PROGRAMA VALORES DE MINAS/CICALT NÚCLEO DO PLUGMINAS

PROJETO PEDAGÓGICO 2018

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 3 1. ARTE, EDUCAÇÃO E CIDADANIA ............................................................................................. 9 2.1. ÁREAS ARTÍSTICAS .......................................................................................................... 22 Artes visuais .................................................................................................................... 23 Circo ................................................................................................................................ 23 Dança .............................................................................................................................. 24 Música............................................................................................................................. 25 Teatro ............................................................................................................................. 25 2.2 PROJETOS COMPLEMENTARES ....................................................................................... 26 Seminário da Arte: ............................................................................................................. 26 Projeto Palco Aberto: ......................................................................................................... 26 Projeto Eventos e Atividades Educativas e Culturais:........................................................ 26 Projeto Monitoria: ............................................................................................................. 27 Projeto Família: .................................................................................................................. 27 Seminário Pedagógico: ...................................................................................................... 27 Slam Valores – competição de poesia falada – ................................................................. 27 Slam Interescolar – competição de poesia falada nas escolas estaduais em Ligação com o Valores de Minas ............................................................................................................... 27 Projeto Afro-África: ............................................................................................................ 28 2.3. PROJETO EXTRACURRICULAR ......................................................................................... 28 Laboratório de Figurino .................................................................................................. 28 3. ORGANIZAÇÃO ...................................................................................................................... 29 3.1. MÓDULO I....................................................................................................................... 29 3.1.1. Processo seletivo ..................................................................................................... 29 3.1.2. Etapas ....................................................................................................................... 29 3.1.3 Critérios de avaliação ................................................................................................ 32 3.2. MÓDULO II...................................................................................................................... 32 3.2.1. Processo seletivo ..................................................................................................... 34 3.2.2. Etapas ....................................................................................................................... 35 Critérios de avaliação ......................................................................................................... 38 3.3. MÓDULO III..................................................................................................................... 39 3.3.1. Processo seletivo ..................................................................................................... 41 3.3.2. Plano Pedagógico ..................................................................................................... 41 REFERENCIAS ............................................................................................................................ 43

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INTRODUÇÃO Núcleo do Centro de Experimentação digital Plug Minas, o Valores de Minas, do Centro Interescolar de Cultura, Arte, Linguagens e Tecnologias, O CICALT, foi agregado à administração da Secretaria Estadual de Educação em 2016. Uma Escola Livre de Artes que leva à frente os princípios norteadores do Programa Valores de Minas criado em 2005, quando era fruto da parceria entre uma OSCIP E Governo de Minas Gerais. Desde sempre, o Valores de Minas vem reconhecendo a juventude como uma fase especial de afirmação da autonomia do indivíduo, vital para o exercício da cidadania e de seus múltiplos direitos e da necessidade de elaboração e implementação de políticas públicas para a garantia do protagonismo dos jovens. Diante daquela realidade dos jovens e adolescentes brasileiros apresentadas pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância - Unicef em 2002, que estimava que cerca de 8 milhões de adolescentes viviam com “níveis de renda e escolaridade que limitam suas condições de desenvolvimento e comprometem a construção de seus projetos e o futuro do país” (UNICEF, 2002), e propostas indicadas para a elaboração e execução de programas para esses segmentos sociais, o Programa Valores de Minas cumpre sua função social, no atendimento aos jovens da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Nesse contexto, o objetivo do programa sempre se manteve em “possibilitar ao adolescente1 em situação de exclusão ou de risco social a melhor capacitação para inserir-se na sociedade, mediante o desenvolvimento de conhecimentos teóricos e de práticas em cinco áreas artísticas – música, dança, teatro, artes plásticas2 e circo. ”

Assim, O Valores de Minas, embora ter passado, a partir de 2016, a ser de responsabilidade da Secretaria de Estado de Educação, continua sendo um projeto social.

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Relatório de atividades pedagógicas. Programa Valores de Minas, 2008, p.2. Desde 2010 optamos pela nomenclatura jovens e não adolescentes, pois de acordo com o IBGE são considerados jovens a população entre 15 e 24 anos, maior faixa etária atendida pelo Programa. 2 Em 2011, devido a alteração na abrangência de suas propostas, a área de Artes Plásticas passou a se chamar Artes Visuais. 3

Muitas conquistas desta nova etapa estão ligadas ao pensamento de se preservar as diretrizes do Programa ao longo dos seus anos de existência, sem descaracterização dos princípios e valores. Desde 2005, diversos projetos voltados para a juventude têm sido implementados por diversos setores, efetivando a inserção do jovem na sociedade. Diante de tantas mudanças político-sociais e a partir da inclusão do Programa Valores de Minas como núcleo integrante do PlugMinas, em 2009, e criação do CICALT, em 2016, fomos motivados a refletir acerca dos princípios norteadores de nossas ações até então. O objetivo estabelecido pela direção, especialistas, corpo discente e Colegiado Escolar se mantém em buscar maior interface com o entendimento contemporâneo do que vem a ser um Projeto social numa Escola Livre de Arte da SEEMG3. Quando foi criado em 2005, O Valores de Minas trazia toda a referência de ser um programa social com bases e princípios na arte-educação4. Sabemos que a escola, de toda forma, é um projeto social em toda sua potência. Toda escola não escapa de ser um projeto social, político, de cidadania, de educação. O Valores de Minas, mesmo sob as diretrizes da SEEMG, atrai a responsabilidade de lidar com os campos da formação cidadã, cultural, política, social, humana. Uma formação que é de nossa responsabilidade levar adiante, sobretudo nas questões de gênero, raça, cor, etnia, e igualdades sociais, raciais, questões prementes e mais que urgentes à todos/as envolvidos pela comunidade escolar.

Assim sendo, com tantas frentes e possibilidades de atribuições da escola em seu meio social, pensamos que o Valores de Minas poderia ser facilmente vinculado à chancela de “Arteeducação”. Porém, com todas as aplicações geradas entorno desse termo, admitimos que ele estaria colocado num lugar muito expansivo e pouco específico, dada a trajetória do Valores de Minas. Contudo, entendemos que basta a designação de “Projeto social” de que o Valores de Minas seja uma escola “Livre de Arte”, ou um “Projeto de arte”, que pretende entender a “Arte como experiência”, em que “a experiência, essa negociação consciente entre o eu e o mundo, é uma característica irredutível da vida, e não há experiência mais intensa do que a arte”, Segundo Jonh Dewey5 (1934).

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Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais Projeto Político Pedagógico 2015. 5 DEWEY, John. Arte como Experiência. Tradução de Vera Ribeiro, Martins Fontes, 2010. 4

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Para nós, projeto social é compreendido como um conjunto de atividades que buscam transformar, de alguma forma a realidade de um público alvo, construindo as bases para sua atuação como protagonista na construção de processos de colaboração em arte, cultura e cidadania. Várias atividades são concebidas visando não só o desenvolvimento de habilidades específicas, como também a formação humana dos envolvidos. Isso faz com que cada participante se aproprie do seu trabalho e com isso, exerça sua cidadania.

No Programa Valores de Minas, a prática artístico/pedagógica envolve a criação, incentivando a manifestação de novas subjetividades e a instauração de novas formas de convivência, de aprendizado e de transformação. Por meio de processos desencadeados em cada indivíduo, preparamos os jovens para se posicionarem como pessoas autônomas, abertas à convivência em grupo, agindo como participantes no desenvolvimento do todo social. A conquista da autonomia é, pois, efetivada não somente na esfera individual, mas também coletiva, pela emancipação. A emancipação, segundo Paulo Freire (1997) diferentemente da autonomia, não poderia ser entendida como atributo individual, privado, mas apenas como atributo coletivo, social.

Dessa forma o programa contribui efetivamente para explicitar aos jovens novas possibilidades de ser e estar no mundo. A denúncia dirigida por Paulo Freire aos sistemas políticos, econômicos e sociais que impõe a desumanização a milhões de pessoas tem a preocupação ética com a defesa da vida humana digna para todos. Diante da realidade social de transgressão à ética humana, Freire (1997) insiste numa necessária intervenção que é sobretudo prática no mundo com o intuito de transformá-lo e cultivar um verdadeiro diálogo de coerência ético-política. Por estimular transformações e estabelecer diálogos, a arte tornase um canal de comunicação complexo, possibilitando que o Programa Valores de Minas contribua para tornar as pessoas mais sensíveis e capazes de atuar no mundo que as cercam.

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Ao longo de seus nove anos de atuação, o Programa Valores de Minas faz da arte o viés condutor de suas ações. Acreditando na relevância do ensino da arte e referenciados em metodologias e planos pedagógicos autorais, promovemos nos jovens não somente o desenvolvimento artístico, mas, sobretudo, o desenvolvimento humano e cultural, possibilitando o reconhecimento e exercício da cidadania e a participação social, e tornando, dessa maneira, o Programa Valores de Minas um programa social de arte, educação e cidadania.

O programa é destinado a jovens de 14 a 24 anos e atende participantes de diferentes regiões e condições socioculturais, oriundos de escolas públicas de Belo Horizonte e região metropolitana. Desde o ano de 2011 é estruturado em três Módulos. A partir de 2017, O Módulo I, criado em 2005, atende 570 jovens. O Módulo II, criado em 2006, atende 200 jovens advindos do Módulo I. Já o Módulo III foi criado em 2011 e atende cerca de 100 jovens egressos do Módulo II.

Para o ano de 2018 as propostas artístico/pedagógicas dos três Módulos mantêm seu caráter de continuidade, e de maneira sistêmica, realiza os objetivos específicos de cada Módulo, em constante processo de reflexão das teorias e práticas desenvolvidas, afirmando e renovando os princípios norteadores do Programa Valores de Minas.

No Módulo I, os jovens selecionados em um processo seletivo específico – que será abordado adiante – têm a possibilidade de, por meio da investigação prática, da apreciação e da reflexão artística, construir conhecimento, por meio da experiência, dentro das áreas artísticas oferecidas pelo programa: teatro, dança, música, circo, artes visuais e História da Arte. Além do ensino das linguagens artísticas mencionadas, são trabalhados conteúdos complementares teóricos relacionados ao universo da arte e da cidadania.

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No Módulo II – os jovens são selecionados entre os participantes egressos do Módulo I. Eles têm a oportunidade de dar continuidade e exercitar os conhecimentos específicos das cinco áreas artísticas, ampliando suas possibilidades de expressão e conhecimento. O maior objetivo desse Módulo é estimular ainda mais a criação artística por meio da formação de coletivos de diversas áreas, aprofundar conhecimentos e potencializar a participação social e cultural.

No Módulo III, os jovens selecionados entre os participantes egressos do Módulo II têm a oportunidade de se constituir como grupo artístico, desenvolvendo linguagem própria, buscando formas de produção e impulsos para inserção no mercado cultural da cidade. Para isso o programa oferece um/a profissional (professor/a – orientador/a) na área de Gestão Cultural, que tem a função de orientar os/as estudantes no desenvolvimento de uma gestão cultural autônoma dos coletivos artísticos. Além disso, o Programa visa criar condições de apresentações públicas em espaços artísticos da cidade de Belo Horizonte, como teatros, galerias, etc.

O Projeto Pedagógico foi construído num contexto em que as questões sobre as premissas pedagógicas do Programa Valores de Minas estão se consolidando, mas as reflexões em torno dos objetivos e das metodologias continuam em construção. Neste ano de 2018, este documento, assume em grande parte o texto do Projeto Político Pedagógico escrito em 2015. Isso valida a tentativa de preservar os ideais e diretivas do programa desde sua criação. Para mantermos as discussões do projeto sempre em pauta, desde 2011 realizamos o Seminário Pedagógico com a participação de todos os professores e coordenadores. O objetivo é avaliar as atividades desenvolvidas no ano anterior e as novas propostas artísticas e pedagógicas para o ano corrente, discutindo o funcionamento de cada Módulo, as etapas do Programa Pedagógico, nomenclaturas, modos de produção, tendo em vista o aperfeiçoamento, novas adequações e reformulações.

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Em 2011 e 2012, o seminário teve uma abordagem mais abrangente com discussão e reflexão sobre os objetivos do Programa Valores de Minas, sistematizando propostas artístico/pedagógicas para os Módulos e áreas artísticas, e por isso, os Módulos I e II, respectivamente

foram

reestruturados.

Foram

levantadas

referências

conceituais

relacionadas aos princípios norteadores do Programa Valores de Minas – arte, cidadania, educação, juventude e projeto social.

A construção do projeto foi estruturada e

fundamentada nessas referências e nas discussões com os profissionais envolvidos, e tornouse a base conceitual, teórico-prática do Programa Valores de Minas nos anos posteriores.

No ano de 2013 novas referências foram pesquisadas e discutidas assim como as metodologias a serem adotadas, por meio de diálogo e troca entre professores e coordenadores, e da construção de um pensamento coletivo, a partir da prática de cada área.

Para 2014, o projeto foi avaliado e revisto, com mudanças de alguns termos e nomenclaturas, bem como discussões renovadas e alguns pressupostos antigos superados.

Devido a uma série de situações vivenciadas ao longo do ano de 2014, o tema cidadania esteve presente em muitas discussões. Assim a equipe de educadores foi provocada a repensar sobre Cidadania no Programa Valores de Minas e como é exercitada e trabalhada junto aos jovens. Partindo desta necessidade a pauta do seminário do ano de 2015 se concentrou no estudo, reflexão e debate sobre este conceito e no exercício de sua prática. Dessa forma o Projeto Pedagógico traz estas reflexões e revisões a partir do ano de 2015.

Em 2017, logo após a transição para a Secretaria de Estado de Educação, o Seminário Pedagógico foi retomado com bases e referências ao antigo formato, e adicionando as pesquisas sobre inter-transdisciplinaridades no estudo sobre a “Ecologia de Saberes” de Boaventura de Souza Santos6.

SANTOS, Boaventura de Sousa (2007) “Para Além do Pensamento Abissal: Das linhas globais a uma ecologia de saberes” , Novos Estudos Cebrap 79, novembro (71-94). São Paulo. 6

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Nesse contexto de constantes mudanças, inquietações e reflexões e de necessidade de diálogo com questões contemporâneas, sociais e artísticas, o Projeto Pedagógico do Programa Valores de Minas visa, em resumo, o que aborda Gadotti (1994, p.576): “um projeto pedagógico necessita sempre rever o instituído para, a partir dele, instituir outra coisa. Tornarse instituinte”. Pretendemos que esse movimento se refaça a cada ano experimentado.

A seguir, o Projeto Pedagógico será apresentado em partes, sendo a primeira um recorte conceitual dos princípios norteadores do Programa Valores de Minas e, na sequência a apresentação dos Módulos e dos Projetos Complementares e suas respectivas propostas pedagógicas.

1. ARTE, EDUCAÇÃO E CIDADANIA E para que serve a arte? Para começar, podemos dizer que ela provoca, instiga e estimula nossos sentidos, descondicionando-os, isto é, retirando-os de uma ordem preestabelecida e sugerindo ampliadas possibilidades de viver e de se organizar no mundo. (CANTON, 2009, p. 12)

Os princípios norteadores do Programa Valores de Minas ancoram-se nos conceitos de arte, educação e cidadania, que, juntos, alicerçam sua estrutura pedagógica.

Em primeiro lugar O Programa Valores de Minas, a partir deste ano de 2018, entende que todas as ações do programa devem estar diretamente ligadas às questões raciais e de gênero, seja na promoção de debates, rodas de conversa, assembleias, temas do processo criativo, assim como nas vivências em sala de aula com os/as educadores/as e pedagogas. A discussão sobre a igualdade racial, sobre juventude negra e o debate sobre o gênero (o feminismo, igualdade do gênero e pautas LGBTQI+) tem um papel fundamental neste programa, muito antes da implementação da LEI nº 10.639. O Programa tem por si um dever de levar adiante as questões prementes dos/as estudantes a que temos visto ao longo dos anos, ao longo de

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nossa história no ambiente político, social, cultural, em que o negro, a mulher, o/a homossexual, o/a transgênero têm sofrido opressão e preconceito. Sobre esse panorama, é dever do Programa Valores de Minas se posicionar no sentido de levantar as questões e fazer fluir a reflexão ampla, democrática e horizontal.

O Programa Valores de Minas tem a arte como viés condutor. A arte pertence ao ser humano e é uma das suas maneiras de desenvolver, criar e recriar mundos, quando o exercício da imaginação proporciona a oportunidade de explorar e construir saberes, além do desenvolvimento de habilidades. Na definição de Evelyn Berg (BARBOSA, 1991, p. XII) A ARTE [grifo do autor] é um rio cujas águas profundas irrigam a humanidade com um saber outro que não o estritamente intelectual, e que diz respeito à interioridade de cada ser. A vida humana se confunde, em suas origens, com as manifestações artísticas: os primeiros registros que temos de vida inteligente sobre a terra são, justamente, as manifestações artísticas do homem primitivo. É este imbricamento que acaba por definir a essência do ser humano.

A experiência estética provoca um potencial de transformação que se processa tanto naquele que atua, quanto naquele que aprecia, despertando no ser humano uma consciência que lhe possibilita interagir e transformar sua realidade. Nesse sentido, podemos afirmar que a arte proporciona a formação de uma consciência interna (pessoal) e externa (meio) que também o processo pedagógico propicia.

A arte como experiência, entendida assim como função motora das atividades sociais, culturais e humanas, revela uma arte “se mantém viva, simplesmente por ser uma experiência plena e intensa, a capacidade de vivenciar o mundo comum em sua plenitude.” (DEWEY, 2010, P. 257).

Pensar a educação é pensar sobre a vida humana, em seu sentido histórico e nos porquês de nossa luta diária para construir um futuro. Essa reflexão exige que voltemos nosso olhar sobre o processo de humanização que está sendo desencadeado nas relações que estabelecemos com os outros, com o mundo e com a natureza. Para Paulo Freire (1992, p.?) somos “seres 10

inacabados que viemos nos vocacionando historicamente para a humanização”. Segundo ele, nós, seres humanos, buscamos ser mais, humanizar-nos. O que também concorda Libéria Neves (2008, p. 102):

Pode-se dizer que a educação surge à medida que se institui a cultura – um todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, leis, moral, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade. Surge como fenômeno que integra uma totalidade cultural, traduzindo-se como ato de ensinar e aprender, que garante as condições de coesão, de renovação, e da própria sobrevivência da sociedade.

Nessa busca, deparamo-nos com condicionantes históricos que nos limitam. No entanto, essas situações limites não se constituem em destino dado ou fatalidades da história. Muito pelo contrário, a história constituiu-se em processos humanos a partir dos quais se dão as possibilidades para nos fazermos mais humanos, afirmando-nos como sujeitos capazes de intervir no mundo. Essa cultura humanista está embutida no fazer artístico, que cria oportunidades reais para que o jovem se (re) conheça, se fortaleça e se coloque como membro participativo na sociedade. Segundo Castoriadis (apud VALLE, 2000, p. 30),

[...] todo indivíduo é indivíduo social: que o indivíduo já precisa da sociedade para constituir-se como tal, como ser de razão, como ser de deliberação, como possibilidade de autonomia. O homem se constrói como indivíduo se socializando. E se constrói como cidadão, numa democracia aprendendo a renunciar à força bruta, ao egocentrismo, em nome do diálogo, da construção comum, da aceitação do outro.

Por compreender que a arte é dotada de signos próprios, capazes de aguçar os sentidos e de construir significados que não podem ser impressos por nenhum outro tipo de linguagem, o Programa Valores de Minas propõe o desenvolvimento de diferentes estímulos artísticos, possibilitando a compreensão e experimentação de processos criativos artístico/pedagógicos em que o ser e o conviver são tão importantes quanto o saber.

Nesse contexto, o ato pedagógico em arte é um ato dialógico. Incentivamos o jovem a percorrer seu caminho, orientando-o em suas escolhas, para que potencialidades artísticas e pessoais encontrem terreno fértil para se desenvolver. Compreendemos que todos os jovens 11

envolvidos possuem potenciais artísticos, humanos e críticos e que junto ao programa compartilham e desenvolvem conhecimentos. De acordo com Viviane Mosé (2011, p. 177)

Torna-se urgente retomarmos a difícil complexidade que é viver, pensar, criar, conhecer. Todas as coisas se relacionam, não há nada realmente isolado, cada gesto produz desdobramentos incalculáveis; um saber, uma escola, uma pessoa não existe sem um contexto, mas as ferramentas de que dispomos no exercício cotidiano do pensamento nos impõem a exclusão, a oposição de valores, a busca por identidade, a negação da contradição e a substituição da vida pela palavra, pelos signos, pelas imagens. Construir sempre novos valores é a tarefa de uma cultura afirmativa, manter a potência criativa do pensamento, em vez de submeter a perspectivas que se cristalizaram protegidas pela crença da verdade. O pensamento conceitual e moral devem assumir que por trás de todas as perspectivas, de todos os valores, existe um homem que cria.

Como explicita a autora, buscamos contribuir para uma formação mais completa, apurando sensibilidades para a percepção das modificações no mundo e em si mesmo, fomentando também a compreensão e o respeito às diferenças individuais e diversidades culturais existentes.

A matéria prima para a arte é o mundo, a vida, e a experiência estética não é privilégio daqueles que podem ter contato com códigos considerados eruditos. Ao contrário, ela permeia o cotidiano das pessoas o tempo todo e possibilita ao ser humano compreender, expressar e recriar sua existência. (Arte-Cidadania, s/d)

O trabalho desenvolvido pelo Programa Valores de Minas se baseia em uma educação que pensa a vida, que tem como alvo a cultura, que promova o acesso à criação artística e que estimula a continuidade da produção cultural. Uma educação que valorize a potência individual e que tem na própria vida referências para a construção de valores, conceitos, perspectivas. Que desperte nos jovens a reflexão e a capacidade crítica por meio de suas próprias experiências.

Esse processo de formação é estabelecido pelo ensino da arte que, conforme Barbosa (1998) é entendido como prática educativa fundamental, na medida em que se pretende o desenvolvimento intelectual e humano. Por meio do seu ensino, aumentam as possibilidades 12

de desenvolvimento da percepção e da imaginação, que dão condições para apreender a realidade do entorno e desenvolver aptidões criadoras necessárias à modificação dessa realidade. Barbosa (1998a, p. 16) afirma ainda: A Arte na Educação [grifo do autor] como expressão pessoal e como cultura é um importante instrumento para a identificação cultural e o desenvolvimento individual. Por meio da Arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada.

Os objetivos do ensino da arte vêm se expandindo nas últimas décadas. Durante muito tempo não enfatizava parâmetros específicos necessários à formação mais completa do aluno, focando mais no desenvolvimento de qualidades como a liberação de emoções e a livre criatividade. Dentro da concepção mais atual dessa prática, à medida que a fruição e a percepção de obras artísticas são inseridas no ensino da arte, os objetivos passam a se relacionar em maior amplitude às finalidades de aprendizagem propostas. Aos exercícios de liberdade e criatividade, são acrescidos, portanto, o estímulo à cognição, à construção do pensamento e ao desenvolvimento de uma análise atenta e crítica.

É necessário, portanto, aproximar a arte do repertório geral dos alunos, para que eles reconheçam a importância do estudo e pesquisa dos processos artísticos. Para Ana Mae Barbosa (1991, p. 7)"[...] precisamos levar a arte, que hoje está circunscrita a um mundo socialmente limitado, a se expandir, tornando-se patrimônio cultural da maioria e elevando o nível de qualidade de vida da população".

A descoberta dos espaços sociais (educação social) como alternativa ao ensino de arte colabora para a ampliação e para o enriquecimento do trabalho desenvolvido em instituições como a escola. O primeiro, sendo pensado como espaço não-formal7 de educação e o segundo 7

Na definição apresentada por Libéria Neves, a educação formal ocorre no seio dos estabelecimentos escolares; requer tempo, aprendizagem de conteúdo, habilidades e competências específicas, resultados e avaliações regulados por normas decorrentes da administração competente, visando à obtenção de graus e títulos (AFONSO, 1992, pág.). A educação não formal conta com objetivos explícitos de aprendizagem ou formação, apresentando processos educativos diferenciados e específicos. Entretanto, ela se realiza fora do marco 13

como espaço-formal. Ambos, de acordo com Libéria Neves (2008, p. 109) “comungam o atributo da organização e sistematização e, consequentemente, o caráter metódico”. Mas a autora ressalta que A natureza da educação não-formal, caracterizada por um tempo distinto da escola, pela flexibilidade, pela relativização de resultados, entre outros fatores, permite maior aproximação das peculiaridades dos educandos, bem como a construção de atividades capazes de oferecer oportunidade para que estes elaborem algumas de suas questões ao longo do próprio fazer, durante o processo educativo.

O Programa Valores de Minas possui objetivos específicos de aprendizagem em arte potencializada pelo exercício da cidadania. A cidadania, como um dos valores imbricados ao ensino da arte, em que se referenciam os objetivos do programa, constitui o processo de formação como um espaço de educação social, sendo determinado como um Programa de Arte, Educação e Cidadania. Arte-cidadania é um valor associado à democracia da arte e à participação cultural de indivíduos e comunidades. Surge da prática de diversas iniciativas que promovem o acesso à arte como forma de potencializar o posicionamento crítico, criativo e participativo dos indivíduos. Assim, o exercício da cidadania no Programa Valores de Minas busca refletir sobre o lugar da arte no meio social dos jovens, de acesso e participação cultural. Mas estes aspectos embora fundamentais, não são únicos. O Programa vem amadurecendo e tendo a necessidade de aprofundar na reflexão e no entendimento deste conceito, embora tenha consciência de sua complexidade, sabendo que não há como alcançar a multiplicidade de ‘sentidos e significados’ que carrega. Necessário

institucional da escola, rompendo com muitas das determinações que caracterizam esta última. Já a educação informal, abrande todas as possibilidades educativas, no decurso da vida do indivíduo, construindo um processo permanente e não organizado.

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também, ter cuidado com o uso do termo, e saber de que cidadania se fala, como coloca Gadotti: Já existem pessoas que não querem nem ouvir falar de cidadania, tamanha a vulgarização deste termo nos últimos anos. O termo “cidadania” foi apropriado com sentido e significado muito diferentes. Tornou-se uma palavra perigosamente consensual, um envelope vazio no qual podem tanto caber os sonhos de uma sociedade de iguais, uma sociedade de direitos e de deveres, quanto uma sociedade dividida por interesses antagônicos. Nela cabem hoje todos os sonhos e todas as realidades. Por isso, antes de mais nada, precisamos caracterizá-la, precisamos saber de que cidadania estamos falando (2000, pág. 09).

Partindo deste pensamento é preciso se ater ao entendimento do que vem a ser cidadania para o Programa. Encontrou-se assim, na definição que Líllian do Vale traz do termo, um caminho:

À luz da democracia, a cidadania não pode ser outra coisa senão a igualdade que é construída na e pela atividade política. E mais: a partir daí, pode-se dizer que a política é a ação coletiva de construção da sociedade, e que é ela e somente ela que finalmente caracteriza o que é ser cidadão. A política é a prática que designa a atividade do cidadão. Todas as demais atividades, relacionadas à existência privada, aos gostos, às crenças particulares, aos valores particulares, até mesmo à atividade profissional, ao trabalho, diferenciam os cidadãos entre eles: somente a política, atividade aberta de reflexão e de deliberação comuns é que cria o espaço público, é que une os cidadãos, e que os faz iguais, os caracteriza. E define, também, quem não é cidadão: todas as atividades da vida privada podem, a princípio, ser exercidas por cidadãos e não-cidadãos, indiferentemente. Só a atividade política é estritamente reservada aos cidadãos, é seu atributo exclusivo (2000, p. 26).

Nesta concepção o cidadão apresenta-se como aquele sujeito que constrói sua cidadania a partir da experiência de participação no coletivo. O sujeito sai do seu mundo privado para exercitar sua participação na esfera pública, na coletividade.

Sendo assim conclui-se que é com a prática argumentativa e comunicativa, ocorridas nos enfrentamentos cotidianos, tanto dentro da sociedade quanto dos grupos sociais, que é 15

possível efetivar a democracia. Ou seja, o cidadão é aquele que desenvolve a potencialidade comunicativa em sua vida cotidiana. É aquele que se posiciona nos espaços públicos, e que se utiliza das normas e das leis como ações eficazes de garantia de institucionalização dos seus anseios e demandas sociais, políticas, culturais e etc.

Como então provocar a reflexão e a atuação do jovem-cidadão no sentido de reelaboração dos conteúdos apresentados acima? Como provocá-lo para que exerça uma participação que seja efetiva, onde verdadeiramente tenha espaço para se posicionar, exercitar o debate, a fala e a escuta? É certo que não basta discursar sobre os conceitos a fim de atingir uma reflexão cognitiva com estes, mas é preciso também criar uma situação educativa na qual possam discutir e refletir sobre as questões que atingem seu cotidiano de maneira prática. Para que os jovens pudessem exercitar este lugar dentro do Programa Valores de Minas, desde o ano de 2013, foi incorporado na rotina do Módulo II, o trabalho com as assembleias, e tem sido uma experiência muito rica e positiva. Assim, aproveitando esta prática, e a boa experiência alcançada, foi levada também para o Módulo I, desde 2015.

As assembleias podem ser caracterizadas como o momento institucional da palavra, do diálogo, em que o coletivo se reúne para refletir, tomar consciência de si mesmo e tentar transformar tudo aquilo que os membros consideram oportuno (questões para melhorar o trabalho, a convivência e os próprios espaços).

Segundo Carlos Brandão (2002, p.65), "toda educação cidadã começa por um aprender a sairde-si-mesmo em direção ao outro", e isso é possível com a ampliação de "círculos e circuitos interativos de diálogos". Neste sentido, a educação "serve à comunicação e ao que ela constrói entre as pessoas".

A ampliação de "círculos e circuitos" de diálogos entre jovens e a equipe de educadores faz parte desta metodologia, em que o exercício de "sair de si" em direção ao outro funciona como prática política para atingir em conjunto, por meio da experiência de estar fazendo parte de um movimento social e de direitos para todos. 16

Desta maneira, considera-se este, um primeiro e importante passo, para o “exercício de construção, de preparação para a cidadania”, como aponta Valle (2000, pág. 28). Ainda segundo Valle, cabe às instituições de ensino,

Garantir o acesso, a socialização de cada aluno, naquilo que é considerado socialmente como ‘participável’, naquilo a que todos devem ser iniciados, de forma a que se possa falar que há algo de comum entre cada um dos cidadãos, que não inibe, não desfaz, não exclui o desenvolvimento das singularidades, mas dele se alimenta (2000, pág. 31).

Além das assembleias, outro recurso é utilizado a partir de experiências já realizadas em várias instituições, com o objetivo de ampliar a ação do Programa Valores de Minas em uma educação cidadã e participativa. Partindo de uma ética comum, colocou-se como objetivo criar junto aos jovens um código de ética, chamado Lista de Direitos e Deveres. Pressupõe a criação de uma série de combinados em que todos – jovens, professores e supervisoras pedagógicas – participam da sua elaboração.

Para La Taille (2008), “quando uma lei exterior resolve até mínimos conflitos, cria-se uma sociedade infantil. Já a formação ética, em vez da simples normatização, discute as relações com outras pessoas, as responsabilidades de cada um e os princípios e valores que dão sentido à vida”.

A Lista de Direitos e Deveres é um documento elaborado em sala de aula junto com os jovens. Utilizou-se como modelo a Definição de Direitos e Deveres feita pelos alunos da Escola da Ponte de Portugal8. Esse modelo já foi utilizado em sala de aula desde 2014 e surtiu bons efeitos. Os temas são adaptados à realidade de cada ano e cada turma. Eles devem ser escritos, votados, impressos e colocados na parede da sala.

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Escola da Ponte é uma instituição pública de ensino, localizada em Guimarães, distrito do Porto, em Portugal, cujo método de ensino se baseia nas escolas democráticas. Parte integrante de um movimento de escolas modernas, alicerçadas nas ideias do educador francês Célestin Freinet e do brasileiro Paulo Freire. São três pilares de valores: solidariedade, autonomia e responsabilidade. A Definição dos Direitos e Deveres é um dos instrumentos usados na escola. Nele os alunos decidem democraticamente, em assembleia, os direitos e deveres que consideram fundamentais para o funcionamento da escola. Funciona como um regimento interno e pode ser alterados quando necessário.

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O objetivo principal é servir como fundamento para uma constante avaliação do convívio que afeta a sala e a instituição, as relações interpessoais e as relações nos processos criativos. Esse código deve servir como uma base ética para a convivência coletiva e para que o indivíduo possa se auto avaliar.

Na Lista de Direitos e Deveres devem conter princípios coerentes com a missão da instituição e com o a “Constituição Brasileira: liberdade, respeito, igualdade, justiça, dignidade” (LA TAILLE, 2008).

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Exemplo de combinados na turma DIREITOS DEVERES Debater os problemas e dar a opinião Pedir a palavra, quando quero falar ou quando em momentos oportunos. preciso de ajuda extrema. Participar das aulas, ensaios e reuniões Chegar no horário das aulas, ensaios e de organização e demais atividades de reuniões e estar responsavelmente. diversas formas e com responsabilidade. Votar e dar opiniões nos debates, Respeitar e fazer cumprir as decisões tomadas ensaios, reuniões e decisões. pela maioria, nos procedimentos de trabalho. Defender as minhas opiniões e meus Aceitar as decisões, promovendo a sua defesa pontos de vista sobre os exercícios na aula, ensaios e na cena. cênicos, a cena e a criação em geral. Ser ajudado e respeitado pelos colegas Ajudar e aceitar a ajuda dos outros de trabalho e aprender com eles. responsavelmente. Ajudar os outros responsavelmente e sem ideias tolas e cegas. As ideias tolas e cegas são todas aquelas que não promovem positivamente o desempenho do outro e da criação. Estar num coletivo que respeita a todos e que todos o respeitem Ter um espaço de trabalho coletivo e individual num ambiente favorável e criativo.

Tenho o dever de ser amigo dos amigos, sem ideias tolas e usar a minha liberdade com responsabilidade.

Respeitar todos os que me rodeiam. Cumprir as minhas tarefas e de me autoavaliar conscientemente. Ser concentrado, persistente, disponível, pronto para meu trabalho. Manter o espaço de criação harmonizado, evitando conversar assuntos fora da questão, contribuindo assim para a

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concentração do ambiente. Ser pontual e assíduo. 9 Utilizar objetos e materiais disponíveis Respeitar e cuidar de todo o material que é para as aulas e cenas podendo usufruir comum. de todo o material que é comum. 10 Sair do espaço para necessidades Sair dos espaços, apenas quando for de pessoais extrema necessidade. 11 Escolher e mudar de grupo de trabalho para a criação, quando acordado com o professor. 12 Ter um espaço de trabalho limpo e arrumado.

Preparar convenientemente as tarefas. Ajudar, ser solidário e cooperar com o meu grupo de criação. Conservar todo o material e espaço mantendo-o limpo e arrumado.

13 Receber e criar tarefas interessantes Cumprir com as tarefas com o professor, com que promovam o desenvolvimento o colega e com o programa. pessoal e artístico. 14 Ter liberdade de escolha Respeitar o que o outro escolheu e acatar as proposições coletivas. Exercer a liberdade responsavelmente, sem prejudicar o outro. 15 Receber respeito do outro, com suas Dar respeito ao outro e contribuir com um diferenças, respeitando tempos e ambiente amigável, agradável e alegre. ideias pessoais criando um ambiente agradável, alegre e educado. 16 Estar em coletivo afetivamente. Ser Se abrir individualmente para aceitar o outro colaborativo, compreensivo e amoroso. e estabelecer uma boa a clara comunicação, respeitando as diferenças de opiniões e visões. 17 Criar um ambiente agradável, limpo, Promover a higiene pessoal e conservar o arrumado e saudável. espaço mantendo-o limpo e arrumado. 18 Ter segurança física na hora de fazer as Usar roupas e acessórios confortáveis que não tarefas corporais. prejudiquem a si mesmo e ao outro. 19 Ter a atenção focada no trabalho Não usar objetos eletrônicos em sala para pessoal e em grupo. promover a atenção em aula e na criação. 20 Usufruir da estrutura e da Comprometimento individual e social. Não oportunidade que a sociedade e o faltar, não depredar, agir positivamente para poder público nos disponibilizam. a manutenção e continuidade do programa. 21 Pedir ajuda psicológica e de saúde Refletir e diferenciar questões relacionadas à quando extremamente necessário. vida pessoal das questões que se referem ao ambiente de criação e de trabalho em aula. 22 Construir, decidir e votar nas regras de Respeitar as regras instituídas coletivamente convivência deste coletivo.

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Atrelando criação e fruição artísticas aos processos geradores de cidadania e valorizando o repertório cultural de indivíduos e comunidades, o Programa Valores de Minas reconhece na arte um caminho sólido para o desenvolvimento da autonomia humana, condição sem a qual não se pode efetivar um papel no mundo. Com a conquista de uma condição autônoma do indivíduo frente ao seu contexto social, cultural e político, a cidadania se fortalece.

Dentro desse contexto, a atuação do educador deve, portanto, manter esse desafio em perspectiva. Para Barbosa (2003, p. 109),

Somente a ação inteligente e empática do professor pode tornar a Arte ingrediente essencial para favorecer o crescimento individual e o comportamento de cidadão como fruidor de cultura e conhecedor da construção de sua própria nação.

O educador recebe a tarefa de trabalhar para ensinar a ver, a analisar, a especular, a investigar. Esse profissional deve reconhecer o ensino da Arte como instrumento para favorecer o crescimento individual de seus estudantes, formando cidadãos conhecedores e questionadores da realidade que os cercam.

O educador deverá perceber as relações construídas em sala de aula, bem como os temas e sintomas levantados durante os processos pedagógicos. Esses temas são de extrema relevância e devem ser colocados em discussão sempre que possível. A sensibilidade do educador de se orientar em não deixar que temas relacionados ao bem estar dos/as estudantes sejam deixados de lado por quaisquer motivos. Além disso, o poder de trabalhar com o respeito as diferenças, em busca da igualdade social, racial e de gênero, deve ser atuado sempre, numa relação em que o educador seja um mediador dos conflitos que promova a reflexão saudável e satisfatória à todos/as. Uma das formas de introduzir os/as estudantes à reflexão é o estudo de uma “curadoria” das ações pedagógicas e planos de ensino. O educador “curador” é aquele que consegue entender como lidar com as informações que chegam, a todo tempo, em sala de aula, como um dispositivo para a contextualização, pois “a informação

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não pode ser desprovida de contexto, caso contrário não gera conhecimento9” (DIMENSTEIN, 2015, p. 11).

A implantação e constante avaliação desse Projeto Pedagógico contribui para a efetivação de uma formação mais integral, possibilitando aos jovens a oportunidade de se colocarem no mundo como protagonistas de suas próprias trajetórias, usufruindo do direito à educação, à cultura e à participação social.

2. ESTRUTURA PEDAGÓGICA O Programa Valores de Minas é concebido como um projeto multi e interdisciplinar que trabalha com cinco áreas (Artes Visuais, Circo, Dança, Música e Teatro), seis projetos complementares (Palco Aberto, Eventos e Atividades Educativas e Culturais, Slam Interescolar, Projeto África-Brasil, Projeto Afro-África, Projeto LGBTQI+, Projeto Escola no Valores, Monitoria, Família, Seminário Pedagógico e Artístico) e um projeto extracurriculares (Laboratório de Figurino e Projeto Revista). Seu funcionamento é em etapas e Módulos.

Multi e interdisciplinar

Buscamos a interlocução dessas linguagens de forma interdisciplinar e com conteúdos de arte e cidadania. Entendemos a multidisciplinaridade como um sistema de ensino em arte que engloba experiências em diversas disciplinas, fator que condiz com a própria concepção do programa ao agregar cinco linguagens artísticas. A interdisciplinaridade acontece no trabalho contínuo de integração das áreas, disciplinas e projetos, proporcionando ampliação e colaboração entre as mesmas, e ampla experimentação pelos jovens. A prática da interdisciplinaridade representa um diferencial do programa por ser fator essencial de consciência para os jovens no que se refere ao processo de ensino/aprendizagem com maior

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CORTELLA, Mário Sergio; DIMENSTEIN, Gilberto. A Era da Curadoria: o que importa é saber o que importa! (Educação e formação de pessoas em tempos velozes). Campinas, SP: Papirus 7 Mares, 2015. 122 p. (Papirus Debates). 21

compreensão da arte de maneira prática, possibilitando associar conteúdos e integrar pensamentos. A discussão que se iniciou em 2017, sobre a transdisciplinaridade e os estudo de Boaventura de Souza Santos sore “ecologia de Saberes”, ainda propõe uma reflexão profunda sobre os modos de atuação dos coletivos artísticos de estudantes do Valores de Minas.

Caráter sistêmico com módulos e etapas

A proposta artístico/pedagógica é desenvolvida em Módulos e etapas que possuem um caráter sistêmico, isto é, que buscam, não a fragmentação, mas a expansão e convivência de diversos conteúdos baseados em fundamentos que corroborem os princípios norteadores do Programa Valores de Minas, aliados aos objetivos de cada Módulo, em constante processo de reflexão das teorias e práticas desenvolvidas. Cada Módulo possui um plano de curso estruturado a partir de suas especificidades.

2.1. ÁREAS ARTÍSTICAS Todas as áreas artísticas compartilham de um mesmo objetivo geral que é o de propiciar ao jovem o desenvolvimento do pensamento artístico, crítico, estético, humano e social caracterizando um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana, ampliando assim sua sensibilidade, sua percepção e imaginação na construção do conhecimento necessário para compreender a arte como meio de humanização da realidade e expansão da sua participação social. Entendemos a arte como forma de conhecer, de humanizar e transformar os sentidos e de produzir significados.

Cada área possui especificidades, porém sempre pontuando o caráter de formação humana e social junto a seus conteúdos específicos, para que de um modo amplo, propicie a reflexão crítica sobre a relação entre arte e cidadania. Para isso todas as áreas buscam referências em diversas teorias contemporâneas de ensino de arte, em dinâmicas próprias de funcionamento, de apreciação crítica e em diversas experiências estéticas.

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Os conteúdos visam desenvolver e fortalecer atitudes de respeito, de cooperação, de confiança, de autonomia e autoconsciência, passando da relação de dependência para a de independência ao estimular a concentração, a atenção, a disponibilidade e a disciplina. Ao mesmo tempo em que oferece alternativas para sua expressão, cada área artística procura contribuir para que o jovem se perceba com uma identidade própria, preparado e motivado para utilizar as competências adquiridas.

Artes visuais Visa uma incursão no universo multifacetado das diversas linguagens artísticas - visuais e suas formas de expressão, através de estímulos que enfatizem o comunicar-se em arte mantendo uma atitude de busca pessoal e/ou coletiva, articulando a percepção, a imaginação, a emoção, a sensibilidade e a reflexão ao realizar e fruir produções artísticas, relacionando-os à prática cidadã; compreender a arte como fato histórico contextualizado em diversas culturas; conhecer, respeitar e adquirir senso de observação para as produções presentes no entorno, assim como as do patrimônio cultural e do universo natural; proporcionar o envolvimento e o desenvolvimento de todo o processo criativo/colaborativo, desde sua elaboração, perpassando pela criação e produção das exposições e do espetáculo, entre outros. Alguns objetivos e conteúdos específicos: com a finalidade de tornar o processo de aprendizado mais coerente com a amplitude de diversificação da área, serão compostos territórios que oferecem diferentes direções para o estudo da arte. Tal qual o traçado de uma cartografia delineamos o mapeamento desses territórios dando um panorama teórico-prático sobre as diversas linguagens, os diversos processos de criação, materialidades distintas, entender a relação forma-conteúdo, o que são as mediações culturais (visitas a galerias, museus, etc.), entre outros aspectos. O jovem terá acesso a processos de criação em fotografia, vídeo, pintura, escultura, desenho, performance art, cenografia e adereçagem.

Circo

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Propõe estimular nos jovens o desejo de desenvolver as habilidades das artes circenses e apresentar os riscos e benefícios dessa atividade artística no processo de promoção pessoal e social. Proporciona o desenvolvimento da arte circense enquanto técnica e seus pré-requisitos inerentes ao circo como: disciplina, persistência, perseverança, concentração e coletividade.

Alguns objetivos e conteúdos específicos: possibilitar o conhecimento de técnicas de comunicação e relacionamento interpessoal que permitam a adequada relação com os colegas, com a comunidade e sua atuação em equipe multiprofissional. Desenvolver conhecimentos sobre o corpo, sua funcionalidade, treinamento e longevidade na carreira. Desenvolver habilidades e atitudes profissionais pautadas na ética e em formas democráticas. Adquirir conhecimentos técnicos sobre a dimensão dos riscos da profissão, nas técnicas de segurança no trabalho circense e nos primeiros socorros em casos de acidentes. Dar oportunidades de participação em processos criativos, de comunicação e interatividade com outras artes e novas tecnologias. Possibilitar o conhecimento técnico e artístico das artes do circo, como acrobacia aérea e de solo, malabares e equilibrismo.

Dança Objetiva principalmente trabalhar informações técnicas e teórico-práticas de alguns estilos de dança em comunhão com diferentes temáticas que envolvem o universo social e pessoal dos educandos, para a produção de conhecimento, reflexão e expressividade. Partindo do princípio de que a primeira expressão do indivíduo é corporal, a área propõe o entendimento e reconhecimento de que para além de ter a consciência é importante ter o domínio das capacidades do corpo, fatores de extrema importância para um desenvolvimento geral do ser humano, pois quanto maior a apropriação do indivíduo em relação a si mesmo maior e melhor é o desenvolvimento de suas competências pessoais, relacionais, cognitivas e produtivas.

Alguns objetivos e conteúdos específicos: os estilos trabalhados são as danças urbanas, danças brasileiras, o jazz e a dança contemporânea. Os quatro estilos foram escolhidos levando em consideração a aproximação com o universo e perfil do jovem, as matrizes da realidade

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brasileira, o refinamento técnico do jazz, por ser baseado no balé clássico e as criações autorais da dança contemporânea que partem de aspectos fisiológicos, culturais e gestuais de maneira associada, dando importância para criações coletivas, improvisações, livre expressão individual mesmo que apoiadas em técnicas específicas. Serão ministradas oficinas e aulas teórico-práticas da história da dança e será introduzida a linguagem de vídeo dança com a proposta em relacionar dança e novas tecnologias. Música É dividida em Canto, Harmonia e Percussão. A música em geral visa o despertar do senso crítico dos jovens exercitando a consciência cidadã junto à apreciação ativa do ouvir, escutar e entender, possibilitando a educação do ouvido musical.

Alguns objetivos e conteúdos específicos: prática da música instrumental e vocal com ênfase na criação coletiva, envolvendo a percepção rítmica, percussiva, melódica e harmônica. Percepção da importância do fisiológico, o afetivo e o mental como três domínios da natureza humana que estão estritamente ligados e conectados ao aprendizado dos elementos da música. Análise dos parâmetros básicos musicais (timbre, duração, altura, intensidade, ritmo, melodia e harmonia) e proporcionar aos jovens o sentir, criar e desenvolver sua musicalidade com consciência, concentração, socialização, disciplina, respeito a si próprio e ao grupo. Teatro Destina-se à iniciação e experimentação de atores-criadores para o teatro, apresentando aos jovens uma proposta de atuação mais propositiva, autoral, coletiva e colaborativa. Apresentamos um panorama de diversas linguagens teatrais e propomos novas leituras para a criação cênica por meio de imagens, textos, sons e atividades de investigação teóricopráticas.

Alguns objetivos e conteúdos específicos: fundamentos do trabalho corporal (presença, consciência, corpo-espaço, corpo-ritmo), voz e musicalidade (texto e canto), improvisação livre e direcionada (desenvolvimento de tema) através de jogos dramáticos e teatrais, 25

interpretação e dramaturgia do ator (criação de personagens, partituras, cenas e roteiros). Os conteúdos visam que o jovem tenha subsídios técnicos para realizar produções individuais e coletivas, desenvolvendo uma relação de respeito e autoconfiança com a sua expressão pessoal e relacionando-a com o coletivo, como cidadão, criador, espectador e crítico.

2.2 PROJETOS COMPLEMENTARES São desenvolvidos em parcerias entre os Módulos da estrutura pedagógica e são adequados à realidade vivida ao longo no ano. A compreensão da importância da complementação no processo pedagógico está alinhada com as concepções educacionais de que os projetos são uma forma de expansão dos conteúdos trabalhados nas áreas. Além disso, promovem o encontro extracurricular de vivências e experiências artísticas e de ações afirmativas, que são trazidas ao ambiente escolar, por meio de diversas iniciativas. Os projetos podem ser implementados pela Direção, por estudantes, professores/as, parceiros e/ou colaboradores da escola em geral.

Seminário da Arte: tomando como referência os processos criativos desencadeados a partir de uma temática definida e desenvolvida por todos os participantes do programa, é realizado um seminário em que são apresentadas as pesquisas teóricas e conceituais acompanhada por uma apresentação cênica. Nesse seminário, os jovens são estimulados a fazer relações entre as áreas e aos contextos criativos do espetáculo. Acontece no Módulo I.

Projeto Palco Aberto: projeto de encerramento do primeiro semestre com apresentações dos resultados dos processos artísticos de cada área, desenvolvidos nos três Módulos. O evento é aberto para a comunidade e familiares. É realizado nos Módulos I, II e III.

Projeto Eventos e Atividades Educativas e Culturais: tem como objetivo a formação artística, educativa e de fruição do jovem. Comum a todos os Módulos, é constituído por atividades externas com visitas a equipamentos culturais, espetáculos, seminários, etc.; e

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atividades internas como sessões comentadas de filmes, apresentações, entrevistas com artistas e produtores locais, etc. Todos os Módulos participam.

Projeto Monitoria: os jovens do Módulo II se inscrevem para serem monitores nas aulas da linguagem artística de sua preferência, auxiliando os professores nas aulas do Módulo I, em dias e horários específicos durante todo o ano. Objetivamos construir as bases para a iniciação à docência, capacitando-os em práticas pedagógicas para o ensino das artes.

Projeto Família: tem como objetivo aproximar as famílias dos jovens ao Programa Valores de Minas por meio da realização de encontros como reuniões, atividades práticas, lúdicas, etc. Visa o conhecimento e a experimentação dos familiares de conteúdos das áreas artísticas e ainda mantém um canal de comunicação constante com os familiares ao longo do ano.

Seminário Pedagógico: possibilita ao corpo docente o constante processo de pesquisa, atualização e reflexão. Visa garantir um tempo disponível para avaliação contínua da própria prática pedagógica, para a troca de ideias e experiências entre os educadores e pedagogas (EEB) das áreas, assim como estudos e pesquisas relacionadas à prática pedagógica e a processos de criação.

Slam Valores – competição de poesia falada – Com o Intuito de agregar as escolas do entorno à uma ação direta, desenvolvida no Valores de Minas/CICALT, o Núcleo promove mensalmente o Slam Valores, Realizado integralmente por estudantes, o movimento se liga ao campeonato estadual (Slam MG) e já revelou a estudante Joice Gonçalves em 2017, e ao campeonato nacional Slam BR, que acontece em São Paulo a cada dezembro. De São Paulo, sai um/a representante do país que vai à França disputar o campeonato mundial de poesia, a Cope du monde du poésié. Slam Interescolar – competição de poesia falada nas escolas estaduais em Ligação com o Valores de Minas – Uma série de Oficinas em 12 escolas foram apresentadas pela SEEMG como projeto do CICALT, QUE INTERLIGA as escolas num projeto comum e contínuo. O Slam é

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uma competição de poesia falada conhecida no mundo inteiro há mais de 30 anos. Paras as escolas foram oferecidas 04 oficinas de escrita criativa e slam, e foi realizado pelo menos um slam em cada escola. Foi possível realizar, ao final das oficinas nas escolas, uma final com estudantes representantes das 12 escolas contempladas pelo projeto, além de uma final nacional com estudantes das cidades Brasileiras que se inscreveram para o slam Interescolar. No dia 1º de dezembro de 2017 o Núcleo Valores de Minas/CICALT Recebeu, além de 12 escolas do entorno, representantes de Vila Velha (ES), Juiz de Fora (MG), Uberaba (MG), Ibirité (MG) e Belo Horizonte (MG).

Projeto Afro-África: Projeto com iniciativa de professores/as, estudantes e parceiros do Programa que desenvolve diversas frentes, rodas de conversa, cinema, saraus, exposições, debates, palestras e musicalização com o princípio da reflexão étnico-racial por meio da afirmação das culturas africana e Afro-Brasileira. No ano de 2017, as oficinas com o músico Senegalês Mamour Ba envolveu mais de 40 estudantes, com oficinas semanais e diversas apresentações culturais pela cidade.

2.3. PROJETO EXTRACURRICULAR O projeto extracurricular não é aberto a todos os jovens do programa e sim àqueles que tem interesse e que são selecionados por meio de um processo específico. Acontece fora da carga horária do curso e são oferecidas trinta vagas para jovens do Módulo I e os outros núcleos do PlugMinas.

Laboratório de Figurino: tem como objetivo iniciar jovens interessados em conhecimentos de moda e figurino. Pretende criar um ambiente propício para trabalhar sob o conceito de laboratório, ou seja, pesquisa, prática e risco. A partir das ações e estudos realizados o jovem irá se tornar um criador ativo no seu processo de trabalho, descobrindo novas relações na construção do vestuário cênico e de moda. Pretende-se também que o jovem se torne apto a

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atuar como co-criador do figurino do espetáculo de encerramento do Programa Valores de Minas.

3. ORGANIZAÇÃO

3.1. MÓDULO I No Módulo I são oferecidos aos jovens, iniciação, conhecimento e experimentação nas cinco linguagens artísticas. Eles participam de processos criativos e reflexivos, estimulando o reconhecimento de sua identidade, potencializando sua autonomia e possibilitando um olhar mais crítico e sensível da própria realidade, contribuindo assim, para que os jovens ampliem sua capacidade de interagir com o outro e com o meio onde vivem.

3.1.1. Processo seletivo Os jovens fazem as inscrições no site do PlugMinas e passam por um sorteio das vagas destinadas ao Programa. A partir daí, são convocados a fazerem a matrícula por ordem estabelecida no sorteio eletrônico. As duas primeiras semanas de aulas funcionam como uma espécie de rodízio entre todas as áreas, permitindo que os/as jovens experimentem todos os conteúdos e possa, assim, afirmar sua opção de curso descrita na matrícula. 3.1.2. Etapas Desde o ano de 2011 o Projeto Pedagógico do Módulo I é dividido em três etapas como forma de organização, mas sem perder o caráter processual e de continuidade entre as mesmas.

Primeira etapa: acontece no primeiro semestre do ano. O jovem escolhe a área artística de interesse durante o processo seletivo com encaminhamento para a respectiva área. Na aula da área artística escolhida, o jovem desenvolve conteúdos práticos e teóricos específicos de iniciação voltados para a construção de conhecimentos práticos e teóricos mais aprofundados

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com uma carga horária mais extensa. Nas aulas de História da Arte os jovens terão aulas das outras linguagens que não foram de sua escolha, alternando entre elas. O jovem experimenta as outras quatro áreas, em que terão uma iniciação/complementação, afirmando o caráter multi e interdisciplinar do programa. Nessa etapa é possibilitado ao jovem espaço de investigação constante, tanto de conteúdos específicos quanto de reflexão de questões coletivas que o estimule a se colocar criticamente diante de sua experiência. Além das aulas específicas e interdisciplinares, também nessa etapa ocorrerão alguns projetos complementares que propõem interação artístico/social com interlocução e aproximação do fazer artístico com a realidade em que os jovens estão inseridos. O propósito é auxiliar na construção de maior espaço de acesso a bens materiais e culturais.

Segunda etapa: nessa etapa, que se inicia no segundo semestre, dá-se continuidade ao trabalho das áreas artísticas, mas aqui, com aprofundamento de conteúdos para a montagem de um espetáculo multidisciplinar anual. Buscando o aprofundamento das Práticas de Interação, serão formados dez grupos de trabalho contendo jovens de todas as áreas artísticas do programa com o objetivo de criarem exercícios cênicos, numa experimentação interdisciplinar. Todo o material artístico produzido poderá ser utilizado para a montagem do espetáculo. Permanecem os projetos complementares.

O espetáculo é gerado por um processo de criação contínua, perpassando o pensamento de cada área, disciplina e projetos complementares. Começa pela escolha do tema geral no início de cada ano, que serve de provocação para todas as áreas desenvolverem seus planos pedagógicos (escolha de repertório, de textos, de matérias, etc.). Esse tema geral está em diálogo com a realidade dos jovens e parte de necessidades apontadas pelos professores e pela direção. O percurso criativo observado sob o ponto de vista de sua continuidade coloca os gestos criadores em uma cadeia de relações, formando uma rede de operações estreitamente ligadas. Dessa forma, o espetáculo emergirá de processos criativos desenvolvidos durante todo o ano, construídos nas cinco linguagens artísticas, quando as experiências e vivências de cada um ganharão significado e contribuirão diretamente para o desenvolvimento da obra final.

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Ao conhecer e vivenciar os procedimentos adotados para a construção de um espetáculo os jovens se deparam com o mundo da encenação. Nesse momento é propiciada uma formação diferenciada que exige transformação artística e consequentemente humana, pois aqui os jovens e equipe experimentam sentimentos pouco vivenciados em outros contextos, como os da sala de aula. Para ser capaz de atuar artisticamente, o jovem deve desenvolver qualidades como: a percepção de si mesmo, a capacidade de ouvir e receber diferentes estímulos do meio que o circunda, a faculdade de compreender as diversas realidades que as cenas apresentam e a generosidade para com aqueles com quem divide a cena.

A imaginação é demandada e é então trabalhada concretamente como instrumento de elaboração da realidade apresentada pelos jovens durante todo o processo de iniciação e experimentação.

A montagem é potencializada pelas criações que cada área desenvolve a partir da temática coletiva escolhida e também pelos materiais produzidos pelos GT´S. Neste momento são realizados os laboratórios de criação quando o que cada área desenvolve é apresentado para as outras, e a partir daí, essas criações são relacionadas, repensadas e alteradas. As áreas então têm a responsabilidade de amadurecer o material artístico apresentado a partir das observações da equipe de professores e Direção. Nesse momento, um encenador/a (diretor/a) junto a um/a dramaturgo/a assumem o processo de criação para a finalização da obra, dando acabamento cênico e unidade ao material artístico gerado nas áreas por meio dos ensaios coletivos. Ao final dessa etapa inicia-se um processo de avaliação que se realiza logo após a temporada de apresentação do espetáculo. Serão avaliados os processos de aprendizagem e realizados apontamentos individuais como forma de orientação para que cada jovem cumpra suas expectativas pessoais futuras e se organize na sociedade e em seu meio. Nesse período a continuidade dos jovens no programa poderá ser efetivada por meio da seleção para o Módulo II.

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3.1.3 Critérios de avaliação Serão considerados formados os jovens que obtiverem 75% (setenta e cinco por cento) de frequência anual no Programa; que estiverem matriculados e frequentes no ensino formal, exceto os formados; que tiverem participado de todas as etapas do Programa Pedagógico; e que tiverem pontualidade, assiduidade e envolvimento ao longo do ano. Assim, recebem o Certificado de conclusão de curso, documento exigido para o Módulo seguinte. Esses critérios poderão ser revistos mediante avaliação da situação vivida pelo jovem, no caso de não cumprimento, e de outras considerações de caráter pedagógico.

3.2. MÓDULO II

O Módulo II é uma proposta de continuidade do Módulo I. O prosseguimento do aprendizado nas cinco áreas artísticas é preservado no primeiro semestre e ações artísticas são desenvolvidas nos dois semestres ao decorrer do ano. No segundo semestre, são formados coletivos com estudantes de diversas áreas, que desenvolverão um pesquisa artística-cênica com a orientação dos professores.

No Módulo II o aluno tem acesso a recortes de conteúdos práticos e teóricos das linguagens artísticas, aliados a propostas de pesquisa e experimentação dentro de processos criativos, ampliam os conhecimentos e olhares, aprimorando a percepção crítica. É desenvolvida uma proposta de trabalho cujo cerne está na vivência de contínuos processos criativos.

Na fusão entre arte, educação e cidadania, consideramos a importância do processo, dos passos que conduzirão à efetivação da criação e execução de um trabalho artístico, revestido não apenas de uma preocupação estética, mas de conceitos e embasamentos aprofundados. As etapas dessa criação – que pode ser um espetáculo teatral, um show de música, apresentação de dança, exposição de artes visuais, uma Performance art, etc. – incluem a 32

prática artística acompanhada por constante reflexão, contribuindo efetivamente para a formação de jovens integrados socialmente, dotados de consciência cidadã, incitados a atuar no mundo em que vivem.

Pretendemos continuar a fomentar o pensamento flexibilizado, despertando nos alunos participantes a autoconfiança e autoestima para desenvolverem projetos artísticos e socioculturais discernindo caminhos que devam seguir como cidadãos. Promovemos no corpo docente o hábito de repensar constantemente itinerários pedagógicos, buscando o conhecimento das atitudes, opiniões, comportamentos e preferências do grupo, reafirmando compromisso social com ações provocadoras de singularidades, pluralidades, alteridades e diversidades que o programa apresenta.

A experiência colaborativa proposta no Módulo II propicia aos alunos exercícios de gestão compartilhada, fazendo com que se tornem corresponsáveis pelo desenvolvimento do Módulo. A tomada de decisões é construída de forma mais coletiva, dialógica e horizontal, pensando o Módulo como um espaço democrático, comprometido com a transformação social, o aprendizado coletivo e a construção de conhecimentos.

A participação dos diversos sujeitos na gestão de uma escola é cada vez mais percebida como uma condição para a efetividade dos processos educativos engendrados. Em 1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais/PCN (PCN/MEC, v. 1, p. 33 a 36) já definiam a importância de que estes públicos se percebessem como corresponsáveis e interferissem nas propostas da escola e em suas estratégias. Por meio de uma gestão compartilhada, a escola, que é uma instituição social, teria mais condições de atuar em consonância com a realidade sociocultural dos alunos.

A gestão compartilhada entre corpos docente, discente e coordenação pedagógica toma uma nova forma no segundo semestre, baseada nos conceitos e práticas utilizadas na Escola da

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Ponte10 e Summerhill School11 procurando harmonizar os interesses do programa aos interesses individuais dos alunos, buscando torná-los cada vez mais autônomos e participativos nas tomadas de decisões, também mais comprometidos com as práticas realizadas durante as aulas – incentivando a participação dos alunos, de fato, como corresponsáveis pelo Módulo II.

3.2.1. Processo seletivo Reconhecemos e pontuamos para aqueles que desejam ingressar no Módulo II características como colaborativismo, trabalho em grupo, capacidade de reflexão, desejo pela arte, empenho nas atividades desenvolvidas e frequência.

Jovens Certificados/as pelo programa no Módulo I estarão aptos/as a ingressarem no Módulo II.

Monitoria

As monitorias são propostas para todas as áreas, objetivando a capacitação dos alunos na dinamização de práticas pedagógicas. Este componente curricular é defendido aqui como espaço de aprendizagem e reflexão de vivências em sala de aula, incentivando a construção de projeções profissionais e não a formação profissional.

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A Escola da Ponte é uma escola situada no subúrbio da cidade do Porto em Portugal, é conhecida por seu projeto inovador que rompe com os padrões tradicionais. É uma escola sem turmas, os alunos se agrupam de acordo com a área de interesse a ser pesquisada, independente da faixa etária. É embasada na autonomia dos alunos e professores, na qual se aprende a liberdade responsável e a solidariedade. Os alunos da Ponte são educados para serem cidadãos. 11 Summerhill é uma escola democrática, localizada na Inglaterra. Nesta escola os alunos participam ativamente na comunidade escolar e nas tomadas de decisões, por meio de dinâmicas de assembleias. Também escolhem se querem ou não assistir às aulas. 34

Para dar início ao processo de monitoria é, primeiramente, feita uma seleção, onde os candidatos enviam uma carta de intenção explicitando os motivos que os levaram a se candidatar à monitoria, as expectativas em relação à experiência e sua disponibilidade.

Todas as cartas são entregues aos coordenadores das áreas artísticas e estes, junto com sua equipe, selecionam os monitores. Depois de aprovados, os alunos serão orientados a procurar os coordenadores e professores da área em que foram selecionados, para que juntos possam definir as funções e limites da monitoria em sala.

Ao início de cada mês os monitores deverão apresentar as fichas de acompanhamento e fichas de observação devidamente preenchidas. A ficha de acompanhamento consiste no controle e comprovação dos dias de monitorias realizadas pelos alunos, pois a cada dia o professor presente assina esse documento atestando a participação do jovem em sua aula. A ficha de observação será preenchida pelo jovem e nela serão feitas observações sobre as aulas, os conteúdos e o desenvolvimento das atividades.

A equipe de coordenação pedagógica do Módulo II é responsável por aferir, avaliar e arquivar os documentos entregues pelos monitores. Ao final do processo são contabilizadas as horas válidas de monitoria e cada aluno participante receberá um certificado comprovando a sua participação.

3.2.2. Etapas Primeira etapa: denominada Laboratórios de Criação, os jovens vivenciarão no primeiro semestre as cinco linguagens artísticas do programa objetivando a prática e aprofundamento dos conhecimentos construídos no Módulo I, trabalhando e potencializando a capacidade criadora. As ações artísticas se constituem pela construção de saberes práticos e teóricos

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relativos às linguagens artísticas abordadas, acompanhadas por reflexões sistematizadas que propiciam a participação social dos envolvidos.

Por meio do contato com o outro, os alunos enxergam seus próprios desenvolvimentos, compreendem as diversidades (pensamento, comportamento, conceitos) e age pelo coletivo. Ele também percebe que pensar no outro não exclui o pensar em si mesmo, que é possível realizar desejos pessoais e associá-los a necessidades coletivas, assim ele reestrutura sua maneira de agir no mundo.

Percebem que são capazes de propor e realizar microrrevoluções, entendidas como o desenvolvimento de pequenas ações artística e/ou educativas que impactam a sociedade de maneira positiva; observam problemas reais, analisam suas causas, visualizam objetivos.

Desta maneira, o aluno está implicado em ações de cunho sociais mais abrangentes do que o campo específico da arte. Na verdade, por meio de sua tarefa específica (artística) está promovendo ou contribuindo com a mobilização mais ampla da sociedade na reflexão e na busca de soluções para questões inerentes a sua estrutura social e política.

Para que os alunos possam discutir seus interesses e se articulem, sem a participação dos orientadores, coordenador ou qualquer integrante da equipe de funcionários, eles irão promover assembleias, dispositivo em que todos têm o direito à voz e voto, e a dinâmica é determinada no início de cada assembleia (quais os assuntos a serem discutidos, inclusão de algum assunto, ordem dos assuntos). Para Araújo (2004, p. 24):

O modelo das assembleias é o da democracia participativa, que tenta trazer para o espaço coletivo a reflexão sobre os fatos cotidianos, incentivando o protagonismo das pessoas e a coparticipação do grupo na busca de encaminhamentos para os temas abordados.

No Modulo II esta prática vem sendo adotada desde o segundo semestre de 2012 como meio de ampliar os espaços de participação no Programa Valores de Minas. A Escola da Ponte e Summerhill utilizam desta prática ou discutem a necessidade de construí-la como dispositivos 36

facilitadores do processo já previsto. Portanto, a relevância das assembleias no Módulo II é justificada por Araújo (2001, p. 25):

Pelo diálogo, mediado na assembleia pelo grupo, as alternativas de solução ou de enfrentamento de um problema são compartilhados, e as diferenças vão sendo explicitadas e trabalhadas pelo grupo regularmente, durante um longo processo e período.

Além disso, três representantes serão escolhidos, um por indicação do coordenador e dois por votação da turma, para tornar o diálogo entre docente e discente sempre constante.

O papel do orientador na assembleia é direto apenas inicialmente, onde ele participa ativamente levantando questões e se posicionando diante dos fatos. Posteriormente ele participa quando é convocado ou quando existe uma decisão que precisa de todos para ser tomada.

Segunda etapa: denominada Projetos/Coletivos, o que se pretende, além do refinamento artístico, crítico e estético, é a continuidade no desenvolvimento de ações artísticas, calcadas nos princípios de educação, trabalho social e compartilhamento. Visamos despertar nos alunos a consciência de serem corresponsáveis pelo desenvolvimento dos projetos propostos e, também, pelos acordos de convivência estabelecidos pelos coletivos, salientando a importância de se fazer escolhas e respeitar os demais participantes do processo, condições imprescindíveis à participação social e ao protagonismo.

O plano dessa etapa é basicamente voltado para o processo de criação e execução de trabalhos artísticos. Para isso, coletivos artísticos são formados, e cada um desenvolverá uma proposta artística com a linguagem preferida, tendo pré-definido apenas um tema para base de criação. Neste momento, os educadores atuarão como orientadores no processo de criação. A escala/horários de cada orientador é, então, passada aos alunos que organizam suas próprias atividades levando em consideração o que cada orientador pode contribuir em seu processo. Portanto, os conteúdos abordados dependerão de uma relação estabelecida entre o orientador e coletivo.

37

Serão realizadas mostras das pesquisas em que cada coletivo deve apresentar ao restante da turma e a equipe presente, as pesquisas e resultados obtidos durante a semana. Desta forma é possível que todos acompanhem a trajetória uns dos outros e, também, possam contribuir no processo dos demais coletivos. A aprendizagem torna-se um processo social onde os alunos constroem significados a partir da experiência, das trocas, do encontro.

A partir daí é feita a produção de um evento de mostras, onde serão apresentadas as finalizações de cada coletivo. As finalizações podem consistir em apresentações das artes da cena ou da música, instalações, exposições, mostras fotográficas, números circenses, performance art, entre outras.

Acreditamos que ao fomentar o trabalho coletivo, a autonomia, a participação social e as reflexões advindas, estamos potencializando a inserção no mercado de trabalho, seja ele artístico ou não, construindo as bases para o exercício consciente e responsável da cidadania.

Terceira etapa: é a etapa de finalização e avaliação onde analisaremos os processos criativos desenvolvidos, bem como o impacto das ações artísticas efetivadas. É também quando acontece o processo seletivo do Módulo II para o ano seguinte, onde os interessados devem ser alunos egressos do Módulo I do ano vigente. Este processo acontece com gestão compartilhada pelos docentes e discentes do Módulo II.

Critérios de avaliação Nos dois semestres, em cada fase planejada, serão avaliados os progressos e dificuldades apresentadas, assim como será realizado o acompanhamento escolar dos alunos. Em casos de evasão escolar, o aluno será excluído do programa. 38

Consideraremos como concluintes do Módulo II os alunos que tiverem obtido 75% (setenta e cinco por cento) da frequência anual, tendo participado dos processos de construção das criações artísticas. Esses critérios poderão ser revistos mediante avaliação da situação vivida pelo jovem, no caso de não cumprimento, e de outras considerações de caráter pedagógico.

3.3. MÓDULO III No Módulo III, denominado Casa de Arte em 2014, os jovens selecionados entre os participantes egressos do Módulo II do ano anterior, têm a oportunidade de se constituir como coletivo artístico, desenvolvendo linguagem própria, buscando formas de produção e inserção no mercado cultural da cidade.

O programa oferece estrutura, por aproximadamente nove meses, com aulas de Gestão Produção Cultural de segunda a quinta-feira no turno da noite, para que os coletivos adquiram ferramentas de autogestão, possibilitando assim sua continuidade após o término do vínculo com o Programa Valores de Minas. O objetivo principal é ancorar o desenvolvimento de projetos de coletivos de arte, criados no Modulo II do Programa Valores de Minas, buscando o desenvolvimento artístico e social, por meio da arte e pela arte, dando continuidade ao processo formativo dos jovens.

Ainda são desenvolvidos alguns objetivos como: agregar às atividades do grupo, cursos externos de capacitação nas áreas artísticas e de produção cultural com vistas à complementação da sua formação e possíveis inserções no mercado cultural. Possibilitar geração de renda por meio de apresentações artísticas, da proposição de atividades multiplicadoras com foco na ação social promovendo oficinas, workshops e palestras para a comunidade em geral. Possibilitar experimentações artísticas aprofundadas por meio de discussões de processos criativos e intercâmbios com grupos afins.

39

Após a consolidação e legitimação do Programa Valores de Minas, e ainda após seu reconhecimento como programa com foco na juventude e com ações de arte e cidadania, percebe-se a necessidade de contribuir para a inserção dos jovens egressos no mercado de trabalho e ainda fornecer atributos que venham contribuir para a continuidade de sua formação artística e processos criativos enquanto grupo/coletivo artístico.

Ao sair do Programa Valores de Minas, após um ou dois anos de formação, o jovem não é direcionado para a inclusão imediata no mercado de trabalho no âmbito artístico e cultural e a criação de um coletivo é uma possibilidade de preencher esta lacuna. A intenção é de que os coletivos mantenham uma agenda periódica de encontros presenciais no espaço físico do Programa Valores de Minas, com o desenvolvimento de um projeto (plano de trabalho) do coletivo que contemple a programação com as atividades do coletivo destinada à formação, processos criativos, ações artístico-culturais e apresentações artísticas.

Os jovens que passam pelo processo de formação dentro dos dois Módulos do Programa Valores de Minas apreendem conteúdos que passam pelas cinco modalidades artísticas. A especialização nestas modalidades não é o foco do projeto, e sim o conhecimento de todas elas que geram, quando necessário, um artista capaz de atuar em cada uma delas ou em todas ao mesmo tempo. Advém daí o diferencial dos componentes do grupo formado pelo Módulo III – artistas cientes e aptos a trabalhar com o potencial multidisciplinar da arte.

Também nesse Módulo será praticada a experiência de gestão coletiva, cabendo aos participantes a definição dos rumos pedagógicos e do desenvolvimento de atividades que viabilizem a criação artística. Assim sendo, a intervenção direta dos sujeitos se fará na formulação, realização e avaliação das atividades de que serão beneficiários, razão pela qual consideramos que o desenho desse Módulo pode e deve ser completado ou modificado a partir da colaboração e atuação dos participantes.

40

3.3.1. Processo seletivo O número de participantes é um a três coletivos, formados por no mínimo duas pessoas e no máximo dezoito pessoas cada um. O processo seletivo do Módulo III dá-se a partir de duas ações: 1) Jovens egressos e certificados/as do Módulo II do ano anterior poderão se matricular diretamente para o Módulo III; 2) Coletivos de jovens egressos e certificados/as no Módulo II de qualquer ano, com a apresentação de uma proposta de projeto. (aberto somente a vagas restantes dos/as estudantes em sequência). Proposta de projeto: por meio das informações disponibilizadas na proposta de projeto seremos norteados sobre os verdadeiros interesses dos jovens inscritos, cujo foco para ingressar no Módulo III deve ser o desejo de trabalhar com a arte e continuar suas pesquisas e atividades em trocas constantes com o outro, com a cidade e com o mercado cultural.

Análise de proposta: nessa etapa do processo de seleção, os projetos inscritos dos coletivos serão avaliados pela direção e orientadores. E serão avaliadas questões importantes como: disponibilidade de tempo para comprometimento, real interesse, coerência do projeto.

3.3.2. Plano Pedagógico Os processos criativos serão desenvolvidos de forma continuada, não se caracterizando como etapas pedagógicas, culminado na criação de um exercício artístico.

A primeira ação proposta pelo núcleo aos coletivos será a criação de um PLANO DE TRABALHO, com fundamentações que orientem os desenvolvimentos das atividades dos grupos.

Os coletivos serão convidados a refletirem sobre seus objetivos e definirem como irão atuar para alcançá-lo. Neste processo, poderão refletir sobre o trabalho que pretendem produzir e

41

a melhor forma de fazê-los. Serão convidados a embasarem melhor suas escolhas e expectativas artísticas, buscando clareza sobre o que querem empreender.

Ao final desta primeira ação, que deverá acontecer no primeiro mês de encontros, sob a supervisão do coordenador do Módulo III do Valores de Minas, o objetivo é que os jovens tenham um projeto claro que demonstre exatamente o que querem executar enquanto coletivos de arte e, o mais importante: como irão realizá-lo.

Durante o período letivo, os coletivos executam o PLANO DE TRABALHO por meio de pesquisas, experimentações e criações que culminam num resultado artístico e se articulam para apresentar o trabalho em espaços culturais e para dar continuidade ao coletivo, caso seja de interesse do grupo.

O projeto e plano de trabalho serão compartilhados com o PlugMinas e irão completar este documento, substanciando o plano pedagógico do Módulo III.

42

REFERENCIAS ARAÚJO, U.F. Assembleia escolar: um caminho para a resolução de conflitos. São Paulo: Moderna, 2004. (Coleção cotidiano escolar). AZEVÊDO, Fernando Antônio Gonçalves. Sobre a dramaticidade no ensino da arte: em busca de um currículo reconstrutivista. In. Som, Gesto, Forma e Cor. Dimensões da arte e seu ensino. Coord. Lúcia Gouvêa Pimentel. BH, Editora C/Arte, 2003. BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 1998. _________. Arte/educação contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005. _________.O Ensino da Arte no Brasil nos inícios do século XXI. In Revista prender. Maio, 2003. Porto

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