Cabrera, Julio e Alves, Rafael Cartilha de Filósofos da América Latina :Pensamento desde América Latina e Filósofos latino-americanos - 1a ed. - Brasília :FIBRAL, 2013. 65 p. ; 29x21 cm. - (FIBRAL) ISBN 978-85-916170-0-5
Capa e editoração virtual: Léo Pimentel Interior: Rafael Alves Correção: Julio Cabrera
2013, textos de Julio Cabrera e Rafael Alves 2013, edição do FIBRAL.
http://fibral.blogspot.com
ÍNDICE Introdução ...p. 05
Antiguidade: Pensamento indígena ...p. 10
Pensadores do período colonial (Séculos XVI a XVIII) ...p. 18
Pensadores do século XIX ...p. 29
Passagem do século XIX para o XX ...p. 34
Século XX – Primeira metade ...p. 40
Século XX – Segunda metade ...p. 49
Referências bibliográficas ...p. 63
INTRODUÇÃO
Oferecemos ao leitor brasileiro uma relação comentada de pensadores latinoamericanos, pouco ou nada conhecidos, por estarem quase sistematicamente excluídos ou ignorados nos currículos de filosofia do Brasil, exclusivamente centrados em autores europeus.
A principal fonte de consulta foi o livro do espanhol Carlos Beorlegui,
Historia Del Pensamiento Filosófico Latino-americano (Universidad Del Deusto, Bilbao, 2006), mas outras fontes foram consultadas, segundo consta na lista final de referências. Antes de passar para a relação de pensadores latino-americanos, alguns esclarecimentos preliminares. O primeiro concerne à própria denominação “América Latina”, que provém de uma reordenação do mundo colonial moderno (Cfr. Mignolo Walter. La Idea de América Latina, capítulo 2). Melhor seria utilizar a denominação “Ibero-americano”. Entretanto, nesta cartilha manteremos a expressão “latinoamericano” por ser um termo mais utilizado nas discussões sobre a temática. Os outros esclarecimentos têm a ver com a noção mesma de “filosofia”.
FILOSOFIA
Já desde os primórdios do pensamento filosófico em América Latina, aparecem dois tipos de reflexão, diferenciados, porém vinculados: (a)
O
pensamento
acadêmico
das
instituições
de
ensino,
baseado
fundamentalmente na exposição do pensamento europeu dominante, a Escolástica, o Aristotelismo, mais adiante o cartesianismo, depois o positivismo, a fenomenologia e atualmente todas as correntes. (b) O pensamento da emancipação, surgido não apenas dos livros, mas da própria situação que estava sendo vivida pelos países latino-americanos: chegada dos europeus, choque de culturas, colonização, conquistas, escravidão, resistências, submissão de culturas a outras, etc, situação de dependência e exploração que atravessa os tempos e chega até os dias de hoje. O primeiro tipo de pensamento aceita a situação de colonização como um fato e simplesmente tenta implantar e desenvolver o pensamento filosófico europeu tentando inserir-se e destacar-se dentro dele; o segundo tipo de pensamento não aceita a situação, desenvolve resistências e pensa a emancipação. Estas duas formas de filosofar se mantêm até os dias de hoje, embora mais vinculados, já que a enorme maioria dos filósofos que pensam na emancipação e tentam superar a condição de dependência, são também catedráticos profissionais da filosofia e ensinam filosofia hegemônica. Os pensadores aqui relacionados foram escolhidos pelo fato deles – escrevendo sobre ética, lógica, estética, política ou metafísica – pertencerem ao segundo tipo de reflexão filosófica, por refletirem sobre a situação de dependência e as condições da emancipação, e também sobre as condições e possibilidades de um filosofar desde América Latina. Não teria muito interesse elaborar uma listagem de profissionais
O pensamento latino-americano terá que ser aquele que surja da circunstância latinoamericana, mesmo que se utilize de pensamentos europeus para formular seus projetos.
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grega ou em Nietzsche ou Wittgenstein), por mais meritórios que sejam estes trabalhos.
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universitários latino-americanos especializados em pensamentos europeus (em filosofia
Nesta relação, parte-se da convicção de não haverem filosofias universais não situadas; o que hoje consideramos como sendo “problemas filosóficos universais” constitui, na verdade, uma universalidade pensada desde Europa, e não algo universal em sentido absoluto. Nesse sentido, não se considera aqui que existam “problemas universais da filosofia” que comporiam um conjunto duro e objetivo de problemas, mas que os pensamentos universais são sempre pensados desde algum lugar. O fato de hoje considerar-se o universal como idêntico ao pensamento europeu, é o resultado de uma ação política específica e não algo “natural”. É claro que não existe uma lógica europeia ou uma lógica latinoamericana; existe, simplesmente, lógica. Mas um pensador uruguaio de início do século XX, Carlos Vaz Ferreira, (que está presente na relação de autores), escreveu um livro de lógica chamado “Lógica Viva”, uma apropriação originalíssima do tema das falácias que um europeu dificilmente escreveria. Esse livro não é sobre “lógica uruguaia”, mas simplesmente um livro de lógica escrito desde o Uruguai. Muitas pessoas podem estar aguardando que os filósofos latino-americanos apresentem teorias do conhecimento que possam competir com a teoria de Kant, teorias éticas que possam confrontar-se com Spinoza ou Habermas, ou ontologias que possam comparar-se com Heidegger. Bom, não existem tais teorias na história do pensamento latino-americano, de maneira que será inútil esperá-las dos pensadores desta lista. Pois a própria noção de “filosofia” tem que ser reformulada quando feita desde América Latina, em lugar de adotar sem crítica a visão predominante e pensar que estamos obrigados, para valer como filósofos, a apresentar “contribuições” à filosofia europeia. Dada a sua inicial situação de dependência e de saber imposto, o problema da emancipação plena pode ser um problema filosófico – teórico-prático – que tenha prioridade sobre, por exemplo, o estudo da situação atual do pensamento kantiano na Ética, ou o atual desenvolvimento das lógicas não clássicas, embora estas questões possam continuar interessando. Filosofar desde América Latina nunca foi apenas pura contemplação; praticamente a totalidade dos pensadores mencionados a seguir não apenas escreveram obras filosóficas teóricas, mas foram também jornalistas, ou
estivesse vinculada com as análises da dependência e as lutas pela emancipação.
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escreverem seus textos, não procuravam uma “verdade” puramente objetiva que não
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desempenharam atividades políticas, desde a diplomacia até a militância direta; ao
Contra uma “objeção” muito corriqueira – de que seria uma contradição pensar contra o pensamento europeu utilizando pensamento europeu – trata-se de entender que a filosofia europeia continuará sendo estudada; apenas o euro-centrismo e o exclusivismo europeu será rejeitado, e a nossa própria relação com Europa deverá mudar. De todas maneiras, devemos trabalhar para que, num futuro próximo, não tenhamos mais que aludir à nacionalidade dos filósofos. Infelizmente, ainda não chegou esse momento, pois somente quando somos excluídos é que nos lembramos das nossas origens. Enquanto vivermos numa comunidade que estuda a questão da vaidade dos homens e conheça apenas os escritos de Hume sobre essa questão mas não tenha ouvido falar de Matias Aires, teremos que continuar falando em nacionalidades.
ACERCA DA PRESENTE SELEÇÃO Nesta cartilha introdutória, tentamos relacionar alguns dos marcos principais do pensamento desde América Latina, começando com rudimentos do pensamento indígena – onde ainda não existe a rigor a categoria de autor – focando depois os pensamentos oriundos do choque cultural com o invasor europeu no período colonial, de 1500 a 1820, aproximadamente; logo, o período de reação contra esse passado – de 1820 a 1940 aproximadamente - e finalmente o período contemporâneo. Mas aqui tem que ter uma cautela; as “reações” contra a Escolástica do primeiro período são constituídas, em América Latina, seguindo pautas europeias: por exemplo, pela “modernidade” cartesiana, pelo “Iluminismo” alemão e escocês, pelo positivismo, pela atual crítica contra a Metafísica, etc. Muitos destes referenciais europeus servem de apoio teórico para as “independências formais” dos países latino-americanos, quase
genuínas reações contra a hegemonia do pensamento europeu colonizador, além das reações internas a esse pensamento.
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pensamento filosófico desde América Latina, ainda deveriam ser descobertas as
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todas acontecidas nas primeiras duas décadas do século XIX. Mas numa história do
Essas genuínas reações desde América Latina acontecem somente quase um século depois das independências formais, na passagem do século XIX para o XX, com o pensamento americanista (José Marti, de Cuba, José Enrique Rodó do Uruguai, José Carlos Mariátegui, do Perú), logo depois com o pensamento da emancipação (Leopoldo Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne, Horacio Cerutti Gulberg). No Brasil, o pensamento da emancipação se da principalmente através das ciências sociais: pela Antropologia (Darcy Ribeiro, Eduardo Viveiros de Castro), a Sociologia (Gilberto Freyre), a história (Sérgio Buarque de Holanda), a Educação (Paulo Freire), a teologia (Leonardo Boff) ou a literatura (Oswald de Andrade), mais do que pela filosofia. Uma última observação: embora os títulos das obras escritas em espanhol estejam traduzidos para o português, para melhor entendimento do leitor brasileiro, quase nenhuma delas foi nunca traduzida no Brasil. Além do mais, as obras latinoamericanas mencionadas, com raras exceções, nunca foram reeditadas, apenas sendo encontradas em sebos em péssimo estado. Algumas exceções são a publicação em português do clássico argentino do século XIX, “Facundo” de Domingo Sarmiento; as obras do positivista argentino José Ingenieros, alguns livros do pensador mexicano Leopoldo Zea, os de Enrique Dussel e algumas poucas mais. O resto permanece desconhecido. Isto já é um fato político importante, indica para uma estratégia editorial
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e uma lógica da visualização (e não visualização) da produção filosófica.
PENSAMENTO INDÍGENA
Pensamento americano milenar A inclusão das culturas indígenas na história do pensamento latino-americano tem o efeito imediato de derrubar o conhecido argumento das nossas tradições serem “recentes”, ao lado das tradições milenares da China, da Índia ou da Grécia. Isto decorre de estabelecermos o início do pensamento latino-americano no século XIX ou inclusive no XX, como querem as ideologias oficiais, que identificam filosofia com “modernidade” ou com “filosofia profissional”; mas algumas culturas indígenas são muito antigas; a suposta “brevidade” das tradições americanas não é, pois, um dado “objetivo” ou cronológico, mas algo politicamente construído. A história da filosofia não começa, desde América Latina, com os présocráticos; é a cultura do dominador que começa com eles. O começo do filosofar desde América Latina é o pensamento indígena milenar, a invasão, exclusão e destruição das suas culturas e a imposição de uma cultura que começa com os pré-socráticos; os présocráticos não fazem parte da circunstância latino-americana, a não ser como objetos culturais inicialmente impostos pela força, e, hoje, junto com o resto do acervo europeu, como objetos de interesse intelectual e eventual aproveitamento para um pensamento da emancipação. Existem três atitudes a respeito das culturas indígenas: (a) Pretender voltar a essas culturas sem as mediações atuais; trata-se de uma postura romântica insustentável. (b) Esquecer totalmente o passado indígena como culturas perdedoras e ultrapassadas; esta parece uma postura conformista e superficial; (c) Estudar os pensamentos indígenas em interação com nossa circunstância atual, tentando implantar uma relação de igualdade e intercâmbio entre ambas (precisamente o que não houve no século XVI e
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adequada.
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seguintes, e possivelmente não há até hoje). Esta terceira parece a atitude mais
Problemas metodológicos no estudo dos pensamentos indígenas.
Em primeiro lugar, não há algo como “o pensamento indígena”, mas pensamentos indígenas em plural, muito diversificados em comunidades diferenciadas, com culturas e línguas diversas. (O problema da DIVERSIDADE). Em segundo lugar, a persistente tendência – mesmo nos indigenistas de mente aberta, como o mexicano Miguel León Portilla - a definir “filosofia” da maneira ocidental europeia – como indagação racional, teórica, argumentativa, objetiva - e ver os pensamentos indígenas como não sendo “filosofia” em absoluto ou como sendo “quase filosofia”, no sentido de “quase racional”, “não puramente mítica”, etc. (O problema do REDUCIONISMO). Em terceiro lugar, as tremendas dificuldades no estudo das fontes de pensamentos que foram e são ainda ignorados ou marginalizados, e que têm que ser desenterrados, até o ponto de nunca termos a certeza de estarmos realmente estudando pensamentos indígenas,
e não
alguma das suas
muitas deturpações.
(O problema do
ENTERRAMENTO). Quarto, o risco de, mesmo conseguindo dados razoavelmente fidedignos sobre pensamentos indígenas, que eles representem para nós algo de totalmente outro, dificilmente compreensível, ou talvez definitivamente inescrutável. (O problema da ININTELIGIBILIDADE). Por estes motivos, tudo o que se dizer sobre pensamento indígena será hoje unilateral, incompleto e em muitos pontos incompreensível. Nestas condições precárias, os pensamentos indígenas terão que entrar na perspectiva latino-americana aceitando-se estas opacidades insuperáveis; jamais teremos acesso a esse pensamento tal como foi existido pelos indígenas, mas já numa interação complexa com as culturas do dominador e, no caso do Brasil, também com a cultura africana, que entra na circunstância latino-americana num outro viés. A abertura ao pensamento indígena não significa considerar o universo indígena como uma espécie de “paraíso” que teria sido maculado pela invasão espanhola e portuguesa; trata-se de sistemas simbólicos a serem considerados e estudados, mas não
Paraíso”, de 1959) ou adotados atualmente sem mediações como sendo melhores que outros sistemas simbólicos.
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Rousseau, visão criticada por Sérgio Buarque de Holanda em seu livro “Visão do
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de “milagres” a serem idealizados (no viés de um Montaigne ou, sobretudo, de um
Pensamentos indígenas
Existe uma boa dose de arbitrariedade na escolha oficial das “principais” culturas indígenas como sendo as mesoamericanas (nahuas, maias) e as andinas (incas); critérios como, por exemplo, as construções de pedra, o sedentarismo, ou mesmo a escrita, não são absolutos, e muitas culturas indígenas consideradas “menores” podem trazer elementos muito importantes para entender pensamento indígena. A presente cartilha, pelas suas características introdutórias, limita-se a essa escolha padrão, com o acréscimo de algumas culturas indígenas brasileiras (não tratadas no livro de Beorlegui que em parte seguimos), mas deixando abertura para o estudo futuro de muitos pensamentos indígenas considerados “de menor importância”.
Nahuas Os nahuas são grupos de índios da América Central (mesoamericanas) que falam a língua náhuatl, sendo os principais os aztecas ou mexicas. As primeiras comunidades nahuas remontam a 2000 anos a.C., as mais notáveis sendo de aproximadamente 1200 anos a.C. (cultura olmeca), do século XV a.C. (toltecas) e finalmente os aztecas, que floresceram a partir do século XIV d.C, com a fundação de Tenochtitlán (1325), nome que significa “Lugar das tunas sobre as pedras”. Os aztecas foram submetidos por Hernan Cortez em 1521. A fonte principal de estudo da cultura nahua são os escritos de Frei Bernardino de Sahagún (1499-1590), um missionário franciscano que se ocupou com historiografia e etnografia mexicana. 1000 anos antes da invasão espanhola, predominava a cosmovisão tolteca, cujo centro era Quetzalcóatl, a serpente emplumada, uma das principais deidades do panteão nahua. Quetzalcoatl representa as energias telúricas que ascendem, a abundância da
pela qual os espanhóis dominaram tão facilmente estes povos. Estes indígenas tinham uma ideia do Ometéotl, que era um princípio dual, deidade que se inventa a si mesma e
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acreditaram que Hernán Cortez era Quetzalcóatl e essa parece ter sido uma das razões
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vegetação, o alimento físico e espiritual para o povo. Durante a conquista, os indígenas
não precisa nenhum outro fundamento ontológico; nele se reúnem os opostos e o caos, mas também os princípios ordenadores; espírito/matéria, branco/preto, vida/morte, masculino/feminino, criação/destruição. Teoltl é uma força vivificante e destruidora, incansável, uma espécie de devir instável que não é agentiva, pessoal ou intencional; Ela não é, ela devém, transforma-se e transforma; diferentemente da cultura ocidental, que considera o essencial como imóvel, os nahuas consideram o essencial como em perpétuo movimento. Segundo os nahuas, o mundo é um lugar muito perigoso para humanos; o equilíbrio é facilmente perdido; a pergunta fundamental é: “Como podem os humanos caminhar e florescer na terra?”. Os sacrifícios humanos tinham a ver com tentativas de estabelecer certos equilíbrios cósmicos e compensar os deuses. Há um forte sentimento de acabamento, do risco de acabar de maneiras calamitosas. Muitas das práticas indígenas são maneiras de demorar ou evitar essas calamidades, de maneira de estabelecer um elo entre o destino do mundo e as ações dos homens. Uma preocupação básica é se todos os esforços humanos conferem algum sentido à vida, ou se tudo é absurdo e não merece a pena, dado que morremos. Três preocupações básicas dos nahuas: o destino humano, a linguagem adequada aos deuses e a questão da morte e o além. Os “tlamatinime” são os sábios nahuas, “aqueles que conhecem as coisas por experiência”, capazes de enfrentar os problemas de acabamento e falta de sentido e tentar orientar as ações para seu tratamento ou resolução em ações e atitudes. Algumas das funções dos tlamatinime são: tornar sábios os rostos alheios, por um espelho diante dos outros, humanizar o querer dos homens, confortar os corações. Bernardino de Sahagun registrou uma interessante e intensa polêmica entre os sábios nahuas e os frades conquistadores, se queixando aqueles de ter sua cultura devastada e pedindo morrer uma vez que seus deuses foram mortos.
Honduras e El Salvador. Muito antigas; nascem em torno de 1000 a.C, sendo seu período clássico entre 300 e 900 d.C. Continuaram ao longo dos séculos, mas já não
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Os Maias são também mesoamericanos, ocupando os atuais territórios de
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Maias
eram florescentes na época da invasão espanhola. Para este povo, as forças da natureza e as diversas vicissitudes da vida, esforçada e difícil, são vistas como ações e lutas entre os deuses; a própria passagem do tempo, seu efeito demolidor, é também endeusada. Os maias desenvolveram um pensamento sofisticado e complexo sobre a temporalidade; organizaram o espaço da vida em 3 andares: deuses, mundo e homens. O próprio conflito interior humano, entre seus desejos animais e sua inteligência superior, é vista como uma luta entre forças favoráveis e desfavoráveis (não como bem ou mal, conceitos ocidentais); a atitude dos maias diante dessas forças não é de amor ou devoção, mas de reverência e temor, de incerteza e cautela. Aqui também aparece a deidade da serpente emplumada, mas com outros nomes; como nos astecas e incas, o Sol aparece como um deus (pela sua relação com o tempo, a luz, a vida, os ciclos); a matemática maia, a sua medição do tempo e seus calendários, estão a serviço da lida com a vida, do ameaçador e dos deuses protetores. Os maias não falaram uma única língua, chegaram a ter até 28 línguas diferentes, a diferença das culturas nahuas, que estiveram fortemente ligadas a uma única língua, a nahuatl. Mas houve na cultura maia mais textos escritos importantes, que atravessaram os tempos, em parte transmitidos oralmente, depois escritos e desaparecidos, e tornados a escrever depois da invasão espanhola, alguns deles transcritos e protegidos pelos próprios frades. O mais importante texto maia é o Popol Vuh (Livro do Conselho, ou da Comunidade); foi primeiro desenhado, pintado, transmitido oralmente, reescrito no século XVI, por um indígena, chegando às mãos de Francisco Ximenez, um padre da Guatemala, no século XVII ou XVIII. O livro está perpassado por influências cristãs frutos da invasão. O Popol Vuh está escrito em língua quiché, e é um livro sobre o nascimento, do mundo e dos humanos; contam-se 3 tentativas de criar o humano: de barro, de madeira e de milho (maíz). Os deuses dispensam as duas primeiras tentativas porque esses seres criados não têm memória nem capacidade de adorá-los e servi-los. “Nossa adoração é imperfeita se vocês não nos invocais” (Popol Vuh, 3). Também temos os livros do Chilam Balam, de tom profético, escrito muito tempo depois da invasão, durante o
inframundo – que aparecem no Popol Vuh – dominavam e tinham o universo cativo; no viés apocalíptico típico de muitas culturas indígenas, este escrito relata a destruição e
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previram a invasão europeia; narram também um mito originário onde os deuses do
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século XVIII; as suas profecias são retrospectivas e alguns intérpretes consideram que
renascimento dos níveis do inframundo, o desmoronamento do céu e o afundamento da terra.
Incas Os Incas são comunidades sul-americanas; viveram na região da Cordilheira dos Andes nos atuais Peru, Chile, Bolívia, Argentina e Equador. No século XIII fundaram a cidade sagrada de Cusco. Falavam a língua quechua. Foram submetidos por Francisco Pizarro. Não conheceram a escritura, mas construíram os Kipú, espécies de contas entrelaçadas que constituem uma espécie de registro. Não houve apenas incas na região andina, de maneira que deveria falar-se de andinos incas e não incas; mas incas e não incas partilham numerosos temas sobre o mundo, o humano e o não humano. Tawatinsuyu era o nome da região inca; significa “as quatro partes juntas, unificadas”. A realidade inca compõe-se de deus (Wiracocha), mundo (Pacha) e homem (Runa). Os “amautas” eram os sábios incas, ou poetas filósofos, ou sacerdotes. Temas muito semelhantes aos nahuas aparecem nas filosofias andinas: consideram o cosmos e tudo o que há nele como vivificado por uma força vital única; tudo é dinâmico, em fluxo e em constante circulação. Esta força assume a forma de dualidades complementares, não de dualismos antagônicos de tipo ocidental, pois trata-se de forças que se opõem mas não se excluem nem destroem. O cosmos consiste na contínua alternância destas dualidades; às vezes, esta complementariedade rompe-se provocando um desequilíbrio, uma desintegração cataclísmica (pachacuti), marcando etapas; o cosmos tem passado já por quatro etapas, ou “soles”. Mas o cosmos andino é aberto, no sentido de sujeito a ações humanas transformadoras, que contribuem a manter o mundo funcionando; mesmo os deuses estão em constante mudança, e a participação humana é absolutamente necessária; existe uma sabedoria em apreender a interagir com o mundo
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ao qual se pertence.
Indígenas brasileiros
Existe ainda um elevado número de tribos indígenas no Brasil, aproximadamente 128 comunidades espalhadas na Amazônia, Pará, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Acre, Tocantins, Goiás, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro,Ceará, Alagoas, Amapá, Minas Gerais e Bahia. Há outros censos que registram em torno de 200 tribos com quase 200 línguas diferentes. As tribos brasileiras remetem a 4 troncos linguísticos fundamentais: tupi (litoral), macro-jê (interior), karib e aruak. A denominação “tapuia” não indicava uma etnia, mas um termo depreciativo, como “bárbaro”, que o grupo tupi utilizava para denominar todas as outras tribos (o que prova que a discriminação e o etnocentrismo também vigoravam entre indígenas). Os invasores espanhóis contribuíram para esta simplificação entre tupis e tapuias, considerados rebeldes à evangelização e ao “processo civilizatório”. Afirma-se que não houve no Brasil grandes culturas indígenas comparáveis às incas, maias e astecas, mas isto também é relativo a critérios controversos, como o considerar “superiores” as culturas urbanas e edificadoras, portanto, sedentárias. Não obstante, o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro escreve, no início de seu texto “Xamanismo e sacrifício”, falando das práticas sacrificiais nos Araweté: “Eles não diferem, enquanto a isso, da maioria dos povos das terras baixas sul-americanas, onde se encontram aqui ou ali práticas que poderiam talvez ser ditas de „tipo sacrificial‟, mas que jamais atingem a elaboração sociológica, a formalização ritual e a densidade cosmológica alcançada, por exemplo, nos sistemas religiosos das culturas andinas ou mesoamericanas” (Em: A inconstância da alma selvagem, p. 459). Nas populações indígenas brasileiras, os sábios são os pajés (ou xamãs), que poderiam ser postos ao lado dos tlamatinime nahuas, dos amautas incas e dos philosophoi gregos; cada cultura possui algum tipo de sábio que lida com o desconhecido que tem que se esclarecer, algum tipo de sacerdote, de líder espiritual
as culturas indígenas brasileiras estão caracterizadas por certa fragmentação, por uma rejeição de toda acumulação, de qualquer tentativa de centralização (na forma de um
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perspectivas diversas, ou de ver além das aparências, etc. Segundo Viveiros de Castro,
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capaz de fornecer um domínio sobre as forças ameaçadoras, ou de colocar-se em
Estado, por exemplo); em certa forma, cada humano, cada ser vivo, cada coisa, é um Estado, uma perspectiva sobre o mundo; não há ponto privilegiado, mas uma horizontalidade dispersa, uma destruição cerimonial do excedente a través da guerra perpétua, da vitória sobre o inimigo não pela destruição mas pela incorporação de sua perspectiva, nunca uma eliminação total, mas uma deglutição, uma assimilação ritual. A metafísica tupinambá, por exemplo, é uma metafísica perspectiva, caleidoscópica, múltipla e descentrada; não há nenhuma “fusão de horizontes”, nenhuma compreensão universal das coisas, nenhuma verdade objetiva e única. Para o ocidental, conhecer é despojar de subjetividade, des-subjetivizar, ver o objeto nu como ele seria em si mesmo; é des-animar o objeto, tirar-lhe qualquer alma, des-encantar. Para o indígena tupinambá, é o contrário, conhecer é atribuir uma intencionalidade, uma perspectiva, é animar; algo impessoal lhe seria totalmente ininteligível. Em certa forma, para eles tudo é humano, os animais já foram humanos, ou podem ser alternadamente humanos e animais; e é por isso que tudo é perigoso, por ser humano, por ter uma intencionalidade, em geral maligna; há um fundo comum que é humano (a diferença do ocidental que pensa a humanidade como um desdobramento de um fundo animal). Este perspectivismo fragmentado está intimamente ligado com os rituais antropofágicos, como assimilação ritual de outras perspectivas, desvinculada da função nutritiva. Morrer devorado era, por sua vez, uma morte digna e personalizada para o tupinambá; não apenas devorar, mas ser devorado, acolhido pelo humano; morrer “naturalmente” – de uma peste, por exemplo - interromperia a cadeia simbólica das vinganças, e seria uma morte sem qualquer sentido.
Mapuches Os Mapuches (que significa “gente da terra”) são um povo indígena da região centro-sul do Chile e sudoeste da Argentina, também chamados araucanos, nome
de Quilín, declarando as terras austrais ao rio Bio-Bío “território autônomo Mapuche". Essa persistente resistência, que sacrificou três quartos da sua população, fez com que,
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submetê-los, os espanhóis se viram obrigados, no ano 1641, a firmar com eles o Tratado
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possivelmente colocado pelos espanhóis ou pelos incas. Com os sucessivos fracassos de
dentre todos os grupos indígenas de América Latina, os Mapuches fossem os únicos a conseguir autonomia territorial frente ao império espanhol. Após a “independência” chilena em 1818, embora o Estado chileno formalmente ratificasse o “território autônomo Mapuche”, a existência deste povo era um obstáculo para o projeto de “modernização” do país. A partir de ali, diversas políticas nacionais foram reduzindo gradativamente os territórios mapuches, ocasionado a morte de milhares de indígenas e o despojo de grande parte de seus territórios. A resistência mapuche persiste ainda hoje, e é por isso que o estudo deste povo e sua cultura merece destaque especial.
Pensamento indígena hoje
Alguns dos pontos mais promissores para uma possível interação com as culturas indígenas, através da mediação europeia, podem ser os seguintes: (a) A ideia de um pensar não conceitual, ou conceitual através de imagens e narrativas, pensar fluído, temporal, poético; (b) A ideia de um pensar como sobrevivência diante dos rigores e agruras da natureza e da sociedade humana e animal; admiração, curiosidade ou dúvida seriam tributárias de um sentimento mais básico, sem as transcendências puramente teóricas e pretensamente “desinteressadas” do pensamento ocidental; (c) Aprender a ver os próprios mitos sacrificiais das nossas culturas, tudo o que é sacrificado para a “civilização” moderna continuar a se desenvolver; (d) Visualizar a espantosa persistência da religiosidade e o sentimento do sagrado nos povos através das épocas até hoje, o que sugere um vínculo profundo com os povos originários; (e) Visualizar o sentido atual das resistências indígenas contra um sistema de organização da vida
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humana que está levando o planeta a uma situação de inevitável destruição.
PENSADORES DO PERÍODO COLONIAL (Séculos XVI a XVIII)
Observação preliminar: A visão americana da filosofia é aqui concebida como um evento histórico-existencial, não como mero fato geográfico ou nacional. Isto significa que quando europeus assumem, mesmo que de maneira limitada, o ponto de vista americano, por exemplo, na questão da resistência indígena, não interessa que, geograficamente, esses pensadores tenham nascido na Europa. Para os efeitos da relação desta cartilha, pensadores do período colonial nascidos em Portugal ou na Espanha que pensaram o problema americano, fazem parte do pensamento americano em sentido histórico-existencial.
Fray Antón de Montesinos (1482, local desconhecido – 1540, Venezuela). Frei dominicano espanhol; chegou em 1510 à Espanhola (atual República Dominicana) junto com a primeira comunidade de sua ordem. Em 1511 Montesinos fez o primeiro sermão de denúncia dos abusos e crimes contra os índios, diante dos colonos espanhóis, incluindo o governador Diego Colombo, filho de Cristovam Colombo. Bartolomé de Las Casas foi um dos ouvintes deste famoso sermão, ficando profundamente impressionado. Montesinos foi acusado pelos colonos e pelo próprio Diego Colón de professar uma “doutrina nova” e colocar em perigo o governo espanhol nas Índias. Acredita-se que foi envenenado por colonos na
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Venezuela.
Francisco de Vitoria (1483, Burgos – 1546, Salamanca), foi um filósofo, teólogo católico e jurista espanhol que lecionou na Universidade de Salamanca. Foi notável principalmente por suas contribuições a teoria da “guerra justa”. Tem sido considerado por alguns acadêmicos como o pai do direito internacional e fundador da filosofia política global. Foi educado em Paris no Collège Saint-Jacques e em 1504 tornou-se dominicano. Principais obras: De potestate civili, 1528, Del Homicidio, 1531, De potestate ecclesiae I and II, 1532, De Indis, 1532, De Jure belli Hispanorum in barbaros, 1532, Relectiones Theologicae, 1557, De Indis et De Jure Belli (1917).
Bartolomé de las Casas (Sevilha, 1484 - Madri, 1566). Sacerdote dominicano, cronista, teólogo, bispo de Chiapas. Em 1510 foi ordenado primeiro padre das Américas. Em 1511, ouve um sermão de Antonio de Montesinos contra as atrocidades contra os índios, mas só em 1514 convence-se da injustiça das ações espanholas na colônia, começa a pregar em defesa dos nativos e abdica de seus privilégios. Seus posicionamentos
levaram-no
a
ser
perseguido
pelos
colonizadores. Em 1527 começa a escrever a Historia de las Índias, reportando seu testemunho dos anos da conquista. Em 1550-51, envolve-se num debate na cidade de Valladolid com Juan Ginés de Sepúlveda, que defendia a tese de que os indígenas deviam ser pacificados à força. Em 1552, publica Brevísima relación de la destrucción de las Indias, relatando as atrocidades cometidas nos primeiros anos da
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conquista.
Juan Ginés de Sepúlveda (Pozoblanco (Espanha), 1489 1573). Bacharel em Artes e Teologia. Membro da Ordem Dominicana, conhecido por sua fluência em línguas clássicas. Tradutor de Aristóteles, a passagem da Política onde o autor discorre sobre a escravidão por natureza exerceria grande influência em seu pensamento. Foi crítico das reformas eclesiásticas e da ideia de livre-arbítrio defendida por Erasmo e Lutero. Considerado o defensor oficial da conquista, colonização e evangelização dos indígenas da América. Em 1550, participou da famosa Controvérsia de Valladolid com Bartolomé de Las Casas a questão da humanidade dos indígenas. Obras principais: De rebus hispanorum gestis ad Novum Orbem Mexicumque, De justis belli causis apud índios, Democrates, sive de justi belli causis.
Bernardino de Sahagún (Sahagún, Espanha, 1499 - México, 1590). Foi um frade franciscano que desembarcou na “Nova Espanha” (México) em 1529, onde estudou por mais de 50 anos a história e cultura astecas, além de contribuir para o conhecimento da língua nahuatl, sendo por isso considerado como o primeiro etnógrafo. Sua obra principal é Historia General de las Cosas de la Nueva España, escrita entre 1540 e 1585, célebre por apresentar a história do choque de culturas na visão dos indígenas. Ajudou a fundar uma das primeiras escolas europeias da América, o Colegio Imperial de Santa Cruz de Tlatelolco, centro de recrutamento de nativos para estudos do evangelho e lugar de estudo da
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língua nahuatl.
Manuel da Nóbrega (Sanfins do Douro (Portugal) 1517 – Rio de Janeiro, 1570) foi um padre jesuíta português, o primeiro provincial da sociedade de Jesus no Brasil colonial. Ao lado de José de Anchieta, esteve muito presente no começo da história do Brasil, participando da fundação de muitas cidades, como Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, e de vários colégios e seminários jesuíticos. Nóbrega foi contra a escravização dos índios e essa postura gerou graves confrontos com os habitantes e autoridades da nova colônia. Principais obras: Cartas do Brasil (1549-70), Diálogos sobre a Conversão do Gentio (1557), Caso de Consciência sobre a Liberdade dos Índios (1567) e Tratado Contra a Antropofagia (1559).
Pedro da Fonseca (Cortiçada, Portugal,1528 - Lisboa, 1599). Filósofo e teólogo jesuíta português, profundo conhecedor da filosofia de Aristóteles, dedicou-se com afinco aos
c
omentários
pormenorizados
deste
filósofo,
especialmente em seus “Comentários à Metafísica de Aristóteles”, obra que teve mais de 50 reedições. Também escreveu “Instituições dialéticas”. Mas, como Suarez, pensava que comentar Aristóteles não era suficiente, que havia que adaptá-lo aos tempos novos. Também participou das controvérsias sobre liberdade e graça divina. Em Coimbra, promoveu a ideia de um Cursus Conimbricencis, que depois foi realizado pelos jesuítas. Morando em Roma, participou da elaboração da famosa Ratio Studiorum,
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posteriormente adotada pela Companhia de Jesus.
Felipe Guaman Poma de Ayala (San Cristóbal de Suntuntu, 1534 – Lima, 1615). Cronista peruano, de ascendência nobre, autor da narrativa Nueva Crónica y Buen Gobierno, escrita entre 1600 e 1615, considerada como o primeiro depoimento da conquista espanhola feita desde a perspectiva de um indígena. A obra está escrita numa língua mista, de espanhol e línguas indígenas, ilustrada com desenhos do próprio autor, na forma de uma carta ao rei da Espanha, Felipe II. O manuscrito da obra foi perdido durante séculos e somente foi encontrado em 1908 em Copenhague. O autor elogia as formas
de
governo
indígenas
anteriores
à
invasão,
considerando-as mais adequadas ao espírito cristão. Junto com Las Casas, Poma é um dos grandes representantes da chamada “visão dos vencidos”.
Luis de Molina (Cuenca (Espanha), 1535 – Madri, 1600) foi jesuíta, teólogo e jurista espanhol. Estudou Direito em Salamanca e teologia em Coimbra. A doutrina defendida em sua obra De Concordia é conhecida como molinismo. Nela, procura conciliar a liberdade humana com a graça divina. Defende a capacidade do homem, servindo-se de sua razão natural, de realizar os atos de acordo com a fé cristã, sem necessidade de revelação divina, Deus intervindo nas ações humanas pela ciência media, que lhe garante conhecimento prévio de todas as possíveis ações de cada indivíduo. As ideias dessa obra geraram uma polêmica com os dominicanos conhecida como Polêmica de auxiliis. Em De Iustitia et Iure, Molina nega que a superioridade cultural e civilizacional
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mais bárbaros que fossem.
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fossem justificativas para a dominação de outros povos, por
Francisco Suárez ( Granada, 1548 – Lisboa, 1617) foi um padre jesuíta, filósofo e teólogo espanhol, tido como um dos maiores escolásticos. Participou do famoso método da Ratio Studiorum. Escreveu uma Defesa da fé católica e apostólica contra os erros da seita anglicana que foi queimada em público em Inglaterra e França. Participou da disputa de auxiliis sobre o livre arbítrio e a graça divina, entre dominicanos e jesuítas, iniciada por Molina. Suas posturas jurídicas são avançadas, incluindo o direito de gentes de derrocar o mal governante; criou um sistema filosófico coeso magistralmente exposto nas célebres Disputações Metafísicas de 1597. Outras obras: Disputatio ultima de bello (1584), Quaestiones de iustitia et iure (1585), De homicidio in defensionem propriae personae (1592), De Legibus tractatus (1601-1603), De triplice virtute theologica (1621, obra póstuma).
Antônio Rubio (La Roda, Espanha, 1548 – Espanha, 1615). Estudou filosofia na Universidade de Alcalá, e, antes de concluir o curso, entrou na Companhia de Jesus. Viaja ao México na primeira leva de jesuítas às Américas em 1575. A partir de então se dedica à docência. Foi grande admirador de Aristóteles, tornando-se conhecido pelos seus volumosos comentários a esse autor. Porém, sua maior contribuição à filosofia se deu em lógica com seu livro “Lógica Mexicana” de 1605, um livro tão importante que filósofos como Descartes aprenderam lógica com ele. Escreveu também “De Physico Auditu”, (1605), e comentários ao “De Ortu et Interitu Rerum Naturalium”, (1609), ao “De Anima”, (1611),
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e ao “De Caelo et Mundo”, (1615).
Francisco Sanches (Tuy ou Braga, Espanha, 1550 - França, 1622). Filósofo e médico, judeu sefardita, nasceu na Espanha mas foi batizado como cristão-novo em Braga (Portugal). Aos 12 anos, mudou-se para Bordeaux e em seguida foi estudar medicina em Roma. Em 1575, tornou-se professor de filosofia e medicina em Toulouse, onde praticou durante 30 anos dedicando-se a investigar em cadáveres. Além de médico,
foi eminente
filósofo,
crítico
declarado
do
aristotelismo e da Escolástica, e defensor de um tipo de ceticismo radical, pelo qual é considerado um precursor de Hume. Em sua obra mais famosa Que nada se sabe (1581), afirma que o conhecimento humano é meramente provável, só alcançando aparências, nunca essências; contra a “dúvida metódica” de Descartes, declara que os sentidos são o único que pode nos dar algum tipo de conhecimento seguro.
Antônio Vieira (Lisboa, 1608 – Salvador, 1697). Jesuíta, filósofo e orador luso-brasileiro. Aos 6 anos faz a sua primeira viagem ao Brasil. De imediato impressionam seus extraordinárias dotes de orador e pregador. Em 1661, teve que enfrentar o Tribunal da Inquisição por causa de algumas das suas teses. Foi autor de numerosos Sermões, que ele muitas vezes elaborava de acordo com circunstâncias específicas, textos notáveis por sua retórica, beleza e contundência, versando sobre temas como a questão indígena, a escravidão dos negros, a condição humana, religião, moral e política. Também merecem destaque suas obras proféticas, entre as quais a História do Futuro (iniciado
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em 1649, mas publicado postumamente em 1718).
Sor. Juana Inês de La Cruz (San Miguel Nepantla, México, 1651 – Cidade de México, 1695). Talvez a escritora mais importante do século XVII, pensadora católica, poetisa e dramaturga. Possuía um desejo insaciável de compreender tudo; mesmo num meio adverso, acometeu estudos em filosofia clássica e medieval, defendendo o direito da mulher de fazer investigação. Parece ter escolhido a vida religiosa mais para preservar seu espaço de estudo do que por genuína vocação; sua cela se converteu em ponto de encontro de intelectuais e até em lugar de experimentos científicos. Suas reflexões estão perpassadas pela dúvida no poder dos sentidos e do intelecto para atingir verdades profundas. Grande parte da sua obra foi perdida; se conservam sua Resposta a sor Filotea de la Cruz, sobre críticas que Sor Inés tinha feito ao sermão do Mandato de Antonio Vieira; e o poema filosófico Primer Sueño.
Nuno Marques Pereira (Bahia ou Portugal, 1652 - Lisboa, em torno de 1733). Foi um padre e escritor luso-brasileiro de cunho moralista. A única produção que nos deixou é uma obra de moral religiosa, chamado Compêndio narrativo do peregrino de América, escrito “contra os abusos introduzidos pela malícia diabólica no Estado do Brasil”. Este livro teve enorme sucesso editorial no século XVIII; trata-se de um manual de educação piedosa incluindo narrativas, parábolas e meditações filosóficas, escrito em forma de diálogo, destacando a condição dos humanos no mundo como peregrinos. Em muitos momentos da obra o tom é pessimista e moralista, mas o escravagismo e anti-semitismo são
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justificados usando categorias religiosas.
Matias Aires (São Paulo, 1705 – Portugal, 1763) foi filósofo luso-brasileiro, passando apenas os primeiros 11 anos da sua vida no Brasil, tendo estudado com os jesuítas. Em 1716 mudou-se com a família para Portugal e nunca mais voltou para o Brasil. Matias formou-se em direito em Coimbra e morou um tempo em París. Levou uma vida de estudo e reclusão. Autor de Reflexões sobre a vaidade dos homens e Carta sobre a fortuna. A primeira obra teve muito sucesso no Brasil. Nela, Matias faz uma análise sobre o comportamento humano que se vê fundamentado na vaidade, paixão que ganha status metafísico na sua fina reflexão de fundo cético e pessimista.
Javier Clavijero (Veracruz, 1731 – Bolonha, 1787). Jesuíta, historiador e pensador mexicano, figura eclética que cultivou uma escolástica modernizada. Viveu em várias regiões quase todas com forte presença indígena, chegando a aprender a língua náhuatl ainda criança. Ensinou em México e Puebla para alunos indígenas e em Valladolid e Guadalajara, até a expulsão dos jesuítas em 1767. Depois refugiou-se na Itália, onde faleceu. Pensou diversas questões sobre a sua pátria, além de criticar o barroquismo na linguagem e preconizar a modernização
da
escolástica.
Escreveu
uma
Física
particular, parte de um Curso de Filosofia que tinha projetado, uma Historia antigua de México, onde recupera o passado indígena e os defende das acusações da historiografia oficial, De las colonias de los tlaxcaltecas, Diálogo entre
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Filaletes y Paeófilo, entre outros.
Juan Benito Díaz de Gamarra (Zamora, México, 1745 1783). Figura representativa da ilustração no continente americano. Sua obra mostra uma atitude científica e antiaristotélica, bom exemplo do ecletismo ilustrado hispânico – de influência cartesiana e leibniziana - que tenta conciliar sistemas
aparentemente
incompatíveis.
Considerado
precursor das ideias da independência mexicana. Escreveu Elementos de filosofía moderna e Academias filosóficas (ambas de 1774), Errores del entendimiento humano (1781) e
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Memorial ajustado (1790).
PENSADORES DO SÉCULO XIX Silvestre Pinheiro Ferreira (Lisboa, 1769 - 1848). Filósofo e político português que ocupou importantes cargos. No início do século XIX teve oportunidade de ir à Alemanha e acompanhar o debate pós-kantiano e as conferências de Fichte e Schelling. Foi figura importante para o Brasil, talvez acidentalmente, pois acompanhou a família real na sua viagem ao Brasil fugindo das invasões napoleônicas, e acabou morando no Brasil entre 1810 e 1821, onde desen volveu grande parte da sua obra mais importante, as Preleções Filosóficas, publicadas em 1813, resultado de suas lições de filosofia ministradas no Real Colégio de São Joaquim, no Rio de Janeiro, obra de forte influência na formação filosófica brasileira. Autor de Noções elementares de filosofia e suas aplicações às ciências morais e políticas, de 1839.
Andrés Bello (Caracas, 1781 – Santiago de Chile, 1865). Filósofo, filólogo, pedagogo e jurista humanista venezuelano; de formação fortemente autodidata, desenvolve reflexões de estética, filosofia da linguagem e filosofia da lógica, e sobre filosofia em Hispano-américa. Foi professor de Simón Bolivar e precursor da independência. Morou em Londres por muitos anos e depois no Chile, onde desenvolve intensa atividade política e jornalística. Com seu apoio cria-se a Universidade do Chile em 1842, da qual seria reitor. Obras:
de gentes e a Filosofia del entendimiento (publicação póstuma).
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americanos y los esclavos españoles, Principios del derecho
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Gramática de la lengua castellana destinada al uso de los
Juan Bautista Aberdi (Tucumán, Argentina, 1810 – França, 1884). Jurista, diplomata e pensador argentino, o primeiro a utilizar o termo “filosofia americana” e a colocar o problema de um pensar próprio. Em 1835 se ligou com o Salão Literário, um grupo de jovens liberais, continuadores da revolução de maio. Em 1837 redige o Fragmento preliminar ao estudo do direito, onde faz um diagnóstico da situação nacional. No início partidário de Rosas, o controverso governador de Buenos Aires, mais tarde torna-se seu opositor, o que o leva a exilar-se em Uruguai e mais tarde em Paris. Após a queda de Rosas em 1852, Alberdi redige Bases y Puntos de Partida para la Organización Política de la República Argentina, que seria o esboço da constituição argentina de 1853. Diante de um país despovoado, popularizou a frase: “governar é povoar”. Teve polêmica memorável com Sarmiento nas Cartas quillotanas. Sua obra O crime da guerra foi publicada póstuma.
Nísia Floresta (Rio Grande do Norte, 1810, Rouen (França), 1885). Pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, educadora, escritora e poetisa potiguar. Uma importante representante do positivismo no Brasil, amiga pessoal de Auguste Comte. Considerada pioneira do feminismo no Brasil, Nísia Floresta escreveu, em 1831, uma série de artigos de jornal sobre a condição
feminina
numa
publicação
pernambucana
chamada Espelho das Brasileiras. Em 1853, vivendo na França, escreveu Opúsculo Humanitário, uma coleção de artigos sobre a emancipação da mulher que teria sido elogiada pelo próprio Comte. Sua obra mais conhecida é
escreveu Conselhos à minha filha (1842) e A lágrima de um Caeté (1849).
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como a primeira obra feminista da América Latina. Também
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Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens (1832), tida
Domingos José Gonçalves de Magalhães (Rio de Janeiro, 1811 – Roma, 1882) Escritor, diplomata e filósofo, conhecido por ter inaugurado o romantismo brasileiro com a publicação de seus Suspiros poéticos e saudade (1836). Sua obra poética trata de temas como a pátria, a religião e a natureza e às vezes exprime um amargo pessimismo. Enquanto filósofo e psicólogo escreveu obras como A alma e o cérebro, Comentários e pensamentos, e sua obra mais importante, Os fatos do espírito humano (1865), publicada primeiramente em Paris e considerado o texto inaugural da filosofia moderna no Brasil, dialogando com filósofos europeus
tais
quais
Descartes,
Condillac
e
Locke.
Considerado um representante do ecletismo brasileiro, seu pensamento é marcadamente espiritualista.
Domingo Faustino Sarmiento (San Juan (Argentina), 1811 – Asunción (Paraguai), 1888). Escritor e político argentino, de origem humilde, foi autodidata e chegou a ser presidente da Argentina. Durante o governo de Juan Manuel de Rosas, de quem foi forte opositor, foi no exílio no Chile onde escreveu sua obra mais famosa, Facundo: civilização e barbárie (1845), uma biografia do caudilho Facundo Quiroga mas que visava indiretamente Rosas, e onde coloca o dualismo civilização (Europa) e barbárie (índios, gaúchos), como categoria filosófica, sendo um dos propulsores da ideologia “civilizatória”. Fez parte do Exército Grande que derruba Rosas em 1852. Foi governador da sua cidade natal, embaixador nos EEUU e presidente entre 1868 e 1874. Durante sua presidência, abriu numerosas escolas públicas e a
imigração.
Recuerdos
de
provincia (1850) é outra das suas obras mais notáveis, ao lado de Las ciento y uma (1853), na sua famosa polêmica com Alberdi.
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incentivando
Página
bibliotecas,
Francisco Bilbao (Santiago de Chile, 1823 – Buenos Aires, 1865). Filósofo espiritualista, teórico da filosofia hispanoamericana e militante político. Com um grupo de amigos formou um movimento radical, a Sociedad de la Igualdad, que foi depois fechada, obrigando Bilbao a trabalhar na clandestinidade. Seus textos críticos contra a religião católica lhe valeram uma excomunhão; em Paris, utilizou pela primeira vez, numa de suas conferências, a expressão “América Latina”. Autor de Sociabilidad chilena (1844), onde criticava o sistema autoritário e a igreja, La ley de la historia (1858), La América en peligro (1862), onde critica as invasões europeias de Santo Domingo e México, e El evangelio americano (1864).
Tobias Barreto (Vila de Campos, Sergipe, 1830 - 1899). Jurista, filósofo e poeta, membro-fundador da Escola de Recife; estuda o positi vismo na sua vertente teórica, sem os elementos religiosos dos antecessores, transformando-se mais tarde em crítico dessa corrente desde uma posição metafísica de corte monista e evolucionista,
influenciado
pelo
espiritualismo francês e por Haeckel. Tobias era um orador notável e estudioso autodidata da filosofia. Aprofundou seus estudos de alemão para poder ler os filósofos em seus textos originais. De fato, contribuiu para a difusão do pensamento alemão no Brasil, redigindo inclusive um jornal em alemão, o "Deutscher Kampfer" (O lutador alemão), e escrevendo depois os Estudos alemães (1883). Autor de Estudos de Filosofia (1868-1882), Menores e loucos (1884) e o Discurso
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em mangas de camisa (1887), entre muitos outros discursos.
José Martí (La Habana, Cuba, 1853 – Dos Ríos, Cuba, 1895). Político revolucionário, pensador, jornalista e poeta, Partido Revolucionário Cubano e organizador da chamada “guerra necessária” de 1895 contra a dominação espanhola. Muito novo, foi preso e processado pelo governo espanhol por distribuir panfletos revolucionários e condenado a 6 anos de trabalhos forçados, dos que foi dispensado pela sua má saúde, sendo deportado para Espanha; lá ele escreveu El presídio político em Cuba, onde denunciava os horrores da prisão. Seu estilo era predominantemente o ensaio, de estilo vigoroso e idealista. Em 1895, comandando um grupo de patriotas cubanos, foi atingido morrendo na hora. Com apenas 42 anos de vida escreveu uma obra de 28 volumes, contendo reflexões entre romantismo e positivismo e o caráter prático e político da filosofia. Um dos principais
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ensaios de Martí é Nuestra América.
PASSAGEM DO SÉCULO XIX PARA O XX
Enrique José Varona (N. Camagüey, 1848 – La Habana, 1933). Nascido em Cuba, Varona exerceu grande influência no pensamento da época, com obras e ensaios marcados pela filosofia, política e pedagogia. É considerado um dos principais representantes do positivismo cubano do período, tendo
alguns
caracterizados
de por
seus uma
trabalhos
de
influência
juventude do
sido
pessimismo.
Posteriormente, seus textos de maturidade passam a refletir sobre educação e os movimentos estudantis contrários à ditadura de Gerardo Machado. Dentre suas obras, podem ser citadas: La metafísica en la Universidad de La Habana, De la Colonia a la República e El imperialismo a la luz de la sociología.
Alejandro Deustúa (Huancayo, Perú, 1849 – Lima, 1945). O mais longevo dos pensadores americanos (96 anos), o que faz com que atravesse várias faces do processo: de positivista a antipositivista convicto e pensador espiritualista; educador e diplomata; filósofo da liberdade, de forte influência no pensamento peruano das três primeiras décadas do século XX. Envolvido na discussão sobre o estatuto das ciências do espírito; era em favor da educação das elites dirigentes e contra a cultura popular, considerando as culturas indígenas definitivamente derrotadas e ao índio como intelectualmente
importante Estética Geral (1923).
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do pensamento humano (1922), Filosofia moral, e de uma
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inferior. Autor de As ideias de ordem e liberdade na história
Silvio Romero (Lagarto (Sergipe)- Brasil, 1851 – Rio de Janeiro, 1914) Crítico, ensaísta, folclorista, filósofo e historiador da literatura brasileira, fez parte da escola de Recife junto com Tobias Barreto, que pretendia uma renovação
da
mentalidade
brasileira.
Inicialmente
se
identificou com o positivismo, porém se afasta da influência de Comte e aproxima-se da filosofia evolucionista de Spencer em seu propósito de construir uma análise crítica do texto literário. Em 1878 publica Cantos, obra poética. Também escreveu
uma
série
de
perfis
políticos.
Na
obra
Zeverissimações Ineptas da Crítica polemiza com José Veríssimo. Interessava-se pela cultura popular, e escreve em 1878 uma Filosofia no Brasil. Em 1882 publica sua obra prima A História da Literatura Brasileira.
Miguel Lemos (Niterói (Brasil), 1854 – Petrópolis (Brasil), 1917).
Filósofo
brasileiro
de
orientação
claramente
positivista. Criador, com Teixeira Mendes e Benjamin Constant, da Sociedade Positivista de Rio de Janeiro em 1876. Em Paris relaciona-se com discípulos de Comte, especialmente
Émile
Littré
e
Pierre
Lafitte,
que
representavam respectivamente a versão filosófica e a religiosa do positivismo, e com o chileno Jorge Lagarrique. No Brasil militou ativamente em favor do positivismo religioso em questões sociais, políticas e religiosas, como o abolicionismo, os direitos trabalhistas e o pacifismo, transformando a sociedade positivista na igreja positivista do Brasil. Autor do Resumo histórico do movimento positivista no Brasil, a Ortografia positivista (1888) e o Apostolado
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positivista no Brasil (junto com Teixeira Mendes).
Raimundo Teixeira Mendes (Caxias (Brasil), 1855 – Rio de Janeiro, 1927). Filósofo, matemático e ativista político de orientação positivista; igual que seu colega Lemos, primeiro aderiu apenas a versão filosófica do positivismo comtiano, mas depois se envolveu na “religião da humanidade” e a igreja positivista. Ambos tentaram uma interpretação da realidade brasileira desde o positivismo, defendendo a abolição da escravatura e a proclamação da república. Teixeira apresentou ao novo governo um projeto de bandeira nacional, com as palavras – de nítido corte positivismo – “ordem e progresso”, que foi aceito. Envolveu-se em questões sociais (separação da igreja e o Estado, limites territoriais, legislação trabalhista, direitos da mulher). Autor, com Miguel Lemos, dos livros Circulares anuais do Apostolado positivista no Brasil (1881) e A nossa iniciação no Positivismo (1889).
Alejandro Korn (San Vicente, Buenos Aires, 1860 – La Plata (Argentina), 1936). Filósofo, médico psiquiatra e político, pensador da reação antipositivista, o mais importante filósofo argentino deste período. Graduou-se em medicina em 1882 com uma tese sobre Loucura e Crime, trabalhando em diversos hospitais. Ocupou diversos cargos (intendente, deputado provincial), afiliando-se ao partido socialista argentino em 1931. Vinculou-se aos movimentos da reforma universitária, feita dentro de uma reação contra o positivismo. Reivindica o pensamento metafísico
com influências
marcantes de Ortega y Gasset e Kant; reflete sobre a natureza do filosofar e a situação da filosofia na Argentina e em
(alusão ao livro clássico Bases, de Alberdi) (1935), e Sistema filosófico (1959).
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(1930), Apuntes filosóficos, Filosofia argentina, Novas Bases
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América. Autor de: A liberdade criadora (1922), Axiologia
Raimundo de Farias Brito (São Benedito, Brasil, 1862 – Rio de Janeiro, 1917). Jurista e filósofo, pensador espiritualista, existencial, pessimista e anti-positivista, o mais importante filósofo brasileiro deste período. Formou-se em direito na Faculdade de Direito de Recife, onde foi aluno de Tobias Barreto. Trabalhou como advogado e ocupou cargos públicos. Venceu o concurso para a cátedra de Lógica no Colégio Pedro II, mas o presidente da República escolheu o segundo colocado, Euclides da Cunha; tendo este sido morto num duelo, Farias Brito assumiu a cátedra. De forte espírito religioso, combateu o materialismo e o evolucionismo, em favor de um Deus fundamento da natureza. Autor da ambiciosa obra Finalidade do Mundo (em 3 volumes publicados em 1894, 1897 e 1905), A base física do espírito, A verdade como regra e O mundo interior (1914).
Graça Aranha (São Luis de Maranhão (Brasil), 1865 – Rio de Janeiro, 1931). Romancista, pensador da estética e diplomata, graduou-se em direito em Recife, onde foi aluno de Farias Brito. Nas suas viagens diplomáticas teve contato com os movimentos vanguardistas europeus, sendo um dos organizadores da famosa Semana da arte moderna de 1922, onde proferiu a conferência “A emoção estética na arte moderna”, rompendo logo depois (em 1924) com a Academia brasileira de letras, à que acusou de passadismo e imobilismo literário.
Buscou
inspiração
em
diversos
municípios
brasileiros, especialmente em Espírito Santo, para escrever seu romance mais famoso, Canãa, publicado em 1902, apresentando nele uma visão filosófica peculiar. Autor de
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metafísica e de Viagem maravilhoso (1929).
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Estética da vida (1921), um curioso livro de estética
José Enrique Rodó (Montevideu, Uruguai, 1871 – Palermo, Itália, 1917). Escritor, historiador e político uruguaio, desenvolveu atividades como jornalista e publica suas primeiras obras. Apesar de ter vivido apenas 46 anos, escreve volumosa obra literária e filosófica, sendo um dos autores ibero-americanos
indispensáveis.
Retratou
com
estilo
modernista o mal-estar hispano-americano de passagem de século,
com
forte
inspiração
clássica,
num
estilo
espiritualista. Embora não tendo acabado seus estudos formais de literatura, sua fama lhe permitiu ser professor de literatura na universidade de Montevidéu. Em seu clássico Ariel (1900), obra literário-filosófica, muito lida na época e ainda hoje, defende o americanismo e dirige uma crítica poética contra o materialismo individualista, especialmente norte-americano; a partir dessa obra cria-se o movimento chamado “arielista” em todas as nações de Hispano-américa. Outra obra importante de Rodó é Motivos de Proteu (1909).
Enrique Molina Garmendia (Chile, 1871 – 1956). Filósofo espiritualista crítico do positivismo, mas ao mesmo tempo pensador imanentista, atento à precariedade da vida humana. Também pedagogo de vasta influência em seu país e em América. Fundador da Universidad de Concepción, em 1919. Sua filosofia é uma espécie de ontologia espiritualista onde são estudadas as relações entre o ser e a consciência. Escreveu: Do espiritual na vida humana (1936), Para os valores espirituais (1939), Confissão filosófica (1941), A filosofia em Chile na primeira parte do século XX (1951),
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Tragédia e realização do espírito (1952).
José Ingenieros (Palermo, 1877 – Buenos Aires, 1925). Médico psiquiatra, psicólogo, filósofo e sociólogo, o mais importante positivista argentino; desempenhou diversos cargos em instituições médicas argentinas, completou seus estudos em Paris, Genebra e Heidelberg, e proferiu muitas conferências em universidades europeias. Em 1919 renuncia a seus caros docentes e dedica-se plenamente à política progressista e anti-imperialista, colaborando depois com periódicos anarquistas. Autor da trilogia ético-sociológica, de viés positivista: O homem medíocre, Para uma moral sem dogmas e As forças morais. Escreve Proposições relativas ao porvir da filosofia e Evolução das ideias argentinas, tendo
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forte influência na reforma universitária ibero-americana.
SÉCULO XX – PRIMEIRA METADE Carlos Vaz Ferreira (Montevidéu, 1872 - 1958). Filósofo e sociólogo uruguaio, formou-se em direito em 1903, ocupando cargos inclusive de reitor da universidade da República. Como pensador, se forma no positivismo dominante no Uruguai do final do século XIX, mas depois recebe as influências de Henri Bergson, William James e José Enrique Rodó, mudando de orientação. Ocupa-se com questões de linguagem, lógica informal e argumentação. Considera a filosofia como capaz de cultivar um saber inclusivo inatingível para as ciências positivas. Na ética, defende uma abordagem empírica e aplicada. Vaz tem abundante produção filosófica, entre as principais obras estão: Moral para intelectuais (1909), Lógica viva (1910), e Os problemas da liberdade e o determinismo (1957).
José Vasconcelos (Oaxaca, México, 1882 – Cidade de México, 1959). Um dos mais importantes e prolíficos pensadores de Ibero-américa. Filósofo, jurista e militante político, pensador antipositivista, e grande escritor. Graduado em direito, foi ministro de educação de seu país desenvolvendo vasta obra pública (criação de escolas, bibliotecas). Em 1909 fundou o Ateneo de la Juventud; foi partidário da revolução mexicana e candidato a presidente da República mas foi derrotado pelo candidato oficial; denunciou fraude nas eleições chegando a organizar uma revolta armada, pelo qual foi preso exilando-se mais tarde em Paris. Influenciado pelo pensamento de Schopenhauer, lutou contra o positivismo e o utilitarismo. Autor de Prometeu vencedor (1916), O monismo estético (1918), A
unidade ibero-americana, escrevendo textos históricos e biográficos sobre Hernán Cortés e Simón Bolívar.
Página
Orgánica (1945). Esteve sempre preocupado com a questão da
40
raça cósmica (1925), Tratado de Metafísica (1929), Lógica
Antonio Caso (Cidade de México, 1883 - 1946). Fundador, junto com Vanconcelos, de El Ateneo de la Juventud, em 1908, grupo antipositivista propulsor dos estudos filosóficos no México; defensor de uma filosofia espiritualista, voluntarista e anti-racionalista. Participou da fundação da revista literária Savia Moderna junto com Pedro Henriquez Ureña. Autor de A pessoa humana e o estado totalitário, O perigo do homem, A existência como economia, como desinterés e como caridad, o Ensayo sobre la esencia del cristianismo e El peligro del hombre (1942). Caso ocupou-se intensamente da questão do americano, em obras como Discurso a la nación mexicana (1922) e El problema de México y la ideologia nacional (1924), temática que depois será desenvolvida por Samuel Ramos e Leopoldo Zea.
Pedro
Henriquez
Ureña
(Santo
Domingo,
República
Dominicana, 1884 – Buenos Aires, 1946). Filósofo e crítico literário, fortemente influenciado por Eugenio Maria de Hostos, reformador porto-riquenho do ensino,
desenvolveu
suas
atividades intelectuais em México, Argentina e EEUU. Jorge Luis Borges considerou Henriquez Ureña injustiçado na Argentina, onde nunca conseguiu ser professor titular. Vinculase especialmente com Alejandro Korn na Argentina e com Vanconcelos no México. Pensador anti-intelectualista e vitalista, realiza uma crítica interna ao positivismo. Sua obra crítica abrange imenso universo de assuntos e está perpassada pela preocupação pela unidade e independência cultural e espiritual
hispana (1945).
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expresión (1928) e de As correntes literárias na América
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de América. Autor de Seis ensayos em búsqueda de nuestra
Coriolano Alberini (Milão, Itália, 1886 – Buenos Aires, 1960). Nascido na Itália e criado na Argentina, onde passa toda a sua vida, teve destacada labor docente e política na época da reforma universitária. Estuda na Faculdade de Filosofia e Letras e de Direito. Autor precoce de Amoralismo subjetivo (1908, com 22 anos), uma crítica contra o formalismo na ética e o imperativo categórico. Apresenta seu exame de finalização, antipositivista, mostrando um pensamento da intuição influenciado por Bergson e Meyerson (aos que conhecerá pessoalmente depois na França), diante de uma banca toda ela composta de positivistas (Korn, Ingenieros, Francisco Quesada, etc). Na Europa, faz contato com Gentile, Hartmann, Gilson, Croce, Husserl e Heidegger. Escreve Introdução à axiogenia (1921), um livro de tendência vitalista sobre a origem dos valores, e Problemas de la historia de las ideas filosóficas em la Argentina.
Alfonso Reyes (Monterrey, México, 1889 – Cidade de México, 1959). Filósofo, crítico literário e diplomata, de estilo ensaísta. Participa de El Ateneo de la Juventud, junto com Henriquez Ureña, Caso e Vasconcelos. Em 1911, aos 21 anos, publica seu primeiro livro Cuestiones estéticas. A revolução mexicana não favorece a família Reyes, que tinha boas relações com o presidente Porfírio Diaz. Alfonso exilou-se na Espanha, entre 1914 e 1924. Publica trabalhos sobre Góngora (Cuestiones gongorinas), Sor Juana Inés de la Cruz, a sua breve obra-prima, Visão de Anáhuac, e O suicida (1917). Escritor notável, a sua candidatura ao Nobel de Literatura foi bloqueada pelo movimento nacionalista mexicano que achava que Reyes
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escrevia muito sobre os gregos e muito pouco sobre os aztecas.
Oswald de Andrade (São Paulo, 1890 – 1954), escritor e ensaísta brasileiro, um dos principais organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, autor dos manifestos modernistas, “Manifesto pau Brasil” (1924) e “Manifesto antropofágico” (1928). Trabalha e polemiza com Mário de Andrade, outro escritor importante da Semana (autor de Manunaíma). Ele se interessa por filosofia em seus ensaios A crise da filosofia messiânica e A marcha das utopias, e mesmo de maneira diletante, Oswald estabelece um marco na constituição da identidade cultural brasileira, na busca de formas de expressão próprias que vinculam, de maneira criativa, o mais moderno e inovador com o mais primitivo, a tecnologia e a antropofagia, no que se chamou “vanguarda primitiva”. Esta atitude não teve influência apenas na arte, mas também na filosofia, na medida em que propõe uma nova relação do pensamento nacional com a cultura europeia.
Jackson de Figueiredo (Aracaju, Sergipe (Brasil), 1891 – 1928). Pensador espiritualista cristão, de tendência fideísta, estuda direito na Faculdade de Direito da Bahia. Publica seu primeiro livro, Algumas reflexões sobre a filosofia de Farias Brito (1916, com 25 anos). Depois de ler uma carta pastoral, se converte ao catolicismo. Em 1922 funda o Centro Dom Vital, irradiador do pensamento católico, onde participaram Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção e outros. Jackson tinha uma personalidade forte e avassaladora mostrando um envolvimento vital em suas indagações metafísicas e religiosas. Entusiasmouse enormemente pela obra metafísica de Farias Brito. Morreu afogado quando pescava junto com seu filho e um amigo. Em
hora presente e Pascal e a inquietação moderna (1922).
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de Farias Brito, Humilhados e luminosos, Do nacionalismo na
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apenas 37 anos de vida, publicou A questão social na filosofia
Francisco Romero (Sevilla (Espanha), 1891 – Buenos Aires, 1962). Nascido na Espanha, mas radicado na Argentina, influenciado por Alejandro Korn e Ortega y Gasset, ambos interessados numa “razão histórica”, e pelo pensamento alemão, sendo conhecedor profundo da língua alemã e tradutor muito competente. Considerado um dos primeiros pensadores da toma de consciência de um pensar desde América. Romero é autor da ideia de uma evolução das atividades filosóficas latinoamericanas em etapas, superando o autodidatismo e chegando numa filosofia profissional, “normalizada” como exercício cultural pleno. Autor de: Sobre a filosofia em ibero-América (1940), Filosofia de ontem e de hoje (1947), Filosofia da pessoa (1944) e Teoria do homem (1952).
José Carlos Mariátegui (Moquegua (Peru), 1894 - Lima, 1930).
Escritor, jornalista, sociólogo e
ativista
político,
destacou-se como um dos primeiros e mais influentes pensadores
do marxismo latino-americano.
Em
seu
livro
conhecido internacionalmente, Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana, traça uma história econômica do Peru sob a perspectiva materialista.
Também
contemporânea.
em
Fundou
1928
publicou o Partido
A
cena
Comunista
Peruano e a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru. Foi um autodidata, rejeitando a educação formal, viajando pela Europa com auxílio de bolsas e se vinculando de maneira direta com escritores e políticos. Na sua atividade jornalística, fundou em 1926 a revista El Amauta (em quechua, significa "sábio" ou "professor"), por seu grande interesse pelos povos indígenas peruanos. Por causa de uma antiga doença teve uma perna
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rodas, falecendo aos 36 anos.
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amputada, mas continuou suas atividades políticas em cadeira de
Carlos Astrada (Córdoba, Argentina, 1894 – Buenos Aires, 1970). Pensador de tendência marxista dialética e existencial, estudante presencial de Husserl, Heidegger, Scheler e Hartmann durante os anos 20. Desenvolveu uma peculiar filosofia da existência onde a noção de “jogo” é fundamental, exposta em obras como O jogo metafísico: para uma filosofia da finitude (1942), O jogo existencial (1933), Idealismo fenomenológico humanismo,
e
metafísica
existencialismo
existencial (1949)
e
(1936), A
Ser,
revolução
existencialista (1952). Em seu viés marxista dialético escreveu Hegel e a dialética (1956), O marxismo e as escatologias (1957), A dupla face da dialética (1962) e Dialética e história (1969). De suas preocupações metafísicas com a questão argentina e americana surge O mito gaúcho. Martin Fierro e o homem argentino (1948).
Samuel Ramos (Zitácuaro, México, 1897 – Cidade de México, 1959). Estudioso da situação da filosofia mexicana e ibero-americana, influenciado por Ortega y Gasset e Antonio Caso, fez parte do grupo Hiperion em torno de uma investigação em torno da alma mexicana e os valores nacionais, denunciando o “complexo de inferioridade” do mexicano desde a conquista espanhola. Autor de O perfil do homem e da cultura no México (1934), onde critica o mimetismo cultural dos mexicanos diante do europeu. Outras obras: Para um novo humanismo (1940), História da filosofia
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em México (1943) e Filosofia da vida artística (1950).
José Gaos (Gijón, Espanha, 1900 – Cidade de México, 1959). Um dos importantes exilados (ou “transterrados”, em seus próprios termos) espanhóis, radicado no México depois da guerra civil espanhola. Obtém a nacionalidade mexicana em 1941. Sofreu influências de Husserl, Heidegger, Ortega y Gasset, Hartmann, García Morente e Javier Zubiri. Autor de uma copiosa obra filosófica, entre as quais: Da Filosofia, Filosofia da filosofia (1947) (uma reflexão sobre a natureza da filosofia diante do fato de cada filosofia apresentar-se como verdade absoluta), Em torno da filosofia mexicana (1952), A filosofia na universidade (1956), Confissões profissionais (1958), além de traduzir ao espanhol mais de 70 obras filosóficas, entre elas Ser e Tempo de Heidegger.
Mário Ferreira dos Santos (Tietê, 1907 – São Paulo, 1968). Foi um filósofo brasileiro, criador de um sistema filosófico a que chamou Filosofia Concreta. Escreveu muitos livros sobre Filosofia, Psicologia, Oratória, Ontologia,
Lógica, etc,
publicados com sua própria editora, muitos dos quais compunham sua "Enciclopédia de Ciências Filosóficas e Sociais". Mário nunca teve vínculos acadêmicos, mas se dedicava inteiramente à filosofia, dando aulas particulares para grupos pequenos. Teve enorme sucesso durante a década de 60. Algumas obras: Lógica e Dialética (1954), Análise Dialética do Marxismo (1954), Tratado de Simbólica (1955), Filosofia da Crise.(1955), Noologia Geral (1956), Filosofia Concreta (3 volumes) (1956), Filosofias da Afirmação e da Negação.(1957), Invasão Vertical dos Bárbaros (1967,) e A
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Sabedoria das Leis Eternas (póstumo), 2001.
Arturo
Ardao (Minas,
Lavalleja
(Uruguai),
1912
–
Montevidéu, 2003). Pensador dedicado principalmente a história do pensamento latino-americano, analisado naquilo que tem de original, e a construção de uma filosofia própria, em que concilia dois extremos antagônicos: a valorização dos feitos e a valorização das ideias, entre razão e afetividade, instituições e indivíduos. Promove esta tarefa não recorrendo ao discurso estritamente argumentativo, mas por meio de uma longa procura por documentos e testemunhos, que servem como reveladores das circunstâncias culturais produtoras de reflexões,
ideias, sentimentos, juízos, desejos, valores,
aspirações, etc. Suas principais obras: Espaço e Inteligência, Espiritualismo e Positivismo no Uruguai, Espanha na Origem do Nome América Latina, e Lógica e Metafísica em Feijoo.
Vicente Ferreira Da Silva (São Paulo, 1916 - 1963). Começou como estudioso da lógica matemática, publicando um dos primeiros livros sobre a área, Elementos de lógica matemática (1940), sendo o assistente de Willard Quine na sua visita ao Brasil em 1942. Mas depois sofreu uma transformação e se tornou um dos mais importantes pensadores existenciais e metafísicos do Brasil, com uma reflexão em torno de mitologias fundantes inspirada em Schelling e Heidegger. Autor de: Exegese da ação (1949), Dialética das consciências (1950), Introdução à filosofia da mitologia (1955) entre outras. Morreu num acidente de automóvel antes de fazer 50 anos. Vilém Flusser o considerou um grande filósofo, ignorado em seu próprio país, e escreveu vários
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ensaios sobre seu pensamento.
Rodolfo Kusch (Buenos Aires, 1922 – 1979). Escritor e filósofo argentino, desenvolveu trabalhos em torno do pensamento indígena e popular. Foi importante pensador da situação latino-americana. Estudou filosofia em Buenos Aires; fez viagens de investigação no norte argentino e altiplano boliviano; participou de muitos encontros americanistas, interessado na sabedoria dos povos como lugar hermenêutico. Escreveu obras teatrais e ensaios sobre estética, sempre de forte inspiração poética americanista. Algumas obras: La seducción de la barbarie: análisis herético de un continente mestizo, (1953), América profunda, (1962), Indios, porteños y dioses, (1966), De la mala vida porteña, (1966), El pensamiento indígena y popular en América, (1971), Geocultura del hombre americano, (1976), Esbozo de una antropología filosófica americana, (1978) e as peças de teatro La muerte del Chacho. (1960) e La leyenda de Juan Moreira.
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(1960)
SÉCULO XX - SEGUNDA METADE Observação: No caso de filósofos vivos, apenas se menciona o país de origem. José David Garcia Bacca (Pamplona, Espanha, 1901 – Quito, Equador, 1992). Outro dos importantes emigrados espanhóis, estuda filosofia e teologia na Espanha e se ordena sacerdote claretiano em 1925. Foge da Espanha em 1936, se estabelecendo primeiro em Paris e depois no Equador. Em 1946 se transfere a Caracas, trabalhando na recentemente fundada Faculdade de Filosofia e Letras, e se naturalizando venezuelano. Passa por várias fases: marxismo, vitalismo; mas também se ocupa com lógica e filosofia da ciência, sendo autor de uma Introdução á Lógica moderna (1936) e de diversos “exercícios” de lógica. Autor de: Filosofía en metáfora y parábolas. Introducción literaria a la filosofía (1945), Siete modelos de filosofar (1950), Metafísica natural estabilizada e problemática, metafísica espontánea
(1963),
Antología
del
pensamiento
filosófico
venezolano. (1964), Elogio da técnica (1968), Cosas y personas. (1977), Vida, Muerte, inmortalidad (1983) e Sobre el Quijote (1991). María Zambrano (Málaga, 1904 – Madri, 1991). Foi uma filósofa e escritora espanhola, uma das figuras capitais do pensamento espanhol do século XX, mas que, por causa de seus exílios, teve destacada influência no pensamento americano. Exerceu seu magistério em Cuba, México e Porto Rico. Premiada com o prêmio Príncipe das Astúrias (1981) e Cervantes (1988). Seu pensamento vinculado às correntes vitalistas do século XX, gira em torno da busca de princípios morais e formas de conduta aplicáveis nos problemas cotidianos.
Obras: Filosofía y
sueño
creador (1965), El
nacimiento.
Dos
autobiográficos (1981), e Los sueños y el tiempo (1992).
escritos
Página
agonía de Europa (1945), España, sueño y verdad (1965), El
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poesía (1939), La confesión, género literario y método (1943), La
Miguel Reale (São Bento de Sapucaí, 1910 – São Paulo, 2006). Jurista
e
filósofo
brasileiro,
autor
da
chamada
teoria
tridimensional do direito ligando fato, valor e norma em torno do conceito de Direito. Cofundador do Instituto de Filosofia brasileira de Lisboa e do Instituto brasileiro de filosofia. Autor de vasta obra filosófica, especialmente na área do Direito e a teoria dos valores; entre as principais: Teoria Tridimensional do Direito (1968), O Direito como experiência (1968), Lições preliminares de Direito (1973), Experiência e Cultura (1977), Estudos de Filosofia e Ciência do Direito (1978), A Filosofia na Obra de Machado de Assis (1982), Verdade e Conjetura (1983), Introdução
à
Filosofia (1988),
Estudos
de
Filosofia
Brasileira (1994), Face Oculta de Euclides da Cunha (1993), Das Letras à Filosofia (1998).
Leopoldo Zea (Cidade de México, 1912 - 2004). Um dos mais importantes
filósofos
ibero-americanos,
pensador
da
circunstância americana. Fundador do grupo Hiperión, junto com Luis Villoro e outros, grupo cuja preocupação central era a indagação sobre a o ser do mexicano. Também investiga acerca da integração americana e da significação de 1492 como um “encobrimento” de América; mais tarde liga-se com a filosofia da libertação sobre a qual tem influência. Algumas obras: En torno a una filosofía americana, Esquema para una historia del pensamiento en México, Conciencia y posibilidad del mexicano, América como conciencia, América en la historia, La filosofía americana
como
filosofía
sin
más,
Colonización
y
descolonización de la cultura latinoamericana, Latinoamérica:
Página
libertad, e América como autodescubrimiento.
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Emancipación y neocolonialismo, Simón Bolívar: Integración en
Mário Vieira de Mello (Inglaterra, 1912 - 2006). Nascido na Inglaterra, onde se encontrava seu pai diplomata, carreira que ele mesmo depois seguiria, foi educado no Brasil, onde concluiu a Faculdade de Direito. Como diplomata, serviu em vários postos em países europeus, encerrando a sua carreira como embaixador em Gana (África), Guatemala e Hungria. No Brasil exerceu grande presença na discussão de temas de maior relevância da cultura brasileira, especialmente na temática do desenvolvimento econômico
e
a
moralidade
social.
Principais
obras:
Desenvolvimento e cultura: o problema do estetismo no Brasil (1963), O conceito de uma educação da cultura
(1986),
Nietzsche, o Sócrates de nossos tempos (1993), O humanista: a ordem na alma do indivíduo (1996), e O homem curioso (2001).
Octavio Paz (Cidade de México, 1914 - 1998). Escritor premio Nobel de Literatura 1990, considerado um dos grandes poetas hispânicos de todos os tempos, embora difícil de classificar. Combateu no bando republicano na guerra civil. Em 1941, com 27 anos, começa a escrever “Entre la piedra y la flor”, um poema sobre a exploração dos campesinos de Yucatán. Na década de 40 escreve seu livro mais famoso, O labirinto da solidão, publicado em 1950, sobre a situação da cultura e da questão da identidade dos mexicanos. Sempre participou em atividades antifascistas, mas quando foi preciso também denunciou os campos de concentração soviéticos, o que lhe valeu a animosidade das esquerdas latino-americanas. Também lhe interessaram as questões existenciais, como a solidão, a temporalidade e a incomunicação. Algumas obras: Libertad bajo palabra, (1949), Pasado en claro (1975),El arco y la lira (1956),Posdata,
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de la Cruz o las trampas de la fe (1982).
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continuación de El laberinto de la soledad. (1969),Sor Juana Inés
Francisco Miró Quesada (Lima, Perú). Ocupado com filosofia analítica, lógica e pensamento ibero-americano, participa da declaração de Morelia, junto com Dussel, Zea, Roig e outros. Estuda filosofia e direito e desempenha atividades jornalísticas. Participa durante muito tempo da Ação Popular peruana, um partido que formulou sua doutrina em conexão com a tradição indígena incaica. Se destacou por introduzir os estudos de lógica e epistemologia no Perú. Miró se interessou pela elaboração de um novo conceito de razão, em relação com seus estudos lógicos, especialmente em suas obras Uma teoria de la razón (1963) e Sobre el concepto de razón (1975); posteriormente diferencia formas de racionalidade, uma mecânica, outra poética. Autor de: Curso de lógica matemática (1946), Lógica jurídica (1956), Despertar e projeto do filosofar latino-americano (1974) e Projeto e realização do filosofar latino-americano (1981).
Vilém Flusser (Praga, 1920 – 1991). Ensaísta estudioso dos novos meios de comunicação e de filosofia da cultura e da linguagem. Nascido numa família judia numa Tchecoslováquia recentemente independente, no decorrer da Segunda Guerra Mundial, fugindo do nazismo, muda-se para Londres e depois para o Brasil, onde posteriormente se naturaliza. Seus pais e irmãos são exterminados. No Brasil, aprofunda seus estudos filosóficos, enquanto trabalha como jornalista. Torna-se mem bro do Instituto Brasileiro de Filosofia e leciona na Escola Politécnica da USP. Em 1970, quando todos os professores de filosofia são agregados ao departamento de Filosofia, Flusser não é contratado, talvez por ser visto como um conservador político pelos seus pares e por falta de títulos acadêmicos. Obras: Língua e realidade (1963), A História do Diabo (1965), Da
caixa preta(1983) Fenomenologia do brasileiro(1994), e Bodenlos. Uma autobiografia filosófica (2007, póstuma).
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Natural:mente (1979), Pós-história (São Paulo, 1982), Filosofia da
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religiosidade: a literatura e o senso de realidade (1967),
Paulo Freire (Brasil, 1921 - 1997). Pedagogo e pensador social, possivelmente o pensador brasileiro com maior projeção internacional
da
atualidade.
Formado
em
Direito
pela
Universidade de Recife, suas reflexões se centraram na educação, propondo
uma
pedagogia
libertadora
voltada
para
a
conscientização da opressão e desenvolvendo um pensamento pedagógico
assumidamente
político,
contra
a
educação
“bancária”, burocrática, rotineira e sem compromisso. Dentre suas principais obras estão: Educação como práxis da liberdade (1967), Pedagogia do oprimido (1970), obra de enorme influência mundial, Pedagogia da esperança (1992), Pedagogia da autonomia (1996) e Pedagogia da indignação (2000, póstumo).
Arturo Andrés Roig (Mendoza, Argentina, 1922 - 2012). Um dos mais importantes pensadores americanos. Se aproxima da filosofia da libertação, participa da declaração de Morelia junto com Zea, Villegas, Dussel e Miró Quesada. Obrigado a exilar-se em 1975, residiu por muitos anos no Equador, onde funda o Instituto de Estudos Latino-americanos e escreve Esquema para una história de la Filosofía Ecuatoriana. Defendeu a tese de que enquanto no século XIX o tema central do pensamento era a “liberdade”, nos dias atuais a questão principal é a “libertação”. Crítico do eurocentrismo, insistiu em que os latino-americanos deveriam pensar “desde lo nuestro”, adequando as ferramentas da filosofia europeia à realidade latino-americana. Sua obra mais famosa é Teoría y Crítica del Pensamiento Latinoamericano. Também autor de: Filosofia, Universidade e filósofos em América Latina (1981) e O pensamento latino-americano e sua aventura
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(1994), entre outros.
Ernesto Mayz Vallenilla (Maracaibo, Zulia -Venezuela). Foi fundador e reitor da Universidade Simón Bolivar, Caracas. Aluno de Heidegger em Freiburg. Entre as suas obras, destacam-se: Fenomenología del conocimiento (1956),
Ontología del
Conocimiento (1960), El problema de la nada em Kant (1965), Del hombre y su alienación (1966), Hacia um nuevo humanismo (1970), Esbozo de una Crítica de la Razón Técnica (1974), El Domínio del Poder (1982), e muitas outras sobre educação. Maiz Vallenilla, na sua grande obra El problema de América (1959), propõe a possibilidade de um pensamento filosófico original na América Latina.
Luis Villoro (Barcelona - México). Nascido na Espanha e instalado no México, foi fundador do importante grupo Hiperión. Investigador do Instituto de Investigações Filosóficas da Unam. Também desempenhou atividades como embaixador de México na Unesco. Seu pensamento se ocupa com a questão da racionalidade e da alteridade, a injustiça e a questão do poder, em suas relações com o conhecimento. Escreveu: Los grandes momentos del indigenismo en México (1950), El proceso ideológico de la revolución de independencia (1953), Páginas filosóficas (1962), Signos políticos (1974), Creer, saber, conocer (1982), En México, entre libros. Pensadores del siglo XX (1995), El poder y el valor. Fundamentos de una ética política (1997), Estado plural, pluralidad de culturas (1998) e Los retos de la
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sociedad por venir (2007).
Augusto Salazar Bondy (Lima (Perú), 1925-1974). Filósofo, político e reformador educativo. Esteve em vários países como México, França e Alemanha, tendo no México travado contato com José Gaos e Leopoldo Zea. Envolveu-se ativamente com a política do Peru, ocupando diversos cargos em instituições de ensino. Teve livros premiados em concursos e considerado um dos mais importantes precursores da filosofia da libertação. Foi influenciado pelo pensamento marxista, pelo existencialismo e pela análise da situação peruana de Mariátegui. Iniciou em 1968 uma importante polêmica com Leopoldo Zea entorno da existência de uma filosofia latino-americana com seu livro ¿Existe una filosofía de nuestra América?. Outras obras: Valor y Estética, Bases para un socialismo humanista peruano, Historia de las ideas en el Perú contemporáneo, La cultura de la dominación, Filosofía de la dominación y filosofía de la liberación, Bartolomé o de la dominación (póstuma).
Maria do Carmo Tavares de Miranda (Pernambuco, 1926 – 2012) foi filósofa, pedagoga e teóloga brasileira, de notável erudição clássica e bíblica. Foi assistente de Heidegger em Freiburg em 1955, e obteve seu doutorado na Sorbonne em 1957, com o trabalho Théorie de la Verité chez Edouard Le Roy. Fez parte de instituições como a Academia Pernambucana de Letras, a Academia Internacional de Filosofia da Arte e o Instituto Brasileiro de Filosofia. Escreveu obras como Educação no Brasil, Os Franciscanos e a Formação do Brasil, Pedagogia do Tempo e da História, O Ser da Matéria, Caminhos do Filosofar e Aventura
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Humana.
Newton Da Costa (Brasil) lógico de projeção internacional, com publicações no Journal of symbolic logic e outras revistas de primeira linha. Com formação em matemática e engenharia civil pela Universidade Federal do Paraná, é criador das Lógicas Paraconsistentes,
sistemas
que
consegue
trabalhar
com
contradições sem trivializar o sistema, lógica empregada em vários sistemas de computador. Escreveu Introdução aos Fundamentos da Matemática, Ensaio sobre os Fundamentos da Lógica e Lógica Indutiva e Probabilidade.
Ignácio Ellacuría (Espanha, 1930 – 1989). Pensador político, integrou a Companhia de Jesus e atuou em El Salvador por volta de quatro décadas, período em que fez parte da Universidade Centro Americana (UCA) "José Simeón Cañas"; fundou o Centro de Reflexión Teológica e assumiu a revista Estudios Centro Americanos (ECA). Teve relevante contribuição para filosofia e teologia da libertação latino-americana, sendo tema primordial de seu pensamento suas constatações acerca das injustiças na América Latina o que o levou a se dedicar a filosofia centrada na realidade histórica e na prática da política. Algumas obras: Filosofía y Política (1972), Universidad y Política (1980), El objeto de la Filosofía (1981), Función Liberadora de la Filosofía (1985) e Centroamérica como problema (1986). Foi assassinado
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pelo exército de El Salvador junto com outros colegas jesuítas.
Carlos Cirne-Lima (Porto Alegre, Brasil). Filósofo gaúcho; fez seu doutorado na Universidade de Innsbruck na Áustria, lecionando em Viena e Porto Alegre, e na Unisinos. É autor de uma teoria dialético - neoplatônica a partir de uma crítica interna à Hegel, na forma de um sistema que evita a anulação do indivíduo pelo necessitarismo. Autor de Acerca da contradição (1993), Dialética para principiantes (1996), e Depois de Hegel. Uma reconstrução crítica do sistema neoplatônico (2006).
Luiz Sérgio Coelho de Sampaio (Rio de janeiro, 1933 – 2003). Engenheiro e economista por formação, mas com extensa obra filosófica na área da lógica. Criador do sistema lógico hiperdialético, dedicou-se a fixar uma noção historicamente justa, equilibrada e precisa do que seja a lógica, abrangendo diferentes modos de pensá-la. Em sua obra filosófica, sustentou que a cada lógica (seriam, ao todo, cinco) corresponde um modo específico de ser e, portanto, toda verdade é verdade de um modo de pensar e, por conseguinte, correlata a um modo de ser. Defendeu que o dualismo brasileiro não é representado pelo par modernidade e atraso, mas sim pela recusa de ingressar nessa modernidade. Seu pensamento abriu caminho para o surgimento da antropologia hiperdialética de Mércio Gomes, estudioso dos povos indígenas brasileiros. Autor de: Lógica ressuscitada (2000), e A lógica da
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diferença (2001).
Juan Carlos Scannone (Argentina). Sacerdote jesuíta, um dos pensadores ligado com a fundação da filosofia da libertação, quando organiza com Enrique Dussel as Jornadas Filosóficas na Universidade do Salvador (Argentina) em 1970, acontecimento que dará origem a esse movimento. Professor da Universidad del Salvador, Argentina, da Gregoriana de Roma, Frankfurt e Salsburgo. Entre suas obras estão: Ser y encarnación (1968), Teología de la liberación y praxis popular (1976), Teología de la liberación y doctrina social de la Iglesia (1987), Evangelización, cultura y teología (1990), Nuevo punto de partida en la filosofía latinoamericana (1990), Sabiduría y liberación (1992) e mais de duzentos artigos.
Enrique Dussel (Argentina). Fundador da filosofia da libertação, radicado em México desde 1975. Influenciado por Lévinas e Heidegger, apropria-se destes e outros filósofos para pensar a questão crucial da emancipação dos povos a través de uma reflexão ao mesmo tempo ontológica e política. Trata-se possivelmente do pensador ibero-americano de maior projeção internacional no momento atual, com obras traduzidas a muitas línguas. Na década de 90 iniciou polêmicas com o filósofo alemão Karl-Otto Apel sobre ética do discurso e ética da libertação. Algumas obras: Método para uma filosofia da liberação (1974), Para uma ética da liberação latino americana (1979-80, em 5 volumes), Para um Marx desconhecido (1988), 1492. O encobrimento do outro (1992), As metáforas teológicas de Marx (1993), e Ética da libertação na época da globalização e
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a exclusão (1998).
Ernildo Stein. (Brasil) Filósofo gaúcho, vem do pensamento heideggeriano e elabora uma filosofia hermenêutica. Graduado em Direito e em Filosofia, fez doutorado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pós-doutorados pela Universidade de Erlangen-Nürnberg, a Universidade de Freiburg e outras universidades na Alemanha. Trabalha questões em torno de hermenêutica, fenomenologia, antropologia filosófica, psicanálise e direito. Autor de
vasta obra filosófica, entre as quais: Melancolia, Mundo vivido, Racionalidade e existência, Órfãos da utopia. A melancolia da esquerda, Pensar é pensar a diferença, Inovação na filosofia, Nas proximidades da antropologia. Autor de numerosos livros em torno de diversos aspectos do pensamento de Heidegger num viés apropriativo.
Zeljko Loparić (Croácia - Brasil) Filósofo croata instalado no Brasil desde a década de 60. Desenvolve pesquisas em torno da lógica, ética, psicanálise, dialogando com autores tais como Kant, Heidegger e Winnicott. Fez sua tese de doutorado sobre "Scientific Problem-Solving in Kant and Mach" defendida em Louvain. Tentou interpretar a analítica transcendental em termos semânticos, na sua "A Semântica Transcendental de Kant" (2000), onde afirma que a sua atitude diante da obra de Kant nunca foi de comentador, mas de aprender formas de abordar a ciência como atividade de solução de problemas. Desenvolveu uma apropriação original da psicanálise e uma interpretação do pensamento de Heidegger – de quem foi aluno presencial - como uma ética existencial do deixar-ser e do cuidado, em obras como Sobre a responsabilidade (2003) e Ética e Finitude (2004). Também escreveu Heidegger réu (1990), uma defesa de
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do filósofo alemão.
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Heidegger diante das acusações de Victor Farias sobre o nazismo
Walter Mignolo (Argentina- EEUU) Pensador político e semiótico,
professor
na
Duke University,
publica
sobre
pensamento pós-colonial, interculturalidade, semiótica e teoria literária, refletindo sobre os diferentes aspectos do mundo moderno e colonial, trabalhando conceitos como a colonialidade global, as geopolíticas do conhecimento, transmodernidade, pensamentos de fronteira e pluriversalidade. Dentre suas principais obras estão: The Darker Side of Western Modernity: global futures, decolonial options, La Idea de America Latina, Histórias Locais/ Projetos Globais.
Carlos Cullen (Argentina). Professor titular das cátedras de Filosofia da Educação e de Problemas Filosóficos em Psicologia na Universidade de Buenos Aires, Carlos Cullen licenciou-se em filosofia pela Universidad del Salvador em Buenos Aires e doutorou-se na Universidade de Freiburg - Alemanha. Um dos fundadores da filosofia da libertação, Cullen ocupa-se com reflexões nos campos da ética e da educação e promove numerosas atividades de capacitação docente. Preocupa-se, notavelmente, com as mutações no sentido ético-político da educação no contexto atual de crise da modernidade. Publicou, entre outros títulos: Fenomenología de la crisis moral, Reflexiones desde América, Autonomía moral, participación ciudadana y cuidado del otro, Crítica de las razones de educar e
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Perfiles ético-políticos de la educación.
Raúl Fornet-Betancourt (Cuba). Filósofo cubano residente na Alemanha, professor em Aachen, é diretor do departamento de América Latina do Instituto de Missiologia, onde desenvolve uma linha
de
investigações
interculturais,
numa
tentativa
de
descentralização do logos filosófico. A tese central de seu pensamento é a superação do eurocentrismo em sua dimensão epistêmica, defendendo que a filosofia deixe de ser puramente uma atividade intelectual, para ser um conjunto de manifestações simbólicas dos vários tipos de razão. Suas reflexões seguem algumas
linhas
como:
epistemologia
pós-eurocentrica,
hermenêutica pluritópica, ética da libertação e antropologia dialógica. Na década de 90, promoveu o diálogo Norte-Sul entre Enrique Dussel e Karl-Otto Apel. Autor de Estudos de filosofia latino americana (1992), Para uma filosofia intercultural latino americana
(1994),
Filosofía
Intercultural
(1994),
Aproximaciones a José Martí (1998), Crítica intercultural de la filosofía latinoamericana actual (2004). Ofélia Schutte (Cuba – EEUU). Nascida em Cuba, mora nos EEUU, professora nas Universidades da Florida e de Yale. Suas pesquisas incluem feminismo, Niezsche, niilismo, filosofia latinoamericana e filosofia pós-colonial, Também estuda literatura feminina cubana e o pensamento político do cubano José Marti. Obras: Beyond Nihilism: Nietzsche without Masks (1984), Cultural Identity and Social Liberation in Latin American Thought
(1993),
“Cultural
Alterity:
Cross-Cultural
Communication and Feminist Thought in North-South Dialogue” (1998), “Negotiating Latina Identities (2000), “Dependency Work,
Women,
and
the
Global
Economy,“Postcolonial
Feminisms: Genealogies and Recent Directions“ (2007). È
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e Mora (Argentina).
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membro do corpo editorial das revistas feministas Hypatia (U.S.)
Horácio Cerutti Gulberg (Mendoza, Argentina). Radicado em México e naturalizado mexicano. Estuda a filosofia da libertação latino-americana numa visão crítica e avaliativa do movimento, e inclusive a sua superação. Em suas críticas acentua o papel da linguagem e os novos meios de comunicação. Investigador no Centro de Investigações sobre América Latina e o Caribe. Autor de Para uma metodologia da história das ideias filosóficas em América Latina (1986). Filosofar desde nossa América. Ensaio problematizador de seu modus operandi (2000), La utopía de Nuestra América (2007), Filosofar desde Nuestra América. Ensayo problematizador de
su modus operandi
(2000),
Configuraciones de un filosofar sureador. (2006), Democracia e integración en Nuestra América (2008), Filosofías para la liberación ¿liberación del filosofar? (2008), Doscientos años de
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pensamiento filosófico Nuestroamericano (2011).
REFERÊNCIAS
BEORLEGUI Carlos. Historia del pensamiento filosófico latinoamericano. Universidad de Deusto, Bilbao, 2006 (2ª edição). BUARQUE DE HOLANDA Sérgio. Visão do paraíso. Companhia das Letras, São Paulo, 2010. CASTRO Augusto. La filosofia entre nosotros. Cinco siglos de filosofia em el Perú. Fondo editorial, Universidad Católica del Perú, Lima, 2009. CURRUHUINCA – ROUX. Las matanzas de Neuquén – Crónicas mapuches. Editorial Plus Ultra, Buenos Aires, 1993. DEVES VALDEZ Eduardo, BOSIO Beatriz (Org). Pensamiento paraguayo del siglo XX. Editora Intercontinental, Asunción, 2006. FARRÉ Luis, LÉRTORA MENDOZA Celina. La filosofia em la Argentina. Editorial Docencia, Buenos Aires, 1981. GUY Alain. La filosofia em América Latina. Acento editorial, Madrid, 1998. IBARGUENGOITIA CHICO Antonio. Suma filosófica mexicana. (Resumen de historia de la filosofía en México). Editorial Porrúa, México, 1989 (2ª edição). JAIME Jorge. História da filosofia no Brasil. Editora Vozes, Petrópolis, 2001 (4 volumes). LEON PORTILLA. La filosofia Nahuatl estudiada en sus fuentes. Unam, México, 2006 (10 a edição). MIGNOLO Walter. La Idea de América Latina. La herida colonial y la opción decolonial. Gedisa, Barcelona, 2007. PAIM Antonio. História das ideias filosóficas no Brasil. Editorial Grijalbo, São Paulo, 1967. POPOL VUH . Iluminuras, São Paulo, 2011. RABOSSI Eduardo e outros. La enseñanza, la reflexión y la investigación filosóficas en América Latina y el Caribe. Técnos, Madrid, Unesco, 1990.
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ROIG Arturo Andrés. Esquemas para una historia de la filosofía ecuatoriana. Ediciones de la Universidad Católica de Quito, 1982.
INFORMAÇÕES SOBRE OS ORGANIZADORES Julio Cabrera (Argentina-Brasil). Nascido em Córdoba, Argentina, radicado no Brasil desde 1979. Em seu período argentino se dedica especialmente a filosofia da linguagem e filosofia da lógica num viés crítico, tentando emancipar a filosofia da linguagem do referencial exclusivamente analítico, e endereçando críticas filosóficas à lógica formal, em obras como A Lógica condenada (1987), e Inferências lexicais e interpretação de redes de predicados (2007, escrita em colaboração com o físico Olavo Da Silva filho). No Brasil, desenvolve a sua teoria ética, a ética negativa, exposta em livros como Projeto de Ética negativa (1989), Crítica de la moral afirmativa (1996) e numerosos artigos. Seus estudos de filosofia da linguagem se continuam numa filosofia da linguagem do cinema, especialmente em sua obra Cine: 100 años de Filosofía (1999; tradução brasileira: O cinema pensa). Mais recentemente, começa a interessar-se pela situação da filosofia na América Latina, escrevendo o Diário de um filósofo no Brasil (2010). Rafael Alves Reis (Brasil). Formado em Filosofia pelo Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília. Se interessa por filosofia ibero-americana e outros assuntos que são excluídos das universidades. A presente cartilha tem como base seu trabalho de Iniciação Científica (Pibic), intitulado: A filosofia da América Latina. Nesse trabalho ele faz um breve resumo da historia da filosofia da América latina e reflete sobre a polemica entre a qualidade e a autenticidade dos escritos filosóficos.
Pimentel, Rodrigo Costa e Tiago Barros.
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Wilkerson Silva, Éder Wen, Erivaldo Fernandes Neto, Gabriel Silveira, Léo
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Agradecimentos especiais para: Aline Matos, Aristinete Bernardes, David