ISSN 2316 -7386

Legados Africanos, Afro-Brasileiros, Indígenas e Quilombolas: avanços e perspectivas

16 a 20 de novembro de 2012 Jequié/Bahia

COORDENAÇÃO GERAL Marise de Santana Manoel Silva Santana Ozeias Pires GRUPO DE PESQUISA Educação e Relações Étnicas: saberes e práticas de legados africano, indígena e quilombo. CAPA / EDITORAÇÃO Raimundo Laranjeira / Portfolium Antonio Argolo Silva Neto Felipe Tavares Barreto

UESB UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA Reitor Paulo Roberto Pinto Santos Vice-reitor José Luiz Rech Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários - PROEX Fábio Félix Ferreira

A adequação técnico-linguística dos textos é de responsabilidade dos autores.

Pró-reitor de Graduação – PROGRAD Luiz Arthur dos Santos Cestari Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PPG Alexilda de Oliveira Souza Pró-reitoria de Administração e Recursos Humanos – PRH Allen Krysthiano Saraiva Figueiredo

Anais: lll Encontro Estadual de Educação e Relações Étnicas e da Vlll Semana de Educação da Pertença Afro-Brasileira: legados africanos, afro-brasileiros, indígenas e quilombolas: avanços e perspectivas; (16 a 20 de novembro de 2012: Jequié-BA/ Marise de Santana, Manoel da Silva Santana (coordenadores). Jequié: UESB, \ 2012. 216p. ISSN 2316-7386

1.Legados africanos 2. Afro-brasileiros 3. Indígenas 4. Quilombolas I. Santana, Marise de II. Santana, Manoel da Silva III. Título CDD – 306.6

Diretor do Departamento de Ciências Humanas e Letras – DCHL Marcos Salviano Bispo Queiroz Vice-diretora do Departamento de Ciências Humanas e Letras – DCHL Silvana Biondi Coordenação Geral do Órgão de Educação e Relações Étnicas com Ênfase em Culturas Afro-Brasileiras – ODEERE Marcos Lopes de Souza Coordenação Geral do Evento Profa. Dra. Phd. Marise de Santana/UESB (presidente) Manoel da Silva Santana (vice-presidente) Ozeias Pires Silva (Secretário)

COMISSÃO ORGANIZADORA

COMITÊ CIENTÍFICO

Aline Garcia Santos Ana Cláudia Lemos Pacheco Antonia Ferreira Antonio Argolo Silva Neto Antonio Olavo Benedito Eugênio Gonçalves Cilene Pereira Cardim Dionária da Silva Edson Dias Ferreira Eduardo Oliveira Miranda Edvan Figueredo Braga Emanoel Braga Felipe Tavares Barreto Gerusa Bispo dos Santos Gilvan Rufino de Souza Glassuede Venesa dos Santos Silva Hellen Mabel Santana Silva Idália Lino dos santos Ivanildes Moura dos Santos José Luiz Souza de Jesus Jucivana Silva Karla Dias Cardoso Lidiane Neves Rodrigues Liliane Pereira Mesquita Luciene Matos de Souza Lucineia Gomes de Jesus Manoel da Silva Santana (Dhemmis) Marcos Lopes de Souza Maria da Conceição Maria Souza Rios Marise de Santana Nayara Brandão Miranda Natalino Perovano Filho Ozeias Pires Silva Paulo de Tassio Borges da Silva Paulo Roberto Nogueira Silva Priscila Nascimento Uilli Marley Matos Chaves

Prof. Dr. Acácio Sidnei Almeida Santos - Casas das Áfricas/SP, PUC/SP Prof. Dr. Benedito Eugênio Gonçalves - UESB Prof. Dr. Cesar Pimentel S. Primo - UESB Prof. Dr. Cláudio Lúcio Fernandes Amaral - UESB Prof. Dr. Edson Dias Ferreira - UEFS Prof. Dr. Francisco Carlos Cardoso da Silva - UESB Prof. Dr. Itamar Pereira de Aguiar - UESB Prof. Dr. João Diógenes Ferreira dos Santos - UESB Prof. Dr. Jorge Costa do Nascimento - UESB Prof. Dr. Juvenal de Carvalho - UFRB Prof. Dr. Luís Vitor Castro Junior - UEFS Prof. Dr. Marcos Aurélio dos Santos Souza - UNEB Prof. Dr. Marcos Lopes de Souza - UESB Prof. Dr. Reinaldo José de Oliveira - PUC/SP Prof. Dr. Roberto Gondim Pires - UESB Prof. Dr. Silvio Roberto Santos Oliveira - UNEB Prof. Fábio Oliveira Nascimento - SEC/BA Prof. Ms. Adenilson de Souza Cunha Júnior - UESB Prof. Ms. Alexandre de Oliveira Fernandes - IFBA Prof. Ms. Alfrâncio Ferreira Dias - UESB Prof. Ms. Antonio Argolo Silva Neto - ODEERE/UESB, UEFS Prof. Ms. Augusto Marcos Fagundes Oliveira - UESC Prof. Ms. Denílson Lessa dos Santos - UNEB Prof. Ms. Dirceu do Socorro Pereira - SEC/BA, ODEERE - UESB Prof. Ms. Djalma Menezes de Oliveira - UESB Prof. Ms. Fábio Félix Ferreira - UESB Prof. Dr. Felipe Eduardo Ferreira Marta - UESB Prof. Ms. Flávio José dos Passos - SEC/Vitória da Conquista Prof. Ms. Jailson Cesar Borges dos Santos - UFBA Prof. Ms. Joanna M. Carvalho - UESB Prof. Ms. José Valdir Santana - UESB Prof. Ms. Josoel Pereira da Silva – SEC/Feira de Santana Prof. Ms. Lidia Maria de Menezes Pinho - UESB Prof. Ms. Lúcio André Andrade Conceição - IFBA Prof. Ms. Marcos Salviano Bispo Queiroz - UESB Prof. Ms. Rodrigo F. Lopes - UNEB Prof. Ms. Ruy do Carmo Póvoas - NEAB Kawé/UESC

Prof. Ms. Washington Santos Nascimento - Faculdade Eça de Queiroz - SP Prof. Ògiyán Kalafó Olorode Jayro Pereira de Jesus - SEPPIR Profa. Amanaiara C. de Santana Miranda - NEIM/UFBA Profa. Dra. Alba Benemérita Alves Vilela - UESB Profa. Dra. Ana Angélica Leal Barbosa - UESB Profa. Dra. Ana Célia da Silva - UNEB Profa. Dra. Ana Cláudia Lemos Pacheco - UESB Profa. Dra. Ednéia Tavares Lopes - UFS Profa. Dra. Leliana Santos de Souza - UNEB Profa. Dra. Lívia Maria Natália de Souza Santos - UFBA Profa. Dra. Luiza Nascimento dos Reis - UFBA Profa. Dra. Maria Anória Oliveira - UNEB Profa. Dra. Maria Batista Lima - UFS Profa. Dra. Phd. Marise de Santana - UESB Profa. Dra. Phd. Zoraya Maria O. Marques - UNEB Profa. Dra. Regina Marques de Souza Oliveira - UFRB Profa. Ms. Alessandra Bueno de Grandi - UESB Profa. Ms. Cristiane Batista da Silva Santos - UNEB Profa. Ms. Elizabeth Salgado Souza - UESC Profa. Ms. Isabele Pires Santos Soler - UESB Profa. Ms. Jussara Maria Camilo - UESB Profa. Ms. Luciene Matos de Souza - UESB Profa. Ms. Luiza N. Reis - UESC Profa. Ms. Maria das Graças Bispo - UESB Profa. Ms. Maria de Souza - UESB Profa. Ms. Maria Durvalina Cerqueira dos Santos - UNEB Profa. Ms. Maria Geovanda Batista – UNEB Prof. Ms. Natalino Perovano Filho Profa. Ms. Núbia Regina Moreira - UESB Profa. Ms. Silene Arcanja Franco - UNEB Profa. Ms. Valdineia Oliveira Santos - SEC/BA Profa. Ms. Zilda de Oliveira Freitas – UESB Tamires Maria Lima Gonçalves Santos – Escola de Belas Artes - UFBA Manoel da Silva Santana - ODEERE Antonio Olavo - Portfolium Profa. Ms. Taygoara Aguiar do Carmo Sousa - Escola de Belas Artes da UFBA

DIVULGAÇÃO DO EVENTO: Blog B. Comunicação: bernardescomunicacao.blogspot.com.br/ Blog do Odeere: www.odeereuesb.blogspot.com Blog Enfoque Cultural: enfoquecultural.blogspot.com.br Blog Fotoarte: argolofotoarte.blogspot.com Blog do Prof. Carlão: blogdoprofessorcarlao.blogspot.com.br/ Correio Nagô: correionago.ning.com Fazer valer a Lei: fazervaleralei.blogspot.com.br Fundação Palmares: www.palmares.gov.br/ Gicult: www.gicult.com.br Home Odeere/Uesb: www.uesb.br/eventos/odeere Itambé na mídia: itambenamidia.blogspot.com.br Juventude 55: juventude-55.blogspot.com.br Kukalesa: kukalesa.wordpress.com Lusoleituras: lusoleituras.wordpress.com Portal Áfricas: africas.com.br Portal da UESB: www.uesb.br Portal do IFBA: ifba.edu.br Portal Unilab: www.unilab.edu.br Proenifba: proenifba.wordpress.com Rádio 105 FM - Jequié Rádio 107 FM - Jequié Rádio Povo AM - Jequié Revista Afro Bahia: revistaafrobahia.blogspot.com.br SINSERV: www.sinservregional.com.br

APOIO

SUMÁRIO

13ª DIRES - Diretoria Regional de Saúde Arroz Safra Avinor Café Paquera Colégio Estadual Anita Rabelo Barreto Colégio Estadual Faraildes Santos Colégio Estadual Florípes Sodré Colégio Estadual Gercínio Coelho Colégio Estadual Luís Viana Colégio Estadual Maria José Colégio Estadual Mary Rabelo Colégio Estadual Milton Santos Colégio Estadual Navarro de Brito Colégio Estadual Polivalente Colégio Estadual Regis Pacheco Colégio Luiz Eduardo Magalhães - Modelo DIREC 13 - Diretoria Regional de Educação Escola Integrada Maria Montessori FAPESB - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia Geraldo Fotografias Multi Artes Padaria Santo Antônio Panificadora Porto Petyan PPGDCI/UEFS - Programa de Pós-Graduação em Desenho, Cultura e Interatividade PPGEcFP/UESB - Programa de Pós Graduação em Educação Científica e Formação de Professores Samed SEC/PMJ - Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura Municipal de Jequié Secretária Municipal de Vitória da Conquista/BA Supermercado Cidade Sol Supermercado Cuiabá UESB - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 Conferências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Sessão de Comunicação (SC) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 SC 01 - Educação das Relações Étnicas: Currículo, Formação e Trabalho Docente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

Coordenadores/as: Prof. Dr. Benedito Eugênio Gonçalves - UESB; Profa. Ms. Luciene Matos de Souza - DCHL; Profa. Dra. Phd. Marise de Santana - UESB; Prof. Ms. Adenilson de Souza Cunha Júnior -UESB; Prof. Ms. Lidia Maria de Menezes Pinho - UESB. Palestrantes convidadas Profa. Dra. Ana Célia da Silva - UNEB; Profa. Dra. Phd. Zoraya Maria O. Marques - UNEB; Profa. Dra. Maria Batista Lima - UFS; Profa. Ms. Maria de Souza - UESB; Profa. Ms. Maria das Graças Bispo - UESB.

SC 02 - Diversidade Linguística, Literatura e Linguagem. . . . . . . . . . . . . . . 43

Coordenadores/as: Prof. Ms. Marcos Salviano B. Queiroz - UESB; Prof. Dr. Marcos Aurélio dos Santos Souza - UESB; Profa. Esp. Edneide Putumujú - SEC/Ipiaú; Profa. Esp. Ivanildes Moura dos Santos - SEC/Jequié; Prof. Ms. Zilda de Oliveira Freitas - UESB; Prof. Ms. Alexandre de Oliveira Fernandes - IF BAHIANO. Palestrantes convidados/as Prof. Ms. Ruy Póvoas – Kawé/UESC; Profa. Dra. Anória Oliveira - UNEB; Prof. Dr. Silvio Roberto Santos Oliveira - UNEB; Profa. Dra. Lívia Maria Natália de Souza Santos - UFBA; Fábio Oliveira Nascimento - SEC/BA.

SC 03 - Saúde das populações Afro-brasileiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

Coordenadores/as: Profa. Dra. Ana Angélica Leal Barbosa - UESB; Profa. Dra. Alba Benemérita Alves - UESB; Profa. Ms. Jussara Camila - UESB. Palestrante convidada Profa. Dra. Regina Marques - UFRB.

SC 04 - Linguagens Visuais e Culturas: Imagem, Comunicação e Radiodifusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 Coordenadores: Prof. Dr. Edson Dias Ferreira - UEFS; Prof. Ms. Antonio Argolo Silva Neto - UEFS; Manoel da Silva Santana - Pesquisador ODEERE. Palestrantes convidadas/os Prof. Dr. Itamar Pereira Aguiar - UESB; Cineasta Antonio Olavo – Portfolium, Tamires Maria Lima Gonçalves Santos – Escola de Belas Artes – UFBA.

SC 05 - Artes, Manifestações Culturais, Moda e Corpo . . . . . . . . . . . . . . . . 90

Coordenadores/as: Prof. Ms. Jailson Borges - UFBA; Prof. Dr. Felipe Eduardo Ferreira Marta - UESB; Profa. Isabele Pires Santos - UESB; Prof. Dr. Roberto Gondim Pires - UESB; Profa. Ms. Joanna M. Carvalho - UESC. Palestrante convidado Prof. Dr. Luís Vitor Castro Junior - UEFS.

SC 06 - Ações Afirmativas, Movimentos Sociais e Práticas jurídico-penais dispensadas aos afro-brasileiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

Coordenadores/as: Prof. Dr. Francisco Carlos Cardoso da Silva - UESB; Profa. Esp. Gerusa Bispo dos Santos - DIREC 13; Prof. Ms. Flávio José dos Passos - Prefeitura de Vitória da Conquista/BA; Prof. Ms. Fábio Félix Ferreira - UESB. Palestrante convidado Prof. Dr. Reinaldo José de Oliveira - PUC/SP.

SC 07 - Populações Negras: Gênero e Diversidade Sexual . . . . . . . . . . . . 111

Coordenadores/as: Profa. Dra. Ana Cláudia Lemos Pacheco - UESB; Prof. Dr. Marcos Lopes de Souza - UESB; Profa. Ms. Núbia Regina Moreira - UESB; Prof. Ms. Alfrancio Ferreira Dias/UESB; Prof. Dr. João Diógenes F. dos Santos UESB; Profa. Ms. Valdineia Oliveira - UESB. Palestrante convidada Profa. Mestranda Amanaiara C. de Santana Miranda - UFBA.

SC 08 - Construção Cultural dos Povos Brasileiros: territorialidade, histórias, culturas saberes e educação escolar dos indígenas, dos Terreiros e dos Quilombolas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 Coordenadores/as: Prof. Ms. Augusto Marcos Fagundes Oliveira - UESC; Prof. Paulo de Tassio B. da Silva - UFS; Prof. Ms. José Valdir Santana - UESB; Profa. Ms. Elizabeth Salgado - UESC; Prof. Ms. Lúcio André Andrade Conceição - IFBA; Profa. Esp. Idália Lino dos Santos - DIREC 13. Palestrantes Convidados/as Prof. Ògiyán Kalafó Olorode Jayro Pereira de Jesus - SEPPIR; Profa. Ms. Maria Durvalina Cerqueira dos Santos - UNEB; Profa. Dra. Edinéia Tavares Lopes - UFS.

SC 09 - História da África e Experiências Africanas na Diáspora. . . . . . 147

Coordenadores/as: Profa. Ms. Cristiane Batista - UNEB; Profa. Ms. Silene Arcanja Franco UNEB; Prof. Ms. Dirceu do Socorro Pereira - SEC/BA. Palestrantes convidados/as Prof. Dr. Acácio Sidnei Almeida Santos - Casas das Áfricas/SP, PUC/SP; Prof. Ms. Denílson Lessa - UNEB; Prof. Dr. Juvenal de Carvalho - UFRB; Profa. Ms. Luiza Reis - UESC, Prof. Ms. Rodrigo F. Lopes - UNEB, Profa. Ms. Joceneide Cunha - UNEB.

SC 10 - Etnociência e Diversidade Cultural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182

Coordenadores/as: Prof. Ms. Josoel Pereira da Silva - SEC Feira de Santana; Prof. Elzivan Felix - ODEERE; Prof. Ms. Djalma Oliveira - UESB; Prof. Dr. Jorge Costa do Nascimento - UESB; Prof. Dr. Cláudio Lúcio - UESB. Palestrante convidado Euvaldo Pereira - Parque Municipal de Mucugê.

Minicursos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195 Oficinas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211 Documentários. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 214 Posters . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215

ANAIS 2012

N

o momento histórico em que os jesuítas foram os primeiros professores e após sua expulsão, a educação seguiu orientações de um modelo evangelizador. Como nos diz Brandão (1995), o paradigma evangelizador, apontou como correto os valores elaborados pela racionalidade de parâmetros definidos por uma educação do colonizador cristão. Este paradigma buscou civilizar os povos de comunidades tradicionais através de práticas religiosas, assim, desde a colonização portuguesa no Brasil, passando pela década de 20 com o paradigma “Educação é Direito de Todos”, há uma dinâmica que busca a formulação de uma didática significativa em nosso sistema de ensino.

APRESENTAÇÃO

Se pensarmos, por exemplo, a década de 1980 o movimento de “Repensar a Didática”, vamos encontrar que uma das denúncias, se pautava na forma como a escola trabalhava. O que se denunciava era a falta de uma didática preocupada com conteúdos significativos, portanto, a finalidade da escola deveria ser de educar a partir do cotidiano dos alunos/as, o que diminuiria nas estatísticas, a evasão, a repetência e o número de não alfabetizados pelo código letrado. Naquele momento, para os que discutem a necessidade de uma educação significativa, tornava-se evidente, que a cultura, a identidade, deveriam indicar alguns dos muitos assuntos que situavam a problemática em questão. Portanto, os modelos de educação vigente, deveriam trazer para a sala de aula o que está no real currículo dos alunos/as para ser a força motora que iria atender aos propósitos de uma educação significativa. Com a LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96, abrem-se novas frentes de lutas na educação brasileira. Na década de 1990, os Parâmetros Curriculares Nacional, propõem que a escola trabalhe com temas que até então estavam fora do currículo (Pluralidade Cultural, Ética, Sexualidade, Gênero e outros). Em 2003 com a aprovação da lei 10639/2003, todos estes movimentos vão fazer novas proposições, entendendo que os PCN, não explicitam como tratar os grupos silenciados no currículo. Estas denúncias culminam com publicações de obras de autores que formulam teoricamente a problemática da inexistência de políticas pedagógicas que visem combater

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III Encontro Estadual de Educação e RELAÇÕES ÉTNICAS

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VIII Semana de Educação da PERTENÇA AFRO-BRASILEIRA

o racismo, a fim de que se busque repensar o modelo de educação brasileira. Estes autores/as irão denunciar a falta de políticas públicas preocupadas com o índice altíssimo de não alfabetizados pelo código letrado de uma significativa parcela da população negra, e situa esta questão dentro do contexto escolar mostrando que o racismo que emana das condições sócioeconômicas estende-se para práticas pedagógicas que afetam o psicológico e cultural das crianças, adolescentes, jovens e adultos negros. É a partir destes fatos que muitos setores da sociedade buscaram de alguma forma participar, propondo ações, como é o caso do programa ODEERE. Todas as ações e reações que emanaram do referido programa, eram pensados sempre a partir da preocupação, no primeiro momento, de articular o que estava proposto pela lei 10639/2003 com conteúdos da realidade escolar, e a partir de 2008, o que fora proposto pela lei 11645. Portanto, com as leis 10639/2003 e 11645/2008, a preocupação dos nossos pesquisadores/as, dentro do ODEERE, passou a ser de, articular as práticas e saberes de africanos, afro-brasileiros e indígenas, com todos os saberes que fazem parte das áreas de conhecimentos trabalhadas nos currículos escolares sob a forma de disciplinas (História, Geografia, Ciências, Artes, Literatura, Matemática). A pergunta que fazíamos é: quais conteúdos de História e Culturas Africanas, Afro-brasileiras e indígenas, seriam especialmente significativos para a escola, com salas de aulas em que estão presentes, descendentes de índios, negros, e brancos? Como seriam trabalhados os conteúdos que ao longo da história da educação brasileira, entram oficialmente nos currículos apenas durante uma semana, um dia, para reafirmar as ideias dos folcloristas do século XIX e início do século XX, de que no Brasil o folclore2 são “sobrevivências de povos atrasados”? Qual a reação de professores/as diante dos estudos afro-brasileiros que enunciam imagens e símbolos do legado africano e indígena, racializados conforme constato em estudos de mestrado e doutorado? Estas perguntas gritavam por respostas objetivas. Estava evidente, que ao falar em construção do conhecimento indígena e

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afro-brasileiro, teríamos que nos referir a um processo didático que nas suas muitas dimensões – técnica, política e humana - viabilizassem o ensinar/ aprender a partir do real significado dos currículos escolares. Sodré (1988), alerta que o real “não deve ser entendido como a estrutura histórica globalmente considerada nem mesmo como um conjunto de elementos identificáveis” (p.37), o real passa pela identidade cultural. Sodré (1988) diz que, “cultura é o modo de relacionamento humano com o seu real”, portanto, as nossas indagações nos levaram a perguntar: qual é o real quando falamos dos legados africano e indígena? Os elementos simbólicos presentes na totalidade da cultura brasileira indicam o que seja real a cada grupo étnico. Realça e identifica mitos, ritos, língua, regras, isto é, apresentam o real significado e sentido de uma cultura. Segundo Sodré, “O real é, portanto, aquilo que, resistindo a toda caracterização absoluta, se apresenta como estritamente singular, como único” (p.38). Assim, a construção do conhecimento no currículo escolar, deve tomar a história étnica dos diversos grupos que vivem na nação brasileira, portanto em nossas salas de aulas. Neste sentido, é que o grupo de pesquisa “Educação e Relações Étnicas: saberes e Práticas dos Legados Africano, Afrobrasileiro, Indígena e Quilombola”, certificado pelo CNPq desde 2005, vem anualmente promovendo os eventos “Encontro estadual de Educação e Relações Étnicas” e “Semana de Educação da Pertença Afro-brasileira”, propiciando espaços de debates ao tempo que mapeia pesquisas voltadas para as referidas temáticas. Marise de Santana

Professora titular do DCHL/Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Coordenadora do grupo de pesquisa “Educação e Relações Étnicas: Saberes e Práticas de Legados Africano, Indígena e Quilombola” Jequié/BA, outubro de 2012

2  Constatamos em tese de doutorado que o sentido dado ao termo folclore na escola ainda está impregnada das ideias de Silvio Romero, Arthur Ramos, e de todos que escreveram sobre as manifestações culturais dos africanos como sobrevivências de povos atrasados.

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SEXTA FEIRA 16/11/2012 19h Conferência Musicada: Falando e cantando com a ancestralidade Palestrante: Mateus Aleluia SÁBADO 17/11/2012 16h Conferência: Fabrincando: Práticas Lúdicas de Fazer Brinquedos Palestrantes:

Tamires Maria Lima Gonçalves Santos - Escola de Belas Artes UFBA Ivanildes Moura dos Santos - ODEERE/UESB - Sec/Jequié

CONFERÊNCIAS

SEGUNDA FEIRA 19/11/2012 8h Conferência: Políticas de Ações Afirmativas na Universidade: ensino, pesquisa e extensão Palestrante: Prof. Ògiyán Kalafó Olorode Jayro Pereira de Jesus - SEPPIR

Conferência: Conversando sobre a outra África Palestrante:

Prof. Dr. Acácio Sidnei Almeida Santos - Casas das Áfricas/SP, PUC/SP

19h Conferência: Educação da Diversidade Cultural: Processo de Ensino/Aprendizagem que Empodera e Valoriza as Alteridades Palestrantes: Profa. Dra. Maria Batista Lima/UFS Profa Ms Maria das Graças Bispo/UESB

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SC 01

Educação das Relações Étnicas: Currículo, Formação e Trabalho Docente.

ODÉ ERÊ: EDUCAÇÃO DA DESORDEM/ORDEM E DA DESRAZÃO/RAZÃO Marise de Santana2

SESSÕES DE COMUNICAÇÃO

Colocar o nome ODEERE, no Órgão de Educação e Relações Étnicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia se deu por entender que era ali, um espaço de saberes e fazeres diferenciados, estruturado no pensamento africano. Desde o início sabíamos sobre os limites e desafios para desenvolver ações neste espaço universitário que dessem conta de saberes e fazeres secularmente negados, silenciados, ocultados. Tínhamos como finalidade educativa centrar o ensino/aprendizagem nos princípios que regem os mitos de Odé (o grande caçador das culturas africanas) e Erê (que simboliza a criança, a germinação, focada na ideia de que tudo é um eterno recomeço que nada está acabado tudo é inacabado, assim como, o conhecimento). As palavras Odé Erê lançam imagens que falam de diferentes etnias africanas, portanto, de diferentes histórias, estas palavras apontam imagens necessárias para compreensão do que sejam os rituais didáticos voltados para o ensino de história e culturas africanas e afro-brasileiras, portanto, para o estudo do legado africano no Brasil. Para falar dos símbolos rituais didáticos no espaço escolar, é necessário trazer as reflexões sobre os componentes básicos do fenômeno didático educativo, os quais Cury (1989) afirma que são, as ideias, as instituições, os materiais didáticos, os agentes e os rituais. Sendo assim, ele vai afirmar que “o ritual é um fenômeno antropológico e está presente onde o Ser humano estiver” (p.120). Portanto, o 2  Pesquisadora do ODEERE, Professora titular do departamento de Ciências Humanas e Letras da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Coordenadora do grupo de pesquisa “Educação e Relações Étnicas: Saberes e Práticas de Legados Africano, Indígena e Quilombola”. Professora do Programa de Pós Graduação em Desenho, Cultura e Interatividade. Email: [email protected]

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III Encontro Estadual de Educação e RELAÇÕES ÉTNICAS

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VIII Semana de Educação da PERTENÇA AFRO-BRASILEIRA

ritual, disciplina, coage e organiza. Seguindo a orientação de uma didática, em que a relação simétrica entre os contrários convivam, é que venho trabalhando desde o Pós- doutorado em uma proposta didática que se debruça para pensar sobre os rituais didáticos do espaço escolar. Tenho como hipótese que, os espaços tradicionais de ensino desenvolvem seus rituais didáticos diferente dos rituais de ensino/aprendizagem do ODEERE- Órgão de Educação Relações étnicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Para tomar Edgar Morin (1979), podemos dizer que, no ODEERE, temos uma educação da “desordem”, da “desrazão”, do “demenes”, isto porque, percebe-se que neste espaço, existem rituais didáticos diferenciados de outros espaços de construção do conhecimento, portanto, tais rituais no trabalho dos docentes envolvem outros símbolos que tradicionalmente, não se encontra em nossas escolas. Tomando estes dados de observação, que lanço meu olhar para entender os símbolos rituais do ODEERE e de outros espaços escolares, buscando pensar em como, os mesmos se estruturam no processo ensino/aprendizagem, quando nos seus polos, sensorial e ideológico, classificação feita por Turner (2005), carregam diferenciações. O sensorial (desejos e sentimentos) o ideológico (normas e valores que guiam e controlam as pessoas). Estes polos são importantes para serem pensados, uma vez que, se colocam a partir dos princípios diferenciadores enunciados pela diversidade cultural presentes nos valores educacionais e religiosos das pessoas frequentadoras destes espaços. Neste sentido é que entendemos a educação das relações étnicas como uma educação dos contrários dos conflitos nunca da contradição do consenso.

ANAIS 2012

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: RANÇOS E AVANÇOS NA RELAÇÃO COM OS/AS EDUCANDOS/AS Evanilson T. de França3 Maria B. Lima4

Palavras-chave: Prática pedagógica, Cultura, Educação quilombola

Analisar/compreender a dialética que acompanha e vitaliza a prática pedagógica e sua interferência na construção de relações horizontais e/ou verticais, inclusivas ou excludentes é o motivo e motivação que impulsiona e corporifica esta pesquisa – que resulta de incursão investigativa, de cunho teórico, tendo como objetivo contribuir para ressignificação dos pensares e fazeres docentes a partir do desvelamento das substâncias instituintes da ação pedagógica e de sua importância na elevação (ou não!) da autoestima e do autoconceito, na construção de identidades e na formatação das sociedades. Para tanto, tomou-se como coluna norteadora para as discussões, produções de Moacir Gadotti, Vera Maria Ferrão Candau, Miguel Arroyo e Paulo Freire. A partir do diálogo estabelecido/construído com os/ as educadores/as antes mencionados/as, buscaremos refletir sobre o nível de interferência alcançado pelo fazer pedagógico de professores e professoras em comunidades quilombolas, considerando tanto a constituição da identidade etnicorracial quanto o empoderamento (ou não) da identidade quilombola. Outro elemento importante em nossa análise é o papel desempenhado pela cultura da comunidade na qual a escola encontra-se localizada e onde se efetiva a prática docente. Concordamos com Freire que a prática pedagógica se concretiza a partir de diálogos entre sujeitos (educadores/as educandos/as) – isto em situação ideal, mas no quotidiano das escolas como realmente ela é erigida?

3  4 

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UFS-NPGECIMA/GEPIADDE. E-mail: [email protected] UFS-DEDI/GEPIADDDE/NEAB/NPGECIMA. E-mail: [email protected]

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III Encontro Estadual de Educação e RELAÇÕES ÉTNICAS

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VIII Semana de Educação da PERTENÇA AFRO-BRASILEIRA

ÁFRICA: UMA MÃE DESCONHECIDA Hamilton P. Santos5 Palavras-chave: África, Educação étnica, Diversidade.

A nossa história nos possibilitou passar por uma experiência única que foi a forma de escravidão a “moda portuguesa”, desenvolvida aqui no Brasil. Escravidão essa, crudelíssima, não só no tratamento dispensado aos nossos ancestrais, mas também, na construção ideológica do povo negro como sendo pejorativamente diferente, inferior, incapaz. Embora a formação da sociedade brasileira tenha contribuições importantíssimas do povo africano em diferentes áreas, historicamente isso não foi reconhecido. Assim, estamos em pleno século XXI e a maioria dos brasileiros ainda desconhecem a história de nossos ancestrais e, pior que isso, a história da África. Tendo sobre ela uma imagem distorcida e, sobretudo, negativa. Assim, o presente trabalho objetiva discutir a visão que os estudantes da educação básica têm sobre a África, a partir de ações práticas desenvolvidas em sala de aula em que os alunos foram levados a descrever a imagem que eles têm da África, demonstrando assim, sua percepção desse continente que deu origem à humanidade e constitui um dos pilares da formação da sociedade brasileira, tendo como corpus os estudantes da 8ª Série, Turma A, do Ensino fundamental do Colégio Mun. Raimundo Santiago de Souza e das 3ª Séries C e D, do Ensino Médio do Colégio Est. Dulce Almeida, ambos situadas no município de Itagibá.

5  Graduado em Letras pela UNEB, Especialista em Educação e Relações Étnico-Raciais pela UESC Especialista em Antropologia com Ênfase em culturas Afro-brasileiras pela UESB. E-mail: [email protected]

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A RELAVÂNCIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS, NA MEMÓRIA INFANTIL NO CONTEXTO SÓCIOCULTURAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA-BAHIA Eurides O. R. Rocha6 Palavras-chave: Jogos, Memória, Sócio-cultural.

As atividades humanas são marcadas pelos jogos rituais ou pelo divertimento KISHIMOTO (1990). Interferem o lugar a educação e o conjunto de relações sociais. VYGOSTSKY (1988). O jogo de papéis preparava as meninas para compreender os papéis na sociedade escravocrata KISHIMOTO (1990), o jogar sendo independente da etnia, tempo histórico. Vitória da Conquista é constituído de grupos culturais e religiosos. A descrição das atividades lúdicas por retratarem experiências traz lembranças, em relação ao lúdico, também possibilita analisar as relações sócio-culturais. Objetivo geral, analisar os jogos que permanecem na trajetória sócia- cultural do município. Específicos catalogar os jogos, descritos pelos entrevistados; identificar como ocorre a transmissão dos mesmos junto às novas gerações. Referencial Kishimoto Vigotsky, aquisição do conhecimento se dá pela interação do sujeito com o meio e Pierre Bourdieu, por ajudar a compreender como se estabelecem significativas mudanças de “habitus”. Estudo qualitativo, revisão bibliográfica,entrevista semi - estruturada, entre trinta e sessenta anos cadastradas na associação dos bairros. Santa Cruz e Alto Maron. A escolha mecanismos de formação. Questões problematizadoras, há permanecia ou não de determinado jogos, na trajetória sociocultural do Município?

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Faculdade de Tecnologia e Ciências Vitoria da Conquista – BA. E-mail: [email protected]

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GRIÔS, MESTRES DO SABER ORAL, ENSINANDO E APRENDENDO COM OS ERÊS Edvan Braga Luciene M. de Souza8 7

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A IMAGEM DO ÍNDIO NA ESCOLA REGULAR Verônica S. Santos9 Rainer W. C. Guimarães10 Palavras-chave: Profissionais da Educação, Escola, Identidade Cultural.

Este texto aborda as impressões e reflexões do Griô Edvan, em relação ao trabalho desenvolvido com histórias e Mitos Africanos no Projeto Êre. O Griô retrata como seu contato com os Êres tem possibilitado percepções e tomadas de consciência, viabilizadas devido a sua capacidade de escuta sensível e envolvimento com a dinâmica do trabalho pedagógico. Aponta os encontros semanais com os êres�������������������������������������� ������������������������������������������ , com o grupo de Griôs e com a coordenação pedagógica, como espaço de mediação para a reflexão e mudança de olhar em relação, aos Êres, ao processo pedagógico e a si mesmo. Para ele, ‘ - os primeiros contatos sempre foram os mais difíceis, medo, insegurança, falta de certeza, essas e muitas outras eram características marcantes e bem presente entre eu e os pequenos. Quase sempre, pensava em desistir, pois acreditava ser demais para ele supervisionar aquelas crianças peraltas, que a princípio demonstravam ter pouca ou nenhuma educação’ Apesar de sua calma e tranquilidade, o seu grande desafio são os momentos das aulas, “ sinto como se muitos deles me desafiassem ao tentar atrair a minha atenção através de suas brincadeiras e piadas. Há momento em que a bagunça reina no ambiente dificultando totalmente o andamento das atividades previstas”. Contudo a ‘- cada reunião com os Griôs, percebo a importância delas na nossa vida e vice-versa’.

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Email: [email protected] . Discente do curso de Pedagogia UESB/JQ. Email: [email protected]. Docente DCHL/UESB/JQ.

Já passaram cinco séculos desde a chegada dos colonizadores portugueses as terras tupiniquins e, estamos ainda aprendendo a lidar e conviver com a diversidade cultural dos povos e raças que compõem o povo brasileiro. Infelizmente, apesar dos avanços, durante esse tempo a escola vem sendo um dos colaboradores para disseminar falsos conceitos, sobre os povos nativos brasileiros, colocando-os sempre como figura histórica do passado, numa abordagem romântica e estereotipada. Esse trabalho tem como objetivo apresentar reflexões de como vem sendo trabalhado, pelos profissionais da educação, a imagem do índio na escola dos não-índios, para uma tomada de consciência sobre a importância dos povos indígenas em nossa história, além disso, o reconhecimento dos povos indígenas como cidadãos brasileiros do presente, que contribuíram na formação de nossa identidade cultural. Por isso, a escola e professores devem avaliar os conteúdos e livros didáticos, com o objetivo de evitar a disseminação de falsos conceitos, pois esses podem incentivar uma visão de desrespeito e intolerância entre os jovens e adultos aos grupos étnicos diversificados.

9  Verônica Silva Santos: Graduada em Pedagogia pela UESB; Discente no Curso de Gestão Educacional da Pós-Graduação da UESB – Campus de Jequié; Aluna Especial do Mestrado de Educação e Contemporaneidade da UNEB. Email: [email protected]. 10  Rainer Wendell Costa Guimarães: Graduado em Letras pela UESB; Diretor da Diretoria Regional de Educação - DIREC 1A. Email: [email protected].

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UMA ANÁLISE SOBRE AS RELAÇÕES ÉTNICORRACIAIS EM UMA PRÉ-ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE BREJÕES-BA Irane S. Bispo11 Palavras-chave: Educação Infantil, Cultura afro-brasileira, Lei n.10.639/2003.

Este artigo pretende discutir sobre como é trabalhada as questões que envolvem as relações ����������������������������������������������������������� étnicorraciais��������������������������������������������� e identificar se há práticas discriminatórias na Educação Infantil. O trabalho iniciou-se a partir de um estudo bibliográfico baseando-se em autores como Nilma Lino Gomes (2005, 2012), Petronilha Silva (2007), Florestan Fernandes (1965), kabenguele Munanga (2008), Octavio Ianni (2012), Antonio Sérgio Alfredo Guimarães (2008), entre outros; em seguida realizou-se uma pesquisa de campo em uma pré-escola pública situada no povoado denominado Km 100, na cidade de Brejões- BA. As reflexões e discussões, também foram construídas a partir da Lei n.10.639/2003 das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Brasileira que dimensiona o ensino de História da África e Cultura Afro-Brasileira no currículo escolar, tornando-o obrigatório na educação básica. Portanto, esse trabalho busca estudar a questão ����������������������������������������� étnicorracial���������������������������� no contexto da educação infantil, com o propósito de contribuir para uma reflexão em torno do preconceito e da discriminação racial que são construídos contra as crianças negras no âmbito escolar, para isso defendemos a pré-escola como espaço de transformação social que deve proporcionar uma prática pedagogia que reconheça e valorize as diferenças, através do combate a qualquer manifestação contrária a igualdade étnicorracial.

11  Pós graduanda em Educação e Diversidade Étnico-Cultural pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Campus de Vitória da Conquista/BA. Departamento de Ciências Humanas e Filosofia – DCHF. Email: Iranehistó[email protected] Orientadora: Profa. Dra. Ana Cláudia Lemos Pacheco/UESB

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A SITUAÇÃO ATUAL DOS PLANOS POLÍTICOS PEDAGÓGICOS DAS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE SANTO ANTONIO DE JESUS-BA, PARTINDO DA ANÁLISE DA LEI 10639/2003 E 11645/2008 Elton F. Oliveira12 Júnio J. Santos

Palavras-chave: Políticas Afirmativas, Manifestações Culturais, Escola Pública.

Na contemporaneidade os processos de ressignificação do espaço em função do comportamento da sociedade intensificaram-se, sobretudo na realidade das escolas públicas. Sendo assim, tornou-se importante as reflexões sobre políticas afirmativas no âmbito educacional, principalmente na valorização das relações de etnicidades e da cultura afro-brasileira. Portanto, a instrumentalização política das Leis 10639/2003 e 11645/2008 no sistema de ensino brasileiro corroboram para o reconhecimento da importância das relações étnicas raciais e das matrizes culturais das populações. Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho é analisar através do Plano Político Pedagógico (PPP) como as escolas públicas santo-antoniense estão abordando as leis que estabelecem o ensino da História da África e da cultura afro-brasileira, bem como as questões indígenas. Para a elaboração da pesquisa adotou-se alguns procedimentos metodológicos como: levantamento bibliográfico, visita empírica as escolas públicas, assim como a análises minuciosas dos PPPs. O estudo aponta a necessidade de uma reformulação dos mesmos, sobretudo na prática educativa e nas concepções enraizadas em função dos métodos tradicionais, muito presente no cotidiano das escolas, isto é, a valorização da democracia e da diversidade étnica e racial.

12  Estudantes do Curso de Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas – Campus V. [email protected]; [email protected].

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O QUE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS REVELAM SOBRE A QUESTÃO RACIAL? UMA EXPERIENCIA DO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL (PETI) DO MUNICIPÍO DE JEQUIÉ/BA

ANAIS 2012

REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EJA E O MULTICULTURAISMO Josinélia dos S. Moreira14

Janyne B. de Souza

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Palavras-chave: Relações Étnicorraciais, Práticas Pedagógicas, Programa PETI.

Palavras-chave: Formação de professores, Educação de jovens e adultos, Multiculturalismo.

A pesquisa desenvolvida se caracteriza como um estudo de caso descritivo de natureza qualitativa relacionada ao Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI, na cidade de Jequié/BA. Objetiva-se analisar as práticas pedagógicas com crianças e adolescentes do Programa, verificando as maneiras pelas quais essas práticas produzem e revelam sobre a questão racial. A pesquisa foi desenvolvida com os orientadores sociais de um núcleo do Programa, durante quatro meses. A coleta de dados foi realizada utilizando os seguintes instrumentos: entrevistas semiestruturadas com os orientadores sociais do Programa e observação direta no campo. Como referencial teórico, foram utilizados os estudos desenvolvidos sobre as relações raciais a partir da vertente teórica de Florestan Fernandes (1965), Nilma Lino Gomes (2005), Santos (2007), Petronilha Silva (2007), Munanga (2008), Cavalleiro (2008), Antônio Sergio Guimarães (2008), dentre outros. Para tanto, a relevância desse trabalho se baseia na importância da pesquisa para a comunidade negra como subsídio para o questionamento das relações raciais no Brasil e nos Programas socioeducativos, haja vista, à carência de trabalhos envolvendo este tema. Soma-se a isso, a importância da pesquisa para o enfrentamento de práticas educativas racistas e discriminatórias.

O trabalho em pauta traz à discussão algumas reflexões sobre a formação de professores da Educação de Jovens e Adultos, tendo como ponto de partida as questões relacionadas à educação, perpassando pelo multiculturalismo e pelo cenário da EJA. Esse estudo é um recorte da dissertação de mestrado em andamento no Curso de Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia, tendo como objetivo investigar a formação docente dos professores da EJA com enfoque nos seus conhecimentos sobre a educação multicultural e sua aplicação nas práticas pedagógicas, trazendo como problemática o seguinte questionamento: Com base na formação docente e nas práticas pedagógicas desenvolvidas pelos professores, como estes se comportam em relação às questões multiculturais presentes nas classes da EJA? A partir das discussões e das análises preliminares dos dados observamos que alguns professores discutem estas temáticas apenas quando surgem algumas provocações ou embates em sala de aula entre os discentes, como também a falta de formação na área das questões etnirraciais.

13  Graduada em Pedagogia Pela UESB/Campus de Jequié-BA. Membro do Grupo de Estudos sobre Políticas Públicas e Gestão Educacional – GEPGE/ GEILC. E-mail: [email protected] Orientadora: Prof. Dra. Ana Cláudia Lemos Pacheco

14  Pedagoga; Mestranda do Curso de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade – UNEB/PPGEduC; Membro integrante do grupo de pesquisa GRAFHO; Bolsista do Programa Internacional de Pós-Graduação da Fundação FORD – 2010. E-mail: [email protected]

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CURRÍCULO ESCOLAR X DIVERSIDADE CULTURAL: “POUCO SE CONHECE SOBRE MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADE CULTURAL”

RODA DE DIÁLOGO: DISCUTINDO O CONCEITO DE RAÇA E ETNICIDADE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS

Letícia S. Azevedo15 Marilete C. Cardoso16

Lucinéa G. de Jesus17

Palavras-chave: Currículo Escolar, Diversidade, Educação Democrática.

Esta comunicação trata de um estudo concluído em setembro de 2012, através de um projeto de pesquisa. Sua problemática encontra-se relacionada à investigação da percepção dos professores sobre a inserção das crianças ciganas no processo de escolarização na rede regular de ensino no município de Jitaúna - BA. Um dos objetivos desenvolvidos neste estudo foi de verificar se o currículo da escola investigada vem dialogando com as demandas de uma educação inclusiva, em especial, a etnia cigana, ou está sendo um currículo arbitrário, conservador e excludente. Na metodologia seguiu-se os princípios da pesquisa qualitativa, centrada no estudo etnográfico da cultura cigana. Os instrumentos utilizados foram entrevistas semiestruturadas e registros dos relatos. Os dados coletados e posteriormente analisados reforçaram que, a inserção das crianças ciganas nas escolas pesquisadas encontra-se forjado por atitudes de exclusão, desvalorização e preconceito. Por fim, os estudos demonstraram que o processo de ensino/aprendizagem das crianças ciganas precisa ser repensado, pois algumas estratégias e práticas pedagógicas utilizadas no mesmo não atende aos ideais de uma educação democrática, inclusiva disposta a reconhecer, valorizar e respeitar a diversidade.

Palavras-chave: Formação de professores, Ciências, Racismo.

Desde a promulgação da Lei 10.639/2003 o debate sobre o racismo tem sido constante, especialmente nos cursos de formação de professores, porém muitas pesquisas comprovam que pouco se avançou. O período que antecedeu a promulgação da lei foi marcado pelas fortes reivindicações do movimento negro de nosso país, que historicamente vem denunciando o modelo de sociedade desigual e racista que vivemos há quase quatro séculos. O ano 2006 foi marcado pela efervescência no debate sobre a necessidade de introduzir os estudos sobre a História da África e Cultura Africana nas instituições públicas e privadas de ensino. Testemunhamos uma grande inversão discursiva, na qual os que sempre dominaram a força-de-trabalho dos povos tradicionais dominam agora os seus discursos, como forma de tornar a luta desses, uma luta de todos, por uma razão lógica e ideológica. Dessa forma se configurou a formação de professores em nosso país, ora na defesa da criação da disciplina e sua transversalidade, ou pela negação da própria história. Apesar de temos uma literatura vasta e pesquisas sobre essa discussão percebemos que há pouca discussão entre os pesquisadores e estudantes da área de Educação em Ciências. Nesse sentido essa proposta pretende discutir a construção histórica desse conceito nos diferentes séculos e sua repercussão na sociedade até os dias atuais.

15  Graduanda do VIII semestre de Pedagogia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB – Departamento de Ciências Humanas e Letras – DCHL e bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID/UESB, campus de Jequié – BA, E-mail: [email protected]

16  É licenciada em Pedagogia, mestre em Educação (UFBA), professora pesquisadora do Departamento de Ciências Humanas e Letras - DCHL,membro do Grupo de Pesquisa Gestar, Coordenadora de projetos de pesquisa e extensão na área de Educação Infantil e Ludicidade. E-mail: [email protected].

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17  E-mail: [email protected]. Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu Educação Científica e Formação de Professores/UESB.

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ANAIS 2012

AFRICANIDADE NA ESCOLA: PENSANDO UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA A PARTIR DA PERSPECTIVA DA GEOGRAFIA CULTURAL

A PALAVRA E A ESCOLA NEGOCIAÇÃO E CONFLITO NO TRABALHO COM A LEI 10.639/03

Aderbal P. Santana Filho18 Lílian M. B. Pacheco19

Deyse L. de J. Santos20

Palavras-chave: Consciência afrodescendente, Geografia cultural; Tempo formativo.

O presente trabalho se propõe a apresentar um recorte do “Projeto Cidadania” realizado pelos alunos do Tempo Formativo da Escola Estadual Antônio Carlos Magalhães. Este projeto vem sendo desenvolvido deste o ano de 2008, caracterizado como um período de motivação para a aprendizagem. O objetivo deste artigo é mostrar o quanto, projetos desta magnitude são importantes para a formação pessoal e elevação da autoestima dos alunos. Além disso, pretende-se discutir a necessidade de uma tomada de consciência acerca das raízes africanas, como elemento de significação e resignificação cultural brasileira, paralelamente aos estudos centrados na Geografia Cultural. O resultado desta atividade é apresentado à comunidade em forma de apresentação onde se pode perceber o crescimento, desenvolvimento e comprometimento dos alunos envolvidos neste processo.

18  E-mail: [email protected]. UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana, mestrando do PPGDCI; Especialista em Ensino da Geografia pela FINOM e Graduado em Geografia pela Universidade Estadual de Santa Cruz. 19  E-mail: [email protected]. UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana, Doutora do PPGDCI; Grupo de Pesquisa Desenvolvimento Humano e Processos Educativos. Orientadora do Mestrado de Desenho Cultura e Interatividade-PPGDCI da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

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Palavras-chave: Lei 10.639, Escola, Religião, Conflito.

O presente artigo propõe discutir a relação entre as doutrinas cristãs e a escola a partir da introdução da História e Cultura Africana como conteúdo obrigatório com a Lei Federal 10.639/03. Iniciada em 2008, a pesquisa foi desenvolvida em uma escola da Rede Pública Estadual Baiana, localizada no subúrbio Ferroviário de Salvador, cumprindo diferentes objetivos ao longo desses anos. Em sua última fase, esta que compõe os dados para a dissertação defendida em junho deste ano, a mesma teve por objetivo compreender as negociações e conflitos entre a educação religiosa familiar e a educação formal dos alunos. Os conflitos e negociações existentes puderam ser medidos e avaliados a partir de um trabalho de cunho etnográfico, com observações sistemáticas realizadas na própria escola, em sala de aula e na confrontação dos estudantes evangélicos com os Projetos Educacionais/ Culturais promovidos pela escola, em que a presença e participação gerava muitos conflitos.

20  Graduada em História, Especialista em História e Cultura Afroindigena e Mestre em Educação e Contemporaneidade, integrante do grupo de pesquisa Educação Desigualdade e Diversidade – UNEB e Relações Étnico-Raciais e Afirmação Identitária Negra (NIARE). E-mail: [email protected]

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DESAFIOS DA EDUCAÇÃO EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS André B. Sandes21 Suzimar B. Sandes22

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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: OS DESAFIOS DE UMA SUB-CIDADANIA PARA NEGROS NO INTERIOR DA BAHIA Silvania de Jesus Santiago23 Regina Marques de Souza24

Palavra-chave: Educação, Comunidades Quilombolas, Trabalho Docente.

Todos sabem que as condições de acesso e permanência da população negra e mestiça em uma escola de qualidade tem sido negada ao longo da história do Brasil. A democratização das escolas públicas não veio acompanhada de Políticas Públicas que proporcionassem condições dignas de educação para as pessoas de classe social baixa, especialmente em comunidades quilombolas. Os currículos geralmente não incorporam discussões a respeito dos negros, sua história, resistência e contribuição na construção econômica, social, cultural e política do país. Essa negligencia agrava os índices de evasão, repetência e distorção idade/série, que repercutem no aumento das desigualdades e exclusão. Embora muitas vezes a educação seja utilizada como um instrumento de dominação das massas pode também contribuir no processo de emancipação, de apropriação e construção de conhecimento. Para tanto, as escolas devem ser espaços democráticos, comprometidos com os interesses coletivos e que levem os estudantes a pensar, questionar, discutir, criticar, sugerir e pressionar o sistema para que minimizem as desigualdades raciais existentes, amenizando parte da dívida social que a sociedade brasileira tem com as pessoas de ascendência africana. Através de uma pesquisa bibliográfica, esse trabalho tem como objetivo principal provocar uma discussão sobre os desafios da educação em comunidades quilombolas.

21  SEC - Bahia e FACE. E-mail: [email protected] 22  SEC – Bahia. E-mail: [email protected]

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Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos, Identidade negra, Sofrimento ético afetivo.

Na trajetória da educação brasileira a educação de jovens e adultos sempre ocupou espaços reduzidos nos sistemas educativos, com uma marca compensatória e sem valor social, sendo desprezada por diferentes administradores da educação. No mesmo sentido, a população deste segmento educacional é predominante negra no estado da Bahia. Quase sempre a EJA teve caráter marginalizado, pois as políticas públicas referentes a ela tinham apenas função reparadora pretendendo resolver questões emergenciais sem que dessem uma continuidade a este processo de acesso à educação. Objetivos: a partir de relato de experiência apresentar fragmentos de histórias de vida de adultos e idosos negros que tardiamente tiveram acesso ao ensino da leitura e da escrita e como esta habilidade sócio-cultural e cognitiva expandiu os horizontes destes sujeitos. Metodologia: A partir da análise psicossocial e observação participante do contexto sócio-educacional do aluno e entrevista dialogada com a professora responsável pela classe, foi realizada a coleta de dados em uma sala da EJA em escola municipal da zona rural do município de Santo Antonio de Jesus/BA. Participaram da amostra 5 sujeitos, na faixa etária entre 45 e 60 anos de idade, negros do sexo masculino e feminino. Resultados: Constatou-se que o acesso de adultos e idosos ao desenvolvimento da habilidade de leitura e escrita é fundamental para o fortalecimento da identidade política e garantia de direito à cidadania à população negra. Em termos individuais, os alunos apresentaram sofri23  Professora da Prefeitura Municipal em Santo Antonio de Jesus/BA (PMSAJ), colaboradora do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicanálise, Identidade, Negritude e Sociedade da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – NEPPINS/UFRB, E-mail: [email protected] (75) 8841-8303. 24  Professora Orientadora no Centro de Ciências da Saúde da UFRB. E-mail: [email protected] (75) 9226-1300

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mento ético e afetivo diante de sua marginalização racial, histórica, social e cultural, indicando anseios de verem reconhecidas suas necessidades de acesso ao desenvolvimento cultural, político e econômico em termos individuais e coletivos.

ANAIS 2012

DESDOBRAMENTOS DA LEI 10.639/2003: RELATANDO A EXPERIÊNCIA DO ENSINO DA HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA EM UMA ESCOLA ESTADUAL Idalia Lino dos Santos25 Palavras-chave: Cultura afro-brasileira, Educação básica, Pertencimento.

O Projeto “Desdobramentos da Lei 10.639/2003: Relatando a Experiência do Ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira em uma Escola Estadual” é desenvolvido no Colégio Estadual Maria José de Lima Silveira situado no Jardim Eldorado s/n, bairro Jequiezinho em Jequié-BA. Esse projeto visa ampliar os conhecimentos dos estudantes do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Maria José de Lima Silveira, em relação à nossa história e cultura para o fortalecimento da cidadania étnica e valorização do povo afro-brasileiro e indígena, reconhecendo-os como sujeito desse processo, promovendo uma ação afirmativa de inclusão social e reafirmação da identidade. O projeto desenvolve atividades como: leitura de textos; exibição de vídeos e documentários, atividade extraclasse (entrevistas com a comunidade) e a viagem de campo para Salvador, Cachoeira e São Félix. Ao longo dos dois anos (2009 e 2010), o projeto contribuiu para desconstruir as imagens negativas em relação à África e a cultura afro-brasileira além de ter fortalecido o pertencimento afro-brasileiro da comunidade escolar.

25  E-mail: [email protected]. Graduada em Letras na UESB e pós-graduada em Antropologia na Uesb. Atualmente ensina no Colégio Estadual Maria José de Lima Silveira, ministrante das disciplinas História e Ética e Cidadania.

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I NOVEMBRO NEGRO DO IFBA – CAMPUS VITÓRIA DA CONQUISTA: UMA PROPOSTA DE REFLEXÃO SOBRE A IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 10.639/03 Ana Mary C. Bispo26 Maurício S. Matos27

ANAIS 2012

POR UMA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTICULTURAL: “NOVAS ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA EDUCAÇÃO FISICA A PARTIR DAS DIMENSÕES DA EDUCAÇÃO MULTICULTURAL DE BANKS” Felipe T. Barreto28 Marise de Santana29

Palavras-chave: Consciência Negra, Lei 10.639/03, IFBA. Palavras-chave: Educação, Educação Física, Relações Étnico-Raciais.

Em face das demandas da educação e dos diversos contextos da diversidade humana em que se inserem educadores e educandos, o IFBA - Campus Vitória da Conquista sob a coordenação dos professores da área das ciências humanas e em parceria com a UESB realizou o projeto “Novembro Negro” fundamentado na Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-brasileira nas instituições de ensino público e privado no Brasil. A discussão das realidades nas quais o negro é historicamente inserido ou mesmo excluído, demonstram a relevância de tal discussão como mais uma possibilidade de entender o mundo e a (des)humanidade. O objetivo geral da proposta consistiu na promoção da temática afro-brasileira nas disciplinas do currículo do IFBA, buscando, sobretudo, flexibilizar o “currículo da escola técnica”. Como resultado a culminância do projeto contou com a apresentação da pesquisa “Demandas de Cidadania”, com o percentual de alunos que declaram a cor negra, que favoráveis às ações afirmativas (cotas), e quanto à percepção do racismo no IFBA. Realizou-se ainda a exposição de material audiovisual produzido pelos estudantes, palestras e debates com pesquisadores da temática, apreciação de comidas afro-brasileiras e apresentações culturais (capoeira, samba de roda e maculelê).

26  Orientadora, Professora da Coordenação das Disciplinas do Núcleo Comum do Instituto Federal da Bahia - Campus Vitória da Conquista. Mestrado, Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia . E-mail: [email protected] 27  Pesquisador-Bolsista, Estudante do ensino integrado em informática no Instituto Federal da Bahia – Campus Vitória da Conquista. E-mail: [email protected]

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Com a implementação da Lei 10.639/2003, a educação brasileira obteve um impulso considerável quanto à valorização da história e da cultura da áfrica e dos Afro-Brasileiros, dada como luta dos movimentos negros do país resgatando historicamente a contribuição destes na construção e formação da sociedade Brasileira, neste sentido diversos pesquisadores dentre eles James A. Banks, vem desenvolvendo novas estratégias de ensino para que esta nova Educação Multicultural seja aplicada nas escolas. Esta educação profundamente vinculada às matrizes culturais diversificadas que fazem parte da formação da identidade nacional, deve permitir aos alunos respeitar os valores positivos que emergem do confronto dessas diferenças, possibilitando-lhes ao mesmo tempo desativar a carga negativa e eivada de preconceitos que marca a visão discriminatória de grupos sociais, com base em sua origem étnica, suas crenças religiosas ou suas práticas culturais. E ao analisarmos as diversas formas de como podemos propiciar a inclusão destes conteúdos culturais nas aulas de educação física, seja nos jogos e brincadeiras a cerca da temática poderemos fazer com que os alunos tenham um contato maior com a cultura afro-brasileira de uma forma lúdica desmistificando alguns conceitos anteriormente construídos.

28  E-mail: [email protected]. Licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Membro do ODEERE – Órgão de Educação e Relações étnicas com Ênfase em Culturas Afro-brasileiras. 29  Orientadora: PHD em Ciências Sociais e Antropologia, Doutorado em Programa de Estudos Pós Graduados em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil. Professora titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Brasil.

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PROJETO ERÊ – EDUCAÇÃO CULTURAS AFRO-BRASILEIRAS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Luciene M. de Souza Manoel Dhemis31

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A LEI 10.639/03: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DOS DOCENTES Catiâne dos Santos 32 Eli B. dos Santos 33 Palavras-chave: História da África; Ensino, Implementação da Lei 10.639/03

Palavras-chave: Educação, Cultura afro-brasileira, Criança

O Projeto Êre, Educação culturas afro-brasileiras para crianças e adolescentes, faz parte das ações desenvolvidas pelo Órgão de educação e relações étnicas com ênfase culturas afro-brasileiras – Odeere, e tem como propósito oportunizar as crianças e adolescentes entre sete e quartoze anos, moradoras da comunidade Pau Ferro/Jequié/BA, uma formação sustentada no principio das diferenças e no conhecimento da história da cultura material e não material africana, possibilitando assim a constituição de sua identidade enquanto afro-descendente /brasileiro. Ancorado pelos eixos temáticos: sustentabilidade; Artes afro-brasileira, literatura e linguagem Visuais; Estudos Geo-Históricos; Ciências Exatas e Biológicas e estudos de atualidades africanas e afro-brasileira. Para tanto proporciona atividades que desenvolvidas em turno oposto ao da escola, ajuda a melhorar o desempenho escolar diminuindo assim, as dificuldades de aprendizagem e a evasão escolar, à medida que promove o desenvolvimento da auto estima e da auto imagem e a interação entre comunidade, pais, crianças e professores. O processo de construção do conhecimento das crianças e adolescente é mediado pelo uso do tempo disponível no projeto de maneira livre e criativa, possibilitando

30  [email protected] Professora assistente DCHL/UESB. 31  Griô Projeto Êre / Odeere.

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Resumo: Nesse estudo discutiremos como ocorreu o processo de ensino nas escolas até a promulgação da lei 10.639/03, que determina o ensino da História e Cultura Afro- Brasileira e Africana nas escolas públicas e privadas, ao mesmo tempo em que objetivamos discutir a formação dos profissionais da educação referente à implementação da mesma. Essa lei surge em um contexto que descentraliza o ensino baseado em uma hegemonia determinante, rompendo com a subordinação racial, dando assim um novo conceito e significado a história do Negro (a) nas escolas ressaltando seus valores e contribuições na construção da sociedade. A aplicação da lei tem se dado de forma complexa, pois os profissionais da educação não tiveram formação necessária (ou nenhuma) para atuarem em sala de aula abordando a temática e as especificidades da mesma. Ainda que o ensino da lei seja obrigatório, é necessário uma mudança na consciência e na forma de valorização (outro olhar) da cultura afro-brasileira e africana por parte dos professores para que a lei seja de fato implantada como deve ser, trazendo a (verdadeira) história da África, pois apenas a lei não dá conta de toda a complexidade desse processo de mudança.

32  33 

[email protected] [email protected]

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BRINCANDO E APRENDENDO COM AS CRIANÇAS DO PROJETO ÊRE

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SC 02

Diversidade Linguística, Literatura e Linguagem. Luciano A. da C. Junior34 Luciene M. de Souza35 Laércio G. S. Luz36 Joalice S. Batista37 Palavras-chave: Jogos e brincadeiras africanas, aprendizado, criança

Resumo: A partir da proposta de intervenção pedagógica no Projeto Êre Subprojeto Brinquerê, idealizado pela professora Drª Marise de Santana ministrante da disciplina Didática, para os discentes do III Semestre do curso de licenciatura em Educação Física foi elaborado a oficina: Jogos, brincadeiras, lutas, danças africanas e afro-brasileiras, com o intuito de proporcionar as crianças da comunidade do Pau Ferro, integrantes do Projeto Êre, uma vivência baseada na ludicidade com o propósito de oportunizar uma troca de experiência entre educador e educando, bem como agregar conhecimento para formação acadêmica. As oficinas foram desenvolvidas e mediadas pelos discentes do III semestre do curso de Educação Física com a orientação das professoras Marise de Santana e Luciene Matos de Souza. Durante o processo foi possível perceber que houve aceitação e envolvimento das crianças e dos adolescentes o que tornou possível estabelecer trocas significativas entre os saberes de suas experiências lúdicas e cotidianas com os jogos e brincadeiras propostas pelo grupo dos discentes. O trabalho foi enriquecedor e nos permitiu reformular conceitos e reconhecer a importante da figura do professor enquanto mediador e aprendente do processo de ensino e aprendizagem

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[email protected] Professora assistente DCHL/UESB. Griô Projeto Êre / Odeere. [email protected] [email protected]

AFIRMAÇÃO IDENTITÁRIA NEGRA NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL NO BRASIL E EM MOÇAMBIQUE Profa. Dra. Maria Anória de Jesus Oliveira38 Palavras-chave: Literatura infanto-juvenil moçambicana, Personagens, Narrativa.

Em 2003, após décadas de reivindicações dos movimentos negros brasileiros e demais aliados por uma educação antirracista e menos eurocêntrica, o governo brasileiro sancionou a Lei Federal 10.639/03 tornado obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana na Educação Básica em todas as áreas, principalmente em História, Literatura e Educação Artística, mas, nem por isso passamos a contar com profissionais habilitados a atuar com os estudos africanos e afro-brasileiros. Essa é uma demanda urgente que precisa ser bem mais priorizada em nosso país. Em consequência da lei, assuntos que estiveram à margem no âmbito das academias e do mercado editorial tornaram-se um filão fértil à comercialização. Dessa demanda mercadológica nos preocupam as influencias do racismo à brasileira em seus efeitos camaleônicos39, mesmo reconhecendo a grande relevância social da Lei 10.639/03, a qual é uma conquista histórica requerendo, por isso mesmo, a aplicação com o devido rigor e vigor, como salienta Carlos Moore (2008, p. 27). É nesse contexto que se insurge a necessidade de diálogos, aprendizados mútuos e intercâmbios entre nós, estudiosos das diásporas e os demais, das terras das Áfricas. Assim seguiremos entrelaçando os fios dispersos outrora, ao fazer ecoar a força pungente de vozes que não se 38  Programa de Mestrado em Crítica Cultural. Universidade do Estado da Bahia – UNEB. 39  Muito bem estudado por respeitados estudiosos da área, a exemplo de Kabenguele Munanga (2004), Edvard Telles (2003), Elisa Larkin Nascimento (2008), entre outros.

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deixaram silenciar, ante a árdua batalha de dirimir as intoxicações racistas e as suas consequencias. Foi pensando em tal reaproximação, no estudo na área e na divulgação da produção literária infanto-juvenil moçambicana que a priorizamos como objeto de estudos, em uma relação dialógica com as obras brasileiras destinadas às crianças e aos jovens. O presente estudo resulta, portanto, da tese de doutoramento intitulada Personagens negros na Literatura infanto-juvenil no Brasil e em Moçambique (2000 – 2007): entrelaçadas vozes tecendo negritudes, através da qual nos detivemos sobre as referidas literaturas destinadas às crianças e aos jovens em ambos os países. Para tanto, realizamos a pesquisa bibliográfica em Maputo, entre o período de maio a outubro de 2009 e no Brasil, anteriormente. Norteamo-nos em contribuições oriundas das Ciências Sociais e Humanas, cujos enfoques centram-se nas relações étnico-raciais e/ou na área literária. Alguns estudiosos que fundamentaram a análise foram Antonio Candido (1992), Antoine Compagnon (2003), Terry Eagleton (1983), Sônia Salomão Khéde (1992), Vladmir Propp (1984), Francisco Noa (2002), Florentina Souza (2005) e Nilma Lino Gomes (2006). Dos (as) escritores (as) moçambicanos destacamos: Alberto da Barca, Angelina Neves, Machado da Graça, Rogério Manjate e Mário Lemos, cujas obras foram objeto de nossa análise, entre outros apenas enfocados. E as narrativas são: 1) O menino Octávio, de Calisto Atanásio e Neves (2003); 2) O cachorro perdido, de Tellé Aguiar (2003); 2) O feio e zangado HIV: a história de um vírus, autoria de alunos de 13 a 15 anos (2006); 3) Os gêmeos e os raptores de crianças, de Machado da Graça (2007); 5) Mbila e o coelho: uma história para todas as idades, de Rogério Manjate (2007). Identificamos, nestas, temáticas diversificadas, abrangendo-se, desde o patriotismo, inicialmente, às problemáticas sociais, a exemplo da guerra, da orfandade, da pobreza e temas tradicionais, nos quais o coelho aparece como personagem principal, sobretudo. Os personagens, de modo geral, são delineados com fenótipos negros nas ilustrações, embora sem descrição por parte do narrador no tocante ao pertencimento étnico-racial. As narrativas literárias infanto-juvenis brasileiras são: 1) Ogum, o rei de muitas faces, de Chiab e Rodrigues (2000); 2) Fica comigo, de Georgina Martins; 3) O espelho dourado, de Heloísa Pires Lima (2003) 4) As tranças de Bintou, de Diouf (2004)40; 5) Entrem40 

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eio sem babado, de Patrícia Santana (2007). No que se refere às temáticas há as religiosidades de matrizes africanas e o espaço social africano mitificado, grosso modo, além do universo conflituoso de crianças e jovens nas relações familiares. Seus traços físicos não são caricaturados e destacam-se os fenótipos negros através da linguagem verbal e/ou não verbal. Esperamos, a partir das análises, colaborar para a ampliação de subsídios pertinentes à área em foco, levando em conta a implementação da Lei Federal 10.639/03, no que tange à ressignificação da história e cultura africana e afro-brasileira.

Tradução editada no Brasil.

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A REPRESENTAÇÃO DOS PERSONAGENS DOS CONTOS DOS CADERNOS NEGROS: VALORIZAÇÃO IDENTITÁRIA NEGRA?

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LINGUAGEM E IDENTIDADE SEXUAL ENTRE OS JOVENS NEGROS Wellington Pereira42

Bárbara Mª J. de Oliveira

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Palavras-chave: Sexualidade, Gênero, Linguagem. Palavras-chave: Representação, Cadernos negros, Afirmação identitária.

Ainda persiste a dificuldade de encontramos textos que representem os alunos negros de maneira positiva, sem se incorrer em estereótipos inferiorizantes. Os Cadernos Negros apresentam-se com a proposta de reconfigurar e valorizar o segmento étnico-racial. Assim sendo, pretendemos analisar os contos dos Cadernos Negros, com vistas a identificar se prevalece a afirmação identitária do segmento negro de maneira ressignificadora. Para tanto, realizamos a pesquisa bibliográfica e nos norteamos no campo da teoria literária e áreas afins, oriundas da teoria, abordaremos estudiosos tais quais: Bernd (1988), Brookshaw (1983), Souza (2008), Candido (1974), Bhabha (2005), Cuti (2010), Hall (2001). Esperamos por meio deste estudo, contribuir para a valorização da história e cultura e da ressignificação literária, colaborando com a implementação da Lei 10.639/03.

41  Professora Licenciada em Letras Vernáculas pela UFBA. Mestranda em Crítica Cultural (UNEB - Campus II). Bolsista CAPES. Orientador: professor doutor Murilo da Costa Ferreira.

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O objetivo da pesquisa Linguagem e identidade sexual entre os jovens negros e conhecer e interpretar a linguagem enquanto produtora de identidade sexual. Este trabalho visa interpretar as representações sobre a linguagem cotidiana e das letras de música da perspectiva dos jovens e compreender como as identidades sexuais e de gênero são construídas. A investigação foi realizada, no Instituto Federal de Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) - campus Santo Amaro – Bahia com jovens, de 16 a 21 anos, auto-classficados como pretos ou pardos de acordo com as categorias do IBGE. Utilizamos como método para a coleta o grupo focal, técnica de investigação qualitativa, que leva em consideração os resultados obtidos no grupo ao discutir um tópico especial sugerido pelo pesquisador, permitindo a compreensão de valores e representação dos mesmos. Foram realizados 8 encontros em que utilizamos as letras de diferentes estilos musicais cujo mote fosse a sexualidade. Além disso, realizei observação participante no espaço do IFBA. Os resultados preliminares da pesquisa apontam uma clara distinção entre o modo como os homens e mulheres interpretam as letras das músicas, por exemplo, os jovens do sexo masculino consideram que as mulheres não deveriam dançar ao som de letras de pagode que as depreciam, enquanto isso, as mulheres acreditam que a letra é menos importante que o ritmo. Elas também destacam que outros estilos musicais da MPB, por exemplo, a letra da música Não enche de Caetano Veloso também depreciam as mulheres e nunca fora considerada como tal.

42  E-mail: [email protected]. Estudante de ciências Sociais VIII semestre Do Curso Ciências Sociais. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Orientadora Profa. Angela Figueiredo

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O OLHAR SOBRE A FIGURA DA MULHER NEGRA Edna S. B. Silva Marcio Santos Palavras-chave: Raça, Gênero, Estereótipo.

Partindo do pressuposto de que a questão de gênero e raça são aspectos privilegiados na discussão de preconceito e estereótipo presente na obra de Aluísio Azevedo, o cortiço. Ao juntar-se dois elementos como gênero e raça chega-se a um patamar em que tratados políticos e científicos, normas culturais, padrões sócias enfim toda forma de controle social são utilizadas para definir o que deve ser o comportamento de uma mulher pertencente a determinado grupo racial ou étnico. Tudo isso contribuiu para aniquilação da identidade do negro, pois o Brasil escravocrata herdou de Portugal a sua estrutura patriarcal de família, cujo preço foi pago pelas mulheres negras. Com destaque para as personagens: Rita Baiana e Bertoleza, mulher negra está relegada à sua função original, ou seja, ao trabalho compulsório a exploração econômica. No início do século vinte as classificações significaram um posicionamento hierárquica no qual essas mulheres viram suas perspectivas de aprimoramento econômico, social e político muito reduzido. Rita Baiana, seus estereótipos são características interligadas ao campo de sensualidade e ao mesmo tempo associam a sua nacionalidade a consequência de sua lascividade. Rita, não é modelo esperado por essa sociedade patriarcal, ela é descrita como uma mulher, que forje do padrão criado para a imagem da mulher, os quais deveriam ser: a mãe, esposa, passiva, romântica e que fosse solteira deveria ser virgem. Vale ressaltar que os pensamentos machistas e preconceituosos, que foi expresso pela tradição oral de que a cor da pele da mulher definia a específica função a que estaria destinada é um discurso produzido nos anos quinhentistas e ele ressaltava que: “Branca para casar, negra para trabalhar, mulata para fornicar”.

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“AFROCAPOEIRISTICACANDOBLECÍSTICAMENTE”: LITERATURA QUE FALA SOBRE A RUA X VISÃO EUROCÊNTRICA DA LITERATURA Fábio Mandingo43

A gente tem lutado contra forças muito grandes, num combate muito desigual e que chegou a um ponto de desigualdade de forças tremenda. Mais ainda quando a gente sabe que muitas vezes os próprios irmãos e irmãs são agentes da desestruturação do nosso povo. Eu vejo isso de maneira quase religiosa: continuar fazendo o que eu acho certo, por todos os meios necessários e possíveis, vendo cada pequeno resultado e a própria luta, como uma vitória. Mas se a gente analisa o contexto Africano, diaspórico e internacional, as perspectivas são muito tenebrosas. Eu tenho estudado um pouco o processo das independências africanas, e é impressionante como uma movimentação continental daquela nobreza pôde se dissolver de maneira tão radical. Nós somos muito ricos e poderosos pra sermos deixados livres... Sempre fui viciado em leitura, do tipo que lê até bula de remédio e isso desde que eu me entendo por gente. Lá em casa podia não ter televisão nem comida, mas livro sempre tinha. A leitura funcionava então como uma saída de emergência da realidade, e quando eu fugia, era pra me esconder nas bibliotecas públicas e passar o dia todo lendo tudo o que chegasse em minhas mãos. Eu sempre gostei de literatura que falasse sobre a rua, li muito os beatnicks, Henry Miller, Bukowski, Pedro Juan Gutierrez, Richard Wright, Jorge Amado, Gabriel Garcia Márquez. Autores que falam dos mundos marginais, obscuros e sem hipocrisias. Recentemente li o Abutre, de Gil ScottHeron, que me impressionou muito. Toni Morrison tem dois dos livros mais impressionantes que eu já li: Amada e Paraíso, que são quase perfeitos. Tem uma frase de Henry Miller que eu gosto muito, que é: “Só me interessa o que se escreve sobre a rua. O resto é só literatura”. Ler o livro “O Terreiro e a Cidade” de Muniz Sodré, foi uma experiência extraordinária e importantíssima na minha vida, foi a primeira vez que eu vi um autor dominar com43  Bacharel e Licenciado em História (Ucsal), Pós-Graduando em História Cultural Afro-Brasileira (ACEB-FETRAB), Pai de Tati e Sara, filho de Dona Marlene e aluno do Mestre Jogo de Dentro.

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pletamente as categorias e paradigmas acadêmicos e ao mesmo tempo a essência subjetiva da rua e da forma afrobrasileira de ser e de lidar com esse outro que é a elite normativa. Ler aquilo ali foi o que me despertou a possibilidade de se jogar Capoeira com a filosofia, com a história e com a visão eurocêntrica da literatura. Vem junto com a leitura, eu sempre pensei que poderia escrever. Mas o determinante foi o período do movimento Punk. A ideologia do faça-você-mesmo, que nos levava a acreditar que todos nós poderíamos ser escritores, músicos, atores, e que até mesmo olhava com maus olhos aquele que não produzia nada. Foi um período muito forte da contracultura em Salvador, quando você encontrava bandas, fanzines, pinturas, poesias, em qualquer bairro da cidade, em qualquer subúrbio, E ISSO NOS LEVAVA A PRODUZIR CULTURA. Então venho escrevendo desde essa época, juntando cadernos e mais cadernos... Depois que eu escrevi o primeiro livro, percebi que ainda tinha muita coisa pra escrever sobre o Centro Histórico. Eu costumo dizer que a Bahia extrapola todos os estereótipos. Todos os estereótipos construídos sobre Salvador são extremamente reais, intensamente verdadeiros, muito mais do que se pode imaginar de longe, ou a partir de uma visão de fora. Eu acho que a mudança no que eu escrevo é justamente do Lugar de onde parte a VISÃO, que é um lugar totalmente diferenciado da classe que tradicionalmente se ocupou de escrever, pesquisar, cantar e retratar Salvador. É uma escrita que parte do povo, de uma perspectiva afropopular e que, portanto. Se distancia e entra em choque com a perspectiva tradicional que busca conquistar conforto em relação ao perigo do que é essa “baianidade”. Essa “baianidade”, que é o modo afrobaiano de viver a vida, é extremamente perigoso pra as pretensões normativas da elite. Por isso, foi feito um esforço tremendo por essa elite, na busca de enquadrar, acomodar, domesticar e simplificar essa realidade. Salvador Negro Rancor é literatura “afrocapoeiristicacandoblecísticamente” centrada. A cidade é a mesma, que encanta e que apavora, mas eu me sinto em Salvador, eu SOU em Salvador.

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MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DE MATRIZ AFRICANA NA MEMÓRIA DOS VELHOS JEQUIEENSES Ivanildes Moura dos Santos44

Palavras-chave: Cultura, Memória, Identidade, Tradição Oral.

Esse trabalho monográfico teve como objetivo reunir alguns elementos culturais emanados da tradição africana, preservados na memória dos velhos jequieenses e como estes puderam contribuir para a consolidação da identidade afro-brasileira, na perspectiva defendida pela Lei 10.639/2003. Nossa fonte de pesquisa foram os relatos dos mais velhos que residem nos bairros periféricos da cidade de Jequié, a exemplo do Alto da Boa Vista e do Pau Ferro, duas comunidades com forte influência cultural afro-brasileira. Esta pesquisa foi motivada diante das várias manifestações culturais vividas na infância, tais como: Ternos de Reis, Rezas com Folhas Curativas, O Caruru para Cosme e Damião, Os Altares de Santos (na sala de visita das casas), O Contador de Histórias, O Caçador e, principalmente, a resistência de religiões de matriz africana como, por exemplo, o candomblé. O modelo referencial utilizado foi a História Oral, na vertente da tradição oral, por entender que seria melhor recurso para estudar tais legados afro-brasileiros.

44  Graduada em Educação Infantil e Seres Iniciais do Ensino Fundamental – UESB Professora da rede Municipal de Jequié – Ba, Autora do livro Azire a Princezinha de Aruanda, que recebeu o prêmio Zélia Saldanha em 2005 pela UESB- Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. E-mail [email protected] CEL 73 8818 1064

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HOMI K. BHABHA: DISCURSO, REPRESENTAÇÃO, LINGUAGEM, SUPLEMENTO

O RENEGADO COMEÇO DA NAÇÃO: SOSÍGENES COSTA, ADONIAS FILHO E JORGE AMADO

Alexandre de Oliveira Fernandes45

Marcos Aurélio dos Santos Souza46

Palavras-chave: Homi K. Bhabha, Representação, Suplemento.

Busca-se, neste trabalho, investigar a construção do discurso fundacional como justificativa do nacionalismo, do racismo, da xenofobia e das políticas anti-imigracionistas, e a crítica a esse discurso, operada pelas narrativas dos escritores baianos Sosígenes Costa, Adonias Filho e Jorge Amado. Essas narrativas se configuram através de processos de descontinuidade e de dispersão da história, através da ficcão, configurando um “renegado começo”. Promovem, assim, uma percepção genealógica da história, uma abordagem estratégica acerca de sujeitos culturais e lugares, desenvolvida a partir de uma visão plural e conflituosa de diferentes experiências culturais. A escolha dos escritores Jorge Amado, Adonias Filho e Sosígenes Costa justifica-se pelo fato de suas narrativas operarem processos ambivalentes de identificação cultural, de produção e de reinvenção da história, a partir de uma revisão do discurso fundacional, pondo em xeque suas referências unívocas e fixas, sua perspectiva eurocêntrica e também a ideia propalada da mestiçagem, como síntese de raças e culturas, amparada na previsibilidade do sujeito nacional e na construção conciliatória ou definitiva da ideia de “povo brasileiro”. O longo poema narrativo Iararana, de Sosígenes Costa, ambientado na região do Rio Jequitinhonha, cidade de Belmonte, trata-se de uma história contada principalmente pela personagem alma do mato, entidade mítica e espírito descendente de índios aimorés, ao seu neto, o menino do céu. A história cruza situações de negociação e de violência culturais, a partir do estupro cometido pelo Centauro (entidade arrebatadora na mitologia grega, símbolo da colonização europeia) contra a Iara, figura mítica das águas, respeitada pelos índios, que se apresenta, ao mesmo tempo, no poema, como a Iemanjá africana e a sereia europeia. O estupro gera uma criatura mestiça, a Iararana ou a falsa Iara, que colabora com seu seu pai na tentativa de esmagamento e destruição dos elementos fantásticos,

Trabalho em que se apropria do pensamento de Homi K. Bhabha em “O local da cultura”, buscando instrumental teórico capaz de romper com barreiras de oposição e hierarquias em que se assentam o pensamento ocidental. Como isso ocorre? Infere-se que não há cultura autossuficiente ou essencialista; a “história” não é um todo ordenado, progressivo e harmônico; acolhe-se o discurso instituído para com ele “negociar”, fazendo emergir “brechas” do contraditório e do antagônico; provocam-se espaços de tradução, disseminação e hibridismo; questionam-se discursos de origem e tradição como autoritários e violentos, como “lugares” discursivos e disciplinares em que questões como a de identidade são estrategicamente nomeadas, cristalizadas e instituídas; apresenta-se a representação como “cena” do ambivalente, portanto, um movimento duplo que, mais do que apresentar aquilo a que se refere, esconde, revela uma falta, adia o entendimento. Como metonímia, a representação instaura a presença por meio da ausência. Tal entendimento da cultura leva-nos a desconfiar de que há algo de “suplementar” “nisso tudo”. Levantar o véu do instituído, ler a contrapelo, ler em palimpsesto o que foi escrito com tinta branca é, com Homi K. Bhabha, o objetivo deste trabalho.

45  [email protected] Instituto Federal de Educação da Bahia – IFBA/Porto Seguro. Coordenador do Grupo de Pesquisas para a Diversidade – GRUPED - IFBA. Doutorando em Ciência da Literatura – UFRJ. Orientadora: Prof. Dra. Helena Parente Cunha

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46  Professor. Doutor. - UNEB

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indígenas e caboclos da mata, à beira do Rio Jequitinhonha. O personagem mestiço ou híbrido (Iararana), assume, em detrimento da possibilidade de sua ambivalência, o discurso fundacional do conquistador, e passa a contribuir com o projeto de apagamento físico e simbólico daqueles que estão submetidos ou se opõem a esse projeto. O menino do céu, por outro lado, assume a voz de origem dos índios botocudos, uma voz que não reivindica uma outra fundação, mas uma demanda compósita de irregularidades da história, de identidades culturais e históricas que se cruzam e se conflituam no tempo e no espaço. Em Luanda Beira Bahia de Adonias Filho processa-se o tema da demanda restituidora de uma identidade paterna e “original” que adquire um aspecto trágico, através de dois “retornos”: o primeiro a uma origem humana e racial imaginária do personagem principal, Caúla, a África; o segundo a uma origem local e nacionalista, ambos lugares concebidos como territórios fundados pelo empenho colonial, europeu e masculino. Nesse sentido, a perspectiva desejosa da fundação ou da demanda motivada pela referência de um herói fundador, a partir de uma espécie de épica menor de Caúla no rastro de seu pai, o branco João Joanes, é gorada pelos desenlaces das relações de procedência e consanguinidade, o incesto e o filicídio. O romance de Adonias, ao apresentar a demanda construída numa espécie de geografia errante pela África, Brasil e Europa, permite ainda um diálogo com os sentidos de território, lugar e mundo globalizado e também com a fluidez e a multiplicidade dos espaços abertos ou liminares. Tal fluidez que dessacraliza a conotação fixa de uma conquista patriarcal dos espaços geográficos também permite o entendimento da dispersão cultural em espaços relativamente delimitados, ou seja, o entendimento de um território que se desterritorializa com as possibilidade de dispersão e de descontinuidade dos diferentes sujeitos, o que podemos analisar em outros romances de Adonias Filho, como Léguas da Promissão e As velhas, como também em Iararana e outros poemas de Sosígenes Costa. Em Tocaia Grande, a recorrente presença de personagens andejos e desterrados permite também a construção de um espaço de dispersão e de negociação, no qual aparecem e são produzidas, através das relações entre esses personagens, formas subjetivas e culturais dialógicas. Jorge Amado, em seu romance, assim como Sosígenes, parte de uma realidade local da região do cacau para reconstruir um universo de permutas, deslocamentos e situações de mobilidade cultural, para isso destaca personagens que constituem diferentes demandas

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e interesses subjetivos de identificação, numa encruzilhada de culturas e num começo historicamente renegado, que se configura como uma “cilada”, uma “tocaia” contra-discursiva dirigida à história fundacional, pretensa e ostensivamente contínua, da cidade de Irisópolis. Esse romance constitui a referência principal dessa perspectiva do “renegado começo”, pela assunção deliberada de um desejo do próprio narrador em querer “descobrir” e “revelar” a face obscura, varrida dos “compêndios de História”, voz que logo se dispersa na pluralidade e na confluência de desejos dos seus diferentes personagens. Mas, também é possível observar em outros romances desse escritor, ambientados na região sul da Bahia, ou na zona do cacau, como São Jorge dos Ilhéus, Terras do sem fim e Gabriela cravo e canela, a intervenção das diferentes vozes culturais, de homens e de mulheres que chegam numa encruzilhada de comunidades humanas.

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A INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS INDÍGENAS E AFRICANAS NA IMPLANTAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL Elielma R. Sertão Luana S. Souza Rozenildo S. Teixeira Palavras-chave: negro, índio, contribuição.

Resumo: O presente artigo objetiva refletir até que ponto se deu a influência das línguas indígenas e africanas na ampliação da língua portuguesa e da afirmação da identidade nacional. Pretende também analisar quais foram os motivos primeiros para a implantação das línguas gerais e como se deu o seu desaparecimento e a maior propagação das línguas africanas. Busca refletir que quando os portugueses ocuparam efetivamente o território brasileiro não havia essa “unidade” linguística que existe hoje, em que as diferenças sociais, culturais, geográficas se transformaram em diferenças dialetais, causando, assim, problemas na comunicação. A comunicação no período colonial estava fragmentada e complexada, de um lado estavam os europeus, os dominadores da colônia, do outro lado estavam os diversos grupos indígenas dominados, havendo, ainda, a população mestiça. Uma nova discursividade estava em jogo, o discurso heterogêneo do branco, do índio e do negro. Os portugueses exerciam poderio sobre os grupos colonizados, sobre a sua cultura, sua organização social e sua língua. A situação linguistica era complexa: “tupi/tupinambá para os diversos grupos e subgrupos tupi, português e Frances para os principais colonizadores, línguas gerais para os mestiços, demais índios e agentes da colonização, além das diversas línguas tribais.” (Borges, 2001, p. 201). O que havia era mais de um milhão de indígenas distribuídos aproximadamente por 300 línguas diferentes, chamados pelos portugueses de Tupinambás. Os portugueses tiveram de se submeter a aprender a língua tupinambá não só devido a grande quantidade de povos indígenas, mas também por causa da fragmentação das línguas indígenas, gerando assim um quadro de bilinguismo na colônia. A vivência das línguas indígenas com a portuguesa e sendo falada em contextos socioculturais bastante diferentes das quais eram tratadas levou a

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perda de suas respectivas matrizes. Na fonética e fonologia, as mudanças são marcadas, as seis vogais orais típicos da família tupi-guarani foi reduzido a quatro vogais: a, e, i, u. As vogais u e o do tupinambá fundiram-se em u, e também a vogal i e i fundiram se em i. Na morfologia, diversos sufixos que em tupinambá tinham várias formas fonológicas segundo os ambientes em que ocorriam tornaram-se uniformes, com a generalização de uma só forma. O Brasil colonial conheceu pelo menos quatro línguas de destaque: no litoral, o tupi da costa; São Paulo, o tupi austral; na região sul, o guarani e, no norte, o tupi setentrional, sendo todas modalidades do tupinambá. Todas as tribos tupis constituíam ramos de um mesmo tronco e provavelmente tiveram um mesmo centro de dispersão. Eles tiveram papel relevante na conquista e colonização do litoral brasileiro. Membros de um subgrupo do povo tupi e pertencente à família linguística dos tupis-guaranis estavam distribuídos pela costa brasileira, nas regiões do atual estado da Bahia e do Rio de Janeiro. Como embasamento teórico temos os trabalhos de BONVINI, E. (1989), ELIA, Silvio (1979) e CASTRO, Y.P. (1978).

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Saúde das populações Afro-Brasileiras

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hecer as plantas medicinais utilizadas e as várias formas de uso das plantas medicinais africanas pelos moradores da referida fazenda, situada no município de Jequié-BA.

O USO DE PLANTAS DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA PELOS MORADORES DA COMUNIDADE FAZENDA VELHA DA CIDADE DE JEQUIÉ-BAHIA Graciela Souza Almeida47 Adriana Silva Barbosa48 Marise de Santana49 Palavras-chave: Plantas Medicinais, Etnobotânica, Antropologia Cultural, História.

O objeto de estudo desta pesquisa é o uso das plantas medicinais da cultura afro-brasileira para a comunidade da Fazenda Velha como alternativa de cura barata e eficaz no combate às doenças. O presente trabalho propõe-se a contribuir com os estudos que envolvem as plantas empregadas na medicina popular ou tradicional e em rituais de religiões de origem e influência africana no Brasil. Desse modo, este trabalho procura destacar aspectos históricos e religiosos de diferentes influências, assim como coloca em discussão o papel sacral e terapêutico desempenhado por elas, tendo em vista o valor simbólico atribuído às mesmas pelas pessoas nos ambientes estudados e as atividades biológicas relacionadas aos princípios ativos que as plantas empregadas encerram. Assim, esta pesquisa teve como objetivo analisar a importância das plantas medicinais da cultura afro-brasileira no combate às doenças para a comunidade da Fazenda Velha, bem como con-

47  Graduanda em Licenciatura em História pela Faculdade de Tecnologia e Ciências-FTC. E-mail: gracysa@ yahoo.com.br 48  Bióloga. Mestre em Enfermagem e Saúde pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB. E-mail: [email protected]. 49  Pedagoga. Pós-Doutorado em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP. E-mail: [email protected].

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KIRIKU: QUANDO O HERÓI SOFRE O ESTIGMA Maria da Conceição Queiroz da Cruz50 Rita Maria Nunes de Castro51 Raimunda Maria Costa Andrade52 Regina Marques de Souza53 Palavras-chave: Racismo, Psicanálise infantil, Educação.

A constituição psíquica infantil ocorre através das relações primárias que a criança estabelece com o seu meio familiar e social. A princípio, conforme a psicanálise, a criança está sujeita às primeiras relações objetais estabelecidas com o seu par primordial: a mãe. A figura materna transmite à criança a segurança para ela vir a ser sujeito singular e social. Ao mesmo tempo, a figura simbólica materna de constituição subjetiva é o protótipo especular das futuras relações ambientais que a criança irá experimentar em seu universo coletivo e social. Neste sentido a escola de educação infantil em nossa sociedade é o universo adequado para promover a valorização subjetiva infantil em relação ao seu pertencimento étnico e racial na sociedade atual. Objetivos: apresentar a figura do herói Kiriku, personagem negro valorizado pela cinematografia mundial, como expressão do valor das diferenças e das formas de pensamento africano em termos de superações sócio-culturais e as repercussões desta condição nas formas de interação entre crianças negras e não negras em uma escola municipal de educação infantil. A Metodologia do trabalho consistiu na projeção e discussão do filme Kiriku entre crianças de 5 a 6 anos de idade por ocasião do 20 de novembro. Acompanhou-se du-

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rante seis meses a repercussão da atividade no contexto escolar. Discussão: Observou-se que as crianças negras não identificam-se com o herói Kiriku e as crianças brancas aceitam a valorização do herói apenas por ocasião do calendário escolar que tradicionalmente promove em novembro a visibilidade da questão negra africana na escola. Passado o período crianças não negras, no contexto estudado, referem-se a figura do herói Kiriku com certa chacota e escarmo, direcionando para crianças negras esteticamente “parecidas” com o personagem Kiriku tais ironias, a ponto das crianças negras sentirem-se incomodadas com a situação e rejeitarem para si a comparação com o herói. Resultados: Avaliou-se na atividade pesquisada que práticas pedagógicas promotoras da valorização das diferenças raciais e culturais não podem ser isoladas do contexto pleno dos projetos pedagógicos durante o ano letivo, visto que crianças são sensíveis aos jogos e arranjos sociais objetivos que não representam a autenticidade das relações mesmas com seus pares, tendo em vista a condição primária de sua constituição subjetiva na leitura do ambiente social.

50  Professora Municipal em Santo Antonio de Jesus - PMSAJ e Colaboradora do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicanálise, Identidade, Negritude e Sociedade da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – NEPPINS/UFRB. 51  Professora Municipal em Santo Antonio de Jesus - PMSAJ e Colaboradora do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicanálise, Identidade, Negritude e Sociedade da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – NEPPINS/UFRB. 52  Professora Municipal em Santo Antonio de Jesus - PMSAJ e Colaboradora do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicanálise, Identidade, Negritude e Sociedade da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – NEPPINS/UFRB. 53  Professora Orientadora no Centro de Ciências da Saúde da UFRB. E-mail: [email protected] (75) 9226-1300.

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SERVIÇO SOCIAL NO ENFRENTAMENTO DAS DESIGUALDADES: TRANSVERSALIDADE DE RAÇA E GÊNERO NO SISTEMA DE SAÚDE Leidy Anne dos S. Alencar54

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A VALORIZAÇÃO DOS ASPECTOS CULTURAIS NO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO EM MORADORES DE POPULAÇÕES REMANSCENTES DE QUILOMBO Nathalie O. Gonçalves55

Palavras-chave: Saúde da mulher, Serviço Social, Étnico-raciais. Palavras-chave: Hipertensão, Negro, Cultura.

O presente trabalho versa sobre a “Saúde da Mulher Negra”, e tem como objetivo produzir uma reflexão sobre as desigualdades étnicas- raciais encontradas no Sistema Único de Saúde (SUS) e o papel do Serviço Social no enfrentamento dessa temática, pensando-o como possibilidade de enfrentar e superar intolerâncias, tal como buscar desconstruir atitudes e ações racistas e sexistas. O trabalho reforça ainda os princípios contemplados na proposta do SUS e no Projeto Ético Político da profissão, onde a defesa da equidade e dos direitos humanos constituem pilares fundamentais para uma intervenção profissional baseada na emancipação humana.

54  E-mail: [email protected], discente do Curso de Serviço Social- 6º período CAHL/UFRB, voluntária do projeto de pesquisa Orun Aiyê: um estudo propositivo em defesa da saúde da população negra no âmbito do Recôncavo Baiano. Profa. orientadora: Valéria Noronha.

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Os fatores sociais, econômicos, culturais e étnicos/raciais, influenciam a ocorrência de problemas de saúde na população (CNDSS, 2008). O objetivo deste estudo se dá em compreender como as características culturais podem favorecer o tratamento da Hipertensão Arterial em negros quilombolas. Trata-se de um estudo bibliográfico cuja trajetória apóia-se nas leituras exploratória e seletiva realizada através do banco de dados nas bases Lilacs e SciELO, o levantamento abrangeu desde o período de 2005 até 2011 Após o levantamento bibliográfico, realizou-se a leitura exploratória do material encontrado. Da análise foram definidos dois eixos temáticos: Valorização da cultura no processo saúde/doença, é preciso compreender como a comunidade enxerga o processo saúde/doença, pois, suas concepções de enfermidade se ligam a valores culturais da sociedade em que o individuo está inserido. O segundo eixo: Hipertensão Arterial em negros, nos países desenvolvidos 7% das mortes ocorridas antes dos 60 anos são atribuídas à hipertensão, enquanto na África essa porcentagem sobe para 25% (OMS, 2009). Conclui-se que a Hipertensão Arterial, ainda apresenta seu tratamento e controle inadequados, embora os avanços científicos e tecnológicos nas últimas décadas venham facilitando a identificação dos fatores de risco, do diagnóstico precoce de seus agravos.

55  Enfermeira. Especialista em Saúde Coletiva da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Email: [email protected]

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RACISMO E ESCOLHA AFETIVA SEXUAL: INFLUÊNCIAS NA IDENTIDADE JOVEM Breno B. Andrade56 Cristiane Nogueira57 Itânia Patrícia S. C. Assis58 Maria B. J. Santos59 Regina Marques Oliveira60

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nas brancas ou não negras, também o mesmo ocorre com meninas negras em relação à escolha de seu parceiro afetivo sexual. Conclui-se que a saúde mental de jovens negros sofre influências negativas para sua construção de identidade, sendo importante conhecer os sofrimentos decorrentes do estigma racista a fim de intervir através dos campos da saúde e educação.

Palavras-chave: Racismo, Identidade, Gênero, Escola.

A construção da autoimagem acontece ao longo do desenvolvimento humano, principalmente no estágio infantil até a adolescência. Muitos jovens “assimilaram” a cor negra como sendo a cor historicamente negada pela sociedade. A carga do conceito negativo por adolescentes traz uma ideia racista, onde a questão coloca-se como postulado fundamental na crença da existência de “raças” hierarquizadas dentro da espécie humana; onde a estética corporal tem papel importante para jovens negros. Objetivo: a pesquisa buscou observar as relações entre o gênero masculino e feminino dos estudantes negros de duas escolas de Santo Antônio de Jesus/BA e de um centro comunitário religioso que abrange bairros centrais e periféricos da mesma cidade. O estudo busca compreender, quais os sentimentos, emoções, percepções da imagem corporal e estética do jovem negro que vive em comunidades carentes da cidade, e entender como é feita a escolha do parceiro afetivo e sexual por parte destes jovens. Metodologia: a pesquisa contou com observação etnográfica no contexto escolar e comunitário religioso durante o período de seis meses. Algumas professoras envolvidas com os jovens participaram do contexto de observação. Resultados: observou-se que há preferência afetiva e sexual dos meninos negros por meni-

56  Discente de Psicologia da UFRB. 57  Colaboradora do NEPPINS. 58  Colaboradora do NEPPINS. 59  Colaboradora do NEPPINS. 60  Professora Orientadora no Centro de Ciências da Saúde da UFRB. E-mail: [email protected] (75) 9226-1300

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RACISMO, VIOLÊNCIA PSÍQUICA E ADOLESCÊNCIA Bárbara Suélen Rebouças Terra Nova61 Regina Marques de Souza Oliveira62

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a qual, neste caso, vislumbra-se cada vez mais forte na busca constante de suas origens e fortalecimento psíquico. Evidencia-se assim a importância da psicanalise considerar a dimensão étnica, histórica e cultural do individuo para o enfrentamento psíquico da violência do racismo.

Palavra-chave: Adolescência, Racismo, Psicologia.

As formas de organização social advindas do capitalismo impõem às pessoas uma variedade de sintomas psíquicos estreitamente relacionados com determinantes sócio-histórico-culturais aos quais os indivíduos estão inseridos. Assim, Oliveira e Martins (2012) apontam que esse modo de constituição social esta pautado na transgressão e abusos. Isto fortalece comportamentos xenofóbicos, com forte recrudescimento da barbárie frente às diferenças étnico-raciais, econômicas e culturais. O racismo e as diferenças culturais sempre foram presentes na sociedade e o sofrimento psíquico do racismo é violência complexa e suas consequências afetam diretamente a vida mental dos indivíduos. Para o enfrentamento de toda essa conjuntura, a psicanálise através de uma leitura psicossocial pode contribuir junto ao sujeito, tendo em vista que se propõe a buscar caminhos que ajude na superação de problemas através do conhecimento pessoal, ressignificando e transformando elementos simbólicos, investindo na valorização do sujeito e no desenvolvimento de uma postura autônoma. Pode-se perceber a importância da análise psicossocial e psicanalítica a partir de acompanhamento psicológico oferecido em equipamento público de saúde mental em Santo Antônio de Jesus/BA, onde uma adolescente, doze anos, negra, marcada desde a infância pelo preconceito racial, foi “obrigada” a mudar de cidade para fugir da violência racista. Vitima da exclusão e maus tratos da sociedade, sua personalidade sofre impactos expressivos desta violência. No entanto, a partir de componentes histórico e familiar positivos e o trabalho psicológico, ocorre o fortalecimento da identidade negra da adolescente,

61  Graduanda de Psicologia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia no Centro de Ciências da Saúde - CCS/UFRB. [email protected](71)91901023. 62  Professora Orientadora no Centro de Ciências da Saúde da UFRB. E-mail: [email protected] (75) 9226-1300.

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SAÚDE DO IDOSO: REFLEXÕES SOBRE AS DESIGUALDADES ÉTNICO-RACIAIS NO CONTEXTO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

ESTUDO DE CASO EM PERSPECTIVA ÉTNICO-RACIAL: PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO

Angelo C. de Carvalho; Chirlene O. de J. Pereira; Eliane M. A. S. Lima; Eliene B. Machado; Leidy Anne dos S. Alencar63

Maria Lúcia de Jesus Correia64 Ângela Fabiane R. Santos65 Genolina C. Melo66 Regina Marques S. Oliveira67

Palavras-chave: Idosos, Saúde, Étnico-Racial.

O presente artigo versa sobre a Saúde do Idoso, com foco na temática racial objetivando produzir uma reflexão sobre as desigualdades étnico-raciais vivenciadas pela população idosa no âmbito do SUS, especialmente no que tange ao acesso e utilização dos serviços saúde. O estudo propõe fortalecer os princípios norteadores do SUS, do Estatuto do Idoso e da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. A discussão aponta para o fato de que o aumento da longevidade, decorrente de inúmeras conquistas no campo social e da saúde, criou demandas diferenciadas no campo das políticas públicas para o segmento idoso, considerando múltiplas particularidades relacionadas ao processo de envelhecimento. Tais particularidades se articulam com intersecções fundamentais na construção de quaisquer políticas, dentre elas: o recorte étnico-racial. O debate busca elucidar uma prática de saúde ética, buscando romper com atitudes discriminatórias e/ou de exclusão- seja por idade, raça, gênero, etnia, dentre outra, destacando a importância da efetivação dos direitos humanos, de uma assistência à saúde digna e igualitária garantindo respeito às diversidades e às especificidades. Além disso, o debate acerca da Saúde do Idoso e das discriminações étnico/raciais possuem transversalidades que serão abordadas no decorrer do artigo para uma melhor compreensão do tema proposto.

63  [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]. Discentes pesquisadores(as) do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Orientadora: Prof. Dra. Valéria Noronha.

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Palavras-chave: Psicologia, Vulnerabilidade, Inclusão, Raça.

As diferenças no contexto socioeconômico, familiar e étnico racial podem levar as crianças a terem maiores ou menores oportunidades de participar das atividades em sala de aula. Nesse sentido, este trabalho é um relato de experiência de observações feitas em uma escola pública municipal de ensino infantil na cidade de Santo Antonio de Jesus. Objetivos: Organizar um relato de experiência sobre o desenvolvimento sócio-cognitivo-psicológico de uma criança a partir das influências étnico-raciais no contexto escolar e familiar. Método: As observações foram feitas no contexto ampliado da escola e da família a partir da relação docente com a criança. Observou-se o cotidiano escolar da criança, no período de 4hs aulas diárias durante um semestre; o sujeito da observação é do sexo feminino, 5 anos, moradora de bairro de alta vulnerabilidade social na periferia de Santo Antonio de Jesus, Bahia. A criança não interagia com os demais colegas, não participava das atividades desenvolvidas em sala de aula. Ao realizar entrevista com o seu responsável verificou-se que a família vivia em condições de miserabilidade e estigma social. Discussão: A partir das observações do contexto escolar conjugadas com a análise psicossocial, passou-se a investir elementos de valorização e inclusão desta criança principalmente referente as dimensões raciais. Resultados: Após a intervenção da professora sobre os aspectos psicoemocionais e raciais da criança, ocorreram possibilidades de interação desta com o grupo e consigo mesma possibilitando comunicação, interação social e maior habilidade cognitiva e intelectual. 64  Colaboradora do NEPPINS/UFRB. 65  Colaboradora do NEPPINS/UFRB. 66  Estudante de psicologia da UFRB, Docente da UFRB. 67  Professora Orientadora. Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicanálise, Identidade, Negritude e Sociedade da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – NEPPINS/UFRB.

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SAÚDE MENTAL DA POPULAÇÃO NEGRA: PROCESSOS SUBJETIVOS E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE Regina Marques de Souza Oliveira68 Palavras-chave: Violência do racismo, Psicanálise, Identidade.

Pretendemos abordar a saúde mental da população negra a partir da dimensão psicanalítica e da psicologia social materialista histórica. A noção de saúde mental no Brasil sempre foi marcada por estigmas e conjunturas sociais de preconceito e discriminação de uma pessoa, classe ou grupo social. As instituições psiquiátricas e de tratamento em saúde mental sempre estiveram a serviço do encarceramento dos indesejáveis. A marca de uma ciência que produz conhecimento em saúde mental está atrelada a dimensão das convenções sociais. Raramente a psicologia brasileira, seja ela clínica ou social se preocupou em estudar os grupos étnicos raciais constituintes da população brasileira e, embora há mais de 50 anos tenhamos avançado nos estudos sobre o negro no Brasil, principalmente a partir dos estudos patrocinados pela UNESCO, o qual deflagrou a existência do “mito da democracia racial no Brasil” , a psicologia brasileira permaneceu muda e calada diante de tais averbações. Assim sendo, no cerne da ciência psicológica, necessitamos observar e questionar: quais os problemas psíquicos resultantes da desumanização do negro, os mecanismos de pressão psicológica que fazem com que alguns negros introjetem o mito da “superioridade branca” e o de “inferioridade negra”. Pretendemos considerar as conseqüências e efeitos da discriminação na estrutura psíquica das pessoas sob o olhar de uma ciência psicológica tanto no plano individual – psicologia clínica – como no plano coletivo – psicologia social. Estabelecendo um diálogo interdisciplinar com outras áreas das ciências humanas que lidam com o estudo do negro através de uma ponte com a ciência da Educação, auxiliando esta na construção de uma pedagogia transformadora das relações preconceituosas no âmbito da 68  Professora Orientadora no Centro de Ciências da Saúde da UFRB. E-mail: [email protected] (75) 9226-1300

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escola e da educação do cidadão brasileiro. Sob tal aspecto pretendemos trazer conceitos da psicologia social (materialista histórica) com base na noção de construção de identidade e formação de processos subjetivos, os quais são os responsáveis pela condição de desenvolvimento psicoemocional das pessoas. No mesmo sentido, alguns estudos no campo de uma psicologia clínica centrada na abordagem psicanalítica serão apresentados como contribuintes no entendimento da complexidade da estruturação emocional humana principalmente no que concerne à dimensão do sofrimento psíquico a partir da violência do racismo. A violência do racismo instala-se em nossa sociedade muito precocemente na dimensão subjetiva humana. Nas crianças, a partir do legado parental, formas de enfrentamento da condição negativa de estruturação emocional podem ser organizadas a fim de prevenir o adoecimento mental, bem como promover o fortalecimento da dimensão psico-emocional infantil através de ações importantes junto a família e a escola. Sob tal circunstância, a psicologia brasileira, pouco tem contribuído para esta construção. Visto que em geral, não há abordagem étnico-racial para compreensão do psiquismo humano. Assim sendo, é preciso considerar toda a pesquisa recente no campo psicológico a fim de referendar estudos sobre a criança, o jovem, o adulto e idoso negro, visto que este não é distinto de toda a população brasileira, mas é considerado com uma igualdade que reflete apenas a negação da diferença diante da violência do racismo presente no cotidiano perverso de nossa sociedade fundada em base colonial e escravista. Ao negro é dirigido olhar de inferioridade, de subordinação; olhar este que perpassa todas as relações sociais e íntimas do negro consigo mesmo e com o seu entorno. Hanna Arendt nos diz que nossa presença no mundo é garantida pelo olhar do outro. Sob tal consideração, sabemos que ao negro é reservado por nossa sociedade a invisibilidade, a não representação, o existente desnecessário, o qual deve ser “embranquecido”,. A criança na escola é incentivada a evadir-se, a não ver-se representada nos livros e materiais escolares, a ser – não raras vezes – desprezada pela professora, a qual, por força simbólica e psíquica de uma constituição subjetiva engendrada na violência do racismo, reproduz as bases de uma sociedade que é em si pautada em princípios excludentes, ocidentalizados, na negação e desprezo as formas lingüísticas e culturais de povos não europeus. Tem-se assim um ciclo vicio-

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so: a sociedade brasileira e mundial é estruturalmente racista, a família, em sua carência de acesso aos valores culturais de sua própria origem, muitas vezes é levada a reafirmar símbolos lingüísticos alheios a sua condição de sujeito. Assujeitando-se ao “status quo” de uma sociedade moralmente pobre frente a plenitude civilizatória da diferença e diversidade étnico-racial. A escola, lugar a priori de emancipação e acesso aos bens culturais e imateriais de uma civilização, restringese em manter imutável tais prerrogativas frente ao público infantil, negro e marginalizado. Embora aparentemente simples, as dimensões do preconceito racial e do racismo, estão na base de nossa formação social brasileira, e, ao mesmo tempo, configuram estruturalmente a dimensão psíquica de nossa população. Não só os negros sofrem com os efeitos destas condições sócio histórica e cultural, mas também os não-negros, visto que considerar-se “superior” a outrem e agir tal qual esta consideração é possuir condições não saudáveis de desenvolvimento e evolução psico-emocional. Sob tal assertiva pretendemos trazer em nossa atividade as representações e exemplos clínicos da psicologia que demonstram a face mórbida da violência do racismo e os modos possíveis de intervenção no que concerne as bases da psicologia. No mesmo sentido pretendemos demonstrar a necessidade do aprofundamento da questão a fim de promover a salvaguarda do processo civilizatório humano entre todos aqueles que compõem a sociedade global. Finalmente, se as ciências humanas e sociais avançaram largamente na consideração da questão em seus âmbitos específicos, a psicologia brasileira pouco fez para ampliar a compreensão desta complexidade frente aos modos de funcionamento mental infantil, jovem e adulto, a fim de que possamos intervir mais efetivamente em nossas atividades profissionais frente a singularidade de nossa população. Tarefa que neste encontro pretendemos fomentar, discutir e avançar com a apresentação de estudos de casos de pesquisa na clínica psicológica com enfoque psicanalítico e psicologia social materialista histórica.

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Linguagens Visuais e Culturas: Imagem, Comunicação e Radiodifusão.

MAPEAMENTO VISUAL DO CICLO DE FESTAS POPULARES DA BAHIA: SÃO SALVADOR Edson Dias Ferreira69 Palavras-chave: Fé, Festa, Imagem.

A discussão acerca da imagem, no nosso trabalho, tem sido uma presença constante, aí tem lugar um recurso privilegiado: a fotografia. Atuando como mediadora de questões que envolvem a relação com o outro – pessoas e grupos sociais –, este recurso permite várias possibilidades de aplicação. Neste sentido, a fotografia ganha importância pela capacidade de realizar registro de fatos e situações cuja investigação tenha relevância. Divulgar imagens relativas à manifestações da cultura local de Salvador, referentes às lavagens, ao carnaval e outras que atestem a natureza particular de suas realizações podem abrir possibilidades de estabelecer reencontros. Estes (re) encontros se caracterizam pela possibilidade de pessoas se reconhecerem e, nesse reconhecimento, buscar-nos para uma aproximação. A rede de computadores, como potencializadora de mediações que a imagem pode possibilitar, carrega em si condição de estimular a aproximação de dois agentes da festa: o protagonista de alguma atividade que constitui uma ação da própria festa e o protagonista do registro que a preservou. A interação desses dois sujeitos traz, para além do resultado plástico ou documental do registro, outras possibilidades de entrar no âmago da própria ordem festiva a partir dos discursos particulares que as imagens podem fazer 69  Professor titular do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Feira de Santana, com Pós-Doutorado em Ciências Sociais pela PUC-SP, Coordenador do Grupo de Pesquisa Linguagens Visuais Memória e Cultura. E-mail: [email protected]

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emergir. Quem são os protagonistas e/ou outros anônimos participantes do que a festa é capaz de produzir? Artistas e suas alegorias, penitentes e suas promessas, são ainda autores de tantas outras ações particulares que contribuem para a consolidação daquele momento único que a manifestação produz. Algumas situações registradas jamais voltarão a ser vistas, mas a situação que as motivou poderá voltar na forma de lembranças numa perspectiva da memória de seus protagonistas ou de outros com os quais estes se relacionaram. Neste sentido, trazer para esse momento uma apresentação que dá conta da atividade realizada há tanto tempo não é sem propósito. Uma revisita ao acervo fotográfico construído por ocasião da realização da tese de doutorado – Fé e Festa nos janeiros da Cidade da Bahia: São Salvador – religa-se aqui pelo interesse de torná-lo acessível hoje. Passo este pretendido pelo projeto Mapeamento visual do ciclo de Festas Populares da Bahia: São Salvador. que agora realizo, cujo objetivo é dispor das imagens em padrão digital para ampliar o seu alcance.

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AS REPRESENTAÇÕES ARQUETÍPICAS E VISUAIS DA RADIODIFUSÃO INTERNACIONAL Antonio Argolo Silva Neto70 Palavras-chave: Comunicação, Imagens, Representação simbólica.

A radiodifusão é um fenômeno recente na história do Brasil. Em 2012 completou-se os 90 anos da primeira transmissão oficial, cuja veiculação se deu durante as comemorações do centenário da Independência do país em 7 de setembro de 1922. Era um momento de efervescência cultural, pontuado pela Semana de Arte Moderna. Esses pensamentos se ampliaram com o rádio devido à sua função social como formador de opinião, mediador cultural e instrumento de integração nacional. Ao cumprir esse papel o rádio também abriu novas perspectivas para outra modalidade de sintonia, além desse entorno geopolítico. E assim surge o interesse de várias nações pela audiência brasileira, mediante a programação das “rádios internacionais”. Entende-se por radiodifusão internacional as emissões de rádio de vários países, destinadas para uma audiência no exterior, utilizando-se da plataforma de transmissão das Ondas Curtas71 (OC). De acordo com a Enciclopédia Mirador Internacional (1990), essas emissões surgiram no esforço das guerras mundiais, visando difundir informações e propagandas políticas, em vários idiomas para o mundo e em língua portuguesa para o Brasil. Entretanto, sua maior intensidade se deu durante a Guerra Fria. Por se tratar de um fato histórico, que não se constituiu num conflito bélico de grandes proporções. E, por conseguinte, em estratégias econômicas, políticas, mili-

70  E-mail: [email protected]. Mestre em Design, Cultura e Interatividade pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS/PPGDCI; Graduado em Pedagogia e Especialista em Antropologia com Ênfase em Culturas Afro-Brasileiras pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Pesquisador do ODEERE/ UESB. Orientador: Prof. Dr. Edson Dias Ferreira. Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Desenho, Cultura e Interatividade – PPGDCI/UEFS. 71  As Ondas Curtas referem-se à parte do espectro eletromagnético, que corresponde às frequências compreendidas entre 3 e 30 MHz. Naturalmente, uma opção de sintonia que vai além das faixas de AM e FM, disponíveis nos receptores convencionais. Sua principal característica é a propagação a longas distâncias, tornando possíveis comunicações tais como emissões radiofônicas internacionais, nacionais, radioamadorismo e estações móveis marítimas.

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tares, tecnológicas, ideológicas e culturais, que se propagavam sutilmente nas ondas do rádio. Dessa forma, as rádios internacionais assumem duas faces: difundir a posição dos países alinhados às potências mundiais; e ainda das nações desalinhadas, preocupadas com a mediação do conflito e o futuro da humanidade. Resultando na ampliação de pensamentos políticos, a consciência de uma cultura de paz e o entendimento entre as nações. É nesse circuito temático que estou inserido como pesquisador. Meu interesse pela radiodifusão estrangeira se inicia nos fins dos anos 80, quando comecei a ouvir, participar dos programas e colecionar materiais de divulgação cultural e cartões QSLs72. Essas experiências despertaram meu interesse pelo mundo em conhecer culturas, países, histórias, conhecimentos e também desenvolver pesquisas científicas desde a graduação. Chegando ao Mestrado, senti a necessidade de aprofundar a investigação sobre as imagens visuais e sonoras proporcionadas pelas citadas emissoras. A partir da análise dos “materiais radiográficos73” e depoimentos de uma amostra de 12 ouvintes – que fazem parte do DX Clube do Brasil e da Lista Yahoo de Radioescuta –, ficou evidenciado que o rádio exerce uma grande importância na formação mental dessa audiência brasileira. Atuando como coadjuvante da mediação simbólica das imagens coletivas, que perpassam pela relação de sentido dos ouvintes na construção de seus contatos com o mundo. Ao situar uma emissora radiofônica como propulsora de imagens, logo vem à mente algumas indagações: afinal, de que forma o rádio pode transmitir imagens? Qual o vínculo da radiodifusão com as representações arquetípicas e visuais na concepção das imagens dos países de emissão pelos sujeitos da audiência? Quais são as imagens sonoro/visuais que é possível identificar na iconografia postal e radiofônica? À luz da semiótica, Martine Joly (1996) situa a imagem como a representação de algo que está ausente e pode ser

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sintetizado tanto nas suas formas visuais como fenômenos naturais, quanto nas imagens mentais dos pensamentos, sonhos, poesias, narrações, devaneios... Portanto, a imagem ganha sentido porque perpassa pela faculdade da psique e pode ser apropriada pelos humanos como instrumento de comunicação e representação visual. Para McLuhan (1964), diferente da televisão, o rádio se constitui numa linguagem desprovida de imagens visuais. Entretanto, sua visualidade torna-se latente mediante as interações humanas, na sua condição de ser imaginativo, sensível à construção dos sentidos ao interagir com as mensagens do rádio. Nessa perspectiva, Gaston Bachelard (1985) teoriza que a inserção do rádio na sociedade veio suprir não apenas a necessidade de informação e mediação, mas também a intensa vida mental, tão necessária no mundo contemporâneo. O fato de a mídia radiofônica ser pautada na oralidade tende resgatar sensibilidades mentais e arquétipos coletivos, que são únicos nos seres humanos. Permitindo ao ouvinte percorrer pelo mundo da imaginação, em busca de respostas para as necessidades mentais e da vida cotidiana. Essas representações acompanham o ouvinte desde o ambiente escolhido para se ouvir rádio (o shack do radioescuta) e se amplia na ritualização da sintonia radiofônica, assim como no uso dos materiais radiográficos. Portanto, a ancoragem entre as imagens mentais e visuais é o resultado das possibilidades de inserção da audiência nas mensagens do emissor, nos contatos e nas trocas de correspondências estabelecidas entre quem produz e emite os programas e quem está do outro lado do rádio, na condição de ouvinte.

72  QSL é uma linguagem que faz parte do código fonético internacional, iniciado pela letra “Q”, e possui várias interpretações. Quando utilizado no código Morse significa “acuso de recebimento” e pode assumir formas interrogativas e afirmativas. Sobretudo, na radiodifusão internacional o QSL como “acuso de recebimento” deixa de ser uma sentença sonora. Passa a assumir a configuração gráfica de um cartão, tipo postal, impresso pela própria emissora para confirmar o relatório das escutas realizadas, enviado pelo ouvinte. 73  A palavra em uso é derivada de “radiografia” – técnica de obtenção de imagem pelo emprego de raios X. Utiliza-se o termo “materiais radiográficos” como uma metáfora, visando definir os objetos gráficos, sonoros e iconográficos que são utilizados ou produzidos pelas rádios internacionais e oferecidos aos ouvintes, com o objetivo de difundir uma mensagem complementar às informações difundidas na programação radiofônica.

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O OLHAR SOBRE O DESENHO PRODUZIDO PELA ESTÉTICA CORPORAL NEGRA NO AFOXÉ POMBA DE MALÊ

RELATOS DE EXPERIÊNCIAS NO LEGADO AFRO-INDÍGENAS NA COMUNIDADE DO PAU FERRO

Eduardo O. Miranda74 Hellen Mabel S. Silva75 Gilberto R. A. Netto76

SANTANA, Manoel da Silva77

Palavras-chave: Desenho, Festa, Identidade Negra.

Maria Ferreira (2007, p. 64) compreende que a festa é uma atividade pública de afirmação da identidade coletiva, onde os sujeitos alcançam a “consciência de seu ‘pertencimento’ a determinado grupo, assumindo o papel de protagonista de sua própria história”. Apropriamos-nos da abordagem dessa autora para fundamentar o presente artigo, que analisa o corso do Afoxé Pomba de Malê, entidade carnavalesca de matriz africana presente na Micareta de Feira de Santana, Bahia. O objetivo central desse trabalho consiste em identificar, com auxílio da fotografia, a presença do Legado Africano no desenho produzido pela entidade observada. Para tal, realizamos um trabalho de campo durante o festejo com foco no “Espaço Quilombola”, local a parte do circuito principal, o qual é reservado para os desfiles das agremiações afro-brasileiras. Durante o trabalho empírico fotografamos os diversos desenhos que são construídos a partir das danças, das vestimentas, sobretudo a estética produzida pelos corpos negros. A valorização da negritude e da cultura afro-brasileira é indispensável para alcançar os objetivos propostos pelos gestores da entidade. Percebemos nas narrativas e nas representações gráfico-visuais que a Micareta é utilizada para evidenciar a intolerância racial e religiosa, já que boa parte compartilha das crenças de matrizes africanas.

74  Autor. Geógrafo. Discente do Programa de Pós-Graduação em Desenho, Cultura e Interatividade – Universidade Estadual de Feira de Santana. [email protected] 75  Co-autora. Geógrafa. Discente do Programa de Pós-Graduação em Desenho, Cultura e Interatividade – Universidade Estadual de Feira de Santana. [email protected] 76  Co-autor. Discente do curso de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. [email protected]

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Nesta pesquisa busquei investigar quais são as artes de origem afro-indígena, presentes no cotidiano da comunidade do Bom fim – pau ferro. Arte de uso no dia a dia; como as vassouras, esteiras, abanadores de palhas, potes, moringas, panelas de barros. Os adereços de uso corporal, pinturas facial, a forma do penteado, as cores das roupas, as pulseiras, colares e contas, as pinturas nas unhas as estruturas e cores das casas. A arte da musica, com seus versos e prosas de samba ou de rima. A música é uma arte do dia a dia em todas as idades, cantada e gingada na arte da capoeira. No Pau Ferro estas artes faziam-se presente no lazer e também para estrutura das primeiras famílias que aqui chegavam. Ao longo do meu crescimento, venho memorizando lembranças desse cotidiano vivido aqui na comunidade. Imagens do cotidiano das pessoas, que ainda mora ou que já se foram, as casas, casarões, armazéns, chafariz. O matadouro que distribuía as sobras do gado, Carneiros e porcos para as pessoas. Imagens de esculturas, a festa de reisado, rezas e o bumba meu boi, a festa dos terreiros de candomblé e o caruru de São Cosme e São Damião. A novena do Senhor do Bom fim, o São João que deixava as ruas da comunidade mágica, nos enfeitiçando com a luz das fogueiras queimando, o forro da Dona Bila na rua do fundo que era tradição aqui no Pau Ferro. Os tradicionais capoeiristas do Pau Ferro, Paulo Saci e seus irmãos e primos, todos os sábados à tarde fazendo roda de capoeira no antigo colégio Dom Climério de Andrade, hoje o atual Órgão de Educação e Relações Étnicas com Ênfases em cultura Afro-Brasileira ODEERE. Também o Bar Raça Negra, com suas musicas, danças e pinturas que nos mostrava como a comunidade vivenciava suas raízes sem vergonha ou preconceito. 77  E-mail [email protected]. Artista Plástico; Pesquisador voluntário e coordenador do Projeto Erê no Órgão de Educação e Relações Étnicas com ênfase em Culturas Afro-brasileiras - ODEERE. Orientando da professora Marise de Santana. PHD em Ciências Sociais – Antropologia. Professora titular do Departamento de Ciências Humanas e Letras da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Coordenadora do Curso de Pós Graduação em Antropologia da UESB. Líder do grupo de Pesquisa certificado pelo CNPq ‘Educação e Relações Étnicas com Ênfase em Culturas Afro-brasileiras. Professora do Programa de mestrado em Desenho, Cultura e Interatividade da UEFS/BA.

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LINGUAGEM: O PASSAPORTE PARA UMA EDUCAÇÃO EMANCIPATÓRIA, SUA CONCEPÇÃO E USO EM SALA DE AULA

CARTAS NÁUTICAS: NOVAS CARTOGRAFIAS, MEMÓRIA E INTERATIVIDADE

Vandeilton T. Santana78

Taygoara Aguiar do Carmo Sousa80 Maíra Moura Miranda81

Palavras-chave: linguagem; emancipação; educação; cultura.

Este trabalho objetiva tratar a linguagem como instrumento para uma educação emancipatória, a partir do estudo de concepções de linguagem e de como a mesma é e / ou pode ser usada em sala de aula. Neste sentido percebe-se que a linguagem é fator constitutivo em que o sujeito conceberá através das relações sociais. O que o sujeito é ou deixa de ser remetenos a pensar a linguagem que é algo construído a partir destas relações. Daí surge a noção de emancipação. Emancipar-se requer do individuo, uma valorização do “eu”, do “outro”, e do meio na qual está inserido. (Boal, 1998). A linguagem, ela é estabilizada como um produto significante. É uma atividade psíquica constituindo a consciência, porque é uma expressão de signo79 (...). (Kramer, 1994). O desenvolvimento da linguagem só pode acontecer por meio da interação social. (Vigotsky, 2002). Aliado a esse processo, desponta a questão da mediação, peça fundamental no oficio docente. Com este propósito, a pesquisa foi feita com vinte professores da rede pública e privada de ensino do munícipio de Valença-Ba. A pesquisa buscou saber qual a definição de linguagem, e quais tipos de linguagens são utilizados em sala de aula.

78  E-mail: [email protected]. Pós graduando em Gestão Educacional - UESB . 79  Aqui entendido como uma coisa que está no lugar de outra, sob algum aspecto.

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O presente trabalho é resultado de uma pesquisa desenvolvida durante o Curso de formação continuada em audiovisual, realizado no Laboratório LabMAM – Facmil, no Museu de arte Moderna da Bahia (MAM-BA), no período entre julho e agosto de 2012. Na etapa de registro audiovisual, esta pesquisa teve também o apoio do Laboratório de Protótipos e Modelagem Digital (LabDesign), da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (EBA/UFBA). Fruto de uma experiência interdisciplinar e colaborativa, contou com a participação dos professores Ricardo Ruiz e Ricardo Brasileiro; dos estudantes Isaac Donato, Marília Cunha, Esperança Gandêlha e Milena Oliveira; além dos autores deste artigo, Taygoara Aguiar do Carmo Sousa e Maíra Moura Miranda. Inicialmente, aborda-se a questão da cartografia do ponto de vista das artes visuais. São abordados métodos de representação cartográfica, tendo em mente sua relevância como instrumento das relações de poder, posto que esta tomada de consciência tem sido o motor do crescente empenho por desenhar novos mapas. Em seguida, discute-se os conceitos de novas cartografias e mídias locativas, bem como seus usos na arte contemporânea, a fim de refletir sobre seu potencial para dar visibilidade a manifestações de nossa cultura que sobrevivem à margem das estruturas de dominação. O projeto “Cartas Náuticas” lança um novo olhar sobre a cartografia da cidade de Salvador. Este comunicação traz, como principal contribuição, o detalhamento dos métodos utilizados na realização deste projeto e contribui com o fomento da utilização de novas tecnologias, novas cartografias e mídias-locativas na realização de projetos de difusão do patrimônio imaterial no estado da Bahia. Objetivo geral: Discutir o papel das novas cartografias e mídias-locativas, como ferramentas de preservação 80  EBA/UFBA - Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. E-mail: [email protected] 81  EBA/UFBA - Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. E-mail: [email protected]

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do patrimônio imaterial, no contexto das poéticas digitais interativas. Objetivos específicos: 1. Apresentar os conceitos de mídia-locativa e novas cartografias; 2. Estabelecer relações entre a história oral, novas-cartografias e poéticas digitais interativas; 3. Apresentar as etapas metodológicas de produção da instalação audiovisual interativa intitulada “Cartas Náuticas - mapa de histórias das embarcações da comunidade do Solar do Unhão – Salvador/BA. Metodologia: de caráter exploratório, este estudo parte de uma pesquisa bibliográfica, por meio de documentos físicos e também disponíveis na internet, e culmina em um estudo de caso, a fim de explicar o processo de produção do mapa analógico-digital interativo que compõe o projeto audiovisual “Cartas Náuticas”, o qual pretende colaborar no registro e difusão da cultura imaterial, no âmbito das novas cartografias. Estudo de caso: Com base nos princípios da História Nova e da História Oral, para o desenvolvimento da videoinstalação interativa “Cartas Náuticas” foram estabelecidas três etapas metodológicas: 1) Coleta de dados; 2) Síntese e organização dos dados; e 3) Produção. Na etapa de coleta de dados, fez-se uso de técnicas de localização geográfica por satélite (GPS), registros audiovisuais da localidade e dos barcos em seu contexto original, além de entrevistas em vídeo, com depoimentos dos proprietários das embarcações. Já na etapa de síntese e organização dos dados foram realizadas a edição digital (não-linear) e o desenho do mapa analógico utilizado como a base da interface de controle. Durante a produção, foi desenvolvido um dispositivo de leitura de sensores magnéticos baseado na plataforma open-source de prototipagem eletrônica Arduino e controlados por um aplicativo interativo Pure Data. Por fim, os produtos desenvolvidos foram compilados e organizados no espaço expositivo do Lab MAM/Facmil. A utilização de métodos de captação e edição de áudio e vídeo integrados com recursos eletrônicos e digitais foi de grande contribuição para a difusão dos depoimentos particulares das pessoas entrevistadas por esta pesquisa. A videoinstalação como suporte para estes depoimentos atuou como uma ponte lúdica entre o observador da obra de arte e o patrimônio imaterial dos moradores da comunidade do Solar do Unhão, Salvador, Bahia. Considerações finais: 1. Um mapa é uma ferramenta de visualização de relações espaciais e fluxos que, além de reunir informações a respeito da localização relativa de objetos ou fenômenos de natureza diversa, pode revelar dados contextuais que

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caracterizam a realidade representada. 2. Ao migrar para o ambiente digital, os mapas convencionais se mesclam com os recursos de interatividade, de modo que o diálogo entre dados contextuais e locativos passa a acontecer segundo a dinâmica dos ambientes multimídia. Assim, o desenho de mapas converge para o campo do design de interação e acaba por exigir novas competências dos profissionais da cartografia. 3. Registrar em audiovisual manifestações culturais, coletar dados locativos, a partir do material obtido e produzir obras digitais multimídia que contribuam para a preservação e difusão do patrimônio imaterial, são técnicas que juntas constituem-se em um arranjo metodológico validado pela instalação “Cartas Náuticas”. 4. A instalação torna-se mais consistente em termos de conceito e atrativa do ponto de vista estético, quando possui um ambiente imersivo de interação com recursos de vídeo-mapeamento e elementos cenográficos relacionados ao contexto da obra. 5. Devemos tentar nos libertar dos moldes convencionais e propor representações gráficas completamente renovadas.

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AS TRADIÇÕES RELIGIOSAS AFRO-INDÍGENA-BRASILEIRA E O CINEMA Itamar Aguiar82 Palavras-chave: Tradições religiosas, Candomblé, Cinema e relações.

As diversas tradições religiosas ditas, afro-indígena-brasileira se apresentam com enorme diversidade, ao ponto de afirmarem “cada linha com seu fuso, cada povo com seu uso”, neste universo religioso “cada casa é uma casa”, mas, todas elas apresentam características essenciais em comum. No que interessa ao fazer cinematográfico, a plasticidade, o movimento, as cores, o envolvimento pessoal, a alegria e, muitos outros que aparecem em seus rituais, traduzidos em musica, dança, vestuário, comida, em fim, tudo aquilo que compõem o universo mágico e mítico que leva ao transe e nos encantam na sua visão de mundo. Assim, com esses ingredientes do humano enquanto ser no mundo tem, ao longo do tempo, atraído a atenção dos profissionais do Cinema que produziram um grande número de filmes, dentre os quais escolhemos alguns pra breves comentários. Desde quando a atividade cinematográfica se iniciou no Brasil, mais especificamente desde as Chanchadas que, o carnaval e o candomblé enquanto facetas destas tradições, nos apresentaram belos filmes sob a interpretação de Oscarito, Anquito, e Grande Otelo dentre outro atores que contribuíram com a cinematografia nacional. Mas para não ir tão longe, selecionamos no universo do “Cinema Novo” O Pagador de Promessa de Dias Gomes e Barravento de Glauber Rocha, o primeiro trata do sincretismo religioso, das relações entre os ritos da Igreja Católica e do Candomblé da Bahia; o segundo de uma comunidade de pescadores, filhos de santo de um terreiro de Candomblé, suas relações e as relações comerciais, evidenciado, as culturais e os conflitos de classe na velha São Salvador da Bahia. Saindo do recôncavo e reportando aos Sertões, nos dirigimos às Lavras Diamantinas e destacamos Diamante Bruto de Orlando Senna, que aborda a especificidade de uma Cidade garimpeira de diamantes, Lençóis e as transformações culturais porque passava

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nos anos 1970, enfatizado os amores extraídos das páginas do romance Bugrianha de Afrânio Peixoto, a visão de mundo e o trabalho dos garimpeiros em suas relações com o Jarê, o mundo encantado “dos candomblés da chapada”. Da produção mais recente escolhemos o filme A Cidade das Mulheres, produzido a partir das pesquisas da antropóloga Rute Landes que, trata das questões de gênero, o papel das negras de partido alto e pano da costa, lideranças femininas em terreiros de Candomblé Gejê Nagô da bela São Salvador e, também, As folhas do Jardim Sagrado de Pólla Ribeiro que, mostra a escolha do local e o processo de surgimento ou construção de um terreiro de Candomblé, a visão de mudo que permeia esse universo religioso e, os conflitos e dificuldades para se manter vivas as tradições oriundas de um mundo tribal em uma metrópole gerida pelo Racionalismo, a lógica do Capitalismo no mundo Contemporâneo. Em fim, poderia escolher outras obras cinematográficas feitas sobre o candomblé, inclusive vários documentários referentes a comunidades ditas “Quilombolas” para ilustras as relações entre o Cinema e as tradições Religiosas “Afro indígena brasileira”, mas preferi as supra relacionadas para evidenciar um pouco as distinções entre essas culturas no Recôncavo e nos Sertões da Bahia.

82  UESB.

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FABRINCANDO: PRÁTICA LÚDICA DE FAZER BRINQUEDOS Tamires Maria Lima Gonçalves Santos83

O brinquedo é um objeto lúdico que permite fluir a fantasia e que quanto mais livre de regras e seriedade mais próximo da criança ele está (Oliveira, 1982, p.9). Enquanto para os adultos brincar é uma forma de se distanciar dos problemas e fuga do mundo real, tem o significado oposto para a criança. É a forma de inserção no mundo, onde se conhece, incita sua curiosidade e cria desafios. A produção de brinquedos populares é o ressignificado de materiais de descarte, utilizados por serem mais acessíveis economicamente ao produtor. Feitos para suprir necessidades, são exemplos de resistência, expressão e identidade. Negando a condição de apenas consumidor dos bens culturais, o produtor que vem do povo “apropria-se, ressignifica, e devolve sua interpretação do cenário cultural, buscando através dessa resistência, colocar sua identidade e se colocar também como produtor de cultura” (ANDRADE, 2009, p.33). O brinquedo popular surge dessa necessidade do produtor e também da criança, objetivo primordial para qual é criado. Sendo um instrumento para seu crescimento sócio-cultural, anteriormente eram construídos por familiares ou pela própria criança e com o crescimento da indústria de brinquedos no início do século XX, iniciou-se no comércio através do produtor popular com preços mais acessíveis. Atualmente, com o investimento do marketing maciço sobre os brinquedos industrializados, o brinquedo popular perdeu espaço no imaginário das crianças e consequentemente no mercado. Ganhando novos significados como o decorativo, trabalho ou religioso, esse brinquedo tem sido encontrado com menor frequência apenas em feiras de artesanato ou sendo vendido de forma aleatória.  O que se percebe é: com a diminuição dessa prática, esses produtos perdem-se na história brasileira e na memória de quem brincou e/ou fez. É preciso compreender a história desses brinquedos, a importância como patrimônio cultural, como objeto lúdico da criança e, observando

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a crescente escassez de encontrá-los, desenvolver meios de registro tanto para o brinquedo quanto para técnicas empregadas. Por essa necessidade nasce o projeto Fabrincando, fruto da disciplina Projeto Experimental de Design da Escola de Belas Artes - UFBA, desenvolvido com a orientação de Taygoara Aguiar e André Lima. Esse projeto é uma forma de registro das técnicas empregadas na confecção brinquedos populares brasileiros, particularmente alguns brinquedos oriundos da região Nordeste do país. Para tanto, foram selecionados cinco brinquedos para compor um livro que apresenta textos informativos sobre o brinquedo, o artesão, a sucata e o passo-apasso necessário para a construção dos brinquedos selecionados. Dividido em três capítulos, conta com muitas ilustrações, vertente mais eficaz para atingir nosso público-alvo que são as crianças. Cada ilustração segue o tema discutido na página e é percebida a constante presença da criança negra. Essa decisão projetual está baseada em uma pesquisa e análise pessoal. Observando a maioria dos livros didáticos e paradidáticos infantis brasileiros, percebeu-se a pouca ou não-representação do negro em seus conteúdos, e quando esta existe, os afrodescedentes raramente são protagonistas. Desse modo, Fabrincando busca desconstruir preconceitos ocultos e mostrar um diferencial no segmento das publicações infantis. Esperamos dessa forma, contribuir com a produção de mais publicações com esta preocupação e que as crianças, independentes de classe ou etnia, possam ampliar o seu imaginário e reconhecer, nas páginas deste projeto, a pluralidade do povo brasileiro, aprender e se divertir com a prática lúdica de fazer brinquedos.

83  [email protected]. Ilustradora e graduada em Design pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia.

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REVOLTA DOS BÚZIOS, UM FILME EM CONSTRUÇÃO Antonio Olavo84 Palavras-chaves: Revolução dos Alfaiates, Conjuração Baiana, Sedição de 1798.

Cidade do Salvador, Província da Bahia, ano de 1798. Imaginemos centenas de homens negros, escravizados e libertos, confabulando clandestinamente com homens brancos ilustrados, planejando um Levante para derrubar o Governo Colonial, proclamar a independência e implantar uma República onde haveria “igualdade entre os homens pretos, pardos e brancos”. Imaginemos a ousadia destes homens numa madrugada de sábado, 12 de agosto, afixando em pontos de grande movimentação pública, papéis manuscritos que conclamavam o povo a fazer uma Revolução e construir uma “República Bahiense” onde houvesse liberdade para os escravos e uma vida digna para todos. Imaginemos este movimento se espalhando, ganhando adesões, preparando uma grande concentração de adeptos, sendo denunciado às autoridades e sofrendo violenta repressão policial de uma Devassa que durante 15 meses convulsionou a cena política da Bahia. Imaginemos o desfecho num Ato Público em 8 de novembro de 1799, na Praça da Piedade, onde quatro homens negros (Luiz Gonzaga, Lucas Dantas, João de Deus E Manuel Faustino), acusados de crime de lesa-majestade, foram enforcados e esquartejados perante o olhar de milhares de pessoas, entre as quais suas esposas e filhos.

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entanto, restaram os “Autos da Devassa” com mais de 2.000 páginas escritas no calor da hora, que registram a ação repressiva da polícia e a atuação dos conspiradores. Baseado neste valioso documento e fazendo uma “leitura a contrapelo”, como diria Walter Benjamin, escrevemos todas as cenas do roteiro do filme. Nossa narrativa está estruturada em várias linguagens: narração (off ); documentação cartográfica (mapas, croquis e plantas topográficas); desenhos; animações; Ilustrações; imagens do Centro Histórico de Salvador; imagens subjetivas de elementos da cultura negra etc. Esta comunicação pretende descrever o processo de construção do filme documentário Revolta dos Búzios, dirigido por mim, e atualmente em fase de produção.

Esta é a história de uma sedição baiana que iremos contar no filme Revolta dos Búzios. Do episódio não existem fotografias, pinturas, desenhos ou qualquer outro registro iconográfico. Dos personagens envolvidos na conspiração, nunca foram identificados descendentes: a violência que se abateu sobre os homens negros, cujas sentenças declaravam “infames para sempre as suas memórias, de seus filhos e netos”, inibiu o reconhecimento ancestral das gerações posteriores. Aliado a isso, a revolta de 1798 é ignorada pela historiografia tradicional, portanto não teremos a fala de historiadores. No

84  Cineasta e diretor da Portfolium Laboratório de Imagens

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Artes, Manifestações Culturais, Moda e Corpo

SAMBA DE RODA E DANÇA AFRO-BRASILEIRA NO SUL DA BAHIA - ARTE, CULTURA E CORPORALIDADES Joanna M. Carvalho85 Palavras-chave: Antropologia da Arte, Danças Afro-Brasileiras, Samba de roda.

Propõe-se nesse trabalho apresentar um estudo inicial sobre arte, corporalidades, dança e cultura em manifestações de samba de roda e dança afrobrasileira na cidade de Ilhéus, Bahia, procurando compreender influências e forças histórico-sociais. Em uma perspectiva antropológica, com foco na discussão em torno de noções como arte, dança, cultura e corporalidade, notou-se uma correlação entre estas manifestações e cosmologias afro-brasileiras. Neste sentido, pode-se perceber todo um movimento de representações simbólicas implicadas nessas expressões, movimento que resignifica e ao mesmo tempo reforça a memória cultural dos sujeitos envolvidos, criando espaços valorativos de certos grupos solapados em discursos hegemônicos sobre processos históricos de nosso país.

85  Mestre em Antropologia Social pela UFSC, professora de antropologia da UESB-Jequié. Compõe o grupo de pesquisa “Mapeamento das manifestações artísticas da cultura popular do litoral sul da Bahia” vinculado à Universidade Estadual de Santa Cruz/UESC, Ilhéus-BA desde 2010. Contato: [email protected]

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NA GINGA DA INCLUSÃO: A PRÁTICA DA CAPOEIRA NA APAE DE JEQUIÉ/BAHIA Glaristoni Oliveira Pires86 Manoel M. dos S. Sousa Michelle G. Freitas Wesley Dias Santos Palavras-chave: Capoeira, Cultura Afro-Brasileira, APAE.

A capoeira é uma prática cultural e corporal afro-brasileira, que vêm se destacando na sociedade como um instrumento de inclusão social e uma ferramenta de educação. Assim constituiu-se a capoeira, uma prática que envolve música, movimento e história; criada pelos negros africanos no período escravocrata no Brasil. Ela resistiu a todos os tipos de preconceitos e hoje assume lugar de honra na cultura popular. Nesta perspectiva, este estudo tem como finalidade, descrever como ocorreu o processo de inserção da prática da capoeira na Apae de Jequié/Ba. Para tanto, foram realizadas visitas e observações em algumas aulas ministradas na instituição; e coletado o depoimento do mestre responsável pela capoeira na Apae. Com o estudo, confirmou-se que a roda de capoeira é sim, um espaço aberto a todos, e que se configurou na Apae, não apenas como prática corporal, mas também como instrumento de inclusão social e como cultura afro-brasileira.

86 UESB 

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OS CAPOEIRISTAS DE ONTEM SÃO OS MESTRES DE HOJE NA APAE DE JEQUIÉ/BAHIA Glaristoni Oliveira Pires Manoel M. dos S. Souza Michelle G. Freitas Wesley Dias Santos

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O NEGRO E A NEGRA NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA Paulo H. S. Santos88

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Palavras-chave: Capoeira, Cultura Afro-Brasileira, APAE, Deficiência.

A capoeira é uma mistura de luta, dança, música e cultura popular de origem afro-brasileira. Sendo assim, por sua importância histórica, cultural e corporal; ela deve ter o seu legado transmitido a toda a sociedade, sem distinção e preconceitos. Neste sentido, este estudo tem como finalidade, apresentar um projeto de capoeira existente na Apae de Jequié/Bahia. O projeto consiste da seguinte forma: os alunos que têm mais conhecimento e vivência na capoeira ministram aulas para os alunos egressos da instituição. Este estudo se caracteriza como uma pesquisa de campo de caráter qualitativo. Os instrumentos de coleta de dados foram fichas de observações, onde foi registrado o passo a passo das aulas; sendo possível constatar que a condição de deficiência dos professores do projeto, não foi um impedimento para a efetivação das aulas, pelo contrário; eles conseguiram transmitir para os alunos, a essência da capoeira, que vai além da prática corporal, sendo também integração, socialização e principalmente história e cultura afro-brasileira.

87 UESB

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Palavra-chave: Negro(a), Música, Estereótipo

Abordar a forma como o negro e a negra são retratados nas letras da música popular brasileira, bem como os aspectos da etnia que são destacados, a construção do perfil e da identidade, discutindo como as letras de canção servem como instrumento para a construção da identidade e cultura da população negra com um panorama histórico do início do século XX até os dias atuais. Após discorrer sobre essa fase, discutiremos sobre a fase de autoafirmação que se seguiu. Analisaremos o contexto histórico, as teorias raciais vigentes na época e todos os aspectos socioculturais que influenciaram direta e indiretamente para a construção de um sujeito negro inferiorizado. Como embasamento teórico, citaremos conceitos e teorias de pensadores que fomentaram a discussão racial. Analisaremos trechos de canções contrastando as diferentes formas de representações da etnia negra nas canções populares tidas como “cultas” pela sociedade que pregam valores sociais pré-estabelecidos e impostos e explicando-as através das teorias emergidas em diferentes épocas. Concluiremos que a representação estereotipada negativa do negro e da negra é reflexo e fruto de uma sociedade patriarcal, machista, sexista, branca e escravagista. Induziremos a reflexão da necessidade da crítica do que a grande mídia nos impõe e do padrão estético de beleza por ela estabelecido.

88  Graduando em Letras pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. [email protected]

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RELIGIOSIDADE CIRCULAR: FÉ NA COMUNIDADE DA CIRANDA EM ITAMARACÁ/PE

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OS SABERES DOS CORPOS NEGROS NAS FESTAS POPULARES BAIANAS Luís Vitor Castro Júnior90

Maria A. Souza

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Palavras-chave: Religiosidade, Etnocenologia, Cultura tradicional.

A Ilha de Itamaracá no litoral norte do estado de Pernambuco é hoje referência de uma manifestação cultural híbrida em sua constituição étnica e que traz em sua estrutura os hábitos de comunidades de diversos povos (africano, europeu, indígena) comungando numa brincadeira prenhe de música, dança e teatralidade: a ciranda. Com especificidades que a assemelham à dança infantil de roda, o cenário cultural que é vislumbrado em Itamaracá tem acréscimos rituais em seu formato passíveis de análise a partir da perspectiva disciplinar da etnocenologia: linha de pesquisa que emerge das artes cênicas. Em minha dissertação de mestrado sobre este tema, iniciei uma leitura de manifestações similares que, independentemente de professarem uma fé em algum ente simbólico definido, tem na própria comunidade um sentido unívoco de celebração. Por esta razão a ciranda, o coco, a capoeira, o samba de roda, são alguns dos elementos cuja matriz criadora, logo artística é fortalecida por sua distribuição no espaço circular. Este espaço não é demarcado senão pelas presenças corporais, que desenham um microcosmo de subversão dos fatores de produção, fruição e educação comunitárias e ressignificam a conexão de seus participantes engendrando uma religiosidade circular.

89  [email protected]. Docente UESB/DCHL; Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, orientador: Prof.Dr.Daniel Marques da Silva.

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Essa comunicação aborda os acontecimentos de algumas festas populares baianas que são marcadas pelos encontros dos corpos interculturais em tempo/espaço pós-colonial, cujas reposições históricas produzem um ambiente de conflito e consenso, de aliança e rebeldia, singular e plural da ”cultura baiana”. Entretanto, vale ressaltar que na maioria dos acontecimentos os corpos negros estão presentes e assumem um papel de protagonista da história na sua arte artimanha de produzir estética e política ao mesmo tempo. Sendo assim, estamos considerando o corpo como território indeterminado onde o visível é uma qualidade de uma textura, a superfície de uma profundidade. Enfim, o corpo é visto como um dispositivo de pesquisa que dá visibilidade à gestualidade, à plasticidade e à expressividade, sendo fonte inesgotável para contar e registrar as experiências festivas. Diante dessa complexidade, procuramos responder a seguinte questão quais os saberes estéticos dos corpos nas Festas Populares Baianas?. A proposta é apresentar os resultados da pesquisa de campo realizada nos últimos três anos nas festas de Santa Barbara, Senhor do Bonfim e Iemanjá. A ideia é valorizar as diferenças culturais e o dinamismo com que essas festas populares são organicamente vividas. Nesse sentido, a pesquisa busca identificar e compreender criticamente as formas de expressões artísticas e culturais do corpo como a dança e a capoeira nas festas populares, identificando as estéticas performáticas e os saberes das mesmas. Colaboramos com Santos que, “se queremos compreender a vitalidade que lhes caracterizam, é preciso olhar igualmente para suas margens” (2006, p. 5), ou seja, olhar para os “desconhecidos”, olhar para aqueles que criam novas fantasias e novos personagens, olhar os saberes dos corpos brincantes e dançantes. Enfim, olhar para os produtores culturais que não estão nos holofotes da grande mídia, mas que faz da festa um momento de afirmação de identidade e diversão. 90  Professor Adjunto da Universidade Estadual de Feira de Santana, com Doutorado pela Pontífice Universidade de São Paulo – SP. Professor pelo Programa de Pós-Graduação em Desenho, Cultura e Interatividade da UEFS.

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Portanto, estamos considerando as práticas corporais dos produtores culturais como uma narrativa, uma discursividade e uma forma de linguagem que cria novos territórios, no sentido de colocar seus saberes e desejos que escapam dos territórios instituídos historicamente pelo poder hegemônico. Representam a necessidade e o desejo do corpo de criar novos territórios imateriais para que seja contada uma outra história que tentamos traduzir, parcialmente, em forma de palavras e imagens. Sabe-se que os corpos dos artistas-festivos são marcados pelos saberes-sabor da cultura imaterial e material, porém também marcados pelo açoite da opressão sofrida e por outros meios de se fazer adestrar, disciplinar, controlar e amansar “simbolicamente” os corpos, e, que nos tempos atuais, os açoites são outros, mas a dor é a mesma dor da humilhação, da intolerância e da indiferença.

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EDUCAÇÃO FÍSICA AFRO-BRASILEIRA: “A VISÃO DOS PROFESSORES DA ÁREA DE EDUCAÇÃO FÍSICA SOBRE A LEI 10.639/2003” Felipe T. Barreto91 Marise de Santana92

Palavras-chaves: Educação, Educação Física, Relações étnico-raciais.

Se hoje incluímos a cultura africana e afro-brasileira no contexto da Educação Física Escolar, vale lembrar que não foi sempre assim. Tal inclusão se dá a partir da implantação da Lei Nº. 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino sobre a história e cultura africana e afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental, médio e superior. Tornou necessária uma reflexão sobre a diversidade cultural e artística herdada do negro africano e o desenvolvimento de uma metodologia de ensino a partir de práticas culturais no contexto escolar. Neste sentido a presente pesquisa buscou investigar a visão dos professores da Área de Educação Física da UESB de Jequié acerca da lei 10.632/03. Através de uma Pesquisa qualitativa, de caráter empírico, mediante entrevistas semi-estruturadas. Obtivemos como resultado que os entrevistados demonstram que apesar do pouco conhecimento sobre a Lei, existe um indicativo de mudança da realidade discriminatória apresentada pelos autores nas escolas da parte do curso de Educação Física da UESB. Porém ao final dos estudos podemos concluir que existe ainda a necessidade de um maior conhecimento e melhor compreensão sobre a temática, possibilitando o trabalho voltado para questões relacionadas à concepção da corporeidade negra, o fortalecimento das ações afirmativas e principalmente a erradicação do racismo.

91  E-mail: [email protected]. Licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Membro do ODEERE – Órgão de Educação e Relações étnicas com Ênfase em Culturas Afro-brasileiras. 92  Orientadora: PHD em Ciências Sociais e Antropologia, Doutorado em Programa de Estudos Pós Graduados em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil. Professora titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Brasil.

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ARTICULAÇÃO CORPO E ROUPA NA EXPRESSÃO DE UMA IDENTIDADE: CRIAÇÃO DE MODA E INTENÇÃO DE USO Jailson C. B. dos Santos93 Palavras-chave: Moda, Aparência, Identidade.

A configuração de uma aparência propõe uma comunicação entre permanência e transformação, ser e parecer, e é promovida pela ação conjuntiva e recíproca de dois elementos - o corpo e a roupa. Com efeito, esse composto designa uma imagem pessoal por meio da qual o indivíduo dialoga com a similitude ou com a diferença. O corpo vestido conforma uma unidade configuradora de processos de subjetivação: ao promover uma visualidade estética para um indivíduo, compõe, efetivamente, uma aparência que o uniciza. Nesse sentido, a aparência consiste numa articulação entre corpo, vestuário, moda, cultura e ambiente social, e se institui como instância visual de uma identidade. Tomando por base as considerações inicialmente expostas, observamos que na criação de vestuários individualizados, no contexto da moda, cada usuária cria uma expectativa singular em torno de sua autoimagem à medida que internaliza a idealização de uma aparência e a ressignifica, tendo em vista a possível articulação da roupa projetada com o seu corpo e sua inserção e atuação na ambiência coletiva. Isso nos leva a afirmar que, se em sua essência, a criação de moda ilustra conotações coletivas referentes à moda enquanto organismo cultural de massa e pronuncia uma interpretação pessoal do desenhador sobre tais nuances, também media as aspirações da usuária em relação à sua autoimagem, conectando sua subjetividade a contextos sócio-culturais específicos. Como tal, um dinamismo ancorado na intersecção entre os preceitos da moda e suas referências de beleza, de estilo e elegância, e sustentado por valores culturais e convenções previamente internalizados. Por meio da moda e da intenção de uso de determinadas roupas, são operadas significações múltiplas, já que, cada usuária, ao assumir uma tendência ou selecionar algumas combi-

93  Professor Mestre - UFBA

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natórias para a composição de sua aparência, preestabelece diálogos com sua respectiva cultura e preconcebe relações interativas entre a roupa, seu corpo e toda a cena social que o circunscreve. Logo, a experiência simbólica proporcionada pela escolha de um vestuário prescreve um processo de sociabilização efetuado por meio do parecer e esboça um curso dialógico entre o indivíduo e o outro: ao sinalizar um discurso, requer uma leitura, uma interpretação. À medida que, simbolicamente, põe em circulação hábitos e valores preestabelecidos com os quais o indivíduo se relaciona em sua vida cotidiana, a roupa se converte em um elemento de narração de mensagens e instrumento de construção e veiculação de um posicionamento identitário. Quando em operacionalização com as linguagens corporais que a vivificam, a roupa não só expõe um gosto específico e efêmero, localizável historicamente, mas também veicula sentidos e atributos diversos relacionados a vínculos de pertencimento, de modo a demarcar e revelar uma condição particular, quer seja de grupo social, de gênero, religião, etnia ou de qualquer outro correlato. Para identificar a presença desses sentidos e delinear sua devida importância no processo de criação de vestuários, buscamos demonstrar como os elementos que compõem as roupas projetadas - cores, cortes, tecidos, intenções de uso, etc. – conduzem propriedades que, quando associadas ao corpo, vão incidir diretamente no discurso veiculado pela aparência constituída e na expressão de uma identidade. vÉ possível perceber claramente essa idéia no discurso de Virgínia Silva, usuária utilizada como exemplo para ilustrar nossas considerações sobre o assunto abordado: “Porque de alguma forma o que eu ‘tô’ vestindo vai expressar a pessoa que eu sou, os hábitos que eu tenho, os lugares que eu gosto de freqüentar e, ao mesmo tempo, aquele diálogo entre você e a moda, entre você e as pessoas que estão te vendo, que não te conhecem, que você não pode conversar, mas que, de alguma forma, você dialoga com elas, ‘tá’ sinalizando quem é você, o que você gosta de fazer” (SILVA, 2009). Vislumbramos nas palavras ditas, que a proposta de uso de uma roupa programa um discurso, consciente ou inconsciente, e manifesta uma textualidade que se deixa apreender e interpretar, instaurando uma interatividade com o meio circundante e com outros sujeitos culturais. Cabe salientar que nesse plano de exposições individuais, importa não somente modelos prescritos de roupas para lugares ou situações selecionados, mas também os modelos desejáveis de corpo, pois cada grupo tem seus referenciais a conquistar e a expor. Ou

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seja, a excelência corporal e a composição vestuária variam de acordo com as convenções simbólicas vigentes em cada grupo social. De todo modo, podemos sintetizar que a adoção de uma aparência, incorporada a partir de uma vestimenta e sua possível articulação com o corpo, desempenha vários papéis: responde a uma atitude personalizada pelo estilo pessoal, prescreve um diálogo espaço-temporal, possibilita a criação e efetivação de vínculos de pertencimentos e auxilia, sobremaneira, no processo de demarcação de uma identidade e na expressão de traços que lhes são inerentes. Traços que, por assim dizer, correspondem a uma assinatura e representam um modo de singularizar o indivíduo dentro de uma coletividade.

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A CAPOEIRA NA COMUNIDADE BAIXA DO SENHOR DO BONFIM NO MUNICÍPIO JEQUIÉ-BA Charlene A. Santos94 Edmilson D. Leite 95 Samuel S. de Jesus96 Palavras-Chave: Capoeira, experiências, interesses.

Resumo: A capoeira é um elemento da cultura afro brasileira. Permeia vertentes de jogo, luta, dança, esporte, manifestação cultural e artística. A pesquisa surgiu da inquietação em saber o motivo pelo qual os alunos da escola Dorival Borges, localizada na comunidade da Baixa do Senhor do Bonfim em Jequié/Bahia demonstram grande interesse pela capoeira, e se este interesse está ligado ao surgimento da comunidade e/ou com experiências anteriores a existência dessa e dos alunos com a capoeira. Objetiva-se conhecer a relação da comunidade com a capoeira analisando os motivos do interesse das crianças pela mesma. Foram aplicados questionários entre alunos, pais, professores e moradores antigos da comunidade. Pelos elementos colhidos sobre a história da comunidade não foi possível identificar se a capoeira faz parte da gênese da comunidade Baixa do Bonfim, apesar de constatar-se que houve manifestações de capoeira na história mais recente da comunidade e que há o desejo de pais e crianças que atividades de ensino da capoeira sejam desenvolvidas. Acredita-se que esses dois aspectos influenciam o interesse das crianças pela capoeira na referida comunidade.

94  UESB/DS, [email protected]. 95  UESB/DS, [email protected]. 96  UESB/DS, [email protected].

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ERÊS E CURUMINS BRINCANDO NA RODA DE CAPOEIRA Welton R. Souza

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Palavras-chave: capoeira, cultura afro-brasileira, negro.

Resumo: As demandas históricas do povo negro no Brasil têm sua origem na cultura ocidental que executou o projeto do tráfico negreiro submetendo os povos africanos ao trabalho escravo por séculos, sem história. Entretanto o povo negro nunca aceitou passivamente essa condição. Hoje a capoeira é reconhecida como uma arte genuinamente brasileira, mas já foi tida como uma prática marginal que deveria ser banida da sociedade colonial. Atualmente, as práticas racistas são disfarçadas e legitimadas pela média e pelas relações sociAais eurocêntricas incorporadas no dia-a-dia. A Lei 10.639/2003 obriga as instituições de ensino a inserirem em seus currículos a História da África e a Cultura Africana, reconhecendo a capoeira como patrimônio imaterial importante para a preservação cultural e para o combate ao racismo. Nós da Associação Brasileira de Desenvolvimento e Apoio da Arte CapoeiraABADÁ fazemos parte dessa proposta e desenvolvemos trabalhos de inclusão cultural e combate ao racismo por todo o Brasil.

97  DEP DE FISIOTERAPIA/FAINOR Email: [email protected].

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PLURALIDADE E CONTRADIÇÕES ACERCA DA CULTURA NEGRA BAIANA Leandro Farias Silva98

Resumo: A grande divulgação nos aparelhos de comunicação que representam a cultura baiana sempre trouxe em destaque a cultura do negro, a exemplo da capoeira, candomblé e das danças. Esta representação cultural afro acaba por ocultar outras manifestações que se apresentam ao longo do estado, e ao mesmo tempo, ela é vinculada aos aparelhos midiáticos de forma meramente figurativa, haja visto que a valorização do negro na sociedade baiana ficou estagnada e oprimida ao longo dos anos. No estudo em questão desenvolvemos um trabalho baseado inicialmente na pesquisa bibliográfica para verificar o percurso histórico do uso do negro como mercadoria na sociedade brasileira, além de compararmos os dados dos institutos de pesquisa sobre a realidade de brancos e negros no estado de maior população negra do Brasil. Nossa hipótese é que a mídia representa de forma equivocada e descompromissada a realidade do negro. Depois de identificar a historicidade deste processo de exploração, procuramos fazer uma comparação de dados a partir da aplicação de questionário a dois grupos da etnia branca e negra na cidade de Salvador em dois bairros, um que abrigava o maior número de negros do Brasil e outro residido aparentemente por pessoas da cor branca. Os resultados apresentaram que apesar da mídia vender uma imagem positiva do negro e de sua cultura no estado, a apropriação deste legado por eles não é uma realidade, onde se constatou uma falta de identidade do negro, e certa aversão a elementos da cultura negra, principalmente os referentes à religião.

98 [email protected]

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Ações Afirmativas, Movimentos Sociais e Práticas jurídico-penais dispensadas aos afro-brasileiros.

A SEGREGAÇÃO URBANA E RACIAL AVANÇOU NO BRASIL? Reinaldo José de Oliveira99

  No século XX, a segregação socioespacial prevaleceu nas cidades brasileiras, principalmente nas grandes metrópoles como São Paulo, Rio e Janeiro e Salvador, separando ricos e pobres de inúmeros espaços sociais; como a moradia, o mercado de trabalho, os espaços de cultural e lazer e, especialmente, da escola, lugar de produção de conhecimento, sociabilidade e cultura. No entanto, a literatura da academia nacional (Vargas, 2005), em geral, não considera a segregação racial uma marca da história da cidade e do urbano em nosso país, isto é, a segregação da população negra é tratada simplesmente como um fenômeno socioeconômico, a categoria raça/cor recebe pouco ou quase nenhum conhecimento diante do processo de formação e desenvolvimento das cidades brasileiras, no que diz respeito ao papel estrutural da população negra em solo brasileiro. Para interpretar a segregação socioespacial e racial, buscarei interpretar a literatura nacional sobre o assunto, principalmente as referências sobre a cidade e o urbano, e, os estudos que pautam as relações raciais, sobretudo a literatura mais recente que faz a intersecção entre as desigualdades urbanas e as desigualdades raciais. Analisarei as informações do censo do IBGE, 2000 e 2010, referente ao quadro da habitação, renda e educação, para verificar as tendências de desigualdades entre brancos e negros, por exemplo, se houve aumento ou diminuição. Além das informações qualitativas e quantitativas, farei a análise cartográfica social e racial das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, tendo em vista a distribuição da popu-

99  Prof. Dr. Reinaldo José de Oliveira - PUC/SP.

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lação negra nas principais metrópoles do país. Inicialmente, Lojkine (1977) distingue três tipos de segregação urbana: 1. Uma oposição entre o centro e a periferia, onde o preço do solo varia conforme o lugar; 2. Uma separação crescente entre as zonas e moradias reservadas às camadas sociais mais privilegiadas e as zonas de moradia popular. 3. A divisão generalizada da cidade em funções de uso e consumo, disseminadas geograficamente em zonas especializadas: regiões de escritório, indústrias, comércio, moradia, ciência e tecnologia e as áreas de cultura e lazer. É o que a literatura acadêmica e a legislação tratam de zoneamento urbano. Para Castells (1983) a segregação urbana interfere na organização do espaço em zonas de forte homogeneidade social interna e com bruscas disparidades sociais entre elas, sendo esta disparidade compreendida em termos de diferenças e de hierarquia. A segregação urbana aparece como uma rede complexa que separa não só as residências, mas se estende às formas de produção e reprodução da força de trabalho e das formas mais variadas de apropriação do espaço social (referente aos valores de uso e aos valores de troca que constituem o corpo da cidade). A literatura marxista é uma fonte muito importante para melhor delinear a segregação urbana. Segundo a abordagem marxista, a segregação urbana aparece como resultado dos processos de exclusão resultante dos conflitos sociais na luta pelo espaço (Véras, 1991). Harvey (1980) é um dos principais pesquisadores contemporâneos, cuja abordagem tem como referência a análise marxista sobre a cidade e o urbano. De acordo com o autor, o valor de uso e o valor de troca constantemente mudam de posição e lugar, através da forma que eles ocupam na mercadoria100. Na cidade e, em particular, em todo o processo da segregação urbana o valor de troca vem ganhando a luta contra o valor de uso, que determina a mercantilização da terra, das benfeitorias e do ambiente construído. Para Harvey (1980) o ambiente construído se divide em elementos de capital fixo a serem utilizados na produção (fábricas, rodovias, ferrovias, etc.) e em elementos de fundo de consumo a serem utilizados no consumo (ruas, casas, parques, passeios, entre outros). Em solo brasileiro, a

100  A mercadoria tem dois valores, que são produzidos em todas as etapas até ser consumida. Valor de uso é um bem material essencial para todas as realizações do consumo, como o alimento, o vestuário, a habitação, os meios de transporte e, nos dias de hoje, os meios de comunicação do mundo virtual. O valor de troca é a transformação do valor de uso em necessidades do mercado e do consumo, por exemplo, a força de trabalho, o mercado imobiliário da terra e da habitação, os serviços privados de consumo coletivo, etc.

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segregação da população negra na história e em nossa contemporaneidade é invisível, mascarada, institucional com ou sem o uso da lei, ocultada e em geral, interpretada como um fenômeno socioespacial. A segregação socioespacial é incipiente no que tange ao quadro das relações raciais, ao não interpretar a segregação também como um fenômeno racial, contribui para a ideia do mito da igualdade racial. Classe social e raça estão em combinação/ intersecção na formação, desenvolvimento e no momento atual da complexa teia que perfaz as cidades no país. Para melhor delineamento da segregação racial, trago as contribuições de Levis-Strauss (1996), Fernandes (1965; 1971), Pinto (1998), Hasenbalg (2005), Gonzáles (1982) e Nascimento (1978), diferentes interpretações do quadro socioespacial e racial, no entanto, são leituras que compartilham de um pensamento único: o mito da igualdade racial não existe na realidade brasileira, portanto, a segregação e as desigualdades são sociais e raciais. Referências recentes, como Carril (2006), Silva (2006), Campos (2007), Oliveira (2008; 2002) e Garcia (2009) trazem reflexões importantes sobre a segregação da população negra nas cidades brasileiras, para os autores, nossas cidades, sobretudo as metrópoles de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, são as capitais do racismo no país. Informações ainda parciais, censo do IBGE 2010, referente à renda, habitação e pobreza distribuída por unidade geográfica/município, destacam a sobre-representação negra nos piores índices socioeconômicos. Na etapa atual, o quadro da cidade e do urbano não é nada diferente, de um lado, persistindo a auto-segregação da riqueza, por exemplo, os condomínios fechados (verticais e horizontais) em áreas ricas e valorizadas com toda a infraestrutura urbana social e cultural, nossas cidades continuarão crescendo em direção à segregação e à privatização do espaço público; de outro lado, a segregação da pobreza permanecerá sendo regra com o permanente deslocamento da população pobre e negra em direção às periferias. Portanto, neste quadro, histórico e contemporâneo das cidades brasileiras, negros e negras permanecerão “informalmente” segregados nos lugares e posições de menor prestígio político, social, econômico e cultural. Minha cosideração é que a segregação urbana e racial avançou no país. O cresciment da segregação trás inúmeros problemas para a sociedade, dentre eles; a falta de comunicação, a privatização do espaço público, a intolerância, a violência em geral, a tensão social entre as classes sociais, a marginalização e o racismo, que produzem efeitos devastadores da tão sonhada busca da cidadania brasileira.

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BÊCO DE (VÓ) DOLA: TERRITORIALIDADE E ANCESTRALIDADE NEGRA EM VITÓRIA DA CONQUISTA Flávio José dos Passos101

Ao buscar interpretar o Beco de Dola enquanto uma “teia de significados”, emaranhada na casa e no barracão e no próprio Beco, e na qual se afirmam os sujeitos identitários com os quais o presente trabalho antropológico dialoga, nosso principal objetivo é compreender a dinâmica familiar, grupal e cultural deste grupo de sangue e de santo. Tal busca significa, passo a passo, analisar o processo de formação do grupo familiar, a partir da memória ancestral de Vó Dola, da memória social e genealógica presente na formação, ocupação e afirmação do Bairro das Pedrinhas, e a relação desta memória/identidade coletiva e o barracão de candombé angola. Neste caminho, perscrutar, a partir das narrativas das mulheres do Beco, bem como dos testemunhos de seus filhos e filhas, netos, agregados e vizinhos, o sentimento de pertencimento étnico-racial presente na família-comunidade de Vó Zita, Mãe Fátima, Madrinha Elza e Vó Dola, enquanto “Grandes Mães” de uma família extensa e de uma comunidade de tradição religiosa de matrizes indígenas-africanas. Assim, ao compreendermos o Bairro da Rua das Pedrinhas, mas, principalmente, dentro do presente trabalho, o Beco de Dola, como sendo o território negro por excelência, contribuímos para uma maior visibilidade da história e cultura de matrizes africanas e indígenas na dinâmica urbana e territorial de Vitória da Conquista e região. Neste percurso etnográfico compreendemos que todos esses elementos conjugados no Beco de Dola – territorialidade negra, memória ancestral, matriarcalidade, magia – adquiriram uma significação de totalidade deste universo pesquisado, como sugere Mauss, “sob a forma de fato social total” (MAUSS, 2003, p.15). Pensar a liderança de Vó Zita provocou uma ampliação no foco original da pesquisa, exigindo compreender a liderança das mulheres na família, especialmente desde a primeira matriarca do grupo,

101  Professor Mestre - SEC/Vitória da Conquista

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Vó Dola. A dimensão da matrifocalidade nos remeteu a uma reflexão sobre os lugares onde essa chefia – de sangue e de santo – se constituiu: a casa, o barracão, o beco e o bairro. E, estando o Beco dentro do bairro mais discriminado da cidade, fez-se necessário compreender a dimensão da territorialidade negra. O “povo de Dola”, no beco que ficou com seu nome, possui uma singularidade, uma memória viva a partir das muitas identidades acumuladas em vivências e escolhas, que dizem respeito à presença e ao ser negro em Vitória da Conquista e no Brasil. Utilizar algumas categorias analíticas e conceitos antropológicos teve como objetivo superar uma visão superficial ou inviesada de ideologismos, ao mesmo tempo em que buscava instrumentalizar um exercício etnográfico cuja pretensão está longe de ser o falar em nome de uma coletividade mas, antes oferecer subsídios para um olhar mais cuidadoso frente às suas idiossincrasias. O presente percurso etnográfico possibilitou compreender os processos identitários do Beco de Dola não na perspectiva da identidade política da militância negra ancorada em um padrão de “ser negro” e no enfrentamento. Talvez numa perspectiva intermediária entre aquela militância e a não-militância cuja estratégia está numa visão plural de si, onde o componente racial aparece diluído em meio a um complexo de identificações, podendo ser acionado em certos contextos. Assim, territorialidade, matriarcalidade e ancestralidade são categorias que dialogam entre si costuradas pelo conceito de identidade negra, uma vez que analisamos processos histórico-antropológicos que envolvem a reconstrução da população negra na diáspora. Nesta perspectiva, a família dos “negros do Beco”, à medida que é comunidade de santo e grupo familiar que preserva um legado ancesetral e reconstrói uma identidade negra, possui um Eu e sua integridade, muitas identidades acumuladas em vivências e escolhas, inclusive a identidade apresentada na presente dissertação. Suas lideranças, especialmente Vó Zita, elo entre Vó Dola, a “mãe de tudo e de todos” e Mãe Fátima, responsável pelo barracão de Xangô, nos ajudam a compreender como se dá a consciência identitária de mulheres negras que herdam uma tradição cultural, sustentam uma família-comunidade negra extensa e, hoje, dinamizam memórias e identidades acumuladas. Pensar o Beco de Dola foi um exercício de aproximação de um universo muito específico do ser negro em Vitória da Conquista, a partir de uma etnografia enquanto “compreensão de sentido”, compreensão de uma forma específica

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de ser e estar no mundo, a partir de uma cosmovisão marcadamente ancestral. Um exercício de, a exemplo de Mauss (1974, p. 27), fixar “atenção sobre sociedades” que representam verdadeiramente uns “[…] máximos”, uns excessos, que permitem ver melhor os fatos” (MAUSS, 1974 apud WOORTMANN, 2005). E, no Beco, o maior fenômeno é a liderança das mulheres. Mulheres do Beco que nos remetem às mulheres da diáspora. Elas são inúmeras, a maioria anônimas, que persistem; vivem com largueza e profundidade o seu papel de mãe; resistem e inscrevem seu nome na história por sua coragem, independência, sabedoria e visão de mundo, vencendo barreiras de preconceitos que pareciam intransponíveis, construídas pelo sistema sociorreligioso brasileiro branco, patriarcal e católico, desde os tempos da colônia e escravidão.

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ENTRADA E PERMANÊNCIA DE ESTUDANTES DE COMUNIDADES NEGRAS E QUILOMBOLAS NO ENSINO SUPERIOR Eli B. dos Santos 102 Elisangela S. dos Santos 103 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia104 Palavras-chaves: permanência, Comunidades negras, ensino superior

Resumo: Os primeiros anos deste século são marcados pela adoção, pelo Estado Brasileiro, de Políticas Afirmativas em educação. Atualmente há uma lei (12.711/2012) sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, que prevê cotas sociais nas universidades públicas. De modo geral é grande a defasagem, entre alunos negros e não negros acumulada ao longo da escola primária e secundária, e fortalecida pelas desigualdades sociais. Embora valorosa, as estratégias de acesso não são suficientes, são necessárias também, estratégias que assegurem a permanência bem-sucedida destes jovens negros no ensino superior. Este Projeto – AfirmAção- objetiva apoiar estudantes das comunidades negras rurais, contribuindo para o seu acesso e permanência qualificada no ensino superior, mediante seu envolvimento em ações formativas complementares ancoradas em práticas de diálogo e trocas com suas comunidades de origem. Este ano de 2012 temos os primeiros resultados da pesquisa empírica e acreditamos que a identificação e compreensão destes projetos e destas práticas fornecerão subsídios para que a gestão possa utilizar na formulação de políticas públicas que contribuam para uma permanência qualificada e amplia as possibilidades de inserção destes estudantes nos demais campos sociais, a fim de possibilitar as condições e as oportunidades de mobilidade social.

102 [email protected] 103 [email protected]. 104  Drª Dyane Brito Reis.

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Populações Negras: Gênero e Diversidade Sexual

GÊNERO E SEXUALIDADE NA IDENTIDADE HUMANA Amanaiara Conceição de Santana Miranda105

Os estudos de gênero têm se multiplicado desde os anos 70 do século XX. Esses estudos apontam para uma construção cultural do gênero dentro dos padrões da sociedade. Segundo Tereza Cristina Fagundes: O gênero é produto de um longo trabalho histórico e cultural de construção teórica e prática, exercido sobre os corpos e sobre as mentes. Como analisa Pierre Bourdieu (1989, p 43), trata-se de um trabalho incessante de reprodução, de recriação de estruturas objetivas e subjetivas de dominação “[...] para o qual contribuem agentes específicos (entre os quais os homens com suas armas como a violência física e a violência simbólica) e instituições, família, igreja, Escola, estado”. (FAGUNDES, 2005, p.10). O pensamento essencialista de que gênero é algo “natural” é descartado em diversos estudos. A relação entre biologia e comportamento social entendida como uma relação de causa e efeito não é considerada. Os significados simbólicos associados à categoria “mulher” e “homem” são elementos socialmente construídos. E, por isso, não podem ser considerados naturais. Constituído em palavras, ideias e expressões, o gênero materializa-se em aprendizagens que são incorporadas pelos indivíduos cotidianamente nas suas ações. Para Michel Foucault (2006), as ações do sujeito são percebidas por ele mesmo como criação sua, quando efetivamente essas condutas são construídas por valores e regras estabelecidas num determinado contexto histórico pela sociedade. Em toda prática ou atitude, há um saber e o corpo é que servirá como base para os

105  Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo – PPGNEIM/UFBA. Pesquisadora associada ao Nugsex DIADORIM/UNEB e NGEALC/UNEB. [email protected]

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saberes sobrevirem. É um saber que ao ser tomado como verdade torna-se parte do corpo, mas que só ganha vida no campo da experiência, quando é tomado como “verdade” e ao ser efetuado como prática própria, como uma “prática de si”. A inflexibilidade da doutrina que permeia as aprendizagens impostas aos indivíduos determinam práticas masculinizantes e feminilizantes que conduzem homens e mulheres a funções e posições determinadas numa sociedade. Desde a infância homens e mulheres são influenciados nas suas escolhas, inclusive na forma de exercer a sua sexualidade. O exercício da sexualidade é determinado dentro de um padrão heteronormativo, onde a heterossexualidade é compulsória. E ainda dentro desta, o indivíduo não poderá exercer qualquer heterossexualidade. A reprodução humana é um pré-requisito no exercício da heterossexualidade instituída pela heteronormatividade. Judith Butler (2003) retrata o mecanismo de funcionamento da heterossexualidade compulsória e da heteronormatividade, denunciando como ambas se sustentam através da determinação da linha reta entre sexo-gênero-desejo-prática sexual. Como explica Richard Miskolci: A heteronormatividade expressa às expectativas, as demandas e as obrigações sociais que derivam do pressuposto da heterossexualidade como natural e, portanto, fundamento da sociedade. [...] Como um conjunto de prescrições que fundamenta processos sociais de regulação e controle. A heteronormatividade marca até mesmo aqueles que não se relacionam com pessoas do sexo oposto. [...] Assim, a heteronormatividade não se refere apenas aos sujeitos legítimos e normalizados, mas é uma denominação contemporânea para o dispositivo histórico da sexualidade que evidencia seu objetivo: formar a todos para serem heterossexuais ou organizarem suas vidas a partir do modelo supostamente coerente, superior e ‘natural’ da heterossexualidade. (MISKOLCI, 2007, p. 5 -6). Michel Foucault (1996), nos traz a seguinte reflexão onde existe poder, existe resistência/contrapoder. Judith Butler (2003), segue nesta mesma direção quando afirma que nem todos os indivíduos seguem as normas e que mesmo “gêneros distintos são parte do que ‘humaniza’ os indivíduos na sociedade contemporânea”. Os indivíduos que não desempenham corretamente o “seu” gênero são classificados pela sociedade como abjetos. Abjetos são todos os corpos que transitam fora das fronteiras da heteronormatividade. Assim, os corpos que não se encontram dentro do aspecto da inteligibilidade social destinada ao gênero en-

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contram-se fora do domínio dos sujeitos. Para Nízia Villaça (2006), abjeção é o espaço da dessemelhança e da não identidade. O abjeto é aquilo que não é para que o Outro seja. Na década de 1990, as pesquisas sobre gênero/ sexo/sexualidade e raça/etnia começam a perceber que diferentes formas de opressão se interseccionam. Para Richard Miskolci (2009), estas categorias são interdependentes em um mesmo processo de racialização do sexo e sexualização da raça. A matriz essencializadora e subalternizante estaria na conexão raça-sexualidade, um nó que evidencia um mesmo processo normalizador que cria seres considerados menos humanos, resumindo, abjetos.

Referências: BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução Renato Aguiar, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. CALDWEL, Kia Lilly. Fronteiras da diferença raça e mulher no Brasil. Estudos Feministas. 2000, p. 91-108 FAGUNDES, Tereza Cristina Pereira Carvalho. Sexualidade e Gênero – uma abordagem conceitual. In: ____. (Org). Ensaios sobre Educação, Sexualidade e Gênero. Salvador: Helvécia, 2005. p. 09-20. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1996. _____. História da sexualidade II: O uso dos prazeres. Tradução de Thereza da Costa Albuquerque J.A. Guilhon Albuquerque. 17. ed.. Rio de Janeiro, Edições Graal, 2006. MISKOLCI, Richard. A Teoria Queer e a Sociologia: o desafio de uma analítica da normalização. Sociologias, Porto Alegre, ano 11, nº 21, jan./jun. 2009, p. 150-182 _____. “A teoria queer e a questão das diferenças: por uma analítica da normalização” em http://alb.com.br/ arquivo-morto/ edições_anteriores/ anais16/ prog pdf. VILLAÇA, Nízia. Sujeito/Abjeto. LOGOS 25: corpo e contemporaneidade. Ano 13, 2º semestre. 2006.

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GÊNERO: UMA DIMENSÃO ANALÍTICA SOBRE AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NA ESCOLA Elton F. Oliveira Júnio J. Santos

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A MULHER NEGRA EUNAPOLITANA: UM SUJEITO QUE FAZ HISTÓRIA! Patrícia T. Alves107

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Palavras-chave: Identidade de gênero, Educação, Conflitos

As discussões históricas de gênero tornaram-se uma dimensão analítica, sobretudo das manifestações de organização política que vêm ganhando várias objetivações no século XX em função das conquistas de direitos. A percepção de gênero decorre em dimensões discursivas, histórica e cultural que se materializam por meio das relações de poder. Isso pode ser identificado historicamente na separação da estrutura de trabalho dos seres humanos que contribuíram para a desigualdade entre os gêneros mediante determinações de práticas sociais. Diante disso, o presente trabalho tem por objetivo analisar o comportamento das escolas públicas do município de Santo Antônio de Jesus-BA na construção/reconstrução dos papéis de gênero. Para elaboração e melhor compreensão da pesquisa, utilizou-se alguns procedimentos metodológicos como: revisão de literatura, análise de livros didáticos, acompanhamento de algumas aulas em escolas distintas. Constatou-se que a escola deveria abordar as questões de gênero como prática educativa, visando refletir, problematizar e desconstruir discursos considerados como únicos. Porém, as mesmas atuam não como elementos neutros na construção de identidade de gênero, mas sim criando distinções entre os alunos a partir dos sexos.

106  Estudantes do Curso de Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas – Campus V. [email protected] / [email protected].

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Palavras-chave: Gênero, Raça, Sujeito histórico.

A pesquisa procurou mostrar a atuação das mulheres negras na primeira década do século XXI (2002-2012), como suas inserções sociais têm sido abordadas e representadas no seio do universo escolar, sobretudo na cidade de Eunápolis, fruto das práticas e enquadramentos sociais que formam o imaginário coletivo sobre esses sujeitos: mulheres, negras e baianas. Para tanto foram trabalhados os conceitos de gênero, “raça” e etnicidade. O estudo permitiu levar à sala de aula tais temas que urgem por discussão, uma vez que a população baiana é predominantemente negra e feminina e na cidade de Eunápolis esses índices são muito presentes. Para análise e mapeamento das fontes foram utilizados os métodos: Comparativo e a História oral, tomando como base a história do Tempo Presente e sendo dividido em dois subtemas, o primeiro, Apenas uma questão de Gênero? E o segundo: O Sujeito Histórico que, agora, faz História. Enfim, este trabalho traz um panorama da mulher, especialmente da negra baiana a partir da problematização dos conceitos e suas implicações na formação histórica dos sujeitos, apresentando-os ao universo da escolar, fomentando a percepção de sua atuação na sociedade Eunapolitana.

107  Acadêmica de história, VII semestre. Departamento Ciências Humanas e Tecnologias. UNEB Campus XVIII. [email protected]

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AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE GÊNERO NO COTIDIANO DAS RELAÇÕES DO TRABLHO DOCENTE Alfrancio Ferreira Dias Palavras-chave: Trabalho, Gênero, Educação, Representações.

Nesta comunicação apresentamos alguns resultados da pesquisa de doutoramento em Ciências Sociais a parti de aplicação de questionários e dos depoimentos coletos através de entrevistas semiestruturadas com professores e professoras do Colégio Estadual Atheneu Sergipense no ano de 2011. O trabalho docente como um espaço de sociabilidade é pensado aqui a partir de três aspectos: como fonte de realização dos agentes, como elemento de apropriação da autonomia e como elemento central na vida dos trabalhadores (ARAÚJO & SCALON, 2005). Acredita-se que esses aspectos são fundamentais para a análise sobre as representações dos/as docentes, na medida em que o primeiro remete as perspectivas de realizações individuais como sua posição, visibilidade e conquistas. Sobre o segundo entende-se que a partir da autonomia dos agentes, as necessidades econômicas podem ampliar a relação tempo/espaço dos trabalhadores passado mais para uma relação de ganho do que de valor. O último aspecto influencia a construção das identificações dos/as agentes no campo do trabalho. Nesta perspectiva, entende-se que para compreender as representações masculinas e femininas no cotidiano das relações de trabalho é preciso entender o gênero como uma perspectiva de análise útil. Parte-se da ideia de que é preciso ampliar o conceito de trabalho reprodutivo/assalariado para incluir também o trabalho reprodutivo/não assalariado, pois esses aspectos estão presentes em efervescência nas representações dos/as docentes acerca das relações cotidianas de trabalho e de família. As representações de gênero sobre o trabalho docente anunciam a existência de estereótipos ligados à masculinidade e feminilidade, reconhecidos, prioritariamente, pelas mulheres a partir de suas vivências no campo do trabalho, ao mesmo tempo em que se percebe nas narrativas que estas estão representando os processos de relações do “eu” com os “outros” (homens/mulheres, mulheres/mulheres e homens/homens), ou seja, da alteridade. Nesta linha de reflexão, Cruz (2012,

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09) argumenta sobre a “questão da sociabilidade e da identidade” no campo da educação; segundo as argumentações da autora, as representações, a sociabilidade e as identificações dos/as docentes dependem da “trajetória de vida do individuo e da configuração social de cada momento de sua vida, permitindo a existência de socializações posteriores aquela primeira socialização familiar”. Assim, compreende-se que homens e mulheres participam de processos de socializações no decorrer de suas trajetórias familiares, escolares e profissionais de forma ativa/passiva, num processo de influenciar/ ser influenciado um ao outro, reproduzindo um discurso social e cultural. Em outras palavras, a diversidade de homens e mulheres nas relações de trabalho pode interferir essa reprodução, pois as identidades de gênero não são rígidas, mas sim plurais. A cultura é um conjunto de significados/significantes que através das tradições desvia-se para uma nova forma de situar-se, produzir-se, no sentido mais amplo, num processo de metamorfose em que novos conceitos, compreensões e caminhos nos permitem o surgimento de novos sujeitos. Esse processo de metamorfose nos permite refletir sobre o caminho que homens e mulheres percorrem “perante nossas tradições e, se esse caminho esta sendo codificado a partir das intervenções do cotidiano, pois o “fazer” pressupõem reconstruir-se a partir de debates advindos da contestação da tradição e a nova forma de pensar contemporaneamente a cultura” (DIAS, 2011, p. 154). O gênero é pensado aqui como uma construção social e cultural (SCOTT, 1989). A partir das interações sociais, as masculinidades e feminilidades são ressignificadas num processo complexo, no qual as relações de trabalho influenciam o significado atribuído às diferenças entre os sexos. Sobre o trabalho dos/as docentes, buscou-se compreender as

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transformações vivenciadas no cotidiano das relações de trabalho, situando os avanços nas relações sociais de gênero para a ampliação da cidadania de homens e mulheres. As representações sociais sobre homens e mulheres docentes são pensadas a partir do trabalho que realizam, num espaço de relações dinâmicas e ambíguas, que descrevem a partir das narrativas as imagens de gênero, os papéis de homens e mulheres, das masculinidades e feminilidades que configuram as práticas de socialização no âmbito do trabalho. Parte-se da premissa que a socialização é significante para a construção das identificações dos agentes, visto que neste processo, as percepções, os discursos, as assimetrias são questionadas na interação.

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Construção Cultural dos Povos Brasileiros: territorialidade, histórias, culturas saberes e educação escolar dos indígenas, dos Terreiros e dos Quilombolas.

DE COMO SÃO SEBASTIÃO, OXOSSI E CABOCLO DA MATA VIERAM CANTAR E DANÇAR NA MESMA FESTA: PROCESSOS DE COLONIZAÇÃO X DESCOLONIZAÇÃO DO HÃMIYÁ (BRINCAR-DE-ÍNDIO), DA CULTURA, DAS IDENTIDADES PATAXÓ E BRASILEIRAS Maria Geovanda Batista108

A presente comunicação reflete os múltiplos processos de subjetivação da identidade que atravessar os Pataxós, enredados numa rede de práticas, de conflitos e alianças que se constituem para produção anual da ‘Festa da Puxada do Mastro de São Sebastião’, comemorada no mês de janeiro, não só pelos Pataxó em Cumuruxatiba, mas, por outros nacionais e estrangeiros. Uma festa muito presente em todo o litoral do Sul e Extremo Sul Baiano, embora, se revele com as cores do contexto e do universo sócio-histórico-cultural onde é produzida. A interpretação desta expressão da cultura lúdica Pataxó, ao ser instrumentalizada epistemologicamente e metodologicamente pela Filosofia do Devir, Pragmática ou Rizomática (Deleuze e Guattari, 1997), pela Sociopoética (Guathier, 1999), pelos estudos subalternos e pós-coloniais, nos possibilita refletir o brincar como um agenciamento intercultural por princípio, portanto um agenciamento de conflito, situado no contexto de uma política e de uma pedagogia cultural específica. O que pode o jogo tradicional e seu brincar - quando postos a serviço da descolonização dos processos de subjetivação das identidades e da revitalização etnocultural

108  Docente Mestre e Doutoranda da UNEB, Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interrculturais e da Temática Indígena – NEPITI Departamento de Educação Campus X da Universidade do Estado da Bahia.

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de um povo? Trata-se, portanto, de desativarmos epistemologicamente, os dispositivos conceituais que distorcem o foco e colonizam nosso olhar em direção ao objeto em análise: o hãmiyá (o brincar, a cultura lúdica) e seus corpos brincantes, os Pataxó (o índio). Implica em desmontarmos nas relações cultura-poder, colonizador-colonizado, os mecanismos através dos quais o “índio” passa “estereotipado”, “invizibilizado”, “infantilizado”, incompreendido, inclusive, descartado e combatido na contemporaneidade. Por outro lado, compreender as estratégias que são empreendidas pelas comunidades indígenas para resistirem às inúmeras empreitadas colonializantes, preservarem sua cultura, atribuírem sentido sempre atualizados aos seus saberes, suas práticas, e, compartilharem, entre si, todo o processo de produção de sentidos e significados. Muito distante da noção de folclore, jogo tradicional ou popular, de alegoria ou folguedo, referimo-nos a este brincar que é potagonizado por adultos, porém, experimentado intergeracionalmente, que, nesta análise é instrumentalizado interculturalmente pelo conceito de ‘ritornelo’, nos termos como é definido por Deleuze e Guattari (1997b e 2000) em sua filosofia do devir. Ou seja, o brincar concebido como dispositivo de singularização de devires: devir-índio, devir-mulher, devir-criança, devires-animais, devires-moleculares, devir-cósmico, devirencantado, devir-caraíba, devir-histórico. Numa perspectiva pós-colonial, o brincar é antes de tudo ‘performance’, espaço-tempo de múltiplos interesses; de alianças, de conflitos, de luta, de resistência, de diálogo, tristeza, alegria e superação. Um modo de olhar e interpretar o jogo, o brincar e as expressões das culturas lúdicas tradicionais com seus próprios atores para assim revelar: suas potencialidades como fonte de informações e dispositivo da memória, seu poder e suas potências transgressoras, libertárias, afetivas e cosmológicas, sua dimensão objetiva e subjetiva; instrumento de luta entre setores e grupos minoritários da sociedade no jogo sempre renovado e atualizado da (des) colonização e afirmação de nossas identidades e subjetividades, tão brasileiras!

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Referências BATISTA, Maria Geovanda. Nos Rizomas da Alegria Vamos Todos Hãmiyá: as múltiplas relações entre o brincar o corpo e o território imaginário sócio cultural Pataxó. Bahia, 2004. ______. Processos de Etnogênese dos Pataxó em Cumuruxatiba no Município do Prado-BA. Revista da FAEEBA-Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 19, n.33, p.135-145, jan/jun.2010. DELEUZE, Gilles e GUATARRI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: 34, vol 4, 1997b. GUATTARI, Felix. Caosmose: um novo paradigma estético. São Paulo: 34, 1992. GAUTHIER, Jacques. Sociopoética: encontro entre ciência, arte e democracia na pesquisa em ciências humanas e sociais, enfermagem e educação. Rio de Janeiro: EEAN/UFRJ: 1999. ______.; FLEURI, R. M.; GRANDO, B. S. (Orgs.). Uma pesquisa sociopoética: o índio, o negro e o branco no imaginário de pesquisadores da área de educação. Florianópolis: EDUFSC, 2001.

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(REL)AÇÕES ENTRE CIÊNCIAS E CULTURAS NA PESQUISA E NA INICIAÇÃO À DOCÊNCIA Edinéia T. Lopes109 Palavras-chave: Culturas, Ciências, Ensino e formação docente.

Nas últimas décadas intensificaram-se as discussões acerca da educação escolar dos povos indígenas. Esses trabalhos acenam, por um lado, para as conquistas/desafios em termos legais e, por outro, para as demandas que se colocam em sua efetivação, como a necessidade da compreensão das especificidades da execução dessa educação diferenciada e, sobretudo, no reconhecimento das questões culturais desses grupos (FERREIRA, 2001; COLLET, 2006; ALBUQUERQUE, 2007; TASSINARI, 2008). Em se tratando do ensino e aprendizagem dos conhecimentos científicos escolares nessa realidade educacional, poucos estudos foram desenvolvidos acerca das relações existentes entre conhecimentos tradicionais e esses conhecimentos escolares (ROMANELLI, 2001; LOPES, 2009 e 2011; SILVEIRA, 2010). Com essa preocupação desenvolvemos alguns estudos que contemplam essas questões. Partimos da premissa que há uma forma específica de apropriação da educação escolar por cada comunidade, que norteia a relação que ela mantém com a escola e com os conhecimentos veiculados por cada unidade escolar (LOPES, 2012). Nesse caminho também buscamos - em nossas atividades acadêmicas de ensino, pesquisa e extensão -, aproximar e problematizar essas discussões nos processos formativos das licenciaturas desenvolvidas no Campus Prof. Alberto Carvalho da Universidade Federal de Sergipe, de maneira particular a Licenciatura em Química. Assim, esta fala tem como primeiro objetivo apresentar algumas reflexões acerca dos desafios colocados no processo ensino e aprendizagem de conhecimentos científicos escolares - particularmente os conhecimentos químicos -, partindo do entendimento da relação que a comunidade Bakairi mantém com a escola e os conhecimentos veiculados por ela. Refletir sobre a aproximação 109  [email protected] Departamento de Química – UFS/ITA, coordenadora subprojetos PIBID e PRODOCÊNCIA – QUÍMICA/ITABAIANA – UFS.

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e problematização da modalidade Educação Escolar Indígena e, também, Educação Escolar Quilombola num processo formativo docente em Sergipe, constitui o segundo objetivo deste diálogo. A Trajetória Metodológica: Desenvolvemos nossas atividades acadêmicas junto a duas comunidades indígenas (Mato Grosso e Sergipe) e uma comunidade quilombola (Sergipe). Em Mato Grosso realizamos, durante o curso de Doutorado em Educação, uma investigação com cunho etnográfico junto à comunidade Bakairi da Aldeia Aturua, município de Paranatinga. Em Sergipe, buscamos a aproximação entre o processo formativo docente do professor de Química e de Ciências, a escola indígena e a escola quilombola. Essa aproximação é realizada por meio das atividades desenvolvidas nos subprojetos de Química do PIBID e do PRODOCÊNCIA. As atividades são realizadas junto ao povo Xokó e comunidade Mocambo, ambas localizadas no município de Porto da Folha – SE. Nessas atividades buscamos problematizar esse processo formativo e realizar uma reflexão acerca dessas realidades, buscando uma formação mais sensível (e preparada) à diversidade. As percepções desses futuros professores foram e são coletadas durante as reuniões de estudo e planejamento, nos relatos orais, cadernos de campo e textos redigidos por esses acadêmicos. Nossas ações e análises são orientadas pelos postulados colocados por Geertz (1989), Bakhtin (2003), Charlot (2000), Mortimer (2000) e Tardif (2000). Resultados: Cada comunidade investigada mantém uma relação distinta com a escola e os conhecimentos veiculados por ela, de forma particular, com os conhecimentos científicos escolares. Em relação às Ciências Naturais e à Química, como subárea desta ciência, supomos, apoiado em Mortimer (2000), que os alunos dessas escolas passam por um processo de entrada numa nova cultura; em outras palavras, esses alunos foram apresentados para uma nova dimensão da cultura, a Ciência/Química. E essa nova dimensão da cultura – aprender Ciências – “está mais relacionado a entrar num mundo que é ontologicamente e epistemologicamente diferente do mundo cotidiano” (MORTIMER, 2000, p. 65). As falas dos alunos bakairi explicitaram uma mobilização para a aprendizagem dos conhecimentos científicos escolares. Para esses alunos “aprender ciências” não significa abandonar suas crenças. Entretanto, o ensino dos conhecimentos químicos escolares se efetiva com base no livro didático, podendo disseminar uma visão descontextualizada, fragmentada e acrítica da ciência e do fazer ciência. Há ainda o

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risco de atribuir supremacia aos conhecimentos científicos, em detrimento dos conhecimentos produzidos por meio das demais dimensões da cultura (GEERTZ, 1989), como: a tradição, as manifestações religiosas, o cotidiano, etc. Cada uma dessas dimensões expressa uma forma própria de produzir, sistematizar, registrar e compartilhar os conhecimentos elaborados. E essas dimensões devem ser contempladas no espaço dialógico da sala de aula, no qual elas se anunciam em diferentes vozes. Sobre o processo formativo docente, apontamos que o distanciamento existente entre ele e as realidades dessas escolas não tem contribuído para uma formação docente que contemple, no mínimo, uma sensibilidade para a diversidade brasileira. Nas atividades desenvolvidas constata-se, pela fala desses acadêmicos, que um canal de diálogo foi aberto. Entretanto, é longo o caminho a ser percorrido. Reflexões Finais: Constatamos a necessária reflexão dos processos formativos docente, sejam eles nas modalidades específicas, sejam eles nas licenciaturas convencionais. Esses dados expressam que, cada processo, de maneira diferente, ainda não dá conta de uma formação docente que contemple as diferentes formas de produção, distribuição, registro e ensino dos diversos saberes. Apontamos ainda a necessidade de aprofundamento das questões acerca da abordagem dos conhecimentos científicos escolares nessas unidades escolares e, também, uma demanda por contemplar essas diferentes realidades nos processos formativos docentes.

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Referencias ALBUQUERQUE, L. S.. As políticas públicas para a Educação Escolar Indígena no Amazonas (1989 – 2003). In: Educação para a diversidade e cidadania. Recife: Ed. do Organizador, 2007. p. 11 – 133. BAKHTIN, M.; Os gêneros do discurso. In:________ Estética da Criação Verbal. Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra. 4ª. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. COLLET, C. L. C. Ritos de civilização e cultura: a escola Bakairi. Rio de Janeiro, 2006. Tese (Doutorado em Antropologia Social), Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006 FERREIRA, M. K. L. A educação escolar indígena: um diagnóstico crítico da situação no Brasil. In: SILVA, A.L.; FERREIRA, M. K. L. Antropologia, história e educação: a questão indígena e a escola. 2. ed. São Paulo: Global, 2001. GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de janeiro: LCT Editora, 1989. LOPES, E. T. A relação com a escola e os conhecimentos escolares em um contexto indígena. In: Seminário de Educação 2011/UFMT, 2011, Cuiabá - MT. Anais... Cuiabá - MT: EdUFMT, 2011. CD-ROM. LOPES, E.T. Algumas Reflexões Acerca das Relações Entre Conhecimentos Científicos e Conhecimentos Tradicionais. In: Seminário Povos Indígenas e Sustentabilidade, 3., 2009, Campo Grande – MS. Anais... Campo Grande- MS: UCDB, 2009. CD-ROOM. MORTIMER, E. F. Linguagem e formação de conceitos no ensino de Ciências. Belo Horizonte: Ed. UFMG. 2000. ROMANELLI, L. Encontros e desencontros entre a cultura acadêmica e a cultura indígena. In: MORTIMER, E.F.; SMOLKA, A. L. (Orgs.). Linguagem, cultura e cognição: reflexões para o ensino e a sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p. 151 – 166) SILVEIRA, K. P. Tradição maxacali e conhecimento científico: diferentes perspectivas para o conceito de transformação. Minas Gerais, 2010. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Minas Gerais. TARDIF, M. Os professores enquanto sujeitos do conhecimento. In:______. Saberes docentes e formação profissional. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, p. 227 – 244, 2002. TASSINARI, A. M. I.; GOBBI, I. Políticas públicas e educação para e sobre indígenas. In: Reunião Brasileira de Antropologia, 26, 2008, Porto Seguro, Bahia. Anais... Porto Seguro, Bahia, 2008. CD-ROM.

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A CONTRIBUIÇÃO DAS IYÁS NAS AÇÕES AFIRMATIVAS EM EDUCAÇÃO Maria Durvalina Cerqueira dos Santos110 Palavras-chave: Ação pedagógica, Comunidades Terreiro, Ação afirmativa.

Este texto traz fragmentos de buscas viabilizadas pelos estudos de doutoramento, através da pesquisa que vem sendo desenvolvida, na perspectiva de identificar os impactos das ações afirmativas em educação na vida de mulheres negras, o que conduziu a um maior entendimento sobre as ações afirmativas em educação, permitindo inclusive a percepção de que particularmente em Salvador, as mulheres de Axé tem atuação autora no que se refere à concepção pedagógicas que denominamos de ações afirmativas em educação, que são fruto da forma de ensinar e aprender nos Terreiros de Candomblé e começam sendo exercitadas nas Comunidades Terreiro, se expandem nas escolas criadas dentro dessas Comunidades, e passam a circular em escolas da rede pública onde algumas dessas mulheres de Axé atuam. É importante ressaltar que é na rede publica de ensino que as mulheres negras, inclusive as mulheres do Axé, se lançam no mercado de trabalho fora do mercado informal, desenvolvendo ações pedagógicas que tem como referencia as relações pedagógicas estabelecidas nas Comunidades Terreiro, denominada Pedagogia de Terreiro, ações que se firma na compreensão de que a aprendizagem dos sujeitos na escola não pode estar dissociada das suas culturas, dos valores das suas famílias, das suas comunidades, das suas religiões, conjugando objetividade e subjetividades, elementos fundantes na formação dos sujeitos, e que orientam o que denominamos hoje ações afirmativas em educação e possibilitam a construção de um conjunto de regras que são as políticas de ação afirmativa em educação. As ações pedagógicas desenvolvidas por essas mulheres originarias do Axé, tanto dentro das comunidades terreiro, como nas escolas criadas dentro das comunidades, e fora dela, onde essas mulheres atuam, baseiam-se em princípios que ajudam a pensar a história a partir de seus autores e auto-

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ras, a respeitar e preservar os valores ancestrais, possibilitando o reconhecimento das contribuições históricas das populações negras na construção do estado nação, fundamentais a valorização das populações negras e consequentemente influenciando na qualidade das relações interétnicas, estabelecidas entre as populações que compõem a sociedade, que é plural na sua composição, mas que não se revela plural na sua organização política, social, e econômica, revelando-se apenas no traçado da construção da cidade desigual, e mesmo em Salvador com sua peculiaridade de cidade majoritariamente de negros e negras, as diferentes culturas e populações que a constitui, que a faria plural, tem a revelado apenas como desigualdade. As ações afirmativas assim como a Pedagogia de Terreiro busca firmar os sujeitos, mulheres e homens, educandas (os) e educadoras (es) na sua pertença, construindo identidades, identificações, despertando o sentido da cultura de matriz africana no cotidiano da vida comunitária, e em espaços educacionais. As Iyás são Mães de Axé, são Mulheres de Terreiro de Candomblé que desempenham papéis fundamentais na organização da vida da Comunidade-Terreiro, inclusive e com particular atenção nos rituais religiosos, que nesse universo não estão dissociadas, vida cotidiana e religiosidade. Tendo em vista os princípios e a dinâmica dessas comunidades elas desenvolvem ações importantíssimas na preparação dos filhos e filhas desde as suas chegadas às comunidades, no processo de iniciação propriamente dito, e nos seus desdobramentos, entendo que é estando preparados (as) para o Axé que estarão preparados (as) para a vida dentro e fora de suas comunidades. O Terreiro de Candomblé é espaço eminentemente educativo, a pertença a Comunidade Terreiro estabelece aprendizagem, conhecimento, Educação de Vida, Educação de Axé, e consequentemente pressupõe situações e pessoas que educam e que são educadas, e as pessoas que ocupam as funções de Mãe de Axé as denominadas Iyás são fundamentais no processo educativo dentro do Terreiro, processo que reflete a cultura originária africana, e as reelaborações afro-brasileira, na medida em que as ações afirmativas que tem sua referencia dentro das Comunidades-Terreiro, e orientam as Políticas de Ações Afirmativas que são a tentativa de devolver o direito das populações afro-brasileiras de exercerem sua dignidade humana, a partir do resgate de seus valores ancestrais, sua história e cultura, reconhecendose o Terreiro de Candomblé como importante espaço de preservação das

110  E-mail: [email protected]. UNEB.

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culturas de matriz africana, um nicho que resguarda e mantém não apenas as tradições religiosas do Candomblé como resguarda e preserva o modo de agir, de viver, de ser e de estar no mundo numa perspectiva africanobrasileira; as “Comunidades-Terreiro” são eminentemente espaços afirmativos, nesse sentido esse estudo analisou se as ações pedagógicas das Iyás nas academias evidencia sua pertença ao Candomblé, contribuindo para a consolidação da concepção pedagógica que caracteriza o que denominamos de Ação Afirmativa em Educação, considerando as atividades das Iyás nos Terreiros de Candomblé, identificando as que se constituem em ação pedagógica e, como estas engendram as ações pedagógicas que são denominadas de ações afirmativas em Educação, dando sustentação ao debate das políticas de ação afirmativa em educação.

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O BECO DE DOLA E O SEU PAPEL NA CONSTRUÇÃO SOCIOCULTURAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA Ana Mary C. Bispo111 Geivison dos S. Silva112 João Pedro M. Teixeira113 Maurício S. Matos114 Palavras-chave: Negro, Vitória da Conquista, Beco de Dola, Sociocultural.

O projeto Novembro Negro do Instituto Federal da Bahia, Campus Vitória da Conquista, objetiva o cumprimento da lei nº 10.639/03 que torna obrigatório nas escolas da educação básica do Brasil o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira. Com base na lei, a Coordenação do referido projeto, no ano de 2012, promove uma série de atividades, entre as quais uma pesquisa que tem como intuito a análise da participação da população negra na construção sociocultural do município de Vitória da Conquista – BA, a partir da análise da dinâmica familiar, grupal, cultural e religiosa da comunidade denominada Beco de Dola, um território negro situado no bairro Rua das Pedrinhas do município já mencionado. Por meio de pesquisas de campo e bibliográficas contextualizamos as influências do Beco de Dola no processo de resistência à segregação social, cultural e religiosa que propaga o racismo e consequentemente o desrespeito ao negro, tão presentes no cotidiano da cidade. Para tanto utilizamos como referencial teórico as produções científicas de autores como: Washington Santos Nascimento, Flávio José dos Passos e Itamar Pereira de Aguiar, que trazem como tema em suas obras a história do negro e suas contribuições na formação desta região.

111  Orientadora, Professora da Coordenação das Disciplinas do Núcleo Comum do Instituto Federal da Bahia – Campus Vitória da Conquista. Mestrado, Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia . E-mail: [email protected] 112  Pesquisador-Bolsista, Estudante do ensino subsequente em eletrônica no Instituto Federal da Bahia – Campus Vitória da Conquista. E-mail: [email protected] 113  Pesquisador-Bolsista, Estudante de Engenharia Ambiental no Instituto Federal da Bahia – Campus Vitória da Conquista. E-mail: [email protected] 114  Pesquisador-Bolsista, Estudante do ensino integrado em informática no Instituto Federal da Bahia – Campus Vitória da Conquista. E-mail: [email protected]

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O TRABALHO DAS MULHERES NA PRODUÇÃO DE FARINHA NO RECÔNCAVO BAIANO: COMUNIDADE VITÓRIA DO CAQUENDE-CACHOEIRA

OS TERREIROS COMO LOCUS DA DINÂMICA CIVILIZATÓRIA NEGROAFRICANA AMALGAMADA E, PORTANTO, ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA AFROCENTRADA

Rosene de J. Moura115

Jayro P. de Jesus116

Palavras-chave: Mulher, Trabalho, Farinha.

Palavras-chave: Terreiro e educação comunitária afrocentrada, Axiologia NegroAfricana, Pedagogia doUbuntu /Àse / Nguzo / Mooyo.

A presente pesquisa busca analisar a participação das mulheres na produção de farinha de mandioca na Fazenda Vitória de Cachoeira-BA, comunidade rural e sem saneamento básico, e qual o sentido desse trabalho para elas, procurando compreender o cotidiano dessas mulheres em relação ao trabalho na produção de farinha. Para atingir tais objetivos, realizou-se pesquisa bibliográfica acerca dos conceitos que permeiam as discussões do trabalho no campo, enfatizando a questão de gênero, e pesquisa empírica, entrevistando e aplicando questionários às produtoras deste trabalho. No primeiro passo se analisou a divisão sexual do trabalho, no segundo a jornada de trabalho exercida por essas donas de casa e no terceiro se buscou compreender como é constituído o sentido do trabalho para as mulheres. Como consideração final, compreendeu-se que a dupla jornada de trabalho casa de farinha, domésticos e na plantação da mandioca tem o caráter de “ajuda” ao marido, atividade essa não reconhecida como trabalho, mas, como a divisão sexual consentida e naturalizada como conceitos de diferenças físicas entre homens e mulheres. Contudo, é na produção de farinha de mandioca que se evidencia a construção dos papeis sociais desse contexto social.

Resumo expandido Indubitavelmente o Brasil está alicerçado sob os pilares culturais e/ou civilizatórios definido por Santos (2008, p. 26) como “um país afro-luso-americano”. No que concerne ao arcabouço cultural africano à autora citada explicita que para além do trabalho compulsório da mão de obra negra de homens e mulheres desenraizados e desterritorializados de sua Terra de origem e/ou submetidos/as “a migração forçada” (Sodré, 1983, p. 36), esse contingente populacional constitui-se historicamente como um grupo de população com uma maior densidade tanto nas grandes como nas pequenas cidades, laborando seja nas plantações assim como na extração mineral. Nesse contexto houve a multiplicação dos afrodescendentes na diáspora brasileira, “profundamente marcada por seus costumes, sua religião e suas tradições” como assegura SANTOS (idem). O resumo que segue e visando a interlocução com a sessão de comunicação 08 – Construção Cultural dos Povos Brasileiros: Territorialidades, Histórias, Culturas Saberes e Educação Escolar dos Indígenas, dos Terreiros e dos Quilombolas tem a intenção de dialogar com autoras e autores que produzem sob um olhar pós-colonialista e “desde dentro”. Objetiva, portanto, recobrar essa gama de intelectuais que ainda sofrem preconceito dentro das Universidades em geral. Necessário aqui se faz explicitar alguns dos termos ou categorias de análises expressos tanto no título como das palavras-chave deste resumo. Nessa direção serão aqui trazidos à tona ou reapresentados autores considerados “desde dentro” que são aquelas/aqueles pertenceram ou “pertencem à cultura em questão, ou que foram (ou que são) ‘iniciados’ ou que, ao menos, tiveram uma convivên-

115  Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

116  E-mail: [email protected]. Escola de Filosofia e Teologia Afrocentrada (ESTAF).

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cia prolongada em contato com esta cultura” (SANTOS, 2008, p. 23). Nessa direção e inicialmente, Terreiro, de acordo com Santos (2008, p. 37-38) “é um espaço onde se organiza uma comunidade – cujos integrantes podem ou não habitá-lo permanentemente- no qual são transferidos e recriados os conteúdos específicos que caracterizam a religião tradicional negro-africana. [...] Através da iniciação e de sua experiência no seio da comunidade, os integrantes vivem e absorvem os princípios do sistema. A atividade ritual engendra uma série de outras atividades: música, dança, canto e recitação, arte, artesanato, cozinha, etc., que integram o sistema de valores [...], e a cosmovisão africana do terreiro”. Privilegiando o universo da cultura e tradição yorùbá, Santos prossegue dizendo que “os membros da comunidade Nàgô estão unidos não apenas pela prática religiosa, mas, sobretudo, por uma estrutura sócio-cultural cujos conteúdos recriaram a herança legada por seus ancestrais africanos”. Sodré (1983, p. 122) nos diz que “o terreiro implica, ao mesmo tempo (a) num continuum cultural, isto é, na persistência de uma forma de relacionamento com o real, mas reposta na História e, portanto, com elementos reformulados e transformados com relação ao ser posto pela ordem mítica original, e (b) num impulso de resistência à ideologia dominante, na medida em que a ordem original aqui reposta comporta um projeto de ordem humana, alternativo à lógica vigente de poder. [...] a resistência é um efeito da heterogeneidade cultural num mesmo território político. As práticas do terreiro rompem limites espaciais, para ocupar lugares imprevistos na trama das relações sociais da vida brasileira”. Ainda em Sodré (1988, p. 101) no tocante a definição de Terreiro, ele o define como “um espaço de analogias, porque é ao mesmo tempo um foco de intencionalidades de simpatia ou de sedução: as coisas aproximam-se e misturam-se sem perder o seu real, a sua singularidade”. Ratificando a persistência da cultura negra no contexto social brasileiro, conceitua que “o terreiro, enquanto guardião do axé, revela-se como uma contrapartida à hegemonia do processo simbólico universalista, exibindo um segredo – o de deter forças de aglutinação e de solidariedade grupal. De maneira a consubstanciar, argumenta que esta solidariedade é ”para além das dimensões do individualismo burguês, com raízes na divindade (princípios cósmicos) e na ancestralidade (princípios éticos). Na Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana organizada por Lopes (2004, p. 646) o verbete Terreiro é tratado como uma

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“designação genérica do espaço físico onde se sediam as comunidades religiosas afro-brasileiras. Outrora, no Rio de Janeiro, o termo designava também o que hoje se conhece como ‘quadra’ de escola de samba. As regras de comportamento nesses locais, como, por exemplo, a participação exclusivamente feminina nas rodas de dança obedecia aos mesmos padrões daquelas estabelecidas nas casas de culto mais antigas ou tradicionais”, nos informa o enciclopedista. Presentes na obra de vários/as autores/as “desde dentro” o que se compreende como “dinâmica civilizatória negro-africana” encontra relevância na de Luz (1983, p. 28) que por sua vez afirma que “nunca é demasiado destacar, o valor e o lugar que a religião ocupa no processo civilizatório negro”. O autor Assegura que “a religião se caracteriza como um eixo, ‘um elemento central’ deste processo”, anunciando que “a civilização negra se caracteriza por exprimir uma concepção ‘espiritualista’ do mundo, onde a constituição da individualidade, as relações sociais, as relações com a natureza e o universo estão revestidas de uma dimensão sagrada” a qual perpassa as atuações daqueles/as que vivenciam “este universo cultural, estejam elas vinculadas a esfera pública, sociais e econômicas”. Em oposição da visão marxista acerca do sagrado, Luz (idem) diz que “a religião negra é ponto básico, é fonte de afirmação dos valores civilizatórios negros e núcleo de resistência às variadas aspirações neocolonialistas”. Como um pesquisador, estudioso e convicção devido a condição iniciática, Luz (idem) categoriza que “nas Américas, as religiões negras se caracterizam como bem estruturada comunidades que mantém continuamente revitalizado o processo civilizatório negro, marcando substancialmente a presença da África neste continente”. A descentralização dos grupos étnicos e com suas especificidades ou variáveis cedeu na dispersão ao amalgamento material e simbólico face às invariáveis culturais ou civilizatórias. (LUZ, 1983, p.28) situa as características invariantes da religião negra próprias que a homogeneízam frente a outras religiões. Nessa perspectiva os Povos Bantos reuniram num mesmo território seus Inquices, os Povos iorubas fizeram o mesmo com os Orixás e os Fon igualmente com os Voduns. “O ponto central de reagrupamento dos africanos e seus descendentes no Brasil, foi a religião, caracterizada pelas bem organizadas comunidades religiosas que reestabeleceram as diversas hierarquias sociais e as formas de relações sociais características do processo cultural e civilizatório” (LUZ, 1983, p. 29). Bebendo na fonte de

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mais uma obra de um intelectual “desde dentro” acima já citado e que corrobora a elaboração do autor anteriormente citado, Sodré (1999, p. 170-171) elucida que “a comunidade-terreiro é, assim, repositório e núcleo reinterpretativo de um patrimônio simbólico explicitado em mitos, ritos, valores, crenças, formas de poder, culinária, técnicas corporais, saberes, cânticos, ludismos, língua [...] e outras práticas sempre suscetíveis de recriação histórica, capazes de implementar um laço atrativo de natureza intercultural (negros de etnias diferentes) e transcultural (negros com brancos)”. Como num complexo cultural ou civilizatório, os Terreiros e/ou as Comunidades-Terreiros na diáspora das Américas têm desenvolvido atividades pedagógicas de dimensões educacionais comunitárias afrocentrada, trabalhada de forma tanto sistemática como assistematicamente, que incidemverdadeira e significativamente nas cognições infanto-juvenis de maneira a conferir-lhes autoconceito, autoimagem e autoestima.Essa educação comunitária afrocentrada exercida por todos/asos/as detentores de senioridade iniciática como também por profissionais que aplicadamente executam a pedagogia “dendê dentro para fora” em que anteparos existenciais são inferidos nas crianças, adolescentes e jovens, todo um corpo docente os/as preparam para o enfrentamento e defesa face às discriminações, dos estereótipos, dos estigmas, do racismo e da intolerância religiosa que grassa no cotidiano das escolas dos sistemas em geral, como bem evidencia Caputo (2012), entre tantos outros pesquisadores do campo da educação e relações étnico-raciais. Luz (2003, p. 45) fala de uma “visão de mundo classificadora de princípios transcendentes ou forças cósmicas que regem o universo”, enfatizando que esse conhecimento ou princípios são transmitidos “através das narrativas míticas e de uma pedagogia negra iniciática” que “dão origem aos valores sociais [...] que se referem às relações do homem, da mulher e da prole, do pai, da mãe e dos filhos, dos mais velhos e dos mais novos”. Os Terreiros independentes da sua dimensão territorial ou espacial funcionam como verdadeiras famílias, clã e/ou grupo étnico constituindo-se por isso em “essencialmente grupo primário, responsável pela matriz da individuação [...], porque detentor do processo civilizatório e cultural” (SODRÉ, 2012, p. 17). Como alude Guimarães (1999, p. 24) “foram e ainda são quilombos as comunidades de terreiro que ao longo da história do negro no Brasil mostraram ter sido o ‘locus’ de engendramento por suas características especiais de

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útero mítico, que possibilitou a reaglutinação dos elementos fundamentais para a manutenção do negro enquanto grupo e cultura”. A guisa de radicalização em vista de uma substancial reviravolta epistemológica e conceitual acerca da axiologia negro africana em Leite (2008, p. XVIII) encontra-se uma determinação para essa saga quando diz que “existem duas maneiras principais de abordar as sociedades negro-africanas. A primeira, chamada de periférica, vai de fora para dentro e chega à África-Objeto, não a explicando adequadamente. Essa opção é típica da visão ocidental, com honrosas exceções, está disseminada e imposta por toda parte, inclusive na própria África. A segunda, pouco considera a anterior e faz configurar a visão interna, vai de dentro para fora e revela a África-Sujeito, ou seja, a África da identidade originária, ancestral, mal conhecida, oferecendo interpretações outras de mundo, surpreendentes e distantes das banalidades”.Os Terreiros ou as Comunidades-terreiros na diáspora do Brasil são verdadeiramente oslocus desta África-Sujeito que mantém de forma pulsante pressupostos epistemológicos de uma cosmovisão substanciada por uma gama de axiologia, fundamentação filosófica e teológica de visão de mundo que orienta toda uma práxis social, política, cultural, econômica, de relações de poder que se inscreve no que Sodré (1899, p. 93) compreende como ‘poder paratático’ (de parataxe, coordenação) em oposição a um ‘poder hipotático’ (de hipotaxe, subordinação).

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Referências ANJOS, Carlos José Gomes dos. No território da linha cruzada: a cosmopolítica afro-brasileira. Porto Alegre: Editora da UFRGS/Fundação Cultural Palmares, 2006. AUGRAS, Munique. O duplo e a metamorfose: a identidade mítica em comunidade nagô. 2.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. BARROS, José Flávio Pessoa de. Na minha casa: preces aos orixás e ancestrais. Rio de Janeiro: Pallas, 2010. CAPUTO, Stela Guedes. Educação nos terreiros: e como a escola se relaciona com a criança de candomblé. Rio de Janeiro: Pallas, 2012. GUIMARÃES, Marco Antonio Chagas. É um umbigo, não é? A mãe-criadeira: um estudo sobre o processo de construção de identidade de comunidade de terreiro. 1999. 123 f. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999 LEITE, Fábio. A questão ancestral: África negra. São Paulo: Palas Athenas: Casa das Áfricas, 2008. LOPES, Nei. Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São Paulo: Selo Negro, 2004. LUZ, Marco Aurélio. Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira. 2.ed. Salvador: EDUFBA, 2000. LUZ, Marco Aurélio. Cultura negra e ideologia de recalque. Rio de Janeiro: Achiamé, 1983. NASCIMENTO, Elisa Larkin (Org.). A matriz africana no mundo. São Paulo: Selo Negro, 2008. NASCIMENTO, Elisa Larkin (Org.). Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica inovadora. São Paulo: Selo Negro, 2009. PRUDENTE, Celso Luiz. Tambores negros: antropologia da estética da arte negra dos tambores sagrados dos meninos do Morumbi: pedagogia afra. São Paulo: Fiuza, 2011. SANTOS, Juana Elbain dos. Os nàgô e a morte: Pàde, Àsèsè, e o culto Égun na Bahia. Traduzido pela Universidade Federal da Bahia. 13. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. SODRÉ, Muniz. A verdade seduzida: por um conceito de cultura no Brasil. Rio de Janeiro: Codecri, 1983.

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SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho: uma teoria da comunicação linear e em rede. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. SODRÉ, Muniz. Claro e escuros: identidade, povo e mídia no Brasil. 2.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. SODRÉ, Muniz. O terreiro e a cidade: a forma social negro-brasileira. Petrópolis, RJ: 1988. SODRÉ, Muniz. Reiventando a educação: diversidade, descolonização e redes. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. UBUNTU. ‘EU SOU PORQUE NÓS SOMOS. IHU On-Line, Revista do Instituto Humanitas Unisinos. São Leopoldo, 06 de dez. 2012, Ed. 353.

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REALIDADES ESCOLARES INDÍGENA E QUILOMBOLA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE QUÍMICA

IDENTIDADE E PATRIMÔNIO CULTURAL: O EXERCÍCIO DA CIDADANIA NO TERRITÓRIO QUILOMBOLA

Fernando C. Santos117 Everton S. Oliveira118 Clécia A. dos Santos119 Edinéia T. Lopes120

Darci C. A. Bomfim121 Girlandio G. Bomfim122

Palavras-chave: PIBID-Química, Escola indígena, Escola quilombola.

Este trabalho se pauta em uma pesquisa-ação, cujo enfoque procurou verificar como o movimento social negro rural presente no território remanescente de quilombo da Graciosa, no município de Taperoá–BA tem utilizado os elementos simbólicos que permeiam tanto a cultura afrodescendente como a identidade, a partir da valorização do patrimônio cultural material e intangível. Neste sentido, o fato da associação de quilombolas presente na localidade contribuir para o aprimoramento das ações coletivas verificadas no propósito contínuo da melhoria da qualidade de vida, configura no reconhecimento da importância dos elementos culturais, o conceito de território enquanto síntese da matriz social e cultural de um povo. A concretização de políticas públicas destinadas a atender as comunidades remanescentes de quilombo no Brasil tem contribuído para construção de instâncias participativas cujo empenho coletivo em Graciosa, consiste no processo pedagógico não formal verificado na entidade denominada Associação de Remanescentes Quilombolas da Graciosa, a partir da reivindicação da efetiva atuação governamental com vista a reduzir as disparidades sociais do segmento negro. A constatação de que a formação para cidadania se associa ao patrimônio cultural e a identidade considera como pressuposto fundamental, a ressemantização do sujeito quilombola.

O PIBID/QUÍMICA-UFS/Itabaiana desenvolve, desde setembro de 2012, ações no Colégio Indígena Estadual Dom José Brandão de Castro e na Escola Estadual 27 de Maio, ambos situados no município de Porto da FolhaSE. A proposta de desenvolver atividades do PIBID em uma escola indígena e em uma quilombola está sendo desafiadora. Esse desafio se coloca em diversas dimensões que podem ser explicitadas pelo pouco conhecimento das questões que envolvem tais povos – particularmente em relação à educação escolar -, pelo fato de nós bolsistas estarmos em processo inicial de formação docente e por causa do distanciamento existente entre a área das Ciências Naturais/Química e os estudos acerca das relações entre ciência e culturas. Este trabalho tem como objetivo relatar nossos primeiros contatos com as já citadas etnias, apresentar dados acerca do processo ensino e aprendizagem de Química no 2°ano do Ensino Médio e refletir sobre a proposta didática em desenvolvimento. Foram analisados os Diários de Classe e os cadernos dos alunos e coletados alguns relatos orais. Os primeiros resultados apontam para a complexidade desse universo escolar. Sobre a relação com o universo químico escolar, foram evidenciadas características encontradas em escolas públicas, sobretudo em relação à reprodução do livro didático.

117  [email protected]. Departamento de Química – UFS/ITA, Bolsista PIBID/QUÌMICA-UFS 118  [email protected]. Departamento de Química – UFS/ITA, Bolsista PIBID/QUÌMICA-UFS 119  [email protected]. Departamento de Química – UFS/ITA, Bolsista PIBID/QUÌMICA-UFS 120  [email protected]. Departamento de Química – UFS/ITA, Orientadora PIBID/QUÍMICA-UFS

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Palavras-chave: Identidade, Patrimônio Cultural, Cidadania.

121  Graduada em Pedagogia – Universidade do Estado da Bahia. Pós-graduada em Pedagogia Social – Faculdade Vasco da Gama. Graduanda em História – Universidade do Estado da Bahia/Universidade Aberta do Brasil.E-mail: [email protected]. 122  Pedagogo – Universidade do Estado da Bahia. Pós-graduado em Pedagogia Social – Faculdade Vasco da Gama. Pós-graduando em Gênero e Raça – Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher da Universidade Federal da Bahia. E-mail: [email protected].

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TERRITORIALIDADE E IDENTIDADE NEGRA NA PRODUÇÃO DE SABERES NO ESPAÇO ESCOLAR: LIMITES E POSSIBILADES A CONSTRUÇÃO DO DIÁLOGO ENTRE COSMOVISÃO AFRODESCENDENTE E A EDUCAÇÃO

ANAIS 2012

(RE)PENSANDO AS (TRANSFORM)AÇÕES NA FORMAÇÃO DOCENTE E NO ENSINO ESCOLAR: AS ESCOLAS INDIGENA E QUILOMBOLA Edinéia T. Lopes124

Girlandio G. Bomfim

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Palavras-Chave: iniciação a docência, quilombo e aldeia, ensino de química. Palavras-chave: Identidade, Territorialidade, Educação.

O presente trabalho compreende o resultado da pesquisa desenvolvida no território quilombola da Graciosa, Taperoá-BA. Neste sentido, buscou-se compreender como os aspectos constitutivos da cosmovisão afrodescendente produzem saberes para a contínua formação da identidade negra e possibilitam a compreensão do processo simbólico e sua consequente relação com o espaço formal da educação, a partir dos elementos culturais que integram o patrimônio material e intangível da localidade. A pesquisa foi baseada na abordagem qualitativa com o uso de entrevista semi-estruturada, desenvolvida com professores da escola pública municipal presente no povoado citado e com moradores da localidade. O caráter curricular verificado no sistema de ensino em questão restringe a cultura local ao aspecto folclórico associado à ausência da formação docente. O desenvolvimento da prática pedagógica baseada na pesquisa enquanto princípio científico destinado a valorizar as matrizes culturais do território quilombola demanda a necessidade da modificação do papel formativo empreendido pela unidade de ensino, a partir da participação, enquanto norte fundamental à efetiva interação das lideranças culturais da região mediante o desenvolvimento pleno da gestão democrática na escola pública.

RESUMO: Neste trabalho realizamos uma reflexão de dados coletados durante o desenvolvimento de projetos de pesquisa, ensino e extensão em escolas indígena e quilombola, além de problematizar um processo formativo docente. Este trabalho tem como primeiro objetivo refletir alguns desafios colocados no processo ensino e aprendizagem de conhecimentos químicos escolares, partindo do entendimento da relação que as comunidades investigadas mantêm com a escola e com os conhecimentos científicos. Refletir sobre aproximação e problematização da realidade de algumas escolas quilombola e indígena, num processo formativo docente, constitui o segundo objetivo deste trabalho. As coletas foram realizadas junto a algumas comunidades tradicionais nos estado de Mato Grosso e Sergipe. Cada comunidade investigada mantém uma relação distinta com a escola e os conhecimentos veiculados por ela. As falas dos alunos investigados expressaram uma mobilização para a aprendizagem dos conhecimentos científicos escolares. Entretanto, o ensino dos conhecimentos químicos escolares se efetiva com base no livro didático, podendo disseminar uma visão descontextualizada, fragmentada e acrítica da ciência e do fazer ciência. Sobre o processo formativo docente, apontamos que o distanciamento das realidades dessas escolas não contribui para uma formação docente que expresse, no mínimo, uma sensibilidade para a diversidade brasileira.

123  Associação de Remanescentes Quilombolas da Graciosa, Taperoá – BA. E-mail: [email protected].

124  [email protected]/PIBD e CAPES/PRODOCENCIA, Departamento de Química – UFS/ITA

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ESCOLA INDÍGENA XOKÓ NA INICIAÇÃO À DOCÊNCIA EM QUÍMICA Kelly S. Lima125 Elmaís L. do Nascimento126 Risoneide dos S. Reis127 Evile S. Lima128 Ednéia Tavares Lopes5

ANAIS 2012

INICIAÇÃO À DOCÊNCIA EM QUÍMICA: ESCOLAS INDÍGENA E QUILOMBOLA Maria Adeliane V. de Almeida129 Fabiana S. Oliveira130 Ortência P. Santiago131 Edinéia T. Lopes1324.

Palavras-chave: Iniciação à docência, Ensino de química, Educação escolar indígena.

Palavras-chave: Iniciação à Docência, Ensino de Química, Quilombolas e Indígenas.

O PIBID/QUÍMICA-UFS/Itabaiana é desenvolvido em seis escolas públicas localizadas em três municípios sergipanos. Desde setembro de 2012 desenvolvemos ações no Colégio Estadual Indígena Dom José Brandão de Castro. Este trabalho tem como objetivos relatar nossos primeiros contatos com essa escola indígena, apresentar dados acerca do processo ensino e aprendizagem de Química no 3° ano do Ensino Médio e refletir sobre a proposta em desenvolvimento. Foram analisados o Diário de Classe e os cadernos dos alunos e coletado alguns relatos orais. Os primeiros resultados apontam para as dificuldades devido à ausência de professor de Química a partir do mês de abril do ano corrente. Em relação ao universo químico escolar foram evidenciadas características encontradas em outras escolas públicas, sobretudo em relação à reprodução do livro didático e a exposição de conteúdo. No desenvolvimento das ações constatamos diversos desafios que podem ser explicitados pelo fato de nós bolsistas estarmos em processo inicial de formação docente, pelo pouco conhecimento das questões que envolvem os povos indígenas - particularmente da educação escolar indígena -, e por causa do distanciamento existente entre a área de Química e os estudos acerca das relações entre culturas e Ciências.

O PIBID/QUÍMICA-UFS/Itabaiana é desenvolvido em seis escolas públicas localizadas em três municípios sergipanos. Desde setembro de 2012 desenvolvemos ações no Colégio Estadual Indígena Dom José Brandão de Castro e na Escola Quilombola 27 de Maio, ambos localizados em Porto - SE da Folha A proposta de desenvolver atividades do PIBID em uma escola indígena e quilombola está sendo desafiadora. Esse desafio se coloca em diversas dimensões que podem ser explicitadas pelo pouco conhecimento das questões que envolvem os povos indígenas -particularmente, da modalidade educação escolar indígena e quilombola -, pelo fato de nós bolsistas, estarmos em processo inicial de formação docente e por causa do distanciamento existente entre a área das Ciências Naturais/Química e os estudos acerca das relações étnico-raciais. Esse trabalho tem como objetivos relatar nossos primeiros contatos com uma escola indígena e quilombola, apresentar dados acerca do processo ensino e aprendizagem de Química no Primeiro Ano do Ensino Médio e refletir sobre a proposta didática em desenvolvimento. Foram analisados o Diário de Classe e os cadernos dos alunos e coletado alguns relatos orais.

125  [email protected]. Departamento de Química – UFS/ITA, Bolsista PIBID/QUÌMICA-UFS 126  [email protected] de Química – UFS/ITA, Bolsista PIBID/QUÍMICA-UFS 127  [email protected]. Departamento de Química – UFS/ITA, Bolsista PIBID/QUÍMICA-UFS 128  [email protected]. Departamento de Química – UFS/ITA, Bolsista PIBID/QUÍMICA-UFS 5 [email protected]. Departamento de Química – UFS/ITA, Orientadora PIBID/QUÍMICA-UFS

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129  130  131  132 

[email protected] - Departamento de Química - UFS/Ita, Bolsista PIBID/Química-Ufs [email protected] - Departamento de Química – UFS/ITA, Bolsista PIBID/QUÌMICA-UFS [email protected] - Departamento de Química – UFS/ITA, Bolsista PIBID/QUÌMICA-UFS [email protected] - Departamento de Química – UFS/ITA, Orientadora PIBID/QUÍMICA-UFS

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A ESCOLA INDÍGENA PATAXÓ E O SEU PAPEL NO PROCESSO RESGATE IDENTITÁRIO ÉTNICO-CULTURAL DA ALDEIA PATAXÓ DE COROA VERMELHA

ANAIS 2012

ESCOLA INDÍGENA E ESCOLA QUILOMBOLA NA FORMAÇAO DOCENTE: ENCONTROS E DESENCONTROS

Verônica S. Santos Rainer W. C. Guimarães134

Yasmin L. Jesus135 Tayonara C. Nascimento136 Edinéia T. Lopes137

Palavras-chave: Educação Indígena, Aldeia Pataxó, Identidade.

Palavras-chave: Ciências Naturais, Escola indígena, Desafio.

Durante o processo civilizatório, o contato e o convívio com campos simbólicos dos colonizadores obrigaram o povo Indígena Pataxó a negar a sua cultura e a adotar o modelo eurocêntrico, com os hábitos, a cultura e a língua dos não índios. Tendo ameaçado de extinção e perda do registro das suas heranças culturais, a língua, a memória social e a sua história junto com os índios mais velhos, a Aldeia Pataxó de Coroa Vermelha encontrou na Educação Escolar Indígena a possibilidade de resgatar o seu identitário étnico cultural, ensinando nas atividades escolares, música, pintura, lendas da cultura pataxó e a língua Patxôhã, que estava sendo perdida devido o não uso pela comunidade. A LDB 9.394/96 apresenta a Educação Escolar Indígena como direito dos povos indígenas a uma educação e currículo diferenciado, valorização dos conhecimentos e saberes milenares. Essas conquistas concretizam a escola indígena, sendo esse, um dos principais instrumentos usados pelos colonizadores para descaracterizar e destruir as culturas indígenas e que agora passam a ser na contemporaneidade um instrumento de reconstrução e afirmação da identidade étnico cultural indígena e fortalecimento dos projetos de vida de cada povo indígena.

O PIBID/QUI-UFS/Itabaiana é desenvolvido em seis escolas públicas localizadas em três municípios sergipanos. Desde setembro de 2012, desenvolvemos ações em uma escola indígena e uma escola quilombola. O desenvolvimento dessas ações tem sido desafiador. Esse desafio se coloca em diversas dimensões que podem ser explicitadas pelo pouco conhecimento das questões que envolvem os povos tradicionais – sobretudo a educação escolar desses povos –, pelo fato de nós bolsistas estarmos em processo inicial de formação docente e por causa do distanciamento existente entre a área das Ciências Naturais e os estudos acerca das relações entre ciências e culturas. Este trabalho tem como objetivo relatar nossos primeiros contatos com essas escolas, apresentar dados acerca da relação com o universo das Ciências Naturais no nono Ano do Ensino Fundamental e refletir sobre a proposta didática em desenvolvimento. Foram analisados o Diário de Classe, os cadernos dos alunos e coletados alguns relatos orais. Os primeiros resultados apontam para a complexidade desse universo escolar. Sobre a relação com o universo científico escolar, foram evidenciadas características encontradas em outras escolas públicas, sobretudo em relação à fragmentação dos conteúdos da área das Ciências Naturais e a reprodução do livro didático.

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133  Verônica Silva Santos: Graduada em Pedagogia pela UESB; Discente no Curso de Gestão Educacional da Pós-Graduação da UESB – Campus de Jequié; Aluna Especial do Mestrado de Educação e Contemporaneidade da UNEB. Email: [email protected]. 134  Rainer Wendell Costa Guimarães: Graduado em Letras pela UESB; Diretor da Diretoria Regional de Educação - DIREC 1A. Email: [email protected].

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135  [email protected], Departamento de Biologia – UFS/ITA 136  [email protected], Departamento de Química – UFS/ITA 137  [email protected]. Departamento de Química – UFS/ITA, Orientadora PIBID/QUÍMICA-UFS

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VIII Semana de Educação da PERTENÇA AFRO-BRASILEIRA

QUILOMBO: HISTÓRIA, CULTURA E EDUCAÇÃO Evanilson T. de França138 Maria B. Lima139 Palavras-chave: Quilombo, Educação, Cultura.

O artigo que por ora apresentamos é resultante de incursão investigativa, de cunho teórico, cuja elaboração encontra-se impulsionada pelo desejo de compreender os significados, significações, representações e construções conceituais que legaram contornos a este objeto/fato/fenômeno sóciohistórico-cultural ao longo da formação do Brasil – desde a fase de colonização até a Proclamação da República – a despeito, muitas vezes, de um real conhecimento da realidade e objetivos dos quilombolas. Segundo Joel Rufino (SANTOS, 2006), o termo quilombo tem origem africana significando naquela região acampamento de guerreiros. No Brasil, entretanto, o vocábulo ganha sentidos mais alinhados com a situação de escravização (e tentativa de desumanização) sofrida pelo povo africano (arrancado violentamente do continente negro) em terras brasileiras, designando, por conseguinte, ajuntamento ou reunião ou ainda aldeamento de negro fugido. Contudo, a construção de sentidos está intimamente ligada aos arranjos políticos da época (e do local) e ao poder detido por certo grupo social, em determinado espaço/tempo. Os sentidos ganham sentido por meio do trânsito (fluido ou entravado) sofrido pelo termo, dos interesses dos sujeitos constituintes dos grupos sociais e do empoderamento destes mesmos grupos. Ainda neste texto sublinharemos aspectos referentes à história, cultura e educação nos quilombos, objetivando contribuir para a construção de um currículo plural, inclusivo e democrático.

138  (NPGECIMA/GEPIADDE/UFS). [email protected] 139  (NPGECIMA/GEPIADDE/NEAB/UFS) [email protected]

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ANAIS 2012

SC 09

História da África e Experiências Africanas na Diáspora.

RELIGIOSIDADE, CULTURA E RESISTÊNCIA Dirceu do Socorro Pereira140 Palavras-chave: Religiosidade, Cultura, Vivência, Resistência.

Historicamente Salvador sempre ostentou a máxima de ter uma igreja para cada dia do ano, o que não se caracteriza uma verdade, mas a Igreja de Nossa Senhora do Rosário terá um destaque por ser um ícone de representação da luta dos africanos para obterem da igreja um espaço onde pudesse vivência as práticas cristãs católicas, sem perder de vistas as suas tradições e raízes culturais. A realidade construída na Bahia, em se tratando dessa vivência de religiosidade, onde os elementos do cristianismo se confrontaram com os de matriz africana; remonta-nos para o passado histórico, do período colonial, onde os antepassados africanos tiveram que criar mecanismos de resistência para enfrentar a obrigatoriedade de ter como espaço de culto a Igreja Católica. Este processo de resistência revelou-se, por exemplo, na prática de associação dos orixás aos santos católicos, prática sempre tratada como sincrética, evidentemente que, no sentido de mistura. Portanto, esse trabalho busca contribuir com as discussões sobre a dinâmica de religiosidade construída pelos africanos e seus descendentes que possibilitou novas vivências, suas contribuições para a reelaboração cultural e a resistência diante da imposição da Igreja católica.

140  Historiador, Especialista em Desigualdades Raciais e Educação, Mestre em Cultura, memória e Desenvolvimento Regional. E-MAIL: [email protected]

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UMA LÍNGUA AFRICANA NO CENTRO DE ESTUDOS AFRO ORIENTAIS (UFBA-1960) Luiza Nascimento dos Reis141

O ensino de diferentes línguas para fortalecer o intercâmbio cultural entre Brasil, África e Ásia era o ponto de partida para Agostinho da Silva quando articulou a fundação do Centro de Estudos Afro Orientais na Universidade da Bahia em fins de 1959142. No IV Colóquio de Estudos Luso-Brasileiros, realizado em setembro de 1959 na UBa, reuniram-se autoridades e intelectuais portugueses e brasileiros para discutirem “problemas de interesse luso-brasileiro”. O ensino da língua iorubá foi uma ideia surgida no Colóquio que Agostinho da Silva se propôs a articular, como informa em correspondência enviada ao pesquisador Pierre Verger em 16 de setembro de 1959. Neste texto explicita-se a intenção de promover um intercâmbio entre Bahia e países africanos, com atividades nos dois lados do Atlântico, bem como o importante apoio do reitor da Universidade, Edgar Santos, para a execução da proposta. Teremos um problema concreto a decidir: foi proposta no Colóquio de Estudos Luso-Brasileiros a criação na Faculdade de Filosofia do ensino de uma língua africana. A proposta foi aprovada e logo veio a ideia de que se ensinasse iorubá, ficando eu encarregado de promover as gestões sobre o assunto. Seria necessário, para evitar certas intervenções locais que o professor viesse daí mesmo e fosse uma pessoa com bastante conhecimento científico da língua e ao mesmo tempo com títulos que fossem indiscutíveis (...)143. Naquele ano, Verger viajava entre África, Europa e Brasil realizando pesquisas que trariam importantes contribuições para os estudos das relações entre a Bahia e o golfo do Benin. Obviamente que in-

141  Luiza Nascimento dos Reis; Professora Assistente/Visitante da Universidade Estadual de Santa Cruz, Graduada em História UESC; Mestre e Doutoranda em Estudos Étnicos e Africanos (UFBA); Pesquisa realizada com apoio da FAPESB; [email protected] 142  Ver SILVA, George Agostinho. Condições e missão da comunidade luso-brasileira e outros ensaios. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009, p. 11. À época chamava-se Universidade da Bahia. Atualmente Universidade Federal da Bahia. O CEAO começou a funcionar em 11 de setembro de 1959. 143  Carta de Agostinho da Silva a Pierre Verger em 16 de setembro de 1959. As cartas citadas foram consultadas no acervo do Centro de Estudos Afro Orientais.

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teressado nas trocas entre a Bahia e a África ocidental, foi para lá que Verger procurou estabelecer conexões acadêmicas. A articulação para o curso de iorubá, uma língua da África ocidental, era resultante de uma demanda da cidade de Salvador, como Agostinho ponderava, ao tentar articular um curso de “línguas bantas” com o especialista Rodrigo de Sá Nogueira. Assim sabia que na Bahia “o interesse maior seja pelo iorubá” 144. O contato com Verger foi profícuo. Em resposta à carta de Agostinho da Silva, Verger se disse estar “feliz” pelo CEAO já ser uma realidade e sobre algum candidato, um nigeriano para dar aulas na Bahia, apresentava sugestão. Pensei que o tal E. L. Lasebikan, autor de vários livros de ensino de Yoruba seria o mais indicado. [...] Parece ser um elemento de grande interesse, por ser, não somente um bom professor, porém também um intelectual de certa categoria que tomou parte relevante em congressos de escritores africanos como o que tive em Paris faz poucos anos. Ademais de suas qualidades de professor, tem sensibilidade, se interessa em poesia yoruba e parece que não é cortado das tradições antigas que tem interesse para a melhor compreensão da herança africana que a Bahia tem145. Mergulhado na cosmogonia religiosa dos candomblés da Bahia e nos ritos tradicionais iorubanos, era deste ponto que Verger olhava para a história e cultura iorubana. A língua iorubá mantida nos rituais do candomblé, não deveria ser ensinada por uma pessoa que desconhecesse seus valores ancestrais. Verger pensava num intercâmbio cultural e religioso entre Nigéria e Bahia, por via acadêmica, onde o povo de santo estivesse envolvido146. Ebenézer Latunde Lasebikan tinha a vantagem de ter títulos universitários, publicação de livros, mas Verger questionava se ele teria o conhecimento das tradições iorubanas tão importantes para o intercâmbio. Assim, sugeriu outro candidato: Olaiya Fagmagbe, do Peter College que não tinha tantos títulos, mas tinha “interes nas tradiçoens Youruba, e conhecer las bastante, o que se encontra dificilmente por agora dentro do medio dos universitarios ja tocados demais pela ensenhança oc144  Carta enviada por Agostinho da Silva a Rodrigo de Sá Nogueira em 21de novembro de 1959. 145  Carta enviada por Pierre Verger a Agostinho da Silva em 16 de outubro de 1959. 146  As atividades promovidas pelo CEAO, no sentido de retomar as relações entre Brasil e África, como o curso de iorubá, foram resultantes de articulações entre pesquisadores e terreiros de candomblé. Os jovens pesquisadores que se aproximaram do Centro, como Vivaldo da Costa Lima e Yêda Pessoa de Castro, foram mobilizados pelo interesse em compreender as supostas raízes africanas do candomblé que estariam localizadas na África ocidental, a exemplo da Nigéria.

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cidentalizada que han recebidos”147. Ambos responderam entusiasmadamente ante a possibilidade de vir à Bahia. Entre o final do ano de 1959 e o início de 1960, várias correspondências foram trocadas entre Agostinho da Silva e os candidatos. Lasebikan e Fagmagbe enviaram informações sobre a trajetória acadêmica e receberam informações sobre as condições de trabalho na Bahia. Agostinho, dividido entre os candidatos, pensava na possibilidade de trazer os dois, apenas em momentos diferentes: “inclina-se o reitor para o Lasebikan e inclinam-se outros amigos para o Fagmagbe. A minha ideia que haveria de fazer as duas coisas, vindo sucessivamente a Bahia um e outro”148. No início do ano seguinte reiterava sua inquietação ante a demora na resolução do professor: “gostaríamos bem de que o curso se iniciasse o mais depressa possível já que os outros nossos cursos, bem menos importantes para a Bahia já vão em bom andamento”149. Lasebikan, após concordar com as condições de trabalho, foi escolhido para vir, cuja resposta positiva mandou em 01 de abril150. O curso, porém, não começaria de imediato. O professor escolhido precisou remarcar as datas. Não poderia vir em maio por conta de exames a serem realizados em Londres. Sairia de navio em 08 de julho e chegaria no dia 21 do mesmo mês151. Certamente a inserção e titulação acadêmica de Lasebikan pesaram para sua vinda ao Brasil. O CEAO, em fase de instalação e sofrendo pressões por conta da oposição de setores dentro da Universidade, precisava legitimar-se academicamente e, para isso, os títulos se faziam importantes. O curso de iorubá marcou a história da Universidade da Bahia. Primeiro, pelo fato do professor ser um africano. Por outro, as aulas foram disponibilizadas a pessoas sem escolaridade e negras, notadamente o povo de santo que, pela primeira vez puderam usufruir de uma atividade regular na instituição. Os terreiros estavam articulados com essa atividade e o aguardavam ansiosos. Em 02 de abril de 1960, Jorge Manuel, da Federação do Culto Afro-Brasileiro, informava ao CEAO ter sido comunicado sobre o plano de intercâmbio Brasil-África e apo147  Carta de Pierre Verger a Agostinho da Silva em 25 de outubro de 1959. 148  Carta de Silva a Verger em 17 de novembro de 1959. 149  Carta de Silva a Verger em 14 de janeiro de 1960. Agostinho da Silva, mais interessado no intercâmbio com países do continente africano, referia-se ao curso de hebraico iniciado em 09 de novembro de 1959, como informava a Associação dos Israelitas na Bahia em 26 de outubro de 1959. 150  Carta de Lasebikan a Silva em 01 de abril de 1960. 151  Carta de Lasebikan a Silva em 04 abril de 1960.

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iava o curso de Lasebikan “cuja iniciativa essa Federação manifesta de logo seu apoio e propõe fazer sentir aos filiados dessa Federação a necessidade imprescindível do seu comparecimento para o aperfeiçoamento do idioma dos nossos antepassados”. Enviava a lista dos terreiros que faziam parte da Federação e solicitava ser informado da chegada do professor nigeriano com antecedência152. O professor Waldir Freitas Oliveira, integrado a equipe do CEAO como responsável pelo setor de cursos e intercâmbio, deixa entrever o impacto que as aulas de iorubá causaram na Universidade da Bahia, na comunidade de candomblé e nele próprio. Sua relativa distância do candomblé não o fez compreender o significado que a língua assumia para a identidade do povo de santo. O curso era resultado de uma articulação que incluía os terreiros, notoriamente os mais tradicionais que mantinham grande interlocução com intelectuais. Enxergou a iniciativa apenas como uma forma de prestígio, o que também acontecia. E, logo depois do Lasebikan ter chegado já o Agostinho tinha ido embora e eu continuei o curso. E continuei o curso tendo uma surpresa porque no curso de iorubá, só se matricularam... Quando eu fui ver quem eram as pessoas que se matriculavam [...] só tinha gente do candomblé que estava querendo aprender o iorubápara transformar o conhecimento da língua iorubá num canal de ascensão dentro do grupo de candomblé [...] ���������������������������������������������� Me aborreci, mas, depois voltei para Bahia e compreendi que na realidade o curso de iorubá dado por Lasebikan era uma espécie de fortalecimento das casas de candomblé e não uma tentativa de compreensão da cultura africana. [...]153. As cobranças em torno da existência do curso de iorubá frequentado pelo povo de candomblé na Universidade incomodavam ao professor Waldir Oliveira, ao ponto de afirmar, em outro depoimento que, após a citada fala maliciosa do Ribeiro, estudou “uma maneira de acabar com aquele curso” 154. Para Lasebikan a experiência foi deveras marcante. Estudioso da língua, com livros publicados sobre o assunto, o impacto foi grande em trabalhar com um grupo que não estava interessado nas alterações que a língua sofreu, na maneira mais adequada de pronunciar as palavras ou suas regras gramaticais. Ao povo de santo in-

152  Carta de Jorge Manuel a Silva em 02 de abril de 1960. 153  Entrevista com Waldir Oliveira realizada por Cláudio Pereira. Gravada. 58 min. 154  OLIVEIRA, Waldir. A pesquisa sobre os afro-brasileiros: entrevista de Waldir Freitas Oliveira. Estudos Avançados. 18, 50 . p. 127-134, 2004.

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teressava conhecer o significado daquela língua do jeito que se cantava nos terreiros e entender seu significado. Era a língua ritual, entoada nas músicas sagradas dos candomblés, não poderia ser simplesmente mudada a partir de novas regras. A língua, a semelhança do argumento em torno da comunidade de língua portuguesa, aparecia como elemento identitário poderoso na afirmação do povo de santo. Algumas notas jornalísticas evidenciavam a relação entre o curso de iorubá promovido no CEAO e o povo de santo de Salvador reforçando a ideia de uma permanência cultural entre certas regiões da África – a citar sua parte ocidental - e a Bahia, embasando o argumento do nagocentrismo tão marcante na história do CEAO155. Lasebikan permaneceu até 1965 em Salvador, com sua família, a ministrar as aulas de iorubá.

DIÁSPORA AFRICANA NO BRASIL: O EXEMPLO DAS IRMANDADES DOS HOMENS PRETOS EM SERGIPE D´EL REY

155  DANTAS, Beatriz Góis. Vovó nagô e papai branco: usos e abusos da África no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

156  Professora da Universidade do Estado da Bahia, campus XVIII, doutoranda em História Social pela UFBA.

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Joceneide Cunha156

Os trabalhos sobre diáspora africana remontam ao século XIX, todavia, no decorrer do século XX o número de pesquisas sobre a temática aumentou e esse tema continua sendo uma preocupação na atualidade. Ressalto que esses trabalhos versam sobre os africanos nas diversas regiões das Américas como o Caribe.Trabalhos que abordam não somente o número de africanos traficados, mas que abordam a linguística comparativa, religião, música e demais legados dos africanos diaspóricos. Os centro-africanos representam cerca de 45% dos africanos traficados para as Américas ao longo dos quatro séculos. No entanto, segundo Heywood poucas pesquisas trataram dos centro-africanos e suas práticas culturais nas Américas. (HEYWOOD, 2008, 16-18). Para Vansina os centro-africanos construíram uma base comum ainda no continente africano, e eram em sua maioria de três grupos os Ovimbundo, Umbundo e Congo. Os africanos desses três grandes grupos se entendiam entre si, o que facilitou a construção dessa base comum. (VANSINA, 2008,8-9). Slenes também concorda com essa afirmativa, segundo ele esses africanos centro-ocidentais formaram uma proto-naçãobantu na zona rural de São Paulo. A grande questão colocada é em qual medida as culturas afro-diaspóricas e americanas foram influenciadas por culturas africanas? Ou ainda como as identidades e etnias africanas foram modificadas nas Américas? As respostas para essas perguntas ainda são debatidas pelos estudiosos do assunto. Uma das experiências dos africanos na diáspora nas Américas é a construção das Irmandades dos Homens Pretos.Para Reginaldo, as irmandades dos Homens Pretos no Brasil é fruto de uma experiência cultural triangular Portugal. África e Brasil. (REGINALDO, 2005). As irmandades eram associações de leigos que possuíam uma devoção comum e cuja finalidade era a ajuda mútua, socialização e diversão. Essas associações foram muitos comuns no período colonial e no século XIX e contribuíram

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para a conversão e propagação do catolicismo.As irmandades são exemplos das instituições criadas pelos africanos dentro das possibilidades do Novo Mundo e que permitiu os africanos se relacionarem com pessoas livres, pobres ou não, em uma esfera que não era o da intimidade nem o do trabalho. Neste texto apontarei alguns aspectos dessas Irmandades na Capitania de Sergipe D´el Rey no período dos Setecentos. Ressalto que nesse período a Capitania de Sergipe D´el Rey era subordinada a Capitania da Baía de Todos os Santos. As fontes primárias utilizadas foram os compromissos das irmandades, testamentos dentre outras fontes históricas. Os compromissos eram documentos produzidos pelas Irmandades e que continha quem podia participar das citadas Instituições, os valores das taxas, em suma, os deveres e direitos dos irmãos e irmãs. As Irmandades dos Homens Pretos escolhidas para serem estudadas foram as das Vilas de São Cristóvão, Santo Amaro, Vila Nova Real D´el Rei, Lagarto e das povoações de Rosário e Estância. Enfatizo que no decorrer do século XVIII ocorreu a expansão canavieira nas terras sergipanas e com isso um grande número de africanos escravizados chegaram às citadas terras, sobretudo os angolas. Eles possivelmente foram maioria em quase todas as vilas, no entanto, as proporções variaram bem como as outras nações africanas que eles conviveram. E um dos espaços que os angolas conviveram com africanos de outras nações como os minas ou jejes, como também com os crioulos foram nas Irmandades. As Irmandades de Homens Pretos em Sergipe tinham como principal devoção Nossa Senhora do Rosário; o culto a referida Nossa Senhora foi difundido por jesuítas e carmelitas e essas ordens religiosas fizeram trabalhos de catequese em Sergipe. Outro aspecto importante de salientar é que alguns desses africanos, sobretudos os centro-africanos, já possuíam uma experiência católica nas terras africanas, incluindo a participação nas Irmandades. Essas irmandades tiveram seus compromissos aprovados entre os anos de 1769 e 1800, o que indicia que elas existiam desde meados dos Setecentos. A da povoação de Rosário produz documentos desde 1732. Os indícios mostram que nas cinco irmandades do Rosário dos Homens Pretos, homens e mulheres, africanos, brasileiros e portugueses, escravizados, libertos ou livres, brancos, pardos e pretos podiam torna-se irmãos. Dos três estatutos encontrados, dois fazem referência a nações africanas, o de São Cristóvão e o de Vila Nova. A primeira Irmandade se refere aos angolas e a segunda aos Ethiopinos, em posição de

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destaque, pois os dois grupos podiam ocupar cargos na irmandade. A minha hipótese para a não citação aos africanos no estatuto da irmandade de Lagarto é devido ao pequeno número de africanos na Vila e por isso possivelmente não eram numerosos na irmandade e assim pouco disputaria cargos na confraria. Na irmandade de São Cristóvão, angolas e crioulos dividiam a mesa administrativa, somando um total de quatro juízes, dois homens e duas mulheres e quatro procuradores. Essa configuração evidencia como os angolas eram numerosos na irmandade e possuíam uma relação amistosa e com alguns interesses comuns aos crioulos, já que ambos dividiam a citada mesa administrativa. No entanto, esses grupos além de possuírem interesses comuns também tinham os distintos e por isso precisavam ser representados de forma distinta. Outro aspecto evidenciado através da composição da mesa é que entre os africanos, os angolas possivelmente eram hegemônicos nessa irmandade. Na segunda irmandade, a leitura do estatuto, indicia que a relação era conflituosa entre ethiopinos e crioulos, pois os mesmos se revezavam no cargo de no cargo de Juiz-Presidente, possivelmente o principal cargo da irmandade. Todavia, pode-se nos questionar quem eram os angolas e ethiopinos? Retornando ao estatuto da irmandade de Vila Nova, ele também evidencia a existência de africanos de diversas nações. Pois no momento de entrada de novos irmãos buscavam-se referências desses africanos com os do mesmo país, ou seja, possivelmente com um irmão da mesma nação. Assim ethiopinos, eram africanos de diversas localidades. Em suma, na irmandade de São Cristóvão os angolas eram hegemônicos, e na de Vila Nova, africanos de diversas localidades que se identificavam como cristãos dividiam o poder com os crioulos. Por fim, as irmandades foi um lugar de trânsito de africanos e africanas, de (re)construção de identidades e de sociabilidades.

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O SAMBA DE DONA SENHORA: UM ESTUDO DE DEVOÇÃO E FESTA DO SERTÃO DA BAHIA

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LEITURAS SOBRE A ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA Juvenal de Carvalho158

Rodrigo F. Lopes

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Palavras-chave: Religiosidade, Cultura, Sertão.

A coexistência dos elementos rituais e festivos de origem africana e ameríndia, se deu de forma muito intensa no sertão baiano, a partir das interações étnicas e culturais surgidas com a dinâmica da colonização daquela região, a partir do século XVII. Proponho neste trabalho, uma leitura sobre o “Samba”, denominação que recebem as festas devocionais onde convivem deuses africanos e encantados indígenas, na cidade de Mundo Novo, localizada no sertão norte da Bahia, e que tiveram lugar frequente a partir dos anos 1950/1960. A denominação “samba” é, a um só tempo, elemento que caracteriza a ritualística e o lúdico na festividade, criando possibilidades de identidade e aceitação da religiosidade afro-brasileira em Mundo Novo. O ponto de partida para a compreensão das dinâmicas sociais em torno das manifestações religiosas afro-brasileiras em Mundo Novo são as memórias de Dona Senhora, responsável pelo samba mais famoso do lugar. Nos depoimentos de Dona Senhora, descortinam-se essas resistências, sociabilidades, preconceitos, posições políticas locais e regionais, transformadas em apoio, tolerância ou perseguição ao samba, aos sambistas e a todo o simbolismo que a organização do Samba representava para seus frequentadores.

157  Prof. Ms. em História/ Universidade do Estado da Bahia - UNEB

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O tema da minha intervenção nesta mesa é a escravidão na África. Trata-se de uma questão que sempre resistir em discutir porque a imagem da África, predominante aqui no Brasil, sempre associa o continente africano a fome, miséria, pobreza, violência, guerra e... ESCRAVIDÃO.!! Para enfrentar essa perspectiva hegemônica sempre preferir falar das riquezas africanas. A riqueza humana, cultural, social, política e, sobretudo, a riqueza econômica que, a meu ver, esse sim é o verdadeiro problema da África. Uma experiência recente me fez mudar de ideia. Participei de uma banca de concurso para selecionar professores para uma instituição federal de ensino médio. Fiquei impressionado como candidatos de formação recente, que estudaram ou deveriam ter estudado História da África, afirmaram categoricamente que “na África já existia escravidão e que por isso o tráfico...”!! Como isso é possível? Desconhecem que existe um largo debate, várias interpretações, muitas polêmicas sobre essa questão da escravidão na África? Passei a considerar necessário polemizar com essa ideia. O objetivo deste texto é apenas chamar a atenção para o debate, trocando a afirmação categórica pela pergunta, as certezas pela polêmica. Entre nós, a escravidão nas Américas e o tráfico atlântico são temas sistematicamente estudados. O mesmo não se pode se dizer sobre a natureza da escravidão na África, menos ainda sobre os impactos do tráfico Atlântico nas formações sociais africanas159. Segundo Pantoja, um entendimento da escravidão na África necessita de uma reflexão sobre as sociedades baseadas no parentesco, suas formas de propriedade, os direitos pessoais e os comunitários, os mecanismos de transferência de direitos, as regras de casamento e adoção. Sem tal reflexão é possível ser surpreendido com situações em que um livre poderia ser vendido e o escravo não. A escravidão na África tem suas particularidades. Não era a 158  Mestre em História, professor de História da África da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Integra o grupo de pesquisa Núcleo de estudos afro-brasileiros do Recôncavo da Bahia, NEAB-UFRB e a coordenação do GT-História da África da ANPUH-Ba. 159  PANTOJA, Selma. Nzinga Mbandi: mulher, guerra e escravidão. Brasília, Thesaurus, 2000.

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mesma coisa da escravidão nas Américas. Se isto é verdade, o que teria sido exatamente essa escravidão? Alberto da Costa e Silva160 faz objeções aos que resistem a utilizar o termo “escravidão” para se referir à África. Qual seria a diferença desta instituição nas Américas, nas Áfricas, em Roma ou na Grécia? Certamente que, afirma Silva, havia especificidades em cada uma delas, mas aspectos comuns existiam permitindo-nos usar sem reservas o termo escravidão. Segundo Silva, o que caracteriza a escravidão é a propriedade de um individuo sobre outro, submetido pela força, levado a uma morte social por ter sido tirado do seu meio, de suas tradições, de sua cultura. O escravizado é uma mercadoria a disposição do senhor, podendo ser vendido, colocado para trabalhar ou ser morto. Aqui há um traço especial, a saber, o escravizado realiza tarefas que só humanos podem realizar, mas um escravizado não era considerado um ser humano, quando muito é um humano diferente, estranho, inferior, de segunda categoria. Silva afirma que a escravidão não foi igual em toda parte, durante todo o tempo. Destaca uma escravidão do tipo doméstica, familiar, patriarcal típica de sociedades agrícolas com comunidades dispersas por vastas áreas, com baixa densidade demográfica. Nestas circunstâncias o escravizado vivia com o senhor e seus familiares, realizava as mesmas tarefas, consumia os mesmos bens, eram estimulados a reproduzirem, a terem filhos que poderiam ser incorporados, com o tempo, à linhagem do senhor. A escravidão neste caso não era a força de trabalho principal. As sociedades baseadas nas linhagens não tinham distinção de classes161. A divisão do trabalho era montada com base nas diferenças de idade e no sexo. O poder estava nas mãos dos mais velhos que controlavam o acesso às mulheres, ao casamento, o acesso aos bens comunais imóveis e garantiam a cooperação dos mais jovens na produção. Todos esses, mulheres, crianças, jovens estavam numa relação de dependência com o chefe, o ancião. O escravizado era mais um dependente. Possuir escravos era aumentar a capacidade produtiva e reprodutiva, era aumentar

o número de dependentes, era aumentar o poder do senhor. Kátia Mattoso162 destaca que este não era o único tipo de escravidão. Em algumas sociedades de maior densidade demográfica e urbanização encontramos sistemas escravistas complexos com grande concentração de escravizados trabalhando nos campos, nas minas, na administração, nos exércitos. Mattoso fala da região “sudano-saheliano”. Silva é mais específico ao indicar a Núbia, Mali, Songai, Kano, Canen-bornu, Zazau. Pantoja, Silva e também Roland Oliver163 destacam que a escravidão é muito antiga na África. Silva afirma que há registros de negros escravizados no Egito Antigo, na Grécia, em Roma e na Arábia pré-islâmica, o que pressupõe a existência de um comércio de escravos e da escravidão. O autor manifesta dúvidas sobre como a escravidão começou na Núbia. Será que ela já existia nesta parte do Nilo quando os Egípcios, aproximadamente em 2680 AC, invadiram a região e levaram 7000 pessoas? Ou teria sido tais campanhas que introduziram a escravidão? Segundo Silva, não há como saber isto. Menos ainda quando começou a escravidão na Etiópia ou na Somália. Lembra que o comércio com a península arábica é muito antigo, mas não se sabe a partir de qual momento a venda de escravizados passou a fazer parte dele. Conclui que a escravidão tem na África uma longa História que, em algumas regiões, foi até o século XX, a exemplo da Mauritânia onde só foi abolida legalmente em 1981. Oliver por sua vez vai mais longe ainda. Ao ler esse autor tem se a impressão de que a escravidão é um processo natural. Afirma ele que o homem escraviza o homem desde os primórdios da humanidade quando as guerras, as lutas pela sobrevivência acabavam com o aprisionamento e a escravização dos vencidos. Assim foi na África. Para Oliver, apoiando-se em vestígios arqueológicos, existem provas da presença de escravos no Egito prédinástico, o que confirma que a escravidão foi uma instituição antiga e disseminada por todo o continente. A expansão islâmica iniciada no século VII herdou essa experiência dos africanos com o tráfico e a escravidão. Pelas

160  COSTA E SILVA, Alberto. A manilha e o Libambo. A África e a escravidão, 1500 A 1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. 161  Ver COSTA E SILVA, Alberto. A manilha e o Libambo. A África e a escravidão, 1500 A 1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002; LOVEJOY, Paul E. A escravidão na África: uma história de suas transformações. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002; MEILLASOUX, Claude. Antropologia da escravidão. O ventre, o ferro e o dinheiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1995; PANTOJA, Selma. Nzinga Mbandi: mulher, guerra e escravidão. Brasília, Thesaurus, 2000.

162  MATTOSO, Kátia. Ser escravo no Brasil. São Paulo, editora brasiliense, 1978. 163  OLIVER, Roland. A experiência africana. Da Pré-história aos dias atuais. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores, 1994.

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rotas do Saara e do Mar vermelho um intenso e sistemático comércio foi estabelecido. A escravidão era vista no Islã como uma forma de incorporar e converter infiéis. Certamente que não era só isso que alimentava as guerras santas mantidas constantemente nas fronteiras do mundo islâmico. Este tráfico transaariano repercutiu, direta ou indiretamente, em boa parte da África. Estados negros islamizados escravizaram em larga escala. O tráfico Atlântico foi, portanto precedido por esta longa “História africana de escravidão e de comércio de escravos”. Assim sendo, podemos retornar à questão inicial sobre o impacto do tráfico transatlântico na escravidão dentro do continente africano. Na síntese que acaba de ser feita alguns pontos são polêmicos e estão em debate. O primeiro ponto é o caráter desta escravidão africana. A incorporação dos descendentes à linhagem do senhor, o trabalhar junto, viver junto, o fato de o trabalho escravo ser secundário, marginal, não sendo o elemento central do processo produtivo leva alguns autores a considerar a escravidão africana como algo diferente, mais branda, para alguns, benigna e humanizadora. Uma variante mais radical desta corrente, que Alberto da Costa e Silva classifica como “Absorcionista” chega a negar a utilização do termo escravidão para definir tais relações sociais. Meillasoux, por exemplo, afirma “não é bem uma escravidão”. Nesta corrente mais ampla pode-se enquadrar Paul Lovejoy e Kátia Mattoso. A perspectiva de uma escravidão benigna e branda é fortemente rebatida por Alberto da Costa e Silva, John Thornton164, Roland Oliver e Selma Pantoja. A leitura de Olivier, como dito anteriormente, quase naturaliza a escravidão na África. Duas contestações parece-me vigorosas. Thornton afirma que a escravidão foi um desenvolvimento interno das sociedades africanas. Os processos de diferenciação social, a escravidão e a centralização política verificados em algumas regiões foram produtos internos. Alberto da Costa e Silva faz uma contestação mais direta ao afirmar que os mecanismos absorção não eram absolutos. A integração do descendente na linhagem do senhor não alterava a situação atual do escravo. O fato de este viver junto pode ser também visto como uma violência ainda maior, pois se faziam as mesmas coisas e viviam nas mesmas condições como explicar direitos diferentes? Silva dest-

164  THORNTON, John. A África e os africanos na formação do mundo atlântico 1400-1800. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2004.

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aca que se algumas sociedades eram mais benevolentes outras em nada se diferenciavam em termos de violência e crueldade da escravidão em lugares e épocas. Só como exemplo vale lembrar que escravos poderiam ser sacrifcados pelos mais variados motivos. Silva informa ainda que os processos de incorporação devem ser relativizados. Se em certas sociedades a incorporação poderia ser completa, em outras o sujeito ou o descendente livre continuaria sempre carregando a marca do antepassado escravo. Os que consideram a “escravidão africana” como algo diferente, singular ou uma “não-escravidão” tende a considerar que o tráfico transatlântico promoveu uma ruptura radical nas estruturas sociais africanas, uma modificação das sociedades baseadas nas relações domésticas. Meillaisoux destaca a diferença entre uma “escravidão de subsistência” e uma “escravidão mercantil” voltada para o lucro. Neste último caso o comércio tem um papel central, pois, como ele afirma, é através do comércio que se produz o distanciamento do cativo do seu meio, transformando-o num estranho sem raiz, condição vital para ser escravizado. Notem que nesta abordagem um cativo não é escravo. Só passa a ser quando for capaz de ser usado produtivamente e isso só é possível como o distanciamento do seu lugar de origem, daí a importância do comércio. A existência de escravo não é suficiente para a existência de uma sociedade escravista. Isto só ocorre onde a escravidão é a relação de trabalho fundamental, predominante e decisiva. Essa linha de pensamento vai concluir que o tráfico de escravos, primeiro pelo mundo islâmico através das rotas transaarianas e pelo índico e depois pelos europeus através do Atlântico foi quem modificou, transformou radicalmente a escravidão na África criando sociedades escravistas. Thornton, Olivier e Fage consideram que é a existência já consolidada da escravidão e do tráfico que explica o comércio pelo Atlântico. Tais eram “inatas e amplamente disseminadas”. Os europeus apenas chegaram aumentando a demanda por uma mercadoria já amplamente posta no mercado. Thornton chega mesmo a duvidar se o comércio pelo Atlântico produziu mesmo uma expansão do tráfico em geral. Segundo Thornton, afirmar que foi o tráfico atlântico que modificou a escravidão na África é pressupor que os africanos foram vítimas passivas. Ele afirma que os lideres africanos eram comerciantes experientes que sabiam o que estavam fazendo. O tráfico, prossegue Thornton, foi organizado, desenvolvido e controlado por africanos. Dizer que a África per-

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deu com o tráfico não seria verdade. Alguns africanos perderam outros não. Ganharam e muito. O que podemos concluir dessas observações feitas até aqui? Considero que existe neste debate um forte componente políticoideológico. Trata-se de atribuir maior ou menor responsabilidade aos europeus no processo de exploração da África. Se o tráfico de escravos foi organizado e controlado pelos africanos, o que fizeram os europeus? Nada. Ao contrário, se o tráfico atlântico modificou as estruturas internas da África, promovendo a centralização, as guerras e um novo tipo de escravidão as implicações são evidentes. Sigo os passos de Selma Pantoja que logo no início descartou as ideias sobre escravidão benigna. Uso, para justificar tal atitude, o argumento de Alberto da Costa e Silva que afirmou: “se alguém é propriedade de alguém” não importa se é tratado com benevolência ou crueldade. Sua condição última é a de um objeto. Não há outro nome para darmos a isso que não seja escravidão. Esta visão nos deixa livre para afirmar sem temor que existiu uma escravidão na África e que o tráfico intercontinental, seja pelo Índico, pelo Saara ou pelo Atlântico produziu transformações de quantidade e de qualidade nesta escravidão. Concordo com Silva quando diz que escravidão é sempre escravidão. Mas concordo também com Meilassoux que diferencia a escravidão de subsistência da escravidão mercantil.

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TEMAS E PROBLEMAS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E AS REVISÕES PROPOSTAS PELAS CIENCIAS HUMANAS Cristiane Batista da Silva Santos165 Palavras-chave: Ensino, História da África, Revisão epistemológica e conceitual.

“Até que os leões possam contar suas próprias historias, as historias de caça vão sempre glorificar o caçador” (ditado africano). O presente texto propõe-se a discutir como novas perspectivas tanto conceituais quanto de abordagem e natureza epistemológicas, podem ocasionar uma revisão na proposta de ensino de História da África no Brasil, tanto no ensino superior quanto no básico. E ainda, refletir sobre as formas como alguns pensadores africanos, tem criticado e reelaborado as diferentes versões e escritas sobre a educação e o continente africano na contemporaneidade. A descolonialidade do saber implica numa questão subjacente quando se quer discutir o ensino da história da África contemporânea. È um desafio que a cada ano letivo torna-se mais necessário, o das questões epistemológicas e conceituais sobre as Áfricas. Seja no ensino superior ou na educação básica, o tema tem estado no debate do dia, embora alguns entraves e/ou confusões conceituais ainda possam ser apontadas. Para além das questões operacionais como quantidade de professor versus formação, currículo versus disciplina, material didático disponível versus referenciais atualizados, há muitas questões imbricadas. Mas aqui, prima-se por repensar as questões que incidem na escolha teórica do que deve ser abordado e problematizado no ensino. A busca por um ensino de história da África que (re) considere as discussões endógenas embasadas em autores africanos e/ou africanistas os quais tem autoridade discursiva para repensar a história africana, é uma premissa que deve ser urgentemente inclusa nos componentes curriculares sobre a África. Parece vigorar ainda uma ilusão empírica de achar que todo mundo fala em África tem um lugar de legitimidade. Se o grande interesse observado no meio educacional brasileiro recentemente é muito positivo 165  Professora de História da África do Campus XIII, UNEB, Integrante do Grupo de Pesquisa do ODEERE, doutoranda em Estudos Étnicos e Africanos na disciplina África e Ciências Humanas.

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para um país que nasceu da dinâmica da diáspora do tráfico transatlântico -, o mesmo ainda não é suficiente para garantir um ensino de tal envergadura apenas pelo viés da cultura e história afro-brasileira, é um processo que vai além e perpassa por um olhar sobre o continente antes e depois tanto do tráfico, quanto da colonização perpretada até finais do século XX, aí estão as raízes históricas – estruturais. No Brasil, o ensino e a pesquisa sobre ‘uma história da África’ tem passado há décadas por um boom da procura pelo tema e foi o mesmo da busca pelas discussões sobre a identidade étnicoracial, identidade negra, religião afro-brasileira, isto tudo num campo já marcado pela atuação do movimento negro cuja liderança marcou a esfera acadêmica, e esta por sua vez, incidiu na criação de centros de estudos e cursos de pós graduação, ocorrendo a reemergência dos movimentos – que tem estado á frente dos debates sobre o movimento negro desde a década de 70 - , junto com a sanção da lei166. Esta lei redesenhou o novo cenário que se configura na sociedade educacional brasileira do século XXI, no que tange ao ensino de história africana e afro-brasileira, embora ainda haja a persistência de algumas confusões tanto conceituais quanto da presença dos discursos colonizados e europeizados no currículo. Já se tornou senso comum falar dos olhares estereotipados sobre o continente africano, da abordagem baseada apenas no tripé: religião, comida baiana e candomblé e como se isso já fosse o suficiente para algumas escolas afirmarem que “trabalham com a lei e a história da África”. Esse reducionismo aparente indicia que de fato, uma revisão teórica e epistemológica se faz necessária. Para a escola, o ensino de História começa por uma questão conceitual e historiográfica. E daí decorre a indagação: o ensino em curso considera ou domina uma historiografia africanista com suas tendências, debates e novas contribuições teóricas? Quais histórias das Áfricas pretendemos ensinar? A cada proposta de ensino de História da África, costuma-se recorrer à programação curricular vigente que toma como base a divisão clássica correspondente à periodização europeia, ou seja, a que divide o estudo sobre o continente

166  Lei No 10.639, de 09 de Janeiro de 2003. “Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências”. Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

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africano de modo tripartite em pré-colonial, colonial e pós-colonial, bem como o comprometimento político e epistemológico que se torna ainda mais complexo, para quem busca novas abordagens como as que contemplam um ensino revisado e pautado na pesquisa e que considere a subalternidade do pensamento como proposta subjacente ao estudo da disciplina. Os estudos pós-coloniais são pensados aqui como possibilidade de contestação da dominação colonial colocada em pauta e em discurso na aula de História, assim como o reconhecimento e combate aos legados do colonialismo ainda vigentes. Esse olhar ou viés africano, se buscado como revisão e inserção para o ensino de África, é suficiente para ser pauta de um longo debate pelos estudiosos da história africana como ciência e como campo do conhecimento. E ainda mais no que tange às produções oriundas de acadêmicos africanos e/ou africanistas nas diversas áreas do conhecimento, tão profícuas e plurais, quantas ainda desconhecidas. Quais histórias das Áfricas queremos ensinar e qual versão queremos construir ou desconstruir? Uma primeira observação e/ou correção na pergunta que iniciamos esta reflexão, seria “quais histórias das áfricas queremos saber”? A África précolonial e seus modos de vida e cultura da antiguidade ao medievo? Ou no modo como as relações se deram no Congo Angola a partir da chegada dos portugueses até o início do longo e sistemático tráfico transatlântico? Ou ainda, interessaria mais o modo como no final do século XIX e até a segunda metade do XX, a presença efetiva do imperialismo e colonialismo europeu? Teríamos ainda outros vieses para sugerir como um recorte disciplinar, utilizando uma forma típica de ensino/estudo/pesquisa que se consagrou nos estudos tão debatidos e tão controversos sobre o continente africano. Os componentes curriculares acadêmicos que tomam a história do continente nas universidades baianas apresentam alguns elementos em comum, para fins de análise e comparação utilizaremos a experiência docente no ensino deste componente de História da África ministrado na Universidade do Estado da Bahia - UNEB, campus XIII, Itaberaba. É lamentável que depois de tantos anos de debates justificados a partir de uma legislação que sanciona e cobra o ensino de história da África e da cultura afro-brasileira, ainda se multipliquem tantos debates e produções em torno do que falta e das cobranças do que pode vir a ser. E mais, que as escolas ainda tenham como âncora um currículo eurocêntrico na prática, mesmo que o PPP - Projeto

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Político Pedagógico da escola teoricamente afirme que não. Este pauta- se muito timidamente na história da África e muitas vezes, não traz pesquisas com essa temática decorrente do que é ensinado. A estimativa aqui é feita com base nos trabalhos finais de curso defendidos nos cursos de licenciatura em História, seus temas e problemas167. Ao passo que temáticas ligadas aos os temas tidos como “afro-brasileiros” são muitos, principalmente no campo religioso do candomblé, em detrimento de temas que se debruçam em temáticas especificamente africanas como política, economia, cultura, gênero e festividades. Ainda assim, timidamente a história africana começa a ser introduzidos na educação básica, suscitado interesses do alunado pela história até então desconhecida para além das selvas e flagelos, apesar da ênfase ainda se dá em abordar apenas os grandes reinos e impérios africanos, ao passo que a história europeia continua recebendo por parte do currículo maior e significativa atenção. Essas informações podem ser conferidas nos livros de História distribuídos nos últimos dois anos no Ensino Médio da escola pública estadual. Informa-nos um dos maiores pesquisadores sobre o estado do ensino de história da África, Anderson Oliva. Um dos maiores equívocos encontrados é se referir à África apenas a partir do tráfico. É como se o continente não tivesse uma história anterior à escravidão atlântica. Neste caso, a África é apresentada aos alunos separada em duas ou três faixas étnico- geográficas- linguísticas de onde sairiam os escravos Quando procuram citar os grupos e sociedades africanas estudadas, os autores utilizam uma difundida ideia entre alguns historiadores que se serviram de padrões ou referenciais europeus para explicar o que encontravam em África. Neste sentido, encontrar os grandes “impérios”, as grandes construções e as esplendorosas obras de arte se tornou quase uma obsessão168. Entre a História africana e a afro-brasileira: são muitos apontamentos sobre o perigo da junção ou justaposição que se tem feito em algumas abordagens, planos de cursos e propostas de ensino na educação básica. Embora o estudo sobre a África tenha nascido ligado a história do negro no Brasil, ainda per-

siste a não valorização do passado africano pela maior parte do alunado, retroalimentado pelas representações negativas sobre o continente e mesmo sobre seus descendentes. Assiste-se atualmente a uma grande produção de conhecimento na África ou sobre a África, e esta produção é criticada e também é parte de algumas críticas, a partir da preocupação como a legitimidade e do “quão é africano os estudos e as produções decorrentes destas são”, como nos instiga Paul Hountondji169. Suas indagações oferecem aqui, um corpus teórico para a possibilidade de revisão política do que se ensina sobre a África. E assim percebemos que a expressão Estudos Africanos comporta uma diversidade de abordagens trans e multidisciplinares. Sobre os estudos africanos, é ainda Hountondji que esclarece, como a partir de uma perspectiva filosófica, que os denominados estudos africanos estão marcados por “uma espécie de pecado original”, ao qual ele atribui estarem impregnado de eurocentrismo e, consequentemente, por uma visão etnocêntrica. Esta tem origem na forma como os europeus partiram do entendimento de que os africanos não tinham autoconsciência de si e, por isso, só os ocidentais, poderiam, a partir do exterior, ou seja, exógeno, fazer aquilo que Hountondji chama de “traçar um quadro da sua sabedoria”. (p. 121). Outro fator que pesa nestas pesquisas são as análises recentes sobre a relação direta com alguns interesses externos ao continente e que acabam por ditar os rumos e temas das pesquisas recentes em África. Por conta destas especificidades, resta saber se as categorias epistemológicas escritas ainda são ou não a do dominador. Esta pergunta carece de reflexões e respostas variadas, para não dizer, polêmicas. Um grande conjunto de palavras parece compor o universo dos referenciais sem os quais uma nova abordagem da história africana não seria completa ou bem situada, sem tomá-las como eixo. E certamente, tais palavras como diáspora, identidade e pós colonialidade estão entre as balizas desse processo. Nestas, a diáspora, ao lado da expressão identidade, encabeçam como as que mais estão imbuídas de uma versão mítico-histórica no que tange aos estudos sobre a

167  Cf. Levantamento feito nos temas de conclusão de curso do campus XIII, Itaberaba-Ba no curso de História entre os anos de 2009 e 2011.2 168  OLIVA, Anderson Ribeiro. A África, o imaginário ocidental e os livros didáticos – reflexões de uma pesquisa acerca do ensino de História da África. In.PANTOJA, Selma, ROCHA, Selma José. Rompendo silêncios: história da África nos currículos escolares. Brasília: DP Comunicações Ltda, 2004, p.31

169  HOUNTONDJI, Paulin J. Conhecimento de África, conhecimento de Africanos: Duas perspectivas sobre os Estudos Africanos. In. Revista Crítica de Ciências Sociais, 80, Março 2008, pp. 149-160

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História da África no Brasil. A própria natureza da pós-colonialidade das produções acadêmicas no contexto da afirmação dos estados nacionais e da universidade nascidas no período colonial, teria (matrizes históricas antípodas teoricamente). Uma gama de ideias defendidas por alguns teóricos africanos podem ser apontadas aqui como verdadeiras posturas revisionistas que oferecem importantes pontos de partida para novos saberes sobre uma possível abordagem do atual estudo e estado da história da África no bojo das ciências humanas. Podemos sinalizar que a proposta desta reflexão encontra espaço na crescente emergência de uma crítica africana que revisa o olhar exógeno/endógeno do qual o continente foi jogo e objeto, depois do encontro com o mundo ocidental. Não é uma tarefa fácil. As dinâmicas compostas por encontros, produções, congressos e pesquisas oriundas do ou sobre o continente em curso, indiciam um processo que começou nos anos 90. O continente assistiu a emergência de movimentos sociais urbanos e rurais que primavam pela contestação política; diante de novos Estados e governos. Era ainda resquícios de como no pós- independência não se conseguia fugir muito da preocupação em torno do nacionalismo, a preocupação em escrever ainda sobre o colonialismo. Tandika Mkandawirê170 aponta esta preocupação diante do projeto da modernidade dos nacionalistas africanos, afinal o discurso que arregimentava era o do estado nação. O historiador Robert Slenes quanto a este período lembra que a decisão – tomada pela maioria dos africanistas europeus e norteamericanos, mas especialmente pelos historiadores africanos – de concentrar seus esforços na análise do “protagonismo consequente” (agency) das pessoas comuns, algo absolutamente negado pelo paradigma anterior171. Comecemos pensando na provocação com a qual este artigo se ocupa, pensando num texto fundamental para quem se propõe a estudar o continente e algumas questões atinentes ao conhecimento sobre a África contemporânea. Sobre isto, o texto de Paul Hountondji172 é bem cabível, pois seu

170  MKANDWIRE, Thandika. African intelectuals and nationalism. In: Mkandwire, Thandik (editor). African Intellectuals: rethinking politics, Language, Gender and Development. Dakar, CODESRIA, 2005, pp.10-55 171  SLENES, Robert W. A Importância da África para as Ciências Humanas. Texto apresentado no seminário “Respostas ao racismo: produção acadêmica e compromisso político em tempos de ações afirmativas” realizado em 3 de dezembro de 2009 no IFCH/UNICAMP 172  HOUNTONDJI, Paulin J. Conhecimento de África, conhecimento de Africanos: Duas perspectivas sobre os Estudos Africanos. In. Revista Crítica de Ciências Sociais, 80, Março 2008, pp. 149-160

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debate está em torno do termo “estudos africanos”, o que abarca um conjunto de disciplinas, cujo objeto de estudo é a África e os questionamentos sobre se é ou não possível falar em unidade para essas disciplinas chamadas em conjunto de estudos africanos. E afirma “por história africana entende-se normalmente o discurso histórico sobre África, e não necessariamente um discurso histórico proveniente de África ou produzido por africanos ” 173, para africanos completo. O autor ainda nos traz inquietações em seu texto, em torno da natureza das fontes e de como os estudos africanos estão sendo questionados pela academia atualmente, assim como pela autoria discursiva do que é escrito. Será que os “de fora” determinam o que é pensado e escrito sobre “os de dentro”? As pesquisas produzidas pelos cientistas e pesquisadores na África são de fato africanas? Não basta ser africano para determinar que a produção científica seja naturalmente imbuída de africanidade, ou mesmo de identidade africana. Os estudiosos africanos não necessariamente produzem conhecimentos endógenos tal como deveriam sobre a África. Atribui-se a isso, para Hountondji, que grande parte das produções são voltadas para fora, ao que ele chama de extravertidas. E ainda caberia uma terceira dimensão ligada a essa noção tal como: para quem produzimos? Hountondji sugere que o fazem sim, mas para os outros, ou produzem para ser legitimados no meio acadêmico de onde circulam as revistas europeias ou mesmo dos EUA. Neste lastro, a questão da língua daria um longo debate que não cabe aqui no limite deste texto, pois a dominação da língua do outro como predominância do inglês e francês têm muito a dizer sobre as produções acadêmicas africanas. O financiamento na África vem de fora, em regra são condicionadas àquilo que se produz ou não. Mais uma vez lembramos como quanto a isso, Hountondji chama de “conhecimentos extravertidos” para referir-se a esta produção endógena. E esse jogo simbólico deve ser considerado diante das escolhas teóricas que comporão os conteúdos, textos e teóricos para constituir o material de ensino de história da África contemporânea. Além do referido autor, e nesse conjunto expressivo do que chamamos aqui de repensar para ensinar sobre a natureza das produções africanas, destaca-se o modo como Valentin Yves

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Idem, ibidem, p.151

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Mudimbe174 tece severas críticas ao discurso eurocêntrico ainda presente. Encontramos tais críticas em suas obras The Invention of Africa (1998) e em The Idea of Africa (1994). Mas, algumas questões sempre recorrentes quando a proposta é pensar nas ciências humanas em África na atualidade, e de modo muito apropriado, - ainda mais no tocante ao repensar o ensino-, vem das reflexões de Boaventura de Sousa Santos175. Para este é preciso antes de tudo de uma descolonização epistemológica, ou seja, “uma epistemologia contra hegemônica” que se oponha a ideologia dominante e colabore para um novo modelo paradigmático da produção dos conhecimentos. Boaventura discute a permanência de certa colonialidade epistemológica, que faz com que o Norte interfira na mentalidade do Sul, e mais, de um sul geográfico e epistêmico, como modelo de produção do conhecimento. Assim, as temáticas de pesquisas tendem a ser elas também extravertidas, e os objetos de estudo consequentemente a responder àquilo que os outros interesses querem. Outro aspecto é a determinação dos critérios para investigação de certos temas. Existem? Está na moda o HIV, estiveram na moda outros temas. Mas, os investigadores poucas vezes visitam os arquivos africanos que ainda são fontes inesgotáveis que estão intactas. Arqueologia, literatura oral, oralidade, etc. São temas que tem muito a ver com a História da África. Muitas vezes o tema é do interesse do financiamento do investigador, respondendo a uma demanda externa, deixando de lado demandas internas. Os problemas persistem em torno da falta de projetos de investigação que envolva financiamento. Mas, nestes casos, o patrocínio vem em sua maioria de fora da África. Será que os investigadores conseguem colocar esses problemas visíveis nas produções que nós, professores de História da África de fora do continente, temos acesso? Os campos disciplinares que compõe o que conhecemos daqui como estudos africanos são capazes de dialogar? O filósofo Hountondji parece preocupado com o rumo das disciplinas e da interdisciplinaridade e nesta, aponta que a Filosofia aparece como importação de autores da cultura ocidental, esta última para ele, faze

174  MUDIMBE, V. Y., 1988, The Invention of Africa. Gnosis, Philosophy, and the Order of Knowledge, Bloomington, Indianapolis e Londres: Indiana University Press and James Currey. ______.The Idea of Africa, Bloomington, Indianapolis e Londres: Indiana University Press and James Currey. A 175  DE SOUSA SANTOS, Boaventura e Maria Paula Meneses (Orgs.) (2009). Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, 532 pp.

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na verdade uma etnologia, sobre o sistema de pensamento em África, mas não exatamente uma filosofia de África. E diz que: Ao longo do meu próprio percurso intelectual, fui sensibilizado para este problema e comecei a percepcioná-lo como problema ao ler livros sobre “filosofia africana” ou sistemas de pensamento africanos. Normalmente, os autores partiam do princípio de que os africanos não tinham consciência da sua própria filosofia e que apenas os analistas ocidentais, que os observavam a partir do exterior, poderiam traçar um quadro sistemático da sua sabedoria176. Neste sentido, Hountondji deixa perguntas inúmeras e incômodas tais como: de qual o lugar de onde o pesquisador está falando? O pesquisador de onde ele fala sobre a língua, a do colonizador? As categorias epistemológicas escritas são a do dominador? Desse modo, os objetos de pesquisa devem reportar-se ao desenvolvimento do país, bem como articular-se com o público leitor interno, ainda mais com a questão da dificuldade do domínio das línguas oficiais de um próprio país, o que implica que se a produção for na língua europeia restringe muito. A questão da língua e a produção acadêmica dos caminhos interdisciplinares, das considerações teóricas para o ensino de história da África contemporânea, mereceriam uma complexa reflexão quando se quer adentrar no campo do conhecimento para o ensino da história da África. Para Mario de Andrade177 o movimento e o processo da construção da nação via imprensa passam pelo uso da língua portuguesa e suas plurinações. No caso dos países africanos de colonização portuguesa, a única herança deixada é o português que fora socialmente ancorada e produzida numa espécie de português-africano. A língua é um instrumento de autonomização e libertação individual e coletiva dos grupos. O português perpassava nesses países como presença colonial e ideológica. A produção intelectual em África e o posicionamento de uma produção literária também tem provocado críticas do próprio continente, tanto que, quanto a isso, podemos perceber que se aproxima de fato da ideia de que a atividade científica é extravertida e por conta disto, o uso exclusivo de línguas europeias como veículo de expressão científica reforça esta alienação. Afinal, se 176  HOUNTONDJI, Paulin J. Conhecimento de África, Conhecimentos de Africanos: duas perspectivas sobre os estudos africanos, in SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (orgs.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010, pp. 131-144, p.113 177  ANDRADE, Mário de. Origens do nacionalismo Africano. Lisboa, D. Quixote, 1997

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muitos pesquisadores não são africanos, esta pesquisa é para quem? Vez que os africanos não têm acesso a maioria destas produções. A intelectualidade acadêmica em África responsável por estas produções tem um lugar de fala e este “lugar” deve ser considerado nas discussões que vão até a sala de aula e transformam-se em conteúdo didático sobre o continente, sob o risco da manutenção de visões coloniais ou de na verdade suplantá-las, esta última é o ideal. Sobre esta intelectualidade acadêmica, Mahmood Mandani178 observa algumas formulações de alguns contextos para pensar a África como um todo, incluindo especificamente a universidade, seus intelectuais e sua formação. Para isto ele considera o contexto de nascimento da universidade que nasce no período colonial, especialmente nos espaços francófonos e lusófonos. O autor lembra de como até a II Guerra Mundial, o ensino era técnico, e o objetivo era formar mão de obra capacitada para atender ao poder local; o ensino realizado não problematizava outras questões. Só depois, ocorre a pesquisa por interesse e do estado colonial em estudar as sociedades africanas, seus movimentos e comportamentos. E referindo-se ao contexto da formação dos estados pós-coloniais, ele lembra o movimento de reivindicação pela educação que foi umas das bandeiras do movimento nacionalista. Já a educação superior só chegou às colônias na década de 1960, nas possessões ultramarinas portuguesas, só em Angola e Moçambique. O estado colonial usa educação como meio de lógica do desenvolvimento do estado com interesse especifico, a educação estará atrelada a essa lógica e surgem atreladas a modelos clássicos. O estado colonial coloca-se como tutor dessa universidade, gestada pelo estado independente; ao que Paula Menezes chama de “doutrina colonial europeia em relação aos territórios ultramarinos”. Na Universidade de Nairóbi, uma das mais antigas, o corpo, era estrangeiro com ideais e antinacionalistas e observa-se que do estado colonial para o pós-colonial não há uma mudança tão brusca na universidade, muda os interesses do Estado. A constituição do percurso da sistematização das instituições educacionais em África foram paralelas a emergência dos estados africanos e isto contou com uma série de limi-

178  MANDANI, Mahmood. Introdução a busca das liberdades acadêmicas. In: Liberdade acadêmica na África. Senegal: Codesria, 1994. pp. 1-18.

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tações. Quanto a isso, Mkandawire179, lembra da era da euforia das décadas 70 e 80 do século passado, da era da desilusão com a degradação das condições econômicas e sociais, assim como as instabilidades políticas, e algumas limitações tanto das liberdades políticas quanto acadêmicas. Nkrumah visitou o campus de Gana e discursou como ele concebia uma universidade que estivesse a serviço das melhorias das condições de vida, a serviço do povo, a universidade é o meio e não o fim em si mesmo. O que significa autonomia universitária neste contexto? Algumas dessas considerações sobre os conhecimentos inerentes aos africanos são as que devem merecidamente ter lugar de centralidade no currículo. Autonomia na universidade, não é um exercício fácil, ao qual Mario Pinto de Andrade defende a importância de um saber sociológico endógeno sobre a sociedade africana e mesmo com clivagens, e com a conflitualidade entre estado e educação no contexto pós-colonial. Pensar nesta questão contemporânea e na longa lista de referenciais dos intelectuais africanos180 é incorporar não só uma espécie de heteronomia teórica, mas das temáticas que podem balizar as inter-relações com os estudos sobre a África. Houve o despertar sobre a relação universidade e sociedade num sentido de também no Brasil, o grupo de negros acadêmicos dedicam-se em sua grande maioria aos estudos afro-brasileiros. O conhecimento da África ainda é estereotipado e não dá condições de ser legitimado, dado o estatuto de inferioridade científica na ideologia disseminada no ensino colonial, bem como as limitações impostas por regimes ditatórios de modo que a universidade não consegue atender as demandas internas e externas na África. Nos lembra Robert Slenes, comparando Brasil e África que: Da mesma forma como a África e a história da diáspora negra deveriam ocupar um lugar privilegiado nos programas brasileiros em ciências sociais e humanas, os pesquisadores e pro-

179  MKANDAWIRE, Tandika (ed). African Intellectuals: Rethinking Politics, Language, Gender and Development. Dakar, CODESRIA, 2005 180  Grandes pensadores africanos e da Diáspora como Ibn Khaldun, Ibn Batuta, El-Bekri, Al Idrissi, Ahmed Baba, Marcus Garvey, WEB Du Bois, Léopold Sédar Senghor, Cheikh Anta Diop, Frantz Fanon, Aimé Césaire, Joseph Ki-Zerbo, Ruth First, Chinua Achebe, Ngugi wa Thiong’o, Wole Soyinka, CLR James, Abdul-Rahman Babu, Sembène Ousmane, Fela Kuti, Tajudeen Abdul-Raheem, Archie Mafeje, Bernard Magubane, Samir Amin, Claude Ake, Ali El-Kenz, Fatima Mernisi, Mahmood Mamdani, Amina Mama, Souleymane Bachir Diagne, Paulin Hountondji, Jean-Marc Ela, Thandika Mkandawire, Fatou Sow, Issa Shivji, Ifi Amadiume, Oyeronke Oyewumi e Omafume Onoge. Lista extraída do site: http://www.codesria.org/spip.php?article1321&lang=pt

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fessores negros deveriam ter uma presença de destaque na criação e transmissão de novos conhecimentos nessa área181. Cientes da importância desses temas e diante da recente disponibilidade dos livros de historia geral da África pela UNESCO e da legislação que sancionou e obriga tanto a introdução e menos a formação para o ensino de história da África, convém ressalvar que a partir de pressupostos da historiografia e do ofício do historiador, as possibilidades de renovação no ensino de história do Brasil e da África são complementares e ambos carecem de problematizações conceituais e multidisciplinares como lembra Amadou Hampaté Ba que afirma: Na cultura africana, tudo é “História”. A grande História da vida compreende a História da terra e das Águas (geografia) a História dos vegetais (botânica e farmacopeia), a História dos “Filhos do seio da Terra” (mineralogia e metais,) a História dos astros (astronomia, astrologia), a História das águas, e assim por diante. [...] Por exemplo, o mesmo velho conhecerá não apenas a ciência das plantas (as propriedades boas e más de cada planta), mas também “as ciências da terra” (as propriedades agrícolas ou medicinais dos diferentes tipos de solo), a ciência das águas, astronomia, cosmogonia, psicologia, etc. Trata-se de uma ciência da vida, cujos conhecimentos sempre podem favorecer uma utilização prática. E quando falamos de ciências “iniciatórias”ou ocultas, termos que podem confundir o leitor racionalista, trata-se sempre, para a África tradicional, de uma ciência eminentemente prática que consiste em saber como entrar em relação apropriada com as forças que sustentam o mundo visível, e que podem ser colocadas a serviço da vida. (BA, 1982, p.195)182. A obrigatoriedade desde a sanção da Lei 10.639 não garantiu uma melhor uma mudança de mentalidade: é questão ainda problemática, epistemológica, metodológica e didática em relação à África. O ensino de História no ensino médio tem sido revisto de modo geral. O grande “pacote” em que se tem colocado capoeira, candomblé nos planos de curso e afirmado que a escola trabalha com África tem servido para reforçar as lacunas, preenchendo-as como estereótipo, quando deveria estar num debate

181  SLENES, Robert W. A Importância da África para as Ciências Humanas. Texto apresentado no seminário “Respostas ao racismo: produção acadêmica e compromisso político em tempos de ações afirmativas” realizado em 3 de dezembro de 2009 no IFCH/UNICAMP. 182  HAMPÁTÊ BÂ, Amadou. A tradição viva. In: KI-ZERBO, Joseph (org.) História Geral da África. Tradução: Beatriz Turquettju et alli. São Paulo: Ática, 1982. Paris: Unesco, 1980.

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político, cultural, etc. Nunca se publicou tanto, nem se discutiu tanto sobre ambas as questões: a História da África e a História afro-brasileira são campo complementares, importantes, mas não podem ser tratados no currículo como um único tema, para constar ou para parecer atualizado em atendimento às leis tão citadas, quanto distorcidas. Para além da necessidade da separação e, portanto, valorização de cada parte deste conjunto como contributo e respeito ao direito do aluno em conhecer, discernir a experiência, criar identidade, sem esvaziar o sentido político que a identidade carrega em si mesma. No âmbito da relação entre o estudo da História da África e das Ciências Humanas, há um histórico considerável do percurso do interesse das diversas disciplinas europeias pelo continente africano, o que gerou um leque de produção de conhecimentos sobre a África, encabeçadas por parte de agentes de fora, ou seja, exógenos. Para um ensino da história atual, é preciso considerar uma gama de Interesses e perspectivas tanto de diversas naturezas quanto de diferentes momentos históricos. Até chegar ao que hoje podemos considerar de constituição do campo disciplinar da história africana e de um processo de formação da área específica de história da África. E para nós, professores de história, a perspectiva interdisciplinar é uma grande possibilidade de um ensino que corrobore para a dinâmica, subalternidade e desconstrução da visão colonial como a: literatura, a oralidade, os ritos, mitos e tradições dessa África plural. Concluímos esta reflexão concordando com o que afirma Paula Menezes e Boa Ventura. Só o diálogo intercultural entre os investigadores poderá contribuir para a superação das relações de dominação presentes nos estudos africanos. Por outro lado, há que dar relevância aos estudos etno-filosóficos feitos por africanos que revelam uma enorme riqueza de conhecimentos endógenos e possibilitar à África uma apropriação lúcida e crítica do seu conhecimento183.

183  TAVARES, Manuel. Epistemologias do Sul. Rev. Lusófona de Educação, 2009, no. 13, p.183-189. ISSN 1645-7250. Boaventura de Sousa Santos e Maria Paula Meneses (Orgs.) (2009). Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, 532 pp.

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VIVÊNCIAS RELIGIOSAS E PRÁTICAS DE CURA ENTRE MULHERES PARTEIRAS

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CONVERSANDO SOBRE A OUTRA ÁFRICA Prof. Dr. Acácio Almeida185

Silene A. Franco

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Palavras-chave: Religiosidades, Práticas de cura, Parteiras.

As práticas de cura empregadas pelas parteiras no momento do parto são fruto de um construto cultural das culturas africanas, indígenas e europeias. Estas práticas encontram aceitação até os dias atuais por dialogar com aspectos da vida que mistura medicina e religião. Atualmente, nos bairros populares das cidades de Salvador e Lauro de Freitas, as parteiras são figuras respeitadas pelo conhecimento que possuem. As trajetórias de vida das parteiras moradoras destas comunidades testemunham a permanência de um saber ancestral, herdadas de suas mães, tias, avós. Neste estudo o que se busca é perceber a relação destas práticas de cura com a religiosidade de matriz africana. Este trabalho se insere no conjunto de estudos que procuram ouvir e dar vozes aos “subalternos”. Utilizando-se dos procedimentos metodológicos da História Oral e fazendo o estudo prioriza a fala destas mulheres com o objetivo de registrar as suas lembranças, historicizando as suas memórias. A presença de mulheres mais velhas acudindo a um parente, comadre, vizinha, na hora do parto iniciou muitas mulheres na arte de partejar. Não cobravam pelos serviços por se considerarem merecedoras das graças de Deus. Receber a graça de Deus constitui um valor que ganha um sentido na maneira como as parteiras vivenciam a dimensão do sagrado.

184  E-mail: [email protected]. Prof.ª Ms. Em Cultura, Memória e Desenvolvimento Regional – UNEB - Campu XIII

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Vinte anos depois da euforia do bem sucedido single “We are the world” em “benefício” das vítimas da fome na África, o mundo volta-se novamente para o continente africano. Crescem os programas de ajuda humanitária e a esperança de ver resolvida, pelo menos em parte, as dores humanas. Crescem também os esforços para que o mundo daqueles que querem ajudar conheça o mundo daqueles que serão “ajudados” e o convite para que atravessem as fronteiras e vejam a África não-oficial, a África das economias vernaculares, das solidariedades e das reciprocidades, elementos primordiais para a construção da paz duradoura. Crescem os esforços para que os mundos (africano e não-africano), em um só mundo, vejam nas reciprocidades uma esperança para que as ajudas não representem apenas uma vontade de dominação e arrogância, mas sim o mais profundo reconhecimento de que o remédio do homem é o homem. A África é uma das últimas escolas para todos nós que acreditamos que um outro mundo é possível. O alerta que ecoa alto daquele continente nos adverte para que saibamos que aquilo que acontecer às sociedades africanas, acontecerá irremediavelmente a todos nós. Por isso, ao tratarmos das reciprocidades africanas estaremos tratando também de descobrir possibilidades comunitárias para uma sociedade mais ampla e potencialmente mais aberta para a vida.

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PUC/SP, FACAMP e Casa das Áfricas. E-mail: [email protected].

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A ELITE NEGRA CACHOEIRANA NO PERÍODO DE 1889-1902 Miria A. Silva186 Palavras-chave: Elite negra cachoeirana, Diáspora negra, Resistência religiosa.

Esta proposta de investigação visa analisar, de forma inicial, aspectos sobre uma elite econômico intelectual negra da cidade da Cachoeira no Recôncavo da Bahia durante os anos de 1880 a 1902. Refletiremos sobre as estratégias de africanos, crioulos, libertos e filhos de escravos que se destacaram na construção social da cidade e usaram de prestígios políticos como forma de resistência a perseguição policial ao Candomblé. Através de análises textuais e as histórias oral que constituem a memória e o imaginário popular da cidade tomamos como principal referência desta ‘nata social’, José Maria de Belchior (Zé de Brechó), crioulo de maior proeminência política, intelectual e econômica. O recorte da data corresponde ao registro no livro de votantes de Cachoeira de (1880), onde o mesmo declara saber ler e escrever e comerciante como profissão, até o ano de sua morte (1902). Considerado o maior feiticeiro que existiu no Recôncavo, assumiu diversos cargos na mais alta esfera social. As Irmandades foram organizações utilizadas como instrumento de inserção desses negros e negras nas cúpulas da sociedade escravocrata burguesa do Recôncavo Baiano. Dentre as confrarias destaca-se a Irmandade da Nossa Senhora da Boa Morte, criada pelas “negras do partido alto”.

186  E-mail: [email protected]. Acadêmica do curso Comunicação Social/Jornalismo, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Orientador: Professor Dr. Emanoel Roque Soares.

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O MÉTODO COMPARATIVO ANTROPOLÓGICO COMO VIÉS DESLOCANTE DA CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE RAÇA NA OBRA MATERIALISTA ENGELIANA EM CONTRAPOSIÇÃO AO MÉTODO RELATIVISTA CULTURAL BOASIANO Edson S. Silva187 Palavras-chave: Relativismo cultural, Evolucionismo cultural, Raça.

O presente trabalho apresenta um estudo analítico de uma das produções de Friedrich Engels, mais especificadamente o livro “A origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”, onde o autor se utiliza da influência teórica de um dos teóricos da chamada antropologia clássica Lewis Henry Morgan, sendo que, o mesmo se tornara um dos expoentes da chamada corrente do Evolucionismo Cultural, também conhecida como Método Comparativo. Neste viés, se nota a exposição da concepção do conceito de Raça para Engels, influenciado por tal corrente teórica. Neste sentido, o pensamento do antropólogo Franz Boas distancia-se das reflexões conjecturadas por Morgan, consequentemente, das traçadas por Friedrich Engels. Contudo, subsidiado dos princípios boasianos, buscamos evidenciar os limites e restrições destes autores no que se refere ao conceito de Raça. Para tanto, se tornou necessário compreender os pilares do relativismo cultural, teoria esta defendida por Franz Boas que desestabilizou a antropologia clássica do século XIX, mas especificadamente o Evolucionismo Cultural.

187  Graduado em Pedagogia- UESB, Pós- Graduado em Leitura, Escrita e Sociedade – UESB e graduando em Sociologia – UESB, [email protected]

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RACIALIZANDO A BRANCURA: ENTENDIMENTO, RECONHECIMENTO E ANTIRRACISMO A PARTIR DOS ESTUDOS CRÍTICOS DA BRANQUITUDE Joyce S. Lopes 188

Resumo: Para realização deste trabalho, apresenta-se um breve levantamento sobre os estudos da temática racial branca, sobre o campo crítico da branquitude e o desenvolvimento de teu(s) conceito(s), tendo em vista o ENTENDIMENTO do objeto de pesquisa a partir de suas demarcações teóricas. Pautar o lugar do branco nas relações raciais é uma perspectiva ligeiramente recente entre os estudos étnicos, tal corrente foi impulsionada a partir de 1990 com o desenvolvimento dos critical whiteness studies nos EUA. Embora impulso tardio, na década de 1935, W. B. Du Bois já desenvolvia estudos que apontavam os privilégios raciais brancos e as suas formas de manutenção. Intelectuais como Frantz Fanon e Steve Biko também propuseram a demarcação deste tema. No Brasil, 1957, o sociólogo militante Guerreiro Ramos teorizou sobre a necessidade de situar cientificamente o/a branco/a, entendendo que “o que se tem chamado no Brasil de “problema do negro” é reflexo da patologia social do “branco” brasileiro, de sua dependência psicológica”. Entender a necessidade de racializar o branco é desmascarar o seu lugar de poder e privilégio, é desvelar parte do racismo. Compreendido o que é branquitude, avançamos para a difícil tarefa de RECONHECIMENTO do branco. Haveremos de romper com o pacto narcísico, tal qual Maria da Silva Bento afirma enquanto uma espécie de acordo tácito entre os brancos de não se reconhecerem enquanto parte privilegiada pela estrutura e reorganização do racismo, assim sendo, permanecem na tentativa de neutralização de tal identidade sob a zona de conforto simbólico, subjetivo e concreto. Existem aqui dois condicionantes, a compreensão da ausência da afirmação racial branca e como se produzir o inverso, a sua (auto)identificação e (auto)declaração. Dado o pontapé inicial do entendimento e do reconhecimento da identidade branca, notemos a

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questão central: a desconstrução do seu papel universal e hegemônico, assim, pendemos para o ANTIRRACISMO, desta vez, tendo como ponto de partida não mais o negro e sim o branco, datada toda sua história de privilégios. É então que traçamos como os estudos críticos da branquitude contribuem para a construção do perfil sócio-racial do branco crítico aliado a pauta do movimento negro de extinção do racismo.

188  AUTORA. Militante do Núcleo de Negras e Negros Estudantes da UFRB / Núcleo Akofena. Graduanda do Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. [email protected]

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Etnociência e Diversidade Cultural.

CONSERVAÇÃO DE RECURSOS GENÉTICOS VEGETAIS ON FARM: TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA, PARTICIPAÇÃO E EMPODERAMENTO DAS COMUNIDADES NEGRAS DO BRASIL AMARAL, Cláudio Lúcio Fernandes189

No processo de conservação on farm e melhoramento participativo, toda a atenção é voltada para o desenvolvimento tecnológico e sócio - econômico dos agricultores, em sua maioria da etnia negra, com parcos recursos financeiros, os quais apresentam as seguintes características em comum: realizam agricultura familiar, ocupam áreas marginais, dedicam-se às culturas de subsistência, dispõem de pequenas áreas, usam pouca ou nenhuma tecnologia, têm difícil acesso a novas variedades adaptadas a seus sistemas de cultivo e são resistentes à ideia de mudanças em seus sistemas de produção. A pesquisa genética participativa serve para garantir o acesso ao germoplasma disponível e maior controle pelos agricultores das comunidades negras do material vegetal sob a forma de variedades e/ou cultivares por eles utilizadas; melhorando, sobremaneira, as condições de vida destes em áreas marginais, proporcionando-lhes inclusão social e cidadania pela independência econômica; preservando a diversidade biológica em todos os seus níveis, quais sejam: espécies, genes e ecossistemas, estimulando a adaptação das culturas aos locais de plantio e mantendo a contínua evolução das espécies - alvo que sofrem paulatinamente as pressões seletivas por parte de fatores bióticos e abióticos. A melhor estratégia para a conservação racional e utilização sustentável da agrobiodiversidade é investir no “EMPOWERMENT” das comunidades negras locais, afim de se obter sistemas agrícolas mais 189 

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produtivos, estáveis e sustentáveis, pois os métodos científicos convencionais e os arranjos institucionais obsoletos nem sempre são eficientes para se lidar com a complexidade embutida nos fatores biofísicos e sócio - políticos que resultam na erosão genética pelo extrativismo do germoplasma. Atualmente, tem-se observado uma crescente confiança das sociedades industrializadas nos remédios naturais, baseados nos conhecimentos tradicionalmente difundidos pela medicina popular, fato que aumenta a demanda destes insumos sem que se observem, no entanto, iniciativas de cultivo daquelas espécies mais utilizadas. Vários são os exemplos de espécies medicinais brasileiras, em que laboratórios internacionais possuem domínio da tecnologia de produção, como é o caso do jaborandi, dos quais se extraem a pilocarpina. Este princípio ativo não pode ser sintetizado, por sua síntese não ser economicamente viável, sendo assim, como acontece com diversos outros fármacos, ele deve ser extraído diretamente das plantas. A exploração de recursos genéticos de plantas medicinais no país encontra-se relacionada, em grande parte, a atividades extrativistas baseadas em coleta extensiva de material silvestre, com baixo aproveitamento e considerável desperdício. Muitas plantas até hoje são extraídas de florestas e matas. Este extrativismo pode levar muitas das espécies medicinais à extinção, isto é, no futuro diversas plantas que os nossos ancestrais africanos conheciam poderão não existir mais. Também, plantas obtidas desta forma, em geral, apresentam grande variação na sua constituição química de suas substâncias, dadas as diferentes condições ambientais em que são coletadas. A proibição da importação de ervas e seus derivados gerou enorme pressão sobre os laboratórios farmacêuticos que manipulam estes compostos. Esta pressão, por sua vez, incentivou o surgimento de pequenos empreendimentos agrícolas de plantas medicinais. Entretanto, estes agricultores das comunidades negras têm encontrado dificuldades tanto na obtenção de mudas e sementes para o plantio, como na obtenção de informações sobre o cultivo das diferentes espécies. A improvisação a que foram obrigados o produtores afrodescendentes tem sido a causa de inúmeros erros, até mesmo na determinação do nome científico das espécies que cultivam. O cultivo das plantas medicinais é uma alternativa viável tanto para conservá-las quanto para utilizá-las, garantindo um fornecimento com qualidade adequada e na quantidade apropriada. Um passo importante que é preciso para se esta-

PLANTGEN/CNPq: Professor Doutor pelo DCB - UESB.

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belecer uma proposta racional de trabalho é definir localmente as espécies medicinais a serem estudadas, em seus diferentes níveis de prioridades, dadas às necessidades das populações negras mais carentes. Outro passo relevante é estabelecer o cultivo seguido do manejo das culturas agronômicas para a distribuição dos produtos fitoterápicos. Cabe destacar a importância da medicina tradicional do ponto de vista sócio econômico-político e cultural bem como ambiental, ao permitir formulações mais simples dos remédios obtidos a partir de plantas, uma vez que estes, normalmente, não apresentam efeitos colaterais, sendo amplamente acessíveis, com baixos custos de obtenção e/ou sem ônus adicional de produção por parte das comunidades de baixa renda. Neste sentido, a constituição de pomares domésticos comunitários, herança africana recebida pelo povo brasileiro, como verdadeiros bancos de germoplasma, viabilizaria a efetiva conservação das plantas medicinais, ao passo que as boticas da natureza, os jardins da saúde e as farmácias-vivas difundem a utilização dos produtos fitoterápicos nas classes menos privilegiadas, infelizmente, ocupada mais por “negros” do que por “brancos”, promovendo assim valorização da cidadania pela inclusão social. Portanto, como impacto dos estudos com plantas medicinais na sociedade, tem-se: 1) Valorização dos conhecimentos tradicionais das comunidades assistidas, na busca por saúde e bem estar social, 2) Ampliação do conhecimento etnofarmacológico de educadores, pesquisadores e extensionistas sobre as plantas medicinais mais utilizadas nas áreas estudadas, 3) Promoção da melhoria da qualidade de vida das populações carentes por meio da criação de farmácias-vivas, as quais são instrumentos efetivos de promoção da inclusão social, 4) Diminuição do impacto ambiental advindo da atividade coletora extrativista, pela implementação dos jardins da saúde como boticas da natureza, que se tornarão bancos de germoplasma ativos, 5) Formação de cooperativas para comercialização dos produtos fitoterápicos, fomentada pela ação integradora entre comunidade e universidade, 6) Geração de renda complementar para pequenos produtores e suas famílias, com base na venda de produtos e serviços das cooperativas, proporcionando desta forma o pleno exercício da cidadania, 7) Promover o conhecimento para a conservação e a utilização sustentável da biodiversidade e dos recursos genéticos e a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados de seu uso direto e/ou indireto. A conservação racional e a utilização susten-

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tável da biodiversidade devem envolver o levantamento florístico regional, bem como a preservação da diversidade biológica remanescente, além da restauração daquela em extinção ou ameaçada, seguido pela promoção da agricultura alternativa e do desenvolvimento sustentado e ainda a criação da riqueza a partir dos produtos biológicos. Deste modo, espera-se que as plantas medicinais retornem ao arsenal terapêutico, recebendo a devida importância científica para contribuir com o equilíbrio da saúde humana. Apesar de não ser possível relatar todos os casos, exemplos criteriosamente selecionados com plantas encontradas na composição florística das matas, campos, hortas e jardins, serão abordados por representarem interesse popular ou comercial, tanto em nível empresarial, quanto industrial. Portanto, as ações conservacionistas e utilitaristas que recaem sobre os recursos genéticos vegetais são a bandeira da conservação on farm e do melhoramento participativo, traduzindo o ato de conservar em seu meio e o de utilizar o seu fim. Vamos à luta melhoristas! Salvem plantas que salvam vida, salvem aqueles que salvam plantas.

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PLANTAS RITUALÍSTICAS E MEDICINAIS AFRO-BRASILEIRAS UTILIZADAS EM JEQUIÉ Djalma Menezes de Oliveira190 Palavras-chave: Plantas medicinais, Plantas sagradas, Candomblé, Etnobotânica.

Ko si ewè, ko si Orisà (Verger, 1996) Tradução: sem plantas, sem orixás. Awon ewé Osanyin (Ervas de Ossain ou Ossain é o dono das ervas) é uma adjetivação dirigida ao orixá das ervas no Candomblé, dada a importância das plantas para esta religião ancestral, como se pode constatar na máxima repetida na tradição Yorubá: “Ko si ewè, ko si Orisà” (se não tiver folhas de ervas para os rituais, os Orixás não se apresentarão). Pierre Fatumbi Vergé (Paris, 4 de novembro de 1902 - Salvador, 11 de fevereiro de 1996), o babalorixá de origem francêsa, também cidadão baiano que muito entendia da cultura da Bahia e de plantas utilizadas na ritualística do Candomblé. É magnífica a história Fatumbi Verger, um etnólogo e fotógrafo francês que abandonou a vida burguesa e se tornou babalawo por opção de fé e poder se aprofundar no estudo da cultura africana desenvolvida na Bahia e na África. Deixou registrada muita informação preciosa sobre as plantas utilizadas na ritualística do Candomblé para os etnobotânicos. Sua obra prima intitulada “Ewé, o uso de plantas na sociedade iorubá” (Odebrecht e Companhia das Letras, 1995) mostra a riqueza da cultura africana em relação ao entrosamento homemplanta. O relacionamento homem-planta, um traço forte observado nas culturas afro–indígenas, envolve a valorização das plantas, que podem ser utilizadas tanto em práticas de rituais de fé religiosa, como na cura de doenças do corpo e do espírito, como também, no uso como material de engenharia e artesanato. O Candomblé e suas vertentes afro-indígenas, a exemplo da Umbanda, estão estreitamente ligados aos elementos da natureza. As plantas são fundamentais, para banhos, rituais de purificação e passes dados pelas entidades que se apresentam nas sessões de descarrego trazendo 190 

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folhas de ervas como carreadores de energia. O objetivo deste trabalho é apresentar, conforme a abordagem Etnobotânica uma relação entre plantas medicinais que foram identificadas como importantes sob o ponto de vista cultural para grupos sociais constituídos por maioria de afrodescendentes no município e microrregião de Jequié-Bahia. As plantas aqui referenciadas foram escolhidas baseando-se em pesquisa bibliográfica que mostrou como as mesmas sobreviveram ao tempo e ao preconceito, graças a práticas de cura e rituais sagrados que fazem parte de crenças religiosas ou de hábitos corriqueiros incorporados ao cotidiano. Hábitos como ter à frente de casa um pé de “comigo-ninguém-pode” ou tomar um banho com infusão de folhas para espantar os fluídos negativos, são traços culturais ricos de simbolismos que permeiam a cultura baiana e que certamente influenciou várias outras regiões brasileiras e que determinam aspectos comportamentais importantes entre os afrodescendentes. No trabalho de pesquisa etnobotânica feita na microrregião de Jequié (de Oliveira, 1997) foi observado que uma pessoa com gripe pode ser tratada com xaropes e fármacos, mas o fato de estar se sentindo “fraco” e ter adquirido uma gripe pode estar ligado a influência de alguma energia negativa e doentia (“mau olhado”) lhe foi transferida por alguém com inveja ou uma pessoa que, até mesmo sem saber, possui esse dom inato e que pode involuntariamente vitimar outras pessoas. O tratamento desse tipo de gripe dual só será considerado completo e eficaz se, além do uso de fármacos e remédios caseiros, vier acompanhado de um banho de infusão de ervas ou outro procedimento mágico como a defumação ou uma seção de passe (vibrações benéficas) e descarrego (eliminação de energias negativas) ministrados por um iniciado ou por uma boa “rezadeira”. axé - banho ritual no período iniciação; Abo - preparado feito com folhas sagradas maceradas em água para proteção; Assentamento – instalação de objetos, símbolos e oferendas que representam o Orixá é assentada o seu axé; Ebós – sacrifício ou oferenda; Sacudimento - ritual que objetiva limpar as pessoas e lugares de energias negativas.

Departamento de Química e Exatas - Campus de Jequié, UESB, Bahia, Brasil.

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Referências BARROS, J. F. P. O segredo das folhas: sistema de classificação dos Vegetais no Candomblé Jêje-Nagô do Brasil. Rio de Janiro: Pallas UERJ, 164 p. 1993. CAMARGO, M. T. L. A. Plantas medicinais e de rituais afro-brasileiros I. São Paulo: Almed, 97 p. 1988. De ALBUQUERQUE, U. P.; de MEDEIROS, P. c. M.; de ALMEIDA, A. L. S.; MONTEIRO, J. l. M.; de FREITAS LINS NETO, E. M.; de MELO, J. G.; dos SANTOS, J. P. c. Medicinal plants of the caatinga (semi-arid) vegetation of NE Brazil: A quantitative approach. Journal of Ethnopharmacology, 114, (3), 325-354, 2007. De OLIVEIRA, D. M.; SALAZAR, G. D. C. M.; SOUSA, S. B. Estudo Etnobotânico da Microrregião de Jequié - Bahia - Etapa I (Painel). In III Jornada Paulista de Plantas Medicinais-CBPQPA/Unicamp, 1997, Campinas. III Jornada Paulista de Plantas Medicinais-CBPQPA/Unicamp e I Encontro Racine de Fitoterapia e Fitocosmética. UNICAMP: Campinas, 1997. De OXALÁ, Mírian. Umbanda: Crença, saber e prática, 2ª ed. Rio de Janeiro: Pallas, p. 209, 2010. DI STASI, L. C. Plantas Medicinais: Arte e Ciência. Um guia de estudo interdisciplinar. São Paulo: Editora da UNESP, 231 p., 1996. VERGER, PF. Ewê: o uso das plantas medicinais na sociedade Iorubá. São Paulo: Editora Schwarcz Ltda. (Companhaia das Letras), 762 p. 1996.

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UTILIZAÇÃO DE PLANTAS PARA FINS MEDICINAIS PELACOMUNIDADE DO POVOADO DO PEIXE, LAGEDO DO TABOCAL-BA: UM LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO Betânia Lisboa191 Daniela Fróes Delma Novais Graciene Silva Maria Alice Gonçalves Telmira Oliveira Palavras-chave: Etnobotânica, Bioma Caatinga, medicina popular. O objetivo desta pesquisa foi fazer um levantamento etnobotânico de plantas para fins medicinais por moradores da comunidade do Povoado do Peixe, cidade de Lagedo do Tabocal-BA, situada na região do Sudoeste da Bahia. A metodologia envolveu a aplicação de entrevista semi estruturada e observação participante. Para cada fala dos sujeitos envolvidos na pesquisa, foram registrados o nome popular, uso medicinal, parte da planta utilizada, bem como, os saberes étnicos adquiridos. Foram analisados o uso principal para cada planta medicinal citada, bem como as semelhanças etnobotânicas entre os informantes para diferentes doenças consideradas. Registrou-se o conhecimento popular de várias espécies botânicas para fins medicinais. O conhecimento étnico popular é bastante amplo e inclui o uso de plantas nativas do bioma Caatinga e introduzidas, as quais em maior proporção as do bioma Caatinga. As plantas medicinais representam uma importante alternativa medicinal na comunidade. Os saberes étnicos e a associação com a medicina convencional, bem como a transmissão desses saberes de geração a geração, a conservação e o plantio dessas plantas são também discutidos neste trabalho.

191  Licenciandas em Ciências Biológicas - DCB-UESB.

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A ETNOMATEMÁTICA E A CULTURA DO SISAL

A CULTURA E IMAGEM: INSTRUMENTOS DE COMPREENSÃO DOS CONCEITOS MATEMÁTICOS NO LIVRO DIDÁTICO

Clemilson B. da Conceição192 França de O. Lima Gilma Neri D. S. Evangelista Suelen Mariane E. de Araújo

Josoel Pereira Da Silva193

Palavras-chave: Etnomatemática, Aprendizagem qualitativa, Riquezas culturais Resumo: O trabalho aborda concepções, aspectos, instrumentos e processos que se referem ao ensino aprendizagem da matemática, praticado por grupos culturais distintos. Apresenta também a importância da valorização da cultura dos indivíduos e o saber fazer, ressaltando a necessidade de trabalhar as riquezas culturais de um povo no espaço da sala de aula, enaltecendo o caráter transdisciplinar, tomando como ponto de partida a etnomatemática defendida por Ubiratan D’Ambrosio. Nessa perspectiva, o foco específico são os conhecimentos matemáticos presentes no cotidiano do povo da região sisaleira, mais precisamente das cidades de Santa Luz e Queimadas, no que diz respeito a uma das suas riquezas – o sisal. Observando o plantio, a colheita, as diversas utilizações do material e a produção artística do mesmo, relacionando/comparando com conteúdos presentes no livro didático. Por meio dessas pesquisas estamos analisando a cultura desses grupos sociais, as tradições, as histórias, as melhorias de vida, para possibilitar a abordagem dessa cultura em sala de aula, já que as escolas precisam incluir em seu cotidiano aspectos da educação informal, ou seja, observar o meio a sua volta, escutar e discutir diferentes possibilidades de solução aos problemas do cotidiano, privilegiando assim o raciocínio qualitativo.

192  Alunos da Universidade do Estado da Bahia – UNEB – CAMPUS XI – PARFOR. Prof. Ms. Josoel Pereira da Silva (orientador do trabalho).

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“Nossa proposta é ensinar uma Matemática viva, uma Matemática que vai nascendo com o educando enquanto ele mesmo vai desenvolvendo seus meios de trabalhar a realidade na qual está agindo.” (1991). Palavras-Chave: Matemática; Cultura; Quilombola. Os estudos da área acadêmica acerca da produção de conhecimento matemático em comunidades periféricas têm crescido continuamente, especificamente, a partir da década de 1970, com o fracasso da Matemática Moderna, vários educadores dessa área tem contribuído eficazmente para a valorização dos conhecimentos adquiridos fora da escola, conhecimentos partindo do social de cada aluno, valorizando o que cada individuo traz para a sala de aula. A concepção que será utilizada aqui se refere aos estudos que trata da Matemática como produto cultural de um determinado grupo social. São pesquisas que discutem porque esta disciplina se constitui como um dos grandes responsáveis pelo alto grau de evasão e repetência, promovendo desinteresse entre crianças e jovens, que preferem se dedicar ao labor das atividades cotidianas, como a roça, pescar, caçar passarinhos, e no caso especifico dessa pesquisa, se dedicarem à produção artesanal das louças de barro, cestos e esteiras entre outros, esta última, principalmente entre o sexo feminino, de que frequentar as aulas. A abordagem utilizada aqui passou a ser conhecida internacionalmente através do brasileiro Ubiratan D´Ambrósio, com suas teorizações divulgadas em congressos no exterior, denominada Etnomatemática. Estas ganharam visibilidade com os trabalhos de campo sobre comunidades indígenas brasileiras de Eduardo Sebastiani Ferreira, e a grande produção de Paulus Gerdes, em Moçambique. Partindo deste pressuposto, procurei analisar o tema em relação a visão importante que temos sobre o ensino da Matemática, no que diz respeito à construção do con-

193  Mestre em Desenho Cultura e Interatividade pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Professor da UNIFACS- Campus Feira de Santana. Professor do PARFOR/UNEB- Campus 11- Serrinha. Professor do ODEERE/UESB.

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III Encontro Estadual de Educação e RELAÇÕES ÉTNICAS

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VIII Semana de Educação da PERTENÇA AFRO-BRASILEIRA

hecimento das camadas sociais subalternas. Estas muitas vezes tem sua cultura negada nos livros didáticos, uma vez que as ilustrações das figuras e imagens nos livros didáticos de Matemática, não reflete as realidades culturais locais, e está focada nas tradições e particularidades do dia a dia das regiões sul e sudeste do país. Os livros não só mostram imagens descontextualizadas dos pontos de vista culturais locais, como também mantêm barreiras referentes aos universos culturais dos quilombolas, e não favorecem à diversidade cultural, ao privilegiar as informações externas, mantendo vivos seus costumes e tradições. Neste trabalho então, examino duas tradições matemáticas, uma presente nos fazeres, práticas e representações da comunidade quilombola de Irará, cuja principal atividade é a produção de utensílios de cerâmica, segundo conhecimentos passados dos pais para os filhos, outra contida nos livros didáticos utilizados nas escolas da região que atendem à comunidade. O foco específico são os conhecimentos geométricos presentes no cotidiano quilombola, na construção, utilização e consumo de diversos tipos de objetos e produtos, desde utensílios domésticos, até a produção artística, passando pela alimentação, comparando-os com os conhecimentos geométricos presentes nos livros didáticos. A pesquisa abarcou dois momentos, o primeiro que compreende o dia-a-dia da comunidade nos seus saberes e fazeres, caracterizado pela confecção das louças, que se desenvolve a partir da retirada do barro, passando pela produção das peças, até chegar a sua comercialização. O segundo corresponde ao cotidiano escolar dos membros da comunidade, mostrando que os exemplos e ilustrações das formas geométricas presentes no livro didático, não tem relação com as atividades matemáticas desenvolvidas na comunidade quilombola, contribuindo assim para que sejam desprezadas as prática e representações do seu cotidiano.

ANAIS 2012

EFEITOS DO USO DE SUBSTÂNCIAS E PRÁTICAS MÉDICAS NO EGITO ANTIGO: UMA LEITURA CRÍTICA DOS PAPIROS DE EBERS E EDWIN SMITH Wilson O. Badaró194 Palavras-chave: Farmacologia Antiga, Medicina no Egito Antigo, Ciência Egípcia. Resumo: A proposta aqui exposta oferece a partir de uma inquietação histórica, perceber como se deu o desenvolvimento dos sistemas de produção de substâncias medicinais e de uso farmacológico, assim bem como as práticas médicas para a cura de moléstias no Egito Antigo, e seus respectivos graus de desenvolvimento científico-tecnológico. O período, mais precisamente com um recorte histórico voltado para os séculos XVII-XVI a.C, é que importantes documentos em papiro foram produzidos, como os de Ebers e Edwin Smith. Partindo daí, percebe-se a aplicabilidade desta tecnologia material na sociedade egípcia deste período em busca da manutenção da sociedade em questão. Ficam as seguintes questões: Como estas substâncias eram produzidas e usadas na antiga medicina egípcia pelos então sujeitos atores destas práticas? Quem eram os principais manipuladores destas substâncias? E para o uso e produção, qual o procedimento padrão? Magia, ciência ou ambos? O mesmo se dá para as práticas médicas, quem eram os atores destas práticas? Quais os requisitos para se habilitar alguém nesta prática de curar outrem? Como se davam os procedimentos e recomendações médicas para a cura? Em resumo, como esta sociedade se influenciou e se utilizou destas substâncias produzidas neste período e as práticas envolvidas no intuito de curar as pessoas?

194 [email protected]; Graduando em História pela Universidade Federal do recôncavo da Bahia – UFRB.

192

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MINICURSOS

Etnicidade, Gênero e Sexualidade na Educação Básica

Linguagens Visuais e Cultura: Experiência com a Produção de Acervo voltada para a Educação das Populações Afro-Brasileiras no ODEERE

Conceição

Entre imagens e história

Edson Dias Ferreira Manoel Silva Santana Antonio Argolo Silva Neto I am not my hair: uma canção em inglês para discutir a Identidade Afro-Descendente

Antônio José Maria Codina Bobia Formação/Identidade Étnica e Social de Negros e Afrodescendentes: da alienação à afirmação positiva Carolina Santos Djean Ribeiro Edlamar França Lumena Aleluia Valdísia Da Mata Tainam Purificação

Gênero e pesquisa: a memória como fonte e metodologia

Luiza Reis Lucinéa Gomes

Leliana Sousa Carla Liane N. Santos Patricia Carla Smith Galvão

Deyse L. De J. Santos Josinélia Dos S. Moreira

Racismo institucional na escola e na universidade. Como identifica-lo e superá-lo

Flávio José dos Passos

Literatura negro-brasileira/afro-brasileira e o uso da poesia em salas de aula (sugestão)

Renata M. Souza

Valdineia Oliveira

Cotas étnico-raciais no Brasil: 10 anos avanço e desafios

Práticas de memória feminina (sugestão)

Projeto de pesquisa científica: a escolha do tema e a construção do problema

Renan Vieira

Trabalhando com a Lei 10.639: uma realidade possível?!

Cruzando saberes e conhecimentos: orientações para o ensino de História da África e cultura africana na perspectiva Freriana

Flávio José dos Passos

Criminalização das culturas negras no Brasil: história e historiografia (sugestão)

Josevaldo Pires - UNEB

Valdineia Oliveira dos Santos

Bibliocicleta espalhando a alegria dos livros Augusto Leal Ana Beatriz Simon Factum

Práticas sustentáveis para a agricultura familiar. Emanuelly Santos Souza Iuri Gusmão Andrade Sandra de Oliveira Ana Claudia Silva Pessoa Safira Rodrigues de Souza

Ciências, culturas e ensino: em foco os conhecimentos científicos escolares Edinéia T. Lopes.

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LINGUAGENS VISUAIS E CULTURA: EXPERIÊNCIA COM A PRODUÇÃO DE ACERVO VOLTADO PARA EDUCAÇÃO DAS POPULAÇÕES AFRO-BRASILEIRAS NO ODEERE

ANAIS 2012

MINICURSO: ETNICIDADE, GÊNERO E SEXUALIDADES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Amanaiara Conceição de Santana Miranda198

Edson Dias Ferreira Antonio Argolo Silva Neto196 Manoel da Silva Santana197 195

Palavras-chave: Cultura Afro-Brasileira, Imagem, Memória.

O trabalho com Linguagens Visuais e Cultura no projeto ODEERE em Jequié, por mais de cinco anos, desde 2005, portanto, tem cumprido um papel importante. Atualmente realizado em equipe consagra a ideia de produzir multiplicadores. Dos estímulos utilizados na mediação do processo, a sensibilização para a percepção de vivências que se mostram na rua com consequente registro constitui etapa importante. Resultado, a construção de um acervo visual gerado pelas próprias experiências produzidas em atividades do ODEERE e vivenciadas no contexto do cotidiano dos grupos mostrou-se eficaz para pensar cultura de matriz africana radicada no Brasil. Tal expediente possibilitou aberturas para entender a diversidade de contribuições que historicamente a África nos legou, como espaço diverso que é. O propósito do minicurso aqui pretendido é estimular a utilização das linguagens visuais – foto e vídeo – para a produção de acervo que auxilie na atividade de ensino. O minicurso terá como atividade básica visita a espaços da cidade com o objetivo de realizar registros de elementos presentes no seu cotidiano. As feiras, praças e espaços de convivência são locais privilegiados para tal fim. A atividade seguirá com a montagem de uma exposição a ser aberta no último dia do evento e culminará com o registro das ações previstas para o próprio dia 20 de novembro.

195  Professor Doutor - UEFS 196  Professor Mestre - ODEERE/UESB, UEFS 197  Pesquisador - ODEERE

198

Este minicurso tem o objetivo de compartilhar problematizações sobre situações didáticas que abordam a visibilidade/invisibilidade dos indivíduos considerados abjetos na sociedade em geral e o desconforto/silenciamento na ação educativa dos/as professores/as na educação básica.

Referências BUTLER, Judith. Sujeitos do sexo/gênero/desejo. In: JIMENEZ, Rafael M. Mérida. Sexualidades Transgressoras. Uma antológia de estudos queer. Barcelona: Icária editorial, 2002, pp 55-80 FOUCAULT, M. História da sexualidade. Vol. 1 : A vontade de saber. 11ª ed. Rio de Janeiro, 1988. __. Vigiar e punir. 33. ed. Petropolis: Vozes, 288p. 2007 LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pós-estruturalista, Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. ___. O corpo educado: pedagogias da sexualidade / Guacira Lopes Louro (organizadora); tradução dos artigos: Tomaz Tadeu da Silva – 2. ed. – Belo Horizonte : Autêntica, 176p. 2001 MISKOLCI, Richard. “A teoria queer e a questão das diferenças: por uma analítica da normalização” em http://alb.com.br/ arquivo-morto/ edições_anteriores/ anais16/ prog pdf. SILVA, Tomaz Tadeu da.Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais / Tomaz Tadeu da Silva (org). Stuart hall, Kathryn Woodward. 10. ed. – Petrópolis, RJ :

198  Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo – PPGNEIM/UFBA. Pesquisadora associada ao Nugsex DIADORIM/UNEB e NGEALC/UNEB. [email protected]

199

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Vozes, 2011

I AM NOT MY HAIR: UMA CANÇÃO EM INGLÊS PARA DISCUTIR A IDENTIDADE AFRODESCENDENTE Antonio J. M. Codina199

Palavras-chave: Ensino de inglês, Música em sala de aula, Identidade afrodescendente.

Este trabalho pretende tecer relações entre canções em língua inglesa de cantores afrodescendentes de vários países onde há presença africana tanto do próprio continente americano, quanto dos continentes africanos e europeus - e a identidade afrodescendente de alunos do ensino médio; pretende trabalhar a inclusão socioeconômica dos alunos mediante a introdução, ou o melhoramento, do conhecimento da língua inglesa através de atividades didáticas relacionadas com letras de músicas em língua inglesa de cantores afrodescendentes; mostrar como a cultura africana foi disseminada pelo mundo, no passado devido à escravidão e, hoje em dia, às migrações econômicas que obrigam milhares de africanos subsaarianos a viajar a Europa para efetuar trabalhos em condições semelhantes àquelas da escravatura; e, situar os alunos no mundo globalizado com consciência da sua origem, cultura e identidade.Usaremos a canção “I am not my hair” da cantora India Arie (a cantora usa o tema do cabelo “afro” para exemplificar o preconceito racial) para desenvolver atividades que encaminhem os alunos a perceberem como as músicas com letras em língua inglesa, cantadas por cantores afro-americanos (ou de outros países de língua inglesa) interferem na construção da cultura afrodescendente e afro-brasileira e mostraremos que a cultura da diáspora africana está presente em vários países, apontando, também, que não é somente no Brasil que há desigualdade e preconceito racial. Também queremos salientar que aprender outra língua pode ter um efeito positivo na identidade do individuo (LEFFA, 2007; OLIVEIRA, 2009). 199  Estudante de Letras - UESB

200

ANAIS 2012

FORMAÇÃO/IDENTIDADE ÉTNICA E SOCIAL DE NEGROS E AFRODESCENDENTES: DA ALIENAÇÃO À AFIRMAÇÃO POSITIVA Carolina Santos200 Edlamar França Valdísia da Mata Djean Ribeiro Lumena Aleluia Tainam Purificação Renan Vieira

O Grupo de Trabalho Psicologia e Relações Raciais – GTPRR atua na sensibilização de profissionais e estudantes de Psicologia e áreas afins para a importância da discussão sobre a temática racial em suas práticas, principalmente em relação às dimensões subjetivas e sócio-históricas do racismo no Brasil. O grupo discute as consequências causadoras de sofrimento psíquico, que advêm dos contextos de preconceito e discriminação racial existentes na sociedade, além de debater e colaborar na implementação de estratégias que possam subsidiar a categoria em sua atuação, e divulgar as produções da Psicologia no campo das Relações Raciais para o público e a sociedade (Resolução CFP - 018/2002). Este GT compõe a Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia (CRP 03). A Psicologia, cada vez mais preocupada com suas implicações políticas e profissionais, compreende que a discussão sobre a temática das relações raciais se faz de extrema relevância, diante da constatação de que determinadas experiências e situações de cunho racial que são vivenciadas demandam sofrimento psíquico. Objetivando problematizar o papel da identidade social de negros e afrodescendentes através do estudo da identidade étnica, e a pertença a grupos socialmente estigmatizados, o trabalho consiste na apresentação de conteúdo teórico acerca da formação da identidade social no auto-conceito e auto-estima do indivíduo. Neste sentido, espera-se estabelecer uma linha de tempo que contextualize as crenças, atitudes e ações que sistematica-

200  Integrantes do Grupo de Psicologia em Relações Raciais - Escola Bahiana de Medicina

201

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mente negaram aos negros o direito de possuir uma identidade étnica e social positivas. Dessa forma, problematizaremos a respeito da naturalização do preconceito e das formas de discriminação que afetam a formação e a fruição dos Direitos Humanos. A prática tem um impacto positivo sobre os participantes que se instrumentalizam para trabalhar as questões raciais e identitárias com esse grupo.

ANAIS 2012

ENTRE IMAGENS E HISTÓRIAS NEGRAS Luiza Nascimento Reis201

Nesta atividade buscamos estudar e refletir acerca das imagens da população negra ao longo da história brasileira. Busca-se problematizar como negros e negras têm sido representados e de que maneira isso influencia na nossa percepção da história. O curso está centrado na leitura e discussão de imagens e textos diversos, objetivando contribuir com professores e alunos do ensino fundamental e médio.

201 

202

Doutoranda do programa de Estudos Étnicos e Africanos do CEAO. E-mail: [email protected]

203

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GÊNERO E PESQUISA: A MEMÓRIA COMO FONTE E METODOLOGIA

ANAIS 2012

PROJETO DE PESQUISA CIENTÍFICA: A ESCOLHA DO TEMA E A CONSTRUÇÃO DO PROBLEMA

Valdineia Oliveira202

Esse minicurso visa discutir a memória como fonte e metodologia de pesquisa, ressaltando as especificidades da memória para compreender as representações das mulheres em sociedade. Nesse sentido, pretende ser um espaço de discussão sobre as fontes, temas e objetos que envolvem as questões femininas. Trata-se de pensar que a mulher, no passado, estava longe da vida pública e, por essa razão, as fontes documentais para compreender sua realidade são escassas. Nesse sentido, a memória se converte em um importante instrumento de pesquisa para compreender o universo feminino.

202 UESB

204

Leliana Sousa203 Carla Liane N. Santos204 Patricia Carla Smith Galvão205 Palavras-chave: Projeto de pesquisa científica, Tema, Problema, Conhecimento.

Para se construir um projeto de pesquisa é preciso traçar um caminho a seguir durante a investigação. Realizar um estudo mais planejado dos aspectos que irão compor a pesquisa, de maneira ampla. Mas como elaborar um projeto de pesquisa com objeto de estudo que contribua para a reflexão da diversidade étnicoracial, formular questões do conhecimento da cultura africana e afrodescendente cujos resultados possam subsidiar ações que contribuam para uma sociedade mais justa? Às vezes se tem a situação, a idéia, perspectivas diferentes, mas falta a compatibilização da problemática, campos de conhecimento e metodologias, o que o torna difícil, senão impossível. A construção de um Projeto de Pesquisa compreende várias fases integradas que se constitui em uma trajetória de investigação. Propomos um mini-curso para refletirmos sobre os aspectos da elaboração de projeto de pesquisa de modo a contribuir para o caminho pertinente.

203 UNEB 204 UNEB 205 UNEB

205

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ANAIS 2012

TRABALHANDO COM A LEI 10.639: UMA REALIDADE POSSÍVEL?!

BIBLIOCICLETA - ESPALHANDO A ALEGRIA DOS LIVROS

Deyse L. de J. Santos206 Josinélia dos S. Moreira207

Augusto Leal208 Ana Beatriz Simon Factum209

Palavras-chave: Lei 10.639, Educação, Resistência.

A Lei 10.639/03 chega às escolas como uma política de reparação numa proposta de educação que atenda as questões etnicorraciais. Entretanto, há dificuldades para por em prática essa proposta: a falta de recursos e conhecimentos sobre os temas e a resistência dos alunos ao abordar determinados conteúdos, têm sido os argumentos de muitos professores para justificar o pouco e/ou nenhum empenho no trabalho com a Lei em sala de aula. Mas, quase uma década de sancionada a Lei muitos cursos foram oferecidos nas redes públicas de ensino, assim como muito material vem sendo disponibilizado pelo MEC e Secretarias de Educação. No entanto, o que se tem observado atualmente é que muitas vezes, os professores que passaram por essas formações ainda resistem ou encontram dificuldades no trabalho com essas questões devido aos resquícios do preconceito à cultura africana. A proposta deste minicurso é discutir possibilidades de uma prática efetiva do trabalho com a História e Cultura Africana visando desconstruir aos poucos a visão preconceituosa que se tem do “negro” e da cultura de afro descendência no ambiente escolar.

206  Graduada em História, Especialista em História e Cultura Afroindigena e Mestre em Educação e Contemporaneidade, integrante do grupo de pesquisa Educação Desigualdade e Diversidade – UNEB e Relações Étnico-Raciais e Afirmação Identitária Negra (NIARE). [email protected] 207 UNEB 

206

No segundo semestre de 2009 iniciou-se em Simões Filho/BA, município da região metropolitana de Salvador, uma campanha de arrecadação de livros com o objetivo de criar uma biblioteca comunitária em uma casa no centro da cidade. A ideia era criar um espaço onde se pudesse ter livre acesso a livros, e que servisse também como ambiente de encontros culturais, realização de projetos, oficinas, palestras, dentre outras atividades. Contudo, duas semanas depois de ser lançada a campanha e de muitos livros terem sido doados, o espaço precisou ser desocupado210. Sem um espaço físico e com muitos livros em mãos o desafio era criar uma solução para dar utilidade para a esses livros. Surge então a ideia de criar uma biblioteca itinerante como alternativa mais viável e imediata. Na mesma época, esse desafio foi o tema do projeto de conclusão do curso de Desenho Industrial da Universidade Federal da Bahia, do autor desse artigo. Como resultado desse trabalho temos a Bibliocicleta. Trata-se de um suporte de transporte de livros e materiais didáticos, que funciona também como expositor em locais onde o acesso ao livro apresenta-se como deficitário. O suporte para encaixe em bicicletas é de fácil montagem e baixo custo, feito com uso de materiais reaproveitados. A Bibliocicleta circula e distribui, de forma gratuita, livros para pessoas de todas as idades. A bibliocicleta constitui-se como uma alternativa que visa contribuir com a eliminação das barreiras sociais que afastam as pessoas do livro e da leitura. Dentre elas estão o baixo poder aquisitivo, a baixa instrução educacional, a falta de incentivo à leitura na

208  Graduado em Desenho Industrial pela Escola de Belas Artes da UFBA, mestrando do Programa de Pós Graduação em Artes Visuais da UFBA, na linha: Concepção, Produção, Teoria e Crítica do Design. Criador e coordenador do projeto Bibliocicleta iniciativa de incentivo à leitura e disseminação de livros realizado no município de Simões Filho - Bahia. Email [email protected] 209 Professora Doutora - UNEB  210  O dono do imóvel precisou usá-lo para fins pessoais.

207

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escola e na família e a falta de políticas públicas abrangentes e eficientes. O projeto busca, de uma forma lúdica, aproveitando um símbolo marcante da infância, a bicicleta, colaborar com a socialização da oportunidade de ler. Possibilitar a descoberta. É uma ferramenta que tem como objetivo ampliar o acesso ao livro e fomentar a prática da leitura. São realizadas ações em bairros expondo os livros em praças, coretos, debaixo de árvores, escolas, espaços públicos em geral. Os primeiros a se interessarem são as crianças, em seguida os jovens e demais moradores da localidade. São disponibilizados para leitura livros de poesia, contos, pequenos romances e gibis, que muitas vezes são lidos durante o período da visita. Aqueles que se interessem muito por um determinado livro pode levá-lo para casa, a única sugestão que é dada é que após a leitura o livro possa ser doado ou emprestado para outra pessoa. No caso das crianças que ainda não foram alfabetizadas, histórias são contadas a elas pelos realizadores do projeto. Os resultados dessas ações são surpreendentes. As crianças e jovens têm muita curiosidade e demonstram bastante interesse pelos livros.

ANAIS 2012

contradição, de exclusão, de afirmação, etc. Defendemos ainda a ideia de que cada comunidade tradicional mantém uma relação distinta com a escola e os conhecimentos veiculados por ela, que orientará a relação que os alunos e professores manterão com os conhecimentos científicos escolares.

CIÊNCIAS, CULTURAS E ENSINO: EM FOCO OS CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS ESCOLARES Edinéia T. Lopes211 Palavras-chave: Culturas, Ciências, Ensino, Docência.

Propomos realizar neste minicurso uma reflexão acerca das diversas dimensões da cultura e o encontro dessas dimensões no espaço da sala de aula. Serão abordadas dimensões, como: da tradição (sobretudo indígena), das manifestações religiosas, da ciência e do cotidiano. Cada uma dessas dimensões expressa uma forma própria de produzir, sistematizar, registrar e compartilhar os conhecimentos elaborados. Essas dimensões se encontram no espaço dialógico da sala de aula, no qual elas se anunciam em diferentes vozes, que podem apresentar características de complementariedade, de

211  E-mail: [email protected]. Departamento de Química – UFS/ITA

208

209

OFICINAS

III Encontro Estadual de Educação e RELAÇÕES ÉTNICAS

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VIII Semana de Educação da PERTENÇA AFRO-BRASILEIRA

SAMBA DE RODA DOS NEGROS/AS DO BECO DE VÓ DOLA Coordenador: Negros/as do Beco de Vó Dola / vitória da Conquista

OFICINA DE FUXICO Coordenadora: Claudia Melo Barreto / Curso Extensão do ODEERE

ENFEITES PARA CABELO E ADEREÇOS Coordenadora:

ANAIS 2012

ETNOMATEMÁTICA: COMPREENDER AS ‘TICAS’ E O ‘MATEMA’ DA DIVERSIDADE DE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS PRODUZIDOS PELOS DIVERSOS GRUPOS SOCIAIS Coordenadores: Lucinéia G.de Jesus / PPGECFP- UESB William C. Monteiro / PPGECFP- UESB

RECONHECER A DIVERSIDADE PARA SUPERAR O RACISMO Coordenadores:

Simone Souza Silva Soledade / Curso Extensão do ODEERE

Hamilton Pacheco Santos / ODEERE- UESB Miraildes Cardoso dos Santos/ODEERE-UESB

PENTEADO AFRO Coordenadora:

CAPOEIRA PARA PROFESSORES Coordenador:

Antonia Ferreira de Souza/ Curso Extensão do ODEERE

Leandro Farias Silva / Curso Extensão do ODEERE

MAQUIAGEM PARA PELE NEGRA Coordenadora:

POR UMA EDUCAÇÃO ANTIRACISTA: A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NA TELEDRAMATURGIA BRASILEIRA Coordenadores:

Maria Gorett Santos Marques / Curso Extensão do ODEERE

CAPOEIRA Coordenador: Nerilton Ferreira Santos (Barbicha) / Curso Extensão do ODEERE

DANÇA Coordenadora: Maria Souza Rios/ Griot do Projeto Erê

TEATRO EDUCAÇÃO E IDENTIDADE Coordenador: Renato Tavares Santana / PPG Desenho, Cultura e Interatividade

212

Eduardo Oliveira Miranda / PPG Desenho, Cultura e Interatividade Hellen Mabel Santana Silva / PPG Desenho, Cultura e Interatividade

CORPO/ SUBJETIVIDADE E APRENDIZAGEM Coordenadoras: Gedalva Neres da Paz / SEC -BA Luciene Matos de Souza/ UESB

ERÊS E CURUMINS BRINCANDO NA RODA DE CAPOEIRA Coordenador: Welton R. de Souza / SEC Vitória da Conquista

BIBLIOCICLETA Augusto Leal / Escola de Belas Artes da UFBA

213

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FABRINCANDO

ANAIS 2012

POSTERs

Tamires Maria Gonçalves Lima / Escola de Belas Artes da UFBA

ATIVIDADES ARTÍSTICA-CULTURAL Conferência Musicada Mateus Aleluia

Grupo ParlaCÊNICO de Teatro, peça, Solano Trindade, uma alma negra Coordenador: Prof. Evanilson Tavares de França/SE

Dueto de Dança Maria Souza Rios

Momento Musical Perpétuo Arcanjo de Brito

Recital José Luís Negão

Puxada de Rede Grupo de Capoeira filhos de Zumbi

Roda de Capoeira

Associação de Capoeira Roda dos amigos - Mestre Linguiça

DOCUMENTÁRIOS Paixão e Guerra no Sertão de Canudos Direção: Antonio Olavo, 78´ - 1993

Quilombos da Bahia

Direção: Antonio Olavo, 98´ - 2004

Abdias Nascimento Memória Negra Direção: Antonio Olavo, 95´ - 2008

Uma Conquista de Quilombos

Direção; Maurício Souza / IFBA - Vitória da Conquita

214

RELAÇÃO ENSINO- APRENDIZAGEM E IDENTIDADES ÉTNICAS Autores: Ana Leda de Jesus Andrade [email protected]

Aristelma B. O. [email protected] Evani Oliveira Nunes [email protected] Helem M. Militão [email protected] Nerivan de S. Sanches [email protected] Viviane R. Amorim [email protected] Paulo Adão

ETNOZOOLOGIA: O ESTUDO DOS ANIMAIS E DA CULTURA Autores: Carline dos s. Ribeiro

Ester Maria da silva ferreira Daniela Souza Santos Tamile Oliveira da Silva

ETNOBOTÂNICA: QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS DA CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA DE POPULAÇÕES INDÍGENAS COMPARADAS COM A CLASSIFICAÇÃO CIENTÍFICA? Autores: Cristina de jesus Santos

Cauane Rocha santos Ramom Silva Aguiar Leila Dayana Vilar de Sousa Beatriz Pires Silva

ETNOBIOLOGIA: A IMPORTÂNCIA DE PENSAR A BIOLOGIA SOB A PERSPECTIVA CULTURAL Autores: Franciele Oliveira

Lorena Barros Luane da Guarda Nepomuceno Thamires Gomes

O ESTUDO DE LITERATURA AFRO-BRASILEIRA E RACISMO Autores: Mateus Oliveira Lima

Poliana Souza Lapa Joanes Santos ENDEREÇO do ODEERE - Órgão de Educação e Relações Étnicas com Ênfase em Culturas Afro-Brasileiras.

215

Órgão de Educação e Relações Étnicas com Ênfase em Culturas Afro-Brasileiras Av. José Moreira Sobrinho, s/n.º, Jequiezinho CEP: 45.200-000 - Jequié - BA (73)3526-2669 [email protected] www.odeereuesb.blogspot.com www.facebook.com/pages/ODEERE/242929499132517

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