iENWPiSSII S*DAS ASS

Epjjsgjfi DEU S ^

:

[email protected] Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça - 2tm 3:1

jGENiljRQ ‘E QÜCA f c í ^ »GO K r a a s s e m b l e i asTde i p e u s ^

CETADEB - Centro Educacional Teológico das Assembléias de Deus do Brasi! Av. Cel. O tá v io T o sta , 51 - l e A n d a r Cx. Postal 250 8 5 9 8 0 -0 0 0 - G u aíra - PR F o n e /F a x : (44) 3 6 4 2 -5 3 1 1 / C e lu la r: (44) 9 1 3 1 -6 4 1 7 E-M ail: c o n t a to @ c e ta d e b .c o m .b r Site: w w w .c e ta d e b .c o m .b r

Aluno (a):

Teologia Pastoral I

TEOLOGIA PASTORAL I TEOLOGIA PRÁTICA PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO Pr João Antônio de Souza Filho

Copyright © 2010 by João Antônio de Souza Filho Capa e Designer: Márcio Rochinski Diagramação: Hércules Carvalho Denobi

Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados a Denobi e Acioli Empreendimentos Educacionais. O conteúdo dessa obra é de inteira responsabilidade do autor. Todas as citações foram extraídas da versão Almeida Revista e Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação entre parêntesis ao lado do texto indicando outra fonte.

IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Gráfica Lex Ltda

1§ Edição-Abr/2010

2

CETADEB

Teologia Pastoral I

DIRETORIAS E CONSELHOS Diretor Pr Hércules Carvalho Denobi

Vice-Diretora Eliane Pagani Acioli Denobi

Conselho Consultivo Pr Pr Pr Pr

Daniel Sales Acioli - Apucarana-PR Perci Fontoura - Umuarama-PR José Polini - Ponta Grossa-PR Valter Ignácio - Guaíra-PR

Coordenação Pedagógica Dagma Matildes de Souza dos Santos - Guaíra-PR

Coordenação Teológica Pr Genildo Simplício - São Paulo-SP Dc Márcio de Souza Jardim - Guaíra-PR

Assessoria Jurídica Dr Dr Dr Dr

Mauro José Araújo dos Santos - Apucarana-PR Carlos Eduardo Neres Lourenço - Curitiba-PR Altenar Aparecido Alves - Umuarama-PR Wilson Roberto Penharbel - Apucarana-PR 3

Teologia Pastoral I

CETADEB

Autores dos Materiais Didáticos Pr José Polini Pr Ciro Sanches Zibordi Pr Genildo Simplício Pr Paulo Juarez Ignácio Pr Jamiel de Oliveira Lopes Pr Marcos Antonio Fornasieri Pr Sérgio Aparecido Guimarães Pr José Lima de Jesus Pr José Mathias Acácio Pr Reinaldo Pinheiro Pr Edson Alves Agostinho Rubeneide 0. Lima Fernandes

4

CETADEB

Teologia Pastoral I

NOSSO CREDO ÊO Em um só Deus, eternam ente sub sistente em três pessoas: O Pai, Filho e o Espírito Santo. (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29). E3

Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra in falível de fé norm ativa para a vida e o caráter cristão (2Tm 3.14-17).

03

Na concepção virgin al de Jesus, em sua morte vicária e exp iató ria, em sua ressurreição corporal dentre os m ortos e sua ascensão vito riosa aos céus (Is 7.14; Rm 8.34 e At 1.9).

EB Na pecam inosidade do homem que o destituiu da glória de Deus, e que som ente o arrependim ento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode restaurá-lo a Deus (Rm 3.23 e At 3.19). B à Na necessidade absoluta do novo nascim ento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para torn ar o homem digno do Reino dos Céus (Jo 3.3-8).

CO No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna ju stifica çã o da alma recebidos gratuitam ente de Deus pela fé no sa crifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor (At 10.43; Rm 10.13; 3.24-26 e Hb 7.25; 5.9). d

No batism o bíblico efetuado por im ersão do corpo inteiro uma só vez em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conform e determ inou o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6 e Cl 2.12).

5

CETADEB tQ

Teologia Pastoral I

Na necessidade e na po ssibilid ad e que tem os de viver vida santa m ediante a obra expiatória e redentora de Jesus no Calvário, através do poder regenerador, in sp irad o r e sa n tificad o r do Espírito Santo, que nos capacita a viver como fié is testem unhas do poder de Cristo (Hb 9.14 e IP e 1.15).

ÊQ No batism o bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus m ediante a in tercessão de Cristo, com a evidência inicial de fa lar em outras línguas, conform e a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7). £Q Na atualid ade dos dons esp iritu ais d istrib u íd o s pelo Espírito Santo à igreja para sua ed ificação , conform e a sua soberana vontade (IC o 12.1-12). CQ Na Segunda Vinda prem ilenial de Cristo, em duas fases distin tas. Prim eira - in visível ao m undo, para arrebatar a sua Igreja fiel da terra, antes da Grande Tribulação; segunda - visíve l e corporal, com sua Igreja glo rificad a, para reinar sobre o mundo durante mil anos ( lT s 4.16. 17; IC o 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5; Jd 14). EQl Que todos os cristãos com parecerão ante o Tribunal de Cristo, para receber recom pensa dos seus feito s em favor da causa de Cristo na terra (2Co 5.10). EQ No ju ízo vindouro que recom pensará condenará os in fiéis (Ap 20.11-15).

os

fié is

e

E na vida eterna de gozo e fe licid ad e para os fié is e de tristeza e torm ento para os in fiéis (Mt 25.46).

Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil - CGADB

CETADEB

Teologia Pastoral I

ABREVIAÇÕES a.C. - antes de Cristo. ARA - Almeida Revista e Atualizada A RC-A lm eida Revista e Corrida AT - Antigo Testamento B V - Bíblia Viva BLH - Bíblia na Linguagem de Hoje c. - Cerca de, aproximadamente, cap. - capítulo; caps. - capítulos, cf. - confere, compare. d.C. - depois de Cristo. e.g. - por exemplo. Fig. - Figurado. fig. - figurado; figuradamente, gr. - grego hb. - hebraico i.e. - isto é. IBB-Im prensa Bíblica Brasileira Km - Símbolo de quilometro lit. - literal, literalmente. LXX - Septuaginta (versão grega do AT) m - Símbolo de metro. MSS - manuscritos NT - Novo Testamento NVI - Nova Versão Internacional p .-p ágin a. ref. - referência; refs. - referências ss. - e os seguintes (isto é, os versículos consecutivos de um capítulo até o seu final. Por exemplo: IPe 2.1ss, significa IPe 2.1-25). séc. - século (s). v. - versículo; vv. - versículos. ver - veja

7

Teologia Pastoral I

CETADEB

8

CETADEB

Teologia Pastoral I

SUMÁRIO

LIÇÃO | - O M in is t r o

e o s e u c h a m a m e n t o ..........................................

11

ATIVIDADES - LIÇÃO 1.............................................................................39 LIÇÃO II - 0 CHAMAMENTO

e a p repa ra çã o para o

M in is t é r io ........41

ATIVIDADES-U Ç Ã O || ......................................................................... 68 LIÇÃO III - o MINISTRO: SEU SUSTENTO E VIDA DE ESTUDOS...................69 ATIVIDADES- LIÇÃO ||| ........................................................................97 LIÇÃO I V - 0 MINISTRO E SUA VIDA DE ORAÇÃO A ESPOSA DO MINISTRO...................................................................... 99 ATIVIDADES - LIÇÃO IV ..................................................................... 130 UÇÃO V - 0 MINISTRO E SUA FAMÍLIA....................................................... 131 ATIVIDADES - LIÇÃO V .......................................................................164 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 165

9

CETADEB

Teologia Pastoral I

CTCfD SD □=□=□ B

cs*

Lição I

UD1G C°>

Teologia Pastoral I

c°>

CETADEB

CETADEB

Teologia Pastoral I

12

CETADEB

Teologia Pastoral I

In tro d u çã o

eologia pastoral é o estudo das ciências que dizem respeito à vida do pastor, contendo os ensinamentos bíblicos e a verdade prática de seu dia-a-dia ministerial. Trata-se, na realidade da contextualização dos princípios bíblicos ministeriais às necessidades que se apresentam todos os dias na vida do ministro

T

no século XXI.

O aluno aprenderá as verdades bíblicas deixadas por Jesus e seus apóstolos, tanto as explícitas, isto é, diretamente ensinadas por eles, quanto as implícitas, situações não existentes no tempo da igreja primitiva, e que precisam ser solucionadas nos dias atuais. Defrontar-se-á diante das questões éticas que os apóstolos não enfrentaram em seus dias, e que são enfrentadas quase todos os dias no exercício do ministério. O livro-texto está dividido em lições, com temas e subtemas. De início serão tratados assuntos relacionados ao chamamento para o ministério, respondendo perguntas sobre como ocorre o chamamento, as implicações do chamamento na vida do obreiro e em relação à obra de Deus, a preparação para o ministério e seu sustento. Na continuidade, o aluno aprenderá sobre a importância do estudo para o obreiro, sua vida de oração, o papel da esposa do obreiro em seu ministério, além de uma temática dedicada unicamente à família do obreiro, tratando do relacionamento conjugal e da criação dos filhos. No livro Teologia Pastoral II trataremos da vida sexual do obreiro, tarefas do dia-a-dia do ministro, da importância do 13

Teologia Pastoral I

CETADEB

gabinete do ministro, como local de aconselhamento e estudo do ministro e seu comportamento no púlpito, além de tratar do equilíbrio tão necessário entre carisma e caráter. Por fim, o aluno estudará a vida de Jesus como exemplo de Pastor, como modelo ministerial; logo estudará a vida de Paulo, o apóstolo, o homem que mais ensinamentos deixou escrito depois de Cristo, e estudará sobre a vida de Barnabé, exemplo de dedicação apostólica. O módulo será concluído com a temática sobre o ministro e seus relacionamentos e a questão da fama, do orgulho e da honra no ministério. São temas de muita importância para o obreiro, e, por certo o aluno saberá tirar de cada tema abordado, lições preciosas para o seu dia a dia ministerial. No fim do livro o aluno verá as referências bibliográficas importantes para futuras consultas. Este manual de Teologia Pastoral, por certo, terá grande utilidade para o obreiro não somente enquanto estuda o tema; por certo, o ministro haverá de recorrer muitas vezes ao livro ao longo de sua carreira ministerial. Bom estudo.

14

CETADEB

Teologia Pastoral I

O MINISTRO E SEU CHAMAMENTO

I - I ntrodução No princípio deste estudo, o tema a ser tratado é uma abordagem bíblica sobre o ministro e seu chamamento. Será apresentada a base bíblico-teológica, buscando definir o que é ministério e como ocorre o chamamento, em que o aluno se defrontará com uma análise da chamada para o ministério à luz das Escrituras. Posteriormente, o estudante verá a chamada e suas implicações na vida do obreiro a partir da experiência de homens no Antigo e no Novo Testamento. Na sequencia, será abordado o tema do chamamento e a obra de Deus. Em seguida, será desenvolvido o tema de como uma pessoa pode se preparar para o ministério. Por fim, o aluno estudará sobre o sustento do obreiro, e de como ele pode viver na obra de Deus, se necessário até trabalhando com as próprias mãos. Depois do estudo deste livro, o aluno conseguirá definir a questão do chamamento, entendendo as implicações e responsabilidades que tem diante de Deus, da igreja e do mundo. É aconselhável que o aluno examine os textos bíblicos sugeridos, pois essa fundamentação bíblica é muito importante para quem quer desenvolver uma vida ministerial satisfatória.

II - D efinindo O Q ue É M inistério Nesta primeira lição, o aluno aprenderá a definir o que é ministro e o que é ministério e, logo em seguida, verá como ocorre o chamamento. Essas definições ajudarão, o estudante à luz das escrituras, a entender melhor o chamamento.

15

Teologia Pastoral I

CETADEB

1. D efinindo A Palavra M inistro A palavra ministro que aparece na maioria das traduções bíblicas em português já não tem mais o mesmo sentido apresentado nas primeiras traduções da Bíblia porque as palavras, no decorrer dos anos, vão perdendo seu sentido original, sendo substituídas por outras. Ministro, nos dias atuais, passou a ter uma conotação de "pessoa que possui um alto cargo", de alguém com alta função, especialmente na esfera governamental. Isso não tem sido diferente na igreja, já que ministro parece ser uma pessoa que se sobrepõe às demais pelo cargo que exerce, geralmente o de pastor. Mas este não é o verdadeiro sentido de ministro no Novo Testamento. Assim, o aluno estudará o tema analisando três palavras gregas do Novo Testamento, diferentes entre si, mas que foram traduzidas, na maioria das versões bíblicas como ministro. 1.1. M in istro Com o T r a d u ç ã o D o V e rbo S e rv ir ^

Em muitos textos do Novo Testamento a palavra ministro é a tradução da mesma palavra traduzida para diácono que significa servir. Pode-se observar que a palavra diakonos foi traduzida como ministro nos seguintes textos e para as seguintes situações: Referindo-se a autoridades governamentais, como em \ Romanos 13.4 que diz: "Visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem". Nesse versículo, entende-se ministro como alguém que tem autoridade a "serviço" de Deus, isto é, um governo, policial ou juiz que serve a Deus punindo os maus. Referindo-se a "servo" ou "serviço" a Deus, no texto de 2 Coríntios 3.6 em que Paulo afirma que os obreiros foram habilitados para serem "ministros de uma nova aliança", isto é, servos de uma nova aliança. Em 2 Coríntios 6.4 também: "Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita 16

CETADEB

Teologia Pastoral I

paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias...", ou seja, o obreiro tem de ter em mente que ele é um servo a serviço de Deus em todos os momentos: na paciência, nas aflições, nas angústias. Pode-se examinar ainda diversos outros textos do Novo Testamento em que essa palavra é a mesma para diácono nas seguintes passagens: (2 Co 11.15,23; Gl 2.17; Ef 3.7; 6.21; Cl 1.7,23, 25; 4.7; 1 Tm 4.6). A partir dessa leitura fica fácil para o estudante observar que os tradutores usaram no passado a palavra ministro para exprimir o sentido de servo ou servir, mas que o sentido de ministro perdeu sua simplicidade no idioma português de hoje. O comentarista James Strong (Strongs Exaustive Concordance of the Bible) define essa palavra nos textos apresentados, falando de "um servidor", alguém que exerce um serviço obedecendo a uma autoridade superior. Portanto, basicamente, ministro é alguém que serve, e não quem é servido. Assim, cada obreiro é também um ministro, ou chamado para ser servo do rei Jesus. A segunda palavra grega, huperetes, é também traduzida como ministro, e aparece, em 1 Coríntios 4.1, com o significado de subordinação e trabalho. Nesse versículo: "Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus", percebe-se que a palavra ministro foi usada para indicar uma ação subordinada sob a direção de Deus. Esse sentido é muito mais forte do que o anterior, pois carrega em si o conceito de alguém que trabalha sob obrigação ou que só faz o que lhe é ordenado. Significa que no serviço cristão, não se exerce o ministério por conta e vontade própria, mas sob autoridade de alguém, ou melhor, o ministro do Senhor Jesus estará sempre às ordens de seu Supremo Chefe, Jesus que o chamou para o serviço. Outros textos bíblicos apresentam huperetes, com o mesmo sentido, ou seja, alguém que está subordinado a outra pessoa e que 17

Teologia Pastoral I

CETADEB

cumpre ordens e trabalha somente sob ordens. Nesse tipo de chamamento a pessoa está engajada de forma compulsória. Esta é a razão de Paulo exclamar: "Ai de mim, se não pregar o Evangelho" (1 Co 9.16). Para Paulo não havia escape, ele teria que obedecer sem resistência, sob pena de ser castigado. Era mais que uma ordem. Era um dever. Fugir do chamamento, no caso de Paulo, seria impossível, porque Deus lhe pronunciou uma sentença: "Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões" (At 26.14). Paulo levava a sério seu chamamento, não como algo opcional, e sim compulsório, pois implicava ser castigado por aquele que o chamou, caso desobedecesse as suas ordens. É possível que alguém esteja no ministério por opção, por amar a Jesus, amar a Igreja e por querer cumprir seu propósito. Não era o caso de Paulo. Ele foi convocado para ser um auxiliar, por isso usa o termo huperetes para dar ênfase ao seu chamamento. Em João 18.3, 12, 18, esta mesma palavra aparece com o sentido de servos ou ajudantes que trabalham sob as ordens de um governador. Jesus afirmou: "O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse desse mundo, os meus ministros se empenhariam por mim...". Isto significa que, se Jesus fosse um governador, os que trabalhassem sob sua autoridade sairiam em sua defesa. 1.2. M in is t r o C o m o L it u r g o

A terceira palavra grega traduzida como ministro é "liturgo" (leitourgeo) cujo sentido é o de um servidor que dispõe de recursos próprios a serviço do reino ou da sociedade. Essa palavra, na época de Paulo, era utilizada para designar uma classe social grega que exercia cargos públicos ou ajudava a sociedade com seus próprios recursos. Essa atitude espontânea passou a designar, na Bíblia, pessoas que serviam a Deus de maneira espontânea. Pode-se confirmar esta verdade examinando-se dois textos bíblicos.

18

CETADEB

Teologia Pastoral I

Em Atos 13.2, os mestres e profetas não estavam jejuando ou orando por obrigação, mas como um serviço espontâneo a Jesus, por isso o texto é tão claro: "E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado". Em Romanos 15.27, Paulo usa a mesma palavra, para se referir à espontaneidade das contribuições financeiras que os gentios davam aos judeus: "Isto lhes pareceu bem, como devedores que são para com eles. Porque, se os gentios foram participantes dos seus bens espirituais, devem também ministrar-lhes os temporais" ou como diz a versão atualizada, "servi-los com bens materiais". A partir das três definições apresentadas, pode-se concluir que todas apontam para o mesmo sentido: serviço ou dedicação, apesar da procedência e das características específicas. É importante ressaltar que em nenhuma delas há a conotação de superioridade tão comum nos dias atuais. Portanto, quando se almeja o ministério, não se pode esquecer o compromisso que espera o obreiro de ter uma vida de abnegação e de serviço, nunca de privilégios.

2. C ham ada E V ocação J O chamamento e a vocação não podem ser analisados à luz do Antigo Testamento, pois naquele tempo havia uma separação entre "clero" e "leigo ou laicato", já que a tribo de Levi era uma espécie de "clero" que servia o povo nas questões rituais, e intermediava entre Deus e o povo de Israel. No entanto, com a nova ordem ou nova aliança, todas as pessoas passaram a pertencer a uma mesma ordem ou ofício, passaram a ser sacerdotes do Deus Altíssimo, pois Cristo, ao assumir a função de sumo sacerdote, abriu essa possibilidade de cada crente ser também um sacerdote. Assim, a separação que existia entre o povo e os líderes do Antigo Testamento deixou de existir, fazendo com que a igreja

19

Teologia Pastoral I

CETADEB

passasse a ser um "reino de sacerdotes" em que todos os membros tivessem acesso direto a Deus e pudessem interceder em favor dos demais, ou seja, cada novo membro do corpo de Cristo passou a ter acesso a Deus da mesma maneira que seu líder, pastor ou presbítero. Neste sentido, todos na nova aliança são ministros a serviço de Deus. Isso mostra que não há necessidade de títulos para trabalhar para Deus. Esta mudança de conceito sacerdotal foi percebida claramente por Pedro, quando afirmou: "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe 2.9). Nesse versículo, percebe-se que Pedro se refere a todo o povo como reino sacerdotal, isto é, todos são sacerdotes de Deus. Assim como Pedro, a igreja primitiva, através de seus primeiros apóstolos, também percebeu que todos os membros do corpo de Cristo deviam trabalhar sem se preocupar com títulos, pois sabiam que a tarefa de evangelizar, orar, expulsar demônios e curar os enfermos não era somente para pastores e líderes, mas de todos (Mc 16.14-16). Outro fator que comprova essa ausência de distinção entre povo e líderes no Novo Testamento está no fato das pessoas serem tratadas diretamente pelo nome: Mateus, Paulo, Dorcas, Filipe, etc. Essa informalidade no modo de tratamento não impediu o respeito do povo a esses líderes, responsáveis por conduzi-los nos caminhos de Deus. Apesar de toda essa mudança conceituai ocorrida no Novo Testamento, algumas igrejas ainda mantêm dentro de seu sistema de governo a idéia de que o "clero" é exercido por alguém vocacionado e deve ser pago, e que os "leigos" devem servir. Esse é um erro que tem de ser corrigido, pois na igreja primitiva nunca houve a idéia de que os pastores deveriam ser

20

CETADEB

Teologia Pastoral I

pagos para fazerem a obra, ao contrário, todos entendiam que deveriam trabalhar, servir ou ministrar, zelar pela vida dos novos convertidos, orar, curar e expulsar demônios. Assim é necessário entender que todos, em escala menor ou maior, conforme os dons que de Deus recebem ou conforme a capacitação concedida pelo Espírito Santo de Deus, são chamados para servir. Isto significa que todos podem cooperar e trabalhar para Deus, mesmo aqueles que têm poucos dons disponíveis. Os textos de 1 Coríntios 12.28 e Efésios 4.11 mostram que, apesar de todos servirem e ministrarem a Deus e ao próximo indistintamente de sexo - Deus, em sua soberania decidiu dispor de alguns para chamamentos especiais. Coríntios revela que "a uns estabeleceu Deus na igreja...". Efésios: "ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres". Esses versículos mostram que Deus se reserva o direito de conceder dons ministeriais a algumas pessoas para que essas executem determinadas tarefas. Entre esses chamamentos especiais encontramos o de Paulo. Paulo seguia para a cidade de Damasco a fim de prender e maltratar os discípulos de Jesus, quando encontrou Jesus. Ao encontrá-lo, teve como única opção a aceitação ao chamamento. Como ele, muitos também têm como única opção a aceitação. Esse chamamento de Paulo era tão especial, que ele o descreve da seguinte maneira: "E, caindo todos nós por terra, ouvi uma voz que me falava em língua hebraica: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões. Então, eu perguntei: Quem és tu, Senhor? Ao que o Senhor respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da 21

Teologia Pastoral I

CETADEB

potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim..." (At 26.14-19). 0 chamamento de Paulo tinha uma missão especial, definida nas palavras de Jesus em Atos 26.14-19: "... te apareci, para te constituir ministro e testemunha", afirmou Jesus a Paulo, especificando que seu ministério seria entre os gentios "para os quais eu te envio". Em Atos 22.14-15, Paulo ouviu de um homem comum, Ananias, um servo de Deus, a seguinte palavra: "O Deus de nossos pais, de antemão, te escolheu para conheceres a sua vontade... porque terás de ser sua testemunha diante de todos os homens, das coisas que tens visto e ouvido...". Assim, diante de tal chamamento, para Paulo a única opção era obedecer, exercendo o ministério sob constrangimento, isto é, "fisgado" por Jesus. Por isso, suas palavras aos crentes de Corinto: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! Se o faço de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a responsabilidade de despenseiro que me está confiada" (1 Co 9.1617). Ainda hoje o Senhor Jesus dispõe de todos os crentes para servi-lo, escolhe muitos obreiros e os envia ao mundo, mas a alguns o Senhor dá um chamamento especial, como deu aos setenta, aos doze e a Paulo, em que "prende" e "agarra" para si como se fazia antigamente a um escravo, deixando a pessoa sem opções. Era servir, ou servir. Por isso, Paulo constantemente afirmava: "Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus..." (Rm 1.1). É importante ressaltar que a palavra servo (doutos) tinha o sentido de escravo. Era assim que Paulo se considerava: um escravo de Jesus, assunto que repetia constantemente (Tt 1.1). Como Paulo, muitos

22

CETADEB

Teologia Pastoral I

foram chamados e vocacionados por Jesus, muitos cumpriram sua missão, muitos desistiram no meio do caminho ou se desviaram do chamamento especial.

3. C omo O corre O Cham am ento Não existe consenso entre os teólogos para definir se o chamamento começa primeiramente no coração de Deus e depois no homem, ou primeiramente no coração do homem e depois no de Deus. O que se percebe à luz da escritura é que as duas verdades interagem, isto é, o chamado pode começar em Deus e também no homem. Um dos indicativos é bem evidente na declaração de Jesus aos discípulos: "Rogai, pois, ao Senhor da seara, que mande obreiros para a sua seara" (Mt 9.38), o que indica que diante da necessidade de novos obreiros, ora-se a Deus e ele faz a sua parte chamando as pessoas. Quando alguém roga a Deus que envie obreiros, parte do pressuposto de que ele irá chamá-los. Mas o ministério pode começar também no coração do homem quando este se dispõe a servir a Jesus enfrentando todas e quaisquer circunstâncias. Deus sempre olha para o coração e para as motivações do indivíduo. Assim, o chamamento para o ministério vem sempre através da parceria Deus e homem. 3 . 1 . 0 C h a m a m e n t o V em P e la C o n s a g r a ç ã o

O chamamento, via de regra, ocorre como fruto da consagração e do compromisso com Deus. Este é um tema que será abordado com mais detalhes no capítulo seguinte. A afirmação de Jesus de que o pai procura adoradores que o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.23), é um exemplo do que ser propõe afirmar. Ele vê o obreiro se consagrando e se dedicando e o convoca para a sua obra. Não é pecado afirmar que Deus tem um olfato 23

Teologia Pastoral I

CETADEB

apurado e localiza rapidamente os que o servem e o adoram de todo coração. Deus costuma sair ao encontro de tais pessoas. E começa, a partir daí, o verdadeiro ministério ou serviço do homem para Deus. Quando Deus encontra o que procura, coloca do seu desejo e de sua vontade no coração do homem, e este começa a anelar mais e mais de Deus e a fazer a sua vontade. 3 . 2 . 0 C h a m a m e n t o P o d e S u r g ir A t r a v é s D o I n c e n t iv o D e I r m ã o s E m P o s iç ã o M a io r D e A u t o r id a d e

O chamamento pode ocorrer através de obreiros que supervisionam a obra de alguém que está envolvido no trabalho de Deus. Vários são os exemplos deste tipo de chamamento no Novo testamento. O primeiro deles é Barnabé. Este, até o momento de seu chamamento especial, era um seguidor dos ensinamentos de Cristo, apenas mais um ajudante na igreja de Jerusalém que tinha colocado todos os seus bens à disposição da igreja (At 4.36-37). Mas os apóstolos de Jerusalém viram em Barnabé um verdadeiro servo de Deus. Assim o enviaram a Antioquia para cuidar da emergente igreja, onde muitos gregos haviam se convertido à Fé. Isto comprova que Deus não apenas chama diretamente uma pessoa, mas confirma o chamamento através de terceiros. Ele utiliza líderes para encontrar novos ministros para sua obra. O segundo exemplo é o de Saulo de Tarso. Barnabé procedeu da mesma maneira em relação a Saulo. Assim como os apóstolos viram em Barnabé um obreiro chamado, Barnabé viu em Saulo um homem de grande potencial na obra de Deus. Durante o estudo, o estudante verá a vida de Paulo e de como Deus o chamou para o ministério. No entanto, vale lembrar que Saulo, depois de convertido, tentou uma aproximação com os apóstolos em Jerusalém, mas não

24

CETADEB

Teologia Pastoral I

foi bem aceito. Desanimado, regressou à sua cidade, Tarso, e lá ficou trabalhando até que Barnabé o encontrou e o levou para trabalhar ao seu lado na cidade de Antioquia. Um terceiro exemplo é o de João Marcos. Acostumado às lidas da igreja e ativo na igreja de Jerusalém, foi levado, na primeira oportunidade, por seu primo Barnabé para uma viagem missionária (At 13.5). Sua missão era servir e auxiliar os primeiros apóstolos. Quando uma pessoa se sente vocacionada para o ministério, o melhor que tem a fazer é servir e submeter-se aos líderes. Como homens de Deus, saberão identificar na pessoa a chamada para o ministério. Um quarto caso é o de Timóteo. Paulo viu no jovem um obreiro promissor e o levou consigo nas viagens missionárias. Todos esses exemplos de chamamentos serão revistos ao longo deste livro, dos quais o aluno extrairá lições preciosas para seu serviço a Deus. Como se vê, Deus também utiliza seus obreiros para que observem aqueles que têm o coração no Senhor e em sua obra. Assim, uma pessoa pode estar sendo observada por Deus através de um líder, pois Deus, especialista em vocação, vê apenas o coração dos seus servos, não a aparência. Isto pode ser comprovado com a orientação dada a Samuel (16.7): "Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei, porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração". Do mesmo modo que Samuel, aquele que é líder não deve se deter nas aparências, mas no coração dos servos de Deus. Por outro lado, uma pessoa que se sente vocacionada para o ministério, o melhor que tem a fazer é servir e submeter-se aos líderes, que como homens de Deus saberão identificar na pessoa a chamada para o ministério. Depois de expor o sentido do ministério e de como alguns homens foram chamados, o aluno verá na sequencia, a questão da

25

Teologia Pastoral I

CETADEB

chamada em si, e de como poderá identificar a chamada de Deus em sua vida. Questões para reflexão: Meu chamamento tem sido apenas emocional, ou tenho certeza de que preciso cumprir com o propósito de Deus na terra? Centralidade da reflexão: Deus vê o coração. Deus vê também o que fazemos. E quando o que fazemos procede de uma atitude correta, de todo coração, com verdadeiro desprendimento, ele nos recompensa, dando-nos a certeza de nosso chamamento. II - A C h a m a d a No capítulo anterior o estudante viu, de maneira sucinta, que a chamada para o serviço ou ministério começa em Deus e encontra sua contrapartida no coração do homem; e que ocorre quando Deus e homem se encontram, começando a partir daí uma parceria para levar adiante seu propósito na terra. Essa parceria pode ter início de diversas maneiras, por isso cada pessoa deve aprender a identificar o seu chamamento e não comparar o chamamento de uma pessoa com a outra. Cada chamamento tem uma particularidade ou propósito, o que pode ser visto nos chamamentos de Abraão, Moisés, Josué, Davi, e também de alguns dos profetas e dos servos de Deus do Novo Testamento. Neste capítulo, o objetivo é mostrar que, em algum momento, a pessoa saberá identificar seu chamado para alguma missão especial. Um dos grandes conflitos que as pessoas enfrentam é o de saber o momento de tomar uma decisão e agir, pois toda pessoa que sente o fogo de Deus ardendo em seu coração tem a tendência de agir imediatamente, o que leva alguns a romper os laços familiares, ignorando o cuidado da casa, da esposa e dos filhos, (assuntos que será abordado com clareza quando tratarmos do obreiro e sua família), largam seus empregos, e decidem que, daquele momento em diante querem entrar para o ministério. Nem sempre esta é a melhor solução. 26

CETADEB

Teologia Pastoral I

Daí a recomendação de Jesus: "Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus" (Lc 9.62).

1.

P r in c íp io s Q u e N o r t e ia m

O C h a m a m e n t o Dos H o m e n s

D e D eu s 0 chamamento deve ser norteado por princípios encontrados na escrituras sagradas. Estudando a vida e o chamamento de pessoas no Antigo e no Novo Testamento, pode-se extrair lições que ajudam o obreiro a entender o que está acontecendo com ele. Para tanto será necessário estudar o chamado e a obediência de Abraão, Moisés, Josué, Davi e Paulo - apenas estes e ver que o chamamento destes servos de Deus está alinhado ou de acordo com o propósito eterno de Deus. 1.1 - C h a m a d o E O b e d iê n c ia

Com exceção do profeta Jonas que desobedeceu, todos os demais homens e mulheres dos relatos bíblicos obedeceram ao chamado de Deus. Vários deles vacilaram diante da grandeza do chamamento, mas foram convencidos por Deus de que deveriam obedecer. Entre estes é possível citar Moisés e o profeta Jeremias. Ainda que ninguém mais tenha recebido um chamamento como o de Abraão, de Moisés, ou de Davi, para citar apenas estes, pode-se aprender com a história deles algumas lições que ajudam a entender o chamamento. A braão

Abraão recebeu uma missão: peregrinar na terra que seria de seus descendentes. Não teria residência fixa, mas viveria em tendas em Canaã. Todo chamamento tem uma missão. Este princípio é percebido tanto nos personagens do Antigo quanto do Novo Testamento. 27

Teologia Pastoral I

CETADEB

Ao estudar cada um destes casos, percebe-se que os homens chamados por Deus receberam uma missão a cumprir. A missão de Abraão era de peregrinar na terra que lhe foi prometida. Ao chegar a Canaã Deus lhe disse: "Levanta-te, percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura; porque eu ta darei" (Gn 13.17). Abraão obedeceu. "Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia" (Hb 11.8). A obediência de Abraão é citada em Romanos 4.16-25 e Hebreus 11.8-19 como modelo de fé a todo cristão. M o is é s

Com a morte de Abraão, Deus levou Jacó a morar no Egito onde seu filho José fora empossado como governador, e a descendência dele permaneceu no Egito durante quatrocentos e trinta anos, cumprindo a palavra dada a Abraão em Gênesis 15.1216. Moisés, no deserto onde se refugiara durante quarenta anos, fugindo da ira de Faraó, recebeu de Deus a incumbência de tirar o povo de Israel do Egito. Ele viu o fogo no arbusto que não se consumia, e ao se aproximar, ouviu a voz de Deus lhe dizendo: "Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel do Egito" (Ex 3.10). “A este Moisés, a quem negaram reconhecer, dizendo: Quem te constituiu autoridade e juiz? A este enviou Deus como chefe e libertador, com a assistência do anjo que lhe apareceu na sarça. Este os tirou, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito, assim como no mar Vermelho e no deserto, durante quarenta anos" (At 7.35-36). Moisés obedeceu. Depois de quarenta anos no deserto, decidiu retornar ao Egito. "Tomou, pois, Moisés a sua mulher e os seus filhos; fê-los montar num jumento e voltou para a terra do Egito. Moisés levava na mão o bordão de Deus" (Ex 4.20). 28

CETADEB

Teologia Pastoral I

A belíssima história de Moisés retratada em romances e filmes revela um homem de coração obediente que entendeu sua missão na terra. O escritor aos Hebreus diz de Moisés: “E Moisés era fiel, em toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas que haviam de ser anunciadas" (Hb 3.5). J o su é

Josué recebeu também uma missão: Fazer o povo entrar na terra de Canaã. Com a morte de Moisés, Deus o chamou e o incumbiu especificamente desta tarefa. "Ordenou o Senhor a Josué, filho de Num, e disse: Sê forte e corajoso, porque tu introduzirás os filhos de Israel na terra que, sob juramento, lhes prometi; e eu serei contigo" (Dt 31.23 e Js 1.1-9). Josué obedeceu. Logo que Deus lhe falou (Js 1.1-9), Josué arregimentou o exército e preparou o povo para entrar na terra prometida. A história de como o povo conquistou Canaã pode ser estudada no livro de Josué. É a história da obediência. Davi

Davi foi chamado para ser rei e pastor de Israel. Esta era sua missão. Apesar de jovem e inexperiente, Deus ordenou a Samuel, o profeta que ungisse a Davi, rei de Israel. "Enche um chifre de azeite e vem; enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque dentre os seus filhos, me provi de um rei" (1 Sm 16.1). "Também escolheu a Davi, seu servo, e o tomou dos redis das ovelhas; tirou-o do cuidado das ovelhas e suas crias, para ser o pastor de Jacó, seu povo, e de Israel, sua herança. E ele os apascentou consoante a integridade do seu coração e os dirigiu com mãos precavidas" (SI 78.70-72). Não há registro algum nas escrituras de que Deus tenha falado particularmente a Davi sobre seu chamamento. Deus o chamou através do profeta Samuel para substituir a Saul. A respeito de Davi, disse Deus: "Encontrei Davi, meu servo; com o meu santo óleo o ungi" (SI 89.20). 29

Teologia Pastoral I

CETADEB P a u lo

Diferentemente dos demais, Paulo recebeu de Deus a missão de ser o pregador aos gentios, isto é, de levar as boas novas da salvação em Cristo a todos os povos não judeus que habitavam no mundo conhecido da época. O relato de seu chamamento está em Atos 9.1-30. Que seu chamamento era para os gentios, ele deixou bem claro ao se encontrar com os demais apóstolos em Jerusalém: ele e Barnabé pregariam aos povos não judeus, e os demais apóstolos pregariam aos judeus. "Afim de que nós fôssemos para os gentios, e eles, para a circuncisão" (Gl 2.9). Ele tinha uma missão e nela permaneceu firme até o fim. Deus lhe disse: "Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isso te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim" (At 26.16-18). Paulo obedeceu. Falando para o governador Agripa disse: "Pelo que, ó rei Agripa, não fu i desobediente à visão celestial, mas anunciei primeiramente aos de Damasco em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento" (At 26.19-20).

No fim da vida podia afirmar: "Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé" (2 Tm 4.7). O exemplo de Paulo será visto ao longo deste curso. A pessoa chamada recebe de Deus uma comissionamento e tem de obedecer. Missão e obediência são dois pontos que devem ser considerados neste estudo. Afinal, cada um de nós é chamado para a missão de pregar o evangelho e é preciso obedecer. 30

CETADEB

Teologia Pastoral I

2. C onhecendo O P ropósito E terno D e D eus Para que o aluno entenda o chamamento ministerial no Novo Testamento é necessário que se proceda aqui a um retrospecto do propósito de Deus em chamar Abraão, formando uma nação e um povo que levasse o seu nome. Quando Deus disse: "de ti farei uma grande nação", o objetivo de Deus era a formação de um povo que realizasse na terra o propósito divino. A igreja, nos dias de hoje é a continuação daquele projeto divino que começou na chamada Abraão e na formação do povo de Israel. 2 .1 - A Essência D o P ro p ó sito E te rn o : Um P o v o P a r a Deus - J

Quando Deus formou o homem, colocando no Éden a primeira família, seu objetivo era formar um povo que estivesse em íntima comunhão com ele. Por isso, todas as tardes visitava o Éden e dialogava com o homem que ele criara (Gn 3.8). A queda do homem interrompeu por algum tempo a execução do projeto divino. Mais tarde Deus chamou a Noé e sua família para recomeçar na terra o seu projeto, mas novamente o pecado e a transgressão interromperam o propósito de Deus na terra. A partir de Gênesis 12, o propósito de ter uma família ou povo na terra é novamente iniciado com Abraão. Como se vê, o chamamento de Deus para Abraão era claro e específico. Ele habitaria na terra de Canaã e iniciaria o projeto de Deus na terra. Quatrocentos e trinta anos depois de Abraão, Deus chamou a Moisés no monte Sinai e novamente deixou claro o seu propósito em tirar o povo do Egito: "Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso Deus" (Ex 6.7). A idéia de um povo separado para Deus, portanto, começa em Gênesis e termina no Apocalipse.

31

Teologia Pastoral I

CETADEB 2 .2 - U m a N a ç ã o D e S a c e r d o t e s E A d o r a d o r e s

Quando o povo estava a caminho de Canaã, Moisés recebeu ordem de Deus de construir o tabernáculo. Todos os elementos e rituais do tabernáculo apontavam para a mesma finalidade: Deus queria habitar entre o povo. "E habitarei no meio dos filhos de Israel e serei o seu Deus" (Ex 29.45). Quando Deus apareceu no monte Sinai, ele queria se manifestar a todo o povo. Na realidade, o povo viu a glória de Deus, mas ficou com medo. "E Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus" (Ex 19.17). Os líderes chamaram a Moisés e lhe disseram: “Eis aqui o Senhor, nosso Deus, nos fez ver a sua glória e a sua grandeza... hoje vimos que Deus fala com o homem, e este permanece vivo. Chegate, e ouve tudo o que disser o Senhor, nosso Deus; e tu nos dirás tudo o que te disser o Senhor” (Dt 5.24,27). O objetivo de Deus era o de habitar entre o povo, manifestar-se, falar com as pessoas, mas o povo com medo recusou ouvir a Deus, rogando a Moisés que servisse de intermediador entre o povo e Deus. Aqui também transparece a idéia de clero e laicato, tema que foi visto anteriormente, em que uma pessoa tem acesso a Deus e as demais ouvem. Não era este o propósito de Deus. Ele queria uma nação de adoradores, um povo de serviço que o representasse na terra. “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos. Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa” (Ex 19.5-6). O conceito de povo de Deus e de reino sacerdotal está em todo o Antigo e Novo Testamento. Deus quer ter um povo no meio do qual possa habitar. O propósito inicial de Deus está em Êxodo 19.6: “Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa". A intenção de Deus não

32

CETADEB

Teologia Pastoral I

era a de haver uma tribo especial, mas que todos fizessem parte do sacerdócio. A idéia de "povo de Deus" é vista em toda a Bíblia. "Somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio" (SI 100.3). Sugere-se ao estudante que, com uma chave bíblica investigue todas as passagens em que aparece a expressão povo, nação e Israel de Deus. 2 .3 - A I g r e ja É O P o v o D e D eu s

A igreja é a continuação do propósito de Deus desde a criação do homem, pois Deus jamais recuou do seu propósito. Com o surgimento da igreja, a mesma mensagem do passado é proclamada pelos apóstolos do Novo Testamento. Pedro, um dos apóstolos, repete para os primeiros cristãos o mesmo discurso de Deus proferido ao povo de Israel quando este vagava pelo deserto dois mil anos antes. (Veja Êxodo 19.5-6). “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus" (1 Pe 2.9-10). Assim, a idéia ou propósito inicial de Deus é de que todos o sirvam em sua presença; que todos sejam adoradores e que sejam habitação de Deus na terra. A idéia inicial de Gênesis 12 em Abraão, com Moisés, Davi e todo o Israel é levada adiante na igreja, e culminará com o reino de Deus na terra no final dos tempos. Por isso, em Apocalipse está escrito: "Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povo de Deus, e Deus mesmo estará com eles... contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele" (Ap 21.3 e 22.4). Portanto, é possível afirmar que hoje todos são chamados para servir a Deus, e o chamamento individual não pode fugir dessa 33

Teologia Pastoral I

CETADEB

linha mestra, isto é, que Deus tem um propósito com o homem na terra. Assim, existe um chamamento geral para todos. Tema que será desenvolvido a seguir.

3. O C ham am ento D e D eus E O C um prim ento D e S eu P ropósito Pa ra Todos Pode-se observar acima, que Deus chama pessoas dandolhes um chamamento específico com a finalidade de cumprir o seu propósito na terra. Antes de se abordar a questão do chamamento individual, que é o objetivo desta lição, seria bom o aluno analisar o que a escritura tem a dizer sobre o chamamento para todos. 3 . 1 . 0 C h a m a m e n t o G e r a l E O E s p e c íf ic o

Alguns acham que Deus não chama mais as pessoas para o ministério, de maneira audível, em sonhos, em visões ou através de uma profecia: basta a pessoa obedecer à vontade moral de Deus e este irá abençoar e apoiar quaisquer que sejam as decisões que a pessoa tomar, isto é: quando alguém tem comunhão com Deus e um coração puro, a decisão que tomar tem a aprovação de Deus. Respeitando-se esta posição teológica, não se deve negligenciar que Deus é o mesmo ontem, hoje e eternamente e que pode utilizar quaisquer métodos para falar ao coração de uma pessoa chamandoa para o ministério. No entanto, é preciso deixar bem claro que as escrituras enfatizam o envolvimento de todos os santos no ministério, ou na obra de Deus. Para isto ele delegou poderes concedendo “uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo" (Ef 4.11-12 - grifo do autor). Quer dizer: os ministérios foram dados à igreja para aperfeiçoar o desempenho dos santos na obra de Deus. Ora, o texto 34

CETADEB

Teologia Pastoral i

acima deixa bem claro que todos podem ser aperfeiçoados para trabalhar na obra de Deus. Neste texto é possível observar o chamamento específico apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres - e o chamamento geral (os santos) para a obra de Deus. Os ministérios de Efésios 4.11 são para o aperfeiçoamento de todos os santos. A palavra grega para "aperfeiçoamento" é katartismos que tem o sentido de "consertar", "remendar" ou "aperfeiçoar". A melhor tradução seria "colocar em ordem os santos para o desempenho do seu serviço". Assim, num só texto é possível ver os ministérios específicos de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, e o ministério geral de todos os santos. 3 .2 . T o d o s S o m o s M in is t r o s D e J e su s

De maneira geral, todo cristão comprometido é um ministro de Jesus, porque serve a Deus, indistintamente de títulos e de reconhecimento dos homens. Para tanto, o crente o serve com os dons naturais e com os dons sobrenaturais. Os dons naturais estão listados em Romanos 12: "Tendo, porém, diferentes dons, segundo a graça que nos fo i dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé; se ministério (serviço) dediquemo-nos ao ministério (serviço); ou o que ensina esmere-se no fazê-lo; ou o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui com liberalidade; o que preside (lidera), com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria" (Rm 12.6-8 - acréscimos do autor). Os dons sobrenaturais distribuídos pelo Espírito Santo aos membros da igreja estão em 1 Coríntios 12.4-11. Palavra de sabedoria, palavra de conhecimento, discernimento de espíritos, dons de curar, operações de milagres, fé, profecia, línguas e interpretação de línguas. Cada pessoa pode "ministrar" ou servir a Deus a partir desta capacitação espiritual. No entanto, é preciso acentuar que Deus ainda chama algumas pessoas para ministérios específicos. 35

Teologia Pastoral I

CETADEB

4. C ham am entos Específicos No ponto anterior o estudante entendeu que todos os crentes são chamados para o serviço de Deus, e, portanto, habilitados pelo Espírito Santo. Todos servem a Cristo no corpo, que é a igreja, e entendeu também que, para alguns Deus tem um chamamento especial, ou ofícios indicados por Jesus. Enquanto os dons são para todos, o chamamento é para alguns. Paulo refere-se a esse chamamento usando a expressão "a uns Deus estabeleceu", indicando que entre muitos, alguns têm uma vocação especial. Logo que termina sua abordagem sobre os dons sobrenaturais, concedidos a todos, Paulo afirma que "a uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas" (1 Co 12.28). Nesse versículo, Paulo está afirmando que os dons estão disponíveis a todos, mas que Deus estabelece alguns na igreja com ministérios específicos. Deus chama os que estão ocupados, exercendo seus dons na igreja, e é aqui que cada pessoa precisa discernir quando Deus a está chamando e incluindo-a no seleto grupo menor de que Paulo fala. "A uns Deus...". Apesar de se trabalhar na obra como todos os crentes, contribuindo com talentos, deve-se ficar atento para o momento em que Deus chama especificamente uma pessoa para alguma tarefa na igreja. Às vezes é preciso deixar o emprego, dedicando-se totalmente ao serviço (ministério) para o qual foi convocado, afinal Deus continua falando a homens e mulheres, separando-os para o ministério. É preciso enfatizar novamente que o chamamento é individual e a experiência de cada pessoa diferente da outra.

36

CETADEB

Teologia Pastoral I

Tratando deste tema, o pastor Erwin Lutzer, da igreja Memorial Moody em Chicago arriscou uma definição de chamado: "O chamado de Deus é uma convicção interior, dada pelo Espírito Santo e pelo corpo de Cristo" (Erwin Lutzer em De Pastor Para Pastor, Editora Vida, p. 14). Lutzer apresenta três parâmetros ou linhas seguras que podem orientar e servir de baliza às decisões que um obreiro tomar: Convicção interior; a ação do Espírito Santo; e a opinião dos membros do corpo de Cristo. Estas três coisas serão analisadas a seguir. A convicção interior é importante, porque nenhum obstáculo é grande o suficiente para impedir que uma pessoa vocacionada se dedique integralmente ao serviço de Deus. Esta convicção não pode ser fruto apenas das emoções, porque as emoções vêm e vão. Mas, quando a convicção vem por parte do Espírito de Deus, as decisões são firmes e corretas. Uma pessoa convicta de seu chamamento enfrenta os demônios e o inferno. É aqui que a pessoa precisa contar com o terceiro elemento: a opinião da igreja, pois a igreja é composta da totalidade dos crentes que formam o corpo de Cristo, e esta percebe quando uma pessoa tem o chamamento ou não para o ministério. Estes três fatores citados por Lutzer - convicção interior, a voz do Espírito Santo e a confirmação pelo corpo de Cristo - juntas são ótimas balizas para que um obreiro tenha certeza do chamamento. Muitos irmãos atendem ao pedido de consagração ao ministério feito por pastores que apelam para as emoções dos seus ouvintes, esquecendo-se que, sempre que só a emoção é ativada, no decorrer dos anos alguns desistem. Pelo fato de algumas pessoas serem movidas pela emoção, certos líderes - entre eles Lutero e Spurgeon - não incentivavam ninguém a entrar para o ministério da palavra. É possível tratar deste tema evitando os extremos.

37

Teologia Pastoral I

CETADEB

Charles H. Spurgeon precisava selecionar os candidatos que vinham estudar em sua escola, e desabafou: "É sempre uma tarefa difícil para mim, desanimar um jovem que solicita matrícula nesta escola. Meu coração sempre se inclina para o lado mais bondoso, mas o dever para com as igrejas me impele a julgar com severa discriminação. Se me convenço de que o Senhor não o chamou, me sinto obrigado a dizer-lhe isso" (SPURGEON, Charles H. In A Transparência no Ministério (Edson Queirós), Editora Vida p. 31). Certamente esses homens de Deus, na época em que viveram tinham lá suas razões, e deve-se respeitar o que esses servos de Deus pensavam quanto ao chamamento de obreiros, no entanto, alguns são inclinados a pensar como Paulo que incentivava os discípulos para o ministério. Ele escreve a Timóteo: "Fiel é esta palavra: Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja" (1 Tm 3.1). Alguns eruditos afirmam que naquela época já havia pessoas interessadas no ministério como um emprego, contudo, exercer o ministério nos primeiros séculos da era cristã era colocar a vida em risco. Ninguém aspiraria o ministério por interesses financeiros. É possível que Paulo esteja afirmando que é importante examinar a motivação do coração, porque ali pode estar um desejo colocado por Deus. Quando se estuda as cartas de Paulo a seu discípulo Timóteo, pode-se ver no colaborador um moço tímido e calado, a ponto de Paulo animá-lo com tantas palavras. “Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te fo i concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério" (1 Tm 4.14). No decorrer do curso, este texto será examinado com maior profundidade. Na próxima lição o aluno estudará sobre o chamamento e a obra de Deus, e o assunto ficará ainda mais claro diante de seus olhos.

38

CETADEB

Teologia Pastoral I

Questão para reflexão: Estou me precipitando ao tomar a decisão de abandonar tudo a favor do ministério, ou pesei os prós e contras, ponderando atentamente sobre cada aspecto de minha vida? Entendo, perfeitamente que o chamamento de Deus para minha vida não pode fugir ao seu propósito eterno? Centralidade da reflexão: Lucas 14.25-33. Jesus nos ensinou que temos de calcular o custo de um empreendimento.

A tividades - Lição I >

Marque "C" para Certo e "E" para Errado

1) □ Em muitos textos do Novo Testamento a palavra ministro é a tradução da mesma palavra traduzida para diácono que significa servir. 2) 0 Basicamente, ministro é alguém que é servido, e não quem serve. 3) O A palavra grega traduzida como ministro é "liturgo" (leitourgeo) cujo sentido é o de um servidor que não dispõe de recursos próprios a serviço do reino ou da sociedade. 4) IE J Ainda hoje o Senhor Jesus dispõe de todos os crentes para servi-lo, escolhe muitos obreiros e os envia ao mundo, mas a alguns o Senhor dá um chamamento especial. 5) 0 3 Com exceção do profeta Jonas que desobedeceu, todos os demais homens e mulheres dos relatos bíblicos obedeceram ao chamado de Deus.



6) LU Deus chama os que estão ocupados.

39

Teologia Pastoral I

CETADEB

40

CETADEB

Teologia Pastoral I

©

DCZU ti0

O n ® 0

D O

© § Lição II

1 »

© e

b

Teologia Pastoral I

CETADEB

42

CETADEB

Teologia Pastoral I

O C h a m a m en to E A H o ra D e D eus

esta lição estudaremos sobre o chamamento pessoal e específico, buscando entender o momento certo de tomar decisões, já que qualquer decisão ministerial traz a reboque conflitos pessoais, que se não forem bem administrados, deixarão marcas para toda a vida.

N

O momento de agir, de tomar uma decisão, de abandonar o emprego ou de deixar de seguir uma carreira profissional, como pôde ser visto no capítulo anterior requer convicção, direção do Espírito Santo e apoio da igreja. Resumindo, é preciso tomar uma decisão, e a igreja, ou os irmãos em Cristo da congregação podem ajudar o obreiro nesta tarefa. Sem a ajuda dos irmãos pode-se até duvidar do chamamento. Quanto tempo uma pessoa deve esperar para avançar. O que fazer? O aluno poderá tirar lições preciosas de homens de Deus, observando a maneira como reagiram diante de um chamamento divino. Também verá os critérios utilizados pelos apóstolos para o ministério na Casa de Deus. Este tema, portanto é imprescindível a todo o que quer servir ao Senhor. 1. O b s e r v a n d o O C o m p o r t a m e n t o D e A l g u n s H o m e n s D e D eu s Dentre os muitos casos da Bíblia, o aluno verá o chamamento de Davi, no Antigo Testamento, e o de Paulo, no Novo Testamento, de cujas vidas tirará preciosas lições. Na vida destes 43

Teologia Pastoral I

CETADEB

dois homens de Deus percebe-se a existência de um período de transição e de espera entre o chamamento e o cumprimento da chamada, e o que o aluno aprender à luz da vida deles servirá de ajuda, evitando que cometa enganos, seja apressando-se a cumprir logo a missão ou demorando a cumpri-la. Na lição anterior, estudou-se o chamamento específico de Davi para ser rei e pastor de Israel. Agora, quer se destacar que entre o chamamento, quando foi ungido por Samuel até o dia em que foi colocado como rei de Israel, tomando posse definitiva como rei, passaram-se vinte e um anos. Conforme a cronologia bíblica, ele foi ungido rei em 974 a.C., e tomou posse do reino em 953 a.C. 1.1. A P a c iê n c ia E R e s p o n s a b il id a d e D e D avi

Depois de ungido rei de Israel, Davi voltou para o campo cuidar das ovelhas de seu pai e esperou em Deus que se encarregou de colocá-lo no palácio de Saul. Qualquer pessoa, no lugar de Davi quereria se proclamar rei de Israel no dia seguinte, mas não foi o que fez Davi. É isso que se vê nos registros de 1 Samuel 16 e 17. Tempos depois, quando Saul começou a ter ataques malignos, foi recomendado por seus servos a ouvir um pouco de música, e ele imediatamente ordena: "Buscai-me, pois, um homem que saiba tocar bem e trazei-mo". "Casualmente" um dos moços que servia a Saul no palácio conhecia Davi e o recomendou ao rei. Assim, Deus tira Davi do campo e o coloca no palácio. Davi sempre esperou o movimento de Deus. Pelo que se depreende das escrituras, ele cumpria sua tarefa na casa de Saul e regressava para o campo de Belém. "Davi, porém, ia a Saul e voltava para apascentar as ovelhas de seu pai, em Belém" (1 Sm 17.15). Ao estourar a guerra entre os filisteus e o povo de Israel, Davi foi enviado por Jessé ao fronte da guerra para levar alimentos aos seus irmãos e saber notícias deles. Nesse momento, Deus deu o próximo passo e tornou Davi famoso em toda a nação ao permitir que Davi enfrentasse e

44

CETADEB

Teologia Pastoral I

vencesse Golias, que durante quarenta dias ameaçava o exército de Israel (vv. 16 e 23). Essa passagem bíblica permite perceber que quando Deus chama, também toma as providências e toma a iniciativa. O mais difícil para qualquer pessoa é aprender a esperar o próximo movimento de Deus. Ninguém deve se apressar e sair à busca de cargos e posições. Dois episódios na vida do jovem Davi mostram seu alto grau de responsabilidade. Antes de tomar a estrada para levar pães e queijos a seus irmãos que estavam no fronte da batalha com os filisteus, ele deixou as ovelhas aos cuidados de um ajudante. E quando chegou onde seus irmãos estavam, deixou o material que levava com o guarda da bagagem. Estes dois versículos evidenciam a importância do obreiro ser responsável naquilo que lhe é confiado. "Davi, pois, no dia seguinte, se levantou de madrugada, deixou as ovelhas com um guarda, carregou-se e partiu...” (1 Sm 17.20) e "deixando o que trouxera aos cuidados do guarda da bagagem, correu à batalha: e, chegando, perguntou a seus irmãos se estavam bem" (1 Sm 17.22). Em nenhum momento Davi descuidou-se de suas responsabilidades. Seguindo o exemplo de Davi, o obreiro deve permanecer fiél sendo responsável com o que lhe é confiado. Se nas atividades do dia-a-dia da obra do Senhor, na igreja, no emprego e com a família ele não mostrar responsabilidade, não estará apto para o ministério ou serviço cristão. Deus o observa para certificar-se de que é responsável, pois apenas estes são aptos ao chamamento divino. Na parábola dos talentos, Jesus conta que um dos homens recebeu cinco talentos, outro, dois e o terceiro apenas um talento, "segundo a sua própria capacidade” (Mt 25.15). Neste texto Jesus dá a chave para o sucesso ministerial: capacitação e responsabilidade. Quando alguém demonstra responsabilidade habilita-se a receber responsabilidades ainda maiores.

45

Teologia Pastoral I

CETADEB 1 .2 . P a u l o : E x e m p l o D e E s p e r a

Depois de seu encontro com Deus na estrada de Damasco, Paulo precisou aprender a esperar que Deus guiasse seus passos, e esperou o momento de agir. Ele mesmo dá a entender que logo depois de sua conversão não subiu imediatamente para os apóstolos em Jerusalém; tomou a direção contrária, indo para as regiões da Arábia retornando depois para Damasco (Gl 1.15-17). Apesar da convicção de que fora chamado por Deus para ser pregador aos gentios, Paulo não se apressou a fazer parte do círculo de apóstolos de Jerusalém, antes se retirou para o deserto e somente três anos depois subiu para Jerusalém (Gl 1.18-24 e At 9.26-30), até porque os apóstolos que estavam em Jerusalém desconfiavam de sua conversão, e evitavam encontrar-se com ele. Na primeira viagem a Jerusalém depois de convertido, somente Barnabé o acolheu como discípulo de Cristo. Este o apresentou aos demais apóstolos, mas devido a ameaças de perseguição contra a igreja os apóstolos recomendaram a Paulo que fugisse de Jerusalém, o que ele fez voltando para sua cidade natal, e, ao que parece, continuou com fabricação de tendas para poder se sustentar. O próximo movimento de Deus na vida de Paulo ocorreu novamente através de Barnabé. Este "Filho da Exortação" foi enviado pelos apóstolos para cuidar de uma emergente igreja gentílica em Antioquia, e sentiu que Paulo poderia ser de grande ajuda, por isso, “partiu Barnabé para Tarso à procura de Saulo; e tendo-o encontrado, levou-o para Antioquia" (At 11.25-26). Na cidade de Antioquia, Paulo ficou esperando o próximo movimento de Deus. Depois de servir humildemente ao Senhor, ao lado de Barnabé durante um ano inteiro, o Espírito Santo o chamou para pregar aos gentios. O encontro de Paulo com Deus e seu chamamento não encontram paralelo no Novo Testamento, isto é, não há registro de algo semelhante, no entanto, apesar da grande experiência de

46

CETADEB

Teologia Pastoral I

conversão e chamamento - tudo num só pacote - não se apressou. Além dos três anos na Arábia, Paulo residiu algum tempo em Damasco e dali partiu para sua cidade natal, Tarso. Quando Barnabé saiu à procura dele encontrou-o em Tarso, certamente não só trabalhando, mas também estudando as escrituras, o que era comum fazerem os rabinos daquela época. Estes dois exemplos bíblicos são evidências de que entre o chamamento e o desenvolvimento da missão, muitas vezes, é necessário esperar em Deus, enquanto se cumpre com as responsabilidades sociais, trabalhando, cuidando da família, etc. Esta é a melhor espera. Além dos exemplos de Davi e Paulo aqui citados, o estudante, a seguir, verá alguns exemplos do Novo Testamento, tentando identificar neles alguns critérios que os líderes apostólicos usaram para identificar os irmãos que tinham a chamada de Deus para o ministério. Os apóstolos se depararam com a necessidade de estabelecer critérios para identificar e constituir no serviço de Deus ou ministério as pessoas que tinham um chamamento divino.

2. Critério s Usa d o s P elos A póstolos Estudando o Novo Testamento, percebe-se que os obreiros e os envolvidos no serviço do Mestre eram pessoas da comunidade local, isto é, exerciam algum tipo de atividade na cidade onde moravam, e passavam a exercer seu ministério tendo como base, primeiramente, a igreja da cidade. Com exceção dos doze apóstolos, de Paulo e de Apoio, todos os demais obreiros referidos no Novo Testamento eram pessoas conhecidas na própria cidade onde a igreja se estabelecia. Ao que parece, os pais apostólicos perceberam a necessidade de estabelecer alguns critérios na escolha dos obreiros, como veremos a seguir.

47

Teologia Pastoral I

CETADEB 2 .1 . R a íz e s C o m u n it á r ia s

O estabelecimento de critérios surgiu bem no começo da igreja quando os apóstolos tiveram que decidir quem ocuparia o lugar de Judas, o traidor, completando o número de doze apóstolos. E estabeleceram um critério: Deveria ser alguém que conhecesse a Jesus desde o dia quando este foi batizado, e que tivesse acompanhado a vida de Jesus até o dia em que subiu ao céu. "É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós fo i levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição" (At 1.21). Dois nomes foram sugeridos: José e Matias. Estes dois preenchiam os requisitos apostólicos porque acompanharam o ministério de Jesus desde o batismo de João, e por conhecerem a Jesus tanto tempo, preenchiam o primeiro critério, habilitando-se a serem incluídos no rol dos doze apóstolos. Anos mais tarde, os apóstolos usaram critérios semelhantes para indicar quem deveria acompanhar a Paulo e a Barnabé, logo após o Concílio da igreja em Jerusalém, para evangelizar os gentios, e escolheram Judas e Silas para acompanharem a Paulo e a Barnabé na missão de orientar os novos cristãos quanto às decisões tomadas no Concílio (At 15.26-27). Novamente estabeleceram um critério: "Homens que têm exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo" (At 15.26). Estes dois, "que eram também profetas, consolaram os irmãos com muitos conselhos e os fortaleceram" (At 15.26,32). Fica evidente, portanto, que José (Judas) e Silas foram contemporâneos de Jesus, e preenchiam os requisitos: deveriam conhecer Jesus desde que começou seu ministério ao ser batizado por João. Isto é o que se convém chamar de "raízes comunitárias", isto é, pessoas que eram conhecidas de todos os habitantes de um determinado lugar.

48

CETADEB

Teologia Pastoral I

2 .2 . Q u a l id a d e s E s p ir it u a is E C a r á t e r

Quando a igreja precisou escolher seus auxiliares, os apóstolos estabeleceram os parâmetros de conduta: Deveriam ser "homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria" (At 6.2-3). É importante ressaltar que das qualidades acima, a reputação é a única que não se adquire numa semana, adquire-se durante os anos de vivência numa localidade. Os frutos de uma pessoa não aparecem logo que ela se converte. Uma série de fatores pode ajudar a entender se uma pessoa frutificou ou não. Quando se é jovem, querendo entrar no ministério, mas não se tem raiz comunitária, o melhor que a pessoa pode fazer é permanecer numa igreja local, numa cidade e ali criar raízes. Deve ser discipulada a Cristo, trabalhar para ganhar o sustento, criar reputação, e só então, estará qualificada para o ministério. Barnabé foi escolhido para cuidar da recém formada igreja de Antioquia porque apresentava a qualidade espiritual necessária: "porque era homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé" (At 11.2224). Não apenas isto: ele tinha bom testemunho na cidade de Jerusalém. "José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho de exortação, levita, natural de Chipre, como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos" (At 5.36-37). Barnabé tinha raízes em Jerusalém, era conhecido por seu caráter, por ser um homem bom e cheio do Espírito Santo. Tinha raiz comunitária. 2 .3 . B o m T e s t e m u n h o

A palavra pedigree serviria para identificar a qualidade dos obreiros, não fosse ela uma palavra usada para identificar a qualidade ou raça de animais. Mas aqui, é usada, sem querer ferir a

Teologia Pastoral I

CETADEB

dignidade de ninguém, para mostrar que os obreiros escolhidos no Novo Testamento eram homens e mulheres de qualidade de vida inquestionável. Traduzindo para os dias de hoje, tinham CPF, ID e não constavam na lista dos devedores da cidade, ou seja, tinham pedigree. Este pedigree pode ser visto em duas pessoas que acompanharam os apóstolos em suas viagens: Timóteo e João Marcos. Paulo viu no jovem Timóteo um potencial para a obra de Deus. "Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente, mas de pai grego; dele davam bom testemunho os irmãos em Listra e Icônio" (At 16.1-2 - grifo do autor). Timóteo tinha bom testemunho das pessoas da cidade, isto é, raízes na cidade onde crescera, e os irmãos de Listra e de Icônio o recomendaram a Paulo. Esse "bom testemunho" é o pedigree do obreiro. João Marcos era um jovem que se envolveu desde cedo na obra de Deus. Na casa dele em Jerusalém, a igreja se reuniu durante a ferrenha perseguição que resultou na morte de Tiago (At 12.12). Quando o Espírito Santo enviou a Barnabé e a Saulo para os gentios, João Marcos viajou com eles pregando o evangelho (At 13.5). A escritura não nos diz por que Marcos abandonou a Paulo e Barnabé, voltando para Jerusalém (At 13.13), atitude gerou uma séria desavença entre Paulo e Barnabé que se dali em diante se separam também (At 15.36-40). Mas João Marcos, apesar de tudo, não desistiu, e é visto ajudando a Paulo quando este está no fim da vida (Cl 4.10 e 2 Tm 4.11). Pelo que se pode observar, João Marcos possui uma identificação com a igreja e os apóstolos, porque desde menino acompanhou as atividades de Jesus, residindo em Jerusalém, onde a igreja se reunia na casa dele. Através da atividade na igreja local os jovens obreiros podem criar raízes e serem observados no serviço ao Senhor. Os apóstolos levavam a sério esse detalhe.

50

Teologia Pastoral I Os obreiros por eles escolhidos eram homens conhecidos também em suas cidades. Um líder local conhece os costumes e o jeito de ser do povo. Ele consegue evangelizar e treinar discípulos porque tem relacionamentos na cidade. Conhece o barbeiro, o funcionário dos Correios, o dono da loja, o gerente do Banco, o dono da sapataria, o garçom, o dono do restaurante, o diretor da escola de seus filhos, o delegado, o prefeito, etc. Ele é gente do povo, da cidade, e através dos seus relacionamentos que pode levar muitos a buscarem a Deus.

3. V ida D e Trabalho Outro aspecto que deve ser seriamente considerado no chamamento, é que Deus não vocaciona preguiçosos. Ele chama os mais ocupados. Através de uma vida de serviço, o obreiro dá testemunho de que é trabalhador e passa a ser observado pelo pastor e pela igreja. É na vida congregacional que se aprende a servir a Deus e aos irmãos. Todos os que foram chamados por Deus para alguma missão no Antigo ou Novo Testamento estavam ocupados em alguma atividade profissional. Deve-se ter em mente Moisés que pastoreava o rebanho de seu sogro Jetro quando Deus o atraiu na sarça ardente (Ex 3.1). Outro exemplo é de Gideão que estava malhando o trigo que certamente acabara de ceifar - quando o anjo do Senhor o encontrou e o chamou (Jz 6.11). Davi cuidava das ovelhas de seu pai, quando foi chamado para ser ungido rei de Israel (1 Sm 16.11). Eliseu arava o campo à frente de doze juntas de bois, quando Elias o encontrou jogando sobre ele seu manto (1 Rs 19.19). Amós trabalhava como boieiro e colhedor de sicômoros, quando foi chamado (Am 7.14). Pedro, Tiago e João, pescadores, lançavam as redes, quando o Senhor Jesus os chamou (Lc 5.1-10). Mateus recebia os impostos, quando foi chamado a seguir a Jesus (Lc 5.27-28). Paulo, a serviço dos sacerdotes, perseguia e prendia os discípulos de Jesus, e fabricava de tendas (At 8.3; 18.3).

51

Teologia Pastoral I

CETADEB

Tudo isso pode ser resumido numa frase: Deus não chama os preguiçosos.

4. Vida D e S ubm issão Ainda outro aspecto é o da submissão à autoridade. O texto bíblico "Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação" (Rm 13.1-2), é peça-chave para entendermos que a questão da submissão à autoridade abrange todas as áreas da vida de uma pessoa, não apenas a vida espiritual. Quando alguém não aprendeu a submeter-se aos pais, ao professor e ao patrão, terá sérias dificuldades em submeter-se também ao seu pastor e ao Espírito Santo. Deus não espera de seus servos apenas obediência irrestrita, mas também o desenvolvimento de um espírito de submissão. Quando isto não acontece, a pessoa terá muita dificuldade em relacionar-se com os demais colegas de ministério. As heresias que surgiram no seio da igreja desde os primeiros séculos, têm aí suas raízes; vieram por pessoas que não souberam ouvir os mais velhos nem se submeteram às autoridades da igreja. É importante que os obreiros que viajam e têm um ministério itinerante, também estejam debaixo da autoridade de um obreiro mais antigo e experimentado na obra de Deus. O ministério itinerante é quando o obreiro não se fixa no trabalho de uma igreja local, mas viaja constantemente de um lugar a outro pregando a palavra de Deus. É preciso, portanto, deixar uma palavra àqueles que decidem por este tipo de ministério que só é duradouro e eficaz se o ministro estiver submisso à autoridade de um ministério, de outro pastor ou da igreja onde é membro, do contrário poderá ser questionado. 52

CETADEB

Teologia Pastoral I

Há muitos pregadores sem referencial congregacional, que a ninguém prestam contas, seja ao pastor da localidade, ao ministério da igreja, ou à sua ordem de ministros, buscando uma oportunidade de pregar nas igrejas sem a devida autoridade de alguém que lhe seja superior. Todo pregador ou ministro que opta por um ministério itinerante tem que necessariamente ter o respaldo de um supervisor e de uma igreja na cidade de origem. Certos obreiros itinerantes pressionam igrejas e pastores para que os recebam em suas igrejas, no entanto, como já foi mencionado, o verdadeiro homem de Deus não precisa fazer pressão à cata de espaço para pregar a palavra de Deus, porque o verdadeiro servo está sempre com a agenda lotada. Estes devem examinar a fundamentação de seu ministério à luz do ensino do Novo Testamento, especialmente nas cartas de Paulo, criando raízes na cidade antes de se aventurarem na obra. Ainda que o chamado do obreiro seja para o ministério itinerante, necessário se faz que crie raízes na igreja local, submetendo-se a um ministério, presbitério ou concílio que apóie e ore a seu favor. Trata-se de cobertura espiritual. Nenhum homem de Deus vive só. A solidão é a ruptura pela qual o Diabo seduz o melhor homem de Deus. Prestar contas a alguém é fundamental para o sucesso ministerial.

5. C onselhos P rático s A os O breiro s . Finalizando este tema, duas orientações são importantes aos novos obreiros do Senhor. Não se deve buscar resultados imediatos. Os frutos de um ministério só serão vistos anos depois, e não de imediato como tantos anelam ver. Certas semeaduras produzem com rapidez, como o feijão, o arroz e o trigo - rapidamente colhidos e consumidos, e precisam ser plantados ano após ano; mas, determinadas árvores demoram anos para que seus frutos apareçam, e depois frutificam regularmente a cada estação do ano. 53

Teologia Pastoral I

CETADEB

A videira produz uva todos os anos, seus ramos velhos e retorcidos - alguns com quase um século de vida brotam sistematicamente, de quando em quando, e a safra de seus vinhos são sempre as melhores. É possível ver velhas oliveiras dando frutos, e videiras ainda frutificando. Assim deve ser o ministério. Produzem-se frutos ao longo de toda a vida. Deve-se colocar no coração o desejo de desenvolver um ministério que influencie positivamente a geração em que se vive, sem se deixar impregnar pela nódoa da mentira, da falsidade, do egoísmo, da inveja, do adultério, da prostituição e do amor próprio. Do contrário, o ministério será como o fruto azedo de uma árvore que não pode ser apreciado, mas lançado fora. É necessário marcar a geração da qual se faz parte, isto é, marcar a vida daqueles que andam e vivem lado a lado, tornando-se conhecido como planta frutífera que produz fruto apreciado por todos. Logo, não se deve ter pressa. O mesmo Deus que chama, dará a recompensa. Não se deve fazer do ministério um emprego. O ministério exige do obreiro renúncia a toda ganância material. Equivoca-se o obreiro que pensa em enriquecer pela via ministerial, demonstrando que não entendeu o chamamento divino nem a dimensão do propósito de Deus. Os dons que Deus concede ao obreiro não têm como objetivo o benefício próprio, mas a edificação dos outros. A vida ministerial é de despojamento contínuo; é uma vida de entrega diária, de morte, de negação do eu, das riquezas e da fama. Trilhar pelo caminho ministerial pensando em enriquecimento é um grande equívoco. Aliás, viver a vida cristã, independentemente de ser um ministro do evangelho ou não, pensando em enriquecimento, é um desvio do propósito de Cristo e de seu evangelho; é andar na contramão de Deus, pois todo crente deveria obedecer ao evangelho de Cristo, fugindo da ganância, do desejo de se enriquecer, e viver a vida cristã dentro dos moldes do evangelho. 54

CETADEB

Teologia Pastoral I

A teologia da prosperidade não encontra respaldo nos ensinamentos de Cristo. Há uma prosperidade que vem pelo evangelho, e por ela o cristão é contemplado enquanto vive. O ministério não terá base, se o obreiro não estiver alicerçado na vida da igreja local, se não estiver submisso a pastores ou aos órgãos da igreja, se não estiver fundamentado nas escrituras e no ensino apostólico. Esses parâmetros, certamente servirão de orientação à vida ministerial. Questão para reflexão: A quem presto contas de minhas atividades? Estou submisso a alguém, ou sou totalmente independente? Centralidade da reflexão: A submissão e a prestação de contas são fundamentais para o crescimento do obreiro. Leve-se em conta que toda independência e rebelião têm sua origem em Satanás, e que a obediência tem sua origem em Jesus Cristo.

A P r ep a r a çã o P a r a O M in istério esta lição o estudante terá esclarecimentos de como uma pessoa pode se preparar para o ministério, desempenhando a tarefa que lhe foi por Deus designada agindo com sabedoria, prudência e plena de capacitação.

N

A preparação para o ministério pode ser bastante diversificada. No passado, quando não havia treinamento teológico em escolas bíblicas, cursos por correspondências, seminários e afins, algumas igrejas reuniam pessoas de diversas cidades e realizavam seminários intensivos para capacitá-las como obreiros para o ministério. 55

Teologia Pastoral I

CETADEB

Hoje as facilidades do mundo das comunicações agilizaram o processo desse aprendizado bíblico através de livros especializados no tema, de programas de rádio, de televisão e da Internet. Não importa o meio utilizado, o mais importante é ter em mente que, por ser o ministério uma honra e privilégio outorgados por Deus o obreiro precisa fazer sua parte preparando-se academicamente para o exercício do ministério.

1. A P reparação Preparar-se não é desperdiçar tempo nem dinheiro. João kolenda, costumava ilustrar o tempo gasto por um aluno em seus estudos, a alguém que afia o machado antes de entrar na floresta para cortar árvores. Enquanto os outros lenhadores cortam poucas árvores, o que afia seu machado ainda os alcança, tempos depois e os supera no trabalho. O tempo que se gasta na preparação não tempo jogado fora. Joga-se fora o tempo de outras maneiras, mas nunca se dedicando ao estudo e a oração.

O obreiro deve se preparar para servir a Deus oferecen lhe o melhor de seu tempo e de sua vida, porque quer trabalhar para Deus. Ele se prepara sem se preocupar com os títulos e cargos na igreja. Ele tem em mente Deus e sua obra. Os títulos nem sempre mostram o peso e a envergadura do ministério - por isso não se deve cobiçá-los nem nutrir por eles grande apreço. Quando se é jovem anela-se os títulos porque eles dão uma falsa noção e posição de governo e autoridade, mas ao longo dos anos descobre-se que o que concede autoridade e poder ao obreiro é a comunhão diária com Deus e os frutos do ministério. Isto pode ser confirmado pela experiência de Paulo. Paulo, logo que começou seu ministério, ao que parece, queria ser reconhecido como os demais apóstolos que andaram com Jesus, por isso defendia e se empenhava em ter seu chamamento reconhecido, uma vez que muitos irmãos não o reconheciam como apóstolo. 56

CETADEB

Teologia Pastoral I

Ele se defendia argumentando: “Porque suponho em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos" e "eu sou apóstolo dos gentios" (2 Co 11.5; Rm 11.13). Depois, no decorrer dos anos, Paulo não mais se interessou pelo que os homens pensavam dele, mas com a opinião de Deus a seu respeito. Ser um apóstolo não era mais motivo de orgulho, e sim de desprezo. "Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens" (ICo 4.9). Que contraste com os que se dizem apóstolos nos dias atuais. Mais tarde, Paulo afirma ser "o menor dos apóstolos" (1 Co 15.9). Imagine o homem que recebeu de Jesus, nos céus, a revelação do "mistério oculto", não queria se sobressair sobre os demais. E finalmente, não reivindica direito algum, apenas reconhece sua real condição: "Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal" (lTm 1.15). Tratando do ministério e da grandeza do chamamento, o comentarista Mathew Henry, (Mathew Henry's Commentary, Zondervan Publishing House, p 1821), dissertando sobre o texto de 1 Coríntios 14.1-6, escreveu: "É nossa opinião de ministros, que deveríamos evitar os extremos. Os apóstolos não devem ser super valorizados, pois são ministros, não mestres; despenseiros, não senhores. Eram apenas servos de Cristo e nada mais, ainda que servos do mais alto escalão, pessoas que cuidavam da despensa, provendo alimento e designando tarefas aos demais. Veja, é um grande abuso querer ser senhor dos servos, quando se é também servo, e exigir que se obedeça à sua autoridade. Pois os apóstolos não passavam de servos de Cristo, empregados dele, por ele enviados para serem despenseiros dos mistérios de Deus; mistérios que estavam guardados por gerações. Não arrogavam ter autoridade querendo dominar sobre os demais, apenas proclamavam a mensagem de Cristo."

57

Teologia Pastoral I

CETADEB

Tendo em vista os comentários de Henry, pode-se afirmar que o ministério é um chamamento especial com o fim de se levar adiante o propósito de Deus na terra. O obreiro é chamado para representar a misericórdia, o amor, a graça e a justiça divina, isto é, representar a Deus na terra, como embaixadores dele. "De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo" (2 Co 5.20). O embaixador, sempre que fala, pronuncia-se em nome de seu presidente ou do rei. O obreiro representa a Jesus na terra. Deus valoriza o homem, por seu coração quebrantado, humildade e obediência, e não pelo título. "O obedecer é melhor do que sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros" (1 Sm 15.22). O que torna nobre o ministério não são as posições nem os cargos que se galgam no meio denominacional - conseguido às vezes por meios discutíveis - mas a verticalidade da comunhão com Deus e a execução dos propósitos divinos na terra. Portanto, uma pessoa não deve se preparar para o ministério visando a um título ou a um cargo; mas deve preparar-se para Deus. Neste sentido, sempre é bom manter viva a chama do chamamento e ter em mente as palavras de Paulo: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra" (2 Tm 3.16-17).

2. M antendo O Vigor P rofético D o C ham am ento Para que o chamamento ministerial não arrefeça e diminua diante das dificuldades, o obreiro deve manter o foco da visão e os olhos fitos em Deus, sem jamais esquecer seu chamamento. Paulo afirmou: "Sou grato para com aquele me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério" (1 Tm 1.12). Paulo se fortalecia em Cristo Jesus.

58

CETADEB

Teologia Pastoral I

É até possível que as atividades da igreja sufoquem o vigor da chamada, especialmente quando o serviço se torna uma rotina, ou quando se tenta "abraçar" tudo o que vêm à mão. Paulo teve que lembrar a Timóteo do chamamento que tivera: "Este é o dever de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom combate" (1 Tm 1.18). Timóteo precisava refletir sobre a ocasião em que recebeu imposição de mãos com profecias; e, certamente, através das profecias Deus lhe falou. As profecias podem fazer parte do chamamento de uma pessoa. Uma palavra profética proferida por alguém que nunca viu aquela pessoa antes, alguém que esteve na cidade ou na igreja de passagem, ou proferida pelos líderes locais, serve de confirmação ao que Deus de antemão vinha falando ao coração. Refletir sobre as profecias revigoram o chamamento. O obreiro haverá de se lembrar de alguma profecia, visão ou sonho que confirmou seu chamamento para o ministério. "Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto" (1 Tm 4.15), disse Paulo a Timóteo. O sentido de "diligente", conforme o dicionário é de alguém zeloso, cuidadoso; vigilante e atento. Quando se medita no que Deus falou ao coração, o espírito se revigora e o chamamento volta a ficar aquecido. E, ao que tudo indica, o próprio Paulo impôs as mãos sobre Timóteo e sobre ele profetizou, pois adverte novamente: "Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos" (2 Tm 1.6). A seguir, o estudante terá algumas orientações que o ajudarão a manter acessa a chama do chamamento.

59

Teologia Pastoral I

CETADEB

3. C uidando Da s D isciplinas D o Espírito A maior parte dos teólogos acredita que o ser humano é tripartite, isto, cada um de nós tem corpo, alma e espírito; e o "homem interior" de que a Bíblia fala situa-se na área do espírito. O corpo é a parte exterior; a alma, a vontade, emoção e intelecto. Portanto, cultivar o espírito significa ir além da esfera da alma. Como cultivar o homem interior? Paulo afirmou: "O mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Ts 5.23). É no espírito do homem, em seu ser homem interior, que é cultivada a comunhão com Deus. Neste versículo, Paulo usa três palavras gregas distintas: pneuma, que é sopro ou vento e refere-se ao espírito; psique, aqui traduzida como alma (mente); e soma que é a palavra grega para corpo. Um dos elementos do homem interior é a consciência. Quando o espírito é purificado ou limpo, a pessoa tem uma "boa consciência". O escritor da carta aos Hebreus exorta os crentes a terem uma consciência purificada. "Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura” (Hb 10.22 - grifo do autor). Outros textos que tratam sobre o tema estão em Hebreus 13.18, ensinando a ter boa consciência. 1 Pedro 2.19 exorta o crente a ter boa consciência para com Deus, e 1 Pedro 3.16 fala em viver sem problemas de consciência diante da sociedade. Aqueles que ensinam a palavra de Deus e lidam com pessoas devem demonstrar o conhecimento de Deus na terra, encarando as questões da vida interior como tema de transcendental importância, porque o cultivo da vida interior é que determinará o sucesso do ministério na terra. Evelyn Underhill no início do século vinte disse: “É requisito básico que um ministro de Deus mantenha sua vida interior em 60

CETADEB

Teologia Pastoral I

perfeito estado de saúde. Sua comunhão diária com Deus deve ser sólida e verdadeira. Creio que o ministro deve ter em mente, de forma clara, plena de riqueza e profundidade a majestade e esplendor de Deus; depois contrastar seu interior, sua alma, com esse magnífico esplendor. Logo, possuir clareza quanto ao tipo de vida interior que seu chamamento requer." (UNDERHILL, Evelyn, Concerning the Inner Life of the House of the Soul (Tratado da Vida Interior e da Casa da Alma), London: Methuen & Co. Ltd. 1926). Por certo, a autora, referia-se à experiência de Isaías que viu contrastada na glória de Deus o negrume de seu pecado e de sua vida interior. 3 .1 . C u l t iv e O T e m o r A D eu s

0 temor a Deus mantém o obreiro afastado do pecado, mantém o espírito limpo e permite ao homem viver uma vida de intimidade com o Senhor. "A intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança" (SI 25.14). Este texto de Salmos mostra que a intimidade com Deus vem pelo temor. "É para os que o temem". Quando o obreiro perde o temor de Deus - e passa a tratar o ministério de maneira vulgar, técnica, profissional e empregatícia - perde também o referencial de seu chamamento que é a comunhão com Deus. O caminho para a intimidade com Deus passa pelo temor a Deus, pois é a única coisa que o mantém afastado do pecado. Por que as pessoas vivem em pecado? Porque perdem o temor a Deus. Paulo aborda extensamente este tema. "Para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior" (Ef 3.16), indicando que o fortalecimento e aperfeiçoamento do homem interior é realizado única e exclusivamente pelo Espírito Santo. Pedro orienta as irmãs a não cuidarem apenas do seu exterior, mas a adornarem o seu interior (1 Pe 3.4). As disciplinas espirituais mantêm o espírito, a alma e o corpo purificados. "Tendo, pois, ó amados, tais promessas,

61

Teologia Pastoral I

CETADEB

purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus" (2 Co 7.1). Recomenda-se que este tema seja estudado com maior profundidade, pois dele depende a vida ministerial. Algumas frases curtas, de homens de Deus no passado ilustram a importância de se cultivar o temor a Deus. O temor a Deus livra o homem de ser violento. Essa foi a dedução de Abraão (Gn 20.11). O temor do Senhor é o começo de toda sabedoria (Pv 1.7). O temor leva sempre à sabedoria, isto é, ao próprio Deus (Pv 2.1-22). Quando o homem teme a Deus desvia-se do mal (Pv 3.7). A escritura registra que Jó se desviava do mal, e foi essa atitude que o manteve fiel a Deus (Jó 1.1). O temor a Deus mantém o crente na rota certa. O caminho para a intimidade com Deus passa por uma vida de retidão e de justiça. Deus dá muito valor à vida interior do homem. As palavras "intimidade" e "conhecer" na Bíblia são as mesmas usadas quando a escritura trata do relacionamento sexual entre homem e mulher. Homem e Deus relacionam-se intimamente tal qual homem e mulher dentro da intimidade do casamento.

4. C ultive A M ente É bom recordar que cada crente foi lavado, purificado pelo sangue de Jesus e aperfeiçoado no homem interior, no entanto, se não cuidar da mente, e a cultivar com coisas boas, ela se contaminará e prejudicará o chamamento. A psique ou mente, é a parte manifesta da alma, que é composta de intelecto, vontade e emoções que precisam ficar sob o controle do Espírito Santo. Com o intelecto o ser humano pensa, analisa, reflete e assimila coisas boas ou ruins. Com a vontade, tem o poder da decisão, de querer ou não. E com as emoções, ele ri, chora, pula, alegra-se, se entristece, fica tomado de raiva, dá vazão à ira, etc. Este é um tema que o estudante verá ao longo do curso.

62

CETADEB

Teologia Pastoral I

O intelecto, como um jardim, tem de ser cultivado. É preciso alimentá-lo com boas leituras sejam de livros evangélicos ou culturais. Existe muita literatura de editoras não evangélicas que tratam de temas cristãos. Romancistas como Sholen Asch, judeupolonês, que escreveu Moisés, Maria, o Apóstolo, o Profeta e o Nazareno apresentam dados históricos e culturais que muito edificam. Taylor Caldwell, romancista inglesa, que escreveu o clássico Médico de Almas, que trata da vida de Lucas; e o Apóstolo, falando de Paulo; e John Milton, escritor de O Paraíso Perdido, são obras que ajudam a cultivar o intelecto, especialmente recomendadas para o obreiro cristão. E existem muitos outros autores. Todo obreiro do Senhor deve manter a mente ocupada com boas leituras. Paulo sabia que não podia depender de sua retórica e de seu conhecimento para pregar a palavra de Deus, e sempre realizou milagres e curas, e converteu tanta gente, unicamente pela capacitação do Espírito Santo, mas Paulo conhecia muito bem a literatura de sua época, falava hebraico, latim e grego fluentemente, e testemunhou que fora educado aos pés de Gamalliel, um dos maiores sábios da época. Além de seu conhecimento bíblico, Paulo conhecia as leis romanas e gregas que emergem aqui e ali nas páginas do livro de Atos dos Apóstolos. Conhecia a tradição hebraica, pois menciona Janes e Jambres (2 Tm 3.8), e não conseguia ficar longe de seus livros e dos pergaminhos (2 Tm 4.13). Ele cita o poeta Epimênides que viveu quinhentos anos antes de Cristo (Tt 1.12), e podia discorrer sobre qualquer tema de sua época. Paulo escreve sobre o tema: “Transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2). E mente aqui neste texto não é psique, mas intelecto, do grego nous. Paulo está afirmando que o intelecto também precisa ser renovado ou 63

Teologia Pastoral I

CETADEB

atualizado. Quantos obreiros ficam "ultrapassados" com o tempo, exatamente por não renovarem suas mentes. É evidente que quem faz a obra é Deus, mas o conhecimento é o acessório necessário para a realização desta. Serve-se a Deus com aquilo que é de Deus. Nada, a não ser o que é dado por Deus pode ser usado no serviço do Senhor. 4 .1 . C u id a n d o D o s P e n s a m e n t o s O u I m a g in a ç õ e s

Através dos pensamentos entram coisas boas e ruins na mente humana. Quando se dá vazão à imaginação pode-se cair num mundo irreal e ser por ele tragado. Talvez por isto, Paulo pede que o crente leve "cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e estando prontos para punir toda desobediência" (2 Co 10.5). Os pensamentos do obreiro devem ficar atrelados a Cristo, em obediência a Deus. E que coisas devem ocupar seus pensamentos? As demandas do apóstolo nesta área são muito fortes. Só devem ocupar os pensamentos o que for verdadeiro, nobre, correto, puro, amável, de boa fama, e se nessas coisas houver algo de excelente e de louvor (Veja o texto de Filipenses 4.8). É um desafio, para o obreiro ter a mente em Cristo (1 Co 2.16). Levar todo pensamento à obediência de Cristo significa subjugar a imaginação para que tudo que é mau, pernicioso, lascivo, egoísta, imoral, errado e demoníaco fique rigidamente sob controle. Vive-se hoje num mundo em que não adianta controlar as pessoas com proibições, mas orientá-las a viver de maneira sadia, por isso, uma das maneiras de conservar vivo o chamamento é a santidade, mantendo a mente limpa, alimentando-a somente com coisas que a edificam. 4 .2 . C u id a n d o D a s E m o ç õ e s

Com as emoções choramos, rimos, pulamos, gritamos, gememos, etc. Jesus também, só que ele controlava bem suas emoções. Chorou, emocionou-se e irou-se quando foi preciso. Este

64

CETADEB

Teologia Pastoral I

controle emocional é recomendado por Tiago: "Seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar" (Tg 1.19). Obreiros há que não cultivam a paciência, a sobriedade e o equilíbrio, por isso perdem o controle por qualquer coisa. Como obreiros, as emoções devem ficar sob o controle da "mente de Cristo". Paulo fala a Timóteo que Deus "não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio" (1 Tm 1.7 - NVI) ou moderação. E, moderação ou equilíbrio vem da mesma palavra grega para disciplina e autocontrole. Este tema será tratado com maior profundidade quando for abordada a questão do equilíbrio entre caráter e dons. 4 .3 . C u id a n d o D o C o r p o

O corpo é a morada do Espírito. Existe a tendência de se viver os extremos, menosprezando o corpo, por considerá-lo pecaminoso, ou valorizando-o mais que a alma e o espírito. Todo obreiro deve buscar o equilíbrio no trato com o corpo, zelando por ele como o faz com a alma e o espírito, afinal, o corpo faz parte de um todo conforme está explicdo neste capítulo. Quando Paulo fala, “esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão" (1 Co 9.27), não se refere ao corpo em si, como se estivesse mutilando-se fisicamente, mas ao todo. Ele entendia que todo o seu ser precisava ficar sob severa disciplina. Existem ocasiões em que o corpo precisa ser dominado para alcançar a recompensa. Nos versículos anteriores a este texto, Paulo fala do "atleta que em tudo se domina" (1 Co 9.25) para alcançar o alvo. E quando anela abandonar o corpo por uma habitação celestial (2 Co 5.1- 4) é porque se sentia desgastado pelas constantes viagens e cuidados com a igreja. Paulo vivia numa sociedade em que este assunto era discutido amplamente pelos gregos. Quando chegou a Atenas os

65

Teologia Pastoral I

CETADEB

"filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele" (At 17.18). Os seguidores de Epicuro (341-270 a.C.) defendiam o prazer como um ideal de vida, e eram conhecidos pela frase: "comamos e bebamos que amanhã morreremos", não acreditando no juízo final (1 Co 15.32). Os seguidores de Zeno (contemporâneo de Epicuro) apelavam mais à razão e eram comedidos, sendo conhecidos como estóicos. Parece que Paulo não se posicionou ao lado de Epicuro ou de Zeno, mas desenvolveu a idéia de que se deve "possuir" o corpo em santificação: "Que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra" (1 Ts 4.4) e isto ele falou no contexto de se abster da prostituição e da lascívia, "porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação" (v.7). Quando se desonra o corpo com práticas promíscuas, a alma e o espírito também são afetados. As conseqüências de uma vida de impureza afetam o relacionamento com Deus e com o próximo. Paulo dá a entender que o contato sexual não se restringe a um mero contato físico, afirmando que quando se tem relação sexual com uma meretriz, o ato atinge também o espírito. "Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com ela? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele. Fugi da impureza" (1 Co 6.15-17). Paulo não via problemas quanto aos alimentos, pois os considerava dádivas divinas (1 Co 6.12-13), afirmando que "tudo o que Deus criou é bom, e, recebido com ações, de graças, nada é recusável, porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado" (1 Tm 4.4-5), mas entendia que a prática sexual ilícita prejudica o espírito e corpo. 4 .4 . E x e r c íc io s F ísic o s

Os cuidados com o corpo não devem restringir-se aos pecados sexuais, mas também a alimentação e o exercício físico. A 66

Teologia Pastoral I sociedade de hoje não dá tempo para que se exercite o físico. No passado, os obreiros andavam a pé ou a cavalo e se exercitavam enquanto pregavam a palavra de Deus. Hoje, dependem do automóvel para ir à esquina, e compram tudo o que querem num mesmo lugar, sem precisar caminhar. Este sedentarismo diminui a longevidade dos obreiros das grandes cidades. O mau colesterol se acumula nas artérias e causa infarto. Quando se exercita o corpo, o organismo queima as gorduras e produz o bom colesterol, o que reduz as chances de enfermidades cardíacas, quem sabe, por não cuidarem do seu corpo tantos servos de Deus não completam a carreira morrendo antes do tempo. Ao lado do cuidado com o físico, o obreiro deve zelar para que o corpo descanse o suficiente. Deus descansou, diz a Bíblia, deixando exemplo de que o descanso é importante para o corpo. Ele estabeleceu que um dia da semana deve ser para descanso do corpo. O obreiro que não tira um dia de folga sequer, afastando-se de seus compromissos diários, poderá adquirir um estresse que o afastará muito tempo da obra. Poder-se-ia estudar por muito tempo a questão do cuidado com o corpo e com a saúde física, no entanto basta esta rápida abordagem para mostrar a importância de se cuidar não só da alma, mas do corpo também. É bom lembrar o quanto Paulo se preocupava com seu discípulo Timóteo. Ao que parece, Timóteo sofria muito, e Paulo o recomenda: "Usa um pouco de vinho, por causa de teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades" (1 Tm 5.23). O vinho era de uso medicinal. Ele também aborda a questão do exercício físico, porque em seus dias os gregos davam excessivo valor ao corpo. Por isso avisa: "Pois o exercício físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa" (1 Tm 4.8). Em comparação com os exercícios espirituais, o exercício físico tem pouco valor, mas é de grande 67

Teologia Pastoral I

CETADEB

ajuda. O pouco que é proveitoso ajuda a pessoa a manter uma boa forma física. Um homem que não cuida de sua saúde tende a engordar, perde a mobilidade e se cansa com muita facilidade. Todos estes cuidados contribuem como forma de preparação para uma vida ministerial plena, capacitando o ministro para o serviço do Senhor. Questões para reflexão: Estou me preparando adequadamente para cumprir a tarefa que Deus me designou? Estou cuidando cultivando meu intelecto, meu espírito e meu corpo para ser um ministro de Jesus Cristo? Centralidade da reflexão: Deus não nos chama quando estamos plenamente preparados. Ele espera de nós que nos preparemos todos os dias para o exercício ministerial. Só os capacitados e plenamente comprometidos com Deus serão vencedores.

A tividades - Lição II > Marque "C" para Certo e “E" para Errado II O Depois de ungido rei de Israel, Davi voltou para o campo cuidar das ovelhas de seu pai. □ Quando a igreja precisou escolher seus auxiliares, os apóstolos estabeleceram os parâmetros de conduta. □ Outro aspecto que deve ser seriamente considerado no chamamento, é que Deus não vocaciona preguiçosos. ( O Um outro aspecto que deve ser considerado chamamento, é o da submissão à autoridade.

no

5) (ÜÜ O obreiro deve fazer do ministério um emprego. 6 ) ® Para que o chamamento ministerial não arrefeça e diminua diante das dificuldades, o obreiro deve manter o foco da visão e os olhos fitos em Deus.

68

CETADEB

Teologia Pastoral I

©

a $

© a

Lição III

v

,

ffl

g raf

Teologia Pastoral I

CETADEB

70

CETADEB

Teologia Pastoral

O M in istro e seu S u sten to

entre todos os tem as que envolvem o estudo de teologia pastoral, o que trata do sustento do obreiro é tam bém de fundam ental im portância, porque é no cam po das finanças que o obreiro é mais confrontado moral e eticam ente.

D

M oralm ente, porque precisa m ostrar honestidade no trato com o dinheiro que não é dele, mas de Deus, e eticam ente, porque está em suas mãos, m uitas vezes, a decisão de gastar e investir os recursos que os fieis entregam para a obra de Deus. O dinheiro fez que m uitos santos de Deus pecassem , e as escrituras têm vários exem plos, entre eles o de Balaão que se corrom peu financeiram ente diante de Balaque e de Geazi que cobiçou o dinheiro e as riquezas de Naamã, o com andante sírio. A questão do sustento do obreiro foi abordada pelo Senhor Jesus Cristo e por dois de seus apóstolos, Pedro e Paulo. A linha m estra deste estudo será a seguinte: O m esm o Deus que cham a a pessoa para o m inistério o sustenta. Quando se cham a alguém para fazer um trabalho em casa, a pessoa que o contrata, o paga. O m esm o princípio se aplica ao m inistério. Deus cham a, Deus paga. A form a com o Deus paga seus obreiros, é bastante variada, e é o que o aluno verá neste estudo, pois Deus não se lim ita a um m étodo apenas. Ele age de m uitas m aneiras.

71

CETADEB

Teologia Pastoral I

1. Exam inando O C onceito D e S e Viver D e Tempo I ntegral E D a Vida P ela Fé. Ao longo dos anos os obreiros assimilaram a idéia de que viver tempo integral no ministério significa deixar de trabalhar numa profissão e passar a ganhar salário da igreja ou de uma agência missionária. Tal idéia tem levado pessoas a abandonarem seus empregos, afirmando que precisam "viver pela fé". Por isso é necessário esclarecer e conceituar biblicamente o que significa "viver pela fé" e o que é viver de "tempo integral". 1.1. T o d o s Vivem Pela "P ela

Fé" E De "Tem po I ntegral ”

Tanto o que trabalha num emprego secular ou tem sua empresa comercial como o que depende da igreja para seu sustento depende da fé, pois a escritura afirma que sem fé é impossível agradar a Deus. A pessoa que trabalha num emprego qualquer, quer seja como empresário quer seja como empregado também vive pela fé, porque se a sua empresa ou a de seu patrão não vai bem, não receberá seu salário no fim do mês. A fé em Deus, um ingrediente necessário ao dia-a-dia do cristão está em tudo o que ele faz, tanto no campo secular quanto no religioso, até porque, na vida do cristão, a vida secular e a religiosa estão intimamente ligadas. Na realidade, não existe diferença entre vida secular e vida espiritual. Obviamente que quando se tem um emprego que absorve totalmente o tempo impedindo o ministro de fazer a obra de Deus, tal atividade deve ser repensada. As atividades, isto é, os empregos, (chamado de trabalho secular) facilitam ao obreiro engajar-se na obra de Deus sem precisar depender dela para seu sustento. Todavia, é possível que seja sustentado pela obra, assunto que será visto ao longo deste estudo.

72

Teologia Pastoral I

CETADEB

Tanto o que trabalha para seu próprio sustento, quanto o que recebe salário da igreja, vive de "tempo integral", pois o verdadeiro discípulo de Jesus vive cem por cento para Deus. E isto requer fé. O conceito de que é preciso largar o emprego para se dedicar em "tempo integral" ao ministério precisa ser revisto. Um verdadeiro discípulo de Jesus ou um ministro vive de maneira integral para Cristo, usando do seu emprego ou de sua empresa para poder viver. E, quando começa a receber seu sustento da igreja, deve encarar o fato como responsabilidade ainda maior. O chinês Watchman Nee, em seu livro A Vida Normal da Igreja Cristã, está certo quando afirma: "Se um homem confia em Deus, que vá e trabalhe para ele. Se não, que fique em casa, pois lhe falta a primeira qualificação para o trabalho. Há uma idéia predominante de que, se um obreiro tem uma renda estabelecida, ele pode ficar mais à vontade para o trabalho e, conseqüentemente fazê-lo melhor, mas, para falar com franqueza, na obra espiritual há necessidade de uma renda incerta, pois essa necessita de íntima comunhão com Deus... Deus deseja que seus obreiros recorram somente a ele em busca de recursos financeiros, e assim não deixem de andar em estreita comunhão com ele e aprendam a confiar nele continuamente..." (NEE, Watchman - A Vida Normal da Igreja Cristã, Editora Cristã Unida, p. 118). Deve-se refletir quanto a esta radical declaração, pois o autor ainda pergunta: "De quem somos nós trabalhadores? Se trabalhamos para homens, então eles devem nos sustentar; se, porém trabalhamos para Deus, então a ninguém mais devemos nos dirigir, senão a ele, embora ele possa satisfazer nossas necessidades por meio de nossos irmãos." (Ibid p 121). Assim, se um obreiro decidir trabalhar no ministério largando seu trabalho ou empresa, deve confiar que Aquele que o chamou para a Obra haverá de suprir cada uma das suas necessidades. Paulo deixou exemplo nesta área afirmando: "O meu

73

Teologia Pastoral I

CETADEB

Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma das vossas necessidades" (Fp 4.19).

2. O E nsinam ento D e J esus E D os A póstolos A Bíblia revela alguns ensinamentos de Jesus a seus apóstolos, e de seus apóstolos ao povo a respeito do sustento do obreiro. Jesus apresentou aos apóstolos um modelo de vida simples: "Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre nos vossos cintos, nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de sandálias, nem de bordão: porque digno é o trabalhador do seu alimento" (Mt 10.9-10). No evangelho de Lucas ele faz nova proposta: "Quando vos mandei sem bolsa; sem alforje e sem sandálias, faltou-vos porventura alguma cousa? Nada, disseram eles. Então lhes disse: Agora, porém, quem tem bolsa tome-a, como também o alforje..." (Lc 22.35-36). A partir deste texto pode-se concluir que Jesus não dogmatizou quanto ao sustento e deixou bem claro que, com sua ausência, eles encontrariam muitas dificuldades, e precisariam levar dinheiro com eles. Quando estavam com Jesus, nada lhes faltou porque dependiam da liderança do Mestre e das provisões que ele fazia para o sustento do grupo, mas depois que Jesus deixasse a terra, precisavam da bolsa e do alforje, isto é, teriam que providenciar o sustento. Jesus também os ensinou a não confiarem nem dependerem dos seus próprios recursos para fazerem a obra de Deus. Alguns irmãos dizem: "Se eu tivesse dinheiro, investiria tudo na obra de Deus”. Eis aí o engodo de Satanás. Se alguém tem dinheiro, raramente investe no reino, pois o princípio de Deus é que a obra seja feita em total dependência dele e não dos recursos humanos. Os que menos têm são os que mais fazem. Jesus disse: “Vocês merecem o sustento. Eu os pagarei". 74

CETADEB

Teologia Pastoral I

2 . 1 . 0 S u s t e n t o De J e s u s P o r A m ig o s C o l a b o r a d o r e s

Durante os três anos e meio do ministério de Jesus, uma equipe de mulheres o acompanhava, servindo-o com seus bens. Ele ia de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o reino de Deus, juntamente com os Doze. Diz o texto: "E também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens" (Lc 8.2-3). Essas mulheres, algumas com bastantes recursos financeiros ajudavam no ministério de Jesus. Isto significa, que elas nada deixavam faltar para o Mestre, providenciando tudo de que Jesus precisava. Acima de tudo, porém Jesus orientou os discípulos a viverem com simplicidade. Quantos obreiros cometem o engano de fazerem do ministério fonte de lucro. 2 .2 . P a u l o E A D o u t r in a D o S u s t e n t o F in a n c e ir o

Uma coisa que deixa alguns comentaristas bíblicos perplexos é que Paulo ensinava sobre o valor de se receber donativos, de se trabalhar e ser sustentado pela obra, enquanto ele mesmo trabalhava para seu sustento. Para entender essa questão, é necessário observar que os judeus, naquela época, regidos pelo Talmude Babilónico, eram orientados a terem uma profissão para que pudessem exercer uma atividade digna entre os habitantes do lugar onde fossem residir durante a Dispersão. "Ninguém, nem mesmo os rabinos ou os juizes, tem o direito de viver sem trabalhar. Viver de caridade é apenas o recurso extremo. Trabalhar com as próprias mãos é o primeiro dever de um judeu, seja qual fo r o tempo que ele passa estudando, orando, julgando, ensinando" (ATTAU, Jacques, Os Judeus, o Dinheiro e o Mundo, Futura, pp 138-139).

75

Teologia Pastoral I

CETADEB

De maneira geral os judeus espalhados pelo mundo seguiam as orientações do Tamulde Babilónico o que lhes permitia viver em qualquer lugar da terra. Por exemplo, Priscila e Áquila, o casal expulso com os demais judeus de Roma, encontrou-se com Paulo em Corinto e pela familiaridade profissional Paulo uniu-se ao casal para fazer tendas (At 18.1-3). Fazendo tendas durante a semana Paulo supria suas necessidades e dos seus colaboradores. “De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes; vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim..." (At 20.33-35). Embora Paulo trabalhasse para se sustentar, a Bíblia revela que houve um período, em que ele “se entregou totalmente à palavra" (At 18.5), o que significa que naquele período ele não precisou trabalhar a fim de prover seu sustento. Tudo isso leva a concluir que é importante que se tenha uma profissão, e, no entanto, é possível ao obreiro viver da obra. A recomendação do Talmude Babilónico quanto à importância de se ter uma profissão mantém-se atual, pois são várias as vantagens para o obreiro que possui qualidades profissionais. São elas: Mobilidade. Quando se tem uma profissão, é possível realizar a obra de Deus em qualquer lugar, ou seja, mudar para uma cidade onde não há igrejas e ali estabelecer a obra de Deus. Liberdade. O Talmude babilónico recomendava que os rabinos, ou qualquer judeu tivessem autonomia, e exercessem uma profissão para que não fossem empregados de alguém, impedindo, assim, o retorno à condição de escravo. Tais recomendações levaram os judeus da época de Paulo, e depois ao longo dos séculos, a exercerem uma profissão autônoma. Esse exemplo permite concluir que o obreiro que tem uma profissão não perde sua liberdade e pode administrar seus negócios sem prejuízo da obra de Deus.

76

CETADEB

Teologia Pastoral I

Sustentabilidade. Enquanto a obra não cresce, e não existe recurso

financeiro, o obreiro pode ser auto-sustentável. Foi assim que começaram as Assembléias de Deus no Brasil. Quando os primeiros dois missionários chegaram ao Brasil, um trabalhava e o outro saía para pregar o evangelho, até que eles conseguissem ajuda das igrejas da Suécia para seu próprio sustento no país. Trabalhavam, na maior parte do dia para seu sustento, e se dedicavam depois à obra. Estes três fatores ajudaram Paulo em seu ministério. Onde quer que fosse, durante a semana, se necessário, ocupava-se de fazer tendas. Depois, cuidava da obra do Senhor. Muitos jovens obreiros passam extrema necessidade quando iniciam uma igreja porque não têm uma profissão autônoma que lhes ajude no seu sustento. 2 .3 . A A u t o r id a d e D e P a u l o N a Q u e s t ã o D o S u s t e n t o E D o T r a b a lh o .

O fato de Paulo, como apóstolo, trabalhar para se manter deu-lhe autoridade para estabelecer a questão do trabalho como um dos ensinos fundamentais da doutrina apostólica. Algumas igrejas ou ministérios estabelecem regras de que nenhum irmão deveria receber ajuda de tempo "integral" da igreja, sem antes experimentar a importância do trabalho em sua vida. De maneira geral, os que nunca trabalharam, quer em empresas quer nas lidas diárias do campo ou da cidade, não sabem valorizar a importância do trabalho, nem dão valor ao custo do dinheiro. 2 . 3 . 1 . 0 T r a b a lh o D is c ip l in a O C o r p o E A M en te

Com ele o homem aprende a ter responsabilidade e a cumpri-la, a ter mais agilidade e atenção a tudo que faz. Quando um moço é acostumado a levantar-se cedo para o trabalho, a dormir na hora certa, ao entrar para o ministério não será relapso com seu tempo e com os horários a cumprir. 77

Teologia Pastoral I

CETADEB

Aprenderá a dormir apenas o tempo necessário e a levantar-se cedo para aproveitar bem o seu dia. Tais atitudes são fundamentais para fazer jus à grandeza do chamamento de Deus. Afinal, trabalhar para Deus requer esforço e dedicação como qualquer profissão. 2 .3 .2 . O E x e r c íc io D e U m a A t iv id a d e E n sin a O O b r e ir o A V iv er S o b A u t o r id a d e

Um obreiro que nunca se submeteu a um chefe terá sérias dificuldades em submeter-se a outro líder. Um bom ou mau patrão, ou um sócio pode ser um caminho excelente para ensinar o serviço e a obediência, ajudando a forjar no homem um espírito submisso de serviço e de amor. Também através desse exercício é possível aprender a valorizar a Providência divina, pois quando alguém recebe um salário, precisa controlar suas despesas para viver dentro dos limites financeiros desse salário. Tal aprendizagem permite que o obreiro saiba valorizar o dinheiro de Deus; a entender que as ofertas e dízimos dos irmãos são depositados no altar de Deus como fruto de obediência desses, e que o dinheiro que o sustentará é dinheiro consagrado. Se obreiro aprende a viver com o pouco que ganha, também aprenderá a respeitar o dinheiro recebido pelos irmãos e a gastar com temor os recursos do Senhor, a conter os seus gastos em tempos de abundância, a colocar sua "oferta" sobre o altar e a depender do Senhor em tempos de escassez. 2 .4 . P a u l o E O S u s t e n t o D o O b r e ir o

Já foi mencionado que Paulo não usufruía o direito de ganhar da igreja, mas defendia que os obreiros vivessem da obra. Este comportamento do apóstolo continua gerando controvérsias entre os teólogos, porque ao que parece Paulo tinha conflitos nesta área com a igreja de Corinto. Era uma igreja que ele começou, e 78

CETADEB

Teologia Pastoral I

agora, quando se encontrava preso (possivelmente em Roma), não recebia ajuda financeira dessa igreja. Ele pergunta: "Será que cometi algum pecado ao humilharme a fim de elevá-los, pregando-lhes gratuitamente o evangelho de Deus? Despojei outras igrejas, recebendo delas sustento, a fim de servi-los. Quando estive entre vocês e passei por alguma necessidade, não fu i um peso para ninguém; pois os irmãos quando vieram da Macedônia, supriram aquilo de que eu necessitava. Fiz tudo para não lhes ser pesado, e continuarei a agir assim" (2 Co 11.7-9 - NVI). Parece que Paulo decidiu dar um exemplo de abnegação e trabalho para os crentes de Corinto, e só aceitava contribuições depois que saía da localidade indo para outra cidade. E esta era uma igreja que poderia ajudar no sustento dele, mas não contribuía. Por isso, Paulo exclama: "Até agora estamos passando fome, sede e necessidade de roupas, estamos sendo tratados brutalmente, não temos residência certa e trabalhamos arduamente com nossas próprias mãos" (1 Co 4.11-12 NVI). Paulo trabalhava com suas mãos, tirava o sustento de seu próprio trabalho, para poder ensinar a palavra àqueles irmãos. Outros obreiros, entretanto, eram ajudados por aquela igreja que se recusava a ajudar a Paulo, o fundador da obra. A igreja de Corinto era constantemente advertida por Paulo sobre a questão das contribuições; para tanto, Paulo dedica um capítulo inteiro para falar da importância do obreiro ser sustentado pela obra e de como a igreja pode participar de seu sustento. Na carta a Timóteo, ele trata com clareza sobre o sustento do ministro: "Devem ser considerados de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário" (1 Tm 5.17-18). A expressão "presidem bem" vem da mesma palavra grega que Paulo usa em 1 Timóteo 3.4 quando fala do obreiro que 79

CETADEB

Teologia Pastoral I

“governa bem a sua casa". É justo, portanto, que o obreiro seja pago.

2.5. As F ig u r a s Q ue P a u l o U s o u Ao Fa l a r S o b r e O S u s t e n t o Do O b r e ir o

Paulo usou de figuras comuns à época para defender o sustento dos obreiros. Em 1 Coríntios 9, ele cita cinco exemplos: o soldado, o agricultor, o pecuarista, o boi e o sacerdote.

[El O soldado. "Quem jamais vai à guerra à sua própria custa?" (1 Co 9.7). As guerras sempre foram financiadas pelo Estado, que paga os seus soldados para lutar. Na época, os "liturgos" financiavam com seus próprios recursos os teatros, escolas e as guerras. O mesmo acontece com o obreiro do Senhor. Ele é contratado para lutar as guerras do Senhor. S

O agricultor. "Quem planta a vinha e não come do seu fruto?" (1 Co 9.7). O lavrador tem direito a se alimentar do que planta e cultiva. Seu argumento é: "Se nós vos semeamos as cousas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais?" (v. 11). Paulo entendia que a semeadura espiritual produz bens materiais. Outros usufruíam da lavoura, e ele não (v. 12). Assim que, aos crentes da Galácia, recomenda: "Mas aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as cousas boas aquele que o instrui" (Gl 6.6). Para Paulo o semeador tinha direito sobre o fruto da colheita. Seu ensino a Timóteo evidencia sua preocupação com o sustento do obreiro.

[3 O pecuarista: "Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho?" (1 Co 9.7). A pessoa que lida todos os dias com seus animais, vacas, cabritas, ovelhas, têm direito ao leite e a carne que elas produzem. Cada um desses exemplos mexia com a vida dos crentes de Corinto, pois entre eles havia agricultores, soldados, e criadores de animais.

CEO O boi de canga: "Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa? Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? 80

CETADEB

Teologia Pastoral I

Certo que é por nós que está escrito, pois o que lavra, cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida" (vv. 9-10). Paulo chega a comparar o obreiro do Senhor a um boi que trabalha, seja lavrando ou rodando o moinho. Esse boi, diz Paulo, precisa ser alimentado, do contrário não conseguirá trabalhar. Mas, Deus não está preocupado com bois, e sim com homens. S

Os sacerdotes: "Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados, do próprio templo se alimentam; e quem serve o altar, do altar tira o seu sustento?" (v. 13). Paulo ilustra a necessidade do sustento do obreiro com a figura do sacerdote que comia dos sacrifícios trazidos ao altar, uma referência aos costumes do Antigo Testamento.

E, concluindo, afirma: "Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho, que vivam do evangelho" (v. 14). Ele afirma que o sustento do obreiro é uma ordenança divina. Paulo, no entanto, não se serviu de nenhuma dessas possibilidades, e paradoxalmente jamais se posicionou contrário aos que viviam do evangelho. Paulo não recebia sustento da igreja de Corinto, mas o recebia de outras igrejas, conforme ele mesmo declara em Filipenses 4.18: "Recebi tudo, e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte, como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus". Quantos poderiam dizer: estou suprido e de nada tenho falta? Assim, o obreiro tem direito a trabalhar com suas mãos para seu próprio sustento, mas também lhe é permitido receber da igreja pelo trabalho que faz. Trabalhar com as próprias mãos pode ser bom, mas não é método do próprio Deus para seus obreiros: "Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho, que vivam do evangelho".

Teologia Pastoral I

CETADEB

Existem implicações no crescimento da obra quando o obreiro precisa dedicar seu tempo todo em busca de sustento, e isso deve ser levado em consideração se a igreja local tem visão de crescimento e de expansão do Reino.

2.6. P a u l o E A D im e n sã o D a Fé Se alguém tem certeza de que Deus o chamou, pode ter certeza de que ele o sustentará. Paulo afirmou: "Tudo posso naquele que me fortalece" (Fp 4.13). "E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades" (Fp 4.19). Este último versículo não pode ser desprezado de seu contexto, pois nele Paulo explica que por haver semeado, por haver ofertado, a pessoa será grandemente abençoada. Um poema de Cheney, citado por E. Cowman em Streams in the Desert (Mananciais no Deserto) edição em inglês pela Zondervan Publishing House, é simples e profundo, e exemplifica bem o cuidado de Deus com seus filhos. "O pardal falou para a andorinha: - Gostaria mesmo de saber por que os humanos vivem ansiosos, correndo e se preocupando com quê? A andorinha responde ao pardal: - Amigo, acho que entendi, eles não têm um pai celeste como o que cuida de mim e de ti". (CHENEY, Elizabeth, citado por E. Cowman, Stremans in the Desert, (Mananciais no Deserto) edição em inglês pela Zondervan Publishing House, p 294).

2.7. P a u l o E A Lei D a S e m e a d u r a O sustento do obreiro começa pela "lei da semeadura", isto é, ele precisa aprender primeiro a contribuir. A pessoa que deseja ser abençoada com ofertas e ser alvo da generosidade do povo de Deus deve aprender a ofertar. Esta é uma lei que deve fazer parte da vida de todo cristão, especialmente do ministro. Se ele contribui, recebe. A promessa de 82

CETADEB

Teologia Pastoral I

bênção ao que contribui, não é apenas para os membros da igreja, mas para os pastores e todos os obreiros. A promessa de Jesus é: "Dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão..." (Lc 6.38). Muitos pastores só querem receber, mas precisam aprender a contribuir. Paulo comenta sobre a contribuição como uma semeadura: "Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura, com abundância também ceifará" (2 Co 9.6). A colheita será feita na proporção da quantidade de semente lançada na terra. Se o agricultor enterrar na cova três grãos de milho, terá três pés de milho. E na hora da colheita, cada pé dará pelo menos duas espigas cheias. Serão seis espigas com cerca de 300 grãos cada. Semeou três grãos, colheu 1.800. A agricultura moderna já desenvolveu uma espiga de milho com quatrocentos grãos, o que evidencia o quanto vale uma boa semeadura. Essa é a matemática de Deus. A matemática dos homens soma 2+2, a de Deus é diferente, porque enquanto para o homem dois mais dois são quatro, Deus de dois faz mil. Ao que contribui, Deus promete aumentar a sementeira: "Ora, aquele que dá semente ao que semeia, e pão para alimento, também suprirá e aumentará a vossa sementeira, e multiplicará os frutos da vossa justiça, enriquecendo-vos em tudo para toda a generosidade..." (2 Co 9.10-11). A sementeira tem dois aspectos: o primeiro é o grão que o agricultor guarda para plantar na safra seguinte. Este fica guardado num depósito e dele não se tira para o sustento da casa. A semente precisa ser guardada para que o campo seja plantado de novo. O segundo aspecto é a sementeira em si mesma, o lugar em que se prepara a terra para fazer a semeadura. Depois de crescidas, as plantas são enterradas noutro local. Age-se dessa forma com legumes, e os orientais costumam plantar o arroz e o trigo dessa forma. Eles têm uma sementeira e 83

Teologia Pastoral I

CETADEB

dali arrancam as plantas que serão assentadas no campo. Do mesmo modo, o obreiro que precisa de recursos obedece a lei divina da semeadura, e colherá resultados. Paulo ensina que Deus sabe quando uma pessoa contribui com tristeza ou com alegria. "Porque Deus ama a quem dá com alegria. Deus pode fazer-vos abundar em toda graça; a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra. Como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre" (2 Co 9.7-9). A promessa é ampla: Aquele que contribui, Deus prospera. Além do mais, fica registrado nos anais do céu a contribuição, pois "sua justiça permanece para sempre". Portanto, o obreiro que quer ser sustentado por Deus deve, primeiramente, aprender a contribuir, e Deus cuidará para que não precise usar da semente guardada para a próxima safra. Além disso, aumentará os frutos do seu campo. Deus sempre olhará para a liberalidade do coração. Se o obreiro é do tipo "mão fechada", Deus fechará igualmente sua mão para ele. Numa linguagem mais simples do texto de Paulo: "A contribuição que vocês fazem, não apenas supre a necessidade das pessoas, mas tem um resultado maior: elas passam a glorificar a Deus e encher o seu trono com ações de graças. As pessoas glorificam a Deus, e o agradecem pela obediência de vocês, e pela liberalidade de suas contribuições, pois vocês contribuem com todos! Esses irmãos oram constantemente a Deus a favor de vocês, com grande amor, por causa da graça de Deus que há em vocês" (2 Co 9.12-14). Concluindo, a questão não é trabalhar para o sustento ou depender da igreja, mas se o obreiro aprendeu a depender de Deus e a contribuir. Este é o canal da bênção divina financeira sobre ele. Pergunta para reflexão: Confio que Deus, realmente, fará a provisão necessária para o meu sustento, ou interiormente estou confiando na provisão de homens, de ofertas prometidas? Estou

84

CETADEB

Teologia Pastoral I

capacitado para "colocar mãos à obra", se necessário, para prover meu sustento e da minha família com dignidade? Centralidade da reflexão: Cada obreiro deve ser firme em seus objetivos. Se crermos que realmente fomos contratados por Deus, então ele fará a provisão necessária.

O MINISTRO

E SUA VIDA DE ESTUDO

ma das maiores dificuldades do obreiro é a de manter uma agenda bem coordenada com as disciplinas da oração e do estudo. Ao longo do ministério, convive-se com pessoas que agem nos extremos: os que gostam de orar muito e costumam negligenciar o estudo; e os que estudam muito, mas costumam negligenciar a oração.

U

Raramente existe um equilíbrio entre essas duas atitudes tão importantes para a vida cristã, especialmente para a do ministro. Dois pastores se encontraram numa livraria evangélica. Um deles, pentecostal e o outro de uma igreja tradicional histórica. Depois de se cumprimentarem e de se identificarem ministerialmente, o pastor da igreja histórica disse: - Estou cheio do estudo e da leitura de livros. Hoje quero mesmo é orar e buscar o poder de Deus. O pentecostal, reagiu e disse: - estou cansado de orar e buscar o poder de Deus; quero estudar e ler bons livros. Eles viviam nos extremos. Orar e estudar fazem são o equilíbrio na vida do obreiro. É necessário o reconhecimento da importância dessas atitudes, uma 85

Teologia Pastoral I

CETADEB

vez que são fonte, espécie de usina de poder para um ministério bem sucedido. Se elas não estiverem presentes na vida do ministro, seu ministério acabará sendo feito na força do homem - e tudo o que é feito na força do homem fracassará, pois o obreiro depende unicamente da força de Deus.

1. B uscando U m L ugar A propriado É notório que a maior dificuldade dos obreiros começa com a falta de espaço em casa ou no templo. Em qualquer desses lugares, geralmente, não há a privacidade necessária. Em casa, porque a esposa e os filhos costumam compartilhar do mesmo espaço, e na igreja, pela quantidade de pessoas que costumam requisitar o pastor. Alguns obreiros, na tentativa de ficar a sós, optam por um cantinho de estudo no quarto do casal, o que também não é adequado, porque priva a esposa de se recolher mais cedo ou de levantar mais tarde, e também porque, às vezes precisa levar algum irmão para lhe ensinar alguma coisa, e não é bom levar estranhos ao lugar em que costuma ter privacidade com a esposa e filhos. Outros não dispõem de um lugarzinho junto ao templo, porque a igreja precisa de todos os espaços para sua atividade. Qualquer que seja o local, deve-se pensar na privacidade para o estudo e oração. A necessidade do estudo e da oração é tão importante que João Wesley, fundador do metodismo na Inglaterra, exigia que seus obreiros dedicassem, pelo menos, cinco horas de estudo e oração por dia. Um dos seguidores de Wesley, Francis Asbury, pioneiro metodista nos Estados Unidos, aconselhava seus obreiros a dedicar uma hora de oração a partir das cinco horas da manhã, e depois das cinco às seis da tarde. Os obreiros tinham de dedicar das seis da manhã até o meio-dia para o estudo, com um intervalo de uma hora 86

CETADEB

Teologia Pastoral I

para o café, alimentando "a mente e a alma com a Bíblia e com bons livros" (LUDWIG, 1984, p 160). Atualmente, as atividades das igrejas, sejam em cidades grandes ou pequenas, exigem muitas horas de trabalho para o ministro. Muitas vezes o obreiro começa a trabalhar em suas atividades às sete da manhã e só termina pouco antes da meianoite. A necessidade de dedicar tantas horas ao trabalho na igreja é grande empecilho para uma maior dedicação à oração e ao estudo.

2. F erram entas Ú teis D e Estudo Se por um lado, a falta de um local apropriado dificulta ao obreiro maior dedicação ao estudo, por outro, o desenvolvimento da sociedade, nos últimos tempos, permitiu mais facilidade para ampliar as fontes de pesquisa. Hoje é possível ter acesso à informação não só através de livros e materiais impressos, como também através de material disponível multimídia. Com isso, pode-se tirar mais proveito do estudo num tempo menor. O estudante da Bíblia necessita de algumas ferramentas para conhecer o tema ou os livros que se propõe estudar. A Bíblia foi escrita num período de 1.600 anos por mais de 40 autores com as mais variadas profissões. São pescadores, mestres, médicos, reis, um boiadeiro, sacerdotes, etc. São informações disponíveis no curso de Introdução Bíblica. Por isso, dispondo ou não de um programa de computador que o auxilie no estudo, algumas ferramentas são importantes a todo ministro do evangelho. São elas: Versões bíblicas. O obreiro deve dispor de algumas versões da Bíblia, entre elas, as versões Revista e Corrigida e Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, uma cópia da NVI

87

Teologia Pastoral I

CETADEB

(Nova Versão Internacional), que tem uma linguagem atualizada, especialmente quanto a pesos e medidas, e com notas explicativas. Se ele puder adquirir a Bíblia de Jerusalém e uma Bíblia de estudos, melhor ainda. Chave bíblica. É bom adquirir uma chave bíblica que combine com a versão que está utilizando, e com a qual costuma usar para pregações. Enciclopédia bíblica. A mais popular e usada é a "Pequena Enciclopédia Bíblica" de O.S. Boyer; trata-se de um minicompêndio de grande utilidade. 2.1 . C o n h e c e n d o A B íb lia E m O r d e m C r o n o l ó g ic a

Os livros não estão na ordem cronológica como aparecem nas Bíblias. Por exemplo, o livro de Jó, apesar de localizar-se antes dos Salmos é um relato de alguém que viveu, possivelmente, à época de Abraão. Já os Salmos, colocados no meio do livro, abrangem um período que vai de Moisés a Esdras. Por isso o estudante deve ter uma perspectiva da ordem dos livros da Bíblia e de seus autores. Hoje existe no mercado a Bíblia em Ordem Cronológica, editada pela Editora Vida que dá a cronologia dos acontecimentos. O estudante deve, também, aprender a fazer as seguintes divisões dos livros da Bíblia para melhor orientar seu estudo. S O Pentateuco (do grego penta ou cinco). São os cinco livros escritos por Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Este último, praticamente uma repetição de temas apresentados nos três anteriores. Existem comentários publicados em português feitos por rabinos e exegetas judeus destes cinco livros. S

Livros históricos. O estudante deve conhecer os livros históricos e sua seqüência, começando com Josué no Antigo Testamento, até os Atos dos Apóstolos no Novo Testamento. Os livros históricos não estão em ordem cronológica, o que requer atenção e pesquisa por parte do ministro.

88

CETADEB

Teologia Pastoral I

•S Livros poéticos. Os livros poéticos são Jó, Salmos, Provérbios, Cantares e Eclesiastes. Cada um destes livros tem sua peculiaridade. Livros proféticos. Os livros proféticos vão de Isaías a Malaquias. Aqui o estudante conhecerá os profetas maiores que são Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel e na continuação destes, os profetas menores . •S Os evangelhos e as epístolas. Ao longo do curso bíblico o aluno conhecerá com profundidade os quatro evangelhos, e estudará as cartas apostólicas, conhecidas como epístolas. S

Livros e profetas da Dispersão ou cativeiro. É necessário que o estudante tenha uma visão dos livros que tratam da Diáspora (Cativeiro e Dispersão do povo de Israel). São eles, Jeremias, depois Ezequiel, Daniel, Ester, Neemias, Esdras, Ageu, Zacarias e Malaquias, pela ordem. Quando se estuda simultaneamente estes livros, pode-se ter uma visão ampla daquele período da história do povo de Israel. Para se conhecer o período interbíblico, isto é, o que aconteceu entre Malaquias e o livro de Mateus, o estudante pode ler e analisar os livros não inspirados, isto é, livros que não foram incluídos no cânone bíblico e que fazem parte de certas Bíblias, entre eles os livros de Macabeus.

3. Exercitando -S e N a P alavra D e D eus O escritor de Hebreus - até hoje os escolásticos não chegaram a um consenso de quem o teria escrito, se Paulo, Barnabé ou Apoio - comenta que devemos exercitar as faculdades para discernirmos o bem e o mal. "A esse respeito temos muitas coisas que dizer e difíceis de explicar, porquanto vos tendes tomado tardios em ouvir. Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tomastes como necessitados de leite e não de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática,

89

Teologia Pastoral I

CETADEB

têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal" (Hb 5.11-14).

Pelo tempo de vida cristã, argumenta o autor, uma pessoa que exercita suas faculdades mentais, já pode se alimentar de alimento sólido tornando-se mestre. Somente as crianças alimentam-se de leite; os adultos podem se alimentar de coisas mais fortes. E o autor está se referindo ao alimento sólido da palavra de Deus. Para tanto, ele tem de se exercitar, isto é, treinar-se no estudo. A mente quando é treinada fica capacitada a receber informações com mais rapidez e a entender os assuntos de maneira mais ampla. A seguir, o estudante encontrará algumas formas práticas para que se exercite no estudo da Bíblia. > Estudando com objetividade. Requer-se de todo estudante da palavra que estude com objetivo. Muitos estudantes ficam folheando os livros da Bíblia, lendo aqui e acolá sem um objetivo específico que possam levá-los a resultados práticos. A objetividade traz rapidez ao entendimento. Por exemplo, o estudante pode decidir estudar um tema ou um livro, assunto que será abordado mais adiante. > Comparando texto com texto. A Bíblia, palavra de Deus, não deve ser lida com desprezo ou descuido. Precisa em cada letra ou acento que apresenta exige do aprendiz um cuidado especial. Seu vocabulário requer muita atenção para o sentido das palavras em cada versículo, pois há diferença de sentido entre: "pecado" e "pecados"; "Fé" e fé"; "Amor" e "amor", "justiça"e "justiçai", etc. Também não se deve estudá-la movido por simples curiosidade, pois, se o fizer perderá seu valor espiritual. Exemplo disto é que algumas pessoas estudam as profecias, mais por curiosidade do que com o propósito de se prepararem para o retorno do Senhor. Na realidade, quando se estuda as profecias deve-se ter como alvo conhecer os tempos e as épocas e preparando-se para o retorno do Senhor.

90

CETADEB

Teologia Pastoral I

> Examinando o texto bíblico. A pessoa que deseja conhecer a Bíblia precisa acostumar-se a examinar as escrituras, recitar a palavra de Deus, comparar textos bíblicos e meditar. Tais recomendações podem ser observadas na própria Bíblia. Em João 5.39, o estudante se depara com orientação de Jesus: "Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim". Em Atos 17.11, há outra referência que reafirma a importância do estudo das escrituras. Esse capítulo traz o relato sobre os irmãos da cidade de Beréia: "eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim". Os irmãos de Beréia dispunham em sua época apenas do texto bíblico do Antigo Testamento, mas era ali que examinavam tudo o que lhes era ensinado. Os comentários bíblicos, notas de rodapé e chaves bíblicas remetem o estudante a qualquer passagem que trate do mesmo tema. São de grande ajuda para saber o período histórico da época em que o texto foi escrito, quem escreveu e sob quais circunstâncias. A maioria das Bíblias de estudo contém estas informações. É bom examiná-las e conferir com outros comentários bíblicos. Por exemplo: A razão de Paulo escrever a carta aos Tessalonicenses foi porque havia a idéia corrente entre os irmãos de que somente os que estivessem vivos poderiam se encontrar com Jesus quando de seu retorno. Aprender a estudar por comparação proporciona muitas descobertas. Por exemplo. O Salmo 36.9 diz: "na tua luz, vemos a luz", e Pedro explica: "Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração" (2 Pe 1.19). "Um pouco aqui, um pouco ali" (Is 28.13), diz Isaias.

91

Teologia Pastoral I

CETADEB

Nenhuma passagem da Escritura deve ser interpretada isoladamente do resto da Bíblia. Por exemplo, para entender Daniel 9 é necessário estudar juntamente com Apocalipse 13. > Repetindo ou recitando a palavra de Deus. Quando o estudante

é disciplinado na leitura bíblica e na repetição dos textos bíblicos, poderá memorizá-los facilmente, fazendo com que a palavra de Deus habite em seu coração, como recomenda Paulo: "Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo" (Cl 3.16). Outra maneira de memorizar um texto bíblico é afixando-o no espelho do banheiro; nas portas de armários; na geladeira, etc., onde se costuma fixar os olhos. Alguém faz uma pergunta, e prontamente se encontra a resposta na Bíblia, porque o ministro a conhece. São maneiras de se exercitar a memória. Os discípulos deviam saber de memória muitas das frases de Jesus, pois Paulo refere-se a uma delas em Atos 20.35: "... e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber". Jesus costumava citar as Escrituras e os apóstolos aprenderam com ele. O livro de Atos dos Apóstolos está recheado com citações do Antigo Testamento. Numa certa igreja aqui do Brasil os irmãos dividiram os livros do Novo Testamento entre si e o memorizaram todo. Era assim que Deus orientou os filhos de Israel a memorizarem as Escrituras. "Estas palavras (...) estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas" (Dt 6.6-9). > M editando. A meditação ou reflexão leva o estudante a uma análise mais profunda do texto, porque ele se pergunta e ele mesmo responde. Deus ordenou a Josué que meditasse e falasse as palavras da lei: "Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite" (Js 2.8). O salmista tem por bem-aventurado aquele cujo prazer está na lei do Senhor, "e na sua lei medita de dia

92

CETADEB

Teologia Pastoral I

e de noite" (SI 1.2). Meditar tem o sentido de "ruminar", como fazem os animais ruminantes, como a vaca. Vale aqui um alerta: toda meditação e reflexão deve ser feita sob a luz do Espírito Santo, e só os que têm o Espírito de Deus conseguem caminhar por essa maravilhosa trilha (Rm 8.5-9). A meditação nunca deve se deter na introspecção, olhando para dentro de si, acusando-se, mas sempre olhando para Deus, de onde vem a luz que ilumina o interior e dá sentido à sua palavra. O Salmo 119 está repleto de versículos mostrando a importância da meditação. Ao tomar sua chave bíblica examinando todos os textos que falam de meditar e meditação, o estudante ficará surpreso com a profundidade deles nas Escrituras. Espera-se de todo ministro que dedique, pelo menos uma hora por dia para o estudo da palavra de Deus. Quando não se tem uma hora cheia, pode-se reservar meia hora de manhã e meia hora à noite. Se um obreiro não consegue dispor de uma hora por dia para o estudo da palavra de Deus, já entra para o ministério desqualificado. Afinal, o estudo da Bíblia sagrada e o conhecimento dos temas bíblicos é que o qualifica a ensinar a palavra de Deus.

4. A proveitando B em O P eríodo D e U ma H ora D iária D e Estudo Para que o tempo de uma hora diária seja proveitoso é necessário disciplina e perseverança, estabelecendo prioridades, do contrário o tempo de estudo ficará dispersivo. Não se deve imitar o crente tipo "gênio" que hoje lê todo o Novo Testamento e depois passa uma semana sem ao menos ver a Bíblia. Para que este tempo não se torne cansativo, pode-se dividi-lo uma hora, ou 60 minutos em vários períodos. Aqui vão algumas sugestões: Assuntos pesados que requerem mais tempo. Reserve-se os primeiros vinte minutos para estudar assuntos pesados e temas

93

Teologia Pastoral I

CETADEB

difíceis, como a vida de José como tipo de Cristo; a vida de Abraão; o livro de Daniel, Esdras, Levítico etc. O estudante poderá demorar seis meses na vida de José, por isso não deve desanimar e nem se apressar. Ele pode demorar um ano estudando a vida de Davi, mas depois nunca mais precisará voltar a estudá-la. Saberá tudo sobre ele. Quando o relógio marcar vinte minutos, deve interromper o estudo, passando para o estudo seguinte. Estudo de tópicos. Os próximos vinte minutos podem ser reservados para o estudo de tópicos ou temas leves da Bíblia. Existem mais de trezentos tópicos nas Escrituras. Temas como perdão, salvação, herança, fé, reino, reino vindouro, etc. Somente a palavra sangue aparece mais de 400 vezes e cada passagem deve ser lida quando se estuda o assunto. Temas leves. Dedique-se dez minutos para fazer pesquisas bíblicas, e responder questões como: Por que a serpente levantada nos dias de Moisés era de bronze e não de ouro? Pode-se utilizar deste tempo para procurar cada passagem mencionando o Espírito Santo na carta aos Efésios. Ele aparece ali 10 vezes. Este tempo serve também para o estudo de geografia bíblica, conhecendo-se os minerais como ouro, prata, bronze, ferro, pedras preciosas; plantas, montes, rios, etc. Paráfrase de um livro bíblico. Pode-se reservar os dez minutos finais para fazer uma paráfrase de um livro da Bíblia. O estudante pode escrever a seu modo uma epístola ou um texto de difícil entendimento, como 2 Coríntios ou o livro de Hebreus colocando-o numa linguagem atual, no seu próprio estilo, conforme ele entende o texto. Paráfrase é quando se escreve um texto "paralelo". Anotações: O obreiro pode-se acostumar a carregar consigo um pequeno caderno ou folha para anotar pensamentos e idéias que surgem enquanto medita na Palavra de Deus. E sempre que estudar a ou estiver lendo a Bíblia precisará de um caderno para anotações, ou um marcador de livros em branco. No marcador de livros, escreverá textos paralelos ou pensamentos breves. Nesses

94

CETADEB

Teologia Pastoral I

dias de grande modernidade as agendas eletrônicas são de grande utilidade, pois até a Bíblia é levada dentro de uma pequena agenda eletrônica que cabe na palma da mão.

5. O Q ue E studar 1) O estudante deve fazer um estudo sistemático de todos os personagens principais da Bíblia. Uma vez que a vida de Abraão ou de Jeremias foi passada a pente fino, o estudante nunca precisará voltar ao tema, a não ser para rever o que aprendeu no passado. 2) Estudando tudo o que diz respeito às mulheres da Bíblia. 3) Estudando pessoas do Antigo Testamento que podem ser tipos de Cristo, como a vida de José; e temas como a redenção, igreja e a pessoa do Espírito Santo. 4) Identificando todas as profecias do Antigo Testamento que se cumpriram em Jesus e na igreja. 5) Estudando as dispensações e o que acontece e aconteceu em cada período dispensacional. 6) Tópicos. Existem dezenas de tópicos, como fé, amor, salvação, cura, perdão, vida eterna, coragem, etc. que podem ser estudados ao longo da vida de estudo. 7) Cronologias. O estudante deve saber o que aconteceu em cada período da história bíblica, pela ordem. 8) Números. Deve estudar sobre a importância que os números representam nas Escrituras. O sete é o número ou a marca de Deus em toda Bíblia. 9) Parábolas. As parábolas são importantes, pois são janelas que se abrem para entendermos o sentido do que o autor está falando. 10) Milagres. O estudante pode estudar cada milagre da Bíblia, pela ordem de acontecimento e notará que a Bíblia está repleta de milagres. Ela é uma exposição da ação de Deus na história humana.

Teologia Pastoral I

CETADEB

11) Deve estudar os ensinos de Jesus enquanto esteve na terra. Se possível, deve memorizar todo o sermão da montanha, nos capítulos 5-7 de Mateus. 12) Pode fazer uma comparação do conteúdo existente nos quatro evangelhos, comparando-os e vendo as diferenças de números, dados e opiniões. 13) Estudando os mais importantes capítulos da Bíblia. Existem capítulos da Bíblia dos quais podemos tirar grandes sermões e ensinamentos. Mateus 13, os Salmos 23, 73, 90 e 91; salmo 103 e Isaías 6, apenas para citar como exemplos. O famoso pregador britânico G. Campbell Morgan apresenta uma lista de 48 capítulos importantes que devem ser usados como temas de pregações (MORGAN, G. Campbell, Great Chapters of the Bible, Marshall Morgan, Londres).

14) Metais e minerais. O estudante pode conhecer detalhadamente os minerais mencionados na Bíblia, como o ferro, cobre, prata, outro, entre alguns. 15) Geografia. Deve dedicar algum tempo para conhecer a geografia do mundo bíblico. Algumas Bíblias têm mapas coloridos e dados importantes, para que não cometa o deslize de afirmar que o peixe vomitou a Jonas nas praias de Nínive. Algo impossível. 16) Orações. Existem grandes orações na Bíblia que devem ser analisadas. A oração de Salomão em 1 Reis 8; a de Neemias no capítulo 9; a de Daniel também no capítulo 9; a de Josafá em 2 Crônicas 20; a oração de Jesus em João 17. Existem tantas outras orações importantes. 17) Dificuldades Bíblicas - paradoxos bíblicos e sua inerrância. O estudo das dificuldades bíblicas e de temas aparentemente contraditórios. Por exemplo, Paulo fala que não devemos nos irar, mas depois afirma: "Irai-vos e não pequeis". O que ele quer dizer? 18) Cristo. A vida de Jesus Cristo requer atenção especial porque é modelo de fé a todos os obreiros. E o estudo da vida de Jesus exige tempo, pesquisa e dedicação. 96

CETADEB

Teologia Pastoral I

19) Doutrina. Este é um tema que faze parte da matéria de teologia sistemática. Doutrina é a essência do ensinamento de Deus. "Goteje a minha doutrina como a chuva", diz o Senhor (Dt 32.2). No Novo Testamento, doutrina é didaskalós, ou ensinamento, que consiste em mandamentos para o crente observar, como amar a esposa, submeter-se ao marido, cuidar dos filhos, amar o próximo, não mentir, roubar ou defraudar o próximo, etc. Vale ressaltar aqui as palavras de Paulo a Timóteo: "Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (1 Tm 2.15). Questão para reflexão: Até que ponto o estudo exaustivo das Escrituras pode afetar minha vida limitando minha vida pessoal apenas ao conhecimento teórico e não a pratica? O que fazer para tornar o ensinamento bíblico agradável e prático? Centralidade da reflexão: É preciso conhecer profundamente as Escrituras para respondermos com sabedoria nossas próprias indagações e as indagações dos irmãos. O obreiro do Senhor deve tentar responder cada indagação, com sinceridade; confessando também que certos temas são de conhecimento transcendental e conhecidos apenas pela fé.

A tividades - L ição III >

Marque "C" para Certo e "E" para Errado

í) O O dinheiro fez que muitos santos de Deus pecassem, e as escrituras têm vários exemplos . 2) O Tanto o que trabalha num emprego secular ou tem sua empresa comercial como o que depende da igreja para seu sustento depende da fé.

97

Teologia Pastoral I

CETADEB

3) u J Jesus apresentou aos apóstolos um modelo de vida luxuosa (Mt 10.9-10). 4) 0 Embora Paulo trabalhasse para se sustentar, a Bíblia revela que houve um período, em que ele "se entregou totalmente à palavra" (At 18.5), o que significa que naquele período ele não precisou trabalhar a fim de prover seu sustento. 5) O De maneira geral, os que nunca trabalharam, quer em empresas quer nas lidas diárias do campo ou da cidade, não sabem valorizar a importância do trabalho, nem dão valor ao custo do dinheiro. 6) □ Francis Asbury, aconselhava seus obreiros a dedicar uma hora de oração a partir das cinco horas da manhã, e depois das cinco às seis da tarde. Os obreiros tinham de dedicar das seis da manhã até o meio-dia para o estudo.

98

CETADEB

Teologia Pastoral I

© m

fa

o)

i

C3 8» Den DCZI

Lição IV a

©

CETADEB

Teologia Pastoral I

Teologia Pastoral I

CETADEB

O M in istro E S ua V ida D e O ração

N

a lição anterior o estudante aprendeu sobre importância de se reservar um local para o estudo e oração. O mesmo local onde se gasta tempo para o estudo da palavra de Deus é útil também para a privacidade da oração. Nesta lição o estudante verá a importância da oração na vida diária do obreiro.

A oração é um dos temas mais empolgantes da Bíblia e uma disciplina fundamental para o sucesso ministerial do obreiro. Porém, apesar dessa importância, é a área mais negligenciada na vida pastoral. O obreiro gosta de estudar e de pregar, mas nem sempre gosta de orar. Neste estudo o aluno estudará sobre algumas orações importantes do Antigo Testamento e aprenderá o tema à luz do ensinamento de Jesus e dos apóstolos. Apesar de não haver nas escrituras admoestações ou ensinamentos sobre a importância da oração, nem exortações ou incentivos para que o povo tivesse uma vida de oração no Antigo Testamento, em suas páginas estão as mais lindas e efetivas orações de todos os tempos. Às vezes depara-se com pequenas orações em forma de suspiro, que foram respondidas por Deus, como a de Neemias, que exclamou: ‘‘Lembra-te de mim para meu bem, ó meu Deus, e de tudo quanto fiz a este povo" (Ne 5.19). Outras são orações grandes, como a oração de Moisés, que arriscou a própria vida intercedendo diante de Deus a favor do povo

101

Teologia Pastoral I

CETADEB

de Israel (Ex 32.11-13, 30-34; Nm 14.13-19); a oração de Davi, em ações de graças (1 Cr 17.16-27) e sua oração de confissão de pecados (SI 51); a oração de Salomão na inauguração do templo (1 Rs 8.22-53); a oração de intercessão de Daniel (Dn 9) e a de Neemias, (Ne 9), registradas palavra por palavra. 1. E l e m e n t o s I m p o r t a n t e s N a s G r a n d e s O r a ç õ e s D o A .T . Ao estudar as orações feitas pelos servos de Deus no período do Antigo Testamento, depara-se com alguns elementos chaves que servem de aprendizado e ensinam como se pode orar. Tome-se por base para o estudo cinco grandes orações do A.T. que são as orações de Salomão (1 Rs 8), Josafá (2 Cr 20), Daniel (Dn 9) Esdras (Ed 9) e Neemias (Ne 9). Em todas pode-se encontrar elementos didáticos para nortear a vida de oração do obreiro. 1.1.

A doração

Na maioria das orações, pode-se observar que esses homens de Deus, quando oravam, adoravam a Deus, reconhecendo a soberania e o governo do Eterno sobre todas as coisas. Observe algumas expressões de adoração: "Ó Senhor, Deus de Israel, não há Deus como tu, em cima nos céus nem embaixo na terra, como tu que guardas a aliança e a misericórdia a teus servos que de todo o coração andam diante de ti" (1 Rs 8.23). "Ah! Senhor, Deus de nossos pais, porventura, não és tu Deus nos céus? Não és tu que dominas sobre todos os reinos dos povos? Na tua mão, está a força e o poder, e não há quem te possa resistir" (2 Cr 20. 6). "Levantai-vos, bendizei ao Senhor, vosso Deus, de eternidade em eternidade. Então, se disse: Bendito seja o nome da tua glória, que ultrapassa todo bendizer e louvor. Só tu és Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e tu os preservas a todos com vida, e o exército dos céus te adora" (Ne 9.5- 6).

Na adoração o crente adquire um senso da soberania, como aconteceu com o rei da Babilônia que exclamou: “Quão grande são

102

CETADEB

Teologia Pastoral I

os seus sinais, e quão poderosas, as suas maravilhas! O seu reino é reino sempiterno, e o seu domínio, de geração em geração (...) e eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração" (Dn 4.3, 34 e ss). Na adoração adquire-se também um senso de que Deus não muda, isto é, que é imutável. Pode-se comprovar essa característica de Deus nas palavras ditas a Moisés no Sinai: "Eu sou o que sou” (Ex 3.13-14). Em Malaquias 3.6 Deus diz dele mesmo: "Porque eu, o Senhor, não mudo". Em Hebreus 1.11-12 o apóstolo afirma: "Eles perecerão; tu porém permaneces; sim, todos eles envelhecerão qual vestido; também qual manto os enrolarás; como vestidos serão igualmente mudados; tu, porém, és o mesmo, e os teus anos jamais terão fim". Em Jó 42.2, “Bem sei que tudo podes e nenhum dos teus planos pode ser frustrado". Os Salmos 90.2; 106.48; 10.16 falam desta imutabilidade divina: "De eternidade a eternidade tu és Deus". 1.2. A p e la n d o E m O r a ç ã o À s P r o m e s s a s D e D e u s

Outro elemento importante é que nas orações esses servos de Deus apelam e reivindicam as promessas que Deus fez no passado aos patriarcas. Era como se Deus precisasse ser lembrado do que prometera aos pais no passado. Salomão apelou às promessas de Deus feitas a Davi: "... que cumpriste para com teu servo Davi, meu pai, o que lhe prometeste; pessoalmente o disseste e pelo teu poder o cumpriste, como hoje se vê. Agora, pois, ó Senhor, Deus de Israel, faze a teu servo Davi, meu pai, o que lhe declaraste, dizendo: Não te faltará sucessor diante de mim, que se assente no trono de Israel, contanto que teus filhos guardem o seu caminho, para andarem diante de mim como tu andaste. Agora também, ó Deus de Israel, cumpra-se a tua palavra que disseste a teu servo Davi, meu pai" (1 Rs 8.24-26).

103

CETADEB

Teologia Pastoral I

Ezequias invocou a aliança que Deus fez a Abraão: "Porventura, ó nosso Deus, não lançaste fora os moradores desta terra de diante do teu povo de Israel e não a deste para sempre à posteridade de Abraão, teu amigo? Habitaram nela e nela edificaram um santuário ao teu nome, dizendo: Se algum mal nos sobrevier, espada por castigo, peste ou fome, nós nos apresentaremos diante desta casa e diante de ti, pois o teu nome está nesta casa; e clamaremos a ti na nossa angústia, e tu nos ouvirás e livrarás" (2 Cr 20.7-9).

Neemias também apelou para as promessas divinas: "Tu és o Senhor, o Deus que elegeste Abrão, e o tiraste de Ur dos caldeus, e lhe puseste por nome Abraão. Achaste o seu coração fiel perante ti e com ele fizeste aliança, para dares à sua descendência a terra dos cananeus, dos heteus, dos amorreus, dos ferezeus, dos jebuseus e dos girgaseus; e cumpriste as tuas promessas, porquanto és justo" (Ne 9.7).

Daniel apelou para a aliança divina: "Orei ao Senhor, meu Deus, confessei e disse: ah! Senhor! Deus grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus mandamentos" (Dn 9.4).

1.3. A p e la n d o A o C a r á t e r M is e r ic o r d io s o D e D eu s

Moisés queria tanto ver a glória de Deus, que suplicou: “Rogo-te que me mostres a tua glória'', mas Deus lhe respondeu: “Farei passar toda a minha bondade diante de ti e te proclamarei o nome do Senhor; terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer" (Ex 33.18-19). Aqueles homens de Deus também apelaram para o caráter de justiça e de misericórdia de Deus. A oração de Salomão em 1 Reis 8 está impregnada de apelos à misericórdia divina. Ezequias mencionou que o povo foi obediente e não invadiu a terra das nações que agora ameaçavam a paz em Israel: "...eis que nos dão o pago, vindo para lançar-nos fora da tua possessão, que nos deste em herançalAh! nosso Deus, acaso não executarás tu o teu julgamento contra eles?" (2 Cr 20.11-12). Esdras orou: “Ah! Senhor, Deus de Israel, justo és..." (Ed 9.15).

CETADEB

Teologia Pastoral I

Neemias disse: "Porém tu, ó Deus perdoador, clemente e misericordioso, tardio em irar-te e grande em bondade, tu não os desamparaste... Todavia, tu, pela multidão das tuas misericórdias, não os deixaste no deserto" (Ne 9.17,19). E Daniel concluiu sua oração assim: "...porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias" (Dn 9.18). Quando o crente ora, toca na misericórdia de Deus, aprendendo que ele é misericordioso, e este senso da misericórdia divina deixa o obreiro mais humilde e misericordioso. Davi, percebendo que havia pecado e que o juízo de Deus era iminente sobre ele, falou ao profeta Gade: “Então, disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; caia eu, pois, nas mãos do Senhor, porque são muitíssimas as suas misericórdias, mas nas mãos dos homens não caia eu" (1 Cr 21.13). Quando o templo de Salomão foi inaugurado, os filhos de Israel viram descer o fogo e a glória do Senhor sobre a casa, prostram-se com o rosto em terra e adoraram, "e louvaram o Senhor, porque é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre" (2 Cr 7.3). 1.4. I n t e r c e s s ã o E C o n f is s ã o D e P ec a d o s

Por último, a intercessão e a confissão de pecados fazem parte destas orações, não apenas a favor de quem está intercedendo a Deus, mas também a favor da nação de Israel. Quando o obreiro dedica tempo para falar com Deus pode suplicarlhe que perdoe os pecados, os pecados de seus familiares, da igreja e de seus amigos. O ministro deve ter um coração misericordioso intercedendo continuamente a Deus a favor dos demais. A oração do intercessor a favor das pessoas é destaque em vários textos da Bíblia. 0 intercessor é alguém que se põe entre o povo e Deus, suplicando o favor divino e desviando a ira de Deus. O texto de Ezequiel 22.30 expressa a importância de um intercessor para 105

Teologia Pastoral I

CETADEB

aplacar a ira divina: "Busquei entre eles um homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha perante mim, a favor desta terra, para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei." Daniel foi um intercessor que se colocou diante de Deus a favor do povo. No final de sua oração, Daniel apela para o caráter perdoador de Deus, suplicando: "Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age; não te retardes, por amor de ti mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu nome. Falava eu ainda, e orava, e confessava o meu pecado e o pecado do meu povo de Israel, e lançava a minha súplica perante a face do Senhor, meu Deus, pelo monte santo do meu Deus" (Dn 9.19-20). Abraão, quando Deus lhe avisa que irá destruir as cidades de Sodoma e Gomorra, coloca-se diante de Deus, intercedendo a favor dos justos que supostamente deveriam habitar naquelas cidades, e apela para o caráter de justiça de Deus: "Destruirás o justo com o ímpio? Longe de ti o fazeres tal coisa, matares o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio; longe de ti. Não fará justiça o juiz de toda a terra?" (Gn 18.23-25). A cada resposta de Deus, percebe-se que não existem tantos justos assim, por isso pergunta a Deus se ainda destruiria a cidade caso houvesse dez justos habitando nela (Gn 18.32). Por fim, cessa de interceder, porque que a cidade é tão iníqua que não há nem dez justos. Na hora de destruir a cidade, "lembrou-se Deus de Abraão, e tirou a Ló do meio das ruínas" (Gn 19.29). Quando o povo de Israel transgrediu a Deus fazendo um bezerro de ouro para adorar, Deus disse a Moisés: "Agora, pois, deixa-me, para que acenda contra eles o meu furor, e eu os consuma; e de ti farei uma grande nação". Moisés percebeu que Deus se irou e que estava disposto a destruir a nação, e por isso prostrou-se diante do Altíssimo, suplicando: "Ora, o povo cometeu grande pecado, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca106

CETADEB

Teologia Pastoral I

me, peço-te, do livro que escreveste (Ex 32.31-32). A intercessão de Moisés salvou a nação. Quando Salomão orou a Deus na inauguração do templo, este lhe respondeu assim: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra" (2 Cr 7.14). Davi suplicou perdão de seus pecados: "Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado" (SI 51.2). A oração de confissão, presente nas grandes orações do Antigo Testamento foi lembrada pelo Senhor Jesus Cristo quando ensinou seus discípulos a orar, dizendo: "Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores" (Mt 6.12). Em João 17 há o registro da oração de Jesus a favor dos discípulos, um exemplo de oração intercessória. "É por eles que eu rogo", dizia Jesus ao Pai, e todo o capítulo se constitui numa grande oração, a favor dos discípulos e dos futuros crentes, baseada também na misericórdia divina. "Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja" (Jo 17.26).

2. J e s u s E A

O ração.

Os quatro livros dos evangelhos registram que a oração faziaparte da vida diária de Jesus. Nesses, há menção de Jesus em seus momentos de intercessão e de intimidade com o Pai. Quando se sentia pressionado pela multidão, “se retirava para lugares solitários e orava" (Lc 5.16). Às vezes retirava-se a noite toda: “Naqueles dias, retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou anoite orando a Deus" (Lc 6.12), ou era flagrado orando sozinho (Lc 9.18). E esta vida de oração o acompanhou até horas antes de sua morte. “E, estando em agonia, orava mais intensamente. Levantando-se da oração, fo i ter com os discípulos, e os achou dormindo de tristeza, e disse-lhes: Por

Í07

Teologia Pastoral I

CETADEB

que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação" (Lc 22.41. 44-46). Os apóstolos que escreveram as epístolas conheceram Jesus na intimidade, e um deles ao escrever a epístola aos Hebreus, afirma que Jesus, quando orava, fazia suas orações com súplicas e gemidos. "Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte..." (Hb 5.7). Ora, se Jesus, que viera do céu necessitava reservar tempo para ficar em oração a sós com o Pai, que se espera do obreiro do Senhor? Neste sentido, Jesus contou uma parábola, isto é, abriu diante deles uma janela para incentivá-los a orar sem nunca esmorecer ou desanimar (Lc 18.1). 2 .1 . J esu s E n s in o u O s D is c íp u l o s A O ra r

Jesus ensinou seus discípulos que a oração é algo muito particular na vida de cada pessoa. Os judeus costumavam orar em público para serem vistos pelas pessoas, e Jesus viu nisso uma atitude hipócrita, uma vida de aparências, e alertou: "Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos outros" (Mt 6.5 - NTLH). "Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos" (Mt 6.6). Os discípulos notaram que Jesus orava constantemente, por isso pediram ao Mestre que lhes ensinasse a orar. Algumas das maiores pregações sobre oração tiveram como base a oração que Jesus ensinou. Ele deixou um modelo de como se deve orar. "Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu

108

CETADEB

Teologia Pastoral I

nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém!" (Mt 6.613). 2.2. J e s u s I n c e n t iv o u O s D is c íp u l o s A P e d ir e m A o P a i E m O r a ç ã o

"Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta. Pois todo o que pede recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta" (Mt 7.7-8 - NVI). 2 .3 . J e s u s E n sin o u O s D is c íp u l o s A O r a r P a r a S er em G u a r d a d o s

Do Mal É de fundamental relevância o ensinamento de Jesus sobre a oração para ser protegido do mal. Na oração dominical, ele ensinou os discípulos a orar, dizendo: "E não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal'’ (Mt 6.13). Este é em si um bom motivo para que se busque a Deus. Ora, se o Senhor Jesus ensinou a orar assim, é porque o mal é um perigo que sempre ronda os crentes. E "mal" aqui, não é uma coisa genérica, uma maldade ou uma situação difícil; "mal", aqui se refere ao Maligno. Isto porque o Maligno prepara situações e laços para levar as pessoas à queda. Na conhecida "oração sacerdotal" de João 17 Jesus orou ao Pai, suplicando a favor de seus filhos: "Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal" (v. 15). O mal, ou o Maligno é visto por Pedro como um leão que ruge ao derredor buscando alguém para tragar (1 Pe 5.8). Paulo conhecia muito bem a ação do mal, e afirmou: "O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial" (2 Tm 4.18).

109

Teologia Pastoral I

CETADEB

O ensino de Jesus sobre a oração foi levado a sério pela igreja que surgia naqueles dias. "E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, no partir do pão e nas orações" (At 2.42). A oração individual é importante, e não se pode negligenciar o tempo de oração coletiva, quando todos se reúnem num só lugar para interceder. A primeira grande oração registrada no livro de Atos dos Apóstolos possui alguns dos elementos vistos anteriormente. "Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido; porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram; agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus. Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus" (At 4.25-31). 3 . O E n s in a m e n t o D e P a u l o S o b r e A O r a ç ã o . As epístolas de Paulo contêm ensinos importantes sobre a oração, podendo-se resumir o que ele disse traçando alguns pontos: 3.1 .

A O r ação É U m a Ba ta lh a

Paulo via a oração como uma batalha. "Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor" (Rm 15.30).

110

CETADEB

Teologia Pastoral I

A palavra "lutar" aqui é "sunagonizomai" (aovayoviÇo|iai), agonizar, como numa luta mesmo. Esta palavra é usada em Lucas 13.24 para "esforçai-vos"; e a "lutar nos jogos" (1 Co 9.26). Para Paulo, havia a necessidade de se manter uma luta em oração. O sentido de lutar, brigar, fazer esforço, é muito forte na mensagem de Paulo. "Combate o bom combate da fé" (1 Tm 6.12; 2 Tm 4.7), afirma Paulo. Orar, é entrar numa batalha! Cl 4.2,12). Paulo fala de Epafras "O qual se esforça sobremaneira, continuamente, por vós nas orações..." (Cl 4.2,12). Aqui o sentido também é de agonizar, de se esforçar para alcançar um prêmio. Epafras, pelo visto, era homem de oração! Paulo afirma: "Porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis" (Rm 8.26), o que indica que o Espírito Santo participa do esforço feito na oração. Foi o que teria acontecido com Jesus diante do desespero de Maria: "Ele agitou-se no espírito e comoveu-se” (Jo 11.33). Paulo costumava interceder a favor de cada pessoa, citando seus nomes a Deus. E orava com propósito, "Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento..." (Ef 1.1-18). É na oração que ele se põe de joelhos "diante do Pai" suplicando por cada membro do corpo de Cristo (Ef 3.14-20), e "por todos os santos" (Ef 6.18). "E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção..." (Fp 1.9). É quando tem a oportunidade de interceder pelas necessidades do mundo, suplicando, orando e intercedendo com ações de graça "em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade" (1 Tm 2.1-2).

lll

Teologia Pastoral I

CETADEB

3.2. A O r a ç ã o É A P r in c ip a l A r m a E s p ir it u a l N a L u t a C o n t r a Satan ás

Paulo afirma que as armas do crente não são carnais, isto é, ele não luta com coisas comuns, como carne e sangue, e que essas armas são "poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas, e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus..." (2 Co 10.4). O obreiro invade o território de Satanás com armas espirituais, e uma delas é a oração. Por isso Paulo aborda a questão, afirmando que, embora “andando na carne, não militamos segundo a carne" (v.3). Se as armas não são carnais - quer dizer - se não fazem parte do arsenal natural humano, elas são espirituais; e como toda arma espiritual ela só tem poder de ação em território espiritual. 3.3. A O r a ç ã o É Um a F o r ta le z a P a ra A V id a D o O b re iro

O obreiro quando mantém uma vida de oração, vive sob constante proteção de Deus. "Embraçando sempre o escudo da fé", afirma Paulo, "com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito" (Ef 6.16,18). E o leva a viver constantemente nas "regiões espirituais". Ele aprende a "orar no Espírito" (Ef 6.18). Ele consegue viver entre o natural e o espiritual ou transcendental com a maior naturalidade. "Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente" (1 Co 14.15), "orando no Espírito Santo” (Jd 20). O obreiro que ora, apesar de lutar em intercessão, aprende a depender de Deus e a descansar nele. 3 .4 . A O r a ç ã o É Um Rio Em Que O s Serm ões S ã o B a n h a d o s Com A G r a ç a D e D eu s

É na oração que o obreiro recebe inspiração, reflete os temas teológicos e aprende a aplicar o sermão às necessidades das pessoas. Cada mensagem que prepara deve ser regada com as 112

CETADEB

Teologia Pastoral I

lágrimas da oração. Deve aprender a refletir o que irá pregar em oração. O Espírito Santo é o inspirador de suas mensagens, mas é necessário que se detenha pare refletir sobre o que irá falar em oração diante de Deus. Os maiores sermões surgiram quando os joelhos estavam dobrados diante do Senhor.

4. F rases A tribuídas A S ervos D e D eus Q ue O ravam Em seu livro, Seu Destino é o Trono, Paulo Billheimer (Cruzada de Literatura Cristã, l ã. Edição, 1984 p. 46), cita várias frases de homens de Deus cuja vida de oração marcaram a história da igreja. Ele fala que se atribui ao pregador inglês João Wesley a famosa frase: "Deus nada fará senão em resposta à oração" e que S.S. Gordon afirmou: "A coisa mais importante que alguém pode fazer para Deus e para o homem é orar. Orar é desferir o golpe vencedor... o culto é a colheita dos resultados". E.M. Bounds conhecido por sua profundidade da vida de oração declarou: "Deus molda o mundo pela oração. Quanto mais oração houver no mundo, tanto melhor o mundo será e tanto mais poderosas as forças contra o mal. As orações dos santos de Deus são o capital acionário do céu mediante o qual Deus leva avante sua grande obra na terra... a oração deveria ser o principal negócio de nossos dias". É recomendável que os obreiros lutem constantemente contra a vontade de não querer orar. A maior vitória do obreiro é dominar sua própria vontade. Ele deve lutar contra a vontade de não querer obedecer. A oração é um mandamento. Tem de ser obedecido. O obreiro deve lutar contra as potestades satânicas no mundo espiritual que se lhe opõem e impedem-no de orar. Neste sentido foi que Jesus contou uma parábola em Lucas 18: "...sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer" (v.l). 113

Teologia Pastoral I

CETADEB

Ele contou a história de uma viúva que não desistiu enquanto sua causa não fosse julgada. Por isso, a oração que vence é a oração de perseverança, isto é, orar sempre sem nunca desanimar. O conhecido cântico da Harpa Cristã deve ser cantado nesses dias: Com Jesus a minha alma deseja estar; no jardim em constante oração Quando a noite chegar; e o mal me cercar quero estar em constante oração... (H.C. 296). Questão para reflexão: Como posso manter o equilíbrio entre a vida de estudo e a vida de oração? Se os dois temas são importantes, qual deles têm maior peso em meu ministério? Centralidade da reflexão: Devo reconhecer que sem uma vida de oração meu ministério será infrutífero, pois a oração é a mola-mestra que impulsiona o poder de Deus em minha vida.

A ESPOSA d o

m in istro

Neste capítulo o aluno estudará sobre o papel da esposa do obreiro no dia-a-dia da vida ministerial à luz das escrituras e da cultura de cada povo. Esse tema, embora seja interessante e importante para homens e mulheres, raramente é estudado em escolas bíblicas. Na realidade, a maioria das esposas não é preparada para exercer o ministério ao lado do esposo. Geralmente acontece que o esposo se envolve no ministério depois de anos de casado, dandose conta da realidade ministerial e da importância de um melhor preparo da esposa quando está pastoreando uma igreja. Via de regra, é a esposa que mais sofre com o despreparo e com as demandas do serviço na igreja, tanto da parte do esposo,

114

CETADEB

Teologia Pastoral I

quanto do povo e dos demais obreiros. Devido a tal problemática, este capítulo tratará de alguns problemas e soluções possíveis para que o ministro tenha uma esposa à altura de seu ministério. O tema será desenvolvido comparando a maneira como as mulheres eram tratadas na antiguidade até a aquisição dos direitos sociais nos dias de hoje, com exemplos extraídos da Bíblia e das páginas da história. O estudante da Bíblia precisa entender que muito do que é apresentado nas Escrituras deve ser entendido à luz da cultura da época, isto é, da cultura oriental, tanto em relação ao homem como à mulher. Até hoje, em cada país a mulher é tratada na sociedade de maneiras diferentes, conforme a raça e a cultura. Apesar de ser a Bíblia um livro que espelha a cultura oriental, com todos os costumes sociais de cada época, é nele que se encontram os elementos que podem ajudar o obreiro na vida ministerial, e os princípios que norteiam a vida cristã. Levando em conta este aspecto, há que se dar uma vista d'olhos primeiramente na questão histórica.

1. Visão H istórica D a M ulher N a A ntiguidade No tempo de Cristo e dos primeiros séculos da igreja, as mulheres não tinham direitos sociais: Eram discriminadas socialmente, não eram incluídas no censo da população, não tinham nome próprio e eram consideradas intelectualmente inferiores. Esta condição social permaneceu até o século XX na maioria dos países do Ocidente, e ainda permanece em grande parte de países orientais.

1.1.

As M u lh eres Eram Socialm ente D iscrim in ad as

A posição da mulher não mudou desde os dias de Moisés, no deserto até os dias de hoje em algumas regiões da terra. Ela era tratada muitas vezes como um objeto, sem voz ativa nas decisões e sem direito a herança. Um dos exemplos da 115

Teologia Pastoral I

CETADEB

discriminação da mulher em relação a herança pode ser vista na lei de Moisés que não dava direito de herança às mulheres. A questão da herança só sofreu alteração quando Moisés, antes de entrar em Canaã, levando em consideração as reclamações das filhas de Zelofeade, estabeleceu uma lei dando direitos às mulheres, mesmo assim, só teriam este direito caso não houvesse herdeiros homens na família (Nm 26.33 e 27.1-11). Na antiguidade a mulher era responsável por buscar água na fonte, um costume preservado em Israel desde os tempos de Rebeca, esposa de Isaque, e no Novo Testamento representado muito bem pela mulher de Samaria que Jesus encontrou junto a fonte (Gn 24.15 ss e Jo 4.6-30). Além de ser a responsável por manter a casa abastecida com água, ela cuidava das crianças, trabalhava na moenda dos grãos, preparava a alimentação da família e, muitas vezes, ajudava no pastoreio do rebanho - nada diferente dos dias atuais. A segregação social das mulheres daqueles dias pode ser vista também nas páginas do Novo Testamento, em textos que devem ser entendidos à luz da cultura oriental da época. Paulo fala da atividade das mulheres na igreja e dos cultos nas casas dela, como se verá mais adiante, elogiando a atuação das mulheres, e noutra ocasião proibindo a participação das mulheres nas reuniões. Ambos os episódios devem ser entendidos à luz dos costumes da época, em que as mulheres não participavam das reuniões públicas no mesmo espaço dos homens, sendo, às vezes, separadas por uma cortina. (Este contraste ou paradoxo Paulino pode ser analisado lendo-se Romanos 16.3-15 em que Paulo fala das mulheres que tinham igrejas em suas casas, e o texto de 1 Coríntios 14.34-35).

1.2. As M u lh e re s N ão Eram Levadas Em C o n ta N o Censo D a P o p u la çã o

É bem possível que a discriminação social seja a razão por que as mulheres não eram contadas nos censos levantados pelo governo.

116

CETADEB

Teologia Pastoral I

Nos registros bíblicos dos censos feitos em Israel, somente os homens eram contados, acima de vinte anos de idade, e nem mesmo se contavam os que tinham menos de vinte anos (Os da tribo de Levi eram contados a partir de um mês de idade (Nm 3.4 ss). O fato dos escritores do Novo Testamento mencionarem que na multiplicação dos pães "os que comeram foram cerca de cinco mil homens, além de mulheres e crianças" (Mt 14.21), indica que as mulheres não eram levadas em conta na cultura da época). Tais dados não devem ser motivo de admiração, porque as mulheres brasileiras só passaram a ter direito de voto a partir da metade do século XX.

1.3. As M u lh e re s E Seus Nomes No passado, muitas vezes, as mulheres nem nome possuíam, sendo chamadas pelo nome do pai ou do marido. As mulheres romanas não tinham nome próprio, apenas uma designação feminina do nome do pai. Assim, a filha de Júlio receberia o nome de Júlia, de João, Joana. No caso de haver mais de uma filha, a segunda receberia o nome de Secunda, e a terceira, Tertia, e assim por diante. Ainda poderiam ser chamadas de "Maior" e "Menor", isto é, a mais velha e a mais nova. Pode-se observar essa ausência de nome em várias passagens bíblicas em que as mulheres são citadas, apenas como filha ou esposa de um determinado indivíduo. Raramente os escritores dos evangelhos mencionam o nome das mulheres. Por exemplo, a mulher que sofria de hemorragia havia doze anos não tem o seu nome citado por Mateus e Marcos. É apenas "mulher" (Mt 9.20-22; Mc 5.25-34). A mulher Cananéia que implorou a Jesus pela cura de sua filha é citada apenas como "mulher" (Mt 15. 21-28). Nem tão pouco é mencionado o nome da mulher que trazia o vaso de perfumes, mas deduz-se ser Maria Madalena (Mt 26.7). 117

Teologia Pastoral I

CETADEB

Nem a mulher de Pilatos tem seu nome mencionado no Novo Testamento, isto que era esposa de um governador (Mt 27.19). O fato de muitas mulheres não serem mencionadas mostram como eram tratadas na sociedade. 1.4. A s M u l h e r e s E r a m I n t e l e c t u a l m e n t e I n f e r io r iz a d a s

Elas eram consideradas menos inteligentes que os homens, o que demonstra uma inferioridade social. Os gregos achavam que as mulheres eram intelectualmente inferiores aos homens, por isso eram deixadas de fora de todas as funções sociais, e tidas apenas como objetos de apelo sexual. E os homens romanos tinham a mesma opinião sobre as mulheres. Apesar de tudo, quando comparadas às mulheres da época de Cristo na Judéia, as mulheres romanas usufruíam muito mais liberdade que as mulheres do século XIX e do século XX. E é sob este ângulo que se entende como Priscila tem tanto destaque na igreja do Novo Testamento, pois residira em Roma durante anos. Plínio, escritor romano, escreve ao imperador Trajano, pedindo que seja concedida cidadania a duas escravas alforriadas e o mesmo status à filha de um soldado (BELL, JR, Albert, Explorando o Mundo do Novo Testamento, Editora Atos, p 107). As mulheres romanas à época de Cristo ficavam sob a guarda dos pais até o dia em que eram dadas em casamento. E é neste contexto que se entende as recomendações de Paulo a respeito das virgens e de como os pais deviam proceder com elas em 1 Coríntios 7. 25-40. Elas eram mantidas em casa até o casamento, e usadas como negócio na família. Era um trunfo financeiro para se obter dinheiro. Pode-se entender um pouco mais na declaração de Cícero: "Nossos ancestrais decretaram que as mulheres, por serem intelectualmente mais pobres, deveriam ter guardiães que as protegessem" (Pro Murema: 12.27). Plínio em suas cartas (Cartas 4.19), fala maravilhosamente bem de sua mulher, mas seu texto mostra o quanto a mulher daquela época vivia alienada da vida do 118

CETADEB

Teologia Paslor.il I

marido: "Se me disponho a ler uma de minhas obras, ela senta-se escondida por trás das cortinas e bebe alegremente, demonstrando seu grande prazer. Ela não me ama por causa de minha idade ou aparência, que vagarosamente mudará, mas por minha fama".

2. A Visão D e C risto S obre O Papel D a s M ulheres N aq u ele P eríodo D a H istória Cristo, contrariamente aos costumes de sua época, resgatou a mulher à sua verdadeira posição no reino de Deus, dando-lhe oportunidades nunca antes oferecidas, e mudando o conceito de julgamento sobre elas. A maneira como Jesus tratou as mulheres indica que na cultura do reino de Deus elas têm um tratamento diferenciado. Por exemplo: Ao negar responder aos acusadores da mulher pega em adultério em João 8 Jesus demonstra misericórdia e imparcialidade na lei. A lei afirmava em Levítico 20.10 que homem e mulher pegos em adultério deveriam ser mortos, mas a segregação social daqueles dias levou os fariseus a quererem apedrejar apenas a mulher. Os acusadores, por outro lado, tiveram que ser lembrados de que também eram pecadores. Jesus absolveu a mulher com uma sentença: "Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais" (Jo 8.11).

2.1. As M u lh eres T ra b a lh a v a m Com Jesus Ele incluiu as mulheres em sua equipe de trabalho dandolhes oportunidade de serviço. O texto de Lucas 8.1-3 é uma demonstração de que as mulheres seguiam a Jesus por todas as cidades e o serviam com seus bens: "Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens". 119

Teologia Pastoral I

CETADEB

No dia da ressurreição quase todos os discípulos se esconderam com medo dos judeus, as mulheres, no entanto, descobriram que Jesus havia ressuscitado e foram as primeiras a anunciar sua ressurreição (Lc 23.49,55). Maria Madalena foi a primeira pessoa a ver o Cristo ressuscitado (Mc 16.9,10; Jo 20.1,11,18). Joana também seguiu a Jesus até à cruz e à ressurreição (Lc 24.10). Em meio a uma sociedade predominantemente masculina, em que as mulheres não tinham direito algum, Jesus as resgatou à verdadeira condição de filhas de Deus, servindo a Jesus.

3. A Atitude Da Igreja A Respeito Das M ulheres O evangelho restaurou dignidade à mulher, o que pode ser observado pela atividade delas no Novo Testamento. Um dos exemplos mais claros do Novo Testamento está em Priscila, mulher a quem o apóstolo Paulo sempre referia como obreira e companheira de Áquila. Ela e seu esposo Áquila foram expulsos de Roma por decreto do imperador Cláudio e se encontraram com Paulo na cidade de Corinto. Quando se estuda a vida de Priscila e de Áquila, nota-se neles um casal que trabalhava em harmonia na obra de Deus (At 18.2-4). Ela e Áquila percebem que Apoio, um judeu alexandrino, e eloqüente expositor bíblico necessitava de um maior conhecimento de Jesus. O casal, então, chama-o à parte e expõe-lhe de forma clara o caminho de Deus (At 18.24-28). Paulo afirma que o casal colocou a vida em risco defendendo-o diante das muitas perseguições, além de que reuniam a igreja na casa deles (Rm 16.3-5; 1 Co 16.19). Estudaremos sobre Áquila na lição sobre a família do obreiro.

3.1. As M u lh eres Cooperavam Com O s Hom ens N o S e rv iço D a Ig re ja

Isto se depreende do fato, de que os apóstolos sempre fazem agradecimentos e recomendações especiais às mulheres.

120

CETADEB

Teologia Pastoral I

Seria bom que o estudante examinasse cada personagem e os textos bíblicos em que elas são citadas. Maria, Júnias, Trifena e Trifosa, Júlia (Rm 16.6,7,12,15); Ninfa, de Laodicéia (Cl 4.15); Cláudia (2 Tm 4.21); além de Lídia, que muitos acreditam ser a iniciadora da igreja de Tiatira (At 16.14-15 c/ Ap 2.18). Que elas se envolviam na vida da igreja pode ser notado quando o apóstolo Paulo escreve aos irmãos de Corinto defendendo o direito de ter em sua companhia uma mulher ou esposa, perguntando por que ele e Barnabé não tinham o direito de serem acompanhados por uma esposa ou irmã em suas viagens. "E também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?" (1 Co 9.5). Este texto de Paulo aos coríntios mostra quão necessário é, para o homem, ter uma esposa companheira na obra. Pelo menos pode-se supor que os demais apóstolos, os irmãos de Jesus, e Pedro viajavam acompanhados de suas esposas ou irmãs. A dificuldade para saber se eram apenas irmãs ou esposas deve-se ao fato de que a palavra grega para mulher e esposa é a mesma. Os avanços das conquistas sociais das mulheres foram possíveis graças ao cristianismo que a elevou um patamar de maior dignidade, especialmente na cultura ocidental, que pode ser contrastado com a maneira como as mulheres ainda hoje são tratadas em países predominantemente islâmicos. A sociedade cristã abriu espaço para uma mulher mais livre, em que pode usar de sua criatividade, com os mesmos direitos sociais que o homem. Inclusive a de ser respeitada em seu direito de se achegar à presença de Deus. Em nenhum momento a Escritura afirma que a mulher precise da intermediação do homem para ter acesso a Deus. Ao contrário, o apóstolo Paulo deixa bem claro que diante de Deus, homem e mulher são iguais. Homem e mulher são ouvidos e aceitos

121

Teologia Pastoral I

( IIADEB

por Deus a qualquer momento. "No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem, independente da m ulher (1 Co 11.11). Apesar destes avanços do pensamento cristão, persistem barreiras quanto a mulheres tomarem iniciativas e liderança em assuntos da igreja. Ora, a mulher não deve ser privada de sua criatividade e liderança, e sim incentivada a trabalhar ainda mais na obra de Deus, sem esquecer, obviamente, sua função de esposa e de mãe. A Bíblia é tão flexível sobre este tema, que registra o exemplo de certas mulheres do Antigo Testamento que tomaram iniciativas diante de homens indecisos. Há o exemplo da profetiza Débora, mulher de Lapidote que saiu à guerra com Baraque, que solicitou a presença dela na batalha (Jz 4.4 e ss). Noutro episódio vêse nitidamente a liderança de uma mulher evitou que a cidade fosse destruída pelo exército de Joabe (2 Sm 20.16-22).

4. O S onho Q ue O O breiro Tem D a M ulher I deal As esposas de obreiros costumam espelhar-se no modelo da esposa perfeita e virtuosa descrita pelo rei Salomão no livro de Provérbios: "Mulher virtuosa, quem a achará?” (A descrição dessa fenomenal mulher que Salomão anelava está em Provérbios 31.1031). Quando uma esposa se analisa à luz deste texto sente-se diminuída e incompetente para acompanhar o esposo, pelo padrão elevadíssimo colocado por Salomão, que jogou toda a responsabilidade do sucesso do empreendimento do marido sobre a mulher: "A mulher virtuosa é a coroa do seu marido, mas a mulher que procede vergonhosamente é como o apodrecimento dos seus ossos" (Pv 12.4). Por não ter tido tempo de se preparar para ser esposa de obreiro, ela não pode ser "cobrada" pelo marido, mas compreendida e ajudada pelo esposo a cada passo da vida ministerial. Vale destacar que no Novo Testamento não temos um ensinamento que forneça um padrão bíblico para que uma mulher seja esposa de obreiro.

122

CETADEB

Teologia Pastoral I

Quando o homem é chamado para o ministério ainda solteiro, deve pensar seriamente na esposa que o acompanhará por toda a vida escolhendo uma mulher que tenha também o mesmo sentimento. “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea" (Gn 2.18), disse Deus na criação do homem. A esposa não foi criada para ser uma escrava do lar, uma escrava sexual, ou uma reprodutora mãe de filhos, mas para viver em perfeita harmonia com seu esposo, compartilhando das mesmas atividades. Este companheirismo é colocado à prova no dia-a-dia do lar e no trabalho da igreja. Desta forma, unem-se em matrimônio sabendo dos desafios que terão pela frente. Não existem na Escritura regras rígidas de como proceder para se ter uma esposa. Encontramos um texto afirmando que “casa e bens são herança dos pais, mas a esposa certa vem do Senhor”, e outro que diz, “O que acha uma esposa acha o bem e alcançou a benevolência do Senhor" (Pv 18.22). Se o homem foi chamado para o ministério quando solteiro Deus o orientará e encontrar a esposa que o complementará. Os maridos precisam aprender a dialogar com suas esposas, permitindo que elas estudem, que se profissionalizem e que se aperfeiçoem em tudo. Assim, elas serão mais úteis no ministério, fazendo do sucesso do esposo, seu próprio sucesso. Quando um homem casado é chamado para o ministério, certamente Deus está incluindo sua esposa no chamamento, pois Deus não vê o homem como um ser isolado, mas os dois. Afinal, ele é o cabeça da mulher, autoridade instituída por Deus, e sendo os dois uma só carne, pode-se supor que Deus está chamando os dois. No momento da consagração, do reconhecimento público e da imposição de mãos para o ministério a mulher deveria ser chamada a ajoelhar-se ao lado do esposo - mesmo em denominações que não aceitem consagração de mulheres ao ministério.

Teologia Pastoral I

CETADEB

Porque ela haverá de carregar, daí em diante, ao lado do esposo, o peso do serviço ou do ministério. Nenhum pastor terá sucesso na jornada ministerial se não contar com a colaboração de sua esposa. Os homens também lêem o texto de Provérbios imaginando uma companheira que seja esposa, amante que satisfaça seus desejos sexuais, mãe aplicada e dedicada aos filhos, mulher de iniciativa e que se envolva em todos os projetos da igreja, o que nem sempre é possível. Esses sonhos precisam ser reavaliados. Um homem que sonha com uma mulher assim deverá contratar empregadas que façam o trabalho para ela. Dificilmente o obreiro encontrará esta "super mulher", e terá que aprender a conviver com as limitações da vida conjugal porque a mulher não poderá desempenhar todas as funções que os homens acham que são da competência delas realizar. É aqui que Pedro aconselha que o esposo viva a vida comum do lar, com discernimento. Podemos tomar a liberdade e parafrasear o texto assim: "Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, - ajudando na casa, limpando, lavando, trocando fraldas - com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil - isto é, como vaso delicado e raro - tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações" (1 Pe 3.7 - inserções do autor). Bem, será difícil conseguir mulher assim, como bem afirmou uma esposa de pastor: "Sempre têm-nos por imperfeitas, sempre faltando alguma coisa em nós. Se materialmente estamos bem, falta-nos o espiritual, ou vice-versa". Os obreiros têm certos sonhos irreais; sonham alto demais.

5. A E sposa D o Pastor N o N ovo C ontexto S ocial As mulheres sempre tiveram grande participação nas atividades da igreja, o que contrastava com a rigidez das leis da nação que tolhiam a liberdade da mulher em querer trabalhar.

124

CETADEB

Teologia Pastoral I

No século, XX, no entanto, a mulher obteve grandes avanços de independência e liberação dentro da sociedade. As leis dos países cristãos deram esta liberdade e independência da mulher em relação ao homem. Exemplo disto, é que em muitos países e também no Brasil, as leis civis não consideram apenas o homem como chefe do lar, mas também a mulher. Homem e mulher são iguais perante a lei dentro do lar, é que reza a constituição. As leis brasileiras com respeito às mulheres foram aperfeiçoadas, permitindo que as mulheres trabalhem em todos os setores da produtividade da nação, como médicas, advogadas, juízas, cientistas, executivas, etc. As mulheres de hoje estão mais preparadas para enfrentar este mundo industrializado e competitivo, sem precisar enfrentar as dificuldades que seus antepassados tiveram. Também, no passado, muitas mulheres obreiras enfrentaram a fome, a miséria, a perseguição, bem como todo tipo de dificuldades ao lado dos maridos nas missões em terras estranhas, e muitas delas deram suas vidas pelo evangelho morrendo no campo missionário. Em contrapartida a mulher de obreiro hoje precisa estar preparada para enfrentar as demandas do ministério diante de uma sociedade liberalizada quanto aos padrões bíblicos da família. Firmeza na fé é requisito básico para se enfrentar as tentações das riquezas e da luxúria. E o desafio de ser uma esposa intelectual sem deixar de ser espiritual.

6. C o n s e lh o s P r á t ic o s

P a ra

A

V id a M in is t e r ia l A

Dois

É preciso admitir que numa lição apenas, é impossível abordar todas as implicações e soluções que afetam a vida ministerial das esposas de obreiros. No entanto, a experiência ministerial permite que se identifiquem alguns comportamentos inadequados que

125

Teologia Pastoral I

CETADEB

comprometem o relacionamento do ministro com sua esposa e vice-versa.

6.1. Esposa F a z-T u d o Existe no meio evangélico a idéia de que a esposa do obreiro seja eficiente em tudo. Que ela saiba dirigir o coral, cantar, cuidar das crianças, liderar as mulheres, tocar instrumentos musicais, etc. Este é um engano que precisa ser corrigido. São áreas que outras pessoas da igreja também sabem executar com maestria. Se a esposa do pastor não tem todos os dotes necessários é criticada, se os têm, é invejada. Sim, pois muitas mulheres gostariam de estar no lugar dela. Uma esposa de pastor precisa aprender a lidar bem com esta área, se possível, gerenciando para que outras esposas trabalhem na obra, aliviando-lhe de certas responsabilidades.

6.2. A Esposa Cium enta Um dos problemas que precisa ser bem administrado é o ciúme que a esposa do pastor tem do marido sempre que o vê ao lado de outras mulheres, o que é parte de seu ofício. Ao contrário de ser ciumenta, ela deveria usar seu bom senso e a capacidade que Deus lhe deu de observar quando certas mulheres estão cobiçando sexualmente seu esposo. Se o casal tiver um bom diálogo, a esposa poderá ajudar o marido sobre este assunto. A esposa ciumenta destrói o ministério do marido, por isso, deve amadurecer para nunca se sentir ameaçada pelas outras esposas, e cumprir seu papel de esposa, cuidando de sua aparência, vestindo-se bem, fazendo um cursinho de etiqueta para receber amigos e amigas da igreja, esmerando-se na casa, cuidando da aparência de seu esposo, e deixando-o livre, sem ficar no "pé dele". Deve aprender a confiar no esposo.

126

CETADEB

Teologia Pastoral I

Deve ser mulher de oração a favor do esposo, suplicando que Deus o proteja, e ajudando-o para que ele não caia em ciladas sexuais, em ciladas financeiras ou que venha a se orgulhar. O ciúme corrói o relacionamento marido e mulher como um câncer. O pastor ministra a pessoas, não a objetos. Se trabalhasse numa fábrica, lidando com uma máquina, sem ter com quem conversar o dia todo, por certo chegaria em casa com uma vontade insaciável de falar. No entanto, passa todo o dia falando, seja ao telefone, com outros colegas, aconselhando, orando, ministrando e pregando, e quando chega em casa não lhe apetece falar. Resultado: a esposa se ressente com tudo isso. Além do mais, 80% das pessoas que o procuram são mulheres e a queixa principal das esposas é que seus maridos são mais corteses com as outras mulheres do que com elas. Na maioria das vezes as mulheres que o procuram para aconselhamento vêem no pastor o homem ideal com quem gostariam de casar, compreensivo, atento, cordial, romântico e que elas não têm em casa. A esposa do pastor não pode ser mulher ciumenta; ou confia no marido que Deus lha deu, ou jamais deveria haver casado. Muitos ministérios não prosperaram e muitas igrejas enfrentaram problemas com esposas de pastores ciumentas. 6 .3 . E s p o s a F a l a d e ir a

Basta ler Tiago 3 para se ter idéia do poder destrutivo da língua. A língua, diz Tiago, precisa ser freada, pois "é fogo; é mundo de iniqüidade; a língua está situada entre os membros de nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno” (Tg 3.6). 127

Teologia Pastoral I

CETADEB Eis algumas recomendações importantes:

[3 É imprescindível que a esposa do pastor aprenda a controlar suas palavras. Falar demais e não saber ouvir são dois defeitos graves numa esposa de pastor. [3 Deve aprender a guardar segredos do que vê e ouve. S

Jamais deve compartilhar com suas melhores amigas como é a vida conjugal dos dois, como vivem no lar, e nunca falar negativamente de seu marido. Agindo assim, descobrirá espiritualmente o esposo, levando-o a perder sua autoridade espiritual perante as pessoas.

S

Se necessário, deve relatar em aconselhamento, as coisas boas, e de como é possível marido e mulher solucionarem cada problema que enfrentam.

Uma esposa de pastor que não tem ciúmes das demais mulheres da igreja e que guarda os seus lábios pra não falar além do necessário, faz do ministério do pastor, seu próprio sucesso ministerial. Paulo pediu aos irmãos que ficassem firmes, "em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica" (Fp 1.27). E depois acrescenta: "Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco" (Fp 4.8-9). A mulher do obreiro deve se conscientizar de que existem muitas mulheres na igreja querendo ocupar o lugar dela. Uma mulher falou à esposa de um pastor: “Como eu gostaria de ter um esposo como o teu".

128

CETADEB

Teologia Pastoral I

Aos olhos de outras mulheres o pastor é um homem perfeito, santo, marido exemplar, um super-homem. Elas sonham com a posição e gostariam de ser a esposa do pastor. A esposa do pastor não pode ter ciúmes de tais mulheres, além de que, deve de todas as maneiras, proteger seu esposo. É tarefa difícil, mas necessária. Uma das soluções é que o aconselhamento pastoral seja feito junto com a esposa. A presença da esposa no aconselhamento de mulheres afasta, automaticamente, aquelas que procuram o pastor com segundas intenções. É claro que nem sempre uma mulher busca aconselhamento com intenções levianas; ela pode ser sincera naquilo que busca, mas existe uma tendência de se envolver emocionalmente. Muitos problemas podem ser evitados com a presença de sua esposa. Se alguma mulher fizer tentativas de sedução, a esposa será verdadeira ajudadora, observando e dando "cobertura" ao esposo. As mulheres, em geral, possuem um sentido apurado e podem avisar seus esposos do perigo iminente. Outra solução é formar uma equipe de mulheres na igreja que ajudem no aconselhamento de mulheres. O pastor, obviamente, se encarrega da supervisão e, sempre que necessário estará presente para ajudar na solução de problemas. Na maioria das vezes as pessoas querem mesmo é o pastor; neste caso, ele faz o primeiro atendimento, e depois chama à sua sala alguns de seus auxiliares, homens ou mulheres que se encarregarão de fazer o acompanhamento. Isso livra o pastor do estresse pastoral, proporciona aos demais líderes que cresçam na área de aconselhamento e distribui responsabilidades a todos os demais. Seguindo estes procedimentos, por certo, o ministro preservará sua integridade e a de sua família. Além de que terá uma esposa em quem pode confiar nos momentos de dificuldade. Durante a vida ministerial, por certo, estes valores aqui sugeridos serão de grande auxílio ministerial e outros, serão 129

Teologia Pastoral I

CETADEB

agregados à medida que o obreiro desenvolve seu ministério ao lado de sua esposa. Questão para reflexão: Por que culpar minha esposa ou meu esposo pelo fracasso de meu ministério? Deus nos chamou e juntos devemos admitir nossos erros e fracassos, vivendo unidos para resolver cada problema que surge na caminhada ministerial. Centralidade da reflexão: Uma esposa bem preparada. Eis o sonho de todo obreiro. Mas, para se conviver com uma esposa de qualidade é necessário se preparar para a obra de Deus. O verdadeiro obreiro saberá admitir seus erros, e jamais colocará a culpa de seus fracassos na esposa. Independentemente do ministério, sempre haverá de amá-la ajudando-a em tudo.

A tividades - Lição IV > Marque "C" para Certo e "E" para Errado 1) m Na maioria das orações registradas na Bíblia, pode-se observar que, quando oravam, adoravam a Deus, reconhecendo a soberania e o governo do Eterno sobre todas as coisas. 2)

0 O ministro deve ter um coração misericordioso intercedendo continuamente a Deus a favor dos demais.

3) Q Os quatro livros dos evangelhos registram que a oração fazia parte da vida diária de Jesus. 4 ) 0 Os discípulos notaram que Jesus orava uma vez por semana, na sinagoga, por isso pediram ao Mestre que lhes ensinasse a orar. 5) 6) 0

5J

Paulo via a oração como uma batalha.

Paulo afirma que as armas do crente são carnais.

130

CETADEB

Teologia Pastoral I

G^3 !=E3

Lição V

L_.

131

I

Teologia Pastoral I

CETADEB

Teologia Pastor,il I

O M in istro E S ua Fa m ília

A

inda não se criou um substituto para a família. Esta instituição estabelecida por Deus é a única base sólida contra a degradação social, econômica e política de uma nação, e sobre os alicerces da família a sociedade é organizada. Não se propõe fazer aqui um estudo sobre as diferenças entre as sociedades do m sim recorrer às escrituras à busca de parâmetros que orientem o obreiro a ter uma família que seja modelo para a sociedade. Por ser um tema de larga abrangência o tema da família do obreiro será estudado em duas partes. Na primeira parte serão fornecidos alguns modelos de famílias do Antigo Testamento, extraindo-se deles exemplos positivos e negativos, e depois se estudará o ensinamento apostólico do Novo Testamento, com especial ênfase no casal Priscila e Áquila. Esta exposição é importante porque a família do ministro é usada como modelo ou baliza para as demais famílias da igreja. A saúde de uma congregação local depende, e bastante, do modelo familiar do pastor. Na segunda parte desta lição o aluno compreenderá os vários tipos de pressões que sofrem a família do ministro, e se defrontará com orientações práticas de como solucionar cada problema. A maior parte dos episódios bíblicos de Gênesis a Malaquias se desenrola a partir do sucesso ou fracasso das famílias o que tende a limitar o estudo a apenas algumas delas. São famílias cujos chefes ou filhos cometeram erros e excessos, e, no entanto, são citadas como exemplos de fé e de pessoas que agradaram a Deus. 133

Teologia Pastoral I

CETADEB

Seus erros são mencionados nas Escrituras para servir de exemplo de como não se deve proceder. Vale lembrar que quando se estudam os casos do Antigo Testamento tem-se que levar em conta a admoestação de Paulo: "Tudo isso aconteceu com os nossos antepassados a fim de servir de exemplo para os outros, e aquelas coisas foram escritas a fim de servirem de aviso para nós. Pois estamos vivendo no fim dos tempos" (1 Co 10.11 NTLH). Depois de se estudar algumas das famílias do Antigo Testamento, o aluno se defrontará com o ensinamento apostólico do Novo Testamento e as recomendações que eles deram quanto ao obreiro e sua família.

1. Fa m ílias D o A ntigo Testam ento . S eus E rro s E A certos A seguir o estudante poderá fazer uma análise rápida de algumas famílias usadas por Deus no Antigo Testamento. Apesar de alguns chefes cometerem fracassos, são mencionados como heróis da fé. 1.1. N o é . M o d e lo D e F a m íl ia P a t r ia r c a l

A Bíblia começa a história de Noé assim: "Esta é a história da família de Noé: Noé era homem justo, íntegro entre o povo da sua época; ele andava com Deus" (Gn 6.9 - NVI). Duas coisas são ressaltadas na vida deste homem: justeza e integridade social, além de que "Noé andava com Deus". O quadro social dos dias de Noé era tão ou mais corrupto que os dias atuais. Sexo e mentira; fraude nos negócios, roubos, assaltos, estupros, violência e toda sorte de crimes. Em meio a uma sociedade corrompida, Deus observou que Noé era uma exceção naqueles dias, zelando pela família, mantendo-a à parte dos padrões sociais da época. A sociedade daqueles dias era tão corrompida que Deus decidiu pôr fim a tudo, mas preservou a Noé, e lhe disse: "Entre na arca, você e toda a sua família, porque você é o único justo que encontrei nesta geração" (Gn 7.1- NVI).

134

CETADEB

Teologia Pastoral I

A escritura dá a entender que o estilo de vida de Noé, isto é, a vida de integridade, de justeza e de comunhão com Deus salvou a família toda: "Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, não salvariam nem a seu filho nem a sua filha; pela sua justiça salvariam apenas a sua própria vida" (Ez 14.20). O apóstolo Pedro afirma que Deus "não poupou o mundo antigo, mas preservou a Noé, pregador da justiça e mais sete pessoas, quando fez vir o dilúvio sobre o mundo de ímpios" (1 Pe 2.5). Um homem justo e piedoso não poderia ter uma nota triste em sua biografia, mas ainda que possuindo tantas qualidades, a escritura não encobre o fracasso de Noé, que se embriagou e, por estar embriagado, amaldiçoou um de seus filhos. O fracasso de Nóe serve de advertência para nos indicar e mostrar às gerações futuras que o homem é pecador e imperfeito, e que depende sempre da misericórdia divina. 1.2. A b r a ã o . M o d e l o D e F a m íl ia D e F é

Depois do dilúvio a sociedade voltou a se corromper, e Deus chamou a Abraão que residia em Ur, na Caldéia, levando-o, a peregrinar em Canaã. O objetivo de Deus ao chamar Abraão é bem claro: ele queria formar uma nova família e a partir dali, uma nova nação. "De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!" (Gn 12.2). A maioria dos intérpretes bíblicos concorda que a chamada de Abraão tinha como objetivo formar uma nova família cujo padrão de vida mudasse o comportamento social daqueles dias. Quando da destruição das cidades de Sodoma e Gomorra, tendo em vista que Abraão viria a ser uma grande e poderosa nação, Deus disse: "Ocultarei a Abraão o que estou para fazer, visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra? Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que 135

Teologia Pastoral I

CETADEB

guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito" (Gn 18.17-19). Novamente fica evidente que Deus atenta para os que têm vida de justiça e integridade. Deus está afirmando a Abraão que não suportava a degradação da família e que o havia escolhido por sua capacidade de estabelecer uma família em ordem. Assim, tanto em Noé quanto em Abraão pode-se ver a intenção de Deus em estabelecer famílias na terra com um padrão de vida elevado, digna de ser chamada pelo nome de Deus. Na Antiguidade Abraão foi considerado "amigo de Deus", mesmo assim Deus permitiu que alguns de seus erros fossem registrados para exemplo nosso. Abraão mentiu duas vezes afirmando que Sara era sua irmã e despediu de casa a escrava Agar com seu filho Ismael por desavenças destes com a esposa. A partir da descendência de Abraão novas nações se estabelecem na terra. Ismael, filho dele com a escrava Agar gerou os árabes; e os netos de Abraão, Esaú e Jacó formaram os Indumeus e os Israelitas. 1.3 . Josué. M o d e lo D e Fam ília U nida.

Josué e sua família saíram do Egito juntamente com Moisés e peregrinaram durante quarenta anos juntamente com o povo no deserto. Dentre as pessoas que saíram do Egito com mais de vinte anos, somente ele e Calebe entraram na Terra Prometida. Assumiu a liderança do povo depois da morte de Moisés, e o conduziu até a terra da promissão, estabelecendo as tribos em suas possessões. Antes de morrer, fez um relato da história do povo desde Abraão, da escravidão do Egito, e de como Deus os tirou do jugo de Faraó conduzindo-os até Canaã. Não há registros bíblicos de como era a família de Josué, pois a escritura dispõe apenas de sua declaração de que fora fiel a

136

CETADEB

Teologia Pastoral I

Deus, e que todos os de sua casa serviam ao Senhor. "Se, porém, não lhes agrada servir ao Senhor, escolham hoje a quem irão servir, se aos deuses que os seus antepassados serviram além do Eufrates, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra vocês estão vivendo. Mas, eu e a minha família serviremos ao Senhor" (Js 24.15 - NVI). Sua declaração de compromisso e fidelidade foi anotada por testemunhas, escrita num memorial de pedra e anotada no livro da Lei (Js 24.26). 1.4. E li , O P a i O m is s o .

Eli era sumo sacerdote em Israel no tempo dos juizes e sua história está registrada no livro de Samuel. Seus filhos que auxiliavam no ministério não eram bem comportados nem procediam corretamente na função sacerdotal; eram iníquos e mulherengos, e Eli, velho, não conseguia dominá-los. O ministério sacerdotal em que os filhos sucediam o pai requeria que os levitas fossem exemplos de vida. No caso do sumo sacerdote Eli ele é repreendido por Deus por não disciplinar seus filhos. Deus lembra a Eli que a família dele foi escolhida desde os dias de seu pai Levi para oferecer sacrifícios no altar, tendo a honra de poder participar das ofertas e sacrifícios, mas Eli não estava levando a sério o seu ministério, e Deus considerava a atitude dele como de desprezo ao chamamento, e lhe pergunta: "Por que você honra seus filhos mais do que a mim, deixando-os engordar com as melhores partes de todas as ofertas feitas por Israel, o meu povo?" (v.29). Eli fazia vistas grossas aos erros dos filhos, e não interferia. Eli serve de exemplo de pai omissivo, que não exerce autoridade espiritual na família; de pai que não repreende os filhos quando estes não se conduzem como Deus quer. Quantos ministérios nos dias de hoje retratam o mesmo problema de Eli!

137

CETADEB

Teologia Pastora! I

1.5. Sam uel. Pai Ín te g ro

Samuel substituiu a Eli no comando do reino no tempo dos juizes, e sua vida é exemplo de homem de Deus por mais de quarenta anos. No entanto, apesar de ser sacerdote e profeta uma nota triste foi escrita no fim de sua vida a respeito de sua família: "Quando envelheceu, Samuel nomeou seus filhos como líderes de Israel. Seu filho mais velho chamava-se Joel e o segundo, Abias. Eles eram líderes em Berseba. Mas os filhos dele não andaram em seus caminhos. Eles se tornaram gananciosos, aceitavam suborno e pervertiam a justiça. Por isso todas as autoridades de Israel reuniram-se e foram falar com Samuel, em Ramá. E disseram-lhe: "Tu já estás idoso, e teus filhos não andam em teus caminhos; escolhe agora um rei para que nos lidere, à semelhança das outras nações” (1 Sm 8.1-5 - NVI). Estes exemplos bíblicos mostram que a falta de obediência e do temor de Deus causam problemas na família. A expressão, "teus filhos não andam em teus caminhos", inocenta a Samuel, e serve de alerta para que os filhos sigam o bom exemplo dos pais. Os filhos de Samuel eram gananciosos, aceitavam suborno e pervertiam o direito dos pobres. (O neto de Samuel, Hemã, filho de Joel é visto como um dos levitas adoradores - 1 Cr 15.16-17. Muitas vezes Deus recompensa os bons pais, na vida dos netos!). 1.6. D avi. Exem plo De F ra c a s so Fa m ilia r.

Davi é tido como o mais poderoso rei da história de Israel. Além de rei era profeta, e a Bíblia o apresenta como homem segundo o coração de Deus (At 13.22). No entanto, a Bíblia não encobre suas transgressões nem tão pouco os acontecimentos trágicos de sua família. O capítulo 11 de 2Samuel registra o início da tragédia familiar de Davi quando ele adulterou com Bate-Seba, cujo marido, Urias, estava lutando na guerra. Logo que ficou sabendo que Bate-

138

CETADEB

Teologia Pastoral I

Seba engravidara, mandou chamar o esposo dela do front da guerra, insinuando que este se deitasse com Bate-Seba e depois imaginasse que o filho era seu. Urias recusou ir para casa, e Davi ordenou que ele fosse morto na batalha. Depois que Urias morreu, Davi tomou a mulher para si, e a partir daí uma sucessão de tragédias começaram a acontecer. Através do profeta Natã Deus advertiu a Davi sobre as conseqüências de seu erro e das desgraças que devido ao pecado, aconteceriam em sua família (2 Sm 12). Os filhos de Davi passaram a brigar entre si, e a família experimentou momentos de grandes dificuldades. Logo depois, um de seus filhos, Amnom estuprou a meia-irmã Tamar causando vergonha em Jerusalém. Não se vê um movimento de Davi para repreender o filho. Absalão, meio-irmão de Amnon, dois anos depois preparou uma cilada e o matou. Mais tarde, Absalão se revoltou contra Davi, seu pai, e o expulsou de Jerusalém, mantendo relações sexuais com as concubinas do pai aos olhos de todo o povo. Por fim, o próprio Absalão morreu na guerra que travava contra o pai. Por que citar neste estudo pessoas que são exemplos de fracassos na família? Primeiramente, porque quando estas mesmas pessoas são citadas como exemplo no livro de Hebreus, o escritor não registra seus fracassos, mas suas vitórias. Em segundo lugar, convém lembrar que todos os heróis da fé citados em Hebreus 11 não são lembrados por seus erros, mas por sua fé em Deus. É sobre isto que escreve o autor do livro de Hebreus: "...para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas" (Hb 6.12). São homens e mulheres que superaram as dificuldades porque tinham em vista as promessas de Deus.

2. O E nfoque D o N ovo T estam ento S obre A Fam ília D o M inistro O Novo Testamento abre uma página nova na história bíblica, pois na nova comunidade passam a fazer parte famílias de todos os povos da terra, e não apenas israelitas. 139

Teologia Pastoral I

CETADEB

Das famílias do Antigo Testamento deve-se imitar a fé que tiveram, mas para as famílias de hoje o estudante deve analisar o conteúdo do Novo Testamento e o que os apóstolos exigiam de uma pessoa para que se tornasse líder na igreja. Diferentemente do Antigo Testamento, quando apenas a nação de Israel era tida como povo de Deus, no Novo Testamento Deus acolhe pessoas de todos os povos, línguas, tribos e nações e faz dessa gente nação santa, povo adquirido de Deus, família de sacerdotes. Pedro interpretou este propósito divino quando escreveu: "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. Vós, sim, que antes não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus" (1 Pe 2.9-10). Escolhidos por Jesus Cristo para a missão evangelizadora e para o estabelecimento de igrejas, os apóstolos estabeleceram regras e parâmetros quanto aos líderes desta nova comunidade. Eles se preocuparam com a família do obreiro e com o testemunho que devem dar na sociedade onde a igreja está inserida. No ensino apostólico depara-se com as orientações para uma vida ministerial bem sucedida. Assim, é necessário saber quais as recomendações apostólicas sobre a família do obreiro. 2.1 . Recom endações A p o stó lic a s Sobre A Fam ília

Dentre todos os apóstolos, Paulo foi quem estabeleceu as condições de como devem ser escolhidos os líderes da igreja, e entre as várias orientações, ele estabelece critérios para a vida pessoal e familiar do obreiro. E ele tinha autoridade para tanto. Homem de revelação, culto, profundo conhecedor das culturas de sua época, aconselha que os líderes da igreja tenham certas qualidades que os diferenciem dos demais líderes da sociedade. Tal conhecimento é visto nas recomendações a Tito sobre a escolha dos presbíteros, recomendando que tivesse cuidado 140

CETADEB

Teologia Pastoral I

quando o líder fosse cretense, porque, segundo ele, a fama dos habitantes de Creta não era muito boa. Eram tidos por um de seus profetas como "mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos". E depois acrescenta: "Tal testemunho é exato. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sadios na fé" (Tito 1.12-13). 2.1.1. Marido de uma única esposa. Diferentemente do Antigo Testamento cuja sociedade permitia que o líder casasse com várias mulheres, na nova comunidade Paulo estabelece que o líder da igreja deveria ser "esposo de uma só mulher" (1 Tm 3.2 e Tt 1.6). E nesta questão Paulo contraria o costume da época da sociedade greco-romana, indicando que a igreja, a família de Deus deveria ter um padrão de vida diferente do mundo. 2.1.2. Líder na família. Paulo estabelece que o ministro "... governe bem a sua casa, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)". No conceito de Paulo, governar bem a casa é saber administrar as questões espirituais do lar, pois ele fala em criar os filhos sob disciplina, e isto com todo respeito. O bom ministro aprenderá a tratar as questões disciplinares do lar, respeitando os filhos. Esta disciplina no lar é mais bem explicada no texto a Tito: "que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados" (Tt 1.6). A boa ordem dentro da casa não é algo que se comece a meio caminho, quando os filhos estão moços, e sim uma tarefa que deve ser feita desde que são crianças. Manter os filhos sob disciplina não é tarefa a ser feita depois que estes se tornam adultos. Enfrentam sérios problemas casais que se convertem quando os filhos estão na adolescência, o que não isenta o líder de sua responsabilidade. O verdadeiro líder do lar é líder mesmo que não seja crente.

141

Teologia Pastoral I

CETADEB

O maior desafio, no entanto, surge anos depois quando os filhos adultos resolvem seguir seu próprio caminho. Um bom ministro saberá respeitar as decisões de seus filhos. A mesma exigência é feita aos diáconos. "O diácono seja marido de uma só mulher e governe bem seus filhos e a própria casa" (1 Tm 3.12). Não se pode abrir mão desses pressupostos bíblicos na igreja. Uma família em ordem é exemplo para a igreja e para os vizinhos. Assim, o melhor que se tem a fazer é criar os filhos nos caminhos de Deus, servindo-lhes de exemplo em tudo. E que modelo de chefe de família é exigido dos obreiros? João, o apóstolo, elogia alguém pelo cuidado que tinha com os filhos - sejam estes filhos naturais ou espirituais: "Não tenho alegria maior do que ouvir que meus filhos estão andando na verdade" (3 Jo 1.4). A boa administração da casa trará reflexos imediatos na Casa de Deus. Um pastor que perde o controle sobre sua casa, e não consegue o companheirismo da esposa, de maneira respeitável, nem a submissão dos filhos, deve urgentemente reavaliar e reconsiderar onde errou, pedindo até mesmo perdão à igreja por não ter conseguido ser um bom marido, pai e sacerdote do lar. Talvez os apóstolos entenderam que este modelo familiar era o que Jesus tinha em mente quando falou sobre a "casa digna", isto é, um lar bem administrado onde as pessoas são bem recebidas e sentem prazer em estar. Por isso abordam também o tema da hospitalidade, colocando como exigência que o obreiro seja "hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si" (Tt 1.8). Este conceito de "casa digna" é abordado por Jesus ao enviar seus discípulos às cidades de Israel: "Na cidade ou povoado em que entrarem, procurem alguém digno de recebê-los, e fiquem em sua casa até partirem. Ao entrarem na casa, saúdem-na. Se a casa for digna, que a paz de vocês repouse sobre ela; se não for, que a paz retorne para vocês" (Mt 10-11-13 - NVI). 142

CETADEB

Teologia Pastoral I

O conceito de dignidade do lar pode ser visto também em Romanos 16.2 em que Paulo afirma que faz parte dos santos tratarem bem e ajudar os demais irmãos. Outros textos: (Fp 1.26; Cl 1.10). O obreiro deve ser exemplo do evangelho de Cristo, tornando-se modelo de dignidade na comunidade onde reside.

3. Á quila E P riscila : Exem plo s D e O breiros Faz-se necessário enriquecer esta lição fazendo uma abordagem detalhada do casal Áquila e Priscila, cujo exemplo transpira nas páginas do Novo Testamento. Ao que parece, Áquila e Priscila não tinham filhos - pelo menos não existe menção deles na Bíblia - ou se tinham filhos, por ocasião do relato bíblico deveriam ser adultos. O que se vê a seguir é um casal envolvido na obra de Deus. Eram peregrinos em busca de uma pátria. O relato bíblico afirma que casal vivia em Roma, até que o imperador Cláudio ordenou que todos os judeus saíssem de Roma. Por serem judeus residentes em Roma Áquila e Priscila, saíram à procura de novas terras. Os dois também conheciam o evangelho de Cristo e não medem esforços em encontrar um bom lugar para viver. Assim, depois de peregrinarem por várias cidades, fixaram residência em Corinto (At 18.1,2). Eram perfeitos na profissão. Não se requer que homem e mulher tenham a mesma profissão, mas no caso de Áquila e Priscila, ambos trabalhavam fabricando tendas. Tinham o mesmo ofício. Profissionalmente pensavam igual, tinham uma só mente (At 18.3). É possível que esta atividade conjunta fosse fruto da experiência de vida que tiveram em Roma, em que as mulheres cooperavam mais intimamente com o esposo, conforme citamos na lição sobre a esposa do pastor. Que bom ver surgir no seio da igreja casais que trabalhem unidos na edificação da igreja de Cristo. Eles aprendem a dividir as tarefas do dia-a-dia não em função do conforto pessoal, mas da extensão do reino de Deus. Eram perfeitos na sociedade. O obreiro e sua esposa devem trabalhar juntos - muitas vezes, em nossa sociedade, a ela compete 143

Teologia Pastoral I

CETADEB

cuidar de certas tarefas da casa, mais que ele. Mas, tornam-se bons parceiros quando abrem espaço para que outros se juntem a eles. Áquila e Priscila encontraram o apóstolo Paulo em Corinto, também um peregrino, que fabricava tendas para se sustentar e foi acolhido pelo casal. Os três tinham a mesma profissão, e faziam tendas (At 18.3). 0 marido deve fazer o possível para tornar sua esposa parceira de suas atividades na igreja, pois uma sociedade perfeita é aquela em que os sócios trabalham buscando o lucro do próximo ou o lucro do reino de Deus. Perfeitos na hospitalidade. Mas não somente acolheram a Paulo na sociedade. Paulo, apóstolo, peregrino e empreendedor de novas igrejas, chega a Corinto e o lar que encontrou foi o de Áquila e Priscila. O casal perfeito é, acima de tudo, hospitaleiro. Assim como Sara, esposa de Abraão que ordenou se preparasse o almoço para os três viajantes que pararam em sua casa na hora do maior calor do dia, Áquila e Priscila, acolheram um outro anjo de Deus, Paulo, que em sua casa encontrou um cantinho para descansar. A casa de Áquila e Priscila tornou-se o refúgio de Paulo, mais tarde, o refúgio de toda equipe apostólica e também o lugar de encontro da igreja. Nada gera mais atrito entre um casal que um hóspede indesejável, tema que será abordado no capítulo seguinte. Existem pessoas que não se comportam como bons hóspedes deixando o lar que o hospeda em alta tensão. Por isso, a hospitalidade tem que ser das virtudes, a mais harmônica. É num lar assim que o casal e o hóspede entram em harmonia com Deus. É na hospitalidade que as diferenças entre o casal ficam mais acentuadas! É na hospitalidade que se percebe se um casal está unido ou não. Perfeitos na missão do Reino de Deus. Depois de um ano e meio compartilhando seu lar com Paulo em Corinto, o casal não hesita em mudar de rumos e acompanha o apóstolo Paulo numa viagem missionária, de cidade em cidade, de porto em porto e se estabelece em Éfeso (At 18.18,19). Estavam dispostos a novas aventuras da Fé. Paulo segue adiante, mas o casal fica na cidade de Éfeso, pastoreando a igreja na cidade.

144

CETADEB

Teologia Pastoral I

Conhecedores do propósito de Deus. Ambos eram conhecedores da palavra de Deus. Quando Apolo, homem eloqüente e poderoso nas Escrituras chegou a Éfeso, Áquila e Priscila viram neste judeu alexandrino um expositor bíblico em potencial. Apolo se viu cercado da hospitalidade e do amor do casal. Mas não somente isto. Foi doutrinado com respeito ao propósito de Deus. Por estarem atentos ao rumo da igreja, Áquila e Priscila não hesitaram em corrigir a visão doutrinária e de fé de Apolo (At 18.26). O casal perfeito compartilha visões e sonhos, mas também compartilha dos livros que se amontoam na mesa. A esposa perfeita não reclama dos livros que enchem as prateleiras, mas aprende a amá-los tanto quanto o marido. (Aqui está a dica). Nem o marido reclama das flores e plantas que adornam o lar. Promoviam os relacionamentos entre os membros das igrejas. Quando Apolo seguiu viagem, precisando de hospedagem, Áquila e Priscila o recomendaram aos seus amigos em Corinto (At 18.27-; 19.1). O obreiro e sua esposa não possuem exclusividade em suas amizades, mas partilham do seu ministério com todos. Fortes na vida da igreja local. A igreja em Roma se reunia na casa de Áquila e Priscila (Rm 16.5). Com a perseguição, e com a mudança para Corinto, passou a se reunir na casa deles, na nova cidade. Agora em Éfeso, o casal abre a casa aos irmãos. A igreja de Éfeso cujo potencial é conhecido de todos foi pastoreada com a ajuda de Áquila e Priscila. O casal não mediu esforços e Éfeso é tida como uma igreja perfeita em tudo (At 18.19). Companheiros na fé do apóstolo. Paulo os chama de companheiros, cooperadores. O casal é elogiado por esta qualidade (Rm 16.2). Na história da igreja sempre houve lares onde os obreiros encontraram amizade, ajuda e socorro. Áquila e Priscila eram fiéis ao apóstolo e a Cristo. Paulo afirma que o casal arriscou a vida tentando ajudá-lo. Não sabemos o que o casal fez, se o escondeu ou se o seqüestrou de alguma prisão, mas Paulo afirma que eles colocaram em jogo suas próprias vidas (Rm 16.4).

145

Teologia Pastoral I

CETADEB

Viviam a serviço dos santos. Paulo destaca o casal como pessoas que estavam dispostos a morrer pelos irmãos na fé (Rm 16.4). O obreiro e sua esposa, não vive para si mesmo, mas para o próximo e, se possível, dá a vida por seus irmãos. Conclusão desta lição. O ministro é primeiramente o pastor de sua própria família, pois não há como separar a vida pastoral, vivida todos os dias no cuidado do rebanho, da esposa e dos filhos. Ele é um pastor na igreja, e um pastor em casa. Pastoreia sua família como exemplo de como devem ser pastoreados os membros da sua igreja. Deve entender também que é um profeta no seu lar, tal qual Abraão, nosso exemplo, apontado por Deus como profeta. "Pois ele é profeta, e intercederá por ti, e viverás" (Gn 20. 7). Aqui o profeta aparece com a qualidade de um intercessor. O pastor ou ministro é responsável diante de Deus por sua esposa e filhos. Como profeta ele é o guardião espiritual do lar, detectando a entrada sutil do mal e repreendendo os ataques demoníacos e as enfermidades. Quantas vezes o obreiro tem de enfrentar as trevas que tentam se impor sobre sua casa com rebeldia, enfermidades e opressão satânica. O ministro jamais deve esquecer que além de esposo, é um amante de sua mulher. A expressão "amante", é correta, porque no mundo, os homens parecem encher de regalias a mulher que mantém fora do casamento. A esposa, além de ser mulher, deve ser tratada com carinho, presentes e regalias pelo esposo que demonstra ser um bom amante. O ministro deve sobressair-se também como modelo de pai. Este tema será abordado com maior profundidade no capítulo a seguir. Como pai e esposo, o bom ministro haverá, sempre, de prover as necessidades espirituais e materiais da família. Filhos bem cuidados quando pequenos, serão grandes amigos quando grandes. Questão para reflexão: Até que ponto, como esposo, tenho representado a autoridade de Deus dentro do lar? E até que ponto

146

CETADEB

Teologia Pastoral I

sou apaixonado por minha esposa e filhos sem sacrificá-los diretamente na obra que estou envolvido? Centralidade da reflexão: O padrão de Deus para a igreja é o lar, pois serve de modelo de autoridade e amor. É no lar que podemos demonstrar nossa intimidade com Deus e nossa amizade com os amigos.

O MINISTRO E SUA FAMÍLIA o início desta lição você pôde observar vários modelos de famílias do Antigo Testamento e entender o modelo implantado pelos apóstolos para os obreiros do Novo Testamento, cujo exemplo foi detalhado na vida familiar do casal Áquila e Priscila. Agora você verá os problemas mais comuns enfrentados pelos obreiros no contexto brasileiro, e verá as soluções para cada caso.

N

Todos os dias o pastor tem de resolver conflitos entre a igreja e o lar, conflitos da igreja com os filhos, com a esposa e com parentes próximos, que drenam sua espiritualidade e desafiam o chamamento recebido de Deus. Quando se reflete sobre o tema, pode-se encontrar vários tipos de pressões muito fortes sobre a vida e o ministério do obreiro. As pressões da igreja, que conflitam com o lar, as pressões da consciência e de seu chamamento e as pressões do lar. Os conflitos, se não forem resolvidos um a um trarão conseqüências para a família e para a igreja. A seguir o aluno verá as pressões que o obreiro sofre, e depois estudará as possíveis soluções para cada caso.

147

Teologia Pastoral I

CETADEB 1. Enfrentando As Pressões Do Povo

As atividades do obreiro na igreja, e as pressões que o povo exerce sobre o líder fazem-no viver pressionado por todos os lados. Há uma tendência no meio evangélico de crer que o pastor é pago para fazer a obra de Deus, e as igrejas que pensam assim não dão sossego ao pastor. Se este dedicar uma parte do dia para o estudo e a oração sem comparecer ao escritório da igreja, é tido como preguiçoso; caso se dedique à visitação (costume herdado da atividade que os padres exerciam em nossas comunidades), não terá tempo para estudar a Bíblia. Algumas igrejas costumam valorizar o obreiro pelo que ele faz; outras, pelo que ele é. Quanto às visitas pastorais, assunto que será tratado noutro capítulo, existe a tendência de deixar os irmãos dependentes da visita pastoral, isto é, os membros não retornam aos cultos se o pastor não lhes visitou durante a semana. Este tema será tratado com maiores detalhes mais adiante. 1.1. S o l u ç õ e s À P r e s sã o D o P o v o

O obreiro deve aprender a liberar-se das pressões do povo, e não se deixar levar pelo que o povo diz a seu respeito. Esta é uma armadilha, em que os obreiros, até os mais experientes caem. Em busca da auto-afirmação ministerial, costumam fazer o que o povo pensa que deve ser feito, e não o que Deus pede dele. Saul é exemplo de um líder que tomou decisões erradas pressionado pelo povo. Na tentativa de provar a si mesmo e ao povo que era chamado por Deus, Saul caiu na armadilha de fazer o que o povo queria e não o que Deus lhe mandou fazer. Certo dia, depois de esperar sete dias por Samuel, pressionado pelo povo decidiu, ele mesmo, apresentar o sacrifício.

148

CETADEB

Teologia Pastoral I

Ao ser confrontado por Samuel, desculpou-se, dizendo: "Vendo que o povo se ia espalhando daqui, e que tu não vinhas nos dias aprazados..." (1 Sm 13.11). A pressão do povo o levou ao erro. Na guerra contra os amalequitas se deixou levar pela pressão popular. Colocou a culpa no povo, e pediu a Samuel que o honrasse diante dos anciãos de Israel: "Pequei, pois transgredi o mandamento do Senhor e as tuas palavras; porque temi o povo, e dei ouvidos à sua voz... honra-me, porém, agora diante dos anciãos do meu povo, e diante de Israel..." (1 Sm 15.15, 30 - grifo do autor). A pressão da congregação, ou o medo do povo precisa ser avaliado em cada situação. Quando se é jovem existe a tendência de ouvir demasiadamente o povo e não a Deus. Aprende-se, depois, que o povo muda de idéia como o vento muda de direção, e que nunca estará satisfeito por melhor que seja o pastor. Nesse sentido, o obreiro deve ser firme com o propósito de Deus e conduzir o rebanho sem se deixar levar pela exigência do povo. A expressão "voz do povo, voz de Deus" não encontra respaldo algum nas escrituras. Algumas igrejas assemelham-se a clubes em que a diretoria - uma espécie de poder legislativo - decide o que o executivo (o pastor) deve fazer. Operam na ordem inversa dos princípios bíblicos do Novo Testamento. O pastor é o homem de Deus colocado pelo próprio Deus sobre o rebanho; e quem coloca ou tira o líder da direção da igreja é Deus e os meios que ele decide usar. As "igrejas clubes" - em que os membros mandam em tudo - aparentemente funcionam bem, mas não cumprem com o propósito de Deus que é o de trazer o governo de Deus sobre a terra. Deus governa através dos homens por ele levantados na igreja. Não existem modelos democráticos, populistas ou teocráticos explicitados no Novo Testamento. O Espírito Santo não deixou modelo algum, para que a igreja seja governada por líderes que têm revelação de Deus sobre a igreja.

149

Teologia Pastoral I

CETADEB

A pressão do povo sobre o ministro tende a gerar um segundo problema que é o conflito de consciência, isto é, a consciência pressiona o obreiro entre fazer o que o povo quer e o que ele acha que deve fazer.

2. Enfrentando As Pressões Da Consciência A igreja e os obreiros precisam entender que o pastor é uma classe especial que não se enquadra nos regimes das leis trabalhistas, isto é, ele não tem hora para começar e para terminar de trabalhar, não assina o cartão-ponto, e seu trabalho requer que se envolva na obra as vinte e quatro horas do dia. Diferentemente dos executivos e empregados que retornam para casa no fim do dia; os ministros passam o dia ouvindo pessoas, atendendo compromissos da igreja e, nem sempre têm tempo de voltar para casa antes do culto da noite. Por questão de consciência, e por querer levar adiante seu chamamento, trabalham demais. Depois de um dia cheio, atendendo compromissos da igreja, retornam tarde da noite para casa quando a esposa e os filhos já estão dormindo. No domingo, poderiam dormir até mais tarde, mas têm de se levantar cedo para as atividades da igreja. É um círculo interminável. Caso reservem a segunda-feira para o descanso, não podem ficar com os filhos que estudam durante o dia ou envolvem-se em diferentes atividades. O ministro tem tanto trabalho que as vinte e quatro horas são insuficientes para realizar tudo o que tem de fazer. Visitas, estudos, interferências, oração, aconselhamentos, administrações - são trabalhos para o super-homem. Resultado: Ao fim de tudo descobrem que, se não se cuidarem, ocuparão todo o tempo servindo a igreja, descuidando-se de outros afazeres, como a família e a comunhão diária com Deus. As pressões da consciência são comuns e afetam o planejamento de horários com a família, o tempo de férias, as 150

CETADEB

Teologia Pastoral I

noites ou noite de folga e especialmente sobre a esposa que se vê acuada diante de tantas exigências da consciência. 2.1. S o l u ç õ e s À P r e s sã o D a C o n s c iê n c ia

Tanto a igreja quanto o ministro precisam entender que o pastor é um elemento atípico, isto é, não se enquadra em classe empregatícia alguma. O pastor, diferentemente de um membro da igreja, dorme sempre muito tarde, seus horários são diferentes, e ele deve ter liberdade de administrar o seu tempo e não se submeter à pressão dos membros da igreja. Se seu ministério requer longos períodos da noite, deve dormir até mais tarde pela manhã, ou à tarde. O obreiro precisa entender que certos membros da igreja dormem cedo "como galinhas" e costumam chamar o pastor nas primeiras horas da manhã, às vezes de madrugada. Esquecem que o pastor, devido aos compromissos da igreja precisou ficar acordado até altas horas orando ou ajudando alguma pessoa. Esta pressão do povo e da consciência faz que o pastor não durma o necessário, prolongando o horário até mais tarde, imaginando que alguém poderá lhe chamar. O que não pensarão do pastor, indaga-se? Anos de vigor são perdidos por não dormir o necessário ministrando às pessoas até tarde da noite. Resolver estes conflitos de consciência requer planejamento de horários, e uma conversa franca com os auxiliares mais chegados que aprenderão a respeitar o horário e não telefonarão a qualquer momento. Como as noites são sempre ocupadas com assuntos da igreja e o casal raramente tem tempo de ficar a sós, nada melhor do que separar um tempo para os dois, enquanto os filhos estão na escola. A prenda

a

p la n e ja r

os

h o r á r io s

com

a

f a m í l ia .

D e c id a q u a n t o a o t e m p o d e f é r ia s . Férias, então, parecem ser um dos sete pecados capitais, e alguns obreiros quando tiram férias, usam-na para pregar em alguma outra cidade. Errado. As

151

CETADEB

Teologia Pastoral I

férias são um período de descanso em família, em que o obreiro se recupera mental e fisicamente para o ano todo. Trinta anos de ministério, trinta férias. Todos saem em férias, por que não o pastor e sua família? É bom tirar férias com a família e em família, aprendendo a planejar as férias com os filhos, e aproveitando ao máximo o tempo livre. O obreiro não deve se deixar impressionar por aqueles que se orgulham de nunca tirar férias. Tais pastores não conhecem a Escritura, senão, saberiam que os judeus tinham várias festas anuais, uma das quais a dos Tabernáculos, um tempo de descanso, alegria, festas e comes-e-bebes. Por isso, se necessário deve ensinar a igreja sobre a importância da família e dos filhos, exigindo que os obreiros gastem tempo com os filhos e a esposa. O obreiro deve planejar passeios e viagens com os obreiros e suas esposas, levando-os a valorizar o tempo da família. Eles se tornarão os maiores defensores da família e saberão respeitar o horário de trabalho do pastor. R e se rv e u m a n o ite p a r a a fa m ília . O s filhos crescerão saudáveis. Não se deve abrir mão de uma noite para o casal, e devese separar uma noite para os filhos, permitindo que eles mesmos planejem as brincadeiras da noite.

O obreiro deve se manter firme quanto a noite da família e deve incentivar para que seus auxiliares façam a mesma coisa, se possível, estes também tenham a noite da família na mesma noite que seu pastor. Os filhos ficarão marcados para sempre. Basta fazer os cálculos para descobrir quão pouco tempo se tem para ficar com os filhos ao longo da vida. Talvez esse conflito, esse paradoxo, entre servir a Deus e a família, sem ser relapso com Deus, nem prejudicar a família, precise ser resolvido pessoalmente por cada obreiro. O obreiro deve ter em mente que, se não sabe governar bem a sua própria casa, também não saberá governar a igreja deT)eus. 152

Teologia Pastoral I

CETADEB

Resulta que a pressão do povo e da consciência gera um terceiro conflito que é o da obediência aos princípios bíblicos. Como viver em obediência à palavra de Deus sem conflito de consciência e sem bater de frente com o povo?

3. E nfrentando A P ressão D os P rincípios B íblicos O conflito começa quando o obreiro desconhece tudo o que a escritura diz a respeito do chamamento divino, do propósito de Deus com a família e não consegue fazer uma interpretação correta dos textos bíblicos. Dois textos bíblicos, quando comparados, costumam gerar conflitos na vida do ministro. O primeiro é a declaração de Jesus em Lucas 14.26: "Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a própria vida, não pode ser meu discípulo" e o outro foi citado por Paulo: "... e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)" (1 tm 3.4-5). Como conciliar estes dois textos? Se questões teológicas como esta de abandonar os pais, filhos e parentes não forem resolvidas à luz de outros textos bíblicos que falam da família, por certo, o obreiro entrará em conflito, e tanto a igreja quanto a família serão prejudicadas. Sempre que se conversa com pastores descobre-se que este é o dilema que eles enfrentam todos os dias. São conflitos como este que, quando não solucionados levam os obreiros ao extremismo, como o de certo obreiro mundialmente famoso que relatou para a igreja a reação de seu filho, ao chegar em casa depois de uma longa viagem. Gloriava-se diante da igreja, contando: "Um dia desses meu filho perguntou à minha esposa: mãe, quem é esse tio?" Ele se orgulhava de ficar apenas três meses em casa durante o ano. Não é de se admirar que anos depois o tal obreiro já estava no terceiro casamento.

153

Teologia Pastoral I

CETADEB 3.1. S o lu ç ã o A E s t e P r o b l e m a

A consciência do obreiro o pressiona muito nesta área, e isto precisa ser bem administrado. Os ministros vivem premidos pela consciência, especialmente quando são obrigados a viver de maneira completamente diferente dos membros da igreja. Por um lado devem abandonar mulher e filhos por amor ao Senhor e por outro, cuidar da casa. O que fazer? Deve-se viver na riqueza ou escolher a pobreza? Pode-se adquirir bens como qualquer outra pessoa - desde que sejam frutos de nosso trabalho, ou deve-se adotar um estilo de vida franciscano? São perguntas que precisam de respostas. Alguns ensinamentos teológicos ensinam que a pobreza é relevante para a salvação, e que o importante é alcançar o céu; outros, que a riqueza é um direito do cristão quando é salvo. O que fazer? A solução a este conflito teológico está em se fazer uma exegese bíblica e clara sobre os temas conflitantes. Por não resolver estas questões bíblicas muitos obreiros se distanciam de seus parentes mais chegados, como pais, sogros e demais familiares criando problemas no relacionamento familiar. O pastor é levado a viver totalmente contrário à realidade da vida, confundindo o chamado ao discipulado com o chamamento ministerial. Uma coisa é o chamado ao discipulado, que muitas vezes requer seguir a Cristo em detrimento da família, mas o chamamento ao ministério não é sinônimo de rompimento das relações familiares. Quando Jesus afirma que se deve abandonar tudo por amor a ele, está falando do custo do discipulado, que faz a pessoa decidir ou optar entre a família, os relacionamentos familiares e Jesus. Uma pessoa deve fazer a escolha máxima, que é seguir a Jesus apesar dos protestos de seus familiares. De maneira geral, uma família que se converte a Cristo paga o alto preço do discipulado para segui-lo. O chamado ao discipulado não dá à pessoa opção de escolha.

154

CETADEB

Teologia Pastoral I

Assim, Lucas 14.26 precisa ser estudado ao lado de 1 Timóteo 3.5 em que Paulo estabelece um padrão de obreiro na igreja: “Pois se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?" (1 Tm 3.5) e também com textos como: "Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra" (Ef 6.2-3). Existem situações em que o obreiro deve abrir mão ou abdicar de determinado ministério para poder cuidar do pai e da mãe quando idosos, e não jogá-los para morrer em qualquer lugar. E se no ministério o obreiro puder cuidar dos seus "velhos", a promessa de longos dias de vida prometidos por Deus estarão ao seu alcance. Esta demanda teológica conflitante não obriga o ministro a viver em casas espremidas no fundo de templos, enquanto o próprio templo, arejado e confortável, permanece vazio vários dias da semana. Assim, parece que a solução aos conflitos familiares deságua sempre na vida de miséria que leva a família do pastor a sofrer e a viver como se fosse de outro Planeta. É um conflito que pressiona a consciência do obreiro. Certas congregações não entendem estes dilemas e contribuem para que o conflito pastoral aumente. Na atual conjuntura social é recomendável que o ministro evite residir em casa pastoral em fundos de templo ou em anexos. O bom mesmo é residir com a família a uma distância segura do templo. Três quilômetros de distância já é uma boa margem de segurança. É bem melhor. Esposa e filhos terão maior liberdade de ação e não ficarão expostos ao olhar dos críticos de plantão. 3.2 . R e f le x o s S o b r e A E s p o s a

A esposa do ministro também se sente pressionada nestas três áreas, especialmente quando é obrigada a desenvolver um ministério lado a lado com seu marido - sem que seja remunerada para isso. 155

Teologia Pastoral I

CETADEB

Existe o conceito errado de que a esposa do pastor deve liderar o ensino de crianças da igreja, cuidar do coral, das reuniões de senhoras, reuniões do círculo de oração das mulheres e ser presidente da assistência social da igreja. Todavia, ela tem os filhos para cuidar, treinar, disciplinar, tem o marido que precisa de cuidados e ela mesma precisa estar sempre bem arrumada para não ser confundida com a servente de limpeza, etc. E tudo isso sem receber ajuda financeira alguma. Eis por que muitas esposas recorrem a tratamento psiquiátricos e não poucas precisam de internamento hospitalar, enfermas, depressivas, insatisfeitas e revoltadas. Além destes três tipos de pressões tão comuns na vida do pastor, existem outras áreas em que o obreiro precisa de sabedoria e de soluções em seu ministério. Cada uma delas será apresentada com as possíveis soluções.

4. Viagens Problemas. Além do trabalho local, dos cuidados com a igreja, da agenda cheia e da família que requer dele atenção especial, o ministro se vê obrigado a dividir seu precioso tempo com as freqüentes viagens. São convenções, retiros, reuniões de comissões e conferências em que é convidado a pregar. Quando isso ocorre, acumulam-se as atividades da igreja e na outra ponta, quem sofre é a família. Sempre que retorna das viagens o trabalho está acumulado. Solução. Deve-se buscar um entendimento com os outros pastores da igreja, se houver outros ministros, no sentido de dedicar à família um dia, por cada semana ausente. Se ficar quinze dias viajando, o recomendável é que dedique, pelo menos dois dias inteiros à esposa e aos filhos. A igreja sempre existirá, mas o obreiro é passageiro. Em poucos anos ele envelhece e parte para a eternidade, mas a igreja continua. Uma outra maneira de suprir a ausência em viagens é levar a esposa e, quem sabe, os filhos em algumas delas. 156

CETADEB

Teologia Pastoral I

Quando algum compromisso coincidir com a época de férias das crianças, o ministro deve buscar um lugar agradável para descansar alguns dias com eles. Geralmente essa provisão deve ser feita pela igreja hospedeira. Faz parte da honra, assunto que será abordado noutro capítulo. Os filhos, mesmo pequenos, tornam-se parte integrante do ministério do pai. A esposa deveria participar, todos os anos, de algum retiro ou conferência em que seu esposo irá assistir ou ministrar, nem que para isso ele tenha que arrumar dinheiro emprestado (Não é lá recomendável, mas às vezes, necessário).

5. H orários Problemas. O maior conflito está no horário das refeições. Quantas vezes, toda a arte de cozinhar é prejudicada pela impontualidade do marido no almoço. Quando ele chega em casa, tudo está frio. O obreiro trabalha com pessoas; e não com objetos; e as pessoas reclamam se não forem bem atendidas. É difícil sinalizar à pessoa que o aconselhamento chegou ao fim. Por isso, além de não chegar na hora do almoço, o ministro-pai nem sempre consegue chegar a tempo de assistir ou apoiar alguma atividade dos filhos na escola. Soluções. O pastor, chefe de família, deveria estar presente, todos os dias, em alguma refeição da família, especialmente quando os filhos são ainda pequenos, e não estão às voltas com cursos extras curriculares na escola, etc. Certo pastor foi convidado para orar todos os dias ao meio-dia, junto com os demais pastores da cidade, a favor da unidade, e reagiu assim: "Podem me convocar para orar cedo, de manhã ou pela tarde, nunca na hora do almoço. Quase perdi meus filhos, pela ausência constante à mesa". Ele percebeu que a ausência do pai trouxe problemas ao seu relacionamento familiar, e a hora da refeição era muito importante. Se não for possível almoçarem juntos, pelo menos algumas noites deveriam jantar juntos.

157

Teologia Pastoral I

CETADEB

Quando os filhos crescem os problemas aumentam, porque os filhos também se envolvem na igreja, em horários diferentes do pastor. E, geralmente, pastor e filhos não conseguem se encontrar, a não ser na hora do culto. Isto tem de ser evitado. 6. F in a n ç a s . Problemas. Este é um dos maiores problemas que a família do pastor enfrenta. Com raríssimas exceções o obreiro ganha tão pouco que mal consegue sustentar sua família. Persiste, na maioria das igrejas, a velha idéia de que o pastor deve ser pobre; que deve viver de forma franciscana, com parcos recursos. Seu salário nunca é estipulado em termos de "suficiente", mas em quantos salários mínimos deve ganhar. Uma esposa indagou: "Já que sofremos a privação de nosso marido e pai de nossos filhos, por que não temos, pelo menos o dinheiro suficiente para viver como as demais famílias? Todo nosso sacrifício é para viver sempre com necessidades, problemas na igreja, incompreensão, até que nos mandem embora daqui e vamos a outra cidade sem saber o que nos aguarda" O pastor vive o dilema de sempre viver nos extremos entre a riqueza e pobreza. Soluções. As igrejas precisam dar prioridade ao pastor e não à instituição. Ao homem e não à obra. A igreja tem de ser administrada por pessoas espirituais, compreensivas, que discernem entre o que é material e o que é espiritual, sabendo que a igreja é, antes de tudo, um organismo vivo, um corpo. Quando um técnico administra os recursos da igreja tende a fazer tudo de maneira burocrática, rígida, tratando o pastor como um subalterno. O bom administrador - se não for o pastor - há de compreender que no corpo de Cristo existe uma família, um pastor casado que precisa viver sem certas preocupações materiais. Algumas igrejas funcionam como empresas multinacionais: sugam o funcionário e depois o dispensam; e o mesmo acontece com a maioria das denominações, que colocam em primeiro lugar a instituição. Todo o dinheiro arrecadado, tudo o que é feito, visa engrandecer a denominação ou a igreja da localidade. E esquecem do sustento do pastor. 158

CETADEB

Teologia Pastoral I

As igrejas precisam rever esta questão salarial do pastor. A começar pela tesouraria que deve ficar sob a responsabilidade de gente espiritual, de pessoas de fé, que também aprendem a buscar em Deus os recursos para a igreja e nunca na mão de funcionários de banco. O planejamento financeiro não deve ser estático, mas dinâmico, porque a obra de Deus não está limitada ao dinheiro e é feita por fé. Por outro lado existem igrejas que têm muito dinheiro guardado em poupança enquanto a família do pastor carece de pequenas coisas. O administrador da igreja, seja ele o pastor ou outra pessoa qualquer deve administrar os recursos financeiros sabendo que o Senhor Jesus é o dono da igreja e que ele dispõe de recursos para os passos de fé de seu povo. A matemática de Deus é diferente. Outro conflito que tem de ser resolvido é o abismo espiritual que costuma existir entre o ministro e a esposa; é uma questão de visão e espiritualidade.

7. Visão E E spiritualidade . Problemas. O pastor passa boa parte de seu dia lendo, conversando com as pessoas, orando e pesquisando, o que o leva a alcançar um grau de espiritualidade maior que o da esposa - Se bem que isto está mudando. O marido tem uma visão da obra, da igreja, e do que Deus quer para o povo, enquanto a esposa fica totalmente alienada de seu projeto, geralmente envolvida nas lides caseiras, ou em sua atividade profissional. Quando isto acontece aumenta o abismo espiritual entre ambos, especialmente quando existe falta de diálogo entre eles. Conseqüentemente, a esposa se torna pouco espiritual, incompreensiva, rígida com os demais, especialmente com as pessoas a quem o esposo deve mostrar amor e tolerância. Tendo que cuidar da casa e de algumas atividades da igreja persiste a idéia errada de que a esposa do pastor é a primeira dama que assume automaticamente a presidência disso e daquilo, do coral, etc. - ela passa a ter calos espirituais. 159

Teologia Pastoral I

CETADEB

Ocupando-se com tantas coisas no lar e na obra, não sobra tempo para orar, ler as escrituras, estar nos retiros e congressos, e mesmo assim, sente-se obrigada a falar de Cristo e a consolar espiritualmente todos os que entram em sua casa. Ela tem um vocabulário espiritual, sem a vida espiritual. O pior ainda é quando sua falta de espiritualidade advém do fato de conhecer tão intimamente o seu marido e saber que ele não vive o que prega. Soluções possíveis. O ministro deve deixar este canal de comunicação desobstruído. O pastor deve partilhar seus pensamentos, planos e projetos com a esposa, e, na medida do possível deixá-la a par do rumo espiritual da igreja. O que se vê, geralmente, são esposas que parecem viver anos atrasadas em relação ao marido, desinformadas e alienadas dos assuntos espirituais, e do que acontece na igreja em geral. Z elar

p e l a c o m u n ic a ç ã o e n t r e m a r id o e m u l h e r .

O ministro e sua esposa podem participar de algum retiro de casais, de obreiros, e dedicar um tempo razoável, conversando, e trocando idéias. Uma viagem de carro ajuda a colocar os assuntos em dia. B u scar

um

tem po a só s, sem

o s f il h o s .

Muitas vezes o pastor está tão ocupado e a esposa se sente tão afastada dele, que lhe ocorre a idéia de marcar uma hora no gabinete com seu marido. "Reserve uma hora na sua agenda para conversarmos", disse a mulher ao seu esposo, pastor. C u id a r d o d e s c a n s o p a s t o r a l . Este tema será abordado posteriormente, porém , pode-se crescer juntos, espiritualmente, usando de maneira adequada o descanso pastoral.

No entanto, é preciso resolver a questão do descanso pessoal, isto é, além do descanso com a família, do tempo necessário para estar com a esposa e filhos, o pastor precisa de um tempo seu em que poderá caminhar, exercitar-se, praticar algum esporte, descansar sozinho em algum lugar, meditar, etc. Algumas igrejas têm trabalho de domingo a domingo - todos os dias e todas as noites. 160

CETADEB

Teologia Pastoral I

Ora, é possível que uma igreja trabalhe dessa forma, mas não com um só pastor; neste caso, a igreja precisa de uma equipe de vários pastores, além de outros líderes para que os obreiros tenham uma ou duas noites de folga - tempo para a noite da família e o tempo com a esposa, assunto que foi exposto anteriormente. Eis porque muitos pastores, ainda jovens, estão às voltas com problemas do estresse pastoral, controlando o colesterol, os triglicérios, tudo porque não praticam esporte algum. Antigamente a atividade pastoral permitia que os obreiros fizessem longas caminhadas para visitar uma família ou ministrar numa congregação, e com isto solucionavam os problemas de saúde. Diferentemente de hoje, quando se locomove para todos os lugares de automóvel. Se Elias vivesse em nos dias de hoje, não poderia correr e caminhar quarenta dias e quarenta noites. 8. H ó s p e d e s Problemas. "Hóspede e peixe no terceiro dia cheiram mal", diz um provérbio judeu. No ministério pastoral uma questão que precisa ser bem administrada é sobre o que fazer com os hóspedes, porque, via de regra, é a esposa do pastor que terá a responsabilidade final. É ela que atende a todos e precisa buscar todo dia o milagre da multiplicação dos pães, fazendo o dinheiro esticar, e o estoque de alimentos multiplicar-se. Parece que todo o hóspede tem um só rumo: a casa do pastor. Precisamos, pois, encontrar soluções sem deixarmos de ser hospitaleiros. Soluções possíveis. Nas grandes cidades, os pastores encontraram soluções diversas, limitando suas casas para a família e para alguém mais íntimo da família. Os hóspedes podem ser alojados em hotéis ou em casas de outros irmãos. A questão da hospitalidade tem vários aspectos, como veremos a seguir. 161

Teologia Pastoral I

CETADEB

H ó s p e d e s a c o n v it e d a ig r e j a . Alguns conferencistas preferem estar perto do pastor, e querem manter comunhão e ter tempo para conversar; neste caso, o melhor lugar é a casa do pastor. Outros preferem hotéis, onde se sentem mais à vontade.

Mas cada pastor e cada igreja têm sua particularidade. Nos dias apostólicos não havia hotéis e pousadas como hoje. O viajante carregava seus pertences, e até o material de cozinha, porque as hospedarias eram poucas. Assim, tomando a Paulo como exemplo, sempre que viajava dependia da hospitalidade dos irmãos para ministrar em alguma cidade. A hospitalidade fazia parte da cultura da época, e foi assimilada pela igreja. "Não se esqueçam da hospitalidade; foi praticando-a que, sem o saber, alguns acolheram anjos" (Hb 13.2 NVI). A hospitalidade não inclui apenas receber uma pessoa no lar, mas saber receber alguém e cuidar dele, nem que seja num hotel. A igreja deve providenciar para que seus convidados se hospedem na casa de outra pessoa, em hotel ou no próprio prédio da igreja. Algumas igrejas costumam manter um apartamento mobiliado junto ao templo ou na cidade, onde o conferencista pode ficar bem hospedado, e sentir-se em casa. Às vezes, tendo que ficar até dez dias numa cidade, essa é a melhor opção tanto para o conferencista como para a família do pastor. Ao concluir esta matéria é preciso entender que o conferencista não é convidado do pastor, mas da igreja. Encontrar soluções leva tempo. Certo pastor tinha uma casa bem mobiliada o que levava certos hóspedes a ficarem ali até dois meses. Cansado, uma das soluções que encontrou foi a de residir num lugar menor e "forçar" a igreja a acomodar os hóspedes. 162

CETADEB

Teologia Pastoral I

H ó s p e d e s d a f a m í l ia . O ministro, geralmente, tem de prover lugar para hóspedes, ou parentes, pessoas que vêm à cidade e precisam de um lugar para se hospedar.

Geralmente os parentes de um dos dois contam com a casa do pastor. Portanto, é deles a responsabilidade de hospedar seus parentes, e a igreja o sabe muito bem. Mas nem todo hóspede é parente. Os povos do Oriente Médio tinham lá seu jeito de dizer ao visitante se ele era bem-vindo ou não, de forma discreta. Um viajante ou forasteiro era motivo de satisfação, pois trazia notícias do mundo e deixava o beduíno a par dos acontecimentos. Esses, no entanto, eram cuidadosos no trato com seus hóspedes. A forma como o hospedeiro cozinhava ou preparava a refeição indicava ao hóspede se era bem-vindo ou não. Por exemplo, se o visitante recebesse uma xícara de chá com pouco ou quase nada na xícara, era bem-vindo, um indicativo de que teriam todo o tempo do mundo para beber e conversar. Se a xícara estivesse cheia, transbordando, a mensagem era: "Tome seu chá e dê o fora". Uma maneira antiga de dar a entender ao visitante de que, hóspede que não é bem-vindo dorme na sala... Os ministros devem ensinar os membros de suas igrejas a não saírem por aí, vagando pelo país ou tirando férias na casa de irmãos. É necessário implantar uma nova cultura evangélica em que os irmãos aprendam a tirar férias sem incomodar a vida do pastor e da igreja. Mas este não é um problema apenas dos membros. Muitos obreiros, também, saem a esmo, buscando pregar aqui e ali seja durante as férias ou fora dela, com a família a tiracolo, espremidos em casas de praia ou apartamentos. Os verdadeiros servos de Deus estão muito ocupados para andarem perambulando à cata de igrejas para pregar. Hoje os meios de comunicação estão à disposição de todos. Um simples telefonema, ou um correio eletrônico ajuda na arte de encontrar hospedagem. Hó spedes

c a s u a is .

163

Teologia Pastoral I

CETADEB

Conclusão: Para cada problema deve haver uma solução. O obreiro deve discutir com a esposa a solução para alguns destes conflitos e, quando necessário, reunir os que lhe são mais chegados na administração da igreja e no ministério para que se encontre solução rápida a alguns destes problemas. Por certo, a vida ministerial não terá tantas surpresas no dia de amanhã. Questão para reflexão: Até que ponto estou cuidando da família sem fazê-la sofrer com as pressões ministeriais? Centralidade da reflexão: Não devemos fazer nossa família sofrer com os nossos sofrimentos. Se formos ministerialmente equilibrados, certamente nossa família não soferá tanto.

A tividades - Lição V > Marque "C" para Certo e "E" para Errado 1) lâ J Em meio a uma sociedade corrompida, Deus observou que Noé era uma exceção naqueles dias, zelando pela família. 2)

Saul é tido como o mais poderoso rei da história de Israel.

3) © No conceito de Paulo, governar bem a casa é saber administrar as questões espirituais do lar. 4) ÜsJ Salomão é exemplo de um líder que tomou decisões erradas pressionado pelo povo. 5) 1 3 É bom tirar férias com a família e em família. C-6) '§ J A hospitalidade não inclui apenas receber uma pessoa no lar, mas saber receber alguém e cuidar dele, nem que seja num hotel.

164

CETADEB

Teologia Pastoral I Referências Bibliográficas

STRONG, James, Strongs Exaustive Concordance of the Bible, Associated Publishers and Authors Inc. Grand Rapids, Michigan LUTZER, Erwin em De Pastor Para Pastor, Editora Vida. QUEIROZ, Edson A Transparência no Ministério, Editora Vida. HENRY, Mathew, Mathew Henry's Commentary, Zondervan Publishing House. UNDERHILL, Evelyn, Concerning the Inner Life of the House of the Soul (Tratado da Vida Interior e da Casa da Alma), London: Methuen & Co. Ltd. 1926, pg. 1) NEE, Watchman - A Vida Normal da Igreja Cristã, Editora Cristã Unida, p. 118). ATTALI, Jacques, Os Judeus, o Dinheiro e o Mundo, Futura. CHENEY, Elizabeth Stremans in the Desert, (Mananciais no Deserto) edição em inglês pela Zondervan Publishing House. LUDWIG, Charles, Francis Asbury: Cod's Circuit Rider, Milford: Mott Media, 1984 NEE, Watchman, Ye Search the Scriptures, Christian Fellowship Publishers, Inc. New York, edição de 1974. BILLHEIMER, Paulo E. Seu Destino é o Trono, C.L.C. 1-. Edição 1984 BELL, Albert, Explorando o Mundo do Novo Testamento, Editora Atos. Agostinho, Confissões, Editora Vozes, 1988 FOSTER, Richard Dinheiro, Sexo e Poder, Mundo Cristão TERTULIANO, Os adereços da mulher, Editora Verbo, Lisboa-São Paulo.

165

CETADEB

Teologia Pastoral I

MOFFAT, James. The General Epistles, James, Peter and Judas (Epístolas Gerais de Tiago, Pedro e Judas), Harper and Brothers, N.I.). Da CRUZ, João, Carmelo, Editora Carmelo de São José, Portugal, 1958 ARINTERO, Juan, La Evolución Mística, Biblioteca de Autores Cristianos, Madri, 1954. LEACH, Willian F. O Pastor Pentecostal, CPAD STOTT, John, The Preacher's Portrait (O formato do Pregador), Erdmans, oitava edição, 1981. STOWELL, Joseph M. Pastoreando a Igreja, Editora Vida, 247. VIEIRA, Antonio, Sermões, Vol I, Lello e Irmão Editores, Porto, Portugal (Sermão da sexagésima, pregado na capela Real no ano de 1665). BICKET, Zenas, em O Pastor Pentecostal, CPAD. ARINTERO, I.G. La Evolucón Mística, B.A.C. (Biblioteca de Autores Cristianos), Vol. 91 John L. Mckenzie, Dicionário Bíblico, Ed. Paulinas. Vine's Expository Dictionary of Biblical Words, 1985, Thomas Nelson Publishers

166

Av. Cel. Otávio Tosta, 5 1 - 1 ° Andar - Sala 5 CEP 85980-000 - Guaíra-PR Fone: (44) 3642-5311 - Cel.: (44) 9131-6417 [email protected] www.cetadeb.com.br

TEOLOGIA PASTORAL I.pdf

Site: w w w.cetadeb.com .br. Aluno (a):. Page 3 of 169. TEOLOGIA PASTORAL I.pdf. TEOLOGIA PASTORAL I.pdf. Open. Extract. Open with. Sign In. Main menu.

3MB Sizes 9 Downloads 283 Views

Recommend Documents

TEOLOGIA PASTORAL II.pdf
IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Gráfica Lex Ltda. 1§ Edição-Abr/2010. 2. Page 3 of 161. TEOLOGIA PASTORAL II.pdf. TEOLOGIA PASTORAL II.pdf. Open.

Pastoral Council
Unlike parish staff, the pastoral council is not a group of experts in catechesis, liturgy, pastoral care, or education. The council's primary gift is practical wisdom.

pol-pastoral-care.pdf
All members of our community (staff, children, parents, clergy and visitors) have the right to: feel safe and happy. be treated with respect. have school ...

Descargar libros pdf de teologia
Page 1 of 18. Descargar libros pdf deteologia. descargar whatsapp messenger gratis para black berry.descargar dragon ballz budokaitenkaichi 3 beta ...

Teologia o Ideologia - Samuel Korangten Pipim.pdf
if you discovered from the Bible and the writings of Ellen G. White that the. ordination of women is right, fair, just, and essential to rightly representing God.

Descargar libros pdf de teologia
Descargarlibros pdf de teologia. Free download. descargar musicaenmp3 sin programas.descargar googlechrome windows phone 7.descargar microsoft office ...

Pastoral Ethics NCTR7017.pdf
Bretherton, L. Hospitality as Holiness (Aldershot: Ashgate, 2010). Mahoney, J. The Moral Context of Pastoral Care (Edinburgh: Contact, 2000). Markham, I. Do ...

NCTR6012 Pastoral Evangelism and Church Growth.pdf ...
NCTR6012 Pastoral Evangelism and Church Growth.pdf. NCTR6012 Pastoral Evangelism and Church Growth.pdf. Open. Extract. Open with. Sign In.

INTERNATIONAL MEETING THE PASTORAL PROJECT OF ...
Listening to the Poor ... 17:30 New Evangelization: Social Media ... INTERNATIONAL MEETING THE PASTORAL PROJECT OF EVANGELII GAUDIUM.pdf.

Pastoral care policy 2016.pdf
The provision of a comprehensive and inclusive curriculum is inextricably linked. to the highest ideals of pastoral care. Page 3 of 4. Pastoral care policy 2016.pdf.

diretório pastoral familiar.pdf
Page 3 of 280. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. DIRETÓRIO. DA PASTORAL FAMILIAR. Texto aprovado pela 42a. Assembléia Geral.

20121114 Pastoral Carer Position Description.pdf
o Certificate 4 in pastoral care, chaplaincy or youth ministry, or. o A qualification from a recognised education institution within your faith will also be. considered.

pdf-1449\clinical-handbook-of-pastoral-counseling-integration ...
... more apps... Try one of the apps below to open or edit this item. pdf-1449\clinical-handbook-of-pastoral-counseling-integration-books-exp-sub-edition.pdf.

Teologia-biblica-y-sistematica-Myer-Pearlman.pdf
There was a problem previewing this document. Retrying... Download. Connect more apps... Try one of the apps below to open or edit this item.

pdf-1854\vatican-ii-a-pastoral-council-hermeneutics-of-council ...
There was a problem loading more pages. Retrying... pdf-1854\vatican-ii-a-pastoral-council-hermeneutics-of-council-teaching-by-serafino-lanzetta.pdf.

PLAN DIOCESANO PASTORAL 2017-2018.pdf
Page 3 of 40. 3. Nuestro PDP, iniciado en 2015, tiene un objetivo. muy claro y muy concreto: “revitalizar la identidad. cristiana desde el encuentro con Jesús, ...

[DOWNLOAD] PDF Crisis Pastoral Care: A Police Chaplain s Perspective
[DOWNLOAD] PDF Crisis Pastoral Care: A Police Chaplain s Perspective