não digamos um destacado par de ... -Worthy balbuciou em silêncio e fez um gesto explícito com suas mãos. -Merda! -Derek explorou, voltando para vários tons mais sombrios. -Não, não, não com o Jenner. Matarei se a tocar. Matarei... -Jurando obscenamente, passou ambas as mãos por seu cabelo até que estivesse grosseiramente desordenado. -Acredito que partiram na carruagem de Jenner.-murmurou o encarregado, retrocedendo alguns passos. Em todos os anos que se conheciam, ele nunca tinha sido testemunha de uma demonstração tão vulcânica de Craven.

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-Ellison parece acreditar que foram ao clube do Sr. Jenner. Senhor... Possivelmente queira uma taça? Derek jogou pragas com fúria desatada. -Disse que voltasse para o maldito Greenwood Corners, e em troca ela vai daqui com Ivo Jenner. Ela estaria mais segura passeando em St Gil! - olhou iradamente ao Worthy. -Você fica aqui.-grunhiu. -Suborna a polícia e cuida deles. -Vai a Jenner's? -perguntou o encarregado. -Não pode partir com os oficiais rodeando o clube... -Passarei por cima da polícia, -disse Derek com frieza. -e quando encontrar à senhorita Fielding ... -Ele se deteve e olhou fixamente a Worthy, seus olhos verdes brilhavam com uma luz vingativa que fez empalidecer o encarregado. -Você a ajudou com isto, verdade? Ela não podia vir ao baile sem seu conhecimento. Se algo acontecer... Despedirei você e a todos os empregados deste clube. A todos! -Mas Sr. Craven, -protestou Worthy, -ninguém poderia saber que ela se comportaria tão temerariamente. -Uma merda que não podiam. -disse em um tom feroz. -Era óbvio desde o dia que ela veio aqui. Esteve desejando uma possibilidade para causar problemas. E você facilitou verdade? -Sr. Craven... -Basta já! -Disse Derek de maneira cortante. -vou encontrá-la. E será melhor que reze para que não aconteça nada, ou te enviarei ao diabo. Durante o passeio da carruagem pela cidade, Sara escutou pacientemente como Jenner alardeava sobre seus dias de combate, suas vitórias e suas derrotas passadas, e todas as lesões que ameaçavam sua vida. A diferença de Derek Craven, Ivo Jenner era um homem singelo que sabia exatamente aonde pertencia. Preferia o mundo de onde vinha, com sua mistura de gente tosca e prazeres vulgares. Não importava se seu dinheiro que arrecadava de carteiras aristocráticas ou bolsos gordurentos. Ele zombava abertamente das pretensões de Derek Craven... -Falando com essas palavras de classe alta, fingindo que nasceu cavalheiro. Tudo limpo e embelezado... Vá, ele anda por seu luxuoso clube como se o sol brilhasse em seu trazeiro! -Você está com ciúme dele. -disse Sara. -Ciúme? -Seu rosto se enrugou com repugnância. -Não estou com ciúmes de um homem que tem um pé plantado em Mayfair e outro em East End. Que a varíola o leve! O idiota não sabe quem diabos é. -Então você acredita que ele não deveria misturar-se com superiores sociais? Eu chamaria a isso o oposto a esnobismo, Sr. Jenner. -Chama-o como quiser. -disse asperamente. Ah, ele estava com ciúme de verdade. Agora Sara entendia a amarga rivalidade entre os dois homens. Jenner representava tudo que Craven tinha tratado de fugir. Cada vez que Craven o olhava, devia ver um reflexo zombador de seu passado. E Jenner sem dúvida estava zangado pela forma em que Craven se reinventou a si mesmo de um garoto de rua em um homem rico e poderoso. -Se você é tão indiferente ao Sr. Craven e seu êxito, então por que... -Sara começou, mas se calou quando a carruagem se deteve bruscamente. Abriu-lhe a boca quando ouviu uma cacofonia de som: gritos e chiados, vidros rompendo-se, inclusive explodindo. -O que ocorre? Jenner afastou a cortina de sua janela com um empurrão e olhou fixamente o tumulto fora da carruagem. Ele soltou um som alarmante, algo entre uma gargalhada clamorosa e um rugido de estímulo. Sara se encolheu atrás no canto de seu assento.

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-É uma turfa!-gritou Jenner. Abriu a porta para consultar com o condutor e o criado com os rostos pálidos. -Quantas ruas faltam? -perguntou ele. Outro fragmento de conversa, e logo Sara ouviu dizer. -Então, tenta dar um rodeio. A porta se fechou e a carruagem começou outra vez, rodando bruscamente. Sara engoliu ar atemorizada. Umas rochas foram jogadas contra a roda do veículo, e ela saltou em seu assento. A multidão soava como um coro de demônios. -O que ocorre? Jenner seguiu olhando pela janela, sorrindo abertamente o açougue que os rodeava. Seu prazer aumentava com cada segundo que acontecia. -eu adoro uma boa briga, de verdade. Conduzi uma ou dois em meus tempos. Agora estamos em meio dela. -Por que se amotinam? Jenner manteve seus olhos na janela enquanto respondia. -Soa-te conhecido o nome de Jack o Vermelho? Sara assentiu. Jack o vermelho era um famoso salteador de caminhos que ganhou seu apelido por assassinar ao menos uma dúzia de pessoas na concorrida rota de carruagens de Londres a Marlborough. -ouvi falar dele. Está retido em Newgate, esperando para ser executado. Escapou-lhe uma gargalhada como um latido. -Agora não. Escapou ontem, enganou a corda do executor. Não se pode dizer que culpo a estes animados bastardos por exceder-se. -Quer dizer que eles estão zangados porque ele se suicidou? Por que deveriam preocupar-se, estava morto? -por que o enforcamento é um bom espetáculo. Inclusive as anciãs e as crianças vêm para vê-los urinar-se e retorcer-se no vento. Teria sido um bom espetáculo. Agora eles querem provar seu sangue. -Ele deu de ombros e olhou aos bagunceiros com compreensão. -Eles o desenterraram esta noite para arrancar suas tripas. Eu digo que os deixem divertir-se um pouco. -Divertir-se desmembrando publicamente um cadáver? -Sara se engasgou diante da idéia e o olhou fixamente horrorizada. Sua repugnância aconteceu desapercebida, em que pese a tudo. Jenner aclamou fortemente à multidão bêbada ocupada em saquear, em romper janelas e acender fogos. Vários golpes fortes fizeram com que a carruagem se sacudisse e balançasse. O veículo se deteve. Quando Jenner afastou a cortina, Sara viu mãos e rostos contra a janela. Pressionavam e empurravam, ameaçando derrubar a carruagem. -O condutor se foi. -disse Jenner. -Perguntava-me quanto tempo demoraria. -OH, Deus! -Sara se agachou no canto, o olhando fixamente com os olhos muito abertos. - Nos despedaçarão! -Não se preocupe. Está a salvo comigo para cuidar de você. -Ele sustentou seus fortes punhos como se fossem armas perigosas. O teto se sacudiu e se afundou quando se empilharam no alto da carruagem. Sara lutou como louca por um modo de proteger-se. Deus sabia o que ela tinha feito com sua bolsa. Estava indefesa sem sua pistola. A porta se abriu de repente como um trovão, e Sara gritou com a horripilante visão de dúzias de mãos estendidas para ela. Com entusiasmo Jenner se jogou pela abertura, aterrissando sobre três homens de uma vez. Seus braços se moviam de um lado para outro com um ritmo constante, atravessando os bagunceiros como uma foice. Sara saltou depois dele. Estendendo a mão à parte de trás do casaco de Jenner, agarrou um punhado do

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tecido grosso e seguiu com a cabeça baixa. Apertou os dentes enquanto a multidão a empurrava e dava cotoveladas. Milagrosamente abriram caminho para a luta geral. Sara agarrou o braço corpulento de seu companheiro. -Sr. Jenner, -suplicou tire- me daqui. -Você não gosta de um pouco de briga, não? Sara olhou para trás à carruagem, que estava sendo demolida. -Os cavalos. -disse com inquietação temendo pela segurança dos animais. Os bagunceiros tinham desenganchado a equipe de carruagem e os levavam. Um pouco da diversão de Jenner se desvaneceu. -Meus cavalos! Paguei o resgate de um rei por eles! -Ele a deixou para ir até os ladrões. Detenham-se, ladrões imundos, esses são meus! -Sr. Jenner.-advogou ela, mas ele pareceu não inteirar-se. Ele riu para ela, seus olhos brilhantes de entusiasmo. Parecia que ia ter que defender a si mesma. Com cuidado Sara atravessou a rua enquanto os saqueadores se apressavam para ela com os braços cheios de bens roubados. Uma garrafa voou por diante de sua orelha e se rompeu sobre o pavimento próximo. Sara se estremeceu e se aproximou mais às sombras. Procurou em vão um vigilante noturno ou um policial sem rumo fixo. O fogo projetava um brilho avermelhado sobre os edifícios desvencilhados. Não sabia em que direção caminhava, só esperava que o caminho que tomava não conduzisse a uma cozinha de ladrões. Passou uma loja de genebra e uma sarjeta fedorenta. A gente se movia como um enxame de uma rua a outra, brigando, brigando, dando gritos sanguinários enquanto lançavam rochas e paus pelo ar. Sara atirou do capuz de sua capa sobre seu rosto e tropeçou rodeando uma fila de postes de madeira do pavimento quebrado. Todo o calor vertiginoso do vinho que tinha bebido se foi. Estava sóbria e aterrorizada. -Maldita seja. -disse entre dentes com cada passo que dava. -Maldita seja, maldita seja, maldita seja ... -O que temos aqui? -Sara parou em seco quando viu a ampla silhueta de um homem diante dela. Ele estava vestido com as roupas de um almofadinha, finas e desalinhadas. Exatamente a classe de jovem fogoso que freqüentava o clube de Craven e visitava locais miseráveis para ir a esportes de sangue no Covent Gerden e visitar prostitutas no Strand. Jogavam, bebiam, e foram perseguir saias para aliviar seu aborrecimento. Esbanjadores, libertinos, sim ... Mas cavalheiros por nascimento. Sara começou a sentir-se aliviada, sabendo que esse homem estaria sujeito à honra de vê-la a salvo. -Senhor... Ele a interrompeu com um grito aos companheiros invisíveis. -A meu, meus bons companheiros, conheçam à encantadora empregada que descobri! Imediatamente Sara foi rodeada por três jovens que riam alegremente, todos cheirando a licor. Apinhando-se ao redor dela, desfrutaram-se com sua nova aquisição. Alarmada, Sara falou com primeiro. -Senhor, perdi-me. Por favor me tire a salvo deste lugar, ou ... Ao menos aparte-se e me permita passar. -Minha doce prostituta, conduzirei-te exatamente ao lugar ao qual pertence. -prometeu ele com um sorriso lascivo, deslizando suas mãos pela parte da frente de seu corpo. Sara saltou atrás com um grito surdo e se encontrou impedida pelos companheiros do caveira. Eles a agarraram com força, rindo de suas resistências.

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-Onde a levaremos? -perguntou um deles. -À ponte. -chegou a sugestão.-Só sei o lugar onde levá-la. Esperaremos nossos turnos educadamente, como fariam os cavalheiros, e se arma um escândalo, lançaremos ela no Támesis. Os dois puseram-se a rir. -Deixem ir! Não sou uma prostituta. Não sou ... -Sim, é uma boa garota.- tranqüilizo-a.-Uma empregada jovem e bonita a que não importaria um pouco de lascívia com uns caveiras quentes. -Não ... -Não se preocupe,carinho, nós gostamos. Somos uns meninos esplêndidos. Jamais damos a uma empregada uma razão para queixar-se, verdade? -Eu diria que não! -interrompeu o segundo homem. -Provavelmente oferecerá nos pagar depois! -acrescentou o outro e os três se sacudiram com um ataque de hilaridade produzida pelo álcool enquanto a arrastavam com eles. Sara gritou e lutou com unhas e dentes, repartindo golpes com toda sua força. Molestos por seus frenéticos arranhões, um deles a esbofeteou no rosto. -Não seja uma pequena idiota. Não vamos matar-te, somente queremos nos divertir. Sara nunca tinha feito ruídos em sua vida como agora, gritos furiosos rasgando o ar. Encontrou força inesperada em seu terror, sentindo suas unhas rasgando a pele, seus punhos entreabertos golpeando com força contra os que a sujeitavam... E ainda não foi o suficiente. Foi meio levada, meio arrastada. Seus pulmões se estremeceram, tomando suficiente ar para outro grito estridente. De repente a deixaram cair na rua, aterrissando com força sobre suas nádegas. O grito se dissipou de repente de sua garganta. Ela se sentou no chão com estupefato silêncio. Uma figura magra, escura passou diante de seus olhos, movendo-se com uma peculiar graça felina. Sara ouviu pesados golpes surdos quando um pesado porrete balançou em agressivos círculos. Dois dos homens que a tinham assaltado se desabaram, gemendo debilmente. O terceiro gritava ultrajado e voou para trás roçando o chão. -O que está fazendo? -gritou ele.- Que demônios? Porco ignorante... Verei você enforcado por isso! Sara passou uma mão sobre os olhos e olhou fixamente a aparição em deu assombro trêmulo. A princípio pensou que Jenner havia voltado para resgatá-la. Mas foi o rosto marcado de Derek Craven que viu dura como uma máscara primitiva de guerra, iluminada por um brilhante fogo vermelho. Ele estava de pé com as pernas abertas e o queixo baixo. Uma mão rodeava um brilho, pesada madeira preferida pelos brutos dos bairros pobres. Ele não dedicou um olhar a Sara, só olhava fixamente ao homem que ficava como um chacal faminto. Ele falou entre dentes. -Junte-se a seus amigos e vão embora. Os libertinos cansados conseguiram ficar em pés, um deles apertando uma mão em sua cabeça que sangrava, o outro sujeitando ao lado. O terceiro, adivinhando a voz de Derek, não se moveu. -Bem vestido para um pobre, não? Uma vestimenta muito refinada para seu gosto, não é? Darei-te dinheiro. Será o Beau Brummell de East End. Somente deixa que tenhamos à mulher. -Partem. -Inclusive compartilharei, se quiser prová-la primeiro ...

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-Ela é minha. -grunhiu Derek, e levantou o porrete. Segundo um acordo tácito os dois homens feridos se afastaram. O terceiro olhou fixamente para Derek com irada indecisão. -Estúpido patife! -exclamou finalmente. -Então tenha à pequena toda para você! Depois de morder seu polegar em um gesto depreciativo, apressou-se a unirse a seus companheiros enquanto eles desciam a rua arrastando os pés. Sara se levantou e foi cambaleando para Craven. Ele esteve com ela em três passos, com um redemoinho na capa negra e um rosto tão sério que quase acreditou que ele fosse o diabo. Seus ombros foram agarrados em um apertão brutal. Ela foi conduzida sem cerimônia a um cavalo cor ébano que esperava perto, seu rosto brilhando de suor. Silenciosamente ela agüentou a falta de cuidado de Craven quando ele mais ou menos a lançou na cadeira. Ele tomou as rédeas e subiu balançando-se atrás dela com um movimento ágil, seu braço esquerdo agarrando com força sobre ela. O cavalo ficou em meio golpe. Choupanas sombrias, vidros quebrados, e calhas lotadas voavam diante deles. Fechando os olhos contra a baforada de ar cortante, Sara si perguntava desanimadamente se ele a levava de volta ao clube. Tristemente ela voltou seu rosto ao fino tecido de lã de sua capa. Cada galopada do cavalo a impulsionava mais perto dele. Nunca a tinham segurado com tanta força, seu corpo agarrado firme contra o seu, seus pulmões espremidos até que sua respiração se fez escassa. Mas estranhamente encontrou um pouco de consolo em seu aperto. Com a força dele sujeitando-a atrás de si, nada nem ninguém a faria mal. Ela é minha, havia dito ele ... E seu coração tinha palpitado em resposta ... Reconhecendo como verdade. Homem estranho, impossível de entender, que uma vez tinha empurrado deliberadamente à mulher que amava aos braços de outro. Worthy tinha contado a história de como Derek tinha jogado Lily Lawson na cama do conde de Wolverton. -O Sr. Craven temeu apaixonar-se por ela, -havia dito em confiança a Worthy, -e então a deu de presente ao conde. Fez todo o possível para respirar seu enlace. O Sr. Craven não sabe como amar. Ele só reconhece como fraqueza e loucura. Isso é parte de seu encanto para as mulheres, acredito. Todas têm a esperança de finalmente capturar seu coração. Mas não é possível. Ele nunca permitirá, não realmente... Fraqueza e loucura... Esta noite ela permitiu uma boa á ambos. Palavras de desculpa e gratidão rondaram seus lábios, mas estava muito envergonhada para dizer. Em troca fechou os olhos e se pegou a ele, fingindo com desespero que o momento tivesse desaparecido e seguissem montando a cavalo para sempre, fora do limite da terra e dentro de muitas estrelas... Sua fantasia foi efêmera. Logo alcançaram um pequeno parque bordejado por ruas tranqüilas. Os globos de vidro das luzes de azeite penduradas lançavam lânguida luz através do caminho. Detendo o cavalo Derek desmontou e manteve as mãos estendida para ela. Com estupidez Sara se deslizou da cadeira, guiada por suas mãos em sua cintura. Ele a soltou logo que seus pés tocaram o chão e caminharam para o limite do parque. Sara se aproximou dele e se deteve a uma distância. Seus lábios se separaram e sua boca se moveu, mas não saiu nenhum som. Derek dava meia volta, esfregando o queixo enquanto a olhava fixamente. Alagou um sentimento de completo desespero enquanto esperava que a destruísse com palavras sarcásticas. Mas ele seguiu olhando-a em silêncio, seu rosto era ilegível. Era como se ele esperasse algum sinal dela. O dilema durou vários segundos, até que Sara solucionou tornando-se a chorar. Ela levantou as mãos até seu rosto, secando seus olhos chorosos.

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-Sinto muito. -ofegou. De repente ele estava a seu lado, tocando seus ombros e braços ligeiramente e sacudindo suas mãos para trás como se ardesse. -Não, não. Não faça. Agora estas bem. -Com cautela ele estendeu a mão para acariciar suas costas. -Não chore. Tudo está bem. Maldita seja. Não faça isso. Como ela seguia chorando, Derek se abateu sobre ela desconcertadamente consternado. Ele destacava em seduzir mulheres, as enfeitiçar e as enganar, derrubar suas defesas ... Tudo menos as consolar. Ninguém jamais tinha necessitado dele. -Não se preocupe. -resmungou, como tinha ouvido dizer Lily Raiford mil vezes a seus meninos gritalhões. -Não aconteceu nada. De repente ela se apoiou nele, sua pequena cabeça descansando no centro de seu peito. As longas meadas de seu cabelo cobriam todas partes, o envolvendo em fios avermelhados. Alarmado, levantou as mãos para afastá-la. Em troca seus braços deslizaram ao redor dela até que esteve apertada contra ele corpo contra corpo. -Senhorita Fielding, - disse com grande esforço. -Sara ... -Ela se acomodou mais profundamente contra ele, amortecendo seus soluços engasgados no peito de sua camisa. Derek jurou e apertou furtivamente seus lábios em sua cabeça. Ele se concentrou no ar frio da noite, mas suas genitálias começaram a palpitar com uma dor muito familiar. Era impossível ficar indiferente à sensação de seu corpo moldado ao dele. Ele era um enganador... Não um cavalheiro, nem um cavalheiro consolador de mulheres, só um descarado cheio de puro desejo. Ele passou a mão sobre seu cabelo e impulsionou sua cabeça em seu ombro até que ela estivesse em perigo de ser asfixiada. -Está bem. -disse bruscamente.-Agora tudo está bem. Não chore mais. - Nu-nunca deveria haver partido com o Sr. Jenner, mas estava zangada com você por... por ... -Sim, eu sei. -Derek procurou em seu casaco e encontrou um lenço. Torpe mente limpou o rosto molhado com ele. -Toma. Toma isto. Ela passou o lenço em suas bochechas e o usou para suar o nariz. -OH, obrigado. -Jenner te fez mal? -Não, mas ele me abandonou, justo no meio daquela confusão-Seu queixo tremeu, anunciando lágrimas frescas, e Derek interrompeu alarmado. -Tranqüila. Tranqüila. Agora está salva. E vou retorcer o pescoço de Ivo Jenner, depois de retorcer o teu por ir com ele. -Sua mão se deslizou sob sua capa até suas costas coberta de veludo, massageando seus músculos. Sara soluçou última vez. Inclinou-se contra ele, tremendo. -Salvaste-me esta noite. Nunca serei capaz de te agradecer o suficiente. -Eu tampouco. Agora estamos empatados. -Estou agradecida. -insistiu ela. -Não esteja. Sou um pouco responsável por isto. Deveria saber que era eu que estava atrás da máscara. -Seus olhos percorreram seu luminoso rosto rajado pelas lágrimas. -Possivelmente fiz, de algum modo. Sara estava muito quieta, absorta no calor que se misturava sob suas capas. Com sua mão descansada sobre seu peito, enquanto a outra estendia por suas pequenas costas. -De onde tirou o vestido? -perguntou seu fôlego soprava uma névoa branca

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no ar. -Lady Raiford. -É obvio. -disse sardonicamente. -Parece com o que ela usava. -Ele deu uma olhada na gola aberta da capa, onde a sombra de seu decote era visível. Seu polegar se moveu por cima de seu seio, indo na beirada onde terminava o veludo e começava a pele suave. -Exceto você que é cheia de maneira diferente. Sara fingiu não notar a suave, carícia, inclusive quando seu sangue se acelerou e seus mamilos se contraíram dentro da capa de veludo. -Lady Raiford foi muito amável. Não deve culpá-la. Vir ao baile esta noite foi minha idéia. Foi tudo culpa minha, de ninguém mais. -Suspeito que Worthy e Lily estavam desejosos em te ajudar. -Seus dedos passaram brandamente por cima de seu seio, até que um estremecimento de prazer a percorreu. Ele falou brandamente contra seu cabelo. Sente frio? -Não -sussurrou. Fogo líquido corria por suas veias. Sentia como se tivesse bebido alguma bebida embriagadora cem vezes mais potente que o vinho. Derek jogou a cabeça para trás e a olhou fixamente nos olhos. -Quero que esqueça tudo o que passou esta noite. -por quê? -Porque vais voltar para seu povoado amanhã. Vai se casar com o Sr. Kingsfield. -Kingswood. -Wood.-repetiu com impaciência. Sara umedeceu seus lábios secos. -Você esquecerá, Sr. Craven? -Sim.-Seu olhar piscou até sua boca, e a soltou. Momentaneamente desorientada, Sara cambaleou e encontrou o equilíbrio. Ela esperava que dissesse que era hora de partir, mas ele parecia não ter particularmente pressa. Vagando até a cerca de madeira próxima, ele se apoiou contra o corrimão mais alto. -Não deveríamos voltar para clube? -perguntou Sara, o seguindo. -Para que? Ali não ficou muito do baile, depois da jogada a rede que organizou seu amigo Jenner. Não tem mais convidados, e nada de jogo... E por sorte sua,não tem mais ponche. Sara se ruborizou profundamente. -Esse ponche era bastante embriagador. -admitiu. Ele riu, inspecionando suas bochechas vermelhas e seu equilíbrio instável. -Ainda voa alto como um cometa, anjo. Aliviada de que ele já não estivesse zangado com ela, Sara cruzou os braços e deu uma olhada nas ruas tranqüilas. O vento parecia transportar o fraco uivo da multidão longínqua, embora fosse só um truque de sua imaginação. Perguntava se tinham obtido seu horrível objetivo, se tinham desfrutado destroçando o cadáver do salteador de caminhos. A idéia a fez estremecer, e contou a Craven o que Jenner disse sobre a multidão. Ele escutou sem surpresa. -Como pode as pessoas comportar-se de semelhante maneira? -perguntou Sara. -Como podem olhar execuções por diversão? Não posso entender. -Eu fazia, quando era um moço. Abriu a boca. -Fui aos enforcamentos e flagelações e estripamentos, e... Mas não desfrutava disso. Não podia fazê-lo. Derek encontrou seu olhar sem piscar. -Agora não obtenho nenhum prazer na morte. Mas nesse momento eu tinha verdadeira fascinação por ela.

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Preocupada com a confissão, Sara recordou ele era menino, ele tinha vivido em um inferno de crime e pecado, criado em bordéis, em casas de entrevistas, e nas ruas dos bairros pobres. Mas de todos os modos era difícil de aceitar a imagem dele dando vitória enquanto um homem se afogava ao final na corda. -O que pensava, quando os via sendo enforcados? -perguntou. -Considerava-me afortunado. Ao menos eu não estava ali em cima. Tinha fome, e não possuía uma panela de comida, mas ao menos não havia nenhuma corda ao redor do meu pescoço. -E isso fazia você sentir melhor sobre sua situação? -Eu não tinha nenhuma 'situação', senhorita Fielding. Lutava, enganava, roubava por tudo: a comida que comia, a genebra que bebia ... Às vezes por mulheres. Sara se ruborizou ligeiramente. -Que há no trabalho honesto? Trabalhava às vezes. Worthy me contou que fazia. -Trabalho, sim. Honesto? -Ele sacudiu a cabeça e soprou com amarga diversão. -Preferia não saber. Sara esteve imóvel durante um momento. -Preferível. -disse de repente. -Eu gostaria de saber. -Mais material para sua investigação? -Não, não é isso absolutamente. -Impulsivamente tocou seu braço. -Por favor. Deve acreditar que eu nunca trairia uma confidência particular. Derek olhou o lugar sobre a manga, depois que sua mão se retirou. Ele cruzou suas pernas longas e manteve os olhos sobre o chão. Uma pesada mecha de cabelo negro caiu sobre sua testa. -Fui um menino escalador até crescer. Algumas chaminés tinham a largura de só dois ou três tijolos. Eu era pequeno para um menino de seis anos, mas um dia fiquei preso na chaminé.-um sorriso invocador cruzou seu rosto. -Não sabia o que era o inferno até que fiquei preso em uma chaminé. -Como te tiraram? -perguntou, horrorizada. -Colocaram um fardo de feno debaixo de mim. Arranquei a metade da pele, subindo nessa chaminé.-Ele riu bruscamente.-depois disso trabalhei no porto, carregando gavetas e caixas. Às vezes cortava e limpava pescado, ou recolhia com a pá esterco e o arrastava do pátio até a embarcação. Nunca soube o que era um banho. -Deslizando o olhar sobre ela, sorriu abertamente com sua expressão.Enchia de moscas que se aproximavam de mim. -OH, caramba.-disse francamente. -Algumas vezes, roubava a carga no cais, vendia aos comerciantes desonestos. Eu não era muito diferente de outros menino morador de bairro pobre. Fazíamos o que era necessário para sobreviver. Mas havia um que ... Jem era seu nome... Um moço fracote com rosto bonito. Um dia me dava conta que ele superava o resto. Ele tinha um casaco grosso que usava, comida para encher a barriga, inclusive uma garota em seus braços de vez em quando. Aproximei-me dele e perguntei onde conseguia seu dinheiro. -Seu rosto mudou, voltando-se tosco e duro, todo traço de beleza se apagou.-Jem me disse isso. Assessorado por ele, decidi-me a experimentar o negócio da ressurreição. -Uniu a uma igreja? -perguntou Sara, desconcertada. Derek deu um olhar assustado para ela e logo começou a afogar-se na risada. Quando ela perguntou o que acontecia, ele na realidade dobrou á risada, ofegando.

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-Não, não ... -depois de passar-se lentamente a manga sobre os olhos, foi finalmente capaz de controlar-se. -eu era um desenterrador de ossos. -explicou. -Não entendo ... -Um ladrão de tumbas. Desenterrava cadáveres dos cemitérios e os vendia aos estudantes de medicina.-um peculiar sorriso cruzou seus lábios.-Está surpreendida, verdade? E enojada. -Eu...-Sara tratava de revisar seus pensamentos dispersos. -não posso dizer que achei a idéia agradável. -Não. Estava longe de ser um negócio agradável. Mas sou um ladrão muito bom, senhorita Fielding. Jem estava acostumado a dizer que eu poderia roubar o brilho do olho do diabo. Eu era um bom homem, eficiente, sério. Tinha em média três em uma noite. -Três o que? -Corpos. Por lei, os cirurgiões e estudantes de medicina só podem usar os cadáveres dos criminosos condenados. Mas nunca há muitos. Então eles me pagavam para ir aos cemitérios próximos aos hospitais e asilos e trazer os cadáveres mais recentes que pudesse encontrar. Os cirurgiões sempre os chamavam 'espécimes'. -Quanto tempo continuou com isto? -perguntou Sara com um tremor horrorizado. -Quase dois anos, até que comecei a me parecer com os cadáveres que roubava. Pálido, fracote, como um morto andante. Dormia durante o dia e só saía de noite. Nunca trabalhava quando a lua era cheia. Muita luz. Sempre havia perigo de que me dessem um tiro os encarregados de manutenção, que naturalmente não consideravam com amabilidade o negócio. Quando não podia me ocupar de meu trabalho, sentava-me em um canto do botequim da zona e bebia tanto com permitia meu ventre, e tratava de esquecer o que fazia. Eu era um tipo supersticioso. Tendo incomodado a muitos no descanso eterno, comecei a pensar que estava obcecado. Ele falou com uma voz apagada, como se falava de algo que não tivesse nenhuma conexão com ele. Sara notou que sua cor se elevar. Vergonha, repugnância por acaso mesmo, cólera... Ela só podia fazer suposições sobre as emoções que se reviravam dentro dele. Por que confessava esses horríveis assuntos pessoais? -Acredito que estava morto por dentro, - disse ele. -ou ao menos só era meio humano. Mas o dinheiro me fazia retornar, até que tive um pesadelo que pôs fim a tudo. Nunca pus o pé perto do cemitério depois isso. -me conte.-disse brandamente Sara, mas ele negou com a cabeça. -depois de meus dias de ressurreição voltei para outros meios de ter lucros -todos eles quase igual desagradáveis. Mas não exatamente. Nada tão mau como o que fiz. Nem sequer assassinar. Então ficou calado. A lua foi tampada pelas nuvens, o céu pintado em apagados tons de cinza e violeta. Uma vez poderia ter sido a classe de noite em que ele tivesse saído a profanar cemitérios. Enquanto olhava fixamente ao homem ao seu lado com o cabelo brilhando como o ébano à luz das luzes, Sara se deu conta de que seu coração palpitava e suas mãos estavam úmidas. Um suor frio descia gotejando suas costas e seus braços. Ele tinha razão, ela estava enojada pelas coisas que ele tinha feito. E sem dúvida havia alguma que não tinha contado. Ela lutava com muitos sentimentos de uma vez, tratando de o compreender, tratando sobre tudo de não temê-lo. Que terrivelmente ingênua tinha sido. Nunca teria imaginado capaz de semelhantes coisas. As famílias de suas

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vítimas, como deviam... Ter sofrido, e sinceramente também poderia ter sido sua família, seus parentes. Ele era responsável por provocar dor a muitas pessoas. Se alguém houvesse descrito um homem semelhante, haveria dito que ele não tinha remédio. Mas ... Ele não era completamente mau. Ele tinha ido atrás dela essa noite, temendo por sua segurança. Negou-se a aproveitar-se dela no clube, quando não havia nada que o detivesse, exceto sua própria consciência. Nesse momento quando ela tinha chorado, ele tinha sido amável e doce. Sara sacudiu a cabeça consternada, sem saber o que pensar. O rosto de Craven estava tenso, mas o desafio estava claro em cada linha de sua postura. Parecia como se esperasse que o condenasse. Antes de ser bastante consciente do que fazia, ela estendeu a mão ao cabelo negro que se frisava ligeiramente na nuca. Ele pareceu deixar de respirar pelo contato de sua mão. Os músculos se flexionaram sob as pontas de seus dedos. Ela sentiu calor latente sob sua alma, e sua batalha por manter suas emoções encerradas profundamente. Depois de um minuto ele elevou o olhar para ela com ardentes olhos verdes. -Pequena idiota. Não quero sua compaixão. Tratou de te dizer. -Não é compaixão. -apressou-se em afastar sua mão para trás. -Trato de te dizer que tudo o que se interpõe entre eu me converter nisso outra vez é um montão de dinheiro. -Tem uma montanha de dinheiro. -Não é suficiente. -disse acaloradamente. -Nunca suficiente. Se tivesse o sentido comum de pardal, entenderia-me. Ela sentiu que a opressão em seu peito se expandia até que estourou uma cólera que quase igualava a sua. -Realmente entendo! Tem a vontade para sobreviver, Sr. Craven. Como poderia eu te culpar por isso? Eu não gosto das coisas que tem feito, mas não sou uma hipócrita. Se eu tivesse nascido nos bairros pobres, provavelmente teria convertido em uma prostituta. Sei o suficiente para compreender que havia poucas opções para você naquele lugar. De fato... Eu ... Admiro-te por te elevar a semelhantes profundidades. Poucos homens teriam tido a vontade e a força para fazê-lo. -OH? -Ele sorriu misteriosamente. -Antes me perguntou por meu comitê de clientes. Contarei a você sobre isso. A maior parte de seus maridos mantém amantes, as deixando a só em suas camas noite após noite. Estava acostumado a atender aquelas refinadas damas por um preço. Fiz uma fortuna. Era tão bom me prostituindo como bom ladrão. O sangue escorreu pelas bochechas de Sara. Vendo sua reação, ele se zombou com suavidade. -Ainda me admira? Atordoada Sara recordou as conversas que tinha tido com as prostitutas que tinha entrevistado para Mathilda. Elas tinham o mesmo ar em seus rostos como ele tinha agora Craven... Triste, desesperado. -Quando necessitei de mais dinheiro para financiar o clube, - continuou Craven. -chantageei algumas delas. Nenhum verdadeiro senhor gostaria de saber que sua esposa estivesse com um ostentoso burguês como eu em sua cama. Mas o estranho era que, a chantagem fez apagar meus encantos. 'As amizades' continuaram até que o clube estivesse construído. Tínhamos acordos muito civilizados, minhas clientes e eu. -Lady Raiford ... -disse Sara com voz rouca.

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-Não, ela não foi uma delas. Ela e eu nunca... -Ele fez um gesto de impaciência e se retirou de improviso, começando a caminhar ao redor dela como se um círculo de fogo os separasse. -Não desejava isso dela. -Porque se preocupava com ela. -Como o comentário não teve nenhuma resposta, Sara pressionou mais.E ela é uma das pessoas que se preocupam com você ... Incluindo o Sr. Worthy, Gill, e às garotas da casa... -Isso vem com o pagamento de seus salários. - Ignorando seu sarcasmo zombador, ela o olhou fixamente. -Sr. Craven, por que me contou tudo isto? Não aceitará minha compaixão, e não te darei desprezo. O que quer de mim? Detendo-se em meio de outro passo, ele cruzou a barreira invisível entre eles e a agarrou. Suas mãos apertaram seus braços com dor aguda. -Quero que te parta. Aqui não está a salvo. Enquanto estiver em Londres não estará a salvo de mim. -Seu olhar percorreu o friso de seu cabelo, seu rosto delicado, seus olhos desconcertados. Com um gemido repentino ele a arrastou contra ele, enterrando o rosto em seu cabelo. Sara fechou os olhos, sua mente dava voltas. Seu corpo era sólido e poderoso, encurvando sobre o seu para acomodar sua diferença de altura. Ela o sentiu tremer com a força em sua necessidade. Ele falou justo debaixo de seu ouvido, sua voz pastosa com o prazer atormentado. Tem que partir, Sara ... Porque quero te abraçar assim até que sua pele se funde na minha. Quero-te em minha cama, seu aroma sobre meus lençóis, seu cabelo estendido no meu travesseiro. Quero tomar sua inocência. Deus! Quero te arruinar para qualquer outro. Às cegas Sara aplanou a mão sobre sua bochecha, contra a sua barba recém raspada. -Que acontece eu quero o mesmo? -sussurrou ela. -Não, - disse com ferocidade, e colocou sua boca na pele sensível de seu pescoço. -Se fosse minha, me converteria em alguém a qual não reconheceria. Faria mal a você de formas com as que jamais sonhariam. Não deixarei que isso aconteça. Mas jamais acha que não te desejo. -Suas mãos aproximaram com mais força, e ambos começaram a respirar com dificuldade. A dura saliência de sua excitação ardia contra seu estômago. -Isto é por você. -resmungou. -Só por você. Ele procurou seu punho e levou sua mão a seu peito. Através da grossura do pano de linho, e lã, ela pôde sentir o sonoro batimento do seu coração. Ela se retorceu para apertar com mais força contra ele, e ele conteve a respiração. -Um homem nunca deveria aproximar-se tanto ao inferno como agora. -disse asperamente. Mas inclusive com o diabo me sussurrando no ouvido que tome, não posso fazer isso. -Por favor. -ofegou, sem saber se estava pedindo que a soltasse ou que a mantivera com ele. A palavra pareceu levá-lo a beira da loucura. Ele encaixou sua boca sobre a sua com um gemido torturado, sua língua procurando em incursões urgentes. Sara curvou seus braços ao redor de sua cabeça, enredando seus dedos em suas escuras mechas como se pudesse retê-lo para sempre. Ainda podia sentir o batimento de seu coração palpitando contra seu peito aplanado. Sua coxa era uma dura intrusão entre suas saias, sustentando-o firmemente contra um lugar inexplicavelmente íntimo. Ela não sabia quanto tempo ele esteve ali de pé beijando, sua boca às vezes suave, às vezes brutal, suas mãos vagando livremente dentro de sua capa. Suas pernas se enfraqueceram, e soube que ela podia manter-se de pé sem seus braços rodeando-a.

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-Sr. Craven.-gemeu quando seus lábios se abandonaram aos seus para deslizar-se com veemência por seu pescoço. Ele alisou seu cabelo para trás de seu rosto e apertou sua testa à sua até que ela pôde sentir os pontos de sua ferida contra sua pele. -Dava meu nome. Diga-o somente uma vez. -Derek. Durante um momento ele esteve imóvel. Seu fôlego soprava sobre seu queixo. Então ele a beijou brandamente cada um de seus olhos fechados enquanto suas pestanas tremiam contra seus lábios. -Sim esquecerei, Sara Fielding. -disse com brutalidade.-Não importa que seja tarde. Houve um momento naquela noite que seguia vivo na memória de Sara. Ele a tinha levado a casa dos Goodman, cavalgando com ela sentada de lado sobre a cadeira. Ela escondeu a cabeça contra seu peito, pegando-se a ele com força. Inclusive na crueldade invernal do seu corpo parecia arder com o calor de um fogo de carvão. Detiveram-se na beira da rua, e ele liberou seus braços para desmontar. Uma neve ligeira tinha começado a cair. Escamas pequenas desciam em redemoinhos, fazendo um repico delicado e audível sobre a rua. Craven a ajudou a baixar no chão. Uns flocos de neve tinham caído sobre seu cabelo, apanhados nas escuras mechas. Sua cicatriz estava mais pronunciada que de costume. Ela tinha muita vontade de apertar seus lábios contra a ferida, um duradouro aviso da noite que o tinha conhecido. Sua garganta estava insuportavelmente apertada. Seus olhos transpassados de lágrimas não derramadas. Ele estava muito longe dos cavalheiros galantes em suas fantasias românticas... Ele estava manchado, marcado, imperfeito. Deliberadamente ele tinha destruído qualquer ilusão que ela pudesse ter tido sobre ele, expondo seu passado misterioso como o repugnante horror que era. Seu objetivo tinha sido afugentá-la. Mas em troca ela se sentiu mais próxima a ele, como se a verdade os tivesse vinculado em uma nova intimidade. Acompanhando-a aos degraus dos Goodman, Craven fez uma pausa para inspecionar seu cabelo enredado, as bochechas abrasadas pela barba, e os lábios inchados. Ele sorriu ligeiramente. -Parece ter estado fazendo amor com uma esquadrilha de marinheiros. Sara olhou fixamente seus penetrantes olhos verdes, sabendo que a perseguiriam para sempre. -Alguma vez te verei outra vez, verdade? -Perguntou aturdida. Não teve nenhuma necessidade de responder. Ele tomou sua mão como se fosse um objeto sem preço, levantando a sua boca tão ligeiramente que ela sentiu como se seu braço flutuasse. O calor de seu fôlego penetrou sua pele. Ela foi consciente do movimento de seus lábios enquanto ele pressionava palavras silenciosas em sua mão. Ele a liberou, e o olhar que lhe deu pareceu revelar as profundidades de sua luxuriosa, ofegante, alma amarga. -Adeus, senhorita Fielding. -disse com voz rouca. Deu a volta e se afastou. Sara olhou em silêncio congelado como subia facilmente na cadeira e cavalgava rua abaixo, até que desapareceu de vista.

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CAPITULO SETE

O dia seguinte de sua volta a Greenwood Corners Sara caminhou uma milha através de caminhos de carruagens e territórios de bosque congelados que separavam a casa de campo de sua família da fazenda pequena dos Kingswood. Com o passar do caminho respirou profundamente o ar limpo do campo, com os aromas de pinheiro e neve. -Senhorita Fielding! -Ela ouviu a voz aguda de um moço atrás dela. -Como era Londres? Sara deu a volta para sorrir ao jovem Billy Evans, o filho do empregado do moinho . -Londres é muito emocionante. -respondeu ela. por que não estas na escola a esta hora? -Ele deu uma olhada de suspeita, já que esta não seria a primeira vez que Billy tinha matado aula. -Enviaram-me para tomar emprestado um livro da diretora -disse alegremente.-Como vai sua novela, senhorita Fielding? -Está no começo. -admitiu Sara. -Acredito que a terei terminada antes do verão. - Minha mãe gosta de seus livros, embora tenha que esconder do meu pai. -Por que é isso? -Não gosta que ela leia. Diz que poderia lhe dar a idéia de escapar como fez Mathilda. -ambos riram, e Sara despenteou o cabelo vermelho do moço. -Ela nunca faria isso, Billy. Além disso, Mathilda terminou quase por saltar de uma ponte, veja no que da sair em fuga? Deu de presente um sorriso com os dentes sobressalentes. -Suponho que não abandonará o Sr. Kingswood mais, então. -Sara se inclinou perto dele. -Acha que ele sentiu falta de mim? -perguntou em um sussurro de cumplicidade. Para seu deleite, Billy se ruborizou até que seu rosto ficou rosa brilhante debaixo de seu cabelo cor cenoura. -Pergunta você mesma! -disse, e brincou de correr caminho abaixo. -Tenho a intenção. -Reatando seu passeio com um passo tranqüilo, Sara suspirou com uma mistura de prazer e tristeza. Ela pertencia a isto, um lugar onde tudo lhe era familiar. Conhecia o desenho de cada caminho, campo, e riacho. Conhecia todos no povoado, e as histórias das famílias que viviam ali. Greenwood Corners era um lugar encantador. Mas esta volta era diferente das outras. Em vez de alívio e alegria; sentia-se vazia, como se tivesse deixado para trás alguma parte vital de si mesma. Nem sequer seus pais e seu sorriso amoroso de boas-vindas tinham sido capaz de elevar sua inquietação. Estava impaciente para ver Perry essa manhã, esperando que proporcionasse o consolo que necessitava. Seu coração recuperou o batimento mais rápido à medida que se aproximava da casa Kingswood. Era uma encantadora casa de povoado de desenho clássico, com trepadeira subindo sobre sua fachada de gesso marcado. Dentro, as duas salas estavam decoradas com singelas molduras de gesso e refinações tons acres, marrom, e verde ervilha. Nas estações cálidas a mãe de Perry, Martha, a encontrava mais freqüentemente no pomar atrás da casa, mexendo suas ervas e verduras. Durante os meses de inverno ela passava seu tempo bordando na sala, perto da luz e o calor que oferecia a lareira. E Perry, é óbvio, estava na biblioteca,

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estudando minuciosamente seus queridos livros de poesia. Sara bateu na porta e limpou os pés no beira do degrau. Depois de um minuto ou dois Martha Kingswood apareceu. Era uma mulher atrativa com olhos azul cinzentos e o cabelo, que uma vez tinha sido loiro, descorou-se a uma cor baunilha. Sua expressão de boas-vindas desapareceu quando reconheceu à visitante. -De volta de sua vadiação, já vejo. -Encontrando os olhos de águia da mulher mais velha, Sara sorriu alegremente. -Não vadio. Investigo. Não pôde evitar de pensar na advertência de sua própria mãe, Katie, tinha feito á alguns anos. -Tome cuidado com o que diz a essa mulher, Sara. Conheço a Marta desde que era uma moça. Entusiasma á confiar nela, e logo encontrará um modo de usar suas palavras contra você. -Mas nunca dei motivo algum para que tenha antipatia. -tinha protestado Sara. -Tem o afeto de Perry, querida. Essa é razão suficiente. Após Sara ter chegado a dar-se conta que sua mãe tinha razão. Viúva uns anos depois de que Perry nascesse Martha tinha centrado sua vida ao redor de seu filho. Sempre que estava na mesma casa, rondava-lhe com ciúmes indiscretos que faziam Sara sentir incômoda. Perry tinha resignado a possecividade de sua mãe, sabendo que ela tinha aversão a qualquer que afastasse sua atenção dela. Mas ele afirmava que depois que se casasse, Martha suavizaria seu controle. -Seremos capazes de chegar a um entendimento. -havia- dito incontáveis vezes a Sara.- Lembre de não tomar tudo o que diz de maneira pessoal. Ela se comportaria assim com qualquer moça a qual decidisse fazer a corte. -Quando voltou? -A tarde passada. -Suponho que está aqui para ver meu filho. -O tom de Martha era suave, mas levava um fio de hostilidade que fez Sara estremecer. -Sim, Sra. Kingswood. -Possivelmente a próxima vez poderia conciliar sua visita para não incomodar seus estudos de manhã. -o tom de Martha dizia que era o cúmulo da desconsideração ter feito uma visita a semelhante hora. Antes que Sara pudesse responder, Martha abriu mais a porta e fez gestos para que entrasse na casa. Marta bloqueou a entrada com sua figura parecida com um pau, como se desejasse impedir a entrada de Sara. Esperando que Martha não a seguisse, Sara acelerou seu passo pela biblioteca. Seria agradável, pensou ironicamente, se sua reunião com Perry fosse privada, ao menos durante um minuto ou dois. Graças a Deus não ouvia os passos de Martha atrás dela. Alcançou a biblioteca, um ambiente cômodo decorado com painéis forrado com desenhos de pássaros rosados, vermelhos, e marrons, e equipada com fileiras de estantes de mogno. O homem jovem sentado na mesa de jacarandá ao lado de uma das janelas se levantou e sorriu. -Perry! -gritou, e correu para ele. Rindo entre dentes por sua impulsividade, Perry a agarrou em seus braços. Ele era magro e de altura moderada, com as mãos mais elegantes que Sara tinha visto em um homem. Todos seus gestos estavam infundidos com graça. Sempre adorava vê-lo escrever, tocar piano, ou simplesmente passar as páginas de um livro. Fechando os olhos, inalou o aroma de sua colônia e sorriu de alegria. -OH, Perry. -a sensação de seu corpo sólido era familiar e cômoda, fazendo

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parecer que os dias passados em Londres nunca tinham ocorrido. Mas de repente uma lembrança atravessou queimando sua mente... Os fortes braços de Derek Craven espremendo-a fortemente, sua suave voz resmungando em seu ouvido. “Quero te abraçar assim até que sua pele se funde com a minha ... Te quero em minha cama, seu aroma sobre meus lençóis ..." sobressaltada, Sara jogou para trás a cabeça. -Querida? -murmurou Perry. -O que acontece? -Ela piscou com força, enquanto um tremor cruzou seus ombros. -Somente... O frio lá de fora. - olhando fixamente ele, tratou de apagar a lembrança com a visão do rosto de Perry. -É tão bonito. -disse com sinceridade, e ele riu agradecido. Todos reconheciam que Perry era o homem mais bonito de Greenwood Corners. Seu cabelo, um pouco comprido nesse momento, era de um tom acobreado dourado. O vivo azul como o de uma pedra preciosa de seus olhos era muito mais chamativo que o seu próprio. Seu nariz era pequeno e reto, seus lábios finos, sua fronte alta e pálida, tudo à maneira de um herói romântico de Byron. Depois de dar uma olhada ao redor para assegurar-se que não eram observado, Perry se inclinou para frente para beijá-la. Sara levantou o queixo. Mas de repente tudo no que poderia pensar era em um rosto marcado perto do seu, o brilho dos olhos verdes, uma boca dura que procurava e saqueava sem piedade... Tão diferente dos lábios suaves de Perry. Fechando os olhos com força, obrigou a si mesma a responder. Terminando o beijo com um ligeiro ruído enérgico, Perry levantou a cabeça e sorriu. -Onde está sua touca? -perguntou. -Sempre ficou tão bonita emoldurando suas bochechas. -Decidi não usá-la hoje. -Sara franziu a sobrancelha quando seus braços se afrouxaram ao redor dele. -Não ... Não me solte ainda. -Mamãe nos interromperá logo. -advertiu. -Sara suspirou e se separou dele a contra gosto. -Como senti falta de você. -respondeu galantemente Perry, assinalando para o sofá de madeira pintado. –Sente-se para conversarmos, querida. Acredito que mamãe pensa trazer um pouco de chá, ouço-a movendo-se pela cozinha. -Não poderíamos ter algum momento a sós? -sussurrou ela, atenta ao ouvido agudo de Marta. -Tenho algumas coisa para te dizer em particular. -Teremos uma eternidade para estar a sós, você e eu, -prometeu Perry, seus olhos azuis brilharam. -Certamente uma hora aqui com sua mãe não é difícil de suportar. -Suponho que não. -disse a contra gosto. -Essa é minha querida moça. Brilhando por seu elogio, Sara permitiu pegar sua capa. Ela se sentou sobre as almofadas densamente bordadas do sofá. Perry tomou suas mãos, acariciando com seus polegares. -Bem, -disse com carinho, -parece que sua visita a Londres não fez nenhum mal.-Seus lábios se separaram em um sorriso zombador. -Mamãe tem algumas idéias absurdas sobre suas viagens de investigação. 'Como sabe essa moça tudo sobre coisas tão indecentes como rameiras e ladrões? Pergunta ela. Tive um tempo difícil convencendo a de que não estiveste andando por lojas de genebra clandestinas e bordéis! Mamãe simplesmente não entende a maravilhosa imaginação que tem. -Obrigado. -disse Sara incomodamente, fixando seu olhar sobre o par de candelabros negros e dourados na parede em frente. Embora nunca tivesse

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mentido sobre sua investigação na cidade, tinha-o enganado com cuidado, encobrindo a maior parte de suas atividades perigosas e bastante aborrecidas. Perry sempre aceitava suas descrições sem perguntar, mas sua mãe tinha uma natureza desconfiada. -Depois de tudo, -seguiu Perry,-minha querida Sara passa a maior parte de seu tempo revisando coleções de livros e velhos edifícios turísticos. Não é assim? Lançou-lhe um olhar enquanto Sara sentia o calor subir por seu decote. -Certamente. E... Perry ... Há algo que devo te contar. Durante minha permanência em Londres, houve uma noite ou duas em que cheguei muito tarde. A Sra. Goodman ameaçou escrevendo a minha mãe e a seus outros amigos em Greenwood Corners que sou uma ' imprudente descarada.' Perry estourou em gargalhadas divertido com a idéia. -Sara Fielding, uma descarada imprudente! Qualquer que te conheça riria disso. Ela sorriu aliviada. -Me alegro de que não Prestes atenção a tudo o que possa dizer a Sra. Goodman. Perry apertou suas mãos. -Possivelmente algumas velhas poderiam estender o rumor sobre ti porque tem escrito uma história tola sobre Mathilda. Mas eu te conheço melhor que ninguém, querida. Conheço os desejos mais íntimos de seu coração, e vou torná-los realidade depois disso, não haverá nenhuma necessidade de que se preocupe com todos seus devaneios. Terá uma casa cheia com seus próprios filhos com o qual ocupar seu tempo. Tudo o que uma mulher poderia desejar. Sara o olhou surpreendida. -Está-me dizendo que desejaria que deixasse de escrever? -Trouxe para vocês. -chegou a voz do Martha da entrada. Entrou na biblioteca levando uma bandeja de prata gravada e um serviço de chá que tinha estado na família Kingswood durante três gerações. -Mãe, - disse Perry com um sorriso brilhante. -Como sabe que era exatamente o que queríamos! Una-te a nós enquanto Sara entretém com um relatório de sua visita a terrível cidade. Respirada pelo olhar de desaprovação de Martha, Sara se afastou pouco a pouco de Perry até que estiveram sentados a uma distância mais prudente um do outro. Martha colocou a bandeja sobre a mesa redonda de marfim diante deles. Ela se colocou em uma cadeira próxima. -Por que não nos contas, Sara? -convidou Martha, em um tom que implicava que estava concedendo uma honra a um convidado bem acolhido. Mas de algum modo Sara tinha a sensação de que estava sendo submetida a uma prova. Com cuidado colocou o chá em uma das delicadas taças de porcelana da China, e acrescentou leite e açúcar. Sua suspeita de que estava sendo provada foi confirmada pela azeda expressão de prazer de Martha. -Assim é como gosta de Perry. -disse Martha. Sara voltou o olhar inquisitivo a Perry. -Toma leite e açúcar, verdade? Ele se deu ligeiramente de ombros. -Sim, mas... -Colocou o leite por último. - interrompeu Martha, antes que Perry pudesse explicar- Meu filho prefere primeiro o leite e o chá em segundo lugar. Isto muda o sabor. Pensando que possivelmente ela estava brincando, Sara voltou a olhar para Perry. Deu um sorriso de impotência. Sara se forçou a dar-se de ombros

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prosaicamente. -Bem, -disse com um débil tremor na sua voz, -tratarei de recordar isso, Sra. Kingswood. Não posso pensar por que não soube disso todos estes anos. -Possivelmente deveria tratar de ser mais observadora das necessidades de meu filho. -Assentiu Martha com satisfação pela lição que acabava de dar. Poderia recordar que prefiro o meu do mesmo modo, mas sem açúcar. Obedientemente Sara preparou as bebidas da maneira apropriada, e se recostou com sua própria taça de chá, sem leite, nem açúcar. Depois de tomar o primeiro gole, encontrou o olhar inquisitivo de Martha. Os lábios da mulher mais velha se comprimiram até as linhas verticais marcadas ao longo das bordas. -Suponho que foi à igreja quando esteve em Londres, Sara? -A tentação de mentir era forte. Sara engoliu mais chá e negou com a cabeça desculpando-se. -Não houve tempo. -Não houve tempo? -repetiu Martha brandamente. -Estou sem dúvida agradecida de que o Senhor não nos dá semelhante desculpa quando suplicamos com nossas rezas. Embora Ele esteja tão ocupado, sempre encontra tempo para nós. Eu deveria pensar que todos nós estaríamos dispostos a fazer o mesmo por Ele. Sara assentiu com arrependimento, refletindo que ninguém podia igualar o recorde de assistência de Martha Kingswood na igreja. Martha sempre chegava quinze minutos antes e se sentava na fileira da frente. Também era seu costume partir quinze minutos depois que todos outros, já que sentia que era sua responsabilidade dar suas opiniões ao reverendo Crawford sobre como poderia melhorar o sermão. -Nem Perry nem eu falhamos jamais um domingo por nenhum motivo, dizia Martha. -E tampouco fez o Sr. Kingswood quando estava vivo. "Preferia ser um guardião da porta na casa de Deus, que morar nas guaridas da maldade". Sabe de onde procede a essa entrevista, Sara? -Job.-especulou Sara. -Salmos.-respondeu Martha com a sobrancelha franzida.-Nenhuma mulher que queira ser a esposa de Perry jamais pensaria em perder um serviço a não ser que fosse por alguma razão inevitável. -Morte? Catástrofes? -sugeriu Sara inocentemente, sentindo o joelho de Perry empurrar contra o seu em advertência. -Precisamente. -disse Martha. Sara estava em silêncio, todo seu entusiasmo de estar com Perry se desvaneceu. Tinha vindo aqui para estar com ele, não para receber um sermão de sua mãe, não importa a boa intenção ou por que permitia Perry sem uma palavra? Ele estava satisfeito enquanto sua mãe dominava seu tempo juntos. Ignorando uma pontada de ressentimento, Sara tratou de dirigir a conversa em uma nova direção. -Me contem o que passou em Greenwood Corners enquanto eu estava longe. Como está a gota do velho Sr. Dawson? -Muito melhor. -respondeu Martha. -Ele na realidade calçou os sapatos outro dia e foi dar um passeio. -Sua sobrinha Rachel foi prometida á Johnny Chesterson antes de ontem. acrescentou Perry. -OH, isto é maravilhoso. - exclamou Sara. -Os Chesterson têm sorte de ter a uma moça tão agradável em sua família. Marta assentiu.

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-Rachel é a classe de moça espiritual e modesta com a que o Sr. Kingswood sempre esperou que seu filho se casasse. Ela nunca chamaria a atenção sobre si mesma... Como fazem algumas jovens. -Refere-se para mim? -perguntou Sara silenciosamente. -Estou fazendo uma observação sobre Rachel. Devagar Sara pôs sua xícara e o pires sobre a mesa e olhou para Perry, que tinha ficado ruborizado pela grosseria de sua mãe. -É um milagre que nunca fizesse a semelhante modelo. -disse-lhe Sara, sorrindo embora seu peito se apertasse com a cólera. Martha respondeu por seu filho. -Perry nunca estava livre para fazer a corte a ela ou a qualquer outra moça no povoado. Outra ocuparia seu tempo com sua possecividade exigente. Sara sentiu que ficava vermelho seu rosto. -Pergunto-me se era você ou eu? -Levantando-se bruscamente, agarrou rapidamente sua capa. -Me perdoem. Acredito que é o momento de partir. Atrás dela, Martha soltou uma exclamação aguda. -Que demonstração tão grosseira. Eu só conversava! Enquanto Perry se inclinava para acalmar sua mãe, Sara saiu da casa . Nunca se zangou diante de Perry, sempre tolerava sua mãe com paciência e cortesia. Por qualquer razão finalmente tinha alcançado seu limite. Jurando entre dentes, começou o caminho de volta para casa. Sua coluna ficou rígida quando se deu conta de que Perry se apressava para alcançá-la. Ele tinha precipitado foi sem sequer colocar um casaco. -Não posso acreditar que te enfurecesse com semelhante maneira. exclamou Perry. -Sara, detenha e me deixe falar contigo um minuto! Ela seguiu sem querer romper seus grandes passos. -Não tenho vontades de falar. -Não te zangue com Mamãe. -Não estou zangada com ela. Estou zangado com você por não me defender! -Sara, com muita dificuldade posso te dizer que não é livre expressar suas próprias opiniões em sua própria casa! Está exagerando. -Ela foi insociável! Perry soltou um suspiro arrasado e ajustou seu passo para igualar o seu. -Mamãe estava indignadíssima hoje. -admitiu. -Não sei o que a colocou em semelhante estado. -Acredito que é seguro dizer que fui eu. Sempre faço, Perry. Alguma vez te deste conta da aversão que me tem e a qualquer outra mulher com a qual te relaciona? -O que lhe tornou tão sensível? -perguntou assombrado. -Não está em você te ofender facilmente. Devo dizer que não é seu costume, Sara, absolutamente! Agora que tinha começado a se acalmar, sentiu um alívio imenso por ser capaz de falar com franqueza... -OH? Bem, eu não encontro atrativo quando você deixa que sua mãe me trate assim. E o que é pior, esperas que engula isso com um sorriso! O rosto de Perry se tornou mal-humorado. -Não desejo discutir com você, Sara. Nunca fizemos isso antes. Seus olhos começaram a arder. -É porque pensei que fosse dizer que estava sofrendo, finalmente te comoveria a me propor casamento. Tive que esperar quatro anos, Perry, colocando todas minhas esperanças na aprovação de sua mãe. Bem, ela nunca vai dar sua

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bênção a um casamento entre você e eu. -Com impaciência se tirou em lágrimas de aborrecimento. -Sempre me pedia que esperasse, como se tivéssemos tempo de sobra. Mas o tempo é muito precioso, Perry. Perdemos anos, quando poderíamos ter estado um com o outro. Não te dá conta de que inclusive amar um ao outro é valioso? Algumas pessoas são separadas por distâncias que nunca podem cruzar. Tudo o que podem fazer é sonhar um com o outro durante uma eternidade, sem ter jamais o que mais desejam. Que estúpido, que esbanjamento ter o amor ao alcance e não tomá-lo! -Ela sujeitou com força seus dentes sobre seu tremulo lábio inferior para tranqüilizar-se. -me deixe te dizer algo, Perry Kingswood, seria imprudente de sua parte assumir que estarei feliz em te esperar para sempre. -O que quer dizer com isso? -Perguntou atordoado por tudo que disse. Ela se deteve e o enfrentou diretamente. -Se realmente me quisesse, não seria capaz de estar afastado de mim. Não deixaria que ninguém se interpusesse entre nós. E já me teria seduzido! -Sara, -exclamou, olhando-a fixamente com incredulidade -nunca te vi assim. Não é você mesma, O que te ocorreu em Londres? -Nada. Somente estive examinando as coisas. Recuperando o controle de si mesma, olhou ele fixamente com uma mistura de resolução e desejo. -Tomei uma decisão, Perry. -OH, seriamente. -disse, mal-humorada quando seus lábios se pronunciaram.-Bem, não me vão me impor, minha moça! -Espero que isso seja verdade. Temo-me que deixe que o desejo de sua mãe o guie. Igualmente a mim, sabe que ela tem feito todo o possível para interpor-se em nosso caminho. Eu sempre trato de evitar que ela entre no meio de nos dois, mas não posso ver nenhum outro modo de resolver isto. -Sara respirou fundo. Quero me casar com você, Perry. Quero cuidar de você, e ser uma esposa carinhosa. Mas este 'noivado', ou o que queira que isto seja durou quatro anos, deve acabar de uma ou outra maneira. Se não me propuser casamento logo, muito em breve, terminarei nossa relação para sempre. Seu rosto ficou pálido. Olharam-se fixamente um ao outro em silêncio, ambos assombrados com palavras tão contundentes tivessem saído dela. Sara leu a cólera nascente e o dano causado em seus olhos, mas seguiu o olhando fixamente decidida. Uma brisa transpassou a camisa e o colete de Perry, e ele tremeu. -Sinto frio. -murmurou. Sem outra palavra, deu a volta e a deixou, voltando depressa para a casa onde sua mãe o esperava. Como sempre Sara sentiu calma com a vista da casa de campo de sua família, situada no alto de uma colina pouco pronunciada. Havia quatro quartos na casa, um banheiro com um teto de palha no jardim, e uma mistura de estábulo e abrigo para carruagens. Seus velhos pais tinham vivido ali durante quase quarenta anos, depois de herdar dos avôs de Sara. Não importava os problemas que aconteciam no mundo exterior, a casa significava segurança e paz. Enquanto se aproximava da casa de campo, Sara viu que as pequenas janelas retangulares brilhavam com a luz. As silhuetas de muitas cabeças se viam claramente. Visitas. Seu coração se afundou. Às vezes os amigos de seus pais ficavam durante horas, alternando sobre inumeráveis xícaras de chá. Sara não queria enfrentar às pessoas nesse momento, mas não havia nenhum modo de evitá-los. Torcendo seus lábios em um sorriso pouco animado, abriu a porta e entrou. Como tinha esperado, cada lugar da casa estava cheia de convidados ... os Hughe, os Browne, e Archie Burrows,

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um viúvo recente. -Sara, voltou cedo. -exclamou Isaac, seu pai. Ele era um homem baixo com ombros largos e com cabelo cinza. Seu rosto curtido se enrugou com um sorriso contagioso. Ele deu um tapinha na banqueta almofadada perto de sua cadeira.Toma um dos deliciosos bolos que trouxe a Sr. Hughes. -Não, obrigado, - disse Sara enquanto sua mãe a ajudava a tirar a capa. acredito que descansarei depois de meu passeio. -Vá, olhem, -exclamou a Sra. Browne.-as bochechas da pobre moça estão completamente vermelhas de frio. O vento tem uma força atroz hoje, verdade? -Sem dúvida alguma, -murmurou Sara, negando-se a explicar que era a emoção, mais que o frio, o que havia dado cor a suas bochechas. -Como está o jovem Sr. Kingswood? -perguntou uma das damas mais velha, e todos a olharam com grande interesse.-Tão bonito como sempre, verdade? -OH, muito. -Sara conseguiu dar de presente ao grupo um sorriso forçado antes de retirar-se à intimidade de seu quarto. Sentando-se sobre sua cama estreita, dobrou suas mãos em seu colo e olhou fixamente o quadro na parede, uma paisagem em aquarela que tinha sido pintado por um de suas amigas fazia anos. A artista era María Marcum, uma amiga de sua mesma idade que se casou com o ferreiro local e agora era mãe de três meninos. Uma onda de auto-compaixão alagou a Sara. Ela nunca havia se sentido uma solteirona. Apertando os dentes com frustração, limpou os olhos úmidos com a manga. Naquele momento sua mãe entrou no quarto e fechou a porta. -O que aconteceu? -perguntou silenciosamente Katie, relaxando seu corpo na cama e dobrando suas mãos sobre seu colo. Embora sua pele estivesse enrugada com a idade, seus olhos negros eram jovens e quentes. Um círculo de suaves cachos brancos emoldurava seu rosto sereno. -Porque deixou seus convidados ... -comentou Sara. -OH, eles estão absolutamente felizes em escutar seu pai contar suas velhas piadas . Finalmente alcançamos a idade em que todos parecem novos outra vez. Riram juntas em silêncio, e logo Sara sacudiu sua cabeça com tristeza. -Penso que posso ter cometido um engano. -confessou, e contou a Katie a cena com os Kingswoodsy o ultimato que lhe tinha dado a Perry depois. A fronte de Katie estava enroscada de preocupação. Ela sustentou a mão de Sara consoladoramente. -Não acredito que fora um engano, Sara. Fez o que sentia que era bom. Não te equivocará escutando seu coração. -OH, não sei. -disse Sara com arrependimento, passando lentamente a manga pelo rosto molhado.-Meu coração me disse algumas coisa muito estranhas faz alguns dias. -Sobre o Sr. Craven. Sara deu uma olhada, assustada. -Como sabe? A mão de sua mãe se afrouxou ligeiramente. -É a forma em que falava dele. Havia algo em sua voz que nunca tinha ouvido antes. Embora Sara tivesse mencionado somente alguns escassos detalhes sobre o clube de jogo e o homem que o possuía, deveria saber que sua mãe sentiria as coisas que tinham ficado sem dizer. Ela baixou a cabeça. -O Sr. Craven é um homem terrível, Mamãe. -sussurrou.-Fez coisas terríveis em sua vida. -Mas encontrou algo nele que te importa, não?

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Umas lágrimas caíram no colo de Sara. -Se ele tivesse tido alguém que o ensinasse sobre o bem e o mal, alguém que o amasse e se preocupar-se com ele quando era um menino, ele teria crescido para ser um homem bom. Um homem muito bom. -Ela perguntou o que Derek Craven poderia ter sido se tivesse nascido em uma das famílias em Greenwood Corners. Teria sido um formoso menino com inocentes olhos verdes e um corpo robusto, bem alimentado, que atravessaria correndo os prados com outros meninos do povoado. Mas a imagem se dissolveu, e só pôde vê-lo como um fracote limpador de chaminé, afogando-se na fuligem enquanto avançava lentamente para cima pelos tubos das chaminés. Sara se retorceu os dedos juntos agitada. -O encarregado do clube me disse que o Sr. Craven é um homem de aptidões arruinadas. Ele tinha toda razão. Katie a olhou estreitamente. -Sara, admitiu esse homem ter sentimentos por você? -OH, não -disse Sara a toda pressa.-Ao menos ... Não a classe de sentimentos que papai e você sentiriam. Ela avermelhou, enquanto sua mãe obtinha uma inesperada diversão pelo comentário. -Certamente que aprovo esses sentimentos. -disse Katie, rindo em silêncio. -dentro dos laços do casamento. Sara passou lentamente os dedos por seu próprio cabelo, arruinando o suave penteado e arrancando as presilhas que pareciam cravar no couro cabeludo. -Não há nenhuma razão para falar sobre o Sr. Craven. -disse de maneira aborrecida.-Perry é o único homem que quero, e o único apropriado que consegui, e é possível que tenha acabado de arruinar toda possibilidade de me casar com ele! -Ninguém pode saber com segurança. -refletiu Katie.-Mas penso que poderia haver dado o empurrão que necessitava. Profundamente em seu coração, Perry não quer esta só com sua mãe sempre. Ele nunca poderá ser realmente um homem até que a deixe e comece a tomar decisões por si mesmo, e ela o faz quase impossível. De uma forma criou uma prisão para ele. O que me preocupa, Sara, é que em vez de evitar a prisão, ele pode querer que permaneça ali. -OH, não -o queixo de Sara tremeu.-eu não podia suportar uma vida estando sob o polegar de Marta Kingswood! -É algo no que deveria pensar. -disse Katie com cuidado.-E que o Senhor abençoa a ambos, pode ser a única forma em que possa ter Perry.-Apertando o braço de Sara, sorriu calidamente.-te seque o rosto, querida, e sai para conversar com os convidados. A Sra. Browne esteve perguntando sobre Mathilda outra vez, e nunca recordo o que dizer. Sara deu um olhar sombrio e obediente e a seguiu à sala principal. O dia seguinte passou lavando a roupa e preparando "uma panela de pimentas" para o jantar. Cortando cenouras, nabos, e cebolas em pequenas partes para o guisado, Sara falou e riu com sua mãe. Enquanto trabalhavam, cantaram uma seleção de baladas de amor com finais docemente trágicos que eram tão populares no povoado. Finalmente Isaac chamou da sala, onde estava sentado arrumando o pé de uma cadeira. -Não conhece vocês duas algumas canções na qual ninguém morra ou perca seu amor? Comecei o dia de bom humor, e agora depois destes cantos exijo algo para não estar secando as lágrimas dos olhos! -Bastarão os hinos? -perguntou Sara, colocando as verduras em uma panela de água fervendo. Mais tarde acrescentariam partes iguais de cordeiro e pescado, e

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o amadureceriam tudo com pimenta. -Sim, algo para elevar o espírito! Lançaram-se a um hino vigoroso, fazendo uma pausa para rir quando ouviram a voz desafinada de barítono de Isaac participar. -Seu pai tem seus defeitos.-murmurou Katie a Sara com calma depois que o hino terminou.-Ele me concedeu um tempo de prova, para estar seguro, sobre tudo em sua juventude. Ele tinha um gênio vivo tempos atrás, e uma tendência a ficar melancólico. -um sorriso curvou em sua boca.-Mas esse homem bom me amou cada dia de sua vida. Foi-me fiel todos estes quarenta anos. E depois de todo este tempo, ainda me faz rir. Casará com um homem assim, Sara ... E se Deus quiser, será tão feliz como sou. Retirando-se cedo, Sara ficou muito quieta em sua cama e esperou que os dedos gelados de seus pés se esquentassem. Perry tinha estado em seus pensamentos todo o dia. Ferventemente pediu que não o houvesse afugentado para sempre. Tinha o amado durante tantos anos. Ele sempre foi par em sua vida. Quando ele estava com o humor de um menino, tomando-a e dando alegres beijos nos lábios, ela às vezes temia morrer de felicidade. Os pic-niques pela tarde com ele, longos passeios pelo campo, Deitada contra seu ombro enquanto ele lia em voz alta... As lembranças a tinham dado suas horas de prazer enquanto contava cada momento dourado. Se por algum milagre se convertesse em sua esposa, poderia despertar cada manhã e encontrá-lo a seu lado, seu cabelo loiro brandamente cansado, seus sonolentos olhos azuis sorrindo. Tensa com angustiosa esperança, Sara apertou seus braços ao redor de seu travesseiro. -Perry. -disse com a voz apagada. -Perry, não posso te perder. Não posso. Dormiu com o nome de Perry nos lábios. Mas quando sonhou, foi com o Derek Craven, sua escura presença filtrando-se pelo seu sonho como um fantasma inquieto. Ela brincava de esconderijo com ele, correndo pelo clube vazio, rindo como louca enquanto sentia aproximar-se. Ele a seguiu atentamente, aproximando-se até que ela soube que não havia nenhuma possibilidade de escapar... Exceto uma. Depois de encontrar uma porta secreta, desapareceu em um túnel na escuridão, ocultando-se. Mas de repente ouviu o som de sua respiração. Ele estava com ela nas sombras. Ele a colheu com facilidade e a apertou contra a parede, rindo com seu ofego assustado. -Nunca escapará de mim. -sussurrou ele, suas mãos deslizando-se bruscamente sobre seu corpo.-É minha para sempre ... Só minha... Sara despertou de repente com um toque em sua porta. A voz de seu pai era tremula e estava atenuada pela fraqueza. -Sara? Sara, temos visita. Viu, filha, e vêem a entrada principal. Ela se revolveu fortemente, desejando só afundar-se novamente no sonho. -Sim.-resmungou, e saiu lentamente do calor acolhedor de sua cama. Encontrou um grosso roupão e colocou sobre sua camisola de gola alta. -Papai, Quem demônios é... -sua voz se apagou quando viu o visitante. Automaticamente sua mão voou a seu cabelo revolto, alisando para trás as meadas enredadas. -Perry! -Senhor, sei que parece impróprio, mas se pudesse ter um minuto a sós com sua filha .. -Um minuto, nada mais. -disse Isaac à contra gosto. Perry se apoiou na porta da rua, chapéu na mão. Ele manteve seus olhos sobre Sara enquanto falava com seu pai silenciosamente. Deu um olhar em Sara significativo justo antes de abandonar a sala. Ela

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assentiu em resposta à advertência silenciosa de manter uma curta conversa. O batimento de seu coração era forte e rápido. Limpando a garganta, vagou até uma cadeira próxima e se sentou sobre a beirada. -por que está aqui tão tarde, Perry? Sabe o impróprio que é. -estive pensando nos últimos dois dias. -Sua voz era forçada. -Ontem à noite não dormi nada. Pensei em tudo o que me disse. Logo não parecia a mesma pessoa ontem pela manhã, seu aspecto e a forma em que falava, deveria me haver dito como se sentia realmente há muito tempo, Sara. Para mim sempre foi prejudicial que cobrisse seus pensamentos com um sorriso. -Suponho que fosse. -admitiu, notando que seus olhos estavam manchados com as sombras de sono perdido.-Tinha razão sobre algumas coisas. -disse Perry, surpreendendo-a ao ajoelhar-se diante dela. Tomou suas mãos com cuidado. Mamãe não aprovará nossa união, não á princípio. Mas se acostumará com o tempo. É possível que você e ela inclusive possam chegar a ser amigas algum dia. Sara começou a responder, mas ele a indicou com a mão que esperar-se. -Tinha razão sobre algo mais, carinho. É um desperdício não tomar o amor quando está ao alcance de minha mão. Realmente quero estar com você. -Ele sustentou suas mãos fortemente, olhando fixamente seu rosto ruborizada.-Amo-te, Sara. E se me aceita, Eu gostaria que nos casássemos na primavera. -Sim, sim! -Sara deixou a cadeira e rodeou o pescoço com seus braços, quase derrubando a ambos por seu entusiasmo. Rindo e beijando-a, Perry tratou de calar suas exclamações. -Tranqüila, carinho, ou despertaremos seus pais. -Provavelmente têm os ouvidos apertados à porta. -disse, apertando seus braços em um abraço. -OH, Perry, tem-me feito tão feliz. -Você me tem feito ainda mais feliz. -sorriram-se abertamente um ao outro, e Perry acariciou os brincos em volta do seu cabelo. -Volta amanhã pela manhã e fala com meu pai. -Insistiu Sara. -É só uma formalidade, mas o agradará. -Sim, e logo virá comigo para comunicar a notícias a minha mãe. -Uh! -não pôde resistir em dizer Sara. Deu um olhar de reprovação. -Se te aproximar dela com um espírito de amor e boa vontade, ela corresponderá da mesma forma. -Está bem. -disse Sara com um sorriso. -Sou tão feliz que estaria disposta a tudo. Perry não pareceu dar-se conta do estranho sufoco de sua voz. Tampouco poderia saber a causa. Falaram durante um minuto ou dois. Depois de trocar alguns beijos apressados, Perry deixou a casa. A mente de Sara zumbia com pensamentos estranhos e horríveis todo o tempo, mas ocultou sua confusão até que ele se foi. Então se permitiu pensar na lembrança repentina... O sorriso resmungão de Derek Craven, sua cabeça escura inclinando-se sobre a sua. Exalou com vacilação, sentindo-se como se estivesse sendo atormentada. Não deve acontecer outra vez. Devia tirar de sua mente todo pensamento em Craven para sempre. Ele havia dito que a esqueceria. Com amargura se perguntou como pretendia obter isso, se fosse fácil para ele... Se ele fosse à outra mulher. Era ridículo, permitir-se pensar em um homem como ele. O que tinha passado entre eles acabou, e o episódio tinha sido tão breve, realmente, tudo tinha parecido um sonho. Perry era real, e além disso estava sua vida em Greenwood Corners. Seria feliz com a família e os amigos, e empreenderia um futuro com um homem que amava.

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-Ainda não consigo acreditar que o nosso jovem Sr. Kingswood finalmente cumprirá com os requisitos.- O Sr. Hodges sacudiu a cabeça com um sorriso, observando como Katie limpava a churrasqueira para que ela e Sara amontoassem lenha na chaminé de sua cozinha. Porque o Sr. e a Sra. Hodges eram mais velhos e o Sr. Hodges tinha ataques de reumatismo, às vezes necessitavam ajuda com suas tarefas domésticas. A Sra. Hodges falou em tom jovial enquanto limpava o pó de seu muito apreciado aparador de cozinha com seu sortido de estanho e porcelana da China. -Por Deus, estou surpreendida de que sua mãe o permitisse. -Quando viu o Katie e as expressões cautelosas de Sara, seu sorriso se apagou e suas bochechas redondas se afundaram com consternação. Ela tinha querido as fazer rir. Em troca parecia ter mencionado um ponto doloroso. Sara rompeu a tensão dando-se de ombros. -A Sra. Kingswood não tinha nenhuma opção no assunto. E parece haver-se reconciliado com a idéia. Depois de tudo, dificilmente pode me culpar por amar Perry. -Isso é! -reconheceu rapidamente a Sr. Hodges.-Fará bem aos Kingswood que Perry tome uma esposa própria. Martha quase arruinou esse moço com seus mimos. Arrancando um sincero assentimento, Sara pendurou as panelas e caldeiras recém esfregadas sobre a prateleira do fogão. Um volante ficou suspenso justo em cima de sua sobrancelha, e ela o empurrou atrás com irritação. Pelo desejo de Perry ela havia tornado a usar suas toucas, mas já não pareciam encaixar como uma vez o tinham feito. Andou pelo chão pavimentado de pedra para lavar as mãos e os braços negros com a fuligem, tremendo pelo jorrar gelado da água da bomba. -Essa moça não tem medo de trabalhar. -disse a Sra. Hodges a Katie.-Não é como o resto dessas caprichosas e frívolas moças do povoado, sem um só pensamento em suas cabeças, exceto como arrumar o cabelo e lançar olhares insinuantes aos homens. -Sara tem duas mãos capazes e uma mente ágil esteve de acordo Katie. Será uma boa esposa para Perry. E uma bênção para sua mãe, se Martha o permitir. A Sra. Hodges olhou para Sara atentamente. -Ainda insiste que Perry e seu viva com ela depois do casamento? A costa de Sara se esticou. Seguiu limpando-as mãos até que estiveram brancas e intumescidas. -Temo-me que sim. -disse sem alterar-se. -Não resolvemos a questão ainda. -Vá Por Deus!.-A Sra. Hodges se virou para trocar uns murmúrios silenciosos com Katie. Sem emprestar atenção a sua conversa, Sara secou as mãos congeladas e pensou no último mês. Martha Kingswood tinha recebido a notícias do compromisso com extraordinária calma. Sara e Perry tinham contado juntos. Assombraram-se com sua falta de protesto. “““ “““ Se casar com Sara trará felicidade,” havia- dito Martha a Perry, sustentando seu rosto entre suas mãos estreitas, “ então dou minha bênção aos dois." Ela tinha se inclinado e tinha beijado brevemente os lábios de seu filho, e logo se endireitou para olhar Sara de maneira cortante. Após, Martha tinha interferido e criticado cada decisão que tomavam. Perry parecia não ser consciente da perseguição de sua mãe, mas nunca deixou de obter que o estado de animo de Sara caísse em picados. Ela temia que seu casamento fosse um campo de batalha infinito. A última semana, sobre tudo, tinha sido uma prova. Martha estava preocupada com a idéia de que Perry a

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estivesse abandonando. Ela tinha manifestado sua intenção de viver com seu filho e sua esposa depois das bodas. -Não é precisamente uma idéia pouco ortodoxa. -Havia- dito Perry a Sara. Muitos casais residem com seus pais, e avós, também. Não vejo que haja necessidade de que vivamos isolados. -Perry, não me está dizendo que quer compartilhar uma casa com ela, verdade? Um cenho franzido se deslizou por seu formoso rosto juvenil. -O que aconteceria se sua mãe estivesse completamente só e nos pedisse que vivêssemos com ela? Sara tinha se horrorizado. -Não é o mesmo. A minha não é exigente nem impossível de agradar! Perry parecia ferido e mal-humorado. Não estava acostumado aos raciocínios de sua parte. -Agradeceria que não usasse semelhantes palavras com mamãe, e que recorde que ela me criou e cuidou de mim sem ajuda de ninguém. -Isso sim. -disse Sara com arrependimento, tratando de pensar em uma solução.-Perry, tem algum dinheiro de sua propriedade, verdade? Algumas economias guardadas? Ele se arrepiou pela pergunta, já que não correspondia a uma mulher fazer perguntas sobre o dinheiro. -Isto não é de sua incumbência. Agitado por sua idéia,Sara ignorou seu ofendido orgulho masculino. -Bem, eu tenho umas pequenas economias. E ganharei o suficiente com a venda de meu seguinte livro para comprar uma casa de campo nossa propriedade. Trabalharei como uma escrava se for necessário, para que possamos contratar alguém que a faça companhia a sua mãe e dela cuide. -Não, -disse imediatamente. -uma criada não se preocuparia com ela da forma que faria sua própria família. -uma visão de si mesma tratando a como rainha Martha Kingswood, e deixando de escrever para sempre, fez com que Sara avermelhasse de ira. -Perry, sabe como infeliz que seria eu se ela vivesse conosco. Ela se queixaria de tudo o que fizesse, como cozinho, como mantenho a casa, como ensino a meus filhos. Pede-me muito. Por favor, devemos encontrar alguma outra forma... -vais casar se comigo para o bom e para o mau. -disse bruscamente.Acreditava que compreendesse o que isto significava. -Não me dava conta de que ia ser bom para você e mau para mim. -Sim o pior que jamais pudesse te passar é viver com minha mãe, e isso duvido muito, deveria me amar o suficiente para aceitar. Separaram-se sem fazer as pazes, ambos negando-se a escutar os argumentos do outro. -Está mudando. -queixou-se Perry. -Dia a dia te volta uma pessoa diferente. Por que não pode ser a moça doce e alegre da que me apaixonei? Sara não tinha sido capaz de responder. Sabia melhor ele qual era o problema. Ele desejava uma esposa que nunca questionasse suas decisões. Desejava que ela se sacrificasse duramente para fazer sua vida ser agradável. E ela tinha estado disposta a fazer isso durante anos, por amor e companheirismo. Mas agora... Às vezes... O amor não parecia valer o preço que ele a exigia. Ele tem razão, mudei, pensou com tristeza. A culpa era dela, não dele. Recentemente tinha sido a classe de mulher que teria sido capaz de fazer Perry feliz. Deveríamos haver nos casado faz anos, pensou. Por que não fiquei no

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povoado e ganhei dinheiro de algum outro modo que escrevendo? Por que tive que ir a Londres? Durante as tardes, quando se sentava em seu escritório e trabalhava em sua novela, às vezes se encontrava agarrando a pluma tão forte que seus dedos doíam pela tensão. Baixava o olhar para encontrar manchas de tinta pelo papel. Agora era difícil evocar o rosto de Derek Craven com claridade, mas havia aviso dele por toda parte. O timbre de voz de alguém, ou a cor esverdeada de olhos de alguém, às vezes dava uma sacudida reconhecendo que alcançava seus alicerces. Sempre que estava com Perry, lutava por evitar comparar os dois homens, já que seria injusto para ambos. Além disso, Perry a queria como sua esposa, enquanto que Derek Craven tinha esclarecido que não tinha desejo algum de ser candidato para seus "afetos". -Sim esquecerei. -tinha-a assegurado. Não tinha dúvida alguma de que ele tinha esquecido por completo, e OH, como feria a idéia... Por vontade ela tivesse de fazer o mesmo. Afastando todos os pensamentos negativos, tratou de imaginar a casa que compartilharia com Perry. Passariam noites tranqüilas diante da lareira, e os domingos assistiriam à igreja com os amigos e a família. Durante a semana Sara não teria pressa com os produtos no mercado, trocando intrigas de pouca importância com amigos, compartilhando pequenas brincadeiras sobre a vida de casados. Seria agradável. Em geral, Perry tinha as qualidades de um bom marido. Havia afeto entre eles, e o consolo dos interesses comuns e as crenças compartilhadas. Inclusive poderiam ter a aula de casamento que seus pais tinham. A idéia deveria havê-la consolado. Mas inexplicavelmente, Sara podia encontrar pouca alegria com a perspectiva que a esperava. Os Natais passaram com o mesmo espírito quente com que sempre faziam em Greenwood Corners. Sara desfrutava de cantar canções de natal, nas reuniões com os velhos amigos, de trocar presentes, e de todos os rituais que recordava desde menina. Estava ocupada fabricando grinaldas, bolos de festa, e a tarefa de ajudar a costurar trajes para o desfile das crianças. Não havia muito tempo para ver Perry, mas durante poucas horas que realmente passaram um com o outro, faziam um esforço para evitar discutir. Durante a Véspera de natal, deu de presente a Perry uma caixa de seis lenços finos que tinha bordado com suas iniciais, e lhe deu de presente um delicado broche dourado gravado com um desenho de pássaros pequenos. Sentados juntos diante da lareira, uniram as mãos e falaram dos momentos recordados com carinho de seu passado. Não se fez menção de Martha, ou da escritura de Sara. De fato, nenhum deles se atreveu a falar do futuro absolutamente, como se fosse algum tema perigoso e proibido. Só mais tarde Sara se permitiu pensar que era muito estranho para um casal prometido, esta incapacidade para falar de seus projetos para a vida que os esperava. Durante um brilhante dia de Janeiro no que o ar era seco e a terra estava congelada, Katie e Isaac agarraram o cavalo e a carruagem para comprar provisões no mercado do povoado. Depois iriam ver reverendo Crawford e teriam um batepapo sociável. Ficando em casa para fazer as tarefas domésticas, Sara estava na pia revestida de chumbo e limpava uma panela grande de estanho. Com energia esfregou com uma bolsa de musselina cheia de giz moído em pó, até que a superfície deslustrada de estanho brilhou de novo. Fez uma pausa em meio da tarefa quando ouviu alguém batendo na porta da rua. Limpando-as mãos no pano grande atado ao redor de sua cintura, Sara foi receber à visita. Seus olhos se arregalaram quando abriu a porta e viu a mulher que

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estava ali de pé. -Tabitha! -exclamou. Um condutor e uma das carruagens sem nome usados pelos empregados de Craven's esperavam à borda do caminho. O coração de Sara se retorceu dolorosamente em seu peito pelas lembranças do clube de jogo. Era difícil de reconhecer à garota da casa, que agora estava vestida como uma singela moça do povoado. As saias chamativas adornadas com lentejoulas e o sutiã decotado que ela sempre usava em Craven's tinham desaparecido. Em troca levava um recatado vestido cor lavanda não diferente dos que possuía Sara. A licenciosa desordem habitual de seu cabelo estava domesticado em uma touca e coroado com um modesto chapéu. A fraca semelhança entre elas era mais marcada que de costume, mas o rosto de Tabitha ainda estava gravado com a aspereza que delatava sua profissão. Sua boca se curvou em um atrativo sorriso, mas havia uma vacilação em sua postura, como se temesse que Sara a recusasse. -Senhorita Fielding, vim para saudá-la. Vou ficar me com minha família uma semana mais ou menos. Eles vivem em Hampshire. Sara reuniu seus engenhos dispersos. -Tabitha, que surpresa tão agradável verte! Por favor, entra. Farei um pouco de chá. Possivelmente o condutor queira sentar-se na cozinha... -Não há tempo para tudo isso. -disse, de uma vez satisfeita e envergonhada pela maneira que Sara lhe dava a boas-vindas.-Irei em um piscar, somente me detive para conversar um pouco. Não ficarei mais que um minuto. Sara insistiu para ela entrar em sua casa quente e fechou a porta contra a rajada de vento. -Está tudo bem no clube? -OH, sim. -Como está o Sr. Worthy? -Está bem. -E Gill? -Bem, igualmente ordinário. O impulso de perguntar por Derek Craven a esmagava. De algum modo Sara conteve as palavras. Fez- gestos a Tabitha para que se unisse a ela no sofá na sala principal e a olhou sem piscar, perguntando por que a garota da casa se permitiu visitá-la. Tabitha se esforçou exageradamente para arrumar suas saias e sentar-se como uma dama. Sorriu- abertamente a Sara enquanto alisava o tecido de seu vestido. -Minha mamãe pensa que sou a criada de um magnífico senhor em Londres, levando o carvão e a água, polindo a prata e tal. Não lhe pareceria bem saber que trabalho no Craven'S. Sara assentiu com seriedade. -Compreendo. -O Sr. Craven me mataria se soubesse que vim aqui hoje. -Não o direi a ninguém. -prometeu Sara, enquanto subia o coração à garganta. Olhou fixamente para Tabitha, que se deu de ombros e olhou a casa como se esperasse pacientemente algo. A garota da casa queria que perguntasse por Craven, compreendeu Sara. Inquietamente enredou as mãos em seu avental improvisado. -Tabitha ... Me conte como está ele. A garota não necessitou mais incitação. -O Sr. Craven tem um caráter brusco estes dias. Não come nem dorme, atua como se tivesse uma abelha o picando. Ontem foi à cozinha e disse a Monsieur Labarge que sua sopa tinha sabor de babas. Vá, necessitou de Gill e Worthy para impedir que Labarge lhe estripasse com uma faca grande! -E-é por isso que vieste aqui, para me contar isso? Sinto muito ouvir, mas...

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-Sara fez uma pausa e baixou a cabeça. -Seu humor não tem nada que ver comigo. -Tem tudo a ver com você, senhorita, e ninguém o conhece melhor que eu. Os punhos de Sara se ataram com mais força em seu avental. -O que quer dizer? Tabitha se inclinou para frente, falando em um sussurro teatral. -O Sr. Craven veio a minha cama faz duas, não, três noites. Você sabe que ele nunca faz isso. Não com as garotas da casa, de repente ficou impossível respirar. Sara recordou haver-se sentido assim faz muito tempo, quando seu cavalo Eppie se espantou por algum movimento na erva e a tinha jogado ao chão. Sara tinha cansado em busca de ar. OH, Deus, como podia importar tanto que ele tivesse obtido seu prazer dentro no corpo desta mulher, tinha-a abraçado e a tinha beijado... -Seus olhos eram tão estranhos, -seguiu Tabitha, -como se estivesse olhando as portas do inferno. "Tenho um pedido especial, disse, e se contar a alguém, esfolarei-te e te tirarei os olhos. "Então diga logo... -Não -Sara sentiu que se romperia em pedaços se ouvisse uma palavra mais. -Não me conte isso. Não quero sab ... -Era sobre você, senhorita. -Eu? -Sara perguntou debilmente. -Ele veio a minha cama. Disse-me que não dissesse nada, não importa o que ele dissesse ou fizesse. Então O Sr. Craven baixou o abajur e me abraçou contra ele... -Tabitha afastou seu olhar enquanto seguia. Sara se congelou no lugar. -"me deixe te abraçar, Sara", disse, ' necessito-te, Sara '... Durante toda a noite ele fingiu que eu era você. É porque nos parecemos. É por isso que ele fez.-Ela deu de ombros com um pouco de vergonha. -Ele foi delicado e doce, também. Pela manha partiu sem uma palavra, mas ainda tinha esse olhar terrível em seus olhos... -Detenha.-disse Sara bruscamente.-Não deveria ter vindo aqui. Não tinha direito de me contar isso .-Sara se engasgou. -Mas há coisas que não entende. Estou prometida a outro homem, e mesmo se não estivesse ... -Ela se deteve bruscamente. Não havia nenhuma necessidade de explicar seus sentimentos, ou especular sobre Derek Craven, diante desta mulher. Era inútil, e não digamos doloroso. Em vez de haver-se ofendido pelo arrebatamento de Sara, Tabitha parecia pormenorizada. -Disse a mim mesma que ... Não faria mal a ninguém se o contasse à senhorita Fielding. Você tem direito de saber que o Sr. Craven a ama, senhorita, como jamais amou a alguém em sua bendita vida. Ele pensa que você é muito boa para ele, pensa que você é tão boa como um anjo. E é. -Tabitha a olhou fixamente com seriedade... Senhorita Sara, quem dera soubesse... Ele não é tão mau como dizem. -Isso eu sei.-Sara se engasgou. -Mas há coisas que não entende. Estou prometida a outro homem, e inclusive se não estivesse... -Ela se deteve bruscamente. Não havia nenhuma necessidade de explicar seus sentimentos, ou especular sobre o Derek Craven, diante desta mulher. Era inútil, e não digamos doloroso. -Então não irá ver ele? -O atordoamento da moça fez com que Sara sorrisse apesar de sua tristeza. Como as outras garotas da casa, Tabitha sentia excessivamente orgulhosa e não pouco possessiva do que Derek Craven, quase como se ele fosse um tio favorito ou um benfeitor amável. Se ele desejava algo, se agradasse de algo, não havia nenhuma dúvida de que ele deveria o ter. Sara se levantou inexpressivamente e se dirigiu à porta.

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-Sei que veio aqui com boas intenções, Tabitha, mas deve partir agora. Eu... Eu sinto. -Aquelas foram as únicas palavras coerentes que pôde formar. OH, Deus, lamentava as coisas que não podia dizer ou nem sequer admitir a si mesma. Estava consumida pela solidão, queimando-se com ela. Morria de pena pelo que nunca teria. -Eu também sinto. -murmurou lentamente Tabitha, com ar de culpabilidade. -Não a incomodarei outra vez, senhorita. Juro por minha própria vida. -partiu rapidamente, abstendo-se de dizer outra palavra.

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CAPITULO OITO

Tropeçando até a lareira, Sara se sentou sobre o duro chão e enterrou o rosto em seus joelhos. Como louca tratou de convencer-se de que seria idiota por desperdiçar a felicidade que poderia encontrar com Perry. Tratou de imaginar-se indo para Derek Craven e lhe dizendo... Dizendo-lhe o que? A explosão de uma gargalhada insensata escapou dela. -Quero verte uma vez mais. -sussurrou. Desejava estar perto dele outra vez, embora só fosse durante uns minutos. E ele se sentia da mesma forma, ou não teria feito amor com outra mulher e teria fingido que era ela. " Se esquecerei, Sara Fielding. Não importa o que me custe... " Que bem faria ainda se fosse capaz de roubar uns momentos preciosos com ele? Ele não quereria vê-la. O que poderia lhe dizer, quando não podia explicar seus sentimentos nem sequer a si mesma? Descansando sua cabeça sobre o antebraço, gemeu de frustração. Pisava na beira do desastre. Devia esquecer sua perigosa teimosia com Derek Craven e voltar para homem que tinha amado desde que era uma moça. De repente parecia como Perry Kingswood tivesse o poder de salvá-la de si mesmo. Conseguiu ficar de pé. Rapidamente alimentou o fogo, agarrou com rapidez sua capa e seus mitos, e saiu correndo pela porta da rua. Apressou-se à casa Kingswood tão rápido como liberou seus pés. Durante o longo passeio, o ar frio circulou profundamente por seus pulmões e pareceu congelar os ossos. Seu seio doía com uma nó de dor que se instalou no centro. -Perry, faça com que tudo desapareça. -desejava pedir. -me faça sentir-se segura e amada. Diga-me que nascemos para estar juntos. Não importava se ele pensasse que se tornou louca. Tudo o que precisava era que ele a rodeasse com seus braços e a assegurasse que a amava. E ele o faria, pensou, tirando força da imagem dele abraçando-a. Ele estaria tranqüilo e seria delicado, e aliviaria todos seus medos. Conteve a respiração excitada quando chegou à casa Kingswood e viu Perry levando um cavalo do prado até o estábulo na parte de trás. -Perry! -gritou, mas o vento soprava, tanto que era impossível que ele ouvisse. Com impaciência se apressou a rodear a casa até o estábulo. A estrutura robusta estava abrigada do vento, cheia dos aromas familiares do feno e dos cavalos. Perry, que usava um grosso casaco de lã e um chapéu, estava ocupado colocando o cavalo em uma casinha forrada de feno. Consciente de sua aproximação, deu a volta para ficar frente a ela. Estava ruborizado pelo exercício, e seus olhos pareciam safiras. -Sara? Por que está em semelhante estado? Sente se mau? -Tinha que verte neste mesmo momento. -Ela se lançou para diante e se pegou a ele, deixando cair a cabeça na curva de seu pescoço.-Perry, fui tão desventurada, me perguntando como me desfazer desta distancia entre nós! Sinto se tiver sido exigente ou intolerante. Quero que tudo esteja bem entre nós. Diga-me que me ama. Diga-me ... -O que provocou isto? -perguntou assombrado, seus braços fechando-se ao redor dela. -Nada. Nada em particular ... Eu somente ... -Perdendo o fio por seu

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entusiasmo, ela se calou e se agarrou a ele com mais força. Depois de um minuto de muda surpresa, Perry a afastou e falou em um suave tom de repreensão. -Nunca estava acostumado a montar números assim, carinho. Correndo pelo campo com o cabelo ao vento e com olhos de louca... Não há nenhuma necessidade disso. Certamente que te amo. Dei-te razão alguma para duvidar? Alegrarei-me quando deixar de escrever. Volta-te impulsiva, e isto não seria aceitável para nossos filhos, nem para mim, na realidade Ele se deteve com um som surdo quando Sara tomou seu rosto em suas mãos enluvadas e apertou sua boca à sua. Ela sentiu que seu corpo ficava tenso. Uma tímida resposta, o movimento mais leve de seus lábios... Mas então ele se retirou e baixou o olhar para ela com sobressaltada consternação. -O que te passou? -perguntou severamente. -por que te comporta desta forma? -Quero te pertencer. - disse Sara com o rosto ruborizado. -Fica tão mal de minha parte, se estaremos casados em só uns poucos meses? -Sim, fica mau, e sabe. -suas bochechas ficaram tão vermelhas como as suas. -As pessoas decente e temerosa á Deus teria a fortaleza moral para controlar seus impulsos animais ... -Isto soa a algo que diria sua mãe, não você. -Sara se apertou contra ele apaixonadamente. -Necessito-te. -sussurrou, dando beijos rápidos sobre sua bochecha e seu queixo. O sangue corria depressa por suas veias. -Necessito que me ame, Perry ... Aqui ... Agora. -Com urgência arrastou para um montão de mantas cuidadosamente dobradas e uns fardos de feno. Perry deu uns passos inseguros. me faça tua. -murmurou Sara, e levantou a boca, separando seus lábios o bastante para permitir que sua língua vagasse sobre a superfície da sua. Bruscamente Perry respirou fundo e a afastou. -Não! -Ele a olhou fixamente com uma mistura de acusação e desejo.-Não quero isto! E sem dúvida não quero te beijar como se fosse uma puta francesa! Sara deu um passo atrás e sentiu que seu rosto ficava rígido. Era como se estivesse fora de si mesma, observando a cena na distância. -O que pretende? -perguntou acaloradamente. Provar que te amo? -Sim.-gaguejou. -eu... Suponho que sou. A confissão não gerou nenhuma compaixão ou compreensão. Em troca, pareceu ultrajá-lo ainda mais. -Que audácia! Quando penso na moça modesta e inocente que foi uma vez ... Por Deus, atua mais como sua maldita Mathilda que como você mesma! Começo a suspeitar que sucumbiu às insinuações de algum patife em Londres. Que mais explicaria seu comportamento? Uma vez poderia ter pedido seu perdão. Mas agora suas acusações deram início a suas próprias emoções em uma explosão candente. -Possivelmente depois de quatro anos estou farta de te amar castamente! E se te pergunta sobre minha virgindade, ainda a tenho, muito bem que me faz! -Parece estar muito mais informada agora que antes de partir! -Talvez estou.-disse imprudentemente.-Você pensa que outros homens poderiam me desejar? Que possa me haver beijado outro além de você? -Sim, incomoda-me! -Perry estava tão enfurecido que seu formoso rosto estava manchado de púrpura e branco.-Incomoda-me tanto que reconsiderei minha proposição.-Ele articulou cada palavra como o estouro de uma correia de couro. Salpicaduras de saliva caíram em seu queixo. -Amava-te como a primeira vez, Sara. Mas não te quero como é agora. Se quer ser a próxima Sra. Kingswood,

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terá que encontrar algum modo de voltar a ser a moça da qual me apaixonei. -Não posso. -Sara começou a sair do estábulo lançando palavras sobre seu ombro.- Pode dizer a sua mãe que o compromisso está desmanchado! Ela estará encantada, estou segura. -Ela sozinha sentirá pena e compaixão por você.-Sara se deteve bruscamente e voltou a olhá-lo. -É isso o que realmente pensa? -Ela sacudiu a cabeça com incredulidade. Pergunto-me por que pensou que necessitava de uma esposa absolutamente, Perry. Por que te casar quando tem a ela para cuidar de você? Se decidir fazer a corte a outras moças no povoado, logo descobrirá que poucas estão dispostas a tolerar as formas arbitrárias de sua mãe. De fato, não posso imaginar a uma que aceitaria os dois. Enquanto saía correndo do estábulo, Sara acreditou gritar seu nome, mas não reduziu a marcha de seu passo. Estava agradecida pela corrente de honrada indignação que a sustentava. Dirigindo-se de volta a casa, repetiu de novo a cena várias vezes em sua cabeça, sentindo umas vezes furiosa e outras rancorosa. Quando alcançou sua casa, fechou de repente a porta da rua com tanta força como pôde. -acabou. -disse repetidamente, afundando-se em uma poltrona e sacudindo a cabeça com incredulidade. -acabou-se, acabou-se. Não foi consciente de exatamente quanto tempo passou antes que seus pais voltassem para casa. -Como estava o reverendo Crawford? -perguntou de maneira aborrecida. -Magnífico!-respondeu Katie. -Ainda tem a doença no peito, entretanto sua tosse está melhor que a semana passada. Temo que mereceremos outro sermão para ouvir no. Domingo. Sara sorriu ligeiramente, recordando quão rouca que tinha sido a voz do reverendo no domingo anterior. Tinha sido impossível para a maior parte da congregação ouvir, sobre tudo para os paroquianos mais velhos. Ela começou a levantar da poltrona, mas Isaac deixou cair uma carta em seu colo. Estava dirigida a ela. -Isto foi entregue ontem no povoado. -disse.-Papel refinado, um selo de lacre escarlate .... Deve ser de uma pessoa muito importante. Devagar Sara pegou a carta de sua mão, olhando a letra delicada e o elaborado brasão de selo sobre o dorso. Consciente dos olhares interessados de seus pais rompeu o selo e desdobrou a suave textura do pergaminho ... Silenciosamente leu as poucas linhas primeiras. Minha Querida senhorita Fielding, Nessa a encantadora ocasião em que nos conhecemos, recordo-a freqüentemente, e devo confessar, com muita curiosidade. Eu adoraria ouvir seu relatório do baile, e possivelmente ter tempo para comentar nossa relação durante o próximo fim de semana ... Sara leu mais e logo elevou a vista os rostos curiosos de seus pais. -É da condessa de Wolverton. -disse estupefata de assombro. -Tive a oportunidade de conhecê-la enquanto estava em Londres. -O que diz a carta? -perguntou Katie. Sara voltou a baixar o olhar à carta. -Ela ... Ela me convidou a ficar em Raiford Park durante um fim de semana em Hertfordshire. Haverá um baile, magníficos jantares, foguetes... Mais de duzentos convidados... Ela escreve que necessitam de alguém ' brilhante ' como eu para animar a conversa... -Sara soltou uma gargalhada incrédula. -Realmente não

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posso pensar em convidar a alguém como eu a uma reunião da alta sociedade. Baixando à carta, Katie a sustentou e entortou os olhos em um esforço por lê-la. -Que extraordinário! -É totalmente impossível aceitar. -disse Sara. -Não tenho roupa apropriada, nem uma carruagem privada, e não conheceria uma alma ... -E Perry não aprovaria. -advertiu seu pai. Só ouvindo o comentário pela metade, Sara sacudiu a cabeça confusa. -por que desejaria ela minha presença em um acontecimento desta classe? -Sara conteve a respiração quando uma terrível idéia lhe ocorreu. Possivelmente Lily pensava que convidar a uma camponesa serviria como diversão para seus sofisticados convidados. Encontrariam o mar de diversão tirando sarro de uma tímida novelista vestida com simplicidade entre eles. O retumbar de seu pulso pareceu encher seus ouvidos. Mas quando recordou o sorriso brilhante de Lily Raiford, envergonhou-se de suas próprias suspeitas. Ela consideraria o convite de Lily como o gesto bondoso que era. -Imaginar a pequena aristocracia que assistirá. -disse Katie, examinando a carta.-Devo lhe ensinar isto aos Hodges, logo darão crédito quando eu contar que minha filha tem amizade com uma condessa! -Não há diferença entre uma condessa e uma leiteira aos olhos de Deus. indicou Isaac, inclinando-se para remover os carvões no ralo. -Lady Raiford é uma mulher única. - refletiu Sara. -Ela é vivaz, amável, e muito generosa. -Uma mulher com seus recursos pode permitir-se ser generosa. -comentou seu pai com os olhos brilhantes. -Imagino que haverá um sortido de gente em sua casa. -seguiu Sara. Possivelmente inclusive ... -mordeu o lábio e tentou acalmar o caos repentino de seus pensamentos. Era possível que Derek Craven estivesse ali. Ele era intimo amigo dos Raiford. Ainda mais razão para não ir, disse-se a si mesma... Mas seu coração sussurrou uma mensagem diferente. Horas mais tarde, quando seus pais estavam torrando-os pés diante do fogo e lendo passagens da Bíblia, Sara se sentou com uma mesa portátil e uma folha de seu melhor papel de carta. Com cuidado banhou uma pluma em um pequeno pote de tinta e começou a escrever. Sua mão tremia um pouco, mas de algum modo foi capaz de manter as palavras igualadas e formadas. Minha querida lady Raiford, é com prazer que aceito seu gracioso convite para o próximo fim de semana em Raiford Park .... O aroma adstringente da genebra impregnava o ar dos andares acima do clube de jogo. Apesar dos melhores esforços das criadas por manter o lugar tão imaculado como sempre, pouco podia fazer para reparar a destruição que Derek tinha provocado durante as últimas semanas. As grossas cortinas de veludo e os elaborados tapetes estavam arruinados por manchas de licor e queimaduras de charuto. Uma mesa incrustada com pedras semipreciosas tinha sido marcada pela bota despreocupadamente sobre sua frágil superfície. Lixo e roupa jogada estavam pulverizadas pelo chão. As janelas estavam cobertas para não deixar entrar a luz. Com cautela Worthy se aventurou muito mais no quarto, tendo a vaga sensação de misturar-se dentro da cova de uma besta mal-humorada. Encontrou ao Derek convexo sobre seu estômago atravessado em uma cama desfeita. Pernas largas e pés nus penduravam sobre a beira do colchão. Havia uma garrafa de genebra vazia no chão, atrás de várias horas bebendo interrumpidamente. As costas de Derek se esticou sob a grosa seda de seu roupão quando se deu conta do visitante.

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-Tomou seu tempo. -disse-se sem elevar o olhar.-Traz aqui. -Trazer o que, senhor? A negra cabeça despenteada se levantou. Derek sujeitou um turvo olhar feroz sobre o encarregado. Sua boca estava bordejada com linhas profundas. A cor branca de sua pele fazia a cicatriz de seu rosto mais evidente que de costume. -Não brinque comigo. Sabe que peso outra garrafa. -Senhor, não quer de uma bandeja de comida em seu lugar? Não comeu nada desde ontem pela manhã... E você despreza a genebra. -É leite materno para mim. Traga o que te pedi, ou encontrará seu intrometido traseiro nas ruas. Tendo sido ameaçado com a demissão quase cada dia durante o último mês, Worthy se atreveu não fazer caso do comentário. -Sr. Craven, que eu saiba nunca se comporta desta maneira. Não foi você mesmo desde... -Desde quando? -incitou Derek, que de repente parecia com uma pantera em tensão para atacar. O efeito se estragou por um arroto ébrio, e baixou cabeça enrugada uma vez mais. -Está claro para todos que algo anda mal. -persistiu Worthy.m-A estima que lhe tenho me impulsiona a falar francamente, inclusive se isto significa a perda de minha posição no Craven'S. A voz de Derek foi amortecida pelas mantas. -Não estou escutando. -Você é melhor homem do que se imagina senhor. Nunca esquecerei que me salvou a vida. OH, sei que me proibiu de mencionar isso alguma vez, mas é verdade, entretanto. Eu era um estranho para você, e entretanto se encarregou de evitar que me pendurassem. Faz anos Worthy tinha sido o segundo mordomo de uma casa aristocrática em Londres. Ele tinha estado apaixonado por uma das criadas, que tinha roubado um colar de pérolas e rubis da senhora da casa. Em lugar de permitir que seu amor fosse detida e enforcada pelo roubo, Worthy tinha atribuído a responsabilidade. Tinha sido retido em Newgate para a execução. Ouvindo a história da grave situação de Worthy por um dos criados no clube, Derek se tinha aproximado de um magistrado local assim como a um funcionário da prisão, usando a partes iguais o suborno e a coação para liberar o segundo mordomo. Em Londres se dizia que Craven poderia falar até pelos cotovelos. Só ele poderia ter arrancado um desgraçado presidiário diretamente das vísceras de Newgate. A primeira vez que Worthy tinha visto Derek Craven estava na porta de sua cela na prisão, levando uma expressão de sardônica diversão. -Então você é o idiota que vai ser pendurado por roubo? -S-sou, senhor. -gaguejou Worthy, olhando como Derek lhe dava um maço de bilhetes ao guarda da prisão. -Mais lealdade que inteligência. -tinha observado Derek com um sorriso. Tal como esperava. Bem, pequeno pássaro de forca, poderia te usar como encarregado para em meu clube. A não ser que prefira deixar que o carrasco te pendure amanhã? Worthy fazia algo por gratidão exceto beijar seus pés, e o tinha servido fielmente depois. Bom, embora visse o estado no qual tinha caído seu decidido e próspero patrão, ele estava confuso em saber como lhe ajudar. -Sr. Craven, -disse timidamente, -entendo por que se faz isto a si mesmo. um espasmo de dor cruzou seu rosto. -Eu estive apaixonado uma vez.

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-Recordo. Sua nobre aventura com a ladra de anéis. Worthy ignorou a brincadeira e continuou em um tom tranqüilo, sério. -Durante dez anos não aconteceu um só dia no qual não tenha pensado nela. Ainda posso ver seu rosto diante de mim, tão claro e brilhante como nada mais em minha memória. -Maldito idiota. -Sim, senhor. Não há nenhuma lógica para isso. Ninguém pode explicar por que uma mulher pode arrancar o coração de um homem de seu peito, e não soltálo. Para você essa mulher é a senhorita Fielding, verdade? -Fora. -disse severamente, cravando os dedos na roupa enrugada da cama. -Senhor, inclusive se a perdeu, deve conduzir sua vida de maneira que honre seus sentimentos por ela. A entristeceria te ver assim. -Fora! -Muito bem, senhor. -E faça subir outra garrafa de genebra. -Murmurando seu consentimento, o encarregado abandonou o quarto. Possivelmente mais tarde Derek notaria que a genebra nunca foi entregue, mas por agora caiu em um esquecimento ébrio. Sonhos sem sentido flutuavam por sua cabeça enquanto ele se movia nervosamente e resmungava inconscientemente. Em meio das sombras furiosas, fez-se consciente do corpo de uma mulher apertado contra o seu. Pequenas mãos escorregaram dentro de seu roupão e afastaram o tecido. Seu corpo ficou rígido pela excitação. Avidamente se apertou contra ela, procurando a fricção deliciosa de sua mão fechada ao redor dele. Aproximando-a mais, cavou o peso sedoso de seus seios em suas mãos. Ardendo com a necessidade de introduzir-se dentro dela, rodou sobre ela e afastou os joelhos para colocar na sua entrada. Ele arrastou sua boca sobre seu pescoço e respirou com veemência contra o rastro úmido que tinha deixado. Gemendo apaixonadamente, ela se arqueou contra ele e rodeou seus ombros com os braços. -Sara. -gemeu contra seu ouvido quando começou a empurrar dentro dela. OH, Sara ... De repente umas garras parecidas com uma faca arranharam suas costas, cravando-se profundamente em vingança. Derek ofegou dolorosamente surpreendido. Levantando-se para trás para evitar os arranhões, agarrou os punhos magros da mulher e as segurou a ambos os lados de sua cabeça. Lady Joyce Ashby estava debaixo dele, o olhando. Seus dedos estavam curvados em garras, as pontas molhadas por seu sangue. -Bastardo brincalhão, - cuspiu. -Jamais me chame pelo nome de outra mulher! Derek ouviu um rugido surdo que não reconheceu como próprio. Suas mãos apertando ao redor de seu pescoço. Uma espessa neblina vermelha o rodeava. Cravou os dedos em sua garganta, obstruindo os atalhos de sangue e ar até que seu rosto se voltou a cor. Olhava fixamente com uma careta torcida de triunfo, como se alegrasse de seu cruel apertão sobre sua garganta. Justo quando seus olhos começavam a virar para trás, ele a soltou com um grunhido selvagem e saltou da cama. Joyce amontoou entre as mantas enredadas. O quarto estava cheia do som de seu violento afogamento. Apertando uma mão trêmula ao redor do trinco da, Derek chamou Worthy. Aturdido caminhou até a janela e rodeou com o roupão. Esfregou o queixo sem barbear, a barba tão áspera como arame. -Louco como um pião. -resmungou. Não estava claro se ele se referia a

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Joyce ou a ele. -O que te deteve de me matar? Ela finalmente recuperou o fôlego para falar. Ele não a olhou. -Não morrerei na forca por seu assassinato. -Eu gostaria de morrer, - e te levar comigo. Derek se repugnou com a cena, provocando náuseas. Era um eco de seu passado, um aviso de que os anos de depravação sempre o atormentariam, fazendo impossível qualquer classe de vida normal. O gosto ácido da derrota encheu sua boca. Worthy apareceu, com uma expressão de vaga surpresa quando viu a loira mulher nua sobre a cama de Derek e seu vestido atirado no chão. -É lady Ashby.-disse Derek de maneira cortante, andando para a porta. O sangue das marcas de unhas em suas costas encharcava seu roupão. -Averigua como entrou aqui. Procura saber quem quer que seja responsável por permitir ela entrar. -Seus olhos entrecerrados viraram para a mulher sobre a cama ao encarregado. -Se alguma vez voltar a pôr o pé em Craven's, a matarei. Joyce levantou sobre suas mãos e joelhos como um gato dourado. Os fios de seu cabelo caíram a seu rosto, e olhou para Derek atentamente através das mechas brilhantes. -Quero-te. -gemeu. Algo em seu tom enviou um calafrio descendo pela coluna de Derek... Um insistente selvagem que advertia que jamais admitiria a derrota. -Vai-te ao inferno. -Disse enquanto abandonava o quarto. A carruagem alugada viajava pelo passeio de uma milha que conduzia a porta do século quinze da casa, através de um exuberante parque ajardinado. Finalmente o veículo alcançou a esplêndida mansão Raiford. Os joelhos de Sara ficaram fracos enquanto olhava fixamente por um canto da janela da carruagem. -OH, caramba! -sussurrou. Um tremor a percorreu da cabeça até os dedos dos pés. Mais que definitivamente não pertencia aquele lugar. A reluzente mansão branca estava encabeçada com dez muito altas colunas e vinte janelas, e balaustradas ornamentais esculpidas em pedra que governavam toda a largura do edifício. Uma régia procissão de tubos de lareiras e muitas altas projeções sobre o terraço davam à mansão o aspecto de apontar ao céu. Antes que Sara tivesse coragem de mandar o condutor voltar para Greenwood Corners, a carruagem se deteve. Dois gigantescos criados com expressões cuidadosamente calmo ajudarão-na a descer da carruagem. Sara foi introduzida na fileira de degraus circulares que conduziam ao pátio da frente. Um mordomo alto com barba cinza apareceu na porta, acompanhado pelas governantas. O mordomo tinha sido esculpido em granito. Sorriu-lhe e começou a procurar em sua bolsa a carta de Lily. -Senhor, tenho um convite de Lady Raiford ... Ele pareceu reconhecê-la, possivelmente pela descrição de Lily. -Certamente, senhorita Fielding. -Ele deu uma olhada em seu singelo vestido cinza, e o chapéu , e ao chamativo xale grande bordado que uma das mulheres do povoado tinha emprestado. Um pouco de sua altivez pareceu derreter-se. -Estamos honrados por sua presença. Antes que pudesse agradecer pelo tratamento, foi interrompida pela entusiasta voz de Lily Raiford. Até que fim está aqui! Burton,devemos nos esforçar muito para fazer com que a senhorita Fielding se sinta como em sua casa. -Usava um vestido comprido

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de caxemira cor limão, com as mangas de uma seda tão fina que eram mencionadas por costureiras como papillon, " ou pele de mariposa, " Lily estava impressionantemente formosa. -OH, por favor não se incomode ... -protestou Sara, mas as palavras se perderam no bate-papo animado de Lily. -chegaste bem a tempo, querida. -Lily a beijou em ambas as bochechas à maneira do continente. -Todos dentro estão fazendo observações cínicas e acreditando-se bastante engenhosos. Você será uma baforada de ar fresco. Burton cuide de que as bolsas da senhorita Fielding seja levada a seu quarto enquanto a levo para dar uma volta. -Eu deveria me arrumar.-disse Sara, sabendo que sua roupa estava enrugada pela viagem e seu cabelo despenteado, mas Lily já a arrastava pela entrada. Burton lançou a Sara um piscar de olhos e se virou para dar às boasvindas as outras carruagens que chegavam. -Todos estamos bastante informais hoje. -disse Lily. -Aparecerá novos convidados cada hora. Não há atividades planejadas até o baile desta noite. Os cavalos e carruagens, os livros na biblioteca, a sala de música, e qualquer outra coisa que te ocorra está tudo a sua disposição. Chama sempre que desejar. -Obrigado.-Sara olhou fixamente com admiração o salão de mármore branco. Uma magnífica escada com o corrimão dourado mais elaborado que já tinha visto se dividia em dois majestosos arcos curvados que conduziam as primeiras entrada da mansão. Lily levou voando pela grande entrada principal, uma profunda sala com um teto em forma de barril, adornado com molduras no teto, e a atmosfera solene de uma catedral. -Os homens farão uma excursão de caça pela manhã e jogarão bilhar pela tarde. As mulheres bebem chá, cochichamos, e dormimos à tarde. Todos nos juntamos para jogar às charadas e às cartas a noite. É realmente sufocante. Você enfastiará até chorar, asseguro-lhe isso. -Não, absolutamente. -Sara se esforçou por igualar o passo enérgico de Lily enquanto avançavam por uma longa galeria da parte de trás da mansão, revestida de espelhos e pinturas em uma lateral e portas-janelas no outro. Através das portas com painéis de vidro podia ver os limites de um grande e solene jardim. Enquanto Lily conduzia Sara á diante dos salões desenhados para pequenas reuniões, grupos de homens e mulheres as olhavam com curiosidade. A sala de música estava cheia com um grupo de tagarelas e moças rindo tontamente. Lily as saudou com a mão alegremente sem romper seu passo. -Algumas das famílias distinguidas apresentarão suas filhas no baile para sua primeira temporada. -disse a Sara.-Para elas será menos que uma prova aqui que em algum salão congestionado de Londres. Mostrarei a você o salão de baile neste momento, mas primeiro... Fizeram uma pausa na entrada do salão de bilhar, um salão exclusivamente masculino adornado por damasco, couro, e revestido de madeira escura. Os cavalheiros de idades variadas vadiaram ao redor da mesa de bilhar de mogno esculpida. A fumaça de seus charutos rodeava os abajures com tela no alto. -Cavalheiros, -Lily informou à sala em geral,-vim para lhes dizer que devo abandonar o jogo para lhe mostrar a minha nova convidada a casa. Lansdale, possivelmente tomaria meu lugar na mesa? -Farei, mas nem a metade de atrativamente. -comentou alguém. Ouviam diversas risadas ao redor do salão.

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Lansdale, um homem de meia idade, de estatura excepcionalmente baixa, mas que possuía um formoso rosto aquilina, observou Sara com descarado interesse. -Possivelmente, lady Raiford, ficaria no jogo de bilhar e me permitiria mostrar a casa a sua convidada. -Tem cuidado com este, cordeiro. De fato, não confie em um só destes homens. Conheço todos, e posso garantir sem rodeios que debaixo dessas atrativas aparências são uma manada de lobos. Sara pôde ver como o comentário de Lily encantou aos homens, que sem dúvida alguma vez pensavam em si mesmos como depredadores, barrigudos e com entradas não obstante. -Ao menos nos permita uma breve apresentação. -sugeriu Lansdale, avançando. -Sua senhorita Fielding é absolutamente a criatura mais adorável que vi em todo o dia. -Tomando a mão de Sara, ele se inclinou e imprimiu um respeitoso beijo sobre o dorso. Sara se ruborizou pela sugestão, enquanto vários homens riram. Fazendo rodar os olhos, Lily dirigiu um comentário a Sara. Lírio se obrigou de boa vontade. -Meus senhores Lansdale, Overstone, Aveland, Stokehurst, Bolton, e Ancaster, eu gostaria de lhes apresentar à senhorita Sara Fielding, uma autora com talento e uma encantada conhecida minha. Sara convocou um tímido sorriso e uma reverência enquanto eles a faziam uma reverência individualmente. Ela recordou em segredo terem observado alguns deles no clube de jogo. E se não estava equivocada, tinha conhecido o duque de Ancaster durante sua farsa como Mathilda. Apesar de sua herança nobre e porte solene, ele tinha comportado mal no baile, adulando-a ebriamente e perseguindo depois uma das fulanas da casa. Seus lábios se moviam nervosamente, mas sua diversão se apagou pelas seguintes palavras despreocupadas de Lily. -Ah, e esse que parece mal-humorado vertendo um brandy é meu querido marido, Lorde Raiford. Ao lado dele está o Sr. Craven, quem como pode ver tem afeição a espreitar em cantos escuros. Sara apenas se fixou no corpulento marido loiro de Lily. Seus redondos olhos azuis voaram à forma fraca, sinistra que se separava das sombras. Ele se inclinou como outros, com um movimento impecavelmente cheio de graça para um homem tão grande. Não havia nenhum sinal de reconhecimento em seu rosto. O ar de dureza e masculinidade vital era o mesmo que recordava. Sua pele parecia tão morena como a de um pirata contra o linho branco como a neve de sua gravata. A cicatriz de seu rosto se apagou, de modo que seus intensos olhos verdes dominassem todos os outros traços. Desde perto em uma pequena sala com estes homens de natureza delicada, ele parecia uma pantera que anda em companhia de gatos caseiros. Sara não poderia haver dito uma só palavra para salvar sua vida. Sentia a boca como se estivesse cheia de pó. Os outros ocupantes da sala não poderão evitar notar o repentino silencio elétrico. Trocaram-se umas olhadas, e se elevaram as sobrancelhas expressivamente um quarto de polegada mais ou menos. Os sensíveis nervos de Sara tilintaram em advertência quando Lorde Raiford se aproximou dela. Devagar elevou os olhos para olhar o corpulento marido loiro de Lily, cujos largos ombros bloquearam a vista dos cavalheiros. Os traços parecidos com um falcão de Lorde Alex Raiford estavam suavizados por um par de quentes olhos cinza e cabelo dourado da cor do trigo

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amadurecido. Ele sorriu e tomou a mão, apertando-a entre suas enormes mãos em uma inesperada iluminação de formalidade. -Somos afortunados de ter nossa casa honrada por sua delicada presença, senhorita Fielding.-Ele enfocou um olhar irônico a Lily.-suspeito que minha esposa ainda não lhe deixou uns minutos para restabelecer-se de sua viagem. -Eu somente estava acompanhando Sara a seu quarto. -protestou Lily, baixando a voz quando os homens voltaram para seu jogo. -Mas tinha que me deter aqui primeiro. Não podia abandonar a todos sem uma palavra, verdade? Soltando a Sara, Alex se aproximou de sua esposa e murmurou para ela debaixo do queixo. -Sei exatamente o que está tramando. -advertiu brandamente, em um tom que outros não podiam ouvir.-Minha formosa, intrometida e pequena briguenta, por uma vez não podia deixar que outros dirigisse seus próprios assuntos? Lily sorriu com descaramento. -Não quando eu posso dirigi-los muito melhor. Alex passou o polegar ligeiramente sobre o queixo de Lily. -Uma opinião que Craven não compartilhava, encanto. Lily se inclinou mais perto dele e respondeu em um murmúrio apenas audível. Sara afastou seu olhar enquanto os dois se afastavam e cercavam um intercâmbio sussurrado. Ela não queria escutar dissimuladamente uma conversa particular. Entretanto, captou uns reveladores pedaços enquanto falavam ao mesmo tempo. -.... Derek não sabe o que é bom para ele.-dizia Lily. -..... sua preocupação deveria ser o que é bom para a senhorita Fielding ... -Mas não entendo como ... -....entendo todo muito bem.-terminou Alex, e se olharam nos olhos provocativamente. Sara sentiu que se ruborizava. Havia uma evidente atração entre os dois que a fizeram parecer uma intrusa em uma cena íntima. Estava claro que Lorde Raiford teria gostado de falar mais com Lily, mas ele a deixou ir a contra gosto e deu uma olhada de admoestação. "te comporte" era a mensagem silenciosa mas inequívoco. Lily fez uma careta e olhou ao redor dele para dizer adeus com a mão de Lansdale e Aveland. -Desfrutem do jogo, cavalheiros. -gritou. Eles responderam com murmúrios de assentimento. Derek Craven estava em silêncio, ignorando com frieza a saída das mulheres. Desalentada Sara seguiu Lily pelo vestíbulo atapetado. O comportamento de Craven tinha sido uma surpresa desagradável. Ela se arreganhou silenciosamente por pensar que ele na realidade poderia alegrar-se de vê-la. Em trocasse parecia provável que ele a ignoraria durante todo o fim de semana. Aproximaram-se de uma fila de suítes de convidados na asa oeste, cada uma com seu próprio vestido e salão. o quarto de Sara estava decorada em tons de lavanda e amarelo. O elaborado jardim debaixo era visível de um par de janelas com cortinas divididas penduradas. Perambulando até a cama com colunas estriadas, Sara tocou uma dobra das cortinas da cama. Estavam bordadas para fazer conjunto com delicado desenho floral revestido. Lily abriu um armário para pegar a roupa para Sara. Em um tempo notavelmente curto, as garçonetes tinham desempacotado seus escassos pertences com irrepreensível eficiência. -Espero que goste. -disse, franzindo ligeiramente o cenho quando viu a expressão de Sara.

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-Se preferir outra... -É preciosa. -assegurou-a Sara, e fez uma careta sardônica. -é só que... Possivelmente deveria partir. Não desejo causar problemas. O Sr. Craven sente mal com minha presença aqui. E está zangado com você por convidar-me. A forma em que ele te olhou... -Gostaria de me estrangular. – admitiu Lily alegremente. -Devagar. Mas a forma em que te olhou... Santo Deus, não tem preço! -Ela solto umas gargalhadas. O que se sente ao ter o homem mais inalcançável da Inglaterra a seus pés? Os olhos de Sara se arregalaram como pratos. -OH, ele não está... -A seus pés. -repetiu Lily. Quando penso em todas as vezes que me enfureceu por atuar com superioridade e insensibilidade, controlando-se tão completamente a si mesmo e a tudo ao seu redor... Ela sacudiu a cabeça, rindo entre dentes. -Não me interprete mal. Adoro o grande e realista pobre. Mas será o melhor coisa do mundo para ele se baixassem sua fumaça. -Se vão baixar as fumaças a alguém é a mim. -disse Sara entre dentes. Lily não pareceu haver entendido. Depois que Lily se fora para atender a seus convidados, Sara chamou uma criada que a ajudasse com seu banho. Apareceu uma criada francesa alguns anos mais velha que ela. A mulher era loira e baixa, com redondas bochechas rosadas e um sorriso cômico. -Je m'appelle Françoise. -informou a criada, pondo dois ferros perto dos carvões ao outro lado do ralo da lareira. Cansada Françoise ia e vinha pelo quarto, selecionando um vestido fresco do armário e sustentando-o para que Sara o vestisse. -Sim, esse estará bem. -disse Sara, tirando a jaqueta e o chapéu e desabotoando a frente de seu enrugado vestido de viagem. Sentou-se na pequena penteadeira de madeira acetinada e tirou as presilhas de seu cabelo despenteado. As mechas castanhas avermelhadas e douradas caíram por suas costas. Havia uma exclamação de alegria atrás dela. -Como seu cabelo é bonito, mademoiselle! -Reverentemente Françoise escovou a longitude pesada de cabelo até que ficasse uma Lisa cortina brilhante. -Fala você algo em inglês, Françoise? -perguntou Sara à criada sem estar convencida. Françoise encontrou seus olhos no espelho e sacudiu a cabeça com um sorriso. –Quem me dera o fizesse. Suponha-se que as francesas sabem tudo sobre os assuntos do coração. Necessito de algum conselho. Ouvindo a nota inconsolável de sua voz, Françoise disse algo que pareceu pormenorizado e alentador. -Não deveria ter vindo aqui, - seguiu Sara. -Abandonando Perry estraguei o que pensei que sempre quis. Apenas reconheço Françoise! Os sentimentos que tenho por outro homem são tão irresistíveis... Temo que possa tomar o que posso ter dele, não importa quão breve seja o momento. Se ouvisse alguma outra mulher confessar semelhantes pensamentos, condenaria-a como um idiota e pior. Sempre me considerei uma pessoa sensata, guiada mais pela razão que pela paixão. Não entendo o que me passa! Tudo o que sei é que a partir do momento em que o conheci... -interrompeu-se, incapaz de terminar a frase. Suspirando, esfregou-se a testa dolorida. -Não acredito que o tempo me ajude. Não o tem feito até agora. Houve um longo silencio enquanto a criada escovava o cabelo com relaxantes escovadas. Françoise tinha uma expressão pensativa, como se estivesse considerando a situação. Não importava que falassem línguas diferentes, qualquer

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mulher que alguma vez tivera sofrido a angústia poderia reconhecê-la facilmente. Finalmente a criada fez uma pausa no escovado e assinalou para o coração de Sara. -Faça o que diz seu coração, mademoiselle. -Seguir a meu coração? -perguntou Sara aturdida. -É isso o que diz? -Sim, mademoiselle. Agradavelmente a moça estendeu a mão a uma estreita cinta azul de seda e começou a tecê-la pelas mechas frouxas de cabelo. -Poderia ser muito perigoso. -sussurrou Sara. Vário minuto mais tarde Sara terminou de abotoar A alta gola de seu vestido cinza e comprovou seu aspecto no espelho. Estava satisfeita pelos resultados com esforços da criada. Seu cabelo tinha sido ordenadamente confinado no alto de sua cabeça em uma grossa trança, enquanto se tinham encaracolado umas mechas em sua testa. Agradecendo a Françoise, Sara deixou o quarto e perambulou pela magnífica escada. Nervosamente pensou unir-se a uma das reuniões das damas abaixo para tomar o chá e conversar. Esperava que as mulheres fossem amistosas, ou ao menos tolerantes com sua presença. Fazendo uma pausa na entrada para olhar uma escultura de mármore suspensa em um vão semicircular, Sara tratou de levantar sua coragem. Ela tinha um temor reverencial aos convidados, e os temia. Lily havia dito que a reunião incluía embaixadores, políticos, artistas, e até um governador das colônias de visita, a sua família. Sara bem consciente de que ela não tinha nada em comum com eles. Sem dúvida a considerariam torpe e áspera. Possivelmente era assim como se sentia Derek Craven, acotovelando-se com aristocratas que eram desdenhosamente conscientes de suas origens. Pobre Sr. Craven, pensou com compreensão. De repente ficou consciente de um comichão gelado em seu pescoço, e cada cabelo de seu corpo se arrepiou. Ela se virou devagar. Derek estava de pé atrás dela, apreciando longe de merecer a compaixão de alguém. Ele a olhava fixamente como um sultão cansado que inspeciona sua última aquisição feminina. Sua beleza escultural só era igualada por seu extraordinário autodomínio. -Onde está seu prometido? -perguntou em um tom pouco amistoso. Sara estava desconcertada por sua ameaçadora calma. -Não tenho... Quer dizer, ele... Não vamos casar. -Não te propôs matrimônio? -Não ... Bem, sim, mas... -Sara se distanciou instintivamente. Derek se moveu para pôr fim à distância entre eles. Enquanto falavam, ela seguiu afastandose pouco a pouco, e ele a seguiu como um gato à espreita. -O Sr. Kingswood me propôs matrimônio poucas noites depois de minha volta. -disse Sara ofegando. Aceitei. Fui muito feliz no princípio... Bom, não precisamente feliz, mas... -O que aconteceu? -Houve problemas. Ele disse que eu tinha mudado. Suponho tinha razão, embora... -Ele rompeu o compromisso? -Eu... Acredito que apresentamos razões para romper conjuntamente... Quando ele avançou para ela, ela se encontrou de costas em uma sala próxima, quase tropeçando em uma delicada cadeira dourada. -Sr. Craven desejo que deixe de rondar atrás de mim desta forma! Seu duro olhar era implacável. -Sabia que eu estaria aqui este fim de semana. -Não sabia!

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-Planejou isto com Lily. -Certamente que não, Ela se interrompeu com um assustado chiado quando ele a alcançou e a sujeitou fortemente as mãos sobre seus ombros. -Não posso decidir que pescoço retorcer primeiro, o meu ou o seu. -Ofende-se por eu estar aqui. -disse em voz baixa. -Preferiria estar de pé em um cubo de carvões que passar uma noite sob o mesmo teto que você! -Tanto me detesta? Os pulmões de Derek começaram a funcionar com dificuldade enquanto olhava fixamente seu rosto pequeno e encantador. A violenta alegria de estar perto dela fez com que seu sangue chispasse. Seus dedos se flexionavam repetidamente na suavidade de seus ombros, como se saboreasse a textura de sua carne. -Não, não te detesto. -disse, quase inaudivelmente. -Sr. Craven, esta me machucando. Seu apertão não se afrouxou. -Essa noite depois do baile... Não entendeu nada do que te disse, verdade? -Entendi. -E de todos os modos veio aqui. Sara se manteve firme, embora necessitasse de toda sua força para não desfalecer sob seu abrasador olhar feroz. -Tinha todo o direito de aceitar o convite de lady Raiford, - disse calmamente. -E não partirei, não importa o que me diga! -Então farei eu. -Muito bem! -para seu assombro, apropriou-se dela um impulso de zombar-se dele, e acrescentou, Se tiver tão pouco controle de ti mesmo e encontras necessário escapar de mim. Seu rosto estava completamente podado de toda expressão, mas ela podia sentir a fúria que ardia dentro dele. -Dizem que Deus protege os tolos e as crianças, por seu bem espero seja verdade. -Sr. Craven, acreditava que você e eu ao menos poderíamos conseguir ser civilizados um com outro durante um fim de semana... -por que demônio pensou nisso? -Porque nos arrumamos bem antes do baile, e... -balbuciou Sara em silêncio quando se deu conta de quão forte ele a sustentava. As pontas de seus seios roçavam seu peito. Suas saias fluíram brandamente ao redor de suas pernas. -Não posso arrumar isso agora.-Ele a agarrou inflexivelmente, até que ela sentiu a pressão quente de sua excitação pressionando contra seu estômago. Seus olhos ardiam como esmeraldas em seu rosto severo. -Posso te proteger de tudo exceto de mim. Ela sabia que seu afeto era deliberadamente doloroso. Mas em vez de resistir, relaxou-se contra seu duro corpo. Desejava mais que nada enroscar-se ao redor dele e esmagar sua boca contra o lugar onde o linho branco de sua gravata se encontrava com a suave pele morena. Suas mãos se aproximaram em seus largos ombros, e a olhou fixamente em silêncio. Derek temia que estivesse a pouca distancia de atacá-la. -por que não te casou com ele? -perguntou com voz rouca. -Não o amo. Ele sacudiu a cabeça confundido pela cólera, e abriu a boca para dar uma resposta cáustica. Ao parecer pensando melhor, fechou a boca com brutalidade, só para abri-la outra vez. Se o momento não fosse tão tenso, Sara teria rido. Em troca elevou o olhar para ele com impotência.

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-Como poderia havê-lo levado a serio quando não o amo? -Pequena idiota. Não é suficiente que estaria a salvo com ele? -Não. Eu desejo mais que isso. Ou nada absolutamente. -Sua cabeça escura se inclinou mais sobre a sua. Uma de suas mãos liberou seu ombro, e as pontas de seus dedos roçaram os delicados cachos de suas testa. Ele tinha os lábios apertados, como se suportasse uma tortura esquisitamente dolorosa. Sara fez um som inarticulado quando sentiu que seus dedos acariciavam a borda de sua bochecha. O resplendor de seu olhar era como a forte luz do sol. Se sentia como se afogasse nas profundidades de um verde ardente. Sua mão grande embalou sua bochecha e sua mandíbula, seu polegar analisou a suave superfície. -Tinha esquecido quão suave era sua pele. -murmurou. Ela estava ali de pé tremendo contra ele, além de todo sentido de orgulho e propriedade. Palavras impulsivas rondaram seus lábios. De repente ela se distraiu pela sensação de um objeto estranho debaixo de sua mão, apertando contra seu seio. Havia um duro vulto no bolso interior de seu casaco. Ela franziu o cenho com curiosidade. Antes que Derek desse conta do que ela fazia, ela colocou a mão dentro da roupa para investigar. -Não -disse rapidamente enquanto sua mão grande agarrava seu punho para detê-la. Mas era muito tarde, seus dedos já tinham encontrado o objeto e o tinham identificado. Com um olhar de incredulidade em seu rosto, Sara tirou os pequenos óculos que acreditou ter perdido no clube. -Por quê? -sussurrou, assombrada de que ele as levasse no bolso de seu peito. Ele encontrou seu olhar com insolência, apertou os lábios. Um pequeno músculo se contraiu em sua bochecha. Então ela compreendeu. -Tem problemas com sua vista, Sr. Craven? -perguntou com suavidade. -Ou é com seu coração? Neste mesmo momento ambos ouviram o som de vozes distantes no corredor de baixo. -Alguém vem. -resmungou, e a soltou. -Espera... Ele tinha ido a um instante, como se os cães do inferno estivessem lhe mordendo. Ainda agarrando os óculos, Sara mordeu o lábio. Em sua mistura selvagem de emoções, alívio de que ele ainda a desejasse, medo de que ele partisse nada era tão forte como o desejo de consolá-lo. Desejava ter o poder para assegurar que seu amor não a faria mal... Que ela nunca pediria mais do que ele pudesse dar. Atormentada por uma corrente de dificuldades, Lily procurou seu marido e o encontrou sozinho no salão de caça. Ele estava sentado em uma mesa com uma caixa de charutos vazia em sua mão. Alex sorriu ao vê-la, mas sua expressão mudou a um interrogativo olhar. -O que acontece, amor? Lily falou ainda mais rapidamente que de costume, um sinal seguro de sua frustração. -Para começar, a Sra. Bartlett exige que a troque de quarto, afirmando que a vista não a satisfaz, quando é absolutamente óbvio que o que realmente quer é estar situada ao lado de Lorde Overstone, com quem mantém uma maldita aventura... -Pois deixa que tenha o quarto. -Já esta ocupada por Stokehurst! -Alex considerou o dilema com evidente seriedade.

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-Não acredito que Stokehurst gostasse de encontrar-se com Overstone em sua cama.-refletiu, e riu dissimuladamente pela imagem dos dois velhos libertinos lascivos indo às escondidas pela mansão de noite para encontrar à deliciosa Sra. Bartlett. -OH, como ria, mas tenho ainda piores problemas para te contar. A cozinheira se sentiu mal. Nada sério, graças a Deus, mas se deitou e o resto do pessoal da cozinha tratou de organizar-se, e não posso garantir que esta noite o jantar será comestível. Alex fez um gesto depreciativo, como se fosse à menor de suas preocupações. Ele sustentava a caixa vazia. -Minha reserva de charutos acabou. Lembrou-te de pedir mais? -Esqueci. -admitiu com um suspiro pesaroso. -Merda. -Ele franziu o cenho.-O que supõe que vamos fumar os homens e eu enquanto tomamos nosso porto de sobremesa? -Você não gostaria de minha sugestão. -responde Lily. -OH, os meninos perderam o cachorrinho outra vez, Nicole diz que está em algum lugar na casa. Apesar de sua irritação pelos charutos, Alex riu. -Se esse maldito animal arruína mais heranças de família... -Só foi uma poltrona. -protestou Lily. Foram interrompidos pela entrada explosiva de Derek Craven. A beira da porta escorou na parede enquanto ele entrava no salão e fixava um violento olhar em Lily. -vou colocar te a força no poço mais próximo. Conduzida por um forte instinto de conservação, Lily passou roçando a toda pressa a Alex e se colocou sobre seu lado. -Posso convidar a todos que desejar a minha festa de fim de semana. defendeu-se, olhando para Derek de dentro o círculo protetor dos braços de seu marido. Os olhos de Derek ardiam com fogo verde. -Disse-te que jamais interferisse em minha vida da maneira em que o faz com outros... -Tranqüilo, Craven, - disse Alex com calma, apertando Lily fortemente para mantê-la calada. -Estou de acordo em que Lily de vez em quando vai muito longe com seu intrometimento. Mas é sempre com a melhor das intenções... E neste caso não vejo por que a presença de uma mulher pequena e tímida deveria afetar-te.-Ele arqueou uma sobrancelha avermelhada na tradição zombadora de seus antepassados aristocráticos.-Com toda sua experiência, certamente não considera à senhorita Fielding uma ameaça? Ambos os Raiford se assombraram em ver um rubor escuro cobrir o rosto de Derek. -Não tem nem idéia do problema que ela pode causar. Aquele comentário ganhou um olhar cético de Alex. -Ela não causará nenhum problema este fim de semana. -respondeu sem alterar-se.-Estamos todos aqui para alternar, desfrutar da paisagem, e tomar ar fresco. Olhando airadamente a ambos, Derek vacilou como se ansiasse dizer algo mais. Em troca partiu com uma maldição surda, passando as mãos pelo cabelo. Houve silencio quando os Raiford se olharam um ao outro. Alex respirou profundo de assombro. -Cristo. Nunca o vi comportar-se desta forma.

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-Agora acredita no que estive te dizendo? -exigiu Lily com satisfação. -Ele a adora. Tornou-se louco por ela. Alex não discutiu só se deu de ombros. -Ele negará até seu último fôlego. Lily se agachou contra ele. -Obrigado por me defender. Na realidade pensei que ele poderia tratar de esbofetear-me!Alex sorriu abertamente e acariciou seu corpo magro. -Sabe que nunca permitirei que ninguém te levante uma mão. Reservo esse privilegio para mim. -Eu gostaria de verte tentá-lo. -advertiu, e sorriu quando ele beijou o suave espaço perfumado atrás do lóbulo de sua orelha. -Lily, -murmurou, -tanto por meu bem como pelo teu, deixa esses dois tranqüilos. Eles resolverão o assunto si mesmos, sem nenhuma ajuda de sua parte. -É um pedido ou uma ordem? -Não me ponha à prova, carinho. -Embora seu tom fosse suave, não havia nenhum engano em nota de advertência nele. Sabendo melhor que zangar a seu marido quando ele estava com humor, Lily brincou com as pontas rangentes da gola de sua camisa. -Sempre suspeitei que tivesse sido melhor me casar com um covarde. queixou-se. Alex riu. -Sou exatamente o marido que te merece. -Temo-me que tenha razão. -respondeu, e lhe beijou amorosamente. De repente ele interrompeu o beijo e jogou para trás sua cabeça. -Lily ... Mencionaste a Derek que vão acudir os Ashby? Ela fez uma careta e negou com a cabeça. -Não pude reunir coragem para dizer-lhe Ele nunca acreditaria que eu estivesse de acordo em convidá-los com a maior relutância. -Meu pai e Lorde Ashby eram amigos íntimos. E Lorde Ashby foi um aliado meu no Parlamento. Não podia ofender o ancião negando um convite, inclusive sua esposa é uma zorra venenosa. -por que não explica você a Derek? Santo Deus, com ele e Joyce sob o mesmo teto, espero derramamento de sangue á qualquer momento! Durante a melhor parte da tarde Sara esteve enclausurada com um grupo de jovens cujo bate-papo entusiasta recordava às entrevistas. -O amor e o escândalo são os melhores adoçantes para o chá. -Rapidamente descobriu que seus medos a ser desprezada eram aguardados. As mulheres eram agradáveis e amistosas, e muito mais abertas que os amigos de povoado de Sara. Entre elas estavam a Sra. Adela Bartlett, uma viúva rica com uma figura opulenta e o cabelo vermelho brilhante, e lady Daphne Mountbain, uma morena de voz melodiosa com um grosseiro senso de humor. Duas jovens animadas estavam assentadas ao lado de Lily Raiford; lady Elizabeth Burghley e lady Penelope Stamford, a própria irmã de Lily. O grupo falava com escandalosa franqueza de seus maridos e amantes, trocando bons comentários e rindo baixo. Não aconteceu despercebida a Sara que as conversas destas damas aristocráticas tinha uma forte semelhança a aquelas das fulanas de Craven'S. Embora Lily parecesse desfrutar da reunião, seu olhar freqüentemente se afastava para janela. Sara adivinhou que ela teria preferido passear lá fora ou montar a cavalo, muito mais que estar encerrada aqui dentro. Notando a carência de participação de Lily na conversa, uma das mulheres se dirigiu a ela despreocupadamente.

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-Lily, querida, por que não nos falas de seu marido? Depois de todos estes anos de domesticidade, com que freqüência exige Lorde Raiford seus direitos conjugais? Lily as surpreendeu a todas se ruborizando. -Bastante freqüentemente. -disse com um sorriso privado, negando-se a dizer mais. Elas riram, e a olharam com inveja, já que Lily trazia a aparência de uma mulher felizmente casada, uma raridade entre a sociedade. Lady Mountbain se retorceu em uma esquina de um sofá acolchoado. Sua boca grande cor escarlate se estirou em um sorriso especulativo. -Já chega de falar sobre maridos. -declarou em sua voz áspera sedosa.Prefiro muito mais o tema dos homens solteiros, suas atividades são tão mais interessantes. Derek Craven, por exemplo. Há algo realmente animal nele. Sempre que ele está perto, não posso afastar os olhos do homem. Possivelmente é esse cabelo negro... Ou a cicatriz... -Sim, a cicatriz, -acrescentou Adela Bartlett distraidamente.-Faz-lhe parecer inclusive mais tosco. -Descaradamente cínico. -acrescentou outra em um tom entusiasta. Adela assentiu energicamente. -Alegra-me tanto que o convidasse ao fim de semana, Lily. É tão apaixonante, ter um homem perigoso por perto. Faz sentir que pode ocorrer algo. -Tolices.-disse Lily em resposta aos comentários. -Derek não é mais perigoso que aquele gato perto da lareira! Uns olhares se colocaram duvidosamente sobre o animal adormecido, um gato gordo e preguiçoso que tinha muito mais interesse em correr depois do jantar que atrás de outros felinos. Lendo sua incredulidade, Lily mudou o tema com habilidade. -Não mais conversamos sobre homens, são criaturas fastidiosas, e não há mais que dizer. Temos coisas mais importantes do que falar! -Por exemplo? -Adela claramente se perguntava o que poderia ser mais importante que os homens. -Por acaso mencionei que temos uma autora entre nós? -perguntou Lily alegremente. -Devem falar com Sara... Gostaram da novela Mathilda, não? Para impedir de atrair a atenção sobre si mesma, Sara tinha tomado um lugar discreto em uma cadeira do canto. De repente se encontrou enfocada por cada par de olhos. Uma corrente de perguntas excitadas estourou de repente. -Você escreveu Mathilda? -Querida, deve nos contar tudo sobre ela! Como se conheceram? -Como está ela estes dias? Sara sorriu e fez um valente intento de responder, mas logo achou que não importava o que dissesse, já que todas elas responderam suas próprias perguntas e seguiram falando. Com arrependimento Sara deu uma olhada para Lily, que sorriu abertamente e se deu de ombros com impotência para demonstrar que o grupo era incorrigível. Duas horas antes da hora do jantar designada, as mulheres começaram a dispersar-se para trocar de vestido e preparar-se para uma longa noite. Enquanto olhava ao redor do salão, Sara se deu conta de uma recém chegada, uma mulher loira a qual ainda não tinha sido apresentada. Embora as demais dessem a recém chegada saudações apagadas, ninguém pareceu inclinado a apresentá-la como amiga. Sara deu a volta em sua cadeira para dar uma olhada.

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A mulher era magra e muito imponente. Seu rosto estava marcadamente esculpido, o nariz aristocraticamente fino com uma ponta delicada. Os olhos cambiantes que tinham tons de azul, cinza, e verdes estavam situados profundamente debaixo de suas sobrancelhas depiladas. Um abundante cabelo de um dourado vivo estava coberto com uma franja em sua testa e subido no alto de sua cabeça em uma profusão de cachos descuidados. Se houvesse um pouco de calor em sua expressão, teria sido incrivelmente formosa. Mas os olhos da mulher estavam estranhamente apagados e eram duros, como pedaços de pedra. Seu firme olhar inquietou Sara. -E quem é você? -perguntou com uma voz sedosa. -A senhorita Sara Fielding, madame. -Sara. -repetiu a mulher, olhando-a especulativamente. -Sara. Incomodamente Sara deixou sua xícara de chá e começou a escovar miolos invisíveis de suas saias. Vendo que as demais abandonavam o salão, perguntou-se como poderia seguir o exemplo sem parecer grosseira. -De onde você é? -seguiu brandamente a mulher. -Greenwood Corners, madame. É um pequeno povoado não longe daqui. -Mas que doce é. Greenwood Corners. Certamente. Com uma tez tão pura como a de uma leiteira, você teria que ser do campo. E que encantador ar de inocência ... Você me faz sentir bastante protetora. Não está casada, já vejo. Me diga, Sara, tem algum homem que comercia seus afetos? Sara seguiu em silêncio, sem saber que pensar em responder a mulher. -OH, capturará uma soma de corações. -disse lady Ashby. -inclusive os mais endurecidos. Ninguém poderia resistir a uma formosa inocente como você. Acredito que poderia fazer acreditar um ancião que é jovem outra vez. Vá, você provavelmente poderia fazer com que um descarado renunciasse ao diabo ... -Joyce. -chegou a voz tranqüila de Lily Raiford. Ambas olharam para Lily, que trazia um insólito olhar de arrogância. Sara se levantou da cadeira, silenciosamente agradecida pelo resgate. -Estou segura de que minha amiga agradece todos estes aduladores comentários -Lily continuou com serenidade -mas ela é bastante tímida. Eu não gostaria que incomodasse a qualquer de meus convidados. -Que anfitriã tão consumada te tornaste, Lily. -ronronou Joyce, olhando fixamente para Lily com viva aversão. -Nunca suspeitaria que levasse uma vida tão animada. As ocultas tão bem. Mas não pode ocultar completamente os frutos de seu passado, verdade? -O que quer dizer com isto? -perguntou Lily, seus olhos se entrecerraram. -Quero dizer que sua adorável filha Nicole é um aviso constante de sua relação com Derek Craven. -Joyce se voltou para a Sara e acrescentou com suavidade.-Bom, parece surpreendida, querida. Acreditava que todo mundo sabia que Nicole é a filha bastarda de Derek Craven.

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CAPITULO NOVE Sara sentiu a luta interior de Lily por manter seu temperamento sob controle. Durante um momento pareceu que perderia a batalha. Sara tocou seu braço em um gesto silencioso de apoio, enquanto Joyce Ashby se fixou no gesto com um olhar zombador. Dominando-se, Lily comprimiu seus lábios até que estiveram brancos. Deu uma olhada a Sara. -Vamos lá pra cima? -Perguntou com uma voz ligeiramente tremula. A toda pressa Sara assentiu, e deixaram Joyce, que trazia um sorriso calculador. Alcançaram o segundo patamar da magnífica escada antes que Lily fosse capaz de falar. -Nicole é uma filha bastarda, mas Derek não é o pai. -Sara fez um pequeno som consolador na garganta. -Lily, não há necessidade de que me conte... -Cometi um engano faz vários anos, antes de estar casada. Alex ama minha filha como se fosse dele. Não me importa o que possam dizer sobre mim, mas Nicole é uma menina preciosa e inocente. Não posso suportar pensar que a castiguem por meus pecados. Graças a Deus há poucas pessoas que se atreveriam a atirar pedras. Lady Mountbain tem tantos filhos de pais diferentes que sua família é chamada a coleção de Mountbain. E Joyce Ashby tem os suficientes ex-amantes para formar todo um regimento. Maldita seja essa mulher! Não tinha a intenção de lhe contar isso, mas Joyce foi quem arrumou alguém que atacasse a Derek no bairro pobre. Sara conteve a respiração em uma mistura de surpresa e cólera, não só por Joyce, mas também por Derek. Como poderia ele ter mantido uma aventura com uma mulher assim? Bem, ele e lady Ashby eram da mesma classe! Assim como seria, sussurrou sua mente astutamente ... Sempre se enfrentado com as provas de seus pecados... Sempre precisando procurar desculpas para ele. Sara se perguntou, não pela primeira vez, que estava fazendo aqui. Com tristeza pensou em dizer a Lily que queria ir-se de Raiford Park. -Mantém afastada de Joyce Ashby. -estava dizendo Lily.-Se ela suspeitar que Derek tem sentimentos por você, fará coisas muito desagradáveis.-Balbuciou algo entre dentes, Lily subiu a escada dando pisões com um passo agressivo que Sara se esforço em seguir. Vêem comigo, quero te ensinar algo. Foram ao terceiro andar, aproximando-se de um conjunto de luminosos salões densamente atapetados que Lily explicou que eram a sala de aula, o quarto das crianças, e as quartos para a enfermeira e as duas criadas do quarto das crianças. O som de bate-papo infantil e risadas vagava do quarto infantil. De pé na entrada, Sara viu dois formosos meninos de cabelo negro, uma moça de oito ou nove anos, e um moço que parecia ter aproximadamente três. Estavam sentados sobre o tapete, rodeados por torres de blocos, jogos, e livros. -Estes são meus dois carinhos. -disse Lily com orgulho. Ambos elevaram a vista pelo som de sua voz e se precipitaram com impaciência. -Mamãe! Lily abraçou seus filhos e os virou para que ficassem de frente a Sara. -Nicole, Jamie, esta é a senhorita Fielding. É uma amiga muito agradável que escreve histórias. Nicole fez uma reverência com facilidade e a olhou com interesse.

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-Eu gosto de ler histórias. -Eu também! -interveio Jamie, rondando atrás das saias de sua irmã. -Jamie ainda não pode ler. -disse Nicole com dignidade. -Sim, posso! -disse Jamie, seu caráter faiscou. -Eu ensinarei! -Crianças, -intercedeu Lily, adiantando-se aos esforços do menino por trazer um livro, -faz um magnífico dia lá fora. Venham brincar na neve comigo. A enfermeira fazia um cenho de desaprovação. -Milady, se morrerem de frio. -OH, não manterei fora por muito tempo. -disse alegremente Lily. -Não terá tempo para preparar-se para o baile... -Nunca demoro muito em me trocar. -Lily sorriu abertamente a seus filhos.e além disso, brincar lá fora é muito mais divertido que ir á aborrecidos bailes de velhos. Dando um pulo com altivez, a enfermeira foi trazer os casacos de seus protegidos. -Posso levar uma de minhas bonecas, Mamãe? -perguntou Nicole. -Certamente, carinho. -Sara teve que sorrir pelo encanto pitoresco de Nicole quando a moça abria um armário de brinquedo pintado e envolvia em uma fileira de bonecas. O menino era uma pequena criatura em excesso elegante. Lily se inclinou para Sara confidencialmente. -Animo-a a ser tão selvagem como quero, mas não há maneira de convencêlo. É um pequeno anjo. Completamente diferente de mim. -Ela riu silenciosamente. -Espera até que tenha filhos! Sara, provavelmente serão umas perfeitas fantasias do diabo! -Não posso imaginar disse Sara, tratando de imaginar-se como mãe. Um sorriso melancólico cruzou seus lábios. -Não sei vou. Algumas mulheres não estão destinadas a ter filhos. -Você sim.-respondeu Lily com firmeza. -Como sabe? -Com sua paciência e bondade, e todo o amor que tem para dar... Bom, será a melhor mãe do mundo! Sara riu ironicamente. -Bem, agora que isto foi estabelecido, tudo o que preciso é alguém para engendrá-los. -O baile desta noite estará infestado de solteiros elegíveis. Para o jantar te assentarei entre dois dos mais prometedores. Trouxeste o vestido azul? Bem. Espero que escolha a qualquer homem que deseje. -Não vim à caça de marido. -começou Sara com inquietação. -Bem, isso não significa que ignore qualquer boa perspectiva que se cruze em seu caminho, verdade? -Suponho que não. -murmurou Sara, decidindo não abandonar a festa de fim de semana. Agora que estava aqui, achava que não havia nada de mal em ficar. Vestidos com seus esplêndidos ornamentos de noite, os convidados se reuniram no salão e começaram a longa e complicada procissão na sala de jantar, uma opulenta sala com um teto de cinqüenta pés. Com os casais organizados segundo a ordem categoria, importância, e idade, as damas se agarraram ligeiramente no braço direito dos cavalheiros e se passearam até as duas mesas longas, cada uma das quais acomodaria a cem convidados. As mesas estavam carregadas de inumeráveis cristais, prata, e refinada porcelana decorada. Sentada entre dois jovens encantados, Sara se encontrou desfrutando do

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jantar enormemente. A conversa era fascinante, pela mesa se incluíam poetas citando seus últimos trabalhos e embaixadores narrando divertidas histórias da vida no estrangeiro. Cada poucos minutos as taças eram levantadas para uma ronda de brinde, elogiando ao anfitrião e à anfitriã, a qualidade da comida, a saúde do rei, e toda outra idéia que encontraram os convidados como merecimento. Criados com luvas brancas se moviam silenciosamente entre os comestíveis, levando pratos empanados amadurecidos, pequenos suflês, e pratos de vidro com bombons para degustar entre pratos. Depois que se retirassem as grandes sopeiras de prata de sopa de tartaruga e os pratos de salmão, tiraram-se grandes fontes de assados, aves, e caça menor. A comida concluiu com champanha gelada, bolos, e uma deliciosa seleção de frutas. Tiraram-se as toalhas das mesas, e os cavalheiros se recostaram em suas cadeiras para desfrutar da excelente reserva de Lorde Raiford de vinho branco de Ring, xerez, e o porto, e fumar charutos enquanto falavam de interesses masculinos como a política. Enquanto isso as damas se retiraram da sala separadas para beber chá e conversar. Voltariam a juntar-se todos no salão de baile uma hora ou duas mais tarde, quando o jantar tivesse concluído. Sentado à esquerda de Alex, Derek embalava uma taça de porto e escutava a conversa com enganosa preguiça. Não era seu costume tomar parte ativa na discussão de sobremesa, não importa a boa natureza que tivessem. Certamente nenhum deles cometeria o engano de lhe colocar no debate. Estava longe de ser um grande orador, já que aborrecia fazer discursos de qualquer extensão. Mas tinha uma forma de cortar o coração com um assunto com poucas palavras bem escolhidas. -E além disso, -murmurou um dos homens a seu vizinho, -eu nunca seria bastante tonto para discutir com um homem que sabe quanto valho. -Como sabe isso ele? -Ele sabe quanto valem todos, até o quarto último de vintém! Enquanto os cavalheiros bebiam mais suas taças, a conversa girou a um projeto de lei que tinha sido recusado no Parlamento recentemente. Este teria abolido a prática de usar os criados limpadores de chaminés. Mas Lorde Lauderson, um conde gordo, prolixo que tinha o hábito de converter quase tudo em um motivo para brincadeiras e entretenimento, fazia um discurso cômico na Câmara dos Lordes que tinha acabado com o projeto de lei. Algumas de suas perspicácias foram relatadas na mesa, e muitos dos homens riam apreciativamente. Orgulhoso de sua própria inteligência, Lauderson sorriu satisfeito até que seu rosto se voltou tão rosado como a de um querubim. -Digo que eu estava em boa forma nesse dia. -disse com uma risada. Contente de entreter, meus bons moços ... Sempre contente por isso. Devagar Derek deixou sua taça para impedir que se fizesse pedaços em sua mão. Ele tinha apoiado o projeto de lei com muito dinheiro e entre bastidores tinha manipulado tanto quanto foi possível. Com tudo isso e o apoio de Alex Raiford, o projeto de lei garantiu que se passasse, até o discurso jocoso de Lauderson. De repente a vaidade de Lauderson foi muito de suportar. -Vejo que está bastante divertido, milorde. -disse Derek. Seu tom era suave, reduzindo muitas das brincadeiras buliçosas que estavam sendo lançadas daqui para lá. -Mas duvido que um grupo dos criados limpadores tivesse apreciado tanto seu engenho como fez o Parlamento.-a mesa se calou imediatamente. Muitos olhares se voltaram para seu rosto imperturbável. Derek Craven sempre dava a aparência de não preocupar-se nunca por nada... Mas parecia que esta questão tinha uma importância mais que superficial para ele. Mais que uns poucos

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convidados recordaram os rumores de que ele mesmo Craven tinha sido um limpador. Seus sorrisos se apagaram perceptivamente. -Está claro que sua simpatia está com os moços. -comentou Lauderson. -Eu mesmo compadeço dos pobrezinhos, mas é um mal necessário. -O trabalho que eles fazem facilmente poderia ser assegurado dirigindo escovas de manga comprida.-disse Derek sem alterar-se. -Mas não de maneira tão eficiente como fazem os pequenos criados. E se as chaminés não são limpos corretamente, nossas valiosas casas poderiam arder, Faria-nos pôr em perigo nossas próprias vidas e propriedades dos pobres? Derek olhou fixamente a brilhante superfície de mogno da mesa. -Com aquele divertido discurso, milord, condenou a milhares de jovens inocentes à morte durante anos vindouros. A algo pior que a morte. -Eles são filhos de trabalhadores braçais, Sr. Craven, não filhos da pequena nobreza. Nunca subirão a nada. Por que não lhes dar um bom uso? -Craven.-murmurou Alex Raiford, temendo que estivesse a ponto de ocorrer uma desagradável cena. Mas Derek levantou seus olhos e olhou a Sua Senhoria de uma maneira fria, quase agradável. -Quase me prova a lhe devolver um porco de sua própria porca, Lorde Lauderson. -O que significa isso? -perguntou Lauderson, rindo em silencio pela ordinária expressão pobre. -Significa que a próxima vez que derrote um projeto de lei no qual esteja interessado, usando um de seus frívolos discursos altivo, encherá-lhe o esôfago de fuligem e subirei a empurrões seu gordurento trazeiro em uma chaminé. E se você se mete totalmente ali, acenderei a palha debaixo dele, ou cravarei seus pés com alfinetes para lhe pôr em marcha. E se queixar das queimaduras de um conduto quente, ou de asfixia, esfolará sua pele com uma correia de couro. Isto é o que passa um jovem limpador todos os dias de sua miserável existência, milord. Isto é o que o projeto de lei teria evitado. Dando um olhar glacial, Derek se levantou e abandonou a sala de jantar com um passo compassado. Lauderson se havia ficado vermelho durante o discurso depreciativo. -O que deu a idéia a Craven de que sua opinião vale alguma coisa? -Sua voz ressonou no silêncio mortal da sala. -Um homem sem sangue, sem educação, e certamente sem refinamento. Pode ser o bastardo mais rico da Inglaterra, mas isso não lhe dá nenhum direito de me falar dessa forma insolente. -Ele deu uma olhada para Alex com crescente indignação. -Me deve uma desculpa, senhor! Já que você é responsável por convidar esse homem, aceitarei no lugar da dele. A reunião se congelou. Nem sequer o rangido de uma cadeira interrompeu o silêncio. O rosto de Alex parecia de mármore esculpido quando devolveu o olhar á Lauderson. -me desculpem, cavalheiros. -disse finalmente. -de repente o ar aqui se tornou fétido. -abandonou a mesa com uma expressão de aversão, enquanto Lauderson lhe saltavam os olhos. Alex não pôde encontrar Derek até que houvesse começado o baile. Ele entrou no salão de baile, fazendo uma pausa para observar a orquestra quase oculta atrás dos enormes bancos de rosas. Uma fileira de lustres de vidros francês, cada um pesava mil libras, derramava luz cintilante sobre o chão brilhante e as enormes colunas de mármore fleur. Lily presidia o baile com sua habitual cordialidade e graça natural fazendo sentir-se bem-vindos a todos.

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Captando uma vista de Derek agarrando uma bebida da bandeja de um criado que passava, Alex foi unir se a ele. -Craven, sobre a cena na sala de jantar ... -Odeio à classe alta. -murmurou Derek, e tomou um gole grande de vinho. -Sabe que nem todos somos como Lauderson. -Tem razão. Alguns são piores. Seguindo o olhar de Derek, Alex viu a forma volumosa do Lauderson unirse a um grupo que estavam todos ocupados em adular a Lorde Ashby. Um cavalheiro arrogante, irascível da velha escola. Lorde Ashby pelo geral fazia algum discurso que outro. Ele acreditava que cada palavra que pronunciava parecia uma pérola caindo de seus lábios. Por causa de sua categoria e riqueza, os tolos obsequiosos ao redor dele nunca se atreveram a contradizer essa opinião. -Já te aproximou Joyce? -perguntou Alex. Derek negou com a cabeça. -Não fará. -Como pode estar seguro? -Porque a última vez que a vi quase a estrangulei. Alex pareceu sobressaltar-se, e logo sorriu com gravidade. -Não te teria culpado se o tivesse feito. Derek seguia olhando fixamente lorde Ashby. -Joyce tinha quinze anos quando se casou com esse velho bastardo. Olha-o, rodeado por esses nobres lambedores de trazeiros. Posso compreender por que Joyce se voltou da forma que é. Casada com ele, uma moça em sua adolescência se converteria em um coelho tremulo ou em um monstro. -Parece como se a tivesse alguma simpatia. -Não. Mas a compreendo. A vida faz às pessoas como é. -um cenho se colocou entre as escuras sobrancelhas de Derek. Ele assinalou com a mão para um canto do salão. -Se algum daqueles refinados barões ou viscondes tivesse nascido em bairros pobres, não teriam resultado ser melhor que eu. O sangue nobre não vale para nada. Seguindo o olhar de Derek, Alex viu um círculo crescente de homens ao redor de Sara Fielding. Seu corpo pequeno,mas curvado usava um vestido azul de veludo com tons mais escuro que seus olhos. Seu cabelo estava recolhido em uma massa de cachos castanhos. Estava extraordinariamente bonita essa noite, com um tímido encanto que qualquer homem encontraria irresistível. Alex voltou a olhar o rosto inexpressivo de Derek. -Se isso for verdade, -perguntou devagar -então por que permitir a um deles que tenha à senhorita Fielding? Derek ignorou a pergunta, mas Alex persistiu. - Qualquer um deles a tratariam com mais amabilidade que você? Cuidariam melhor dela? Algum desses jovens almofadinha a valorizaria como você? Os olhos verdes cintilaram com frieza. -De toda essa gente sabe o que sou. -Sei o que foi. -respondeu Alex. -Inclusive, faz cinco anos, teria estado de acordo em que não merecia alguém como ela. Mas mudaste Craven. Mudaste bastante. E se ela encontrar algo em você que é digno de seu afeto... Por Deus, não discuta com um presente que o destino te deu. -OH, muito singelo. -zombou-se Derek. -Não importa que nasça um bastardo. Ela não merece nada melhor que um homem com um nome falso, roupa fina, e um sotaque fingido. Não é importante que não tenha nem família nem religião. Não acredito em causas sagradas, ou na honra, ou em motivos

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desinteressados. Não posso ser inocente para ela. Nunca fui. Mas por que deveria importar com isto?-Seus lábios se esticaram em uma expressão de desprezo. -Um matrimônio entre nós não seria um presente do destino, Raiford. Seria uma maldita brincadeira. - Você parecer sabe melhor. Perdão, mas tenho que ir procurar minha esposa, que provavelmente recusa seu próprio conjunto de admiradores. A diferença de você que tenho uma veia ciumenta tão longa como o Támesis. - Bem como o Atlântico. -resmungou Derek, vendo seu amigo afastar-se. Alex deixou a discussão imediatamente. Ele voltou sua atenção a Sara e aos homens que rondavam a seu redor. "Veia ciumenta". Não podia começar a descrever como se sentia ele. Desprezava aos homens que procuravam seu favor. Queria lhes grunhir e chiar os dentes, e afastar suas mãos errantes e olhares lascivos. Mas o que poderia ele fazer com ela? A idéia de fazê-la sua amante era tão inconcebível como casar-se com ela. De uma ou outra forma, arruinaria ela. A única opção era não aproximar-se, mas isso parecia uma solução tão singela como deixar de respirar. A atração física era poderosa, mas mais irresistível que isso era o alarmante sentimento que tinha quando estava perto dela... Um sentimento que estava perigosamente perto da felicidade. Nenhum homem sobre a terra tinha menos direito a isso que ele. Não lhe via por nenhuma parte, mas Sara tinha a sensação de que Craven a observava. Antes ele tinha estado misturando-se e trocando brincadeiras com os convidados. Não tinha passado despercebido a Sara que as mulheres enviavam toda classe de sinais; olhadas paqueras, brincadeiras toques em seu ombro com seus leques, e em um caso a carícia valente e deliberada de um peito escassamente coberto contra seu braço. As mulheres estavam fascinadas por sua mistura de mundanidade e elegância. Era como se houvesse um fogo escuro, candente sob uma capa de gelo, e cada mulher esperava atravessar sua reserva. -Senhorita Fielding. -o visconde Tavisham interrompeu seus pensamentos. Ele estava uma polegada muito perto e a olhava com comovedores olhos negros. Possivelmente me honraria com outra valsa? Sara sorriu inexpressivamente enquanto pensava em uma resposta conveniente. Tinha dançado com Tavisham duas vezes já; uma terceira vez era inadmissível. Seria advertido pelos convidados, e isso levaria a especulação imprópria. Não é que não gostasse do impulsivo jovem libertino, mas não desejava respirar seus cuidados. -Temo-me que o baile me tenha fatigado muito. -disse com um sorriso de desculpa. Na realidade, era verdade. Várias valsas e equipes vigorosas tinham deixado doloridos seus pés. -Então encontraremos um lugar tranqüilo para nos sentar e conversar. -Ele ofereceu seu braço em um gesto cortês. Sem dúvida não havia nenhum modo de evitá-lo. Suspirando por dentro, Sara o acompanhou à larga galeria com sua multidão de portas janelas, e se sentou em um banco gentil de madeira com um respaldo adornadamente esculpido. -Gosta de um ponche? -ofereceu Tavisham , e ela assentiu. -Não se vá a nenhuma parte. -repreendeu. -Nem sequer pestaneje. Voltarei em seguida. E se qualquer homem se aproxima de você, lhe diga que está comprometida. Dando-lhe que uma saudação zombadora, Sara fingiu congelar-se no lugar, e ele sorriu abertamente antes de sair. Casais passeavam para cá e para lá pela galeria, admirando a vista do terraço e a fonte no jardim nevado de fora. Brincando com as brilhantes contas de seu vestido, Sara pensou na última noite

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que o tinha usado. Um suave sorriso curvou seus lábios. Ele tinha levado seus óculos justos ao lado de seu coração. Um homem não faria algo assim a não ser que... A idéia a encheu da energia nervosa. Levantou-se, ignorando a manifestação de dor aguda de seus pés. O jardim era visível através das janelas geladas, as ervas delicadamente cobertas de gelo, as sombras tranqüilas. A pálida luz azul da lua brilhava sobre a fonte congelada e bordejava os passeios. Depois do salão de baile lotado, cheio de música, o silencioso jardim era um santuário acolhedor. Obedecendo a um impulso repentino, Sara se deslizou até as portasjanelas e girou um dos trincos dourados. Tremeu quando uma brisa invernal acariciou seus ombros nus. O jardim parecia um palácio de neve. Com cuidado se dirigiu por um caminho de cascalho, enchendo seus pulmões com o frescor do ar. Perdida em seus pensamentos, perambulou até que ouviu um som atrás dela. Poderia ter sido o rangido de outra brisa ... Ou seu nome, sussurrado em voz baixa. Sara se virou a prega com pó de neve em sua saia se formou redemoinhos e se colocou a seus pés. Ele tinha estado observando-a, pensou, e um encantador sorriso rompeu em seu rosto quando olhou ao homem que estava de pé a uma pouca distância. -De algum modo pensei que poderia me seguir. -disse ofegando. -Ao menos, esperava que o fizesse. O molde sério do rosto de Derek ocultava uma corrente de emoção reprimida. Como podia rir assim dele? Ele tremia de frio e calor e necessidade. Deus, não podia suportar o modo em que olhava, como se pudesse ver debaixo dos ecos mais escuros de sua alma. Ela começou a aproximar-se dele. Sem propor-lhe a alcançou em três pernadas e a levantou em seus braços. Sua risada alegre fez cócegas ao seu ouvido enquanto a elevava. Sua boca vagou com urgência por seu rosto com beijos bruscos que arderam suas bochechas, seu queixo e sua testa. Ela agarrou sua magra mandíbula em suas mãos para o manter quieto. A luz da lua se refletia em seus olhos brilhantes quando elevou o olhar para ele. -Quero estar contigo. -sussurrou. -Não importa o que ocorra. Ninguém em sua vida lhe havia dito jamais uma coisa assim. Derek tratou de pensar por cima do palpite de seu coração, mas ela levou sua suave boca à sua, e desapareceu todo sentido comum. Avidamente se inclinou sobre ela, tratando de não fazê-la danos com a força de seus beijos, tremendo com uma emoção tão feroz como tenra. Os dentes de Lily Raiford tocavam castanholas de frio enquanto se arrastava furtivamente pelo jardim e se situava atrás de uma árvore congelada. Divisando Derek e Sara na distância, unidos em um apaixonado abraço, Lily rompeu em um amplo sorriso. Teve que refrear-se de fazer um pouco de baile da vitória. Esfregando-as mãos para esquentá-las, considerou uma variedade de estratégias de casamenteira. -Lily.-o sussurro tranqüilo a sobressaltou, justo antes que os braços de seu marido se fechassem ao redor dele.-por que demônios está aqui fora? -murmurou Alex, atirando dela contra seu corpo alto. -estiveste me seguindo! -gritou Lily com indignação, mantendo baixa a voz. -Sim, e seu estiveste seguindo Derek e à senhorita Fielding. -Tinha que fazê-lo, carinho. -explicou com inocência. -estive os ajudando. -OH.-disse sardonicamente ele.-A princípio parecia que os espionavam.ignorando seus protestos, Alex começou a afastar sua esposa da cena.-Acredito que já 'ajudou' bastante, céu. -Desmancha-prazeres. -acusou Lily, atirando contra seu firme apertão. -

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Somente quero olhar um momento mais ... -Bem. Deixa em paz ao pobre diabo. -Decidida a sair-se com a sua, Lily afirmou seus pés contra a beirada de pedra de um atalho. -Ainda não .... Alex ... oof! -com um puxão sem esforço, ele a tinha desequilibrado, fazendo-a cair contra ele. -Vigia seus passos. -aconselhou brandamente, como se o tropeção houvera sido culpa dela. Seus olhos escuros se cruzaram com os seus cinzas cintilantes. -Tirano rigoroso, despótico, -acusou, e começou a rir enquanto esmurrava seu peito. Sorrindo, Alex dominou suas resistências e a beijou apaixonadamente. Só se deteve quando ela ficou sem fôlego. -Neste momento Derek não necessita de sua ajuda. -Suas mãos vagavam com audácia sobre vestido de baile de cetim. -Mas eu tenho um problema que necessita de atenção imediata. -OH? Que problema é esse, milord? -Seus lábios vagaram em seu pescoço. -Terei que lhe ensinar isso em particular. -Agora? -perguntou, escandalizada. -Realmente, Alex, não pode pensar que... -Agora. -assegurou-a, e capturou sua mão na sua, começando a retornar à mansão. Os dedos de Lily enlaçados com os seus, enquanto seu coração pulsava com antecipação. Apesar de sua natureza obstinada, autoritária, acreditava ter o marido mais maravilhoso do mundo, e esteve a ponto de dizer-lhe assim, quando de repente quase se chocaram com a mulher solitária que cruzava o caminho diante deles. Joyce Ashby deu a volta de repente e os olhou a ambos como um gato áspero. Pela cólera furiosa em seu rosto, Lily adivinhou que também ela tinha seguido Derek e tinha visto beijando Sara Fielding. -Lady Ashby.-disse Lily docemente.-Uma noite bastante fria para um passeio, verdade? -Isto é um alívio de toda a desordem agitada de dentro. -respondeu Joyce. Lily, cujo gosto na decoração era mundialmente elogiada por ser o epítome da elegância, ofendeu-se ao escutar a descrição de sua casa como " uma desordem agitada". -Agora olhe aqui ... -começou, e se estremeceu quando o apertão de Alex se fez doloroso. -Embainhem suas unhas, senhoras.-acusou- Alex a Joyce com um autocrático olhar.-Minha esposa e eu estaríamos encantados de acompanhá-la de volta ao baile, lady Ashby. -Não desejo. -protestou Joyce, mas se encontrou com o braço sólido como uma rocha de Alex. -Insisto. -disse ele, ignorando o olhar feroz de sua esposa. Estava claro que se lhes dessem a opção, as duas mulheres se iriam às escondidas ao jardim e espiariam ao casal que se abraçava. Naquele momento Alex quase se compadeceu de Derek Craven, que ao parecer estava metido até o pescoço em um problema. Por outra parte, Craven o tinha procurado. Alex sufocou uma gargalhada sardônica quando se lembrou de uma entrevista que tinha lido uma vez... "Essas mulheres impossíveis! Como nos enrolam! Absortos o um no outro para notar algo a seu redor, Derek e Sara abraçados, trocaram beijos de voraz violência, até que o calor do desejo se avivou em um fogo sufocante. Derek estendeu os pés para conter seu corpo mais estreitamente dentro do seu abraço. Seus lábios baixaram forjando um caminho

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por seu pescoço nu. -OH ...-o som contido saiu de sua garganta quando ela sentiu a quente carícia de sua língua sobre sua pele. Derek dobrou seus joelhos e a elevou contra ele, e respirou profundamente no vale perfumado onde seus peitos se juntavam. De repente ele levantou a cabeça e enterrou seus lábios em seus cachos. -Não -disse com voz apagada. Seu corpo grande estava imóvel exceto pela força rítmica de sua respiração. De algum modo parecia como se esperasse que lhe convencesse de algo que ele desejava desesperadamente acreditar. A honestidade era parte importante da natureza de Sara para que ela mantivesse seus sentimentos ocultos. Embora pudesse provocar o desastre, não tinha nenhuma outra opção, só pôr seu coração diante dele. -Necessito-te. -disse, passando seus dedos por seu cabelo negro. -Nem sequer me conhece. Ela virou seu rosto e apertou seus lábios sobre a fina cicatriz curada, atrasando-se no espaço entre suas espessas sobrancelhas. -Sei que se preocupa por mim. Derek não se separou de seus tenros cuidados, mas seu tom foi drástico. -Não o suficiente, ou não estaria aqui com você. Quem me dera tivesse a decência de te deixar em paz. -estive em paz durante muito tempo. -disse com veemência. -Não há ninguém para mim; Nem Perry, nem qualquer dos homens do povoado, ou outro dentro daquele salão de baile. Ninguém exceto você. -Se tivesse visto algo do mundo, saberia que há muitíssimos mais para escolher que Perry Kingswood ou eu. Milhares de homens normais, honoráveis que se ajoelhariam de gratidão por uma mulher como você. -Não quero ninguém honorável. Quero você.-Ela o sentiu sorrir a contra gosto contra seu ouvido. -Doce anjo. -sussurrou. -Pode conseguir alguém melhor que eu. -Não estou de acordo. -ignorando seu intento de afastá-la, ela se encostou sob seu queixo. A contra gosto Derek a recolheu contra seu corpo quente. -Está-te gelando. Levarei você para dentro. -Não sinto frio. -Sara não tinha nenhuma intenção de ir a nenhum lugar. Tinha sonhado com este momento durante muitas noites. Derek deu uma olhada sobre sua cabeça à luz proveniente do salão de baile. -Deveria estar ali dançando com Harry Marshall... Ou Lorde Banks. Ela franziu o cenho pela menção dos dois jovens inexperientes. -É isso o que pensa me mereço? Queria-me com algum almofadinha superficial, presunçoso e afirmaria que tenho feito um esplêndido matrimônio? Bem, começo a pensar que é uma desculpa conveniente, esta tua idéia de que sou muito boa para você! Possivelmente a verdade é que careço de algo. Deve pensar que eu não satisfaria suas necessidades, ou ... -Não -disse Derek rapidamente. -Suponho que preferiria te relacionar com todas essas mulheres casadas que seguem te sussurrando no ouvido e te lançando olhares insinuantes, e te tocando com seus leques... -Sara... -Os escritores são pessoas muito observadoras, perspicaz, e posso dizer exatamente com que mulheres te relacionaste, somente observando .... Derek sufocou sua voz com sua boca. Quando se tranqüilizou, ele levantou a cabeça. -Nenhuma delas me importava. -disse com brutalidade.-Não havia

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promessas, nenhuma obrigação por ambos os lados. Não sentia nada por elas. -Ele afastou o olhar dela e jurou, consciente da inutilidade de tentar explicar-lhe Mas ela tinha que entender, de modo que não tivesse ilusões sobre ele. Ele se forçou a continuar. -Algumas afirmavam me amar. Assim que o diziam, partia-me sem olhar para trás. -por quê? -Não há lugar em minha vida para isso. Não quero. É inútil. Sara olhou seu rosto afastado. Apesar de seu tom impassível, ela sentiu o conflito dentro dele. Estava mentindo a si mesmo. Ele precisava ser amado mais que qualquer pessoa que tinha conhecido. -Então o que quer? -perguntou brandamente. Ele sacudiu a cabeça sem responder. Mas Sara sabia. Ele desejava estar a salvo. Se for bastante rico e poderoso, nunca lhe fariam mal, nunca estaria só nem abandonado. Nunca teria que confiar em alguém. Seguiu acariciando o cabelo, jogando ligeiramente com as negras mechas espessas. -te arrisque comigo. -insistiu-lhe. -Realmente tem tanto que perder? Ele soltou uma áspera gargalhada e afrouxou seus braços para soltá-la. -mais do que imagina. Pegando-se a ele desesperadamente, Sara manteve sua boca em seu ouvido. -me escute. -Tudo o que podia fazer era jogar sua última carta. Sua voz tremeu com a emoção. -Não pode mudar a verdade. Pode atuar como se fosse surdo e cego, pode te afastar de mim para sempre, mas a verdade ainda estará ali, e não pode fazê-la desaparecer. Amo-te. -Ela sentiu que um tremor involuntário o transpassava.-Amo-te.-repetiu.-Não minta a ambos fingindo que te parte por meu bem. Tudo que fará é nos negar a ambos uma possibilidade de felicidade. Desejo-te todos os dias e todas as noites, mas ao menos tenho a consciência tranqüila. Não te oculto nada, por medo ou orgulho. -Ela sentiu a tensão incrível de seus músculos, como se ele estivesse esculpido em mármore. -Por uma vez tenha a coragem de não fugir. -sussurrou.-Fica comigo. Deixe-me te amar, Derek. Permaneceu de pé ali congelado pela derrota, com todo o calor e a promessa dela em seus braços... E não podia permitir-se tomar o que lhe oferecia. Ele nunca havia se sentido tão sem valor, tão farsante. Possivelmente durante um dia, uma semana, poderia ser o que ela queria. Mas não durante mais tempo. Ele tinha vendido sua honra, sua consciência, seu corpo, algo que podia utilizar para escapar à sorte na vida. E agora, com toda sua grande fortuna, não podia voltar a comprar o que tinha sacrificado. Se fosse capaz de chorar, o teria feito. Em troca sentiu a frieza paralizadora estendendo-se por seu corpo, enchendo a região onde seu coração deveria ter estado. Não foi difícil afastar-se dela. Era terrivelmente fácil. Sara soltou um som inarticulado quando ele se desenredou de seu abraço. Ele a abandono como tinha abandonado às demais, sem olhar para trás. De algum modo Sara se dirigiu ao salão de baile, muito aturdida para pensar que passaria depois. Derek não estava ali. O elegante clamor do baile facilitou manter as aparências. Dançou várias vezes com diferentes companheiros, sorrindo levianamente. Conversou com voz ligeira que parecia estranha aos seus próprios ouvidos. Era evidente que sua dor não era visível, já que ninguém pareceu notar que algo andava mal. Mas então apareceu Lily Raiford. A expressão do rosto de Lily mudou de um sorriso a um tímido olhar quando se aproximou. -Sara? -perguntou em voz baixa. -O que aconteceu? Sara estava em silêncio, enquanto o pânico a assaltava. Qualquer marca de

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compaixão a levaria ao limite. Teria que deixar o baile imediatamente, ou começaria a chorar. -OH, está tudo bem. -disse rapidamente.-Somente tenho um pouco de dor de cabeça. É bastante tarde, não estou acostumada há semelhantes horas. Possivelmente deveria me retirar. Liliy fez um gesto para tocá-la, logo retirou sua mão. Os olhos aveludados se encheram de compaixão. -Quer falar? Sara negou com a cabeça. -Obrigado, mas estou muito cansada. Enquanto as duas mulheres conversavam, Joyce Ashby as observava além do salão. Isolou-se em um canto com Lorde William Granville, um dos muitos admiradores que tinham procurado sem êxito seus favores durante anos. A esperança de ganhar o acesso a sua cama tinha voltado a trás de vez, mas ela sempre o desdenhava. Apesar de sua suposta virilidade e sua formosura, ele nunca tinha tido nada que ela desejasse. Até agora. Sorriu a seus olhos azuis entrecerrados. -William, vê essa mulher que está de pé ao lado de Lily Raiford? Com indiferença Granville afastou o olhar dela, seu olhar se posou sobre as duas. -OH, a encantadora senhorita Fielding. -comentou. -Sim, certamente. Contemplando os generosos encantos de Sara, umedeceu os lábios com a grosa língua. -Um pequeno bombom. -Voltou a olhar Joyce, saboreando sua beleza dourada, mostrada em um transparente vestido cor lavanda. -Entretanto, prefiro uma mulher mundana e de experiência, que possa satisfazer a um homem de meus variados gostos. -Certamente. -o encantador rosto de Joyce assumiu um duro molde. Conhecemo-nos a muito tempo, verdade, William? Possivelmente é o momento de que fiquemos mais íntimos com nossa amizade. Um rubor de voracidade sexual se exaltou por sua garganta. -Possivelmente sim. -sussurrou, aproximando um passo mais. Com delicadeza ela apoiou seu leque contra seu peito, mantendo-o afastado. -Mas primeiro te pediria um favor. -Um favor. -repetiu com cautela. -Encontrará-se bastante agradável, asseguro-lhe isso.-os lábios de Joyce se curvaram em um sorriso malévolo.-Quando esse ' precioso bombonzinho', como se chama, vá dormir, quero que te aproxime de seu quarto e ... -Ficando nas pontas dos pés, Joyce sussurrou seu plano, enquanto ele se ruborizou mais profundamente. -Considera-a um bocado para estimular seu apetite. -terminou Joyce.-antes que desfrute do prato principal mais tarde esta noite. Primeiro a senhorita Fielding... Depois eu. Granville sacudiu sua cabeça momentaneamente consternando. -Mas há um rumor. -protestou.-Dizem que Derek Craven está apaixonado por ela. -Ela não contará. Não contará a ninguém. Estará muito envergonhada. Considerando a proposição, Granville finalmente assentiu com uma alegre gargalhada de prazer lascivo. -Bem. Enquanto me conte por que quer este favor. Tem algo á ver com sua antiga relação com o Craven? O queixo de Joyce desceu em um pequeno assentimento. -vou arruinar tudo o que ele aprecia, - murmurou. -Se atrair a inocência, procurarei corrompê-la. Se qualquer mulher for o bastante tola para interessar-se por ele, arruinarei-a. Não deixarei ter nada... A não ser que ele se arraste de joelhos

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para que eu seja dele. Granville a olhou fascinado. -Que criatura tão extraordinária é. Uma tigresa. Jura-me por tudo o que te é sagrado que se renderá a mim esta noite? -Não tenho nada sagrado. -Joyce riu ligeiramente. -Mas renderei a você esta noite, William ...Depois de que tiver terminado com a senhorita Fielding. Recusando com delicadeza os intentos de Lily falar com ela, Sara deu boa noite e saiu do salão de baile. Foi pra cima sozinha. A música e as risadas do salão de baile apagando-se com cada passo, até que alcançou o silêncio de seu quarto. Negando-se a chamar uma criada, Sara se arrumou para conseguir sair de seu vestido sem ajuda. Deixou o vivo montão de veludo no chão, com sua roupa interior branca. Parecia muito esforço recolher as roupas. Depois de colocar a camisola, sentou-se na beira da cama e se permitiu pensar pela primeira vez desde que Derek a tinha deixado sozinha no jardim. -Ele nunca foi meu para perdê-lo. -disse em voz alta. Perguntou-se se houvesse algo que poderia ter feito de maneira diferente, algo mais que poderia haver dito. Não... Ela não tinha motivos para lamentar-se. Não tinha sido um engano lhe amar, tampouco tinha se equivocado em dizer-lhe Uma mulher sofisticada poderia ter brincado com sua mão com mais astúcia, mas Sara sabia pouco sobre brincadeiras. Era melhor ser aberta e generosa... E se seu amor não era correspondido, ao menos não podia ser tachada de covarde. Ajoelhando-se ao lado da cama, dobrou suas mãos e fechou seus olhos com força. -Querido Deus, - disse em um sussurro estrangulado. -posso suportá-lo um tempo, mas, por favor, não permita que me fira para sempre. -Esteve imóvel durante muito tempo, enquanto sua mente dava voltas com pensamentos dolorosos. Na mistura confusa de suas emoções, havia um rastro de compaixão por Derek Craven. Durante um instante esta noite, rápido como o brilho de um relâmpago, ele tinha estado tentado á arriscar-se a amar alguém. De algum modo duvidava que ele alguma vez chegasse a estar tão perto outra vez. E eu? Perguntou-se desalentada, apagando o abajur e metendo-se lentamente na cama. Somente arrumarei com tudo isto, e continuarei. E um dia, com a graça de Deus... Poderei ser bastante forte para amar outro. Durante um momento Derek se atrasou na sala de bilhar com uma taça de brandy, só escutando pela metade as lânguidas conversas dos homens que se retiraram ali para fumar cavalheirescamente. A atmosfera enjoativa o fez sentir-se como um tigre enjaulado. Partiu silenciosamente, levando o brandy com ele. Enquanto vagava pelo primeiro andar da mansão, Derek viu um brilho branco sobre a magnífica escada. Dando boas-vindas a qualquer distração sobre a perspectiva de voltar para o salão de baile, foi investigar. A metade do caminho de ascensão da escada viu Nicole com sua camisola branca desalinhada, seu cabelo comprido enredado. Ela estava agachada ao lado do corrimão em um esforço por ocultar-se. Ao lhe ver, ela sustentou um dedo sobre seus lábios em um gesto silencioso. Com ar despreocupado Derek subiu a escada e se sentou a seu lado. Ele descansou seus braços sobre seus joelhos dobrados. -O que faz fora da cama há esta hora? -Escapuli abaixo para ver todos esses bonitos vestidos. -informou-lhe Nicole em um sussurro. -Não diga a mamãe. -Não o farei se voltar a subir a seu quarto. -Depois que veja como é o baile. Ele sacudiu sua cabeça firmemente.

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-As meninas não deveriam vagar pela casa de camisola. -por quê? -Nicole olhou para si mesma, colocando seus pés nus sob a prega da roupa. -Isto cobre tudo. Vê? -Não é apropriado. -Derek resistiu ao impulso de sorrir com gravidade enquanto ouvia si mesmo pronunciando uma declaração sobre decoro. -Mamãe não tem que ser apropriada. -Tampouco você, quando for maior. -Mas tio Derek... -suplicou Nicole, e logo suspirou pesadamente quando ela viu suas sobrancelhas baixas.-Está bem voltarei para acima. Mas um dia vou ter um vestido de baile de prata e ouro ... E ficarei acordada e dançarei toda a noite! Derek baixou o olhar para seu pequeno rosto. Os traços de Nicole eram ligeiramente exóticos que os de sua mãe. Com seus brilhantes olhos negros e suas chamativas sobrancelhas escuras, tinha a promessa de uma beleza atordoante. -Esse dia não demorará muito em chegar. -disse ele. -Um dia terá a todos os homens de Londres te pedindo matrimônio. -OH, não quero me casar com ninguém. -disse seriamente. -Tudo o que quero é meu próprio estábulo cheio de cavalos. Derek sorriu ligeiramente. -Recordar-lhe isso quando tiver dezoito. -Talvez me casarei com você.-disse com uma risada infantil. -Isso é muito amável de sua parte, carinho. -Ele despenteou seu cabelo. Mas quererá te casar com alguém de sua idade, não com um velho. Uma nova voz interrompeu no pé da escada. -Tem razão. -disse sedosamente Joyce Ashby.-A mim forçaram a me casar com um velho, e olhe o que me passou. O sorriso de Nicole desapareceu. Com a percepção natural de uma criança, ela sentiu a corrupção sob o formoso exterior de Joyce. Com cautela ela se aproximou pouco a pouco de Derek enquanto Joyce subia os degraus com movimentos fluídos, cheios de graça. Fazendo uma pausa diante deles, Joyce olhou à menina com aversão. -Parte, menina. Quero falar com o Sr. Craven a sós. Com vacilação Nicole deu uma olhada para Derek. Ele se inclinou e sussurrou. -Volta para a cama, senhorita. Assim que a menina se foi, desapareceu toda calidez do rosto de Derek. Levantando sua taça de brandy, bebeu de um gole o último líquido ambarino. Ele permaneceu sentado, sem fingir cortesia. -por que esse rosto sombrio? -ronronou Joyce. -Pensando em sua tenra cena no jardim com Sara Fielding -Ela sorriu quando seu olhar se disparou para o seu.-Sim, querido, sou totalmente consciente de seu interesse por essa modesta violeta do campo, e todo outros também. Isto nos proporcionou uma boa quantidade de diversão a todos. Derek Craven apaixonado por uma tímida pequena dom ninguém. Deveria me haver dito que você gosta que suas mulheres brinquem de inocentes, poderia te haver agradado. Sinuosamente ela ficou contra o corrimão e lhe sorriu. Derek a olhou, tentado de empurrá-la escada abaixo ou mandá-la ao diabo... Mas algo o deteve. Não gostava do ar de satisfação de seu rosto. Algo andava muito mal. Pacientemente esperou enquanto ela seguiu seu discurso. Seus duros olhos verdes não se moveram dos seus. -Como é fazer amor com uma mulher assim, querido? Ela não pode satisfazer muito a um homem com seu forte apetite. Não posso imaginar que ela soubesse o principal a respeito de te agradar. -Joyce suspirou pensativamente. -Os

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homens são tão tolos. Atrevo-me a dizer que te acha apaixonado por ela. Preciso te recordar que não é capaz de amar? Não é nada mais que um animal grande e vigoroso... E eu não te preferiria de nenhuma outra forma.-franziu seus lábios vermelhos provocativamente.- Deixe os sentimentos e a insensatez romântica a outros homens. O que você tem é muito melhor que um coração... um bom pênis grande. Isto é tudo o que tem para oferecer a sua camponesa. Ela provavelmente não sabe o bastante para apreciá-lo... Embora agora... Ao menos terá uma base para comparar. -Ela esperou com um sorriso felino que suas últimas palavras fizessem sentido. Comparar? Derek se levantou devagar, olhando-a fixamente. Uma sacudida de ansiedade fez com que seu coração bombeasse com desagradável força. Sua voz era entrecortada. -O que tem feito, Joyce? -Tenho-a feito um favor, na realidade. Recrutei a alguém para lhe ajudar a aprender mais sobre os homens. Enquanto falamos, ela está em seu quarto ' arriscando-se à ventura', como dizem os pobres, com nosso viril Lorde Granville. Já não tão inocente. A taça de brandy caiu da mão de Derek e o fez rodar, sem romper-se, descendo a escada densamente atapetada. -Jesus. -sussurrou, dando volta para lançar-se e subir as escadas. Subiu-as de três em três, enquanto Joyce gritava atrás dele. -Não te incomode em te encarregar de seu resgate, meu pobre galã. É muito tarde. -Ela começou a rir grosseiramente.-Neste momento já aconteceu. Ao princípio a mente aturdida de Sara só pôde reconhecê-lo como um pesadelo. Não podia ser real. Tinha sido despertada por uma enorme mão tampando sua boca. O rosto torcido, corada de um estranho era apenas visível na escuridão. O peso de seu corpo caiu sobre ela quando ele se uniu a ela na cama. Ela ficou rígida de terror e tratou de gritar, mas todo som foi sufocado por sua mão parecida com uma garra. Sua pesada corpulência a esmagou, aplanando seus seios dolorosamente e fazendo sair o ar de seus pulmões. -Tranqüila. -disse grunhindo, com impaciência levantando sua camisola.Encantadora criatura. Observei-te esta noite... Esses seios magníficos inchando-se sobre seu vestido. Não lute. Sou o homem melhor dotado de Londres. Relaxe-te, desfrutará disso. Já o verá. Desesperadamente tratou de lhe morder e lhe agarrar, mas nada podia deter suas coxas fortes empurrando entre as suas. O aroma de suor e perfume acre de sua pele encheu seu nariz, enquanto as mãos indecisas procuravam sobre seu corpo meio vestido. Afogando-se em seus próprios gritos sufocados, Sara se sentiu afundar-se em um vazio escuro, sem ar. De repente a mão castigadora abandonou sua boca, e o enorme peso foi levantado dela. Ela foi finalmente capaz de gritar com horripilante força. Saindo com dificuldade da cama, correu sem direção até que se encontrou encolhida em um canto. Houve um aterrador grunhido no quarto, como se tivesse soltado uma fera. Piscando rapidamente, tratou de entender o que acontecia. Sua mão voou a sua boca, contendo outro grito. Dois homens rodavam uma e outra vez pelo chão, chocando-se contra o lavabo. A jarra de porcelana e a bacia caíram e se romperam. Grunhindo cruelmente, os punhos de Derek se chocaram contra o rosto de Granville. Com um uivo de dor, Granville conseguiu tirar-lhe de cima. Derek rodou com facilidade e ficou de pé. Granville conseguiu ficar de pé e o olhou fixamente horrorizado. -Santo Deus, homem, discutiremos isto como seres civilizados!

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Os dentes de Derek brilharam no quarto escuro, seus lábios se torceram em um demoníaco rosto de desprezo. -depois de te arrancar a cabeça e te tirar as tripas pelo pescoço. Granville choramingou de medo quando Derek o seguiu outra vez, lhe dando um golpe contra o chão. Os punhos brutais desceram sobre ele sem piedade, até que Granville obteve um golpe próprio e ganhou a pausa de outro segundo. Ele levantou uma mão a seu próprio rosto, descobrindo que escorria o sangue. -Meu nariz está quebrado! -gritou preso de pânico, avançando lentamente para trás até a porta enquanto Derek o seguia os passos sem piedade. Para alívio de Granville apareceu um mordomo da casa, olhando fixamente o quarto alarmado e aturdido. -Por favor, - soluçou Granville, agarrando o tornozelo do criado, mantenha-o longe de mim! Está querendo me matar... -Não terá tanta sorte. -interrompeu Derek, agarrando rapidamente um fragmento de cerâmica quebrado e aproximando-se dele. Corajosamente o mordomo se colocou entre Derek e sua desejada vitima. -Sr. Craven, - O criado tremeu, olhando fixamente ao gigante enfurecido diante dele, deve esperar até... -Sai de meu caminho. -Consciente do aristocrata chorão procurando seu amparo, o criado não se moveu. -Não, senhor. -disse com vacilação. Mais criados e vários convidados começaram a aparecer, todos se aproximando para ver o que estava acontecendo. Derek sujeitou Granville com um sanguinário olhar. -A próxima vez que veja você, e a zorra de coração gelado que te enviou, matarei a ambos. Diga isso a ela. Granville voltou a encolher-se de medo. -Há testemunhas que declararão suas ameaças... Derek fechou de repente a porta, encerrando-se a só no quarto com Sara. Ele deixou cair o pedaço de cerâmica quebrado e se deu e voltou para ela, separando-se de um golpe seu abundante cabelo negro dos olhos. Ela se rodeou com a fina camisola como se a protegesse. Seu rosto estava vazio, como se não a reconhecesse. Quando ele viu que todo seu corpo tremia, foi para ela e agarrou seus braços. Em silêncio a levou para cama e se sentou com ela a seu lado. Ela estava imóvel contra seu largo peito, seus braços lhe rodeando o pescoço, sua cabeça apertada contra seu ombro. Ambos respiravam com grande esforço, um de medo, o outro de raiva. Quando sua cólera diminuiu, Derek se deu conta da multidão de vozes reunindo-se fora da porta. Ninguém se atreveu a entrar. Só Deus sabia o que pensavam que estava passando ali. Seria melhor que deixasse Sara aos cuidados de outro. Ele não se deu conta de que ela estava chorando até que sua bochecha molhada acariciou seu pescoço. Nenhum soluço, somente lágrimas silenciosas que escorregavam por seu rosto e rompiam seu coração. Devagar ele soltou suas mãos e acariciou seu cabelo solto e suas costas. -Fez-te mal? -atreveu-se finalmente a perguntar. Ela sabia o que ele queria dizer. -Não -disse com a voz aquosa .-Chegou a tempo. Como soube? Como... -Mais tarde. -Neste momento ele não pôde reunir coragem para explicar que ela tinha sido assaltada por sua culpa.

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Sara se relaxou contra ele com um suspiro entrecortado, secando-as lágrimas. Era impossível acreditar que o mesmo homem que tinha atacado Lorde Granville tão brutalmente podia abraçá-la com semelhante ternura. Nunca havia se sentido tão segura, embalada contra seu largo peito, sentindo sua respiração filtrando-se por seu cabelo. Uma de suas mãos se estendeu sobre suas costas, seu polegar descansou contra a curva de seu peito. Não era correto por sua parte abraçá-la com tanta intimidade, ela não pôde atrever-se a negar-lhe. Sua cabeça se moveu, e sua boca acariciou a sua em um suave beijo. Fechando os olhos, Sara sentiu seus lábios tocar suas pálpebras delicadas, suas pestanas molhadas. Um golpe decidido sobre a porta anunciou a entrada de Lily Raiford. Ela se deslizou dentro e deu a volta para repreender o grupo de gente ao redor da entrada. -Continuem. -disse com um pulo. -Agora tudo está em ordem. Desejo que todos vão para baixo e tratem de abster-se de mexericar sobre coisas que não são de sua incumbência. -Fechou a porta com firmeza e olhou o casal sobre a cama.-Maldição!.-disse entre dentes, indo acender o abajur da mesinha. Consciente do aspecto escandaloso da situação Sara tratou de arrastar do lado de Derek. Ele a depositou sob as mantas, colocando-a com cuidado, e se sentou sobre a cama ao lado dela. O olhar de Lily se moveu no rosto confundido de Sara o impassível de Derek. -Esse cabra asqueroso do Granville,-resmungou ela. -sempre soube que era um bastardo lascivo, mas que se atrevesse a atacar a um convidado sob meu teto ...Bem, Alex o expulsará da casa agora mesmo, e depois de que tenha acabado, Granville não será recebido por ninguém da alta sociedade. Toma, pensei que isto poderia ajudar.-Lhe deu um copo de uísque a Derek.-Não posso decidir quem necessita mais dos dois. Ele o deu a Sara, que o cheirou com cautela e sacudiu a cabeça. -Não... -Bebe um pouco por mim. -insistiu com suavidade. Ela provou um pequeno gole e tossiu quando queimou sua garganta. -Ugh.-Ela fez uma careta pelo repugnante sabor. Com cautela tomou outro gole, e logo outro. Derek empurrou o uísque quando ela tratou de dar-lhe Sara assentiu com indecisão, levantando o copo a seus lábios. A princípio pensou que nunca dormiria outra vez, mas logo os frenéticos pensamentos em sua mente foram substituídos pelo esgotamento. Derek e Lily começaram a falar distraidamente, fazendo comentários evasivos sobre o baile, os convidados, inclusive do tempo. -Segue bebendo. Lily aproximou uma cadeira à cama e se sentou. Tirando o diadema de jóias de sua fronte, esfregou a testa distraidamente. Captando o olhar preocupado de Sara, ela soltou uma gargalhada sardônica. -Bem, agora tiveste seu primeiro escândalo. Não se preocupe, Derek e eu somos cães velhos neste tipo de coisas. Ocuparemo-nos de tudo. Sara assentiu com indecisão, levantando o copo a seus lábios. Derek suavizou sua voz quando viu que o uísque sortia efeito. Finalmente os olhos de Sara se fecharam, e ela soltou um pequeno bocejo. Sua respiração se fez regular e profunda. Parecia uma menina, recostada sob as mantas, seu cabelo ondeando sobre o travesseiro, suas largas pestanas sinalizando suas bochechas. Assegurando-se de que estava dormindo, acariciou-lhe a palma da mão com a ponta de seu dedo, maravilhando-se da suavidade de sua pele.

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Lily o olhou com um rastro de assombro. -Realmente a ama. Até este momento nunca pensei realmente que poderia te acontecer. Ele estava em silêncio, incapaz de admitir a verdade. Lily falou outra vez. -Ela está em um grave problema, Derek. -Não, cheguei aqui a tempo. Ele não a fez mal. Embora a voz de Lily fosse baixa, não mudou sua intensidade. -Pensa, Derek. Não importa se Granville na realidade a violou ou não. Ninguém a aceitará agora. Ninguém acreditará que ela não foi arruinada. Os rumores a seguirão de volta ao povoado. As pessoas mexeriqueira a atormentará durante o resto de sua vida. As mães manterão seus filhos longe de ' sua corrupta influência', será uma excluída. Não tem nem idéia de quão atrasados são essa gente. Cresci no campo, sei o que é. Se algum homem realmente se digna a casar-se com ela, ele a considerará um bem de segunda mão. Ela terá que estar agradecida pelo resto de sua vida, e agüentar qualquer classe de trato que ele a impor. Deus, quem me dera não a tivesse a convidado aqui! -Quem dera.-conveio com frieza. -Bem, como foi que Granville meteria na cabeça fazer algo assim? Derek engoliu com força, baixando seu olhar acusador. Olhou a inocente dormindo a seu lado, e tocou uma mecha sedosa de seu cabelo. -Me diga que se deve fazer agora. - Para voltar a fazer respeitável Sara outra vez? -Lily se deu de ombros com impotência.-Encontraremos alguém que se case com ela. Quanto antes melhor. soltou-lhe um olhar sarcástico. -Algum candidato em mente? Sara despertou cedo, olhando inexpresivamente o teto desconhecido. Levou-lhe vários minutos para recordar onde estava. Esfregando-os olhos, gemeu com tristeza. Palpitavam-lhe as têmporas com uma dor aguda. Sentia-se bastante enjoada. Com cuidado saiu sigilosamente da cama e procurou com as mãos seu vestido cinza. Quando esteve totalmente vestida, seu cabelo preso na nuca chamou uma criada. Apareceu Françoise, trazendo uma expressão tão pormenorizada que ficou claro que ela sabia da noite anterior. Pálida e com domínio de si mesma, Sara sorriu brevemente. -Françoise, necessito de sua ajuda para embalar meus pertences. -apontou a sua roupa. -Vou para casa o quanto antes. A criada começou a conversar, assinalando a porta e mencionando o nome de lady Raiford. -A condessa deseja que eu a veja? -perguntou Sara, perplexa. Françoise fez um esforço cuidadoso para falar em inglês. -Com sua permissão, mademoiselle... -É óbvio. -disse Sara, embora não tinha nenhum desejo de falar com o Lily nem com ninguém mais esta manhã. Ela preferiria muito mais escapulir-se e tratar de esquecer que alguma vez tinha vindo a Raiford Park. A casa estava em silêncio enquanto Sara seguia Françoise, onde estavam situadas as suítes privadas dos Raiford. As nove em ponto eram muito cedo para que a maior parte dos convidados houvesse levantado. Só os criados estavam de pé, tirando o pó, esvaziando urinol, levando braçadas de lenha, limpando ralos, e acendendo o fogo. Françoise a conduziu a um pequeno salão decorado em tons branco e azul esverdeado, cheio de elegantes móveis de desenho Sheraton. lhe dando um sorriso

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acalentador, a criada partiu. Sara entrou no salão vazio e perambulou até a mesa de meia lua contra a parede. A mesa tinha um sortido de jade esculpido, marfim, e animais de lápis azuis. Agarrando um pequeno elefante de jade, Sara o examinou com cuidado. Sobressaltou-se quando ouviu a voz de Derek Craven atrás dele. -Como te encontra esta manhã?-Deixando a peça esculpida, Sara se voltou lentamente. - Es-estava esperando por Lily. -Derek parecia não ter dormido absolutamente. Sara duvidava de que sequer trocou de roupa, a qual estava enrugada e desalinhada. Seu cabelo negro estava completamente despenteado, como se tivesse passado as mãos cem vezes durante a noite. -Atualmente, Lily não pode fazer muito para te ajudar. Mas eu sim. Sara ficou perplexa. -Não necessito da ajuda de ninguém. Parto-me esta manhã, e... O que é isso em sua mão? Ela olhou fixamente a folha de papel que ele sustentava, coberta de grossos ganchos de ferro negros. -Uma lista . -de repente sério, Derek caminhou para ela e afastou as sortidas figuras esculpidas. Aplanou o papel sobre a mesa, lhe fazendo gestos para que olhasse. -Estes são os vinte solteiros mais elegíveis da Inglaterra, catalogados por ordem preferivelmente. Se nenhum deles é de seu gosto, ampliaremos a lista, embora estes são os mais apropriados pela idade e o caráter ... -O que? -Sara o olhou com incredulidade. -Agora trata de me casar? escapou uma gargalhada aturdida.-por que demônios qualquer desses homens me proporia matrimônio? -Escolhe um nome. Conseguirei isso. -Como? -Não há um homem na Inglaterra que não me deva um favor ou outro. -Sr. Craven, não há nenhuma necessidade para... Este absurdo... -Não tem opção. -disse com brutalidade. -Sim, tenho. Posso decidir não me casar com ninguém, e voltar para Greenwood Corners aonde pertenço. -Sara se tornou para trás quando ele tratou de lhe dar a lista. -Não olharei nenhum nome. Não conheço nenhum desses homens. Não quero me casar com um estranho somente por obrigação. Realmente minha reputação não significa muito para mim... Nem para ninguém mais. -As notícias disto alcançarão o povoado. Sabe das coisas que dirão sobre você. -Não me preocupa o que digam. Eu saberei da verdade, e isso me bastará. -Inclusive quando seu precioso Kingswood te olhe por cima do ombro por ser uma mulher arruinada? Isso fez com que Sara se estremecesse, com a imagem de Perry e sua mãe tratando-a com compaixão depreciativa sob uma capa de virtude cristã... Mas ela negou com resolução. -Suportarei qualquer carga que o Senhor tenha que me dar. Sou mais forte do que acredita Sr. Craven. -Não tem que ser forte. Toma o nome de alguém. Alguns homens desta lista têm os meios para manter você e seus pais luxuosamente. -Não me importa o luxo. Ainda posso me permitir meus princípios. Não mudará algum pretendente pouco disposto simplesmente por salvar meu nome. -Ninguém pode permitir-se princípios nestes tempos. -Ela acalmou mais ainda diante de sua crescente impaciência. -Eu posso. E nunca poderia me casar com alguém a quem não ame. Derek

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chiou os dentes. -Todos outros fazem! -Eu não sou como outros. -tragando uma resposta pouco aduladora, Derek obteve imóvel controlando-se. -Poderia ao menos olhar isto? -perguntou entre dentes. Foi para ele e deu uma olhada na lista pulcramente escrita, descobrindo que o nome de Lorde Tavisham estava no alto. -' Visconde ' escreve-se com "s". -murmurou. Um cenho de impaciência cruzou seu rosto. -O que pensa dele? Dançaram juntos ontem à noite. -Eu gostei bastante, mas... Está seguro de que ele é o solteiro mais elegível da Inglaterra? Acho difícil de acreditar. -Tavisham é jovem, com título, inteligente, tem bom coração, e tem uma renda anual que faz com que inclusive me piquem os dedos. Ele é a melhor presa que jamais vi. -Derek pôs um sorriso falso, pouco natural sobre seu rosto. Também acredito que gosta de livros. Uma vez o ouvi falando de Shakespeare. Você gostaria de te casar com alguém que lê, não? E é bonito. Alto... Olhos azuis... Sem cicatrizes de varíola... -Seu cabelo é escasso. -Derek pareceu ofendido, seu sorriso de pantera lisonjeadora desapareceu. -Ele é alto. É uma marca da nobreza. -Se estiver tão cativado, te case com ele. -Sara se afastou da janela, lhe voltando às costas. Abandonando todo intento de diplomacia, Derek a seguiu com o papel agarrado em sua mão. -Escolhe um ou te farei engolir isto! Ela ficou como se nada ouvisse diante de sua fúria. -Sr. Craven, - disse com muito cuidado -é muito amável por se interessar tanto por meu bem-estar. Mas é melhor que fique solteirona. Nunca encontrarei um marido que não se ofendesse que eu seja escritora. Não importa o bem intencionado fora ele a princípio, defraudaria-se por meu hábito de abandonar meus deveres de esposa para trabalhar em minhas novelas... -Aprenderá a viver com isso. -O que acontece se não fizer? O que acontece se proibir que escreva para sempre? Infelizmente, Sr. Craven, uma esposa está à mercê dos caprichos de seu marido em tais assuntos. Como pode me sugerir que confie minha vida e minha felicidade a um estranho que não pode me tratar com respeito? -Tratará-te como uma rainha, -disse Derek com gravidade.-ou responderá diante de mim. Sara deu uma olhada reprovatória. -Não sou tão ingênua, Sr. Craven. Não teria poder para fazer algo por mim, uma vez que pertença a outro homem. Derek sentiu que se ruborizava. -Algo é melhor que te deixar voltar para esse buraco pestilento do povoado para viver sozinha e ser desprezada por todos. -Como pensa me deter?-perguntou com suavidade. -Eu ... -Derek se deteve com a boca aberta. Dano físico, chantagem, e ruína financeira, suas ameaças comerciais, não eram opções neste caso. Ela não tinha dívidas de, nenhum passado escandaloso, nada que ele pudesse usar contra ela. E de nenhuma forma era suscetível ao suborno. Com impaciência considerou as possibilidades.

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-Fecharei seu editorial.-disse finalmente. Ela o enfureceu ao sorrir. -Não escrevo para ser publicada, Sr. Craven. Escrevo porque eu gosto do ato de pôr palavras sobre o papel. Se não puder ganhar dinheiro vendendo novelas, farei algum outro trabalho no povoado, e simplesmente escreverei para meu próprio prazer. -Enfrentando seu silencioso cenho franzido, Sara sentiu que sua diversão se desvanecia. Olhou-lhe fixamente a seus brilhantes olhos verdes, entendendo a razão de seu desconforto. Ele estava decidido a encontrar outro homem que cuidasse dela, mas isto não evitaria de querê-la para ele. Aprecio sua preocupação, mas não há nenhuma razão para que se preocupe. Não deve te sentir responsável por mim. Nada disto é tua culpa. Derek ficou pálido, como se ela o tivesse pegado com a mão em vez de agradecer. Uma névoa de suor apareceu sobre sua testa. -O que aconteceu ontem à noite foi minha culpa. -disse com a voz rouca. Uma vez tive uma aventura com lady Ashby. Granville te atacou porque ela o pediu, com um desejo de me ferir. -Compreendo. -murmurou. -Bem... Isso confirma tudo o que ouvi sobre lady Ashby. O rosto de Sara ficou branco. Levou-lhe meio minuto para formar uma resposta. -E embora deveria ter tido mais sentido levar uma aventura com uma mulher assim, a culpa é dela, não tua. -Ela se deu de ombros e sorriu ligeiramente. Além disso, deteve lorde Granville a tempo. Sempre te estarei agradecida por isso. Derek a odiou por ser tão docemente misericordiosa. Fechou os olhos e esfregou a testa. -Maldita seja, o que quer de mim? -Disse-lhe isso ontem à noite. -a névoa sobre sua testa se voltou finas gotas, enquanto o pulso de Derek se voltou forte e rápido. Ele tinha pensado que jamais nada o levaria a isto. E se realmente conseguisse afastar-se uma vez mais? Parecia que simplesmente voltaria outra vez. O olhar de Sara ficou sobre ele, enquanto esperou o que pareceram ser minutos infinitos. Tinha medo de falar, seu corpo inteiro se esticou com antecipação. De repente ele cruzou a distância entre eles e a tomou em seus braços, sustentando-a contra seu coração palpitante. Sua voz tão grave e firme enquanto lhe falava justo em cima de seu ouvido. -te case comigo, Sara. -Está seguro? -sussurrou. -Não te voltará atrás? Era estranho, mas como as palavras sortiam, sentiu-se poderosamente aliviado, como se uma parte sempre divergente de si mesmo acabasse de encaixar em seu lugar. -Disse que queria isto, -murmurou -inclusive sabendo o pior sobre mim. Deixa entrar em sua cabeça, então. Sara acariciou com o nariz o lado quente de seu pescoço.. -Sim, Sr. Craven, -sussurrou -casarei-me com você.

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CAPITULO DEZ Depois de ter sido informada do compromisso, Lily Raiford estava cheia de alegria e transbordando de uma multidão de projetos. -Deve permitir que Alex e eu preparemos as bodas, Sara. Algo pequeno e elegante na capela de Raiford Park, ou em nossa casa em Londres... -Obrigado, -disse Sara com vacilação -mas acredito que poderíamos nos casar no povoado.-Ela olhou para Derek de maneira inquisitiva com reação à sua idéia. Sua expressão era insondável, mas ele respondeu de boa vontade. -O que você quiser. -Agora que tinha dado o passo, não se preocupava com os detalhes: onde, como, ou inclusive quando. Tudo o que importava era que agora ela era dele... E pagaria qualquer preço para conservá-la. Lily continuou com excitação. -Então daremos uma recepção. Tenho muitos amigos maravilhosos aos quais te apresentarei respeitáveis e de outra classe. Enquanto isso a enviaremos a sua casa em uma de nossas carruagens, Sara, e Derek pode ficar aqui para falar com Alex... -Temo-me que não. -interrompeu Derek. -Sara e eu partimos em uma hora. Em minha carruagem. -Juntos? -Lily parecia surpreendida, e logo sacudiu a cabeça. -Não podem. Não compreende o que as pessoas dirão quando descobrirem que os dois partirão juntos? -Nada que não hajam dito. -Ele deslizou um braço possessivo ao redor dos ombros de Sara. Lily ergueu seu corpo miúdo tanto como foi possível, adotando o tom enérgico de uma protetora defendendo sua carga. -Onde planeja ir? Derek sorriu devagar. -Não é de sua maldita incumbência, cigana. -Ignorando os balbuciantes protesto de Lily, baixou o olhar a sua prometida e levantou as sobrancelhas zombadoramente. Quando encontrou seus brilhantes olhos verdes, Sara compreendeu que ele tinha a intenção de levá-la a Londres e deitar-se com ela. Seus nervos tilintaram alarmados. -Não estou segura que seja aconselhável... -começou diplomaticamente, mas ele a cortou. -vá empacotar suas coisas. OH, a arrogância. Mas era parte de dizer que a amava, sua decidida determinação de conseguir o que queria. Só a cega, intimadora obstinação lhe tinha permitido ascender o regato. Agora que a perspectiva de casar-se com ela estava dentro de seu alcance, planejava assegurar-se e comprometê-la totalmente. Depois desta noite não haveria como voltar atrás. Sara olhou fixamente a ampla extensão de seu peito, consciente do peso de seu braço sobre seus ombros, a suave carícia aprazível de seu polegar contra seu pescoço. Bem... Embora fosse censurável, ela desejava o mesmo. -Derek, -disse Lily com voz acerada,-não te permitirei forçar a esta pobre menina a algo que não esteja preparada... -Não é uma menina. -Seus dedos se apertaram sobre sua nuca. Diga o que quiser, Sara. Com impotência Sara levantou a cabeça e olhou para Lily, seu rosto se voltou de um profundo tom carmesim. -Eu... Parto com o Sr. Craven. -Não precisava olhar Derek para saber que ele

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estava sorrindo de satisfação. Lily suspirou brevemente. -Toda esta situação é indecente! -Um sermão de Lily a rebelde sobre comportamento indecente. -zombou-se Derek, inclinando-se para beijar a testa de sua amiga de muitos anos. -guarda-lhe isso para outro momento, cigana. Quero partir antes que todos despertem. Durante a viagem na carruagem a Londres, Derek incitou Sara a lhe falar sobre compromisso com Perry. Ela respondeu incomodamente com evasivas, sem querer falar mal de seu antigo noivo na suas costas. -Agora tudo isso é passado. Preferiria não falar de Perry. -Quero saber como tudo terminou entre vocês. Por tudo o que sei estou apanhado em meio de uma briga de amantes, e você volta correndo a ele como a fumaça some. -Mas não pode pensar isso de verdade! -Não posso? -Sua voz era perigosamente tranqüila. Sara o olhou com o cenho franzido, embora por dentro estivesse se divertindo. A criatura grande e fortemente masculina sentada frente a ela se cozia a fogo lento de ciúmes, claramente desejando lutar com seu rival invisível. -Não há muito que contar. -disse com serenidade. -O problema começou justo depois que Perry me pediu em casamento. Embora fossemos felizes a princípio, não passou muito tempo antes que descobríssemos que não encaixávamos. Perry disse que eu não era a mesma mulher que tinha conhecido toda sua vida. Disse que eu tinha mudado, e tinha razão. Nós nunca tínhamos discutido antes, mas de repente parecia que não concordávamos com nada. Temome que lhe fiz muito infeliz. -Então foi muito descarada. -comentou Derek, parecendo contente. Seu bom humor restaurado, estendeu a mão para acariciá-la com intimidade sobre a coxa. -Está bem. Eu gosto que minhas mulheres sejam descaradas. -Bem, Perry não. -afastou sua mão exploradora.-Ele quer uma mulher que permita mandar. Queria que deixasse de escrever, e enchesse a casa de filhos, e passasse o resto de minha vida atendendo a ele, e sua mãe, como um rei. Camponeses. -disse Derek sem rancor, exibindo o típico desdém pobre pelas pessoas singela do campo. Ele a atraiu de um puxão para seu lado, sem fazer caso dos intentos de escapar. –Falou a ele de mim? -Sr Craven! -Exclamou, protestando pelo puxão de suas mãos sobre seus quadris. Ele fechou seus braços ao redor dela. Seus rostos estavam muito perto, seus narizes quase roçando um no outro. -Falou? -Não, certamente que não. Tratei de não pensar em você absolutamente. os olhos de Sara se entreabriram quando olhou fixamente o oco bronzeado na base de seu pescoço. Aborrecido pelo civilizado confinamento de uma gravata, tirou o tecido engomado e tinha desabotoado o botão superior de sua camisa branca. Sonhei com você. -confessou. Derek passou a mão por seu cabelo castanho e aproximou mais a cabeça à sua. -Que fazia eu em seus sonhos? -perguntou contra seus lábios. -Perseguia-me. -admitiu em um sussurro mortificado. Um sorriso delicioso curvou sua boca. -Alcancei você? Antes que pudesse responder seus lábios estavam sobre os seus. Sua boca

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se retorcia com delicadeza, sua língua procurando o sabor íntimo dela. Fechando os olhos, Sara não protestou quando ele tomou seus punhos em suas mãos e entrelaçou seus braços ao redor de seu pescoço. Ele esticou uma de suas pernas para descansar o pé sobre o assento. Apanhada no refúgio de suas fortes coxas, não tinha outra opção que deixar que seu corpo descasasse sobre sua dura longitude. Devagar a acariciou e a beijou, obtendo um suculento prazer de cada nervo. Quando começou a deslizar sua mão dentro de seu sutiã, o tecido de lã grossa de seu vestido resistiu a seus esforços. Frustrado em seu intento por alcançar seus seios, ele afastou uma mecha de seu cabelo e arrastou sua boca sobre seu pescoço. Ela ficou rígida, incapaz de conter um gemido de prazer. A carruagem balançou e sacudiu de repente, obrigando seus corpos a ajuntar-se mais com o impacto. Derek sentiu aproximando-se de um ponto de inflamação, mas do qual não haveria volta. Com um gemido torturado afastou à força o corpo voluptuoso de Sara do dele e a manteve afastada, enquanto ele lutava por sair de uma névoa escarlate de desejo. -Anjo. -disse com voz rouca, empurrando-a para o assento em frente. -Se... Será melhor que se que sente ali. Perplexa, Sara quase caiu no chão por seu suave empurrão. -Mas por quê? Derek baixou a cabeça e cravou seus dedos em seu cabelo negro. Sobressaltou-se quando sentiu sua mão acariciar sua nuca. -Não me toque.-disse, com mais brutalidade do que queria. Levantando a cabeça, olhou fixamente o rosto perplexo de Sara com um sorriso torcido. -Sinto muito -sussurrou -mas se não te afasta, céu, vai acontecer justo aqui. Entraram no Craven's discretamente pela porta lateral, que estava guardada por Gill. -Sr. Craven.-disse com respeito, e afastou a vista da convidada feminina com uma amostra de tato. Mas a capa cinza que ela levava era vagamente familiar. De repente reconhecendo a visitante, Gill gritou com prazer. -Senhorita Fielding! Pensei que nunca a veríamos aqui outra vez! Volta para investigar mais? Sara avermelhou e sorriu, sem saber como responder. -Olá, Gill! -Digo a Worthy que você está aqui? Ele certamente vai querer saber... Derek interrompeu com uma voz cortante. -Chamarei a meu encarregado se quiser vê-lo. Agora mesmo não quero ser incomodado. -Se os empregados era consciente de sua presença, viriam todos em turma para rodeá-la em questão de minutos. Não estava de humor para celebrações improvisadas pela volta de Sara Fielding. Havia trazido ela aqui em busca de intimidade. -OH. Sim, Sr. Craven. -os olhos de Gill se arregalaram como pratos começando a compreender. Com prudência se calou e reatou seu posto na porta. Derek levou Sara aos apartamentos do andar de acima do clube, sua mão descansando sobre as pequenas costas enquanto subiam a escada. Ela se deteve assim que entraram no grupo de quartos privados, e inspecionou em entorno com curiosidade. -Parece diferente. -comentou. De muito bom gosto, na realidade. As cortinas de viva cor ameixa tinham sido trocadas por um fresco tom de azul. O couro dourado em relevo sobre as paredes tinha sido substituído por uma capa de

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pintura de brilhante cor marfim. Em lugar do tapete oriental no chão, havia um elegante tapete de desenho floral inglês. -Troquei algumas coisas depois de que você partiu. -disse Derek secamente, pensando em todos os móveis e malhas arruinadas que tinham sido substituídos. Ele a tinha desejado tão desesperadamente que só tinha sido capaz de aliviar a dor bebendo infinitas garrafas de genebra e destruindo tudo o que estava à vista. Agora ela estava ali. Afirmava lhe amar. De repente a situação parecia tão fantástica que temeu estar tendo um sonho etílico, e que despertaria em uma paralisação para descobrir que ela não estava ali. Sara perambulou de quarto em quarto, notando todas as mudanças, e ele a seguiu devagar. Quando alcançaram o quarto de Derek, estava desconcertada pelo denso silêncio entre eles. Estava acostumada às brincadeiras provocadoras, os sorrisos sedutores, a experimentar seu companheirismo. Nenhuma das mulheres que conhecia estava impedida pela inibição ou a modéstia. Mas Sara estava tranqüila, seus movimentos se fizeram rígidas enquanto ia para um vaso com flores cortadas suspenso sobre uma mesa lateral de bronze. De repente Derek sentiu uma pontada desconhecida de remorso. O impulso de trazê-la aqui tinha sido egoísta. Deveria havê-la permitido voltar a sua família. Como o descarado brincalhão que era não a tinha dado opção. -É sempre tão incômodo? -Perguntou Sara. Sua voz era muito baixa. Derek deu a volta para olhá-la, seu olhar fez com que à rosa branca caísse de suas mãos. Ela a tinha tirado do acerto de flores do vaso. Seus dedos enrugavam nervosamente as frágeis pétalas. Com acanhamento Sara cheirou a flor branca e começou a inseri-la de novo no enorme vaso. -É agradável ter rosas em Janeiro. -murmurou. -Nada no mundo tem um aroma tão encantador. Ela era tão inocentemente formosa, com as ondas desordenadas de seu cabelo caindo ao redor de seu rosto. Seus músculos se esticaram em resposta. Gostaria de tê-la assim, apoiada na mesa com sua cabeça voltada para ele, a flor branca agarrada em seus dedos. -Traz ela aqui. -disse ele. Ela obedeceu, indo para ele e lhe dando à rosa. Ele fechou seus dedos ao redor da cabeça macia da flor e atirou com cuidado, liberando as pétalas de suas frágeis cordas. Abandonando o caule profanado, ele abriu sua mão sobre a cama. As pétalas se dispersaram em uma chuva de perfume. Sara respirou rapidamente, o olhando fixamente como hipnotizada. Derek estendeu a mão para ela, tomando seu rosto em suas mãos grandes. A palma de sua mão perfumada de rosa estava quente contra sua bochecha enquanto seus lábios encontravam os seus. Ele a saboreou ligeiramente, brincando, até que ela se abriu para permitir o mergulho liso de sua língua. Suas mãos abandonaram seu rosto e desceram movendo-se por suas costas, saboreando a forma de seu corpo encerrado dentro do pesado vestido. Sara se apoiou contra ele, rodeando seus ombros com seus braços. Houve um puxão no laço que amarrava seu cabelo, e uma cortina frisada de mechas avermelhadas caiu em suas costas. Com um grunhido de prazer Derek afundou os dedos em seu cabelo, acariciando, entrelaçando, levando os em seu rosto. Um pulso palpitante pulsou na garganta de Sara quando Derek estendeu a mão para desatar seu vestido de lã. Ela estava imóvel sob suas mãos peritas, inclusive quando o vestido caiu ao chão para revelar sua enrugada roupa íntima de

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linho e suas meias de algodão cuidadosamente remendadas. Devagar Derek se afundou de joelhos diante dela, atraindo seu corpo contra seu rosto e respirando através de sua blusa solta. Sara se crispou como se escaldasse, suas pequenas mãos foram descansar sobre seus ombros. Estendendo a mão sob a prega da blusa, Derek encontrou a cintura de suas calcinhas e as abaixaram até os tornozelos, seguindo suas meias. Suas mãos percorreram suas pernas nuas, seus dedos se inundaram nos ocos atrás de seus joelhos, subindo por suas coxas até suas nádegas. Ela não parava de mover-se intranqüila, mas permitiu a carícia... Até que sentiu sua boca invadindo a parte superior de sua perna, sua língua cruzando sua pele em um ardente roçar. Atirando bruscamente sobre ele com uma incoerente gagueira, retrocedeu até que sentiu a beira da cama contra seus quadris. O olhou surpreendida com os olhos arregalados. Durante um momento Derek conheceu uma consternação igual à sua. Tinha a assustado. Maldita seja, pensou... E se perguntou pela primeira vez em sua vida como fazer amor como um cavalheiro. Procurou controlar-se, enquanto Sara dava um olhar de desculpa. Às escondidas ela atraiu brevemente seu corpo escassamente vestido. Suspeitando pela metade que ela poderia desistir, Derek começou a desabotoar a camisa. Sara se apoiou contra a enorme cama, agradecida por seu apoio. Um torvelinho de pânico a atravessou quando Derek tirou a camisa branca. Ela desviou seu olhar para o chão, mas não antes de ter visto qual grande e formidável era seu corpo, seu torso com fortes músculos, o peito coberto do espesso belo negro. Cicatrizes marcavam sua pele, heranças de sua vida nos bairros pobres. Ele era um homem de enorme experiência. Tudo era novo e aterrador para ela era normal para ele. Ele tinha conhecido inumeráveis mulheres que estavam tão familiarizadas com esse ato como ele. Como poderia ele evitar sentir-se decepcionado por ela? -Fez isto muitas vezes antes, não? -murmurou, fechando os olhos com força. Ouviu cair ao chão sua calça. -Nunca com alguém a quem... -deteve-se e limpou garganta.-Nunca com alguém como você.-Seus pés nus caminharam sem fazer ruído pelo chão para ela. Sara se estremeceu quando suas mãos rodearam sua cintura, atraindo-a contra seu corpo nu. O calor de sua pele atravessou a capa de sua regata. Ele excitado, palpitando com força e enormemente ereto contra ela. -Abre os olhos.-disse.-Não há nada que ter. Ela se obrigou a obedecer, olhando fixamente seu peito. Seu coração pulsava tão violentamente que parecia esmurrar suas costelas. Como se ele pudesse ler sua mente, Derek baixou sua boca a seu cabelo e a abraçou com força. -Sara... Vou cuidar de você. Nunca te farei mal, nem te forçarei a fazer nada que não queira fazer. -Respirou fundo e se forçou a acrescentar a contra gosto. -Se quiser que isto pare, então me diga Provavelmente não será agradável. Mas esperarei. Nunca saberia quanto lhe custaram essas palavras. Ia contra sua natureza negar-se a si mesmo que o desejasse tão desesperadamente. Tinha sido privada quando era jovem, tinha-lhe feito egoísta até a medula. Mas suas necessidades foram muito importantes para ela, seu afeto muito precioso para pô-lo em perigo. Sara levantou os olhos para ele, lendo a verdade em seu rosto. Finalmente seu corpo se relaxou contra o seu. -Deve me dizer como te agradar. -disse com suavidade. -Eu não sei nada... E você sabe muito.

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Suas pestanas negras baixaram com um movimento rápido de fogo verde. Um sorriso sardônico atirou das comissuras de sua boca. -Encontraremos algum meio termo. -prometeu ele, e a beijou. De bom grau Sara deixou cair os braços quando ele fez baixar a blusa de seus quadris ao chão. Ele levantou seu corpo nu na cama, e o aroma de rosas vagou sobre eles. Um intenso rubor a cobriu da cabeça aos pés, e se moveu para juntar as mantas ao redor dele. Derek a deitou com uma sorriso surdo, suas mãos percorrendo seu corpo encolhido. -Não seja tímida comigo. -Beijou a pele translúcida de seus ombros e o suave seio, saboreando a viçosa suavidade. Levantando a cabeça, olhou-a fixamente nos olhos. -Sara, tem que acreditar... Que jamais desejei assim a ninguém. -Ele fez uma pausa, consciente da banalidade sublime das palavras. Entretanto o levaram a seguir como um idiota apaixonado, tratando de fazê-la entender. -É a única a quem jamais hei... OH, maldita seja. Enquanto ele lutava com as palavras, sua pequena mão subiu até seu rosto, deslizando-se meigamente sobre seu queixo. Sabia o que ele tratava de dizer. -Não tem que dizer. -sussurrou ela.-Não se preocupe. Derek virou seus lábios contra sua mão, e ela fechou os dedos depois, para manter o beijo protegido. -Tudo o que tenho é teu. -disse com a voz áspera. -Tudo. -Só quero você. - Rodeou seu pescoço com os braços e o atraiu para ela. Sua delicadeza era assombrosa. Ela tinha esperado a mesma paixão violenta de seus outros encontros... Mas esta noite ele não era nenhum pirata ruim e saqueador. Em troca ele a reclamou com o movimento de um ladrão, explorandoa com uma paciência cautelosa que a fez arder. Ele a despojou de sua modéstia, com domínio, de todo pensamento, deixando-a sem nada mais que um fogo latente de sensação... Sua mão agarrou ligeiramente o peso redondo de seu seio, levantando-o enquanto ele cobria o topo com sua boca. Devagar sua língua riscou o excitado casulo fazendo com que a carne sensível se contraísse. Ele foi ao outro seio, chupando e mordiscando até que Sara se retorceu contra sua boca. Recolhendo um fragrante punhado de pétalas, Derek os orvalhou sobre seu corpo, brincando com suavidade enquanto os empurrava com suavidade por sua pele. Sara se arqueou contra ele, abandonando-se a sua tenra paixão. Poucos fragmentos de delicadas pétalas se enredaram em fofo montão de cachos entre suas coxas. Ele alcançou os suaves fios, mas Sara ficou rígida pela surpresa e tentou afastar sua mão. -Não. -protestou quando ele usou sua perna para abrir as suas à força. Derek a sujeitou facilmente e sorriu contra seu pescoço. -Por que não? -Ele fechou seus dentes sobre o pequeno lóbulo de seu ouvido. Riscando a frágil borda com a ponta de sua língua, lambendo com veemência o interior da curva com forma de búzio, falou no mais suave dos sussurros. -Cada parte tua me pertence... Dentro e fora de você. É minha por toda parte. Inclusive aqui. Cavando sua mão entre suas pernas, brincou com ela até que sentiu um brilho de umidade contra sua mão. Seus débeis protestos se desvaneceram no silêncio enquanto ele separava os cachos suaves e a examinava com extremo cuidado. Ele a encontrou Lisa e sujeita, sensível ao roçar de seus dedos. Apertando, estimulando, com cuidado moveu seus dedos dentro da escorregadia suavidade, até que ela ofegou e cravou as unhas em seus ombros. Derek se estremeceu de desejo, levantando-se sobre ela, possuindo sua boca com um beijo molhado, carnal. Sara respondeu com sua própria demanda feminina, passando suas mãos sobre a superfície plaina e musculosa de suas costas, tratando

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de apertá-lo mais sobre ela. Incapaz de esperar mais, Derek abriu mais seus joelhos e se colocou contra ela. Com cuidado ele introduziu dentro, movendo-se com suavidade além da resistência virginal. Sara gritou quando foi rasgada, invadida, com uma profunda investida. Derek sustentou firmemente seus quadris enquanto ele se impulsionava inclusive mais para dentro, inundando-se em seu calor. Seus sentidos rondavam o êxtase, e ele lutou por conter-se enquanto ela se retorcia debaixo dele incômoda. -Sinto muito. -sussurrou Derek, fechando os olhos. -Sinto muito... OH, Deus, não te mova.-Sara se afundou contra ele, seu fôlego caindo sobre seu ombro em delicadas baforadas. Pouco a pouco ele a dominou e apertou seus lábios em sua testa encharcada. -Assim está melhor? -murmurou, mudando seu peso. Sara tremeu, sentindo mudar a pressão dentro dela. -N-não sei. Ele empurrou outra vez, um comprido e suave deslizamento. -E assim? -perguntou com a voz rouca. Ela não podia responder seus lábios separando-se em silêncio suspenso enquanto ele começou um ritmo lento. Cada grande onda trazia um movimento rápido de dor, mas um instinto profundo a impedia que suas vozes que se arqueassem, os músculos de seu interior apertando-se para mantê-lo dentro. Sua cabeça negra caiu sobre seus seios, sua boca chupava seus mamilos com uma suave sucção brincalhona. Perdido em uma maré crescente de sensação, Sara sentiu surgir entre eles mais suavidade escorregadia, até que o movimento de vaivém se converteu em um fluido carente de fricção. -Por favor... Deve parar. -ofegou, enquanto seus músculos se apertavam ao redor dele. -Não posso suportar mais. Os olhos esmeralda brilharam triunfantes. -Sim, pode. -Ele se inundou mais profundamente dentro de seu corpo lutando, suas investidas sem piedades. Com um gemido ofegante, ficou imóvel debaixo dele enquanto uma grande onda de prazer a atravessava, incomparável a algo que jamais havia sentido antes. Ele a envolveu com seus braços, impulsionando-se mais profundamente, prolongando os espasmos deliciosos. Quando ela finalmente ficou saciada, ele conseguiu sua própria satisfação, seu corpo tremendo com a violenta liberação. Permaneceram abraçados fortemente durante muito tempo, relaxando-se entre os lençóis enrugados. Derek se reclinou sobre o flanco e a manteve contra ele, seus lábios vagando sobre sua frente e o bordo sedoso da linha de seu cabelo. Sara riu assombrosamente sonolenta, aspirando o perfume das pétalas esmagadas e o aroma de sua pele. -Foi o que esperava? -Ele riscou o suave desenho de seus quadris. -Não. Foi muito melhor. -Para mim também. Foi diferente de... -Derek se deteve, duvidando de falar de suas experiências passadas. -De todas suas outras mulheres. -terminou por ele com secura.-me diga em que foi diferente. Ela se ruborizou e apertou o rosto contra seu peito. Derek sacudiu a cabeça. -Você é a única que tem as palavras desejáveis. Não posso explicar. -Tenta -insistiu, atirando de modo ameaçador os cachos de seu forte peito. -

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com suas próprias palavras. Ele cobriu seus dedos valentes com os seus próprios, apertando sua mão frouxa. -Simplesmente foi melhor, de um extremo a outro. Sobre tudo esta parte. Abraçou-a com mais força. -Nunca havia sentido tanta paz depois. -E feliz? -perguntou com esperança. -Não sei o que é sentir 'feliz'.-Ele procurou sua boca para um breve e forte beijo, e sua voz se voltou tão áspera como o veludo.-Mas sei que quero ficar dentro de você para sempre. Enquanto a noite se aproximava, Sara se encerrou na intimidade do banheiro ladrilhado e mobiliado. Ficou perplexa pela chegada de uma criada que insistiu em fazer os preparativos para o banho: esquentar toalhas, trazer e provar a água, dispor uma bandeja de sabões e perfume. Embora Sara tivesse ouvido que era normal para as damas aristocráticas necessitar de ajuda com seus banhos, ela sentia que em seu caso era desnecessário. -Obrigado, isso será suficiente. -disse com um sorriso desconcertado enquanto se metia na água quente. Mas a criada esperou enquanto ela se banhava, e sustentou uma toalha quente quando ela saiu. Usou outra toalha para secar suas costas e seus braços. Parecia terrivelmente decadente, permitir que alguém fizesse com que ela fosse absolutamente capaz de fazer por si mesma, mas parecia não haver nenhuma opção. Sara cheirou com curiosidade os recipientes de perfume oferecidos, descobrindo rosas, jasmim, jacinto, e violeta, mas recusou usar a qualquer deles. A criada ajudou a vestir um roupão largo de grossa textura de seda. Murmurando obrigado pela ajuda, Sara finalmente pôde se despedir da criada. Enrolou as mangas largas do roupão e voltou para o quarto de Derek, a prega da roupa arrastava pelo chão atrás dela. Vestido com um roupão similar, Derek estava de pé diante da lareira. Ele empurrou um tronco ardente com um atiçador. Quando a olhou com um meio sorriso, a luz dourada avermelhada jogou sobre seu cabelo negro e seu rosto moreno. -Como se sente? -um pouco faminta. -respondeu, e logo acrescentou timidamente.-Muito faminta. Derek se aproximou dela, tomando seus ombros em suas mãos grandes. Sorrindo, beijou brandamente a ponta de seu nariz. -Posso fazer algo por você. -Ele deu a volta para pôr a de frente a uma mesa carregada de bandejas e fontes de prata bordejadas. -Monsieur Labarge se excedeu por seu bem. -Que maravilha, mas... -A cor subiu em suas bochechas. -suponho que todos sabem o que estivemos fazendo. -Todos. -assentiu ele.-Acredito que terá que te casar comigo, senhorita Fielding. -Para salvar sua reputação? -Derek sorriu abertamente, inclinando-se para beijar o brilho de seu pescoço branco revelado pelo roupão. -Alguém tem que fazer de mim um homem respeitável. -Conduziu-a a mesa e a sentou. -Teremos que nos servir nós mesmos. Despedi os garçons. -OH, bem. -disse Sara aliviada. Pegando um guardanapo bordado sobre o colo, estendeu a mão a uma fonte de patês e pudins com forma pequena. -Acredito que seria ruim ter criados rondando todo o tempo. Derek se serviu com uma concha de sopa um caldo condimentado com

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verduras, e trufas. -Acostumará. -Acha que não sei fazer? -Então despediremos de alguns. Sara franziu a sobrancelha, sabendo o quanto era difícil encontrar emprego em Londres. Muitas das prostitutas com as quais tinha falado uma vez tinham sido criadas despedidas por patrões aristocráticos. Expulsas nas ruas, não tinham outra opção mais que vender-se. -Não poderia despedir de ninguém somente porque não estou acostumada que me sirvam. -protestou. Derek se divertia com seu dilema. -Então teremos que manter os criados. - Ofereceu um sorriso alentador, dando-a uma taça de vinho. -Dessa forma terá mais tempo para escrever. -Isto é verdade. -disse ela, animando-se pela idéia. Consumiram o jantar a um ritmo tranqüilo, enquanto o nível de vinho da garrafa baixou mais ainda e o fogo na lareira ardia com vermelhos carvões quentes. Sara nunca tinha comido uma comida tão deliciosa em sua vida: suculenta lagosta e bolo de carne de codorna ao forno, e peitos de frango enrolados em folhas empanadas, fritas em manteiga, e cobertas de um rico molho de Madeira. Derek seguiu animando-a a provar diferentes bocados: um bocado de suflê de batata com uma ligeira capa de nata azeda, uma colherada de geléia condimentada de licor que se dissolveu em sua língua, um pouquinho de salmão defumado em ervas. Finalmente enchi, Sara se derrubou em sua cadeira e o olhou quando partiu para alimentar o fogo. -Come assim todo o tempo? - perguntou com satisfação, aplicando sua colher em um mingau brandamente condimentado com amêndoa. -Não entendo por que não está gordo. Deveria ter uma barriga do tamanho da de um rei. Derek riu e voltou para a mesa, arrastando Sara em seu colo quando se sentou. -Graças a Deus que não... Ou não seria capaz de te abraçar assim. Ela se curvou contra seu forte peito e bebeu da taça de vinho que ele sustentava em seus lábios. -Como adquiriu um chef com tanto talento? -Tinha ouvido a reputação de Labarge, e queria o melhor para meu clube. Então fui a França a contratá-lo. -Foi difícil convencê-lo para partir contigo? Derek sorriu evocadoramente. -Quase impossível. Os Labarge tinham trabalhado para a família de um conde francês durante gerações. Labarge não queria romper a tradição, não quando seu pai e avô tinham sido empregados da mesma família. Mas tudo têm um preço. Finalmente me ofereci a lhe pagar duas mil libras por ano. Também concordei em contratar a maior parte de seu pessoal de cozinha. -Dois mil? -repetiu pasmada. -Nunca ouvi dizer que pagasse tanto a um chef. -Não acha que ele vale? -Bem, desfruto muitíssimo de seus pratos. -disse Sara com ardor. -Mas sou do campo. Não distinguiria a boa comida francesa da má. Derek riu de sua naturalidade. -O que come as pessoas no campo? -Tubérculos, guisados, cordeiro... Faço uma panela de pimentas muito boa. Devagar acariciou a cascata de seu cabelo.

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-Terá que fazer para mim algum dia. -Não acredito que Monsieur Labarge permitirá. Ele é muito possessivo com sua cozinha. Derek seguiu brincando com seu cabelo. -Iremos a uma casa de campo que tenho em Shropshire. -um sorriso cruzou seu rosto.-Colocará um avental e cozinhará para mim. Nunca tive uma mulher que fizesse isso. -Seria agradável. -disse distraidamente, baixando sua cabeça em seu ombro. Mas a menção da casa de campo tinha despertado seu interesse. Depois de um momento elevou os olhos para ele com uma pergunta. -O que acontece? -perguntou. Ela pareceu escolher suas palavras com cuidado. -O Sr. Worthy uma vez me disse que possui muitas propriedades. E todos dizem que tem feito uma fortuna com o clube. Ouvi às pessoas afirmar que é um dos homens mais ricos da Inglaterra. Somente estive me perguntando... -Ela vacilou, recordando a advertência de Perry de que não correspondia a uma mulher perguntar sobre assuntos financeiros. - OH, não importa. -O que quer saber? Quanto possuo? -Derek leu a resposta na sua expressão envergonhada, e sorriu ironicamente. -Não há uma resposta simples para isto. Assim como tampouco para minhas propriedades pessoais, há fazendas, mansões, e extensões de terra transferidas a Craven's em pagamento de dívidas de jogo. Também, jóias, objetos de arte... Inclusive algum puro sangue. Essas coisas não são estritamente minhas, já que pertencem ao clube... -Mas o clube é teu. -terminou ela. -Efetivamente. -Sara não podia resistir em sondar mais ainda. -Que contas entre sua propriedade pessoal? -Derek teve a elegância de parecer ligeiramente incômodo. -Quatro fazendas... Um grupo de casas em Londres... Um cháteau no Vale do Loira... -Um castelo? Achava que você não gostasse da França! -Vinha com excelentes vinhedos. -disse na defensiva, e reato sua lista. -Um castelo em Bath... -Um castelo? -repetiu desconcertada. Ele fez um gesto com a mão como se não fosse nada. -Está em ruínas. Mas há colinas bosques com cervos, e riachos cheios de peixes... -Estou segura que é muito pitoresco. -disse Sara com a voz estrangulada. Não tem que continuar. Seus olhos se entrecerraram sobre ela. -por que tem esse aspecto? Sara quase se afogou com uma mistura de risada e consternação. -Acabo de começar a compreender quão rico é. É bastante aterrorizador. -Acostumará. Ela sacudiu a cabeça. -Não acredito. Havia uma ligeira brincadeira em seu tom, mas seus olhos brilharam de uma maneira estranha enquanto respondia. -Comprometeste, céu. É muito tarde para mudar de idéia. Sara sacudiu a cabeça e levantou de seu colo. -Posso viver estando comprometida. Onde está minha roupa? -só estava brincando, sem ler a repentina tensão em seu rosto. -Disse que ficaria comigo acontecesse o que acontecesse.

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-Nesse momento,-disse, perambulando até a lareira. -não sabia que um cháteau e um castelo seriam parte do acordo. -Ela sacudiu a cabeça aturdida. -É quase muito para aceitar. Acredito que seria melhor que voltasse para Greenwood Corners.-Não sabia que ele a tinha seguido até que a fez virar para confrontá-lo. Sua mão agarrou seus braços com dolorosa força. Sara se alarmou quando elevou a vista a seu rosto áspero. -O que? -ofegou. -Que demônios...? -Não permitirei me abandonar. -Sua voz era tranqüila, mas seu corpo alto estava rígido, suas mãos fervendo. Ela piscou assombrada. -Não quero te abandonar. -Quando seus olhos perfuraram os seus, ela compreendeu que tinha descoberto um ponto vulnerável, como um pedaço magro sobre a superfície de um rio congelado. Em poucas palavras descuidadas se abriu caminho às profundidades escuras que ele ocultava tão bem. Ele estava mortalmente calado, ainda olhando-a fixamente, enquanto ela tratava de acalmá-lo. -Não brincarei com isso outra vez. Somente estava surpreendida. Não... Não deve me agarrar os braços tão forte. -Seus dedos se afrouxaram, e ele começou a respirar outra vez, em feitas ondas ásperas. Toda a cômoda tranqüilidade da tarde se foi. Bruscamente haviam se tornado estranhos. -Nada me faria te abandonar. murmurou Sara.-Não confia em mim ainda, verdade? -conheci muitas mulheres falsas. -Derek estava amargamente surpreso por suas próprias atitudes. Acabava de demonstrar além de qualquer dúvida por que não parecia um para o outro. A confiança era só uma das muitas coisas que não podia lhe dar. -Tudo o que te peço é que tente. -Sara se apoiou nele, contra a leve pressão que ele exercia para retê-la. Ela apertou seu ouvido contra o violento batimento de seu coração. Fé, perseverança, confiança... Ele sabia pouco de tais coisas. Necessitaria tempo para aprender. -É muito cínico.-sussurrou.-Não quer acreditar em nada que não pode ver ou tocar. Não é tua culpa. Sei por que tiveste que ser assim. Mas deve tratar acreditar em mim. -Não sei se posso mudar. -Já mudaste. -Sorriu quando pensou em como tinha sido seu primeiro encontro. Derek esteve em silencio durante um longo momento. -Está certo. -disse com um pouco de surpresa. Ela beijou seu peito coberto de seda e suspirou. -Possivelmente é estranho, mas não tenho medo de ser pobre. É o que sempre estive acostumada. Tenho um pouco de medo de ser rica, embora não posso imaginar vivendo em uma mansão. Ele envolveu seus braços ao redor dela. -Estava acostumado a caminhar pelos bairros pobres, e em vez de ver as cozinhas dos ladrões e os mendigos, imaginava palácios dourados e criados. Espaços cheios de velas, mesas amontoadas com comida. -E o fez realidade. -Tive um pouco de sorte. -Não foi sorte. -abraçou-lhe com mais força. -Foi você. É um homem extraordinário. Tocou-a como se não pudesse deter-se. -Desejo-te. -murmurou, embora o fato fosse óbvio, com seu corpo aplanado contra o seu. As Palmas de suas mãos roçaram as curvas profundas de seus quadris, cintura, seios. Bruscamente tirou o roupão de seda. A luz dançava sobre sua pele exposta, dourando a brancura de porcelana.

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Sara se moveu com vacilação para a cama, mas ele atirou ela para colocá-la diante dele., passando os polegares sobre seus mamilos em ligeiros círculos. Havia uma nova certeza em seu contato, já que ele tinha aprendido o que a excitava. Fazendo-a baixar ao chão, ele empurrou com suavidade suas costas no fundo da seda de seu roupão. Sara se estirou cumprindo suas ordem, e ele baixou sobre ela, bloqueando o brilho do fogo. Ela tremeu pela erótica carícia de sua língua quando ele lambeu a sombreada curva inferior de seu seio. Sua boca vagou sobre ela com beijos abertos, molhados que enviaram ondas de excitação por sua pele. Em alguns lugares sentiu seus dentes perto sobre ela, obtendo uma contração de surpresa. Derek a aprisionou com seu próprio corpo, suas musculosas pernas enredando-se nas suas, seu peso enjaulando-a contra o piso atapetado. Ela não pôde conter um suave gemido quando ele se apertou intimamente contra ela, rigidez e ardente pele sedosa... Ele fez um movimento sedutor, um ritmo que prometia o alívio da doce tortura. Sara se levantou, impaciente para que a possuísse. Mas ele se conteve, seus olhos verdes ardendo travessamente. -Por favor. -sussurrou. Ele se moveu para baixo para beijar seu umbigo, sua língua metendo-se no pequeno oco. Uns poucos giros delicados, e soprou brandamente contra o círculo úmido. Ele encaixou suas mãos ao redor da curva profunda de sua cintura, logo formou a redondeza de seus quadris em suas mãos, amassando com suavidade. A carícia suave como uma pluma dos cachos contra seu queixo era uma tentação poderosa. Ele baixou sua boca ao acolhedor triângulo, sem fazer caso de sua repentina sacudida de indecisão. Avidamente aspirou seu aroma, seus nervos se estimularam pela doçura terrestre. Incitada a atuar, Sara lutou desesperadamente por escapar dele. Ele envolveu seus braços ao redor de suas coxas, sujeitando-a, e sua cabeça baixou ainda mais ao espaço que se fez para si mesmo. Atravessou acariciando os cachos viçosos com curtas e atormentadoras carícias de sua língua. Sara gemeu em uma negativa quando ele conseguiu aprofundar na suave fenda, procurando o sabor embriagador de seu corpo. Seus dedos ziguezaguearam com cuidado pela área de cachos, separando-os. Ele encontrou o delicado centro de sensações e o acariciou com sua língua, excitando-o, insinuando-se mais profundamente dentro da suavidade. Impregnada de prazer e vergonha, Sara estava sem mover-se. Seu sabor era desesperadoramente erótico. Ele cobriu a tentadora carne feminina com sua boca e atirou com firmeza. Ao mesmo tempo deslizou seus dedos dentro da úmida passagem, acariciando de maneira diferente ao ritmo regular de sua boca. Sara gritou de repente, arrastada dentro de um redemoinho de agitação, seus sentidos transbordando-se. Quando o último tremor diminuiu, Derek levantou seu corpo sobre o seu e empurrou dentro dela, lhe agarrando os quadris com suas mãos grandes. Ele soltou um gemido de prazer e começou a empurrar com um movimento constante. Seus corpos convergiram até que não ficou nenhum espaço entre eles. Sentindo o estremecimento de seu orgasmo ressonando profundamente contra seu útero. Sara o envolveu em seus braços. Esfregou seu rosto contra seu brilhante cabelo negro. -Realmente te amo. - sussurrou-lhe ao ouvido -.... E nunca te abandonarei. Passaram pelo centro de Greenwood Corners no meio da amanhã. Sara se manteve separada das janelas, sabendo as fofocas que causaria ser vista na magnífica carruagem privada. Comerciantes e mulheres do povoado levando grandes cestas nos braços se detiveram para olhar o avanço da carruagem. Os

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lojistas saíram para comentar em concorrência sobre a carruagem laqueada, o casal de escoltas, e o criado com liberdade. Em Greenwood Corners poucas vezes se viu uma carruagem semelhante, se tivesse visto alguma vez. Algumas pessoas seguiram o veículo de longe para determinar sua direção e voltaram correndo para informar que este viajava para a casa de campo dos Fielding. Quando alcançaram a casa de seus pais, Derek ajudou Sara a descer da carruagem privada. Falou brevemente com o criado antes que Sara percorresse o caminho que conduzia à porta da casa de campo. -Á noite não se acabou. -disse ela, agarrando seu braço com força. -Haverá outras noites para nós. -Não por um tempo. Isto a fez merecedora de um olhar penetrante. -Arrumará as bodas quanto antes. Aceita a oferta de ajuda da Lily se for necessário. -Sim, senhor. -Sara sorriu por seu tom autoritário. -Quase parece que esteja ansioso para casar-se comigo. - Será logo. -resmungou. Sara se alegrou de sua repentina inquietação, sabendo que significava que ele estava pouco disposto a separar-se dela. Ela temia pela metade que tivesse sonhado aos dois dias anteriores. -Se não voltar pra mim, encontrarei você em Londres. -ameaçou. -Ou enviarei a Papai, e ele te trará aqui no extremo de seu velho mosquete. Derek fez uma careta. -Duvido muito de que algum homem em seu juízo me escolhesse para sua filha. -OH, papai é um homem sábio, boa pessoa. Adorarão o um ao outro. Somente te assegure de falar alto para que ele possa te ouvir. -pararam-se na porta, e Sara virou o trinco para abri-la.-Mamãe? -chamou. Katie apareceu na entrada com uma exclamação encantada e se moveu para abraçar sua filha. -Sara, Como foi o baile? Deve me contar tudo... - Deteve-se imediatamente quando viu o homem ao lado de Sara, sua forma escura de longos ombros enchendo a entrada. -Mamãe, este é o Sr. Craven. -disse Sara com suavidade. Dando um passo atrás, Katie os olhou fixamente a ambos com os olhos arregalados. -Isaac. -chamou, sua voz mais alta do que o normal. -Sara trouxe alguém a casa com ela. Um homem. -Sim? Bem me deixe dar uma olhada. -Bruscamente Derek se encontrou exposto diante de duas pessoas baixas de cabelo cinza. Esquadrinhando atentamente, deram-lhe as boas-vindas à pequena casa de campo ordenada e opaca. Havia Ramos de flores secas e ervas, cerâmica grafite, e montões de livros por toda parte. Teve que agachar a cabeça para evitar uma viga baixa quando cruzou a soleira. Quando Sara apresentou a seu pai, deram-se a mão cordialmente. O rosto do ancião estava gravado com linhas de bom humor e caráter, seus olhos azuis iluminados com um brilho amistoso. -Papai, - tagarelou Sara. -recorda que mencionei o Sr. Craven antes? Conhecemo-nos durante minha investigação em Londres. Ele possui um clube social. -Ela levou afanosamente sua mãe para a cozinha.-Mamãe, façamos chá enquanto os homens se conhecem. Entraram na cozinha e fecharam a porta. Aturdida, Katie procurou o pote de chá enquanto Sara começava a bombear com energia água na pia. -Deixaste-me sem fôlego. -comentou Katie, procurando uma colher.

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-O Sr. Craven estava em Raiford Park este fim de semana. -disse Sara, seu rosto se cobriu com uma capa de viva cor de excitação.-É uma história complicada, mas resumidas contas é que... Amo-lhe, e me tem proposto matrimônio, e disse que sim! -Sr. Craven te propôs matrimônio. -repetiu aturdida. Katie ficou boquiaberta. Sentou-se em uma cadeira, com as mãos no centro de seu seio para acalmar seu coração. -Ele é o homem mais maravilhoso do mundo. Papai e você irão amá-lo tanto como eu. -Sara... Não é isto terrivelmente repentino? Pensa em todos os anos que conheceste Perry... -O Sr. Craven me faz mil vezes mais feliz do que Perry jamais poderia. Não se preocupe, mamãe. Não soube sempre que eu sou sensata? -sorriu com segurança. -tomei decisão correta. Já o verá. Quando Katie começou a fazer mais perguntas, Sara a indicou com um gesto que se calasse, enquanto partes da conversa dos homens se filtrava da outra sala. Com cuidado Sara apertou o ouvido à porta. -... Você fez o pedido muito tarde, Sr. Craven. Sara já tem um noivo. O jovem Kingswood. Sara não pôde evitar de interromper. Ela abriu a porta o bastante para colocar a cabeça pelo espaço. -Ele já não é meu prometido, Papai. Perry e eu rompemos o compromisso antes que partisse este fim de semana. Isaac parecia perplexo. -Fizeram? Por quê? -Explicarei isso mais tarde. -Ela lançou um olhar alentador a Derek e se retirou atrás da porta. Katie olhou para sua filha com sardônica diversão. -Não há nenhuma necessidade de ir daqui para lá como uma tartaruga em sua casca. Tenho a sensação de que o Sr. Craven é o bastante capaz de falar com papai sem nenhuma ajuda de sua parte. Sara descansou seu ouvido contra a porta outra vez. -Shhh. -... Não posso dizer que aprove que minha filha se case com um jogador. chegou à voz de Isaac. -Não jogo, senhor possuo um clube onde outros jogam. -Fala muito fino, meu moço. Não aprovo o negócio inteiro. Por outra parte... Não aprovo os homens que bebem muito, e suponho que não penso mal do dono de nosso botequim local. Conte-me mais sobre esse clube social. Tem mulheres elegantes que trabalham ali, verdade? Conheceu Sara alguma dessas pobres criaturas caídas? -Não posso mantê-la longe delas. -disse Derek secamente. -Meu Sara tem um coração tenro. Atrativo para os infortúnios. A cidade é um lugar perigoso para uma moça como ela. Sara abriu a porta outra vez. -Nunca sofri nenhum dano ali, Papai! Derek falou antes que Isaac pudesse responder. -Há um pouco de pão para acompanhar o chá, Sara? -Sim. -respondeu, ligeiramente perplexa.-Quer torrado? -Muitas. Fatias muito finas. -Derek sustentou em alto o polegar e o indicador para fazer uma demonstração. Olhou-lhe com o cenho franzido,

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compreendendo que ele tinha a intenção de mantê-la muito ocupada para interromper outra vez. -Muito bem. -disse a contra gosto, e voltou para a cozinha. Isaac olhou para o homem sentado em sua frente de um novo modo, um sorriso enrugou seu rosto curtido. -Você é paciente com ela. -disse com aprovação. -Isso me alegra. Sempre foi uma menina teimosa. Tem suas próprias idéias sobre as coisas. -Derek esteve tentado a fazer um comentário sardônico, mas se manteve em silencioso e olhou o ancião sentado ali em sua cômoda poltrona, as mãos calejadas descansavam sobre a manta tecida sobre seus joelhos. Um olhar carinhoso ficou no rosto de Isaac, e ele seguiu como para si mesmo. -Ela foi um milagre para Katie e para mim, chegou há nós muito depois que de ter passado o tempo de ter filhos. Damos graças a Deus cada dia por nos dar ela. Nunca poderia confiar-lhe a alguém que pudesse feri-la. O jovem Kingswood é um homem que permite excessos... Mas ao menos é um tipo de caráter doce. -os olhos azuis se cruzaram com os de Derek em um olhar direto, cândido. -Sr. Craven criei minha filha para que pense em si mesma. Se eu fosse vinte anos mais jovem, não teria permitido semelhante liberdade. Mas sua mãe e eu somos velhos, e como a natureza segue seu curso, chegará um momento em que não estaremos aqui para protegê-la. Pensei que era melhor ensiná-la a confiar em seu próprio julgamento. Se Sara quer casar com você, fará, tanto se eu aprovar ou não. Derek o olhou fixamente sem piscar. -Pode ser que sua aprovação não seja necessária, senhor, mas de todas formas eu gostaria de tê-la. Um débil sorriso chegou ao rosto de Isaac. -Tudo o que quero é que me assegure que tratará minha filha com amabilidade. Derek nunca tinha falado com outro homem tão a sério; sem manobras nem astúcia, nada mais que humilde honestidade. -Quero ser mais que amável com Sara. Quero mantê-la segura, e feliz, e lhe proporcionar tudo o que a agrade. Não finjo merecê-la. Não sou culto nem de bom berço, e nem sequer o diabo teria minha reputação. A única coisa que me salva é que não sou idiota. Nunca interferiria com sua escritura, nem em nenhum dos projetos que escolha. Nunca trataria de separar Sara de sua família. A respeito muito para isso. Não quero mudá-la. Isaac pareceu encontrar tranqüilizadoras as palavras, mas havia uma persistente duvida em sua expressão. -Acredito que é sincero. Mas matrimônio, uma esposa, filhos... É uma carga de responsabilidade que nunca teve antes. -Não estaria aqui se não estivesse preparado para isso. -Sua conversa foi interrompida por uma entusiasta chamada na porta da rua da casa de campo. As sobrancelhas cinza de Isaac sentiram curiosidade enquanto se levantava para abrir. Derek se levantou também, e olhou atentamente quando um jovem magro com o cabelo claro bastante comprido entrou na sala. Sua testa branca estava franzida com impaciente preocupação. -Ouvi que uma magnífica carruagem tinha passado pelo povoado. -disse quase sem fôlego.-Era Sara? Se tiver retornado, eu gostaria de falar com ela imediatamente. Ouvindo a chegada de outro visitante, Sara saiu da cozinha, seguida de sua mãe. Ela parou em seco assombrada.

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-Perry.-disse timidamente. De algum modo Sara nunca tinha pensado que os dois homens teriam a ocasião de estar juntos na mesma casa. O silêncio era pesado. Ela procurou as palavras exatas para rompê-lo, enquanto uma parte de sua mente se maravilhava pelas assombrosas diferenças entre os dois homens. A beleza de Perry era apta para a poesia. Ele era tão branco e dourado como um príncipe de conto de fadas. Uma onda de cor rosada se estendeu em suas maçãs do rosto cruzando a ponte de seu refinado nariz. Seus olhos brilhavam radiantes e azuis. Derek, pelo contrário, parecia escuro e áspero, expondo todo o encanto de um gato mal-humorado. Ele não devolveu o olhar para Sara, toda sua atenção concentrava no recém-chegado. Reunindo sua coragem, Sara deu um passo adiante. -Perry... Eu gostaria de lhe apresentar o Sr. Craven, um... Um visitante de Londres. Perry deu uma olhada ao forasteiro moreno, e logo voltou para Sara. -por que ele está aqui? -Perguntou com um mal-humorado cenho franzido. -Ele e eu... Bem, nós... –Limpou a garganta e disse sem rodeios. -Ele é meu prometido. -Que tolice. -disse Perry secamente. -Eu sou seu prometido. Deixou o povoado antes que pudéssemos resolver nossas diferenças. -Realmente resolvemos,-disse Sara, aproximando-se pouco a pouco mais de Derek.-e me dava conta de que sou muito mais adequada para o Sr. Craven. -É este por acaso Derek Craven? -exigiu Perry ultrajado. -Bom, é um completo descarado! Toda sociedade decente sabe. Mal posso acreditar que seu pai lhe permitisse entrar em sua casa! Sara se arrepiou à defensiva. -Começo a lamentar que ele te tenha deixado entrar! -Se esta for à companhia que estiveste mantendo, não me assombra que mudasse tanto. -disse com desprezo Perry. -Sem dúvida explica seus intentos de satisfazer sua insaciável luxúria comigo. Havia imaginado todo o fim de semana tratando de desculpar suas insinuações sem sentido... Derek foi para Perry com um grunhido. -Pequeno miúdo pomposo... Gritando de medo, Perry saiu correndo, suas pernas um borrão enquanto ele se apressava a voltar para a segurança de sua casa e a sua mãe. Desprezando rapidamente a idéia de lhe perseguir, Derek voltou para Sara. -O que queria dizer com 'luxúria insaciável'? Ela se apressou a explicar. -Bem, 'insaciável' significa incapaz de satisfazer... -Isso sei. -disse em um tom cortante. -por que disse isso de você? Sara deu de ombros. -Não era nada. Simplesmente tratei de lhe beijar uma vez do modo em que você me beijou, e ele... Sua voz se apagou quando se deu conta de que seus pais os olhavam em silêncio mudos de assombro. Isaac foi o primeiro a falar. -Vi e ouvi o suficiente, Sr. Craven. Se você e minha filha já falam de ' luxúria insaciável', acredito que será melhor que eu de minha aprovação... E que espere um casamento rápido. Casaram-se na igreja do povoado, a cerimônia pequena e singela. A única concessão de Sara aos projetos grandiosos de Lily Raiford foi permitir que a igreja se enchesse de flores frescas e vegetação. Rodeada pela família e os amigos, trocou os votos com um homem muito diferente do qual sempre esperou casar-se. Com o

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Perry, o futuro tinha sido previsível. Agora as semanas, os meses, e os anos por vir apareciam diante dela em um enredo de possibilidades. Sentiu o desconcerto de seus amigos, que nunca tinham sonhado que desprezasse Perry Kingswood em troca de um homem que mal conhecia. Mas Sara via Derek exatamente como era, nem mais e nem menos, e era consciente de que ele nunca poderia mudar. Era suficiente que ele a amasse. Apesar de seus defeitos, ele a cuidaria e a defenderia até o último fôlego de vida. Separados tinham forças diferentes. Juntos estavam completos.

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CAPITULO ONZE As altas horas da noite Saram provocou uma acolhedora sensação ao descansar contra o peito duro de Derek e escutar os sons do clube debaixo deles. Se ficasse muito quieta, quase poderia distinguir o tinido de pratos, o zumbido dos clientes e empregados, o estouro contínuo das fichas nas tigelas, inclusive os murmúrios abafados das fulanas quando davam a boas-vindas aos convidados em seus salões. O clube parecia uma criatura viva, um monstro esplêndido com um pulso incessante de atividade. -Eu gosto de estar aqui em cima. -murmurou ela. -Tranqüila e oculta, enquanto todos estão ocupados lá em baixo. -Desfruta-o enquanto possa. -aconselhou Derek. Sara levantou a cabeça surpreendida. -O que? Por que diz isso? -Prometi a seu pai que não viveríamos no clube. -Mas eu gosto de viver aqui. Por que se oporia meu pai? Derek sorriu sardonicamente. -Ele tem o estranho capricho de que não deseja sob o mesmo teto com putas e jogadores. Ela se apoiou sobre os cotovelos, enquanto uma pequena ruga de preocupação se insinuava entre suas sobrancelhas. -Mas como poderemos? Você sempre viveu no clube para vigiar tudo atentamente. -Sua voz desceu pela suspeita. -Planeja instalar-me em uma de suas mansões e te esquecer de mim? Derek riu e virou de costas, seus amplos ombros surgiram sobre ela. -Por mim estará muito melhor assim. -disse secamente.-Casei-me com você para lhe manter ao alcance de meu braço.-Baixou a mão por seu corpo em uma relaxada carícia. -Mais perto possível. Sara empurrou seu peito em uma demonstração de fingida fraqueza. -por que sempre trata de me fazer amor quando quero falar de algo?Derek abriu suas pernas com suavidade. -Você sempre trata de falar enquanto te faço o amor. -respondeu, lhe beijando o pescoço. Sara se meneou debaixo dele e avançou lentamente ao lado contrário da cama. -Quero resolver isto. -insistiu, rodeando-se com o lençol em atitude protetora. -Não quero que te afaste do clube por minha causa. -Não sou sozinho agora. Poderia gostar de tentar viver em um lugar onde não esteja rodeado todo o tempo por fulanas, bêbados, e ladrões. Talvez eu gostasse de dormir de noite sem estar a par de uma jogada de rede da polícia. -O que acontece com seu negócio? -Ainda terei meu dedo sobre ele. Worthy cuidará do lugar quando eu não estiver aqui.-Ele começou a afastar o lençol dela.-me conceda isto. -Onde planeja que vivamos? -perguntou Sara com cautela. Derek se deu de ombros despreocupadamente. -Pensei que começaríamos percorrendo os lugares que já possuímos. Se nenhum deles te agradar, compraremos algo. Ou construiremos. -Em um movimento repentino enganchou seu tornozelo com a mão e começou a arrastá-la para ele.

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-Vêem aqui... Tem deveres de esposa que atender. Ela se agarrou a beira do colchão para deter o inexorável deslizamento. -Não terminei de falar! -Eu sim. Te esqueça disso.-Atirou-a com cuidado a perna. Sara rodou sobre seu estômago, ofegando de risada enquanto o sentia avançar lentamente sobre ela. Seu considerável peso foi o suficiente para mantê-la sujeita. Sua longitude masculina, brutalidade, calor, e força, apertavam-a dos ombros aos pés. De repente ela riu. -Não pode fazer nada desta forma, - lambeu-se. -e não vou dar a volta. Derek riu de sua inocência. Afastando seu cabelo comprido a beijou na suave nuca. -Não quero que te dê a volta. -sussurrou. Ele se levantou o suficiente para colocar as mãos sobre os ombros, manipulando os músculos suaves. Seu contato era hábil e depravado. Sara suspirou de prazer. -Isso é agradável. OH... Não pare. A pressão calma percorreu suas costas, seus polegares encontraram pontos vulneráveis a ambos os lados. Ela inclinou a cabeça, respirando profundamente. Ele se agachou sobre ela outra vez, suas mãos fortes descansando sobre a elevação de seus quadris, sua boca em seu ouvido. A ponta de sua língua em volta da fina curva e logo se aventurou dentro para acariciar com uma investida superficial e delicada. Durante um segundo todo o som ficou bloqueado. Sara tremeu com a peculiar sensação. Depois que sua língua se retirou de seu ouvido úmido, o calor de seu fôlego e o timbre de sua voz pareceu mais agudo que antes. -Você gosta assim?-sussurrou. -N-não sei. Ele riu silenciosamente e fez outra vez. Sara teria dado a volta para ele então, seu corpo cheio de impulsos agitados. Mas ele manteve seu rosto baixo e moveu trabalhosamente sua mão com cuidado sob seus quadris. Ela ofegou quando ele encontrou o triângulo úmido entre suas coxas, seus dedos procurando expertamente. Quando ela tratou de dar a volta, lhe afundou os dentes em sua nuca, mantendo-a quieta. -Fique aqui. Eu gosto desta tua vista. -Não. -murmurou, pensando se estava zombando dela. Sua voz estava vibrante de luxúria. -Redondo, doce, firme... Tem o traseiro mais bonito que já vi. Sua gargalhada de protesto acabou em um gemido quando a provocou com seus quadris, fazendo-a baixar contra sua mão. Ela estendeu seu traseiro para frente e frisou seus dedos ao redor do colchão, cravando-os profundamente. O provocador diabo em cima seguiu sussurrando, elogiando-a com indecentes galanteios, empurrando-a com suavidade com um ritmo lento. Apanhada entre seu corpo e sua mão torturante, sentiu a tensão crescendo dentro dela até que um gemido frustrado saiu de sua garganta. Em lugar de dar a volta para ficar de frente, a sentou de pernas abertas por trás. Ela lutou em um momento de confusão quando sentiu suas coxas apoiar-se com força contra as suas. -Assim.-disse rapidamente, levantado seus quadris.-me deixe... Minha doce Sara... Não te farei mal. Ele empurrou dentro dela, uma intensa e excitante grande onda. Sobressaltada e excitada, ela curvou a coluna para fazer-lhe mais fácil. Ele a montou com cuidado, sua força musculosa rodeando-a enquanto suas mãos avançavam sem esforço sobre seu seio e seu ventre liso. Sara deixou cair à cabeça,

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sufocando seus gritos contra o colchão. Umas investidas mais, e chegou ao clímax em tremulas ondas que a esvaziaram de toda força. Suas mãos apertaram com força seus quadris enquanto a seguia nas profundidades do êxtase irrefletido. Não passou muito tempo antes que seu matrimônio tivesse assumido um teimoso caráter próprio. Não tendo experiência jamais a vida familiar, Derek não sabia comportar-se como um marido, ao menos não como normalmente. Sara parecia uma criatura meio, inconsciente das horas habituais para comer ou dormir. A única estrutura em sua vida era a que ela impunha. Sara tratou de fazer as mudanças, pouco disposta a lhe exigir muito imediatamente. Uma noite depois de lhe esperar já passava das duas, colocou um vestido singelo e se aventurou fora de seus apartamentos privados, perguntando-se o que o mantinha lá embaixo. O clube estava infundido com um entusiasmo particular, o zumbido de vozes era interrompido constantemente por exclamações e ânimos. De pé discretamente no beira da entrada, olhou às pessoas bem congregada ao redor da mesa de apostas. Todos concentrados nos jogo de dados de marfim rodantes como se a vida ou a morte dependessem deles. A forma magra e escura de Derek era visível no centro. Ele ria em silêncio de alguma piada que se contavam para aliviar a tensão. -Sra. Craven. -Sara ouviu a voz de Worthy a seu lado, e deu a volta com um sorriso. Tinha chegado a confiar no encarregado quase tanto como em Derek. Worthy tinha estado mais manifestamente contente por seu matrimônio que qualquer outro, assegurando a sua maneira tranqüila que tinha tomado a decisão correta. Tinham falado durante uns poucos minutos na recepção que os Raiford tinha dado depois das bodas. Juntos tinham observado os intentos de Derek de surrupiar sua mãe anciã em um baile. -Nunca o vi preocupar-se com alguém do modo que faz com você. -haviadito Worthy a Sara.-depois que você partiu, era como olhar a um homem derrubado por dentro. A... Única razão pela qual foi ao fim de semana em Raiford Park foi porque tinha muito álcool para protestar quando Gill e eu o carregamos na carruagem. -OH, Meu deus. -Sara tinha sorrido com divertida compreensão. -Bebia muito? -Ruína azul. -Tinha-lhe confirmado Worthy. -Mas depois que voltou, sabendo que você ia ser sua esposa... Bem, foi um homem diferente. Você tira o melhor dele. Está decidido a ser um bom marido para você, e nunca falha, uma vez que decide obter algo. Neste mesmo momento Derek tinha conseguido enrolar Katie para uma valsa calma, ambos dando voltas ao redor do canto do salão de baile com a grande dignidade. -Não tem que me convencer disso. -tinha comentado Sara com os olhos brilhando de sorriso. Desde seu casamento Worthy fazia tudo o que era possível para pô-la cômoda no clube e proporcioná-la tempo e intimidade com Derek. Os criados eram perfeitos em sua boa vontade e eficácia. Proporcionava a ela algo que necessitava quase antes que pudesse pedir. Quando estava nas cercanias dos clientes do clube, Worthy ou Gill a rondavam protetoramente perto, assegurando-se de que estava a salvo de qualquer insinuação imprópria. Quando outra tiragem de jogos de dados provocou um grupo na mesa de apostas murmurasse com excitação, Sara se inclinou mais perto do encarregado. -O que acontece? -perguntou. -Lorde Alvanley está na mesa de apostas, jogando muito forte. Ele tende

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gastar grandes quantidades e contrair consideráveis perdas. É obvio é um grande favorito do Sr. Craven. -É obvio. -repetiu ironicamente Sara. Não era nada assombroso que Derek seguisse o jogo atentamente. A presença de Derek tendia a animar a gastar nas mesas, quase como se os jogadores desejassem lhe impressionar esbanjando sua riqueza. -Há algo que necessita Sra. Craven? -Perguntou Worthy. Ela se deu ligeiramente de ombros, olhando para Derek. -Eu somente me perguntava... Acredita que demorará muito em acabar o jogo? Worthy seguiu seu olhar. -Irei e o perguntarei. Espere justo aqui, Sra. Craven. -Possivelmente não deveria lhe incomodar... -começou Sara, mas ele já se foi. Enquanto o encarregado se dirigia à mesa de jogo, algumas garotas se aproximaram dela, encabeçadas por Tabitha. Embora Sara e Tabitha tivessem concordado não mencionar nunca sua reunião em Greenwood Corners, a moça parecia sentir-se parcialmente responsável pela boa fortuna de Sara. Tinha-lhe dado as graças a Sara por " não fazer ascos" a todas as garotas da casa depois de converter-se em esposa de Derek. -Você é uma dama boa e gentil, -havia- dito a Sara. -justo como achamos que fosse. Essa tarde as três garotas se apresentaram diante de Sara, todas elas vestidas com ornamentos intensamente adornados com lentejoulas. Sara as saudou em tom agradável. -Está é uma noite com pouco movimento. -comentou Tabitha, tirando um quadril e descansando sua mão sobre ela enquanto olhou o sortido de soldados, aristocratas, e diplomáticos. -Sempre é quando o jogo se faz mais forte. Mas depois, precipitam-se para a garota mais próxima, e às vezes pagam dobro por uma caída. -Será melhor que tome cuidado de ocultar-se quando acabar o jogo.-Violeta aconselhou Sara com sabedoria. -O Sr. Craven estouraria se outro homem a provocasse. -Somente espero que volte o Sr. Worthy ... Sara começou, mas Tabitha interrompeu com uma impetuosa gargalhada. -Tenho uma idéia para fazer uma brincadeira com seu marido, Sra. Craven, e lhe demonstrar por que um homem deveria manter-se perto da cama de sua esposa de noite. Sara sacudiu a cabeça confundida. -Não sei o que quer dizer, Tabitha. Mas não participarei de nenhum tento de enganar o Sr. Craven, sobre tudo não diante de seus amigos... Não... De verdade... Rindo alegremente e inclinadas à travessura, as garotas a arrastaram com elas à mesa de jogo. Tomou cuidado de mantê-la oculta em meio delas. -Sr. Craven -disse Tabitha com ar despreocupado.-trouxemos uma nova moça para que a prove. Ela esteve esperando para lhe dar um beijo. As sobrancelhas se levantaram e se trocaram um olhar pela mesa, pelo geral as prostitutas sabiam que o melhor era não meter-se em um jogo. Derek lançou um cenho zombador a Tabitha. -Já disse que não me derrubo com as garotas da casa. -Ele se afastou com desdém. Tabitha persistiu com regozijo. -Mas é formosa e fresca. Por que não da uma olhada? -Rindo-se tontamente, as garotas adiantaram a Sara. Ela estava ruborizada e protestava, tentando tirar o penacho adornado com lentejoulas que elas lhe tinham metido

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atrás da orelha. Derek riu de repente, aliviando sua expressão. Ele atirou a Sara na dobra de seu braço. -Esta vou tomar. -murmurou, inclinando-se para beijá-la na testa. Fazendo uma pausa no meio do jogo, Lorde Alvanley perguntou pela identidade da recém chegada. Quando o informaram que era a nova noiva de Craven, Alvanley abandonou temporariamente sua posição na mesa de jogo. A multidão de homens observava divertidos como se aproximava de Sara. -Meus cumpridos mais sinceros votos, Sr. Craven. -Alvanley se inclinou sobre sua mão e se dirigido a Craven languidamente.-Craven,você decide deixar a uma criatura tão bonita esperado lá em cima em favor de nossa tosca companhia, não tem a inteligência que suspeitava. Derek sorriu abertamente e se inclinou em reconhecimento. -Por conselho de Sua Senhoria, farei um favor a minha esposa e me retirarei. -Ele tirou a Sara por entre a multidão e se afastou com ela. Um estrondo de gargalhadas masculinas e comentários fora de tom acompanharam sua saída. -Há está um moço educado! ... Faz um favor por mim, Craven! Vermelha, Sara se desculpou quando entraram no apartamento. -Sinto muito! Não tinha a intenção de te levar. Worthy disse que o jogo era importante ... Por favor, deve voltar e te ocupar disso. Um sorriso brincou sobre os lábios de Derek. -É muito tarde. Se te atrever a ir tirar-me de um jogo de altas apostas, terá que confrontar as conseqüências. -Arrastando-a ao lado da escada que conduzia a seu quarto, Derek se inclinou e cobriu sua boca com um forte beijo.-Pobrezinha esposa. -murmurou, cavando suas mãos sobre seu traseiro e impulsionando-a fortemente contra seu corpo. -Não te tratei bem, tivesse ficado tão insatisfeita que veio me buscar. -mordiscou no ponto sensível justo sob sua orelha.-Simplesmente terei que trabalhar mais duro para seguir o ritmo de seu desejo. -Derek. -protestou, suas mãos se moveram sem rumo sobre seus ombros enquanto ele a beijava outra vez. Seu coração começou a correr, e não pôde conter um pequeno gemido de prazer. -E eu somente estava preocupada por não dormir o suficiente á noite. Ele trespassou um colar de beijos ao redor de seu pescoço. -Tinha razão sobre isso. Não o farei. E você tampouco. -Nunca te tirarei de um jogo outra vez. -disse, sentindo a necessidade de desculpar-se. -Não queria interromper sua noite ... -Me alegro de que o fizesse. -murmurou Derek. Ele sorriu abertamente enquanto olhava fixamente seus suaves olhos azuis. -Sempre que me deseje, Sra. Craven ... Estou a seu serviço. –Rodeando seus quadris com seu braço, empurrou-a brandamente para subir a escada. A princípio foi surpreendente para a Sara viver tão intimamente com um homem. Ela tinha sido criada com pudor e discrição nos assuntos de hábitos privados, enquanto que Derek não tinha inibições absolutamente. Embora Sara admirasse a ágil força do corpo de Derek quando caminhava pelo quarto nu, sabia que ela nunca seria capaz de expor-se com tanta despreocupação. Ele era um homem que recorria muito ao contato físico, que se excitava com facilidade e atrevido. Uma noite podia ser protetor e docemente tenro, tomando-se horas para explorar seu corpo com carícias suaves, abraçando-a depois como se ela fosse uma

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menina apreciada. A seguinte seria luxurioso e insolente, introduzindo-a em artes sensuais que nunca tinha imaginado possíveis. A variedade de seus caprichos era infinita. Ela nunca estava exatamente segura de que esperar dele. Seu humor podia ser obsceno ou esquisitamente sutil. Podia ser tranqüilo ou malicioso. Jamais tinha conhecido alguém com tanto domínio de si mesmo, mas em algum outro momento percebia emoções sinceras encerradas dentro dele. E quando encontrava sua nova vida entristecedora, seus braços eram o refúgio mais seguro que jamais tinha conhecido. De noite tinham longas conversas na cama, falando até que logo podiam manter os olhos abertos. Suas opiniões às vezes eram drasticamente opostas, mas Derek afirmava desfrutar olhando o mundo através de seus olhos, inclusive quando tirava o sarro por ser uma idealista. Possivelmente lhe tinha afetado mais do que ele imaginava, já que sua amargura parecia reduzir-se devagar. De vez em quando Sara notava um rastro infantil nele, um costume de tomá-la pelo cabelo e colocá-la em coisas absurdas, uma nova risada despreocupada. -O Sr. Craven sente especialmente bem estes dias. -tinham comentado Tabitha e a outras garotas da casa, e Sara sabia que era verdade. A natureza vital e carismática que sempre fazia efeito atrativo a Derek parecia haver-se duplicado. As mulheres o olharam onde quer que fosse, provocando pontadas de ciúmes em Sara. Ela se consolava com sua devoção. As mulheres poderiam revoar e sorrir com afeto quando ela estava perto, mas ele as tratava a todas com indiferença. Unicamente confiava Sara seus segredos, seu amor, suas necessidades, e jamais nenhuma outra mulher tinha estado tão perto de conseguir semelhante posição em sua vida. Tinham uma merecida reputação de solitários, embora não fosse, deliberado. No primeiro mês de apaixonado matrimônio, simplesmente não houve tempo para assistir a muitos acontecimentos sociais. Sara estava ocupada cada momento do dia. Reservou-se umas poucas horas de solidão pelas manhãs para escrever, e passava o resto de cada dia tomando decisões sobre a casa em que foram viver. Tinham aprovado um lugar que Derek já possuía, uma formosa mansão na cidade de três andares, rodeada por altos jardins murados. Era uma casa desenhada para ter convidados. O esquema do edifício se centrava ao redor de uma espaçosa entrada com colunas, que se abria a um enorme salão e a sala de jantar. A casa era tranqüila e espaçosa, cheia de adornos de flores e faixas de delicado teto branco, as paredes pintadas em frios tons verdes, malvas, e azuis. Derek tinha deixado cair todo o projeto de decoração da casa em seu colo, afirmando alegremente que ele não tinha nenhum gosto. A verdade disso era indiscutível. Sua idéia de elegância era carregar tantos dourados e esculturas como fosse possível em cada polegada de espaço livre. Mas Sara temeu que seu próprio gosto pudesse não ser melhor. Ela recrutou o conselho de Lily Raiford e de um pequeno número de jovens mulheres da sociedade da qual se fez amiga. Com cautela escolheu móveis de desenho singelo, estofados com brancos brocados luxuosamente bordados. As tapeçarias das camas e as cortinas das janelas eram feitas de damasco e cretone de cor branca. Sara tinha pedido espelhos grandes e esplêndidos emoldurados para vários salões, e por sugestão de Lily, pequenas mesas para sustentar livros, publicações e jornais para que os convidados dessem uma olhada. Sua própria biblioteca era feita de brilhante madeira de jacarandá, com fileiras de compartimentos e gavetas embutidas. De vez em quando seus trabalhos eram interrompidos para sair á noite com Derek. Assistiram a uma obra, a uma noite musical que patrocinavam os Raiford, e a uma recepção para um visitante real estrangeiro. Sofrendo a intensa

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investigação nessas recepções sociais, Sara se deu conta que necessitava d roupa adequada. Estava pouca disposta a ir à costureira sabendo quão caro seria. Depois de anos de contar dinheiro, o ato de gastar grandes quantidades de dinheiro a fazia sentir-se ligeiramente enjoada. Comprar mobílias para a casa era necessário. Comprar puramente para ela era muito mais difícil de justificar. Para sua surpresa, Derek insistiu em acompanhá-la à loja de Madame Lafleur. Monique lhe deu a boasvindas de maneira extravagante, seus olhos escuros sorrindo em seu rosto redondo. -O casal mais famoso de Londres. -proclamou ela, atendendo-os pessoalmente na parte da frente da loja em vez de enviar seus ajudantes.-Que bom aspecto têm, os dois! Todos se perguntam por que se dedicaram a ocultar-se, mas eu digo a meus clientes bem, certamente eles se guardarão um para o outro a princípio! É o privilégio dos recém casados. -Ela olhou para Derek especulativamente. -Você acompanhou sua esposa aqui, Monsieur Craven. Que generoso de sua parte tomar-se semelhante interesse! Derek lhe deu de presente um sorriso encantador. -Estou aqui porque minha esposa tem um pequeno problema que não admitirá diante de você. -OH? -o olhar de Monique caiu imediatamente para barriga de Sara. Derek sorriu abertamente e se estremeceu quando Sara lhe cravou o cotovelo em suas costas. Inclinando-se para a costureira, disse-lhe em um tom confidencial. -O problema é que ela tem medo de gastar meu dinheiro. -Compreendo. -Houve um brilho de decepção nos olhos de Monique. Claramente tinha esperado um pouco de suculenta fofoca que poderia estender por Londres. Seu bom humor se restaurou quando Derek continuou. -Não tenho intenção de que minha esposa passe a tarde tratando de convencê-la de fazer os vestidos com o tecido menos custoso e sem adornos. Quero que tenha o melhor, e que pareça tão elegante mais elegante que qualquer mulher da Inglaterra. Não importa o preço. As quatro últimas palavras fizeram com que aumentasse o pulso da costureira. -OH, monsieur... -Monique quase o beijou emocionada. -Sua esposa é uma mulher tão encantadora. -Encantadora. -coincidiu Derek, seu olhar cálido caiu sobre Sara. Distraidamente recolheu um brinco extraviado que havia caído em seu ombro, e o enroscou em seu dedo. -Só tenho um requisito. Mostre o suficiente dela, mas não muito. Quero que certas partes fiquem para minha admiração particular. -Entendo. -disse Monique com contundente assentimento. -Um seio formoso os homens, perdem a cabeça ... -ela se deu de ombros prosaicamente. -Efetivamente. Monique tocou seu braço inquisitivamente. -Quantos vestidos tem em mente, monsieur? Sara incomodada que os dois levassem o transação como se ela não estivesse ali absolutamente. -Quatro vestidos para o dia . -interrompeu ela, -e dois de noite. Seis em total. E possivelmente uma camisola de cambraia... -Vinte e cinco. -disse Derek à costureira. -Não esqueça luvas, sapatilhas, roupa íntima, e tudo que necessite para que ande com categoria.-Com delicadeza cobriu a boca de Sara com sua mão quando ela balbuciou um protesto. Seus ardilosos olhos verdes olharam à costureira por cima da cabeça dela, e lhe piscou

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os olhos enquanto acrescentava. -As camisolas não são necessárias. Monique riu entre dentes e deu uma olhada no rosto avermelhado de Sara. -Madame, acredito que possivelmente seu marido é em parte francês! Depois de intermináveis semanas de consultas e provas, Sara se encontrou em posse da série de vestidos mais formosos que tinha imaginado. Eram feitos de sedas, veludo, e brocados de vibrantes tons com reduzidas cinturas com cintas e saias soltas colocadas sobre rangentes anáguas. As profundas cavidades dos decotes estavam terminadas com suntuosos cós de renda. Debaixo levava finas calções quase transparentes que chegavam aos joelhos, e blusas tão finas que poderiam passar através de sua aliança. Da chapelaria tinha comprado vários chapéus provocadores com pequenos véus à altura dos olhos, chapéus revestidos de seda, e um turbante ao qual Derek agarrou uma forte mania. -Isto te cobre todo o cabelo, - queixou-se ele, vadiando sobre a cama e olhando com aprovação. -e parece incômodo. Sara estava de pé diante do espelho enquanto colocava as frisadas mechas rebeldes sob a toca. -O problema é que tenho muito cabelo. A chapeleira disse que se me cortasse uma franja e tirasse várias deixasse mais curto, o turbante sentaria melhor. Ele sacudiu a cabeça com decisão. -Não vais cortar nada. Sara suspirou frustrada quando um cacho castanho saltou debaixo do turbante e caiu sobre seu ombro. -Todos meus novos chapéus me sentariam mais favorecedoramente se meu cabelo fosse curto. A senhora Lafleur disse que tenho justo a estrutura correta para levá-lo em cachos de cabelo bem arrumado. Derek empalideceu realmente. -Se te cortar todo o cabelo, eu te farei cachos de cabelo de você. -Saltando da cama, arrebatou-lhe o ofensivo turbante de sua cabeça antes que ela tivesse tempo de mover-se. -Olhe o que tem feito agora. -gritou enquanto seu cabelo caía a seu redor. -E quase tinha terminado. Dê-me o turbante. -Derek sacudiu a cabeça e retrocedeu, agarrando o pequeno vulto. Sara acalmou sua voz .-O turbante, se for tão amável. - Se me prometer que não te cortará o cabelo. -Sara não podia acreditar que fosse tão ridículo. -Se o cortasse, voltaria a crescer. -avançou ele e lhe agarrou rapidamente. Seu braço saiu voando pelo ar, sustentando o turbante fora de seu alcance. -Promete.-insistiu. -Se soubesse o preço que pagou pelo turbante, não o trataria com tanto desdém! -Pagarei cem vezes por sua promessa. Um sorriso incrédulo cruzou revoando seus lábios. -Por quê?-perguntou, passando uma mão pelos cachos selvagens de seu cabelo. -Tanto significa meu aspecto para você? -Não é isso. É que... -Derek deixou cair o turbante no chão e a rodeou devagar. -eu gosto de verte trançá-lo... E o modo em que deixa alguns cachos sobre seu pescoço depois de que os prende... E quando os soltas para escovar eles de noite sei que sou o único homem que o vê soltar-se e cair sobre suas costas. É uma parte de você que só eu posso ter. -Ele sorriu abertamente e acrescentou.-Entre outras coisas. Sara o observou durante um momento, comovida por sua confissão.

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Embora não pudesse admitir em voz alta que a amava, dizia-o de modos mais sutis... Sua delicadeza, seus constantes louváveis para ela, sua generosidade. -O que outras coisas? -murmurou, apoiando-se contra a cama e tornandose sobre ela. Sem necessitar mais convite, Derek subiu engatinhando lentamente junto a ela. Desabotoou o sutiã enquanto respondia. -Sua pele ... Sobre tudo aqui. Pura e branca como um raio de lua. -as pontas de seus dedos se moveram meigamente sobre as firmes elevações de seus seios. E são ... Formosos... Quero cobri-los com diamantes e com beijos... -Os beijos são suficientes. -disse a toda pressa. Derek a subiu as saias. Seus quadris se elevaram desejosos quando ele a baixou os calções. Brandamente sua mão a encontrou. -E esta parte de você... Só minha. -Suas espessas pestanas desceram, e seu fôlego roçava seu pescoço em ondas irregulares. Ele estendeu a mão ao fecho de suas calças. -Às vezes, sussurrou.-estou tão profundamente dentro de você que posso sentir seu útero... E ainda assim não estou perto. Quero compartilhar cada fôlego ... Cada pulsar de seu coração. Sara tremeu quando de repente o sentiu mover-se contra ela, entrando nela com uma investida que esticou sua deliciosa estreiteza. Derek embalou sua cabeça em ambos as mãos, sua boca quente sobre seu pescoço. -Às vezes, - murmurou. -quero lhe castigar um pouco. -por quê? -gemeu por suas carícias decididas, sua cabeça caiu ao travesseiro. Suas mãos apertaram seus ombros, mantendo-a fixa enquanto empurrava em seu centro. -Por me fazer te desejar até que me doa. Pela forma em que me acorda á noite somente para verte dormir. -Sua expressão era intensa e apaixonada em cima dela, seus olhos verdes vivamente duros. -Desejo-te mais cada vez que estou com você. É uma febre que nunca me abandona. Não posso estar sozinho sem me perguntar onde está, quando posso lhe ter outra vez...-seus lábios possuíram os seu em um beijo que era tão selvagem como tenro, e ela se abriu a ele com impaciência. Ele nunca tinha sido tão exigente, seu corpo duro e pesado quando se encontrou com o seu em firmes sacudidas. Ela se balançou para cima para recebêlo, esforçando-se por igualar seu rápido ritmo, respirando entre soluços de desesperada necessidade. Seu sangue bombeava com fúria, e as sensações se aumentaram enquanto ela procurava a liberação. Compulsivamente ela respondeu seu ritmo uma e outra vez, até que lhe doeram e tremeram os músculos. Ele baixou a mão para agarrar com força suas nádegas, arrastando-a contra ele, entrando com força ainda mais profundamente dentro dela. Sua pele estava escorregadia com o suor misturado de seus esforços. A fricção entre eles era um movimento escorregadio, capitalista que excitava seus sentidos até um limite insuportável. De repente violentos espasmos de prazer atravessaram com força a Sara, e gritou contra seu ombro. As feitas ondas interiores de sua resposta lhe rodearam envolvendo com força, e Derek deixou que explorasse sua paixão em uma gloriosa avalanche. No momento que seguiu a abraçou com força, passando suas mãos com suavidade por suas costas em repetidas carícias. As palavras se entupiram em seu peito enquanto ele lutava em silencio para arrastá-las para fora. Sara pareceu darse conta, e colocou a cabeça contra seu peito e suspirou. -Está bem. -sussurrou. -Somente contínua me abraçando. -Nunca te vi tão bem. -exclamou Katie quando Sara entrou na casa de campo. Ajudou a Sara a tirar seu casaco de gola alta e estendeu a mão para tocar

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uma das mangas largas do vestido novo. -Que formoso tecido. Brilha como uma pérola! Rindo, Sara deu uma volta e meneou as saias do vestido de seda. -Você gosta? Mandarei que façam um igual para você. Katie olhou a seda cor gerânio pouco convencida. -Poderia ser um toque muito elegante para Greenwood Corners. -Será perfeito para a igreja aos Domingos. -Sara sorriu. -Pode te sentar uma fila ou duas diante da Sra. Kingswood com todos seus ornamentos, e ela murmurará ao ouvido de todo o mundo que te tornaste muito descarada igual sua filha! Katie despenteou o cabelo grisalho distraidamente. -Se um novo vestido não convence a todos de que me tornei uma descarada, sem dúvida a nova casa o fará! Sara riu disso, recordando toda a noite de persuasão que tinha demorado Derek em convencê-los de aceitar seu presente uma nova casa. Finalmente ele tinha ganhado por uma mistura de encanto e absoluta obstinação. -É sua escolha.-havia-lhes dito a Isaac e Katie em tom agradável.-Terão aqui ou em Londres.-a tarde seguinte se encontraram consultando o Graham Gronow, o arquiteto preferido de Derek. Gronow tinha desenhado uma encantadora casa clássica georgiana de um tamanho cômodo para eles. Em construção sobre um terreno seleto perto do centro da cidade, a casa era um tema de conversa para todos em Greenwood Corners. Ironicamente Katie havia dito a Sara que acreditava que Derek se assegurou deliberadamente de que a casa seria maior que a casa dos Kingswood. Sara não tinha discutido, sabendo perfeitamente que ele não estava por cima de tal comportamento. -Derek planeja contratar uma ajudante de cozinha e um jardineiro para vocês.-disse Sara, seguindo sua mãe à cozinha.-Disse que poderiam querer escolher alguém conhecido do povoado. Se não, nós enviaremos alguém de Londres. -Santo céu! -exclamou Katie. –Diga ao Sr. Craven que não necessitamos de ajuda contratada. -Mas sei que necessitam. -discutiu Sara.-Que tem dias em que as articulações de papai estão muito rígidas para que trabalhe fora. E agora que não poderei fazer minha parte das tarefas da casa, necessitará de alguém que te ajude, e possivelmente te trazer uma xícara de chá pela tarde. Você não gostaria disso? -Sara, o povoado inteiro já espera que nos dessem ares. A Sra. Hodges diz que lhe dá voltas à cabeça sempre que pensa em nós vivendo em uma casa nova. Quarenta anos que estivemos aqui, e nunca pensamos em partir. Sara sorriu. -Todo mundo sabe que não está em você nem em papai lhes dar ares. E a Sra. Hodges se acostumará com á idéia de que viva em outra casa, igual ao resto de Greenwood Corners. Esta casa de campo é muito pequena e velha, e quando chove há mais goteiras no telhado das que posso contar. E também pode te preparar para outra surpresa, porque ontem disse a Derek que eu gostaria que nos visitassem em Londres. Ele vai proporcionar lhes uma carruagem, cavalos e um condutor para que possam viajar sempre que quiserem. -OH, caramba. -Katie se afundou contra a mesa da cozinha.-Imagina a pobre Eppie em uma quadra perto de um elegante par de cavalos castanhos. -Fará bem relacionar-se com a classe. Ambas riram, e logo o rosto de Katie mudou. Sua voz de repente se encheu de preocupação maternal.

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-Como é para você, Sara? Não posso evitar me preocupar de vez em quando, pensando em você vivendo com ele nesse lugar. -Esse 'lugar' é um clube de jogo. -disse Sara secamente. -E estou absolutamente cômoda ali. Mas para aliviar sua preocupação, a mansão logo estará terminada, e viverei em uma casa apropriada. Começaram a preparar uma bandeja de chá enquanto falavam, o ritual familiar fez a conversa se tornar mais fácil. -Como é o Sr. Craven?-perguntou Katie. -Que tipo de marido é? Uma expressão cômica ficou sobre o rosto de Sara. -Um peculiar é a melhor forma de dizê-lo.-Com cuidado mediu as colheradas de folhas de chá para as colocar em um bule amarelo lascado.-Derek é um homem muito complicado. Ele não tem medo de nada... Exceto de seus próprios sentimentos. Não é capaz de admitir que me ama, mas de vez em quando o vejo em seu rosto, e é como se as palavras tratassem de sair com força dele. Katie parecia perturbada. -Há alguma semelhança entre vocês dois, Sara? Algo que tenham em comum? -Sim, mas é difícil de explicar. -Sara sorriu pensativamente.-Somos excêntricos a nossas próprias maneiras, mas de algum modo encaixamos juntos. Estou segura de que um matrimônio normal não seria convencional. Freqüentemente estamos em mútua companhia, mas temos nossos interesses separados. Eu tenho meus livros e minha escritura, e Derek se mantém ocupado com o clube e todas suas intrigas... -Intrigas? -OH, é um assombro constante, a mistura de pessoas que lhe visita todas as horas. Num momento lhe vejo conferenciando com marotos e rufiões justo na rua, e ao seguinte está falando com o embaixador da França! Katie sacudiu a cabeça maravilhada. -Começo a compreender o que queria dizer com 'complicado'. Sara vacilou e logo deixou a colher e o pote de chá. -vou contar te algo, mamãe, mas não deve passar destas paredes, ou Derek terá minha cabeça. Resulta que o outro dia encontrei ganhos e registros de doações de caridade em uma gaveta de sua mesa. Eu não podia dar crédito quando vi. As cifras escritas. Ele doou imensas somas de dinheiro a escolas, orfanatos, e hospitais, e isto não inclui o que gasta para suas causas políticas! -Perguntou-lhe sobre isso? -Certamente! Perguntei por que doa tudo em segredo, e deixa deliberadamente que todo mundo pense que nunca se preocupa com nenhuma causa, exceto pelas suas próprias. É como se quisesse que as pessoas tivessem uma má impressão dele. Quem dera soubessem quanto bem tem feito... Katie se inclinou para frente fascinada. -O que disse? -riu e disse que se eu dissesse às pessoas que ele tinha feito uma contribuição caridosa, não importa se fosse grande ou pequena, afirmariam que tratava de polir sua própria reputação. E houve um tempo, disse, que doava dinheiro para órfãos só por essa razão, assegurar-se de que outros pensavam bem dele. Disse que tinha feito mais adulações em sua vida do que qualquer homem deveria fazer, e que agora pode permitir-se fazer o que quer sem se importar... e ... Sem pensar no que os outros dizem. Disse que tem direito a sua intimidade, e que como sua esposa estou obrigada a não contar a ninguém. -Ela levantou as

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sobrancelhas significativamente. -Agora o que pensa disso? Katie franziu o cenho. -Ele parece bastante estranho, se me perguntar isso. Sara sentiu uma alegre risada borbulhando em seu interior. -Por isso posso contar, a sociedade que consideram Derek e a mim um estranho casal. -Também os do povoado. -disse sem rodeios, e Sara riu outra vez. Sem dúvida alguma alta sociedade teria desprezado que os Craven tivessem tratado de ganhar seu favor. Entre eles não tinham um dedo de sangue azul. Nem família distinguida, nem histórias de qualquer mérito... Nada mais que uma fortuna vulgarmente grande construída sobre os hábitos dos homens ricos que gostavam de jogar. Entretanto, Craven’S importava tão pouco a aprovação da alta sociedade tinham dado por defeito. E como Derek comentou grosseiramente, mas com exatidão, o dinheiro era um bom suborno para a aceitação social. Mas enquanto a alta sociedade lhes concedia a admissão reticente em seus círculos elevados, o público concedia adoração terminante a Craven. Isto assombrava a todo mundo, incluindo ao famoso casal. -Finalmente chegou o dia em que os porcos voam, - Assinalava amargamente. -um pobre e uma camponesa se converteram no centro de todo comentário de moda em Londres. Derek a princípio estava perplexo e logo ironicamente resignado ao pequeno alvoroço que criavam sempre que apareciam em público. -O mês que vem se interessassem por outros. -assegurou Sara. -Somos uma curiosidade temporária. O que ele não esperava era a fascinação do povo por um par de plebeus que viviam como a realeza. Etiquetaram-nos de "refrescante" por um lado, "arrivistas" por outro. Uma caricatura de George Cruikshank lhes representava como pequenas nobrezas te alardeiem tratando de imitar as maneiras da elite. Os Craven eram uma janela através da qual as pessoas podiam ver as vistas das classes altas e imaginar-se em tal posição. O interesse se avivou inclusive quando souberam que Sara era a solitária autora da Mathilda. Especulava-se nos Cafés pela cidade sobre a Sra. Craven fosse Mathilda disfarçada. Sara ouviu o nome de uma multidão gritando que observa a chegada ao teatro quando assistiam uma obra no Drury Lane. -Olhe aqui, Mathilda!-gritou um homem enquanto ela saía da carruagem. nos mostre seu rosto! -Quando Sara deu uma olhada para ele aturdida se dispersou uma exclamação pela reunião.-!Mathilda!É você uma visão encantadora! -Não mostre seu rosto. -murmurou Derek entre dentes enquanto escoltava Sara subindo os degraus da entrada.-Logo será declarada propriedade pública. Sara começou a rir. -Acredito que somente querem acreditar que há uma Mathilda em algum lugar. Antes de ir a seus assentos no camarote, distanciaram-se para trocar os cumpridos sociais rigores com a multidão de conhecidos que se formavam ao redor deles. Os maridos que estavam seguros de que Derek já não se metia engatinhando nas camas de suas esposas tinham começado a tratá-lo com cautelosa simpatia. Gente que Sara conhecia ou que nunca tinha conhecido se tomava cuidado especial em adulá-la. Suas mãos eram repetidamente adornadas com beijos de jovens e estrangeiros de voz suave, enquanto ela era afligida com louvores a seu cabelo, a seu vestido, a seu encanto. Principalmente eram respeitosas ... Exceto um patife

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insolente cuja voz era muito familiar. -Malditos sejam meus brilhantes se esta não for Mathilda! -Sara deu a volta com cautela para olhar de frente o sorriso atrevido de Ivo Jenner. -Sr. Jenner.-disse ela, reconhecendo-o com um cortes assentimento. Seu olhar ardiloso a percorreu. -Que elegante aquecedor de cama é. Craven é um bastardo com sorte por tê-la em sua cama cada noite. Não se merece uma esposa tão formosa como você. -O Sr. Craven é um marido exemplar.-murmurou, tratando de afastar-se dele. -Um cavalheiro refinado, seu marido. -zombou-se Jenner. -lhe diga que não é nada mais que um adulador bastardo pobre... -Se não partir agora mesmo, - interrompeu Sara. -terá a possibilidade de dizer-lhe você mesmo. Jenner seguiu seu olhar, seu sorriso insolente se alargou quando viu Derek dirigir-se abrindo-se passo com os ombros para eles. Quando ele os alcançou, Jenner se tinha fundido entre a multidão. Derek agarrou a Sara pelo braço. -O que te disse? Ela piscou com cautelosa surpresa por seu tom áspero. -Nada de importância. -diga-me isso A arrogância de Jenner recordava a Derek seu próprio passado. -Não foi nada. -disse ela, estremecendo-se de dor. Ela retorceu seu braço para liberá-lo. -Derek... Por favor, não faça uma cena. Ele parecia não ouvi-la. Seu olhar estava posto sobre a figura de Jenner retirando-se. -Ensinarei a esse bastardo adoentado a pôr um maldito dedo sobre o que é meu. -grunhiu. Os lábios de Sara se apertaram com irritação. Estava-se comportando como um vira-lata lutando por um osso. Ela sabia por que Jenner sempre se zangava com tanta facilidade... -Eu não sou tua propriedade. -disse ela. Embora a voz de Sara fosse tão suave como sempre, havia uma nota fria nela que fez com que Derek arrepiasse os cabelos da nuca. Ele a olhou com brutalidade. Nunca tinha falado assim antes. Não gostou. -Uma merda que não. -disse bruscamente, desafiando-a a discutir. Ela manteve seu olhar separado do seu. -Eu gostaria de ir a nossos assentos agora. Durante o resto da noite Derek esteve enfurecido por seu trato. Ela lhe ignorou, enfocando toda sua atenção na obra. Estava claro que tinha se aborrecido. O trato distante de Sara era pior castigo do que qualquer briga. Animou a si mesmo para ser igualmente frio com ela. Se ela esperasse dar uma desculpa, poderia esperar até que o diabo ficasse cego. Ela era dele, ele tinha perfeito direito de defendê-la contra os avanços da escória como Ivo Jenner! Depois de voltar para casa e retirar-se para dormir, mantiveram-se em seus próprios lados da cama. Foi a primeira noite de seu matrimônio em que não fizeram amor. Derek era tristemente consciente de seu corpo suave tão perto, de seu próprio desejo agudo por ela, e, ainda pior, de sua necessidade por seu afeto. Pela manhã se aliviou imensamente quando Sara despertou com seu bom humor habitual, a noite anterior pareceu esquecida. Derek entrou na tina de banho enquanto ela se sentava em uma cadeira

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próxima e lia o jornal do dia. O Teme tinha uma detalhada descrição do vestido cor marfim de Sara e do diamante azul de cinco quilates em seu dedo, as opiniões relatadas dos Craven sobre a obra, e a especulação sobre se Derek era realmente " um libertino reformado ". -Não há uma palavra de verdade em nada disso. -disse Derek. -Exceto a parte onde disseram que estava resplandecente. -Obrigado, amável senhor. -Sara deixou o jornal e estendeu a mão para brincar com um dos grandes pés ensaboados apoiados sobre a beira de porcelana da tina. Ela meneou o dedo gordo de seu pé.-Que acontece a parte que diz que está reformado? -Não estou. Ainda faço tudo que estava acostumado a fazer, mas agora só com você. -E admirável. -respondeu, seu tom recatado. -A água ainda está quente. -disse, fazendo redemoinhos atrativos com suas mãos. Sara sorriu e sacudiu a cabeça. -Não. Ele se deslizou mais abaixo na água, olhando-a fixamente. -Necessito de ajuda com meu banho. Há um ponto que não posso alcançar. -Onde? -Entra aqui e lhe mostrarei. Incapaz de resistir a sua malicioso pedido, Sara se abrandou. Levantandose da cadeira, deixou cair seu roupão e o lenço de noite aos azulejos molhados e se ruborizou sob seu olhar interessado. Com cuidado entrou na tina. Derek levantou um braço para ajudá-la e a desceu com cuidado na água quente. Ela tremeu ao sentir, escorregadio e forte, seus braços e pernas musculosos se abrigaram ao redor dela. Seu cabelo negro brilhava como a pele de uma foca molhada. -Onde está o sabão? -perguntou, tirando um coágulo de espuma de seu queixo. -Me caiu. -disse com pesar, e atirou de sua mão sob a água turva. -Terá que encontrá-lo. Ela riu lhe salpicou. Atoleiros de água se acumulavam no chão do quarto de banho enquanto brincavam, lhe rodeando o pescoço com seus braços, lhe deu um beijo molhado em seus lábios. -Temo-me que não posso encontrar o sabão. -sussurrou, seu corpo deixando-se levar flutuando contra o seu. - Segue olhando. -animou-a com a voz rouca, e procurou sua boca para outro beijo. Ela pôde ver que gostou disso. Seus olhos verdes brilharam, e ele colocou seu pé na banheira. Em seus momentos particulares Derek reconhecia que tudo o que sempre tinha afirmado Lily Raiford sobre o matrimônio era verdade. A absoluta conveniência era assombrosa. Sua esposa sempre estava perto ao alcance de sua mão, sua pequena presença honrava seu lar, sua mão sobre seu braço quando aparecia em público, o aroma persistente de seu perfume que o atormentava docemente quando estavam separados. Ele sabia que sempre seria impossível cansar-se dela, já que era tão vital como o mesmo ar que respirava. E ainda sentia que era um impostor com cada beijo de marido que lhe dava na testa. Era como se tivessem dado um formoso traje que ficava bem com tudo. Encontrou-se estudando Sara atentamente, esperando as pistas de que cometia enganos. Ele não era suficientemente estúpido ao pensar que se comportava da forma em que

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faziam a maior parte dos maridos, o que queira que isso fosse. Mas lhe dava uma pequena guia preciosa, e deixava andar às cegas por um caminho escarpado e desconhecido. Com freqüência Derek sentia uma profunda sensação de inquietação, como se alguma monumental dívida invisível se estivesse acumulando em seu nome. Também estava a mordido ocasionalmente se ressentindo quando se dava conta de que ela se converteu na fonte de tudo para ele, toda comodidade e paz. Ela era o primeiro ser humano que jamais tinha necessitado. Ele tinha perdido sua liberdade de uma forma que nunca tinha imaginado possível, com mais firmeza por seu amor que por cadeias de ferro de uma milha de longitude. Sentindo falta da presença de Derek na cama, Sara se arrastou escada abaixo era muito cedo e lhe encontrou sozinho no salão central de jogo. Estava misteriosamente tranqüilo e pensativo sem a habitual multidão de clientes e empregados. Derek estava no mesa do canto do Worthy com vários baralhos de cartas alinhadas com cuidado pela superfície polida. Sentindo sua presença, ele deu uma olhada sobre seu ombro com um grunhido evasivo. -O que faz? -perguntou Sara com um bocejo, chegando mais próximo. -Worthy suspeita que um de meus repartidores de cartas faz armadilhas. Queria olhar as cartas que esteve usando esta noite, só para me assegurar. -A boca de Derek se torceu com desgosto enquanto assinalava um dos montões planos.Esse é um baralho marcado se alguma vez vi um. Sara ficou perplexa. Ela tinha visto todos os complicados rituais nas mesas, as cerimoniosas aberturas de caixas de cartas novas. -Como poderia qualquer dos repartidores marcar as cartas? Não há tempo nem oportunidade... Não? Derek recolheu um novo baralho, baralhando tão expertamente que as cartas não eram nada mais que um borrão. Repartiu-lhe uma mão, de barriga para baixo. -me diga qual é a rainha. -Sara deu uma olhada nas cartas. -Não posso. São todas iguais. -Não, não são. Acabo de marcar a rainha. -Derek recolheu a carta e mostrou o pequeno detalhe quase indistinguível que tinha feito com a unha do polegar sobre a borda da carta. -Há outros modos de marcar. Poderia usar tinta sobre a ponta de meu dedo para deixar manchas. Poderia as dobrar somente um pouco. Ou guardar um pedacinho de vidro em cima de minha manga. -Um espelho? -perguntou. Ele assentiu e seguiu brincando com as cartas. -Se um baralho tiver sido marcado, sabe quando folhear o baralho e olhar as costas. Qualquer linha ou marca sairá. -as cartas pareciam ter vida em suas mãos enquanto as baralhava uma vez mais. -Aqui tem como amontoar o baralho... Mas o movimento tem que ser liso. Isto requer prática diante de um espelho. -as cartas eram uma corrente solta em suas mãos. Ele as sustentava meigamente, seus dedos largos manipularam e se dobraram até que o baralho formou uma ponte, uma cascata, um repentino leque. Sara observava assombrada. Tão ágil como eram os repartidores do clube, ela nunca tinha visto nenhum deles dirigir as provas com semelhante facilidade. Isso, junto com sua extraordinária cabeça para os números, faria-lhe um oponente invencível. -por que não joga alguma vez? -perguntou. -Nunca te vi jogando

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ocasionalmente com Lorde Raiford ou seus outros amigos. É porque sabe que ganharia sempre? Derek se deu de ombros. -Essa é uma das razões. -disse sem presunção. -A outra é que não me diverte. -Não? -Nunca o fez. -Mas como pode ser tão bom em algo e não desfrutar disso? -Há uma possibilidade. -disse, e riu brandamente, deixando de lado as cartas. Conduzindo a à mesa de jogo, ele tomou pelos quadris e a levantou. Ela se sentou sobre a beira da mesa, seus joelhos se afastaram quando ele se colocou entre elas. Derek se inclinou para frente, sua boca quente, suave. -Isto não se parece com sua escritura, carinho. Quando você se sinta em sua mesa, põe seu coração e sua mente em seu trabalho, e isto te proporcionam satisfação. Mas as cartas são somente um padrão. Uma vez que aprende o padrão, é automático. Não pode desfrutar de algo se não te exigir um pouco de seu coração. Sara acariciou seu cabelo negro. -eu tenho um pouco de seu coração? -um momento depois de perguntar, arrependeu-se da pergunta. Prometeu não lhe pressionar, não exigir coisas que ele não estava preparado. Os olhos de Derek estavam sombreados de verde quando a olhou fixamente sem piscar. Ele se inclinou para frente, e seus lábios procuraram os seus, acendendo um calor dentro dela que rapidamente se incrementou a uma chama brilhante. Sara tremeu quando lhe sentiu levantar as saias até a cintura. Ele se apertou com mais força entre seus joelhos abertos. Beijaram-se ardentemente, procurando provas debaixo da limitação da roupa, arrancando torpemente os botões com uma pressa impetuosa. Sara ofegou quando sentiu sua carne quente e íntima elevando-se contra seu corpo. -Aqui não... Alguém verá... -foram-se todos. -Com cuidado a mordeu no pescoço. -Mas não podemos... -Agora. -insistiu, atirando sua cabeça contra seu ombro enquanto tomava ali sobre a mesa de jogo, fazendo-a estremecer-se com desesperado prazer. Sara estava sozinha num dos apartamentos privados sobre o clube, olhando-se no espelho comprido do quarto. Estava vestida para assistir o jantar de aniversário de Henry, o irmão de dezessete anos de Alex Raiford. Em ocasiões particulares como esta os Raiford se rodeavam de companhia cálida e agradável. Sara sabia que a noite estaria cheia de engenhos e risadas. Derek tinha ido com Alex para ajudar a levar o presente de Henry, um brilhante cavalo pura sangre, ao Swans Court antes que o moço chegasse em casa de o Eton. Sara alisou a saia de seu vestido de veludo verde. Com corte baixo e austero em sua simplicidade, o vestido estava adornado só por uma fileira de seis broches de ouro que mantinha unida a parte dianteira das saias abertas. Levava um colar que Derek lhe tinha presenteado para assinalar seu primeiro mês de matrimônio, uma magnífica criação de diamantes e esmeraldas em equilíbrio postas em intrincados fios sobre seu seio. Colocando o brilhante colar no espelho, Sara sorriu e se deu a volta para vê-lo desde outro ângulo. De repente seu coração se deteve. O reflexo mostrou que havia alguém atrás dela. Dando a volta, Sara olhou com os olhos muito abertos à mulher de cabelo dourado que sustentava uma pistola pontada diretamente a ela.

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CAPITULO DOZE O rosto de lady Joyce Ashby estava tensa, seus olhos brilhando com a loucura e o ódio. Sara foi primeira a falar, ouvindo sua própria voz tranqüila com sensação de assombro. -Deve ter vindo pelos corredores ocultos. -Conhecia-os muito antes que você os conhecesse. -disse Joyce, seu olhar se lançou a enorme cama dourada. -Eu estive com ele naquela cama muitas vezes. Fomos magníficos juntos. Inventamos coisas que jamais se fez antes. Não te mova. Agarrava a arma com firmeza. Sara respirou rápido e levianamente. -O que quer? -Quero olhar a mulher que ele tomou como sua esposa, -Joyce riu com desprezo. -que há cobre com veludo e jóias... Como se pudesse enganar a outros a pensar que é uma dama de importância. -Uma dama como você? Joyce não fez caso da espetada, olhando hipnotizada a colar que brilhava contra a pele branca de Sara. -Essas esmeraldas são da cor exata de seus olhos. Ninguém mais tem uns olhos como esses. -Ela olhou airadamente a Sara com fúria. -Te digo que não se mova! Sara congelou, tendo começado a mover-se pouco a pouco para a corda larga com borlas que tocaria o sino dos criados. -Deve estar contente com você mesma, - disse Joyce. -te admirando com seu vestido fino, com seu anel em seu dedo. Acha que tem o que eu mais cobiço. Acha que ele te pertence. Mas seu matrimônio não significa nada. Ele me pertence. Pus minha marca sobre ele. -Ele não te quer. -sussurrou Sara, seus olhos fechados sobre o rosto vingativo de Joyce. -Camponesa muito inocente! Na realidade acha que tiveste mais dele do que cem mulheres poderiam afirmar? Conheço cada pedaço dele tão bem como você. Conheço o desenho do cabelo sobre seu peito, o aroma de sua pele. Havia sentido suas cicatrizes sob minhas mãos, e os músculos de suas costas em movimento. Sei o que é o tê-lo dentro de mim... A forma em que se move... Devagar e profundamente... Justo antes que encontre sua liberação. -Os olhos de Joyce se entrecerraram. -Um amante dotado, o bastardo de seu marido. Nenhum outro homem sobre a terra entende o corpo de uma mulher como ele. Um animal grande, sensual, sem conscientização e sem escrúpulos. Ele é meu equivalente perfeito, e ele sabe. Rapidamente Sara se lançou à argola de ferro e atirou freneticamente, esperando ouvir a explosão da pistola. Mas Joyce não disparou. Tremula e pálida, Sara a fez frente. -Os criados subirão em seguida. Sugiro-te que te parta, lady Ashby. Joyce a olhou com desprezo. -Que criatura tão ridícula você é.-Deliberadamente alcançou e golpeou o abajur aceso de azeite do aparador. Sara lançou um grito de horror quando o globo se rompeu e o atoleiro de

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azeite pegou fogo. Imediatamente o atoleiro de fogo se estendeu, as chamas lamberam avidamente o tapete, nas madeiras, e as tapeçarias. -OH, Deus! O rosto de Joyce estava grafite em dourado e vermelho pela malévola luz que se levantava. -Pode morrer pela fumaça e o fogo, - disse com voz gutural. -ou por uma bala. Ou... Pode decidir fazer exatamente o que te digo. Derek e Alex estavam a várias ruas de St James quando se deram conta de que algo andava terrivelmente mal. Os sinos tocavam. Os carros, cavalos e pedestres obstruíam a área. O céu estava cheio de um apagado brilho vermelho que provinha de um incêndio em algum lugar no horizonte. -Fogo. - Alex, olhando fixamente pela janela do carro. -Onde? -uma fria sensação se colocou sobre Derek, juntando-se no abismo de seu estômago. A carruagem avançava com insuportável lentidão enquanto os cavalheiros faziam todo o possível por forjar um caminho pelas ruas lotadas. Seu sexto sentido, sempre exato, advertiu-lhe do desastre. -É o clube.-ouviu-se dizer. -Não posso dizer com segurança.-a voz de Alex era tranqüila, sem trair nada da ansiedade que sentia. Mas uma de suas mãos estava ao redor da cortina da janela, exercendo tanta tensão que os pontos no tecido começaram a saltar. Com uma maldição surda Derek abriu a porta do carro e saltou para fora. O veículo se movia tão devagar que era mais rápido caminhar. Ele abriu caminho com os ombros pela multidão que se juntava para olhar o fogo. -Craven! -ouviu Alex atrás dele, lhe seguindo a distância. Ele não se deteve. O insistente repicar dos sinos enchiam seus ouvidos, reverberavam em ensurdecedores estrondos. Não podia ser seu clube. Não depois de que tinha passado anos de sua vida trabalhando, roubando, sofrendo por ele. Tinha-o construído com seu próprio suor e sangue, com partes de sua alma. Deus, vê-lo reduzir-se a fumaça e cinzas... Derek dobrou a esquina e fez um incoerente som. O palácio de jogo rugia. O grunhido do fogo estava por toda parte; o céu, o ar, até a terra parecia tremer. Derek se cambaleou ante a cena e olhou como seus sonhos se ardiam em um tremendo resplendor. Estava mudo, respirando e tragando, tratando de entender o que estava se passando. Pouco a pouco se fez consciente de rostos familiares na multidão aterrorizada. Monsieur Labarge sentado sobre a borda do pavimento, sustentando com atordoamento uma panela de cobre que devia haver-se levado da cozinha, muito presa ao pânico para deixá-la. Gill estava de pé com as garotas da casa, algumas delas zangadas, algumas gritando. Worthy estava perto, as chamas se refletiam em seus óculos. O suor gotejava por suas bochechas. Ele deu a volta e viu Derek. Seu rosto se contraiu convulsivamente. Ele se cambaleou para frente, sua voz irreconhecível quando falou. -Sr. Craven... Estendeu-se muito rápido. Não havia nada que pudessem fazer. perdeu tudo. -Como começou? -perguntou Derek com voz rouca. Worthy tirou os óculos e enxugou o rosto com um lenço. Demorou bastante para responder, tendo que regular o fluxo das palavras. -Começou no último piso. Os apartamentos privados. Derek o olhou inesprecivamente. Dois policiais apressados a seu lado, uma parte da conversa precipitada flutuou no ar atrás deles. -... Derrubem o seguinte edifício... Façam um corta-fogo...

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-Sara.-ouviu dizer Derek. Worthy inclinou a cabeça e tremeu. Derek se aproximou de Worthy, agarrando a parte frente da camisa do encarregado. -Onde está ela? Onde está minha esposa? -perguntei aos empregados. -respondeu Worthy, ofegando como se fosse doloroso falar.-Vários deles ... Confirmaram que ela estava no clube. -Onde está ela agora? -Senhor... -Worthy sacudiu a cabeça e começou a engolir saliva com um som estranho. Derek o soltou e cambaleou para trás uns passos, o olhando aturdido. -Tenho que encontrá-la. -Ocorreu muito rápido. -disse Worthy, tratando de controlar suas lágrimas. -Ela estava nos apartamentos quando começou. Não pode ter saído. A confusão tilintava em sua cabeça. Desorientado, Derek deu a volta bruscamente em um semicírculo. sentia-se muito estranho, ardia-lhe toda a pele. -Não, eu... Não. Ela está em algum lugar... Tenho que encontrá-la. -Sr. Craven? -Worthy o seguiu enquanto ele entrava na rua. -Não deve entrar ali. Sr. Craven, espere! -Ele agarrou o braço de Derek. Derek escapou dele com impaciência, seus decididos passos cobraram velocidade. Em um pânico repentino, o encarregado se jogou para Derek, usando seu ligeiro peso e a força robusta para retê-lo. -me ajudar a detê-lo! -gritou Worthy. -Ele se precipitará justo no meio! Derek grunhiu e o separou de um empurrão, mas outras mãos baixaram sobre ele, empurrando-o ao chão. Ele amaldiçoou e tratou de levantar-se outra vez, só para encontrar-se rodeado por uma multidão de homens tentando refrear. Enfurecido, começou a lutar como um animal raivoso, rugindo e lutando para liberar-se. Na distância ouviu a voz de Alex Raiford. -Derek... Pelo amor de Deus homem... -Sara! Sara... Alguém lhe deu um golpe violento no crânio. Derek se arqueou contra a dor com um gemido animal. -Minha ... Esposa.-ofegou, ardia-lhe a cabeça, seus pensamentos se derrubaram como um castelo de naipes. Soltou um gemido tranqüilo e caiu na escuridão. Joyce tinha levado Sara à adega subterrânea apontando a pistola. Abandonaram o clube por uma das entradas ocultas. Tinha sido desenhada para permitir aos clientes um caminho de fuga fácil para evitar a vergonha de ser apanhado no clube durante uma jogada a rede da polícia. Quando saiu do porão a ar fresco do exterior, Sara se surpreendeu ao ver uma carruagem alugada as esperando. -Entra, - murmurou Joyce, cravando-a nas costas com a ponta da pistola. -e não trate de rogar ao condutor. Estou-lhe pagando bem por manter a boca fechada e fazer o que mandar. Uma vez dentro, sentaram-se em assentos opostos. Joyce manteve a pistola apontada para Sara, incrementando o poder sobre a vida e a morte sobre sua prisioneira. O carro começou a mover-se. Sara se agarrou as mãos tremulas em seu colo. -Aonde vamos? -A uma pequena propriedade Ashby no campo. Uma velha casa medieval. Agora que seu plano progredia exatamente como desejava, Joyce estava despreocupada, inclusive faladora. -A maior parte se derrubou, durante séculos, exceto o coração central e a torre. Ninguém vai ali jamais.

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-Ainda está longe? -Viajaremos uma boa hora e meia. Possivelmente dois. -Ela sorriu zombadoramente. -Queria saber por que te levo ali? Não vou dizer isso guardo como uma surpresa. Sara se perguntou se o fogo estendeu por toda parte do clube, ou se por algum milagre os empregados tinham sido capazes de contê-lo. Logo Derek voltaria de sua diligência com o Alex. Sentiu-se doente pensando no que ele deveria fazer frente. Descobriria que ela estava desaparecida ... Ele poderia ser ferido no intento de encontrá-la. De repente estava aterrorizada por ele, perguntando se ele estava em perigo, se pensasse que ela estava morta. Com inquietação se tocou o pesado colar em seu pescoço, brincando distraidamente com as esmeraldas lisas entre seus dedos. -Me dê isso. -Disse Joyce com aspereza, observando-a. -O colar? -Sim, tire isso, Joice observou como Sara se desenganchava o brilhante tesouro do pescoço. -Uma camponesa com um colar apto para uma rainha.comentou com desprezo. -Não tem nem graça nem as maneiras para levá-lo corretamente. Dê-me isso seu dedo impaciente se abrigou ao redor do colar, e o agarrou. Pondo-o sobre o assento, jogou amorosamente com as esmeraldas e diamantes.-Ele me dava presentes... Um bracelete, um colar, pentes de prender cabelos,mas nada tão fino como . -sorriu a Sara insultantemente. -O dia que me deu os pentes de prender cabelos, disse-me que se imaginou me fazendo o amor levando jóias em meu cabelo dourado e nada mais. Ele prefere muito mais o cabelo loiro ao escuro, sabia? Sara manteve sua expressão vazia, negando-se a permitir que a outra mulher visse que seu comentário lhe ardia. Joyce começou outra ladainha zombadora de insultos e se gabou sobre a habilidade sexual de Derek até que a cólera e o ciúme se enredaram de maneira desagradável no estômago de Sara. A voz de uma mulher alcançou Derek com suavidade, lhe atraindo da mistura confusa de escuridão. Algo andava mal... Uma estranha frieza a rodeava completamente, em seu interior, uma sombra sinistra que tinha impregnado atravessando cada polegada de seu corpo. Ele se revolveu atordoado, desejando consolo. -Sara... -Alex e eu estamos aqui,carinho. -Era a voz de Lily, parecia pastosa e estranha. Derek se sacudiu para despertar e gemeu pela dor palpitante em sua cabeça. -Jesus. -piscou e se ergueu torpemente, dando uma olhada em torno dele. Estava na carruagem dos Raiford, detido diante do Swans' Court. Alex estava a seu lado, descansando uma mão firmemente sobre seu ombro. Derek sentia dor no peito. Sentia como se tivesse sido golpeado. -O que aconteceu? -resmungou, esfregando-os olhos. Lily estava na porta da carruagem, seu rosto encharcado pelas lágrimas iluminada pelos abajures laterais. Seus olhos estavam inchados. -Entra na casa conosco, Derek. Cuidado, deixa que Alex te ajude. Derek obedeceu sem pensar, dando-se conta quando tropeçou ao sair da

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carruagem que não caminhava com passo seguro. De pé ao lado do veículo, sujeitou uma mão contra o lateral lisa laqueada e tratou de limpar a cabeça. Alex e Lily estavam de ambos os lados. Ambos o olhavam de uma maneira estranha. Ele começou a recordar... O fogo, o clube... Sara. -Onde está ela? -perguntou. Enfureceu-se pelo olhar que lançaram um ao outro. -Malditos sejam os dois, me respondam! Os olhos cinza de Alex eram compassivos. Ele respondeu com voz tranqüila. -Ela não está em nenhum lugar que possa ser encontrada, Derek. Ficou presa no fogo. Não pôde ter sobrevivido. Derek lançou um som violento, afastando-se deles. O pesadelo estava sobre ele outra vez. Começou a tremer. -Derek, - disse brandamente Lily, seus olhos brilhavam. -não está sozinho. Ajudaremo-nos um ao outro a passar por isso. Vêem aqui dentro. Vêem, tomaremos um gole. Ele a olhou fixamente sem expressão. -Derek ... -pediu ela, mas de repente ele tinha desaparecido, movendo-se rapidamente na noite até que o tragasse completamente. Assustada, Lily gritou atrás dele, e logo se voltou para Alex. -Deve lhe seguir!. -disse com urgência. -Alex o traga de volta! Ele a rodeou com os braços. -Como? A menos que lhe deixe inconsciente, não posso fazer que fique. -lhe levantando o queixo, olhou fixamente nos olhos. -Voltará.-assegurou-a com suavidade.-Não tem nenhum outro lugar aonde ir. Esgotada por seus próprios pensamentos frenéticos, Sara se surpreendeu desalentada quando o passou a carruagem se aliviando logo se deteve. Tinha parecido que as rodas nunca deixariam de girar, afastando-a mais de Londres com cada doloroso minuto que passava. Na metade do caminho da viagem, Joyce tinha ficado calada, tentando torpemente colocar o colar de esmeraldas ao redor de seu pescoço enquanto conservava a posse da arma. Sara a tinha contemplado silenciosamente, considerando a obsessão da mulher por Derek. Joyce Ashby estava louca, ou ao menos mentalmente desequilibrada. Parecia uma menina cruel e egoísta em um corpo adulto. Não valorizava nenhuma vida exceto a sua, e não sentia nenhum remorso por suas ações. Em sua mente não havia conseqüências para nada do que fazia. Por que tinham permitido a Joyce ficar em liberdade e causar semelhante dano? Certamente Lorde Ashby devia ser consciente das ações de sua esposa. Sara se perguntava que tipo de homem era ele, e por que não se encarregou de Joyce á muito tempo. O condutor abriu a porta da carruagem e olhou dentro. Sua estranha aparência jovem desafiava qualquer conjetura exata sobre sua idade. Ele tinha uma fina Barba de rato. Seus olhos descoloridos se moviam nervosamente da pistola ao rosto de Joyce. -Milady? -perguntou. -Saímos. -disse. -Fique aqui até que eu volte. -Sim, milady. -Sara falou rapidamente, olhando com dureza ao condutor. -Você não pode permitir isto. Não seja idiota. A lei lhe responsabilizará do que me ocorra aqui, e se não, então fará meu marido! O homem se estremeceu e se afastou dela, ignorando-a. -Desce... fazendo gestos com a pistola. Sara ficou no chão, suas pernas encolhidas pela comprida viaje. Lançou-lhe uma olhada ao condutor, que tinha ido à frente da carruagem com os cavalos. Já

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que ao parecer não tinha nenhum remorso por seus pedidos de ajuda, tentou com as ameaças. -Meu marido é Derek Craven, e quando ele souber disto, não descansará até que tenha feito pagar... -Ele não fará nada para te ajudar. -disse Joyce, cravando Sara com a pistola.-Começa a andar. O caminho foi iluminado pelo farol da carruagem que levava Joyce. Aproximaram-se da estrutura medieval, pouco mais que uma casca mutilada de pedreiras. As janelas e as comporta se derrubaram, dando à casa fortificada o aspecto de uma mandíbula com ocos dentes faltando. Devagar Sara entrou no salão central. Ratos e insetos puseram-se a correr em todas as direções, alertados pela presença de intrusos. Incomodada pelo passo vacilante de Sara, Joyce movia a arma e a empurrou para os degraus quebrados de pedra que conduziam até a torre. -Ali em cima.-disse com brutalidade. Devagar Sara subiu o primeiro degrau. Tinha a boca seca pelo medo. Suava pesadamente, o medo líquido gotejando de seus poros. -por quê? -Há um quarto no alto com uma barra que cruza a porta. Vou manter você ali. Será minha própria mascote particular. De vez em quando virei e te visitarei, e te contarei tudo sobre seu marido. Averiguaremos quanto tempo chora por você, e quanto tempo demora antes de voltar para minha cama. -fez uma pausa e acrescentou com presunção.-Possivelmente te ensinarei formas de me agradar, e você me ensinará exatamente o que seu marido encontra de tão fascinante em você. -Dá-me nojo. -disse Sara escandalizada. -Pode ser que agora me diga isso, mas depois de uns dias fará o que quero em troca de comida e água. Os nervos de Sara se contraíram rebeldemente, exigindo ação. Preferiria morrer nesse momento que estar à mercê de uma louca durante tempo indefinido. Tinha que fazer algo agora, antes que alcançassem a quarta torre. Depois de outros poucos degraus fingiu tropeçar no patamar. Rapidamente deu a volta e tratou de agarrar o braço de Joyce. Joyce reagiu com um assobio de raiva, lutando para não soltar a pistola. Deixou cair a lanterna da carruagem e tratou de agarrar o rosto de Sara. Sentindo a picada de unhas largas em seu pescoço, Sara gritou e tratou de retorcer a arma para afastá-la. Lutaram corpo a corpo desesperadamente e caíram rodando pelos degraus juntas. O impacto doloroso da escada de pedra sobre a cabeça e as costas aturdiu Sara, mas não soltou o braço de Joyce, inclusive quando o sentiu descer entre seus corpos retorcidos. De repente lhe ressonaram os ouvidos com uma explosão. O primeiro pensamento de Sara foi que a tinha disparado. Havia sentido um golpe duro e doloroso contra seu peito que finalmente identificou como o retrocesso da pistola. Devagar se revolveu e se incorporou, sustentando uma mão no lado palpitante de sua cabeça. Joyce estava um pé ou dois mais à frente, gemendo. Uma mancha de sangue carmesim emanava de seu ombro. -Me ajude. -ofegou. -Te ajudar? -repetiu Sara, levantando-se cambaleando. De algum modo conseguiu recuperar o sentido comum.. A lanterna da carruagem atirada ainda estava intacto, a pequena chama chispou quando rodou pelo degrau. Depois de

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recolher a lanterna, foi até Joyce, que apertava seu ombro ferido. Deveria lhe abandonar aqui, pensou. Foi inconsciente de que havia dito as palavras em voz alta até que Joyce respondeu. -Não pode me deixar morrer! -Não vais morrer. -Repugnada, aterrorizada, Sara tirou sua própria anágua pressionou-a para cima, e a apertou firmemente contra a ferida para estancar o sangue. Joyce gritou como um gato enfurecido com os olhos abertos e demoníacos. Os ouvidos de Sara zumbiram. -Te cale, zorra! -falou Sara zangada. -Nem um som mais! -de repente seu corpo inteiro estava cheio de energia furiosa. Sentia-se bastante forte para derrubar uma parede de pedra com suas mãos nuas. Foi à entrada ruída do castelo e viu que o condutor ainda esperava, estirando o pescoço com curiosidade. -Você! -Gritou. -Venha aqui em seguida, ou não conseguirá um xelim dos que lhe prometeu! -voltaram para Joyce, seus olhos azuis ardiam. -E você... Devolva-me meu colar. Como Alex havia predito, Derek voltou para o Swans' Court, despenteado e sujo, cheirando a madeira carbonizada. Em seu rosto não havia lágrimas e era frio, arranhado pela pancada de antes. Lily tinha estado lhe esperando, bebendo incontáveis xícaras de chá. Henry, seu cunhado, tinha saído para rondar com seus amigos por Londres, procurando problemas como estavam acostumados a fazer os jovens alegres. Alex ficou em casa, passeando nervosamente de um salão a outro. Quando o mordomo deixou entrar Derek na casa, Lily se precipitou a entrada e o agarrou pelo braço. Interrogou-lhe com inquietação enquanto lhe conduzia dentro da sala. -Derek, onde estiveste? Está bem? Quer algo para comer? Uma taça? -Brandy.-disse Derek de maneira cortante, sentando-se no sofá da sala. Lily enviou às criadas apressadamente a por água quente, toalhas, e brandy. Tudo chegou em breve prazo. Derek estava estranhamente passivo enquanto Lily esfregava ligeiramente as raspagens sujas com uma toalha umedecida. Ele cavou a taça de brandy em suas mãos sem incomodar-se em proválo. -Bebe um pouco disso. -disse Lily com a voz firme e maternal que as crianças nunca se atreviam a desobedecer. Derek tomou um gole e deixou a taça, sem olhá-la quando se abateu sobre ele. -Está cansado?-perguntou. -Quer deitar a cabeça? Derek esfregou a metade inferior de seu queixo, seus olhos verdes fixos a nada. Parecia não havê-la ouvido. Com cuidado Lily alisou uma mecha de seu cabelo. -Estarei muito perto. Diga-me se houver algo que queira. -foi para Alex, que tinha estado olhando da entrada. Seus olhos se cruzaram. -Espero que esteja bem. -sussurrou. -Nunca lhe vi assim. Perdeu tudo... O clube... E Sara... Lendo a preocupação em seu olhar, Alex aproximou e o balançou com cuidado. Nos anos desde que se casaram tinham compartilhado uma vida de companheirismo, paixão, e alegria incomparável. Momentos assim serviam como aviso brutal de que nunca deveriam dar sua felicidade por acabado. Ele abraçou sua esposa de maneira protetora. -Sobreviverá. -respondeu-lhe. -Como sobreviveu a tudo em sua vida. Mas nunca voltará a ser realmente o mesmo. Lily se moveu em seus braços para dar um olhar tristemente à forma imóvel de Derek. Alguém usou a aldrava de cobre da porta da rua. O som agudo ressonou no

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salão. Alex e Lily se olharam um ao outro se perguntando silenciosamente, logo observaram quando o mordomo ia abrir. Ouviram uma marcada voz discutindo com o tom bem modulado de Burton. -Se Craven estiver aqui, tenho que vê-lo maldito seja! A voz do homem não era familiar a Alex, mas Lily a reconheceu imediatamente. -Ivo Jenner! -exclamou. -por que demônios viria ele aqui? A não ser que ... Seus olhos escuros se arregalaram. -Alex, ele é quem começou o fogo da cozinha em Craven's no ano passado. Foi somente uma brincadeira... Mas possivelmente fez outra brincadeira esta noite! Acha que... -Ela se deteve quando sentiu uma rápida brisa repentina a seu lado, causada pela forma de Derek quando passou diante deles como uma bala para a entrada, ágil como uma imponente pantera. Alex o seguiu num abrir e fechar de olhos, mas não antes que Derek tivesse rodeado o pescoço de Jenner com as mãos, o jogando ao chão de mármore. Jurando obscenamente, Jenner usou seus fortes punhos de pugilista para esmurrar o peito de Derek. Precisou da força combinada de Alex, do mordomo, e de Lily para afastar Derek pela força. A entrada principal estava cheia de seus rugidos unidos. Só Derek estava calado, ocupado afanosamente no assassinato. -Pare com isso! -dizia Lily. -Maldito seja, Craven... -Eu não fiz nada! -Protestou Jenner em voz alta. -É por isso que vim aqui, para te dizer que eu não o fiz! Com a boca aberta pela forte pressão sobre seu pescoço, finalmente obrigaram Derek a aplacar-se. -Matarei você. -ofegou, olhando fixamente para Jenner com sede de sangue. -Louco imbecil! -gritou Jenner, levantando-se e escapando. Colocou seu casaco em seu lugar de um puxão. -Não se atreva a insultar a Derek! -disse Lily com veemência. -E não me insulte declarando sua inocência sob meu próprio teto, quando sabemos que há razão para acreditar que é responsável pelo fogo! -Eu não o fiz. -disse veementemente. -Você esteve por trás do fogo da cozinha no Craven's no ano passado! acusou Lily. Alex tinha um braço forte fechado ao redor do pescoço de Derek. -Sim, reconheço, mas não tive nada a ver com isto. Vim aqui para fazer um favor a Craven, malditos sejam seus olhos! -Que favor? -perguntou Derek com a voz grave e perigosa. Alex teve que apertar seu afeto de contenção uma vez mais. Serenando-se, Jenner alisou seu cabelo vermelho e limpou a garganta. -Meu homem de confiança veio até mim esta noite em meu clube, e resultou que ele andava por Craven's justo quando começou o fogo, e viu duas mulheres abandonar o lugar. Parecia estranho, disse ele, já que não eram fulanas da casa, a não serem damas com vestidos finos. Uma era loira, a outra morena com jóias verdes rodeando seu pescoço. Entraram numa carruagem pública do clube... E foi então quando o lugar começou a arder como as vísceras do inferno. -Jenner se deu de ombros e acrescentou um toque envergonhado.-Acredito que ... Talvez a morena fosse a Sra. Craven. -E talvez eu encontre uma gigantesca planta de feijões em meu jardim amanhã pela manhã!.-disse Lily sarcasticamente. -É um demônio, Jenner, por vir aqui e atormentar Derek com este conto! -É verdade!.-disse Jenner indagando. -Maldita seja, quero que a encontre!

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Por toda Londres estava, em meu próprio maldito clube, não sou o homem o que colocou fogo e matou Mathilda! Mau para minha reputação, e para meu negócio, e além... Eu gosto da pequena empregada. -lançou um olhar de desprezo a Derek. merece algo melhor que este bastardo de coração negro. -Havia dito sua parte.-murmurou Alex.-Agora parta. Estou-me cansando de retê-lo. -Não soltou Derek até que Jenner se foi sem nenhum percalço, a porta da rua se fechou atrás dele. Derek escapou dele e se retirou vários passos, lhe lançando um olhar funesto. Lily soltou um suspiro explosivo. -Esse fanfarrão idiota do Jenner! Reduzo cada palavra que disse como tolices. Derek havia tornado sua atenção à porta fechada. Seu corpo grande e magro estava muito quieto. Os Raiford esperavam que ele expressasse seus pensamentos. Sua voz era forçada e apenas audível. -Sara tem um colar verde. Ela ia usá-lo esta noite. Alex olhou para Derek atentamente. -Craven... Teria tido... Sara alguma razão para abandonar o clube esta noite? -Com uma mulher loira? -perguntou com dúvida Lily. -Acredito que nenhuma das amigas de Sara são loiras exceto minha irmã Penélope, e ela certamente não... -Ela se interrompeu pela tranqüila exclamação de Derek. -Derek, Que ocorre? -Joyce.-murmurou.-Poderia ter sido Joyce. -Lady Ashby? -Lily mordeu o lábio e perguntou com suavidade. -Derek, Está seguro que não trata de te convencer de algo que desejas desesperadamente acreditar? Derek estava silencioso, concentrado em seus próprios pensamentos. Alex franziu o cenho enquanto dava voltas às possibilidades em sua mente. -Possivelmente deveríamos fazer uma visita a Ashby House.-deu-se por vencido.-Neste ponto não se perderia nada. Mas Craven, não coloque suas esperanças em descobrir algo que ... -Deu a volta surpreso de ver que Derek saía já pela porta. Levantando suas sobrancelhas avermelhadas, olhou para Lily. -Ficarei aqui. -murmurou ela, lhe empurrando-o atrás de Derek. -Vá e se mantém a salvo. Depois que Sara e o condutor ajudaram Joyce a entrar na carruagem, começou a longa viagem de volta a Londres. Joyce se agachou, gemendo e amaldiçoando sempre que a roda do veículo empurrava sobre um balanço profundo. Suas queixa infinitas foram ruim de suportar para Sara. -OH, Por Deus, já basta! -gritou com impaciência. -vou morrer. -queixou-se Joyce. -Infelizmente não é o caso. A bala atravessou seu ombro, a hemorragia se deteve, e todo mal-estar que sente não é suficiente para compensar todo que tem feito. -Sara continuou com crescente exasperação. -A primeira vez que conheci Derek foi durante a noite que fez com que esfaqueassem seu rosto, e sempre atormentou a ambos. Você causou isto a você mesma! -Desfruta de meu sofrimento. -choramingou Joyce. -De alguma forma não posso derramar muita compaixão por uma mulher que acaba de tentar me matar! E quando penso na forma cruel e insensível em que destruiu o clube de Derek... -Ele sempre me odiará por isso. - sussurrou Joyce com satisfação. -Ao menos sempre terei essa parte dele. -Não -disse com firmeza Sara.-vou encher sua vida de tal felicidade que não

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terá espaço para odiar ninguém. Não te concederá nem um pensamento. Não será nada para ele. -Está equivocada. -disse Joyce. Ambas caíram em um silêncio furioso que durou o resto da viagem. Finalmente a carruagem se deteve diante de Ashby House, uma magnífica mansão com a parte da frente com teto grafite ao afresco em um vivo tom acre. Sara ordenou ao condutor que a ajudá-la a levar Joyce para dentro do edifício. Tiveram que subir um lance curto de escadas. Miando pelo mal-estar, Joyce se apoiou pesadamente contra Sara, lhe cravando as unhas a modo de castigo em seu ombro e braço. Com seriedade Sara resistiu ao impulso de lançá-la escada abaixo. Quando alcançaram a porta da rua, um mordomo atônito as deixou entrar. Sara falou com mordomo secamente. -Pague ao condutor tudo o que lhe prometeram, e nos acompanhe até Lorde Ashby. Rápido. Desconcertado, o mordomo olhou fixamente o vestido manchado de sangue de Joyce. -Vamos!.-Animou-lhe Sara, e ele cumpriu com suas ordens. Depois que lhe pagou, o condutor se apressou a voltar para sua carruagem e partiu com toda a pressa prevista. -O que vais contar a Lorde Ashby? -Murmurou Joyce. Sara a olhou com os olhos azuis frios. -A verdade, milady. Joyce soltou uma fraca gargalhada, parecendo uma selvagem bruxa dourada. -Ele não me castigará. Deixa-me fazer o que quero. -Desta vez não. Vou assegurar-me de que responde pelo que tem feito esta noite. -Tenta. -convidou Joyce, gargalhando-se outra vez. O mordomo as conduziu a uma sala de estar próxima magnificamente decorada em vermelho e negro. Já que Sara não lhe ofereceu mais seu apoio, Joyce se pegou ao braço do mordomo, ficando pálida e enjoando-se quando alcançaram seu destino. -Envia um médico. ordenou Joyce com um gemido, sujeitando o ombro enquanto se sentava em uma poltrona. -Necessito atenção imediata. O mordomo partiu, e o estrondo pesado de uma voz chegou do canto do quarto. -estive te esperando, lady Ashby. Parece que estiveste fazendo alguma travessura esta noite. Joyce deu uma olhada a seu marido e não respondeu. Cautelosamente Sara se aproximou de Lorde Ashby. Ele estava sentado em uma poltrona perto da lareira, seus joelhos estendidos com comodidade. Um ancião, de pescoço grosso com bochechas pendentes e úmidas, olhos soltos, parecia com uma rã imperiosa. Ela se sentia como uma mosca desafortunada violando seu território. Apesar de suas refinadas roupas e de sua herança aristocrática, ele possuía uma desprezível qualidade que tudo engolia que acovardou a Sara. -Explique isto. -disse, olhando fixamente para Sara. Agitou sua ampla mão com impaciência. Sara encontrou seus olhos e pôs um tom tão seco quanto foi possível. -Eu não descreveria exatamente as ações de lady Ashby como 'travessura', milorde. Esta noite sua esposa colocou fogo no clube de meu marido, ameaçou minha vida, seqüestrou-me, e tratou de me encerrar longe em seu castelo deserto para me manter como ' sua própria mascote particular'! Estou disposta a fazer com que a acusem de intento de assassinato. Joyce interrompeu com impaciência.

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-Ela mente, meu senhor! Esta... Esta criatura camponesa me atacou sem provocação... -Silêncio! -trovejou Ashby. Seu olhar de réptil voltou para Sara. -Você não tem a intenção de ir às autoridades, Sra. Craven, ou não teria me trazido lady Ashby. Você e eu preferiríamos não expor os detalhes desagradáveis desta situação nos tribunais. Seu marido, depois de tudo, é tão culpado quanto minha esposa. -Não estou de acordo... -OH? Então o que faz você agora, se não tratar de protegê-la das conseqüências de seus enganos passados? Embora gostasse de discutir a questão, Sra. Craven, você é bem consciente de que seu marido nunca deveria ter levado lady Ashby a sua cama, por respeito a mim se não por nenhuma outra razão. Embora... Reconhecerei que lady Ashby deve ter sido uma potente tentação. -Sara deu uma olhada com desprezo à mulher selvagem e manchada de sangue. -Qualquer que fosse seu gosto no passado, agora meu marido não tem nenhum interesse exceto á mim. Um leve sorriso veio ao rosto de Lorde Ashby. Suas bochechas pendentes se crisparam. -Não duvido, Sra. Craven. E me considerarei em dívida com você, unicamente com você, não com seu marido, se me permitisse dirigir a minha esposa do modo que a tenha. As duas mulheres falaram ao mesmo tempo. -Milorde? -perguntou Joyce bruscamente. -O que fará com ela? -disse Sara. -Manterei ela em um lugar remoto na Escócia, -respondeu- Lorde Ashby a Sara, -longe de toda a sociedade. Sem dúvida alguma ela representa um perigo para todos aqueles com os quais se relaciona. Eu a isolaria com relativa comodidade mais que confiná-la em um manicômio, onde poderia estar sujeita a tratamento cruel e também seria uma vergonha para a família. -Não!-Joyce estourou em um uivo desumano. -Não serei afastada! Não serei enjaulada como um animal! Sara manteve sua atenção sobre Lorde Ashby. -Eu só me pergunto por que não o tem feito antes, milorde. -Minha esposa sempre foi uma fonte de entretenimento para mim, Sra. Craven. Até agora nunca causou verdadeiro mal a ninguém. -O rosto de meu marido... -Sara começou com veemência, pensando na navalhada. -Um castigo que ele merecia. -declarou Lorde Ashby. - No passado Craven traiu a muitos homens poderosos. Tem sorte que nenhum deles jamais decidiu em fazer dele um cavalo castrado. Ele tinha razão, por muito que gostasse de admiti-lo. -Sua 'fonte de entretenimento' quase me custou a vida.-disse Sara entre dentes. Ashby franziu o cenho com impaciência. -Sra. Craven, não vejo nenhuma razão para examinar o mesmo fundamento uma vez mais. Dou-lhe minha palavra de honra que o problema será levado do modo que havia descrito. Lady Ashby nunca porá o pé na Inglaterra outra vez. Deveria ser bastante para satisfazê-la. -Sim, milorde. Certamente que confio em sua palavra. -Sara baixou o olhar em respeito.-Se me desculpar, devo encontrar meu marido agora. -Craven esteve aqui com Lorde Raiford. -informou-a Lorde Ashby. Sara estava desconcertada pelas notícias. -Aqui? Mas como...

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-Eles suspeitam que Joyce pudesse ter tido algo a ver com seu desaparecimento. Disse-lhes que eu não tinha nenhum conhecimento de seu paradeiro. Partiram não faz dez minutos antes de sua chegada. -Onde foram? -Não perguntei. Não era de nenhuma importância para mim. Sara estava aliviada de que Derek não tivesse ficado ferido. Mas ele devia estar alterado, inclusive frenético, sem saber que tinha passado com ela. Mordeu o lábio consternada. -Bem, ao menos sabem que há uma possibilidade de que esteja bem. -Não têm muitas esperanças. -disse Ashby secamente. -Devo dizer que seu marido parecia bastante indiferente a toda a situação. O coração de Sara pulsou com inquietação. Sabia que não era indiferença absolutamente, a não ser um excesso de emoções que Derek não podia dirigir. Ele o guardava tudo dentro, negando sua pena e seu medo a todos, inclusive a si mesmo. Tinha que o encontrar. Possivelmente o melhor lugar para começar sua busca era no clube. Assim que chegasse a alvorada, os homens certamente vão inspecionar o edifício prejudicado à luz do dia e registrar a fundo as ruínas. -Milorde, -Disse com urgência.-Pediria que uma de suas carruagens me leve a St. James Street. Ashby assentiu. -Com toda conveniência. Sara abandonou a casa, enquanto Joyce gritava como uma louca atrás dela. -Não estarei encerrada para sempre... Voltarei! Nunca estará a salvo! Sara ficou sem fôlego diante da primeira vista do clube. Ou o lugar onde tinha estado o clube. Ladrões e mendigos andavam pelos escombros em busca de bens danificados pelo fogo. Devagar Sara descendeu da carruagem de Ashby. Ficou ao lado da rua, olhando fixamente. -Santo Deus. -sussurrou com os olhos ardendo em lágrimas. Todos os sonhos de Derek, o monumento a sua ambição... Arrasado. Não ficava nada, exceto as colunas de mármore e as escadas, sobressaindo-se como um esqueleto exposto da uma vez seu orgulho. Partes de pedra da fachada estavam dispersos sobre o chão como gigantescas escamas. O grau de destruição era difícil de compreender. Durante anos o clube tinha sido o centro da vida de Derek. Ela não podia imaginar como devia estar reagindo à perda. A luz lavanda do amanhecer caiu com cuidado sobre o panorama. Sara se dirigiu às ruínas carbonizadas a passo de caracol com os pensamentos desconexos. Seu manuscrito se queimou, compreendeu tristemente. Quase o tinha terminado. A coleção de arte tinha desaparecido. Worthy estava bem? Havia falecido alguém no fogo? Havia rescaldos quentes no chão, e pequenas áreas em chamas. Cristas de fumaça se elevavam das madeiras enegrecidas que tinham causado ângulos estranhos. O que uma vez tinha sido a enorme lustres de luzes no salão agora era uma massa de partes de vidros derretidos. Chegando ao que tinha sido a magnífica escada central, agora exposta ao céu aberto, Sara se deteve e passou a manga pelo rosto. Soltou um suspiro de dor. -OH, Derek. -murmurou.-O que vou dizer te? Uma brisa rangeu por diante dela, agitando cinzas ao redor de suas saias e fazendo-a tossir. De repente a invadiu uma estranha sensação, um leve sobressalto como se mãos invisíveis a houvessem a tocado. Esfregou os braços e deu a volta, sabendo de algum jeito que Derek estaria ali. E estava. Ele a olhou fixamente com o rosto absolutamente pálido, mais pálido que as colunas chamuscadas de mármore caída ao chão. Seus lábios

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formaram seu nome, mas ele não fez um som. A brisa se arrastou sobre ambos, limpando as volutas de fumaça do chão. Sara se assustou por sua debilitação, a tortura esticava seus traços até que pareceu um estranho. Seus olhos ardiam, como se estivesse alagado pela raiva... Mas de repente as profundidades verdes se transbordaram, e ela compreendeu com assombro que não era raiva ... Era o terror profundo da alma. Ele não se moveu, nem sequer piscou, por medo de que ela desaparecesse. -Derek? -disse com decisão. -Não me deixe. -sussurrou. Sara foi até ele, recolhendo as saias e tropeçando com sua pressa. -Estou bem. OH, por favor, não esteja assim! Alcançando-o, rodeou-lhe com seus braços e se agarrou a ele com toda sua força. -Tudo está bem. Seu pescoço se moveu violentamente. Atravessou-lhe um tremor feroz. De repente a abraçou dolorosamente, até que doessem as costelas pela pressão. Procurei você em uma busca frenética, enquanto seu fôlego vibrava em seu ouvido. -Disse que nunca me deixaria. -Ele a abraçava como se temesse que fosse embora. -Agora estou aqui. -tranqüilizou-lhe ela. -Estou aqui mesmo. -OH, Deus... Sara... Não conseguia te encontrar... Acariciou-lhe as bochechas quentes e molhadas com as mãos. Ele estava sem equilíbrio, seu considerável peso cambaleando-se contra ela. -estiveste bebendo? -murmurou, retirando-se para olhá-lo. Ele sacudiu a cabeça, olhando-a como se fosse um fantasma. Ela se perguntou como afastar o olhar transtornado em seus olhos.-Encontremos um lugar para nos sentar.-Quando ela deu um passo para a escada de mármore, seus braços se apertaram. -Derek. insistiu. Ele foi com ela como um sonâmbulo. Decidiram-se por um degrau e se encurvaram firmemente, seus braços a rodearam rapidamente. -Amo-te. -disse-lhe, limpando-se com impaciência as lágrimas que seguiam caindo por seu rosto.-Antes não podia dizer. Não podia... -Apertou seu queixo tremulo, tratando de controlar o fluxo quente das lágrimas. Isto só o fez pior. Renunciando, enterrou o rosto em seu cabelo. -Maldita seja. -resmungou. Sara nunca o tinha visto tão desfeito, nunca o tinha imaginado possível. Acariciando sua cabeça escura, sussurrou palavras sem significado tratando de dar consolo. -Amo-te. -repetiu com voz rouca, escondendo-se contra ela. -Teria dado minha vida por ter um dia mais com você, e lhe dizer isso -Está bem Worthy?perguntou Sara. -Ficou alguém ferido? Observando a reunião além da rua, Alex suspirou com enorme alívio. -Graças a Deus. -murmurou, e foi a sua carruagem. Não podia esperar a contar as boas notícias a Lily. De fato, poderia decidir não perder de vista Lily outra vez. Esfregou os olhos cansados e falou com o chofer. - Craven conseguiu sua segunda oportunidade. E quanto a mim... Vou para casa com minha esposa agora. Descansar -É assim, não, milorde? -perguntou descaradamente o chofer, e Alex lançou um sorriso sardônico. -Vamos. Murmurando silenciosamente, Sara beijou o cabelo despenteado e o pescoço de seu marido. Ele a abraçou durante muito tempo enquanto o tremor em seus membros diminuía pouco a pouco. -Todos estão bem.

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-Derek, construiremos outro clube. Faremos tudo outra vez, prometo-te ... -Não -disse com tal veemência que ela esteve em silencio durante uns minutos, lhe acariciando o cabelo. Ele levantou a cabeça e a olhou com os olhos injetado em sangue. -Nunca será o mesmo. Preferiria recordar o lugar como era que construir uma imitação. Eu ... Agora quero algo diferente. -O que? -perguntou e franziu a testa com sensível preocupação. -Ainda não sei. -Derek soltou uma curta gargalhada e a arrastou para si outra vez.-Não interrogue a um homem ... Quando teve o maior susto de sua vida. Sem importar que alguém pudesse vê-los, cavou suas mãos ao redor de sua cabeça e a beijou. Sua boca foi machucada por seu ardor desesperado e exaustivo. Sara se estremeceu e murmurou brandamente, tentando o tranqüilizar. Ela não foi consciente do momento exato em que voltou a si mesmo, mas de repente sua pele estava quente e sua boca era outra vez familiar enquanto se movia meigamente sobre a dela. Por um momento Derek terminou o beijo e pôs sua bochecha contra a sua, respirando profundamente. Seus dedos desenharam a curva úmida de seu rosto, a frágil união entre o ouvido e a boca. -Quando disseram que estava... Morta, - fez uma pausa enquanto um tremor se apropriava dele e se forçou continuar. -pensei que estava sendo castigado por meu passado. Sabia que não merecia te ter, mas não podia evitar. Em toda minha vida você foi o que mais desejei. Desde o começo temi que fosse se separar de mim. Sara não se moveu nem fez um som, mas estava assombrada. Por ele admitir que tivesse tido medo... Não teria imaginado que nenhum poder na terra ou mais à frente pudesse ter obtido semelhante confissão. -E devido a isto tratei de me proteger. -seguiu com voz áspera. -Não queria te dar a última parte de mim que não podia recuperar. E logo você tinha ido... E compreendi que era seu. Tinha sido desde o começo. Mas não lhe havia dito. Fiquei louco só de pensar que nunca saberia. -Mas não me fui. Estou aqui, e ainda temos uma vida juntos. Beijou-a na bochecha e sua barba arranhou sua pele sensível. -Entretanto não poderia suportar te perder... -de repente havia um sorriso em sua voz. – Mas não deixarei que a idéia me impeça de te amar com tudo o que tenho... Coração, e corpo... E todo o resto que possa encontrar para incluir na oferta. -Sara riu. -Na realidade acha que poderia te desfazer de mim? Temo-me que seja parte permanente de sua vida, Sr. Craven... Não importa quantas ex-amantes vierem antes de mim. Ele não compartilhou sua diversão. -Me conte que ocorreu. Deu o relatório de tudo o que tinha acontecido, enquanto Derek ficava cada vez mais tenso. Seu rosto ficou vermelho de cólera, e suas mãos se apertaram em punhos duros. Quando terminou a descrição de sua visita a Lorde Ashby, Derek a soltou de seu colo e se levantou com uma maldição selvagem. -O que está fazendo? -perguntou Sara, desgostosa, enquanto se levantava do chão. -vou estrangular essa escória filho da puta gordo e à puta de sua esposa... -Não, não o fará. -interrompeu ternamente Sara. -Lorde Ashby deu sua palavra de que encerraria Joyce onde não pudesse fazer mal a ninguém. Deixa estar, Derek. Não pode ir às nuvens e criar mais

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alimento de escândalo só para satisfazer seu sentido de vingança, e além disso...Ela fez uma pausa, vendo que suas palavras tinham pouco efeito. Com habilidade feminina, compreendeu que havia só um modo de dissuadi-lo. -além disso, seguiu em um tom mais suave - agüentei tudo que podia em um dia. Necessito umas horas de paz. Preciso descansar. -Na realidade era verdade. Doíam-lhe os ossos de cansaço. -Poderia te esquecer dos Ashby por agora e me levar para casa? Desarmado, a preocupação invadiu sua cólera, Derek a rodeou com os braços. -A casa. -repetiu, sabendo que ela queria dizer a mansão em que ainda tinham ido uma noite.-Mas ainda não terminou. Sara se apoiou contra ele, aproximando-se contra seu peito. -Estou segura que podemos encontrar uma cama em algum lugar. Se não, alegrarei-me de dormir no chão. Derek se aplacou e a abraçou com força. -Está bem. -murmurou contra seu cabelo. -Iremos a casa. Encontraremos algum lugar para dormir. -E ficará a meu lado? -Sempre. -sussurrou, beijando-a outra vez.

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Epílogo O grito insistente de um bebê faminto soava pela mansão, enquanto a babá sustentava o menino e tratava de acalmar seu pranto. Consciente do clamor crescente, Derek subiu a saltos várias escadas até o quarto do bebê. A babá se sobressaltou por sua repentina aparição, possivelmente temendo que a culpasse pela inquietação do bebê. Seu rosto escuro era ilegível. -Está bem. - assegurou-a, estendendo a mão para sua filha. Com cautela a criada se retirou para um lado do quarto, ocupando-se com um pequeno montão de roupa de bebê desdobrada. -Lydia tem fome, senhor. A Sra. Craven deve chegar tarde de sua conferência. Derek abraçou sua filha contra seu ombro e falou em uma mistura de palavras de bebê, uma língua que só ela parecia entender. Pouco a pouco a menina se acalmou atenta à voz grave de seu pai. Uma mão pequena e enrugada alcançou o queixo de Derek, explorando a superfície que arranhava. Ele beijou os dedos em miniatura e sorriu aos olhos solenes de Lydia. -Que menina tão ruidosa é. -murmurou. A criada o olhou com temor e curiosidade. Era inaudito que um pai com recursos pusesse o pé no quarto do filho, muito menos que se ocupasse de bebês chorões. -Isso nenhum outro pai faz. -comentou ela. -Você realmente sabe entendela, Sr. Craven. De repente a voz risonha de Sara chegou da porta. -Ele sabe dirigir a todas as mulheres. -Ela entrou no quarto e levantou o rosto para o beijo de Derek antes de agarrar Lydia. Despedindo-se da criada, ela se adaptou a uma cadeira cômoda e desabotoou o sutiã de seu vestido. Seu cabelo comprido tampava parcialmente o bebê em seu seio. Derek ficou perto, olhando-os atentamente. A maternidade havia trazido um novo resplendor aos traços de Sara, enquanto os lucros com seu trabalho a tinham dado maturidade e confiança. Durante o ano passado tinha terminado outra novela, O Descarado, que prometia obter o êxito de Mathilda. A história sobre um jovem ambicioso que desejava prosperar por meios honestos, mas se via forçado por uma sociedade cruel a recorrer ao crime, tinha golpeado a sensibilidade pública. Sara era convidada com freqüência a falar em reuniões de salão a respeito da reforma política e as questões sociais. Ela sentia que não era culta nem bastante carismática para dar uma conferência a tais grupos de intelectuais, mas eles virtualmente insistiam sua presença em suas reuniões. -Como foi seu discurso? -perguntou Derek, passando um dedo aprazível sobre a penugem escura da cabeça de sua filha. -Somente fiz uns comentários de sentido comum. Disse que em vez de esperar que o pobre simplesmente ' aceite sua ordem' na vida, nós deveríamos lhes dar uma oportunidade para fazer algo para si mesmos... Ou se voltarão para os meios desonestos, e teremos mais crime. -Estiveram de acordo? -Sara riu e se deu de ombros. -Pensam que sou radical. Derek riu. -Política, - disse, em um tom que expressava frivolidade e desprezo de uma vez. Seu olhar se arrastou sobre a visão do bebê amamentando-se e se atrasou sobre a curva exposta do seio de Sara.

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-Que aconteceu no hospital?-perguntou Sara. -começou finalmente a construção? Ele tratou de parecer normal, mas ela podia ver que estava contente. -levantou-se da terra. O rosto de Sara se iluminou com um sorriso de prazer. Nos poucos meses que se passou limparam os restos do clube. Derek não tinha tomado nenhuma decisão sobre o que fazer com a propriedade. É obvio, pediam que reconstruísse Craven's, o lugar era chorado por figuras tão influentes como o duque de Wellington, Lorde Alvanley, e inclusive o rei. Mas Derek resistia aos impulsos públicos de restabelecer o clube de jogo e se dedicava a outros projetos. Estava construindo um hospital grande e moderno ao norte da cidade, conseguindo contribuições voluntárias e igualando cada doação com seu próprio dinheiro. Também estava construindo uma fileira de casas elegantemente mobiliadas na cidade em terreno de West End, para ser arrendado a viajantes estrangeiros, homens solteiros, e famílias que se mudavam a Londres para a temporada. Sara lhe tinha tirado o sarro amorosamente enquanto revisavam os desenhos do arquiteto para o edifício do hospital, um quadrilátero simples, mas formoso. Durante anos Derek era conhecido como o maior descarado da Inglaterra, e agora era mundialmente elogiado por sua "mudança". -Tem-te feito conhecido como benfeitor público. -disse-lhe com satisfação. Tanto se você gosta ou não. -Eu não gosto. -respondeu de maneira ameaçadora.-Só faço isto porque de outra maneira estaria triste. Sara tinha rido e tinha o beijado, sabendo que ele sempre negaria ter qualquer sentimento altruísta. Quando Lydia tinha terminado com o seio de Sara, a criada voltou para levá-la Sara usou um pano suave para secá-la. Ela fechou o vestido e se ruborizou ligeiramente com o olhar íntimo de Derek. Seus olhos verdes se encontraram com os seus. -É adorável. -disse ele. -Cada dia se parece mais com você. De todas as surpresas de Derek, e parecia que havia estoques infinitos, a maior era sua entrega por sua filha. Sara tinha esperado que fosse um pai amável, mas indiferente. Ele nunca conheceu a relação entre pai e filho com antecedência. Tinha pensado que ele poderia conservar uma prudente distancia entre ele e o bebê. Em troca ele amava sua filha com aberta adoração. Freqüentemente ele a metia na dobra de seu braço e levava diante dos convidados como se o bebê fosse um milagre encantador que nenhum deles tivesse visto antes. Ele acreditava prodigiosamente inteligente por lhe agarrar o dedo, por dar pulos com as pernas, por fazer ruídos adoráveis, por fazer todas as coisas que normalmente faziam os bebês... Mas em sua opinião sua filha as fazia muito melhor. -Tenham vários bebês mais, - tinha-lhe aconselhado Lily a Sara com humor carregado de ironia. -assim sua atenção estará dividida entre eles. Sara não entendia completamente a razão de seu comportamento até que uma tarde recente, quando ela tinha estado de pé sobre o berço para ver sua filha dormir. Derek tinha tomado a mão de Sara na sua e a tinha levado a seus lábios. -É meu coração. -tinha murmurado. -Deste-me mais felicidade que tenho direito. Mas ela... -Ele baixou o olhar para Lydia maravilhado. -Ela é minha própria carne e meu próprio sangue.-Comovida pelas palavras, Sara tinha compreendido quão

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sozinho tinha estado: sem os pais, sem irmãs nem irmãos, sem laços sangüíneos de nenhum tipo. Seus dedos se apertaram, e se agachou contra ele. -Agora tem uma família. -havia-lhe dito brandamente. -Ela tem seu nariz, - assinalou Derek. -e seu temperamento. Sara riu, levantando-se e dobrando a manta ligeiramente em um quadrado. -Suponho que é meu temperamento quando acorda a casa em meio da noite com seu grito? -Derek avançou Para ela de improviso e a colocou contra a parede. Devolvendo sua mente ao presente Sara respondeu o comentário anterior de Derek. -Lydia tem cabelo negro, olhos verdes, e sua boca e seu queixo, e diz que se parece comigo? -Bem, então, -murmurou.-no passado foi conhecida por armar alvoroço uma vez ou dois, não? Seus olhares se engataram em um momento elétrico. Totalmente desconcertada, Sara se ruborizou profundamente. Ela não se atreveu a olhar à criada no caso de se inteirar. Lançando-se a Derek um cenho reprovador, ela agachou a cabeça por debaixo de seu braço e escapou, apressando-se à segurança de seu quarto. Ele a seguiu atrás dela. Não tinham feito amor desde muito antes do nascimento do bebê, e em favor de Derek ele tinha sido paciente. Muito extraordinário, considerando seus fortes apetites físicos. Embora o doutor tivesse indicado que ela estava totalmente curada do parto e pronta para reatar as relações matrimoniais, Sara tinha conseguido dar a Derek suaves recusas. Ultimamente, entretanto, ela tinha sido destinada a intensos olhares advertindo-a que não dormiria sozinho muito mais tempo. Ela se deteve na entrada de seu quarto. -Derek, - disse com um sorriso suplicante. -possivelmente mais tarde ... -Quando? -Não estou segura. -respondeu, começando a fechar a porta contra ele. Ternamente Derek abriu caminho com os ombros por diante dela e fechou a porta. Ele começou a estender a mão para ela, logo vacilou quando a viu ficar rígida. Seu rosto se esticou. -O que acontece? -perguntou. -É um problema físico? É algo que tenho feito, ou ... -Não -disse rapidamente. -Nenhuma dessas coisas. -Então o que? Com ferocidade Sara se concentrou no tecido de sua blusa. Não poderia encontrar nenhum modo de lhe explicar sua relutância. Ela tinha sofrido tantas mudanças... Agora era uma mãe... Não estava segura de que fazer o amor com ele seria exatamente o mesmo, e não queria experimentar. Tinha medo de decepcionar ele, e a si mesma, e era mais fácil seguir dando desculpas ao acontecimento que confrontá-lo. Ela se deu de ombros sem convicção. -Tenho medo de que não seja igual à antes. Derek estava muito calado, absorvendo a declaração. Sua mão se colocou sobre a nuca em um gesto que Sara acreditou que fosse para consolá-la. Em troca a agarrou pela nuca e a arrastou contra ele, sua boca baixou firmemente sobre a sua. Ela se revolveu surpreendida quando ele a obrigou a baixar a mão entre suas coxas. Ele estava tão duro como o ferro, palpitando por seu

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contato. -Vê?.-Ele apertou mais sua mão. -Sente isso? É minha esposa, e foram meses, e morro por você. Não me importa se não for igual à antes. Se não vir à cama comigo agora vou arrebentar. Mas como, ao parecer, era tudo o que tinha a intenção de dizer sobre o assunto. Não fez caso de seu suave protesto e os despiu a ambos. Atraindo seu pequeno corpo contra o seu, ele gemeu apaixonado e de prazer e de impaciência. -Sara, senti falta de... Abraçar-te assim... -Reverentemente suas mãos a rastrearam, sensíveis à nova redondeza de seus seios, a curva mais cheia de seus quadris. Vacilante ao princípio Sara ficou imóvel debaixo dele, suas mãos descansando sobre suas costas flexionadas. Ele a beijou com suave anseio, saboreando sua boca com incursões largas e profundas de sua língua. Ela se envolveu com o despertar do desejo, lhe aproximando mais. Para sua mortificação repentina, umas gotas de leite gotejaram de seus seios. Afastando-se bruscamente com um ofego de desculpa, tratou de dar a volta. Derek empurrou seus ombros para baixo e se inclinou sobre seus seios. Seu fôlego fluía em rajadas profundas enquanto a olhava fixamente. Os mamilos úmidos eram de um rosa mais escuro que antes, rodeados por um traço delicado de veias. A exuberante vista maternal enviou uma onda de dolorosa excitação que o atravessou. Roçou o bico de seu seio com a língua, excitando-o e rodeando-o, logo sujeitou seus lábios sobre a firmeza. Com cuidado chupou com sua boca. -OH, não deve. -ofegou quando sentiu um formigamento em seu peito. -Não é decente... -Nunca disse que eu fosse decente. Ela soltou um gemido sem fôlego, enquanto ele tirava uma grande onda de leite de seu corpo. Um exigente palpite começou profundamente em seu interior. Ele permanecia em seu seio, cavando a mão debaixo da redondeza, e logo se moveu ao outro. Finalmente ela enredou seus dedos em seu cabelo negro e levantando ele para cima procurando sua boca. Enredaram-se juntos, rodando uma vez, duas vezes, pela cama, as mãos procurando com urgência, as pernas enrolando-se e retorcendo-se ao redor de ambos. Por fim, quando ele se deslizou profundamente dentro dela, ambos ofegaram e ficaram imóveis, tratando de conservar o momento de união. Sara arrastou devagar as mãos de seus ombros baixando à parte alta de suas coxas, saboreando a poderosa longitude de seu corpo. Derek tremeu extasiado e se moveu contra ela. Ela se dobrou, e ambos começaram um ritmo lento, deixando-se levar em uma corrente de calor. -Tinha razão. -sussurrou Derek, moldando suas mãos sobre seu corpo, imprimindo doces beijos quentes contra sua pele. -Não é igual à antes... É ainda melhor. Deus quem me dera ... Pudesse fazer que durasse para sempre. -Ele empurrou com mais força, incapaz de refrear seus movimentos. Sara fechou as mãos e apertou os punhos contra suas costas, seu corpo se esticou. Olhou-a fixamente nos olhos, apertando os dentes no esforço por conter seu prazer. Rodeou-lhe os quadris com suas pernas e impulsionou a introduzir-se ainda mais. Temendo fazê-la dano, tratou de conter-se, mas a impulsionava com sua própria paixão exigente, até que ele permitiu que a tumultuosa tormenta o alcançasse. Seu grito sufocado seguiu ao dele, e juntos se inundaram na maré formada com redemoinhos de satisfação, unidos pela carne e a alma, em total paz. Depois ficaram juntos relaxadamente, deixando que fluíssem as horas e fingindo que o tempo se deteve.

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Sara descansou sem forças sobre seu peito, desenhando seus traços com a ponta de seu dedo. Um pensamento lhe passar pela mente, e levantou a cabeça para olhar com espera. Derek devolveu seu olhar, acariciando distraidamente seu cabelo e suas costas. -O que ocorre, anjo? -Uma vez me disse que não sabia o que era sentir-se 'feliz'. -Recordo. -E agora? -Agora sim. -disse com a voz ligeiramente rouca. -Justo aqui e agora. Derek a olhou durante um longo momento, logo a arrastou contra ele, encerrando-a em seus braços. E ela descansou contra seu coração, feliz.

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