UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E TURISMO CURSO DE TURISMO

TURISMO NA FAVELA DA ROCINHA, MOTIVAÇÕES E OS OLHARES DOS TURISTAS: AFINAL, O QUE BUSCAM?

Rosana Ribeiro dos Santos

Orientador(a): Profª Draª Teresa Cristina de Miranda Mendonça

Nova Iguaçu 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR

TURISMO NA FAVELA DA ROCINHA, MOTIVAÇÕES E OS OLHARES DOS TURISTAS: AFINAL, O QUE BUSCAM?

Rosana Ribeiro dos Santos

Trabalho curso

de

conclusão

de

como

parte

dos

requisitos para obtenção do título de Bacharel em Turismo sob a orientação do Prof. Draª. Teresa Cristina de Miranda Mendonça.

Nova Iguaçu 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR

TURISMO NA FAVELA DA ROCINHA, MOTIVAÇÕES E OS OLHARES DOS TURISTAS: AFINAL, O QUE BUSCAM?

Rosana Ribeiro dos Santos

Trabalho de Conclusão de Curso

como

parte

dos

requisitos para obtenção do título de Bacharel em Turismo.

Nova Iguaçu 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR

Banca examinadora

______________________________________________________ Profª Drª Teresa Cristina de Miranda Mendonça- Orientadora

_____________________________________________________ Profª Msc Andréia Pereira de Macedo

______________________________________________________ Profº Msc Sandro Campos Neves

Nova Iguaçu 2011

Dedico esta vitória à

Minha família, em especial pai e mãe, pela capacidade de investir e acreditarem em mim. Mãe, obrigada pelo cuidado, carinho e zelo. Pai, sua presença significou segurança e certeza de que não estou sozinho nessa caminhada, me dando esperança para prosseguir.

Prefácio

O Turismo é uma universidade em que o aluno nunca se gradua, é um templo onde o suplicante cultua mas nunca vislumbra a imagem de sua veneração, é uma viagem com destino sempre à frente, mas jamais atingido. Haverá sempre discípulos, sempre contempladores, sempre errantes aventureiros. Lord Curzon

Agradecimentos Agradeço de coração a todas as pessoas que colaboraram direta ou indiretamente com o meu trabalho.

À Deus pela fé que me fez chegar até aqui.

Aos primos, tios e namorado pela força e ajuda.

Aos meus amigos, pelas alegrias, tristezas e dores compartilhas, pelo incentivo e apoio.

Aos professores do curso que me ajudaram com suas experiências na minha formação não só acadêmica quanto humana.

À minha querida Orientadora Drª Teresa Cristina pela dedicação, sabedoria e ensinamento a mim prestados, pois sem ela seria difícil concluir este trabalho. À turma 2007/2 meu sincero agradecimento. Vocês também são parte deste trabalho. Agradeço pela verdadeira amizade que construí em particular aqueles que estavam sempre ao meu lado (Raquel e Thaiana). Por todos os momentos que passamos durante esses quatro anos e meio o meu especial agradecimento.

A todos aqueles que de alguma forma estiveram e estão próximos de mim, fazendo esta vida valer cada vez mais a pena. A todos vocês o meu muito obrigado.

RESUMO O objeto de estudo deste trabalho, é identificar as motivações e as experiências que os turistas buscam ter ao escolher a favela carioca como lugar de visitação. Para isso aplicou-se um roteiro de entrevistas com turistas e gestor de uma agência. Sabendo que a construção do olhar do turista é um fenômeno complexo que vem sendo modificado de acordo com algumas determinantes de ordem sociocultural, temporal, motivacional. Da mesma forma, o fenômeno turístico tem se transformado através de um longo processo que tem se manifestado desde o século XVII, atingindo sua forma atual em até o século XX. Este trabalho procura desenvolver a temática do turismo na favela, tendo como foco a favela da Rocinha, sua expansão e as formas de sua comercialização, operação e visitação.

A favela é, então, apresentada na

monografia como um cenário brasileiro dos reality tours, relacionando a atividade com a busca de um turismo alternativo e autenticidade local.

Palavras-chave: Favela da Rocinha, reality tour, turistas, motivação

ABSTRACT The object of this work is to identify the motivations and experiences that tourists seek to have to choose the favela as a place of visitation. Knowing that the construction of the tourist gaze is a complex phenomenon that has been modified according to some socio-cultural determinants of order, temporal, motivational. , the phenomenon of tourism has been transformed through a long process that has manifested itself since the seventeenth century, reaching its current form until the twentieth century. This work seeks to develop the theme of slum tours, focusing on the favela of Rocinha, and ways to expand its marketing, operation and visitation. The township is then presented as a monograph in the Brazilian scene of reality tours, activity relating to the search for an alternative tourism and local authenticity.

Key-word: Rocinha´s slum, reality tour, tourist, motivation

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................. ... 12 1 TURISMO: MOTIVAÇÕES E O TURISTA PÓS- MODERNO .... .................. 15 1.1 UMA VIAGEM PELA HISTÓRIA DOS DESLOCAMENTOS E DO TURISMO E

ASPECTOS

CONCEITUAIS:

...........................................................................................................................15 1.2

TURISTAS:

MOTIVAÇÕES

DE

VIAGEM

...........................................................................................................................19 1.3

TURISMO

E

MOTIVAÇÕES

NO

MUNDO

PÓS-

MODERNO........................................................................................................24 1.3.1 O mundo pós- industrial e a pós-modernidade ...................... 24 1.3.2

O

turista

pós-

moderno.............................................................................................................27

2.

O

FENÔMENO

DO

TURISMO

NA

FAVELA.............................................................................................................32 2.1

A

HISTÓRIA

DA

FAVELA

E

SUA

INSERÇÃO

NO

REALITY

TOUR.................................................................................................................34 2.2

O

TURISMO

ALTERNATIVO:

A

BUSCA

PELO

AUTÊNTICO......................................................................................................39 2.2.1 A favela inventada, evidente e produzida como lugar turístico..............................................................................................................41

2.3 A FAVELA NA MÍDIA...................................................................................44

3.

OPERANDO

E

VIVENCIANDO

O

TOUR

NA

FAVELA

DA

ROCINHA..........................................................................................................49 3.1

A

FAVELA

TOUR:

SUA

CRIAÇÃO,

SUA

MISSÃO

E

SEUS

TURISTAS.........................................................................................................51 3.2 BE A LOCAL, DONT BE A GRINGO: RELATO DE UM TOUR PELA ROCINHA..........................................................................................................56 3.2.1 Relatos de turistas que visitaram a Rocinha...................................64 3.2.2 O perfil do turista do tour na Rocinha.............................................67

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................73

REFERÊNCIAS.....................................................................................................

ANEXOS...............................................................................................................

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Imagem 1- Be a Local.................................................................................... 57

Imagem2

-

Vista

da

Rocinha

pela

laje

morador

........................................................................................................................ 59 Imagem 3 - PAC na Rocinha.........................................................................

60

Imagem 4- Moradores fazendo exibição para os turistas.............................. 61 Imagem5 -.Sala dos artistas que pintam quadros.........................................

62

Imagem 6 - Moradora que faz artesanato.....................................................

63

Imagem7- Comércio da Rocinha................................................................. 63 Gráfico 1- Repetição das Visitas...................................................................

67

Gráfico 2- Motivações dos turistas.............................................................. 68

Gráfico 3- Expectativas............................................................................... 69 Gráfico 4- Meios de divulgação do roteiro..................................................

70

Gráfico 5- Faixa etária dos turistas ............................................................

71

Gráfico 6.- Sexo..........................................................................................

71

Gráfico 7- Nacionalidade............................................................................

72

Introdução

Turismo indica movimento de pessoas que não estão a trabalho em contextos diferentes de origem, seja este o lar, a cidade ou o país. Trata-se, geralmente, de visitação a lugares onde poderão ser desempenhadas as mais variadas formas de atividades práticas e/ou subjetiva desde que não a trabalho (GRUNEWALD, 2003). No entanto, para Carneiro e Freire - Medeiros (2004), viajamos não apenas porque interessa para algumas pessoas conhecer determinado destino, mas, igualmente, para nos posicioná-las face à lógica de atribuição de status da classe ou do grupo social a que pertencem, as autoras (2004, p. 105) argumentam que “Trata-se de uma aprendizagem relacional em que a transação cultural com o outro permite estabelecer uma melhor definição de si e reforçar o sentimento de pertencimento ao seu próprio grupo”. Inserindo a prática do turismo na sociedade do consumo, segundo Bauman (2008) estamos vivendo, atualmente em uma sociedade de consumidores, em que a relação de consumo é a mais importante interação humana. “A “sociedade de consumidores” é uma sociedade em que os seus membros são julgados basicamente pela condição de consumidores, como resultado, a cultura consumista é o principal fator de estratificação e o maior critério de inclusão e exclusão de seus membros, isto é, é uma questão de afiliação social” (BAUMAN, 2008, p.71). Dentro de toda essa complexidade do fenômeno, destaca-se um aparente paradoxo quanto à busca do objeto turístico pelos turistas. Hoje, no princípio do milênio em que se inicia o turismo espacial, há uma procura cada vez maior por sociedades em recônditos da terra. Identifica-se um paradoxo aparente porque isso que se constrói como foco da visitação turística está na procura pelo diferente, pelo exótico, pelo outro que, na verdade, é buscado desde o início das viagens turísticas (GRUNEWALD, 2003). Diante desta perspectiva, destaca-se a procura da favela como destino turístico, o que se contrapõe à lógica de que o fluxo turístico mundial estaria principalmente direcionado a busca pelos “paraísos”. Um fenômeno que tem marcado o turismo na cidade do Rio de Janeiro com destaque a vista à Favela da Rocinha, que atualmente concorre com grandes atrativos turísticos cariocas

como Cristo Redentor, Pão de Açúcar e Maracanã. No entanto, uma procura essencialmente marcada pelos turistas estrangeiros. Porém, analisando a favela como local de visitação turística e consequentemente a sua comercialização

pelas

operadoras

turísticas,

pode-se

inferir

que

as

representações de destinos turísticos são fundamentadas em estereótipos. Sendo compostas por uma outra realidade, compartilhada pela maioria das pessoas, que passa a ser signo de determinado lugar ou região. O próprio olhar do turista é construído por meio de uma coleção de signos, presentes em seu imaginário pessoal, levando-o a interessar-se por tudo como um sinal de coisas em si, à procura de demonstrações típicas das populações locais e culturas nativas (CULLER apud URRY, 2001). Por esta razão, a monografia busca compreender um pouco mais sobre os processos sociais que motivam turistas a optar por desvendar os mistérios de uma autenticidade local, na busca pelo reality tour, aqui, tendo como foco de investigação, a “favela carioca”, mais especificamente a Rocinha. O trabalho tem por base contribuições teóricas de autores da sociologia como John Urry (1996), em “O Olhar do turista”, sendo o ponto de partida para desenvolvimento deste trabalho me levando a determinar as condicionantes que motivam turistas e suas percepções acerca da atividade. A também cientista social, Bianca Freire-Medeiros, contribui bastante para esse trabalho, em sua pesquisa de reconhecimento nacional e internacional que insere a investigação sobre “a pobreza como atrativo turístico”, tendo a favela carioca como foco inicial de investigação. O objetivo deste trabalho é tentar identificar o perfil e as motivações do turista que escolhe a favela carioca como local de visitação do Rio de Janeiro, procurando saber que tipo de experiência o turista busca viver na favela carioca. Para atender a esses objetivos, utilizou-se uma metodologia de caráter qualitativo que teve como ações: •

entrevista semi-estruturada com o gestor da Favela tour, uma agência que opera tour na Rocinha;



entrevista semi-estruturada com turistas que visitaram a favela, detectando suas motivações, percepções e olhares;



realização de um tour pela Rocinha através da agência Be a Local, que serviu de base para esta pesquisa e



levantamento bibliográfico e documental.

As considerações a serem feitas neste trabalho possuem o suporte de uma pesquisa de campo aplicada a 13 (treze) turistas estrangeiros que realizaram o roteiro comigo. Para atender ao objetivo da monografia, o trabalho está dividido em três capítulos, além desta introdução e do capítulo de considerações finais. No primeiro capítulo, “Turismo: motivações e o turista pós-moderno” apresenta, de uma maneira geral, o turismo e sua perspectiva histórica, motivações de viagem identificando o turista pós-moderno, os processos ocorridos na sociedade e no mundo do trabalho que contribui para a expansão de diversas formas da atividade, entre eles o turismo na favela. O segundo capítulo, “O fenômeno do Turismo na favela”, apresenta o turismo na favela como um novo fenômeno de maior expansão nos últimos anos, tratando a favela como mercadoria inserida no reality tour, a busca pela da autenticidade no local visitado e como a favela é divulgada pela mídia. O terceiro e último capítulo, “Operando e vivendo o tour na favela da Rocinha” é o capítulo de análise desta pesquisa, aonde investiga-se a atividade na favela, descrevendo algumas e principais agências que operam o tour na Rocinha, tendo a “Be a Local” e a “Favela Tour” como base.

1 TURISMO: MOTIVAÇÕES E O TURISTA PÓS- MODERNO Este primeiro capítulo, partindo da importância do turismo em termos globais como "um estado de fato social, econômico e político de grande alcance” como indica Krippendorf (1989, p. 22) e que este envolve fluxos de massa de pessoas, imagens e objetos, que atravessam fronteiras nacionais e internacionais e que incluem capital, ideias, informações e tecnologias (LASH, URRY 1994 apud ROJEK; URRY, 1989), tem como objetivo pensar sobre as motivações que levam aos deslocamentos para fins de viagens turísticas. Ou seja, inserida na relação de dois elementos do mercado turístico: oferta e demanda, busca-se entender as condições de turistas (da demanda turística) na contemporaneidade. Passando pela história das viagens e do turismo, pela sua definição teórica e pela perspectiva motivacional indicada nos livros ligados ao Turismo (Ciências Sociais Aplicadas), a abordagem se inspira também em autores ligados às Ciências Sociais (Antropologia e Sociologia), quanto suas motivações e desejos em “consumir” lugares. Trata- se de uma análise acerca das questões que instigam os turistas fazendo uma abordagem do cenário atual do turismo. 1.1

Uma viagem pela história dos deslocamentos e do turismo e aspectos

conceituais: A história do turismo está diretamente relacionada com a história dos deslocamentos humanos. Os primórdios do turismo, de acordo com Barreto (1995) é caracterizado como a “pré-história do turismo” ou o período relacionado aos movimentos sócio-políticos e culturais ocorreram na Grécia, “[...] aonde as pessoas viajavam para ver os jogos olímpicos a cada quatro anos...” (DE LA TORRE, 1991 apud BARRETO, 1995, p.44). Outros autores creditam aos fenícios como os primeiros viajantes, por terem inventado a moeda e o comércio (MC INTOSH 1972, p.09). Entre os séculos I a. C e II d.C, muitas estradas foram construídas pelo Império Romano, o que foi determinante para que seus cidadãos viajassem mais intensamente. De Roma saíam grupos para o campo, o mar, templos, festivais e intensificaram-se com

a descoberta das propriedades de cura das águas minerais termais (BARBOSA, 2002). Os romanos teriam sido os primeiros povos a viajar por prazer. As peregrinações iniciaram-se nos séculos XII e XIII, com destino a Roma e Jerusalém. Já no século XVI, teve início na França com a realização de dois tipos de viagens de lazer que caracterizaram os primeiros tempos do turismo: o Petit Tour e o Grand Tour (SALGUEIRO, 2002). As peregrinações à Jerusalém, definida por Sanchis (2006) como uma transfiguração “sacramental” desta existência, sublimada através dos ritos eclesiásticos oficiais se tornaram constantes. Jerusalém era o local escolhido por eles para venerar lugares santos. As peregrinações haviam se tornado um amplo fenômeno, “praticável e sistematizado, servido por uma indústria crescente de redes de hospedarias para viajantes, mantidas por religiosos e por manuais de indulgência, produzidos em massa” (FEIFER, 1985, p. 29). Essas peregrinações incluíam frequentemente uma mescla de devoções religiosas, cultura e prazer (URRY, 1996 p. 19). Os romeiros eram nomes dados aos fiéis, já que a cidade de Roma incluía os roteiros das peregrinações. A romaria era manifestação religiosa popular, orientada para uma “sacralização” da existência humana na sua própria dimensão profana. Um caminhar, muitas vezes penoso, doloroso até, em condições voluntariamente precárias, por isso demorado, mas cheio de encantos – imersão numa natureza selvagem e encontros lúdicos no caminho – até a concretização da apresentação e presença do peregrino a um “Santo” (SANCHIS, 2006, p.86). Durante a Idade Média, caracterizada pela sociedade feudal, baseada na produção agrícola e com o poder do clero e da nobreza, surgiram as Cruzadas, caracterizada como uma maneira organizada de recuperar o Santo Sepulcro, inserindo muitos viajantes nos caminhos da Europa, o que propiciou a transformação de pousadas caridosas em atividades lucrativas. Nesta época, segundo Barreto (1995) começara o fluxo de intercâmbio entre alunos e professores das universidades. O objetivo segundo ela, era que os jovens que mais tarde viriam a exercer cargos na alta classe, adquirissem experiências de vida e preparação para a guerra .

Surgem, então, os chamados Petit tours e Grand Tours, caracterizados por roteiros de viagens cultural da aristocracia: o Petit consistia em viajar pelo Vale do Loire até Paris e o segundo era viagem educacional na qual jovens aristocratas

britânicos

passeavam

por

diversas

cidades

da

Europa,

conhecendo importantes centros culturais, como Paris, Veneza, Roma, Florença, entre outras. Estes partiam em busca da ampliação de seus conhecimentos e experiências, para enfim voltar a sua origem e assumir poder na corte de modo que quando o fizessem, pudessem colocar em prática toda a carga de informações que obtiveram durante a jornada. Estes viajantes começaram a ser chamados de turistas, termo que depois passou a ser utilizado para se referir às pessoas que viajavam por diversos outros motivos. (DIAS; AGUIAR, 2002, p. 45). No contexto histórico até aqui delineado, destacam-se as diversas motivações para os deslocamentos: religiosa, prazer, participação em eventos, aperfeiçoamento educacional, cultural e status social. Entre os diversos deslocamentos destacam-se em meados do século XVIII, as viagens denominadas grand tours e petit tours até a atualidade, as preferências e gostos dos turistas alteraram-se. O Grand Tour1 passou a ser considerado o acontecimento de excelência nos centros culturais e intelectuais do Mediterrâneo e as viagens entendidas como o instrumento privilegiado de aprendizagem, ou seja, viagem para uma elite masculina. Destacam também o advento das viagens transoceânicas, onde grandes navegadores portugueses descobriam novas rotas e novas terras. Durante o advento da Revolução Industrial (sec. XVIII) começaram a primeiras viagens organizadas e comercializadas com a intervenção de um agente, configurando-se a partir deste momento o papel do agente de viagens. Inicia-se a organização mais profissional dos deslocamentos humanos. Em meados do XVIII ocorreu um grande desenvolvimento das viagens influenciada pela indústria à vapor, a tecnologia do sistema de transporte (trem a vapor), as conquistas da classe trabalhadora com aumento dos ganhos salariais e benefícios de férias, entre outros. O transporte de trem, antes apenas para carga, passa a servir para transporte de pessoas. 1

Viagens feitas por diplomatas, empresários e estudiosos que viajavam por toda a Europa, especialmente para as cidades da França e Itália (GOELDNER; RITCHIE; MC INTOSH, 2002).

Lage e Milone (2000), referindo-se ao surgimento do turismo, destacam que apesar de o turismo ter suas origens na antiguidade coma própria história da humanidade, foi somente no século XX, mais precisamente a partir da década de 1970, que se projetou como uma das mais importantes atividades do mundo moderno. Para Castelli (2000, p. 16): A viagem turística atual é uma decorrência da sociedade industrial que provocou uma concentração de pessoas em cidades, de tal sorte que a fuga deste meio ambiente tornou-se até mesmo uma questão de sobrevivência. A viagem turística passou a ser para o homem urbano atual um produto de primeira necessidade. O berço do turismo está nas estruturas urbanas industriais criadas na Europa ocidental e na América do Norte a partir de 1840.

As origens do turismo são encontradas, em condições de alta produtividade, especialmente na sociedade industrial. Mas é com as transformações socioeconômicas experimentadas depois da II Guerra Mundial (1939-1945) que o turismo se desenvolve como uma manifestação do consumo de massa (PI-SUNYER, 1989, p. 191). Ruschmann (1997) caracteriza o turismo de massa pelo grande volume de pessoas que viajam em grupos ou individualmente para os mesmos lugares, geralmente nas mesmas épocas do ano. Nos dias de hoje, não se concebe mais o turismo como antigamente. O rápido crescimento do turismo, como também a mudança geral da estrutura e das mentalidades sociais deram lugar a uma nova visão, mais diferenciada a cerca do turismo (KRIPPENDORF, 1989). Isto pode ser justificado pela perspectiva de Santos (2000, p. 151) ao considerar que o mundo moderno, por conseguinte, encara de outra forma institutos que anteriormente já existiam, mas a estes atribui novos valores: na economia, o capitalismo se sedimenta plenamente como sendo a forma, por excelência, da acumulação de capital; na arte, o modernismo; no direito, o “cientificismo e a estatização do direito”. A análise dos processos históricos dos deslocamentos ligados ao turismo, sua forma de organização e concepção, impactos e resultados levaram a criação de vários conceitos como forma de melhor descrevê-lo e compreendê-lo. Dialogando com o processo histórico, destaca-se aqui definições com embasamento teórico para o turismo segundo alguns autores.

Para a autora que analisa o campo das Ciências Sociais, Margarita Barreto (2003, p. 21) define a atividade ser: “um ato praticado por pessoas que realizam uma atividade específica de lazer, fora das suas respectivas cidades.” Segundo Vera et alli (1997 apud Barbosa, 2007, p. 88) Turismo não é uma atividade econômica, mas uma prática social coletiva geradora de diversas manifestações econômicas; o recurso turístico transformado ou convertido em produto turístico se consome ali onde se produz e não desaparece; é intangível. A matéria prima não se desloca quem se desloca é o turista como consumidor.

A conceituação, de ordem prática e operacional para fins estatísticos, criada pela Organização Mundial de Turismo - OMT2 é a que se refere ao turismo como "as atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e estadas diferentes de seu entorno habitual, por um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros” (OMT, 2001 p.38). Todas as definições destacam que o turismo é praticado por pessoas (os turistas), sendo assim uma prática social. Conforme destacado por Knafou (1996) os turistas são aqueles estão na origem do turismo, pois muitos lugares apenas se tornaram turísticos pela procura e chegada destes visitantes. Ou seja, segundo o autor sem turista não há turismo.

1.2

TURISTAS: MOTIVAÇÕES DE VIAGEM A reflexão aqui proposta se refere a história do deslocamento de

pessoas. Por esta razão, o trabalho abordará as questões ligadas às motivações destas para a realização das viagens. Quase todo livro de “Introdução ao Turismo” e “Fundamentos do Turismo”, ligado à área das Ciências Sociais Aplicadas, apresenta um capítulo especial para as motivações turísticas. Todos orientandos pela necessidade de entender as motivações que 2

A Organização Mundial de Turismo (OMT) é uma agência especializada das Nações Unidas, e a principal organização internacional na área do Turismo. Funciona como um fórum global para questões de políticas turísticas e como fonte de conhecimento prático sobre o Turismo. São 157 países e territórios membros e mais de 300 membros afiliados, que representam o setor privado, instituições educacionais, associações e autoridades locais de Turismo (UNWTO, 2007).

levam à prática das viagens turísticas. Todas, desta forma, com a intenção principal de entender os desejos dos viajantes, seu perfil sociocultural, psicográfico, dados fundamentais, conforme indica os órgãos de pesquisa, a serem inseridos nos formulários de pesquisa de demanda. A própria OMT indica as principais motivações a serem inseridas em um formulário de pesquisa de demanda: lazer, recreação e férias; visita a parentes e amigos; negócios

e

motivações

profissionais;

tratamento

de

saúde;

religião/peregrinação e outros motivos (DIAS, 2008). Beni (2001, p. 245), diz que “ há uma necessidade premente de melhor conhecer os consumidores, como alvo e centro desse setor de serviços, e sua decisão de compra”. Para isso, é preciso analisar as necessidades dos turistas que se pretende atingir, estimulando ou não a visita à localidade. Alguns pesquisadores têm tentado categorizar os turistas de acordo com sua motivação. Quanto ao objetivo, ou à motivação, o turismo pode ter muitas classificações. Tais motivos podem ser complexos e geram discussões. Conforme Barreto (2001, p. 64): “As motivações são as causas subjetivas que vão fazer com que o turista decida sua viagem.” Nas análises das motivações, no âmbito literário registra Freud (1985) que elaborou a primeira teoria sobre motivação. A Teoria de Freud concluiu que as forças psicológicas que formam o comportamento dos indivíduos são basicamente inconscientes e que ninguém chega a entender por completo as próprias motivações. Maslow (1954) acredita que os indivíduos são motivados por necessidades em ordem de importância. Diz que os seres humanos nascem com cinco sistemas de necessidades dispostos em hierarquia. Quando um conjunto de necessidades é satisfeito, um novo conjunto o substitui. Essas necessidades são as seguintes: necessidades fisiológicas (fome, sede, descanso), necessidades de segurança (proteção, libertação do medo), necessidades de pertencimento e amor (afeição, dar e receber amor), necessidades de estima (auto-estima e estima por outros), necessidades de auto-realização (realização pessoal). O turismo, então, “ pode ser considerado uma necessidade social, quando a pessoa entende que deve viajar para obter determinado status e assim ser estimada pelo grupo. Se a pessoa busca no

turismo a auto-realização como uma atividade que lhe satisfaça e que lhe traga prazer por intermédio do conhecimento de novas culturas, o turismo virá por último na escala de necessidade do homem” (BARRETO, 1998).

Ou seja, do ponto de vista psicológico, as necessidades de lazer e turismo, vêm, também, depois de todas as necessidades vitais forem satisfeitas (BARRETO, 2003). Ryan (1991) desenvolveu diversas categorias de motivação que ele chamou de determinantes psicológicos da demanda por viagens. Sendo: fuga, descontração, reforço de laços familiares, oportunidade sexual, satisfação de desejos, interação social, compras, prestígio, auto-satisfação. Para o autor, estas determinantes não seguem uma ordem de importância. Acerenza (1991, p.178) aborda um elemento importante á classificação das motivações. Tratase de “imagem” do lugar, imagem esta que o sujeito pode ter vários meios: •

experiências próprias anteriores;



relatos de amigos;



mídia;



livros documentais ou de ficção;



imaginação criativa. McIntosh, Goeldner e Richie (1995) utilizam quatro categorias para

motivação: •

motivadores físicos: relacionados ao relaxamento do corpo, questões de saúde, esporte e ao prazer;



motivadores culturais: identificados ao desejo de ver e conhecer mais sobre outras culturas;



motivadores interpessoais: desejo de conhecer novas pessoas, visitar parentes ou amigos, e buscar experiências novas e diferentes;



motivadores de status e prestígio: inclui um desejo de continuação da educação, desenvolvimento pessoal, satisfação do ego e satisfação dos sentidos.

Burns (1989) considera ser a motivação a força que direciona e fundamenta o comportamento e cita os fatores que levam turistas ao destino: •

curiosidade;



a viagem apresenta elementos de gratificação;



auto-realização;



reforço de lembranças;



reação ao pós-modernismo;



percepção de atração do destino;



ações reflexas, hábito;



auto-satisfação, educação, motivos espirituais, saúde, sexo. O final do século XVIII e todo o século XIX foi marcado por uma nova

motivação: o prazer do descanso e da contemplação da natureza das paisagens da montanha. Este tipo de turismo de contemplação da natureza, segundo Barreto (2005) ganha cada vez mais adeptos como resultados da deterioração da qualidade de vida nos grandes centros urbano-industriais. Destaca-se que as necessidades de evasão e de descanso surgem a partir da Revolução Industrial e de suas conseqüências: a concentração urbana e a alienação do trabalho. Uma das conquistas da Revolução industrial, o tempo livre, segundo Rodrigues (1996, p. 109), foi apropriado e transformado em mercadoria pela sociedade de consumo, perdendo sua qualidade de tempo social, é, "um tempo criador de novas relações sociais carregadas de novos valores, [...] um tempo não apenas vivido, mas também institucionalizado pelos indivíduos e grupos sociais". Além, das necessidades, a vontade de viajar estará influenciada pela propaganda e pelo mimetismo3 e condicionada pelas possibilidades concretas de disponibilidade de dinheiro, transporte e tempo (BARRETO, 2005). Os pós-modernistas afirmam que uma das motivações para as viagens turísticas é a busca pela vida pré-industrial, que não pode ser mais encontrada 3

O mimetismo tem sido estudado na imitação de classes, constituindo uma estória que diz que a classe A procura novos núcleos, que são invadidos pela classe B. Quando isso acontece, a classe A procura um novo. Quando o núcleo é invadido pela classe C, a B, por sua vez, desloca-se para o núcleo aberto pela A e assim indefinidamente. A teoria do mimetismo justifica as “causas sociais” para conhecer determinado núcleo; se todos os pares vão, o sujeito sente-se socialmente obrigado a ir também (BARRETO, p.65-67).

nos países industrializados (BURNS, 2002). O próprio olhar do turista é construído por meio de uma coleção de signos, presentes em seu imaginário pessoal, levando-o a interessar-se por tudo como um sinal de coisas em si, á procura de demonstrações típicas das populações locais e culturas nativas (CULLER apud URRY, 2001). Este olhar é construído a partir de um conjunto de impressões e sensações geradas a partir dos locais visitados. Esse olhar varia de acordo com a sociedade e o período histórico em que está inserido (URRY, 2001). Segundo Velho (1981), os turistas são nada mais que pessoas que viajam pra locais diferentes de sua residência por motivos diversos: lazer, negócios, religião. Um tipo social recente, que viaja motivado acima de tudo pelo prazer da viagem. Diferente de quem viaja a negócios e a estudo ou em busca de saúde, o turista é basicamente movido pela curiosidade, pela vontade de visitar algum lugar apenas por prazer. Todo o processo de escolha de um determinado destino por parte do turista está baseada, segundo Urry (1990) em uma “antecipação da experiência”, que se constitui em diálogo com as imagens do local veiculadas em diversos produtos midiáticos, imagens que criam uma moldura interpretativa e comportamental para o turista. Para Burns (2002), os turistas podem escolher um destino por muitas razões, não necessariamente por apenas uma. Eles podem nem mesmo escolher um destino como tal, mas, em vez disso, optar por um determinado destino de férias. Os lugares são escolhidos para serem contemplados porque existe uma expectativa, referente ao domínio da fantasia, em relação aos momentos vividos na viagem, a satisfação gerada, aos prazeres desfrutados, aos pontos contemplados. No entanto, seja qual for o destino ou a natureza do deslocamento, envolverá necessariamente a presença de imagens e imaginários (GASTAL, 2005). Deprest (1997) relaciona o turismo à ideia de saúde do corpo e do espírito desde a sua origem, com os primeiros resorts e spas. Segundo Krippendorf (2000), as atividades realizadas durante as viagens têm se modificado ao longo das últimas décadas. Nos dias atuais, a necessidade de viajar é, sobretudo, criada pela sociedade e marcada pelo cotidiano. As pessoas viajam porque não

se sentem mais a vontade onde se encontram, seja nos locais de trabalho ou onde moram. Sentem necessidade urgente de se desfazer temporariamente do fardo das condições normais de trabalho, de moradia e de lazer. Enfim, viajamos para viver, para sobreviver (KRIPPENDORF, 1989). Ou seja, Viajar é compensar e se integrar socialmente – A viagem deve contribuir para contrabalançar as deficiências e as privações. [...] Depois da fuga, ele volta de bom grado às condições estáveis e familiares do universo cotidiano. O turismo é uma válvula que permite o relaxamento das tensões, a orientação das esperanças irrealizadas da vida cotidiana para vias socialmente inofensivas. O lazer é uma droga aprovada pela sociedade, um analgésico que dá a ilusão de uma melhora passageira, mas que não pode curar a doença em si (KRIPPENDORF, 2000, p. 51).

Para Krippendorf (2000), o lazer, e principalmente as viagens, proporcionam a força necessária para continuar a viver, colorir o cinza do cotidiano, curar e sustentar o corpo e a alma. Chama atenção pelo fato de que o prazer outrora reservado a alguns privilegiados seja hoje experimentado pela grande “massa”, acrescentando que nos dias atuais, a necessidade de viajar é, sobretudo criada pela sociedade e marcada pelo cotidiano. Certamente a justificativa dada por Krippendorf pode ser a causa do aumento significativo do volume de números de viajantes, isso se deve, em grande parte, pela expressão do turismo de massa ou tradicional que se refere ao realizado no século XIX após a Revolução Industrial e intensificado no século seguinte após a Segunda Guerra Mundial. Esta atividade tem a característica principal de ser um fenômeno do mundo industrializado que ocorre em função da existência de tempo livre, da melhoria da qualidade de vida, do desenvolvimento dos meios de

comunicação,

de

transporte

e

das

novas

tecnologias

existentes

(BARRETTO, 1995).

1.3 TURISMO E MOTIVAÇÕES NO MUNDO PÓS-MODERNO 1.3.1 O mundo pós- industrial e a pós-modernidade As mudanças econômicas, políticas e culturais dos últimos anos foram intensamente abrangentes. O fim da guerra fria, o colapso do socialismo, a

introdução e crescente inserção das novas tecnologias estão alterando radicalmente a concepção de mundo. A formação de megablocos econômicos, a consciência da importância da qualidade de vida e dos cuidados com o meio ambiente completam o quadro de profundas transformações que caracterizam as últimas décadas do século XX. Este capítulo trata do desenvolvimento do turismo, enquanto atividade de lazer nas sociedades pós- industriais. Neste aspecto, a globalização é um dos aspectos discutidos enquanto fenômeno mundial e nova ordem econômica. Estacam-se os avanços tecnológicos surgem das mais diversas necessidades e são apropriados pela sociedade. (TRIGO, 1998, p.50). O turismo pós-industrial teve inicio em meados dos anos 1980 onde notam novas tendências. A atividade do turismo deixou de ser apenas um complexo socioeconômico para se tornar uma das forças transformadoras do mundo pós-industrial. Juntamente com as novas tecnologias, o turismo estaria ajudando a redesenhar as estruturas mundiais, influenciando a globalização, os novos blocos econômicos e a nova ordem mundial. Segundo Trigo (1998), o espaço pós-moderno seria uma das características de um mundo globalizado, um espaço que surgiu no início da década de 1990 com o final da Guerra Fria e com a formação dos grandes blocos econômicos, novas tecnologias e as mudanças políticas globais. A sociedade atual recebe o nome de pós-industrial, ao passo que, nos níveis culturais e filosóficos, essas sociedades são denominadas pósmodernas. Portanto o termo “pós-modernidade” remete à análise reflexiva, sistemática e abrangente,ou seja, filosófica, ao passo que o termo “pósindustrial” remete à análise econômica (TRIGO, 1998). A pós-modernidade, segundo Moesch (1999), seria um novo momento da sociedade, que surge a partir de mudanças políticas, econômicas, culturais, tecnológicas. As questões que envolvem a pós-modernidade têm uma série de posições epistemológicas diferentes na academia. Alguns autores pensam que pós-modernidade é apenas uma nova fase do antigo irracionalismo, outros acreditam que ela mascara as relações neoliberais na nova ordem internacional, especialmente na América Latina (APPIGNANESI, 1995 apud TRIGO, 1998). Outros afirmam que ela representa algo novo na epistemologia ocidental e nas relações sociais econômicas e culturais.Segundo Trigo (1998),

as transformações sociais, econômicas, culturais e comportamentais existem e são profundas, mas continuam dentro de uma continuidade estrutural caracterizada pelo iluminismo e pelo racionalismo vigente desde a revolução industrial, ou seja, dentro de um projeto de modernidade . A pós-modernidade insere-se nas sociedades capitalistas pós- industriais. As sociedades que datam final do século XX são caracterizadas como pós- industrial. As definições relacionadas ao tempo livre do indivíduo surge nas sociedades mais desenvolvidas, após o fim da Segunda Guerra Mundial quando alguns países capitalistas e socialistas da época, se estabilizam e começam a garantir, para consideráveis parcelas de suas populações, atividades de sua escolha. Henry Ford, como capitalista, lutou para garantir direito a salário digno e tempo livre aos operários. A semana de seis dias, as oito horas de trabalho diárias, as férias remuneradas, os seguros sociais, a democratização do ensino público gratuito, foram alguns pontos que possibilitaram que cada vez mais pessoas no século XX tivesse acesso á diversão e ao turismo (TRIGO, 1998, p.15). Trigo (1998) afirma que atualmente, nas sociedades contemporâneas, a utilização do tempo livre não obedece a modelos preestabelecidos para todos nem está necessariamente separada da atividade profissional ou cultural. O tempo livre pode ser utilizado para “fazer nada” ou para o ócio; para o lazer individual ou coletivo, seja ele espontâneo ou programado; para atividades culturais, esportivas ou para o turismo. A denominação da palavra lazer começa se firmar neste período, onde os países passam por profundas transformações como já dito. Todos estes investimentos surgem após os conflitos da Segunda Guerra já terem se atenuado e onde a economia começava a crescer. As novas tecnologias e a dinâmica econômica de políticas internacionais tornaram mais rápidas as mudanças sociais em geral. A história da última metade do século XX, pós Segunda Guerra, foi marcada por uma sucessão de conflitos, mudanças e incertezas, que acabaram se refletindo no turismo. São essas as Guerras, a crise de 1968, a fragmentação do mundo socialista entre China e antiga URSS, o neoliberalismo. Por outro lado, o desenvolvimento e a disseminação das novas tecnologias, a globalização e a abertura de novas áreas do turismo foram alavancando o crescimento do turismo em grande parte do mundo

(TRIGO, 1998, p. 21). A abertura para novas dimensões do mundo, envolvendo até análises sobre lazer e turismo, compreende necessariamente uma relação descomplicada com o prazer, pois ele se faz presente nos tempos pósindustriais. A amplitude e a relevância do turismo como fenômeno social é crescente desde então, não só pelos dados quantitativos que indicam uma movimentação entre países anual de mais de 600 milhões de pessoas (BANDUCCI JR; BARRETTO, 2001), além da movimentação de cerca de 450 bilhões de dólares só em 1998 (GRÜNEWALD, 2001). O conjunto de transformações que a sociedade experimentou nos últimos anos incidiu na estrutura e no funcionamento do turismo. Não se trata de mudanças isoladas que alterem um ponto específico do fenômeno turístico, ainda que essas mudanças tenham começado dessa forma, como parcelas, desvinculadas umas das outras, mas sim da entrada em um novo limiar do desenvolvimento turístico que não pode ser explicado somente pelas tecnologias de projetos, pela qualidade dos serviços ou pela competitividade. Trata-se definitivamente de um novo paradigma denominado pós-turismo. Molina (2003), em seu livro O Pós-turismo aborda as novas faces da atividade turística, rompendo com a atividade tradicional. O pós-turismo, segundo o autor, emerge da cultura do final do século XX, se caracteriza pelo desenvolver de um conhecimento científico; mudanças sociais e culturais, com novos estilos de vida e viagem; novas formas de controle sobre seu próprio tempo e espaço; busca por seguranças nas viagens, devido crescente índice de violência, aumento de riscos ambientais gerado pelo crescente fluxo turístico. O pósturismo está regido por um novo sistema de códigos e relações. Se apresenta a partir de diferentes bases que o estruturam e o encaminham a seus propósitos particulares por meio de certas estratégias não comparáveis com o turismo industrial e pós-industrial. Suas características são típicas do atual cenário do turismo, como deslocamento desnecessário do local de residência; nenhum contato com indivíduos de comunidades locais; contato com cenários naturais readaptados; deslocamento de mão de obra. 1.3.2 O turista pós-moderno

O tema das viagens e do turismo deve ter um espaço mais privilegiado

de análise, nas Ciências Sociais em geral, no sentido de ajudar-nos a entender aspectos importantes da sociedade pós-moderna, conforme destacado por Urry (1996). Por esta razão, pretende-se aqui, caracterizar a partir de alguns autores, no campo das Ciências Sociais, as concepções sobre o turismo e o contexto no qual se insere este fenômeno. Afirmar que o turismo é uma atividade própria o mundo moderno, inaugurada como processo de industrialização e internacionalização do capital promovido pelas revoluções burguesas do século XVII e XIX, não é novidade. Apesar dos deslocamentos serem uma constante na história da humanidade, a motivação não é a mesma. Dessa forma, sob o cenário evolutivo da nossa sociedade, o turismo moderno se transformou em uma atividade de grande relevância no mundo em termos quantitativos, a partir da produção de um grande número de deslocamentos, em virtude do avanço tecnológico dos meios de transporte; da geração de empregos e, em alguns casos, da elevação no nível de renda de comunidades, cidades e até países (ANDRADE, 1992). Nas últimas décadas o setor turístico experimentou uma vertiginosa expansão global, chegando a ser considerado a maior “indústria” da economia mundial. A ampliação geográfica do setor respondeu a processos distintos como: réplica às novas demandas de mercado; como estratégia de desenvolvimento local; e, sobretudo, para liberar e integrar mercados regionais (MOLINA, 2003). John Urry, em obra publicada em 1990 (The Tourist Gaze), distingue o turismo de massa, típico da modernidade, e o que seria um “pós-turismo”. Para Urry (1999, p. 23): Isolado de um ambiente acolhedor e das pessoas locais, o turismo de massa promove viagens em grupos guiados e seus participantes encontram prazer em atrações inventadas com pouca autenticidade, gozando com credulidade de “pseudoacontecimentos” e não levam em consideração o mundo “real” em torno deles.

No Pós-turismo, Urry (1996) caracteriza esse fenômeno nas sociedades modernas: o turismo é uma atividade de lazer que pressupõe o trabalho regulamentado e organizado; envolve deslocamento através do espaço (a viagem) em um determinado período de permanência nos lugares visitados;

são locais que não são os de residência ou trabalho, onde há sempre uma intenção de volta ao lar; os lugares visitados associam-se a motivações desvinculadas das relações de trabalho, envolvendo expectativas, através de devaneios e fantasias que são construídos por uma variedade de práticas não turísticas; aparece como importante condicionante das práticas turísticas o “olhar do turista”, construído através de um conjunto de signos. Ao contrário do turismo massificado, predominante nas décadas de 50 a 70, a nova tendência da atividade turística é o turismo alternativo. De acordo com Krippendorf (2000), um modelo que personaliza o produto turístico, atendendo às expectativas do turista, que cada vez mais valoriza experiências pessoais significantes. Dessa forma, aborda-se que o pós-turismo compartilha com essa tendência de busca por experiências gratificantes que possibilitam o sentir da cultura que está se visitando e o sentir das peculiaridades características do local. Estas são algumas das razões pelas quais o turismo cultural e ecológico têm crescido na preferência das pessoas. Logo, novas identidades pósmodernas irão se desenvolver, especialmente, em novas demandas criadas e materializadas em diferentes estilos de vida e viagem (NASCIMENTO E SILVA, 2009). É em Bauman (1998) que inspira-se aqui definições deste sujeito pósmoderno, que ele caracteriza como turistas e vagabundos. Bauman (1998) apresenta no texto os “heróis” e vítimas do capitalismo, afirmando "a oposição entre os turistas e os vagabundos é a maior, a principal divisão da sociedade pós-moderna", uma sociedade marcada por constantes mudanças, onde uns são classificados como consumidores do espaço e enquanto os outros são humilhados e mal remunerados. Os turistas, segundo Bauman (1998), se caracterizam como aqueles que ligam e desligam o mundo, sem deixar nele qualquer marca duradoura. Para os turistas, as chaves do mundo funcionam, segundo ele, com tanta facilidade que tornam o mundo “flexível, dócil, esborrável”. Urry (1996, p. 118) destaca que “[...] as pessoas são turista boa parte do tempo, quer gostem quer não. O Olhar do turista é, intrinsecamente, parte da experiência contemporânea, da pósmodernidade, [...]”.

Estamos vivendo, segundo Bauman, (2008) em uma sociedade de consumidores, em que a relação de consumo é a mais importante interação humana. A “sociedade de consumidores” é uma sociedade em que os seus membros são julgados basicamente pela condição de consumidores, como resultado, a cultura consumista é o principal fator de estratificação e o maior critério de inclusão e exclusão de seus membros, isto é, é uma questão de afiliação social (ibidem, p.71). Bauman (1999) refere-se ao consumo, no contexto onde tendemos a nos tornar “acumuladores de sensações”, contudo esse processo também está associado à mobilidade, isto é, acumular sensações exige mobilidade. Inserindo a prática do turismo na sociedade do consumo, “não viajar é como não possuir um carro ou uma bela casa. “É algo que confere status, nas sociedades modernas, e julga-se que seja necessário à saúde” (BAUMAN, p.19). Conforme Urry (1996), “o pós-turista tem consciência da multiplicidade de escolhas e deleitasse com ela” . Uma dissertação, como a proposta do capítulo, sobre motivações dos diversos deslocamentos, em momento de viagens e de turismo, nos traz um grupo diverso de razões: político, comercial, lazer, educacional, cultural, exploração comercial, de conquistas territoriais, a fuga do cotidiano, a busca por prazer, a busca pelo novo e pelo diferente, pelo exótico. Estamos aqui nos referindo ao turista contemporâneo, ao pós-turista, o turista referido por Bauman como aquele que torna o mundo “flexível, dócil, esborrável”; ao ator social, que segundo Urry (1996), tem uma grande alternativa para grande escolha e fica satisfeito de ter a possibilidade de se deleitar com todas. Todo processo de motivação e escolha de viagem está inserido em um contexto de uma sociedade de consumo, conforme Bauman, um consumo que se refere ao acumulo de sensações e que confere status. No caso do turismo, o consumo de lugares na busca pelos paraísos, representados pela natureza (AOUN, 2001). Toda a reflexão proposta busca, então, começar a refletir sobre as motivações

que

levam

a

visita

em

favelas,

antítese

dos

paraísos

comercializados por parte do trade turístico, ser um fenômeno crescente no turismo. Por que a pobreza ou contextos urbanos de carência e “desordem”, como as favelas cariocas se tornam locais com grande fluxo de visitação turística? Talvez a resposta pode estar na justificativa de Nascimento e Silva

(2009), já citado, de que o pós-turismo compartilha a possibilidade de vivenciar e sentir o local, as peculiaridades e suas manifestações socio-culturais. Esta é a questão que move a presente monografia e que tentará ser respondida nos próximos capítulos. 2 O FENÔMENO DO TURISMO NA FAVELA O turismo, visto como uma atividade social e econômica que envolve uma gama infinita de possibilidades alcançou na segunda metade do século XX, especificamente

no

pós-guerra,

sua

consagração.

Mudando

suas

características definida como “indústria de paz ou indústria sem chaminé”, como “portador de uma missão salvadora” ou “difusor de conhecimento e cultura” Barreto (1995), o turismo tem sido compreendido dentro de uma nova ordem econômica em que valores e padrões se globalizam agilizados pelos avanços das tecnologias da comunicação (AOUN, 2001). Em tempos de globalização, o que é certo é que a indústria do turismo é responsável por criar maneiras de transformar, circular e consumir localidades, criando uma cultura material e uma “economia de sensações” que lhe é específica, conforme Freire Medeiros (2006). Desta forma, destaca: “O turismo precisa, portanto, ser entendido como um processo social capaz de engendrar formas de sociabilidade que produzem efeitos ainda por conhecer” (p.2). Segundo Molina (2003), estaríamos numa outra fase de turismo, começando nos anos 90 com características históricas diferentes, entre as quais a “alteração nos gostos e preferências da demanda, em vez de somente novos produtos/serviços”. A busca por novas experiências, e não apenas usufruir de novos produtos/serviços, nos leva a registrar segundo Molina, a presença de uma nova característica dessa demanda turística, a saber, a vontade de ser protagonista. No entanto, esse querer ser protagonista traz consigo os debates ambientais, ideológicos, econômicos e culturais desse final de século, ou seja, trata-se de novos protagonistas que vivenciam a “consolidação de formas radicais para usufruir as férias (pós-turismo) articuladas às novas formas sociais e à emergência de culturas de alta tecnologia” (MOLINA, 2003, p.33). O homem cotidianizado contemporâneo, conforme Moraes (1997), ao se deslocar para o lugar escolhido de suas férias,

estabelece uma relação diferenciada com esse novo espaço, compartilhando-o com novas pessoas e desfrutando de diferentes experiências revitalizadoras. Urry (1990, p.19) afirma que uma das marcas do “novo turismo” é o fato de que “quase todos os aspectos da vida social se tornam mercadoria, e que ser turista é uma das principais características da vida moderna”. O turismo, segundo Aoun (2001, p. 16), se insere elaborando os mais diversos “desejos de evasão das pessoas, numa sociedade de insatisfação e descontentamento” e promovendo os deslocamentos humanos, cada vez mais numerosos, no mundo todo. Esse tipo de turismo no qual modalidades esportivas e alternativas encontram-se incluídas apresenta “baixo investimento de capital fixo, mas de alto retorno; apoiado em ideologias ambientalistas e ou místico- religiosas” (SERRANO; BRUHNS, 2000, p.30). Um tipo de turismo que, sem dúvida, encontrou o seu lugar ao sol (AOUN, 2001). Destaca-se que, na sociedade de consumo contemporânea, os serviços especializam-se e segmentam-se na intenção de responder ao desejo de singularização e comunicação das diferenças. Com o turismo, não poderia ser diferente: o mercado organiza-se de maneira a atender gostos e expectativas das mais variadas e, no processo, “inventa” o turismo dito alternativo, que transmuta em destino turístico localidades desprovidas dos atributos privilegiados no turismo da Era Fordista4 (URRY, 1992). Na conexão do turismo com os mais diversos desejos do viajante, em suas especializações e especificações, destaca-se atualmente o turismo na favela. Há uma demanda pelo consumo da favela carioca como produto turístico, onde seus moradores e as agências de viagens vêm investindo na atividade, visando à geração de renda (FREIRE-MEDEIROS, 2009). Por suas características próprias, o turismo na favela se constitui como um objeto interdisciplinar de pesquisa, por natureza onde “a laje” se destaca como um espaço sociológico, sendo um novo território para as trocas culturais (MACHADO, 2007). O turismo na favela, no entanto, não é uma atividade relativamente nova dentro das formas e destinos tradicionais de exploração de

4

A Era Fordista foi uma época aonde imperava o sistema fordista nos meios de fabricação em massa, objetivando reduzir os custos da produção e baratear o produto (Gounet, 1999).

turismo no Brasil e no mundo. A laje como espaço de moradia, como elemento de compreensão da ocupação da favela. Este capítulo tem como objetivo descrever o surgimento da favela como local de visitação de turistas, concebida como trademark, divulgada pela mídia, inserida na perspectiva dos reality tours em sua forma autêntica onde ocorre trocas culturais na sociedade contemporânea. Para tanto neste capítulo, foi necessária a ajuda de teóricos, principalmente no campo das Ciências Sociais, Freire-Medeiros, que iniciou os estudos da favela como destino turístico, e é o embasamento principal deste trabalho junto com Urry (2001), Barreto (2001) e outros autores.

2.1 A HISTÓRIA DA FAVELA E SUA INSERÇÃO NO REALITY TOUR A favela como um problema instituído historicamente no meio urbano, continua sendo uma das mais emblemáticas e abrangentes questões da cidade brasileira. Como forma de apropriação de terrenos alheios, a velha conhecida favela (Rio de Janeiro), se constitui como solução de moradia para centenas de famílias empobrecidas que foram privadas do acesso as terras urbanas. Assim, a favela pode ser considerada o lugar da clandestinidade urbana, dos invasores, dos favelados, conforme Soares, (2006), um espaço de controle ao mesmo tempo em que um espaço de indiferenciação – fora do espaço jurídicopolítico e, ao mesmo tempo, enquadrado por ele, um lugar no qual o direito existe, mas não prescreve, se colocando em jogo uma força de lei sem lei, de desordem que indica ordem, lugar onde o controle existe, mas escapa do poder de um Estado Constitucional. Segundo Valladares (2005) nas décadas de 1970 e 1980 eram dominantes as concepções sobre favelas que as tinham como “fruto de um processo marcado pela marginalidade social”. As transformações das diferentes paisagens que ocorrem na superfície terrestre devem ser entendidas, segundo Turner (1989), como o resultado da combinação dinâmica do papel dos fatores bióticos, abióticos e antrópicos que interagem dialeticamente uns com os outros, tornando-se um todo único e indissociável de evolução contínua. Nos primeiros anos dos século xx, a reforma

implementada pelo prefeito Pereira Passos modificaria intensamente a forma da cidade do Rio, uma grande quantidade de habitações populares no centro da cidade foram destruídas e a sua população desabrigada, foi forçada a morara nos cortiços. Em meados da década de 1920 a população que habitava as favelas já chegava a 100.000 pessoas, aproximadamente 9% da população da cidade. A favela seria, assim, segundo Abreu (1994), o lugar da pobreza, habitado por trabalhadores cujos salários não são suficientes para morar em outro lugar. O autor destaca, no entanto que é também o lugar da família, da amizade, do respeito e do amor e se apresenta apresenta como o outro lado do cartão postal do Rio de Janeiro. Um conto que é mostrado pois mostrado, que sempre ficou esquecido, o lado da pobreza da contravenção, sempre em descaso pelo poder público. Pois está sendo remodelados devido a atividade turística, surgindo uma nova sociedade. Valorizar e mobilizar a diversidade de manifestações culturais e artísticas dos moradores dos espaços populares é um ato primordial de construção de uma sociabilidade urbana renovada (ROSSINI, 1995). A favela, lócus dos problemas sociais brasileiros, lugar de moradia, atualmente tem uma nova função, local de visitação de turistas. FreireMedeiros (2006) traz reflexos sobre a construção da favela como destino turístico, “sendo analisada na forma dos reality tours que mostra como certas localidades

são

retoricamente

reinventadas

e

sua

cultura

autêntica,

compreendida e analisada também como trademark onde é tida como uma marca registrada. Os reality tours atendem às demandas de singularização e autenticidade dos indivíduos que se recusam a viver sua experiência de viagem como algo “empacotado", onde querem interação e conhecimento mútuo através da atividade. Supostamente esta modalidade de turismo é mais apropriada ao desenvolvimento das nações pobres do que as formas de turismo tradicional. O que esta sendo oferecido, aparentemente, é tudo aquilo que o trabalho de campo coloca como desejável: a oportunidade de viajar e experimentar, in loco, o contato com a alteridade, numa atitude de respeito pela cultura local (FREIRE-MEDEIROS; CARNEIRO, 2004). A complexidade dos tours de realidade deve-se, sobretudo, ao fato de seu objeto de consumo não ser algo óbvio e tangível. Articulam-se, nos reality tours, dois domínios: dinheiro e emoções — cuja superposição a moralidade ocidental define como

incongruente e agramatical. Não por acaso, a prática desse tipo de turismo está sempre envolta em calorosos debates, normalmente aquele que se dá em torno da pertinência ética de fazer-se da miséria alheia mercadoria. Em geral, seus opositores acusam-nos de motivar sentimentos e atitudes voyeuristas diante da pobreza e do sofrimento (FREIRE-MEDEIROS, 2006). Os turistas, segundo Freire-Medeiros (2009), ao consumirem os objetos e práticas associados aos pobres, não querem ver como eles, mas pretendem consumir a própria diferença socioeconômica através dos símbolos associados á pobreza como um elemento de distinção social. Buscam, então, experiências inusitadas e não convencionais, por isso a preferência por destinos desconhecidos da grande maioria. A autora afirma que, neste processo, “localidades ‘marginais’ ao mercado convencional são reinventadas em suas premissas históricas e estéticas” (2009, p.33). A autora explica que a possibilidade da revelação de si através do encontro com a comunidade onde permanece resguardada a cultura autêntica, livre das influências corrosivas do meio externo, é um elemento fundamental na composição do produto turístico dito alternativo. Destaca-se no entanto que as visitas aos lugares pobres se iniciam com uma prática denominada slumming. Os slummings segundo Barreto (2009), eram visitações da elite vitoriana à áreas pobres da cidade, com o pretexto de observar locais para entender as questões sociais, onde observadores banalizavam a pobreza, transformando-a em entretenimento. O produto turístico, como um bem de consumo, compõe-se de dois elementos que, combinados entre si, procuram traduzir a sua complexa definição

espacial,

diferenciando-o

de

outros

produtos

como

“os

industrializados e os de comércio” (AOUN apud RUSCHMANN 1991, p.26). São eles, os elementos “ditos abstratos” ou os “intangíveis”, que são experimentados pelo consumidor como uma experiência (RUSCHMANN, 1991, p.26) vivida durante o seu consumo. O que se divulga e se consome, é o que Freire-Medeiros (2007) chama de pobreza turística – uma pobreza emoldurada, anunciada, vendida e consumida com um valor monetário definido no mercado turístico. A escolha a um destino dá-se inevitavelmente em diálogo com as imagens do local veiculadas em diversos produtos URRY (1990). O contato é

vivenciado pelos turistas como condição de possibilidade não apenas de uma experiência de viagem singular, mas de revelação da cidade real. Ao seguir uma tendência internacional de conversão de territórios pobres e segregados em atração turística, várias favelas cariocas vêm, com maior ou menor sucesso, buscando desenvolver seu potencial turístico (FREIRE-MEDEIROS, 2007, p.35). A favela que é elaborada e vendida como atração turística leva ao paroxismo as premissas dos tours de realidade: ao mesmo tempo em que permite engajamento altruísta e politicamente correto diante da paisagem social, motiva um sentimento de aventura e de deslumbramento diante da paisagem física. É a experiência do autêntico, do exótico e do risco em um único lugar (FREIREMEDEIROS, 2007).

Segundo Freire-Medeiros (2006, p.3), é “na fixação pela autenticidade”, nos termos de Richard Sennett (1993), e na “paixão pelo real” de que nos fala Alain Badiou (2002), que modalidades turísticas como os reality tours encontram motivação e legitimidade”. O sociólogo John Urry (1996), citado por Freire-Medeiros (2006), afirma que o turismo é uma atividade que se baseia em uma “antecipação da experiência.” Ou seja, quando o turista escolhe um determinado destino para viagem, ele o faz com base na imagem que possui do lugar, e esta é construída através do que ele tem de contato prévio com esta localidade através de produtos midiáticos, que o fazem criar uma espécie de “moldura interpretativa” da região. Lorraine Leu (2004 apud FREIRE-MEDEIROS, 2009) descreve e analisa o processo midiático responsável por elevar o Brasil, e a favela em particular, à condição de sensação do momento na Inglaterra. Segundo a autora, presenciase uma inesperada dinâmica entre o local e o global a partir da geografia imaginária da favela e da “cultura” que lhe seria peculiar. A favela é tida entre a esfera pública como espaço de crítica livre dos constrangimentos da igreja e da corte, são “[...] espaços sociais onde culturas díspares se encontram, se chocam, se entrelaçam uma com a outra, freqüentemente em relações extremamente

assimétricas

de

dominação

e

subordinação”

(FREIRE-

MEDEIROS, 2006, p. 69) e de onde paradoxalmente emergem possibilidades outras de representação de si e do outro. Então,

Pensar na favela que é “inventada” pelo turismo como uma zona de contato permite-nos entendê-la como território físico e simbólico no qual camadas discursivas se acomodam em múltiplas dos turistas: representações dos turistas formuladas pelos moradores, representações da favela formuladas pelos moradores para os turistas, em um espiral contínua de representações (FREIRE-MEDEIROS, 2006, p.22).

Observa-se que a atração exercida pela favela não é um fato novo. O Rio de Janeiro sempre foi e continua sendo a cidade brasileira onde a atividade turística apresenta dimensões mais marcantes. O desenvolvimento da atividade turística em território brasileiro teve origem na cidade do Rio de Janeiro, a partir da transferência para a cidade da corte portuguesa, na segunda metade do século XIX (FRATUCCI, 2000, p.83), onde desencadeou as primeiras levas de turistas, as quais propiciaram o início do processo de estruturação do sistema turístico local (LAGE e MILONE, 1991 apud TRIGO, 2000). É nesta cidade, capital do turismo nacional, que a visita às favelas pelos turistas tem apresentado, nas últimas duas décadas, um grande crescimento. É a partir do ano de 1992, que sua expansão toma um maior impulso. Tem-se uma cidade dividida entre uma parcela mais rica que mora no “asfalto” e as comunidades, com casebres construídos em sua maioria nos morros, muitos deles de difícil acesso (ABREU, 1994). Nesta época foram organizadas as primeiras visitas guiadas por freelancer, profissional autônomo, à favela de maneira independente e precária. Apesar de o turismo na favela ter ganhado o mundo através de jornais e mídia digital, muitos cariocas ignoram ou desconhecem este lugar como atração turística mais consumida do Rio de Janeiro. Freire-Medeiros (2006) cita visita a alguma favelas na década de 1930 e 1940 feitas por estrangeiros. Todavia, “a partir” de 92 ocorre o crescimento mais intenso desse turismo, além deste tornar-se lucrativo e disputado. Dessa forma, argumenta a autora que tal fenômeno entende-se através “da popularidade mundial alcançada pelos reality tours e [...] da recente circulação global do ‘mundo exótico da favela’ através de variados produtos” (FREIREMEDEIROS, 2006, p. 11). Segundo a autora, nos guias de viagem a favela não apenas é incorporada ao roteiro, mas apontada como ponto de visitação

obrigatório aos que desejavam conhecer o que foi chamado de “verdadeiro Rio de Janeiro”. Para Freire-Medeiros (2009), além dos produtos e business que colocam a favela em evidência e que estão incorporadas de maneira mais formal ao mercado, existe um corpus mais disperso de imagens que igualmente colabora na formatação de favela turística: as fotos produzidas pelos próprios visitantes. Desta forma, Palloma Menezes (2007) argumenta que nunca houve tamanha produção, reprodução, difusão de imagens da favela como nos dias atuais. Mas é a imagem de uma favela que os turistas fazem circular por meio de seu blog representada por: ruelas e valas, fios emaranhados, vista deslumbrante para o mar, plantas e bichos “exóticos” como galinhas e cachorros. Destaca-se por Palloma que, mais do que qualquer outro elemento, porém, são as casas, com tijolos desalinhados e paredes coloridas e os moradores, invariavelmente negros e preferencialmente crianças que mobilizam a atenção fotográfica dos turistas. Freire-Medeiros (2006, p.12) chama a atenção para o fato de que o turismo na favela constitui, um objeto que apresenta excedentes de sentido que não permitem reduzi-lo apenas às polaridades turistas x locais, e que as análises mais rápidas sobre o fenômeno associaram o turismo em favela a um “zoológico de pobre”.

2.2 O TURISMO ALTERNATIVO: A BUSCA PELO AUTÊNTICO A ruptura da vida moderna e o surgimento do fascínio “pela vida real” são entendidas como redefinições das categorias sociais (MACCANNELL, 1989, p.91). Hoje os diversos tipos de turismo existentes no mercado surgem para atender a uma gama cada vez mais variada de interesses e motivações dos viajantes, que excedem aquelas convencionais, como as de interesse histórico e cultural. Vão desde a necessidade de obter sossego, na forma de evasão como alívio das tensões e do stress, até a paixão e o envolvimento pela busca de aventuras (AOUN, 2001, p.19). O rápido crescimento do turismo, como também a mudança geral da estrutura e das mentalidades sociais deram lugar a uma nova visão, mais diferenciada, acerca do turismo. MacCannell

(1992) sugere que a explosão de diferenças do mundo hodierno leva os indivíduos a viajar para lugares idealizados como autênticos pertencentes a outras culturas ou a um passado mitificado. O turista não quer se colocar mais no espaço visitado como mero espectador, mas no intuito de tornar sua experiência única, ele deseja perceber, sentir e participar da atividade turística como ator, ou seja, como um agente mais participativo no processo da viagem” (MOLINA, 2003 apud CUNHA, 2006, p. 22). Nas práticas turísticas ditas alternativas, de maneira geral, as noções de autenticidade e interação reaparecem investidas de um capital simbólico ausente no turismo de massas (CARNEIRO; FREIRE-MEDEIROS, 2004), como exemplificado nas citações abaixo O turismo alternativo representa o olhar turístico da pósmodernidade, ou de uma modernidade avançada, olhar esse “tão socialmente organizado e sistematizado quanto o olhar do médico” (URRY, 2001, p.16). Esse tipo de turismo é um apelo cada vez mais utilizado por toda uma opção de viagens: viagens de estudo ou aventuras, férias a pé ou mesmo viagens individuais. Essas viagens se desenvolvem em países do terceiro mundo. O imperativo social dos turistas alternativos é o de se dissociar do turismo de massa. Os turistas alternativos querem ter mais contato com os nativos, renunciar á maioria das infraestruturas turísticas normais, alojar-se de acordo com os hábitos locais e utilizar os meios de transporte público do país. Ao invés de conforto, a aventura física, os calafrios, o espírito de grupo e o companheirismo. Cada vez mais louco, mais original, de ano para ano (KRIPPENDORF, 1989).

A questão de autenticidade passa pela própria ideia de “originalidade e tradição”, uma vez que se pode considerar mesmo a tradição como algo inventado, criado no interior das representações (HALL, 2002). Para Hobsbawm (1984, p. 13), a invenção das tradições seria [...] essencialmente um processo de formalização e ritualização, caracterizando por referir-se ao passado, mesmo que apenas pela imposição da repetição. Os turistas estariam em busca da autenticidade dos locais visitados, mas poderão se deparar com uma “autenticidade encenada”, encarada, segundo Cannell (1989), como uma problemática do comportamento humano. Esta é a exposição da realidade com um tratamento estético, adequando o produto ao gosto do turista. A autenticidade se move para habitar mistificação (MACCANNELL, 1989, p.93). No entanto, segundo Urry (1996): o turismo “produz centros de espetáculos e

exibição”. A espetacularização da experiência se encontra nesses locais onde atuam os tourees, isto é, o nativo que virou ator, quer consciente ou inconscientemente, enquanto o turista é o espectador (GRUNEWALD, 2003, p.149). Desta forma, os turistas querem ver os nativos intactos, mas sua própria presença mudaria os nativos ao torná-lo menos exóticos e tradicionais (mais parecido com o próprio turista), e ao incentivar que eles transformem-se em tourees. Estes, na medida em que respondem ao turista, fazem dele seu negócio ao preservar uma ilusão acreditável de autenticidade [...] “assim, a procura turística por autenticidade estaria condenada pela própria presença do turista” [...] (GRUNEWALD, 2003, p.148-149).

O turista é uma espécie de peregrino moderno, buscando o “autêntico” e o “original” em outras “épocas” e em outros tempos e lugares distantes de seu cotidiano (MCCANNEL, 1976 apud URRY, 2001). Urry (1996) expõe a busca do turista em colecionar diferentes olhares: “[...] os turistas contemporâneos são colecionadores de olhares e parecem estar menos interessados em repetir visitas ao mesmo lugar, revestido de certa aura. O que conta é o olhar inicial” (URRY, 1996, p.71). Assim, a procura turística por autenticidade estaria condenada pela própria presença dos turistas e, para o turista étnico, o turismo destruiria a própria coisa que ele procura ver: o nativo intacto (BARRETO; BANDUCCI, 2001, p.143). Segundo MacCannel, na busca pela autenticidade, os turistas anseiam em ir além do que é normalmente mostrado dos lugares que visitam. Este, segundo o autor, não se satisfaz com um conhecimento de fachada, superficial, pois também quer penetrar nos bastidores dos lugares por onde anda. A busca pelas experiências autênticas leva a que o turista possa acreditar que o que está experimentando seja de fato autêntico, uma vez que os bastidores preparados para sua visitação são apreciados como sendo “originais” (MACCANNELL 1976, p.59). O autor qualifica o ambiente turístico como um espaço de encenação e suas práticas atendem aos interesses do imaginário do homem moderno, aonde um vai ao encontro do outro, na busca pelo autêntico (p.60). Destaca-se, no entanto, a citação de Urry (2001, p. 16):

Não existe um único turista enquanto tal. Ele varia de acordo a sociedade, o grupo social o período histórico. Tais olhares são construídos por meio da diferença [...]. O olhar do turista, em qualquer período histórico, é construído em relacionamento com o seu oposto com formas não-turística e experiências e de consciência social.

Urry, quer dizer que o turista se modifica e modifica suas atitudes, pensamento de acordo coma sociedade e o tempo e que todas as experiências de viagens são únicas e o seu olhar é construído com trocas e relacionamentos com os autóctones. 2.2.1 A favela inventada, evidente e produzida como lugar turístico A favela pode ser descrita e analisada desde há muito tempo, como espaço típico de pobreza urbana, sobretudo no Rio de janeiro (VALLADARES, 2005). Na situação carioca, bem como na de muitas cidades latino-americanas, as contradições na ocupação do espaço urbano estiveram associadas a um processo em que o aumento da classe trabalhadora nas cidades ocorreu em proporção superior à produção de habitação popular pelo Estado. Conforme, Regueira

(2008),

porém

com

uma

precária

política

habitacional,

os

componentes dessa classe que migraram em busca de melhores condições de sobrevivência, restou se fixar nos lugares cuja ocupação foi impedida formalmente ou desvalorizada por ser inadequada. Neste contexto, a produção informal de habitações e assentamentos surge como uma estratégia de acesso à cidade. A favela ficou registrada oficialmente como área e habitações irregularmente construídas, sem arruamentos, sem plano urbano, sem esgotos, sem água, sem luz. Dessa precariedade urbana, resultado do descaso do poder público, surgiram as imagens que fizeram da favela o lugar de carência, da falta, do vazio a ser preenchido pelos sentimentos humanitários, do perigo a ser erradicado pelas estratégias políticas que fizeram do favelado um bode expiatório (REGUEIRA, 2008). De fato, “a favela começa a ser percebida como um ‘problema’ praticamente no momento em que surge” (ZALUAR, 2006, p.10). Segundo Silva (1997), o eixo paradigmático da representação desse espaço popular é a noção de ausência. A favela é definida pelo que ela não é ou pelo que não tem. É apreendida como um espaço destituído de infraestrutura

urbana – água, luz, esgoto, coleta de lixo; sem arruamento; globalmente miserável; sem ordem; sem lei; sem regras; sem moral, enfim, expressão do caos. Ela deve pressupor que os moradores dos espaços populares desenvolvem formas ativas e contrastantes para enfrentarem suas dificuldades do dia-a-dia, de acordo com suas trajetórias pessoais e coletivas, as características sócio-culturais e geográficas da localidade, o peso do tráfico de drogas e a postura assumida pelos dirigentes das entidades comunitárias, dentre outras variáveis (SILVA, 1997, p.10). O favelado, morador de favela, passou figurar o migrante pobre, semi-analfabeto, biscateiro, incapaz de se integrar e se adaptar ao mercado de trabalho da cidade moderna industrial. A fórmula “favela é igual à pobreza” logo se tornou um senso comum, sendo compartilhada pelo meio acadêmico e político e sendo difundida pelo mídia (VALLADARES et all, 1999). A favela real, podendo ser definida como a favela atual, tida como mercadoria – explicitada por Valladares (2005) – ganha dimensão virtual, é apropriada por um merchandising urbano e, sem perder sua face de precariedades, ganha roupagem nova, sendo transformada em um lugar turístico, tanto em sua escala física, caracterizada por uma arquitetura improvisada, feita por pobres e para pobres; como também na dimensão humana, com personagens característicos (mulatas, negros, afrodescendentes, gente popular de tratos informais) detentores de um certo exotismo para o olhar estrangeiro. Assim, a favela pode ser considerada o lugar da clandestinidade urbana, dos invasores, dos favelados. Valladraes continua destacando a favela como um espaço de controle e, ao mesmo tempo, um espaço de indiferenciação fora do espaço jurídico-político e, ao mesmo tempo, enquadrado por ele. Um lugar no qual o direito existe, mas não prescreve, colocando em jogo uma força de lei sem lei, de desordem que indica ordem, lugar onde o controle existe, mas escapa do poder de um Estado Constitucional. A favela atual, é a “favela evidente”, é uma favela “inventada”, a autora nos leva ao encontro de uma constatação que se explica, ao analisarmos o drástico processo de urbanização que se constitui no Brasil, uma urbanização obediente e constituída ao sabor de uma lógica capitalista que determina que a única forma de os pobres terem acesso à cidade seria através

das favelas, lógica histórica e que se exacerba na contemporaneidade (VALLADARES, 2005). Esta favela evidente, inventada, tido como repulsa, hoje é visto com atração e curiosidade. Nestas percepções a favela encontra-se hoje numa disputa acirrada pelas operadoras de turismo para visita e se insere nas discussões sobre a criação e produção dos lugares turísticos. Segundo Carlos (1993), a indústria do turismo transforma tudo o que toca em artificial, cria um mundo fictício e mistificado de lazer, ilusório, onde o espaço se transforma em cenário para o "espetáculo" para uma multidão amorfa mediante a criação de uma série de atividades que conduzem a passividade, produzindo apenas a ilusão da evasão, com o objetivo de seduzir e fascinar. No entanto, acima de tudo, conforme URRY (2001), os lugares turísticos são classificados conforme o olhar turístico, seja ele romântico ou coletivo; de acordo com sua história, se são autênticos ou inautênticos. Para Almeida (1998), o lugar turístico é um espaço vivido e de existência da população local; de representações e imagens para os turistas; uma invenção pelo e para o turismo; e, principalmente, espaço de alteridade que representa imagens e imaginário daquele que é turista. Segundo CARIOLANO (1998, p.125) “é o olhar extasiado do “outro”, admirando paisagens que atribuem um valor que, associados ao interesse da mídia, inventam o lugar turístico.” De acordo com Knafu (1992), a invenção do lugar turístico supõe um desvio da utilização tradicional do lugar e, a incorporação de lugares até então menosprezados a espaços globais. O lugar, tornado turístico, então, tem a sua população local transformada em a “outra”, aquela que às vezes incomoda o turismo e se torna estranha no seu próprio local. Portanto, tanto manifesta como oculta a realidade. Segundo Almeida (1998), o lugar turístico poderia assumir diversas facetas: aquela de existência, de representações, de contemplação. Talvez ele nem exista diante da possibilidade de ser inventado pelo e para o turista, fruto de uma expectativa gerada pela veiculação de uma imagem, de uma experiência. Neste contexto de criação dos lugares turísticos, no processo de busca por autenticidade, a favela, então, passa a ser inventada como lugar turístico nos moldes dos reality tours.

2.3 A FAVELA NA MÍDIA Desde o início dos anos 90, a favela tem sido cenário privilegiado em diferentes discursos televisivos e cinematográficos. Durante muito tempo, a favela se viu fora das imagens da mídia, entretanto, do início dos anos 90 até os dias atuais, o morador da periferia passou a ser o protagonista de diferentes gêneros televisivos, que vão desde os telejornais populares (como o Aqui e Agora, exibido pelo SBT; o Cidade Alerta, da Record, e o Brasil Urgente, na Band), até os programas de auditório (como o Programa do Ratinho e o Casos de Família, ambos do SBT), passando também pelos programas de variedades (como é o caso da revista eletrônica Fantástico, que alguns meses depois da exibição do documentário Falcão, meninos do tráfico, de MV Bill e Celso Athayde, em 2006, incluiria em sua programação alguns quadros dedicados exclusivamente ao tema da periferia, como o Minha Periferia e Central da Periferia, ambos liderados pela apresentadora e atriz Regina Casé (LIMA, 2008). A favela abriga diferentes formas de vida, entre as quais a adesão à violência é apenas uma entre inúmeras possibilidades. O processo de atrelar o discurso jornalístico ao fato real está totalmente comprometido com a espetacularização da existência. O real é transmitido através do espetáculo, relação social mediada por imagens, que por sua vez se denomina como a representação irreal, o simulacro da realidade (DEBORD, 1997, p.15). As representações sociais sobre a violência e sobre os indivíduos e instituições que estão envolvidas em suas práticas e em sua coibição são, hoje, majoritariamente construídas através do processo de comunicação em massa. Esses discursos, que têm ampla visibilidade, conseguem nomear e classificar as práticas sociais através da produção de significados. A prática social passa a ser organizada por sua representação social. A mídia desponta como o mais eficaz meio de construir sentidos sobre a violência nos dias atuais (RONDELLI, 2000, p. 144). Essa capacidade de definição, classificação e normatização são produtos da convergência de discursos que, sem a mídia, não teriam como se articularem com tal amplitude. Esses discursos tais como o político, o religioso, o jurídico, o médico, o científico e o próprio jornalístico necessitam do suporte midiático para se tornarem públicos e assim exercerem influência na formação

de cada indivíduo e conseqüentemente da sociedade. A guerra de discursos da favela, da mídia e de toda a sociedade só se desenvolve no meio midiático. Estar na mídia é condição essencial na disputa pelo poder. Destaca-se a colocação feita por Menezes (2007, p. 47): Se até então boa parte da população de favelas não se reconhecia na representação que circula pela mídia dos ‘favelados’ como atores sociais frequentemente associados à violência armada, agora vários dos moradores passam a se reconhecer nessas novas imagens produzidas pelos turistas.

Incomoda, porém, segundo Menezes (2007), o fato de ser o contato intermediado pela câmera uma das poucas formas de interação durante os passeios e que certos estereótipos estejam sendo reforçados. Pensemos, por exemplo, no fato de a maioria das pessoas fotografadas serem negras quando, na verdade, o leque de tipos físicos é extremamente variado na Rocinha. Esse dado leva Menezes (2007) a sugerir que os turistas talvez prefiram fotografar pessoas que se enquadrem no estereótipo “favelado é preto e pobre” (FREIREMEDEIROS, 2010). A favela, também é na mídia, referida em aspectos cinematográfico quando foi usada pelos filmes “Orfeu” (1999), de Cacá Diegues e “They Don’t Care About Us” (1996), onde o personagem principal é Michael Jackson. O filme “Orfeu” (1999), representa uma espécie de transição entre os filmes da favela romântica dos anos 60 para os a partir dos anos 90. Orfeu de Diegues possui “novos” personagens, a polícia e os traficantes. Por causa da violência, os moradores desejam sair do morro buscando melhores condições de vida. O exemplo de enriquecimento é o próprio Orfeu, que ganha com suas composições, além de ser reconhecido na mídia. Ele, porém, não deseja se mudar para outro lugar, pois quer mostrar a todos que pode viver bem sem apelar para o tráfico (LUNA, 2010). Em 1996, Michael Jackson veio ao Brasil filmar cenas para seu clipe “They Don't Care About Us”. O Pelourinho em Salvador e o Morro Dona Marta, na Zona Sul carioca, foram selecionados como cenários para o videoclip que tinha como tema a vida dos pobres nas grandes cidades do mundo e a indiferença oficial a seus apelos. Após a visita do popstar, muita coisa mudou. As favelas não apenas foram reconhecidas como

destinos turísticos pela Riotur, mas o próprio poder público passou a promover diretamente o turismo nestas localidades (FREIRE-MEDEIROS, 2006). Diz Freire-Medeiros (2009, p. 19) que “... a pobreza no Brasil, se antes já não era mais segredo, hoje é incontestavelmente uma atração turística”. A favela carioca como atração turística é exemplo de muitas visitações que existem em locais mais pobres. Quando se trata da curiosidade de saber como vivem os habitantes desses lugares, Freire-Medeiros (2009) nos sinaliza que isso não é uma novidade. Considera que se, cada vez mais, turistas vêm conhecer a favela, mais a favela vai ao encontro deles por meio de produções cinematográficas e televisivas. No livro “Gringo na Laje”, Freire-Medeiros (2009) diz que as favelas estão entrando no circuito da “moda” e sua inserção como “produto”, pintado pelos artesãos em suas telas e apresentado nos meios midiáticos, como nos filmes “Tropa de Elite 1 e 2” e “Cidade de Deus”, parece estar por trás desse consumo como destino turístico. Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, retoma o cinema brasileiro no ano de 2002. A história, baseada no livro homônimo de Paulo Lins, narra a formação da favela carioca a partir das políticas de remoção das populações dos morros. O foco principal é a violência ser justificada pela pobreza e pela falta de perspectiva. Cidade de Deus faz das imagens da pobreza e da violência uma atração (LUNA, 2010). A favela carioca como atração turística é exemplo de muitas visitações que existem em locais mais pobres. Consagrada há muito tempo como lócus de pobreza e desordem, as favelas cariocas estão sendo abordadas por diversos meios de comunicação, não apenas pela atual ação de política pública de segurança do Estado do Rio de Janeiro, resultando no “programa de pacificação”, mas também como a consolidação das visitações turísticas nestes lugares, que já alcançou a outras favelas do Rio de Janeiro, além da Rocinha. A favela aparece, até mesmo, no programa “Mais Você” (Rede Globo), de Ana Maria Braga (25 de fevereiro de 2011), onde a reportagem intitulada “Turismo em favelas cariocas é novidade para visitantes da cidade maravilhosa”, faz uma abordagem da atividade na favela. Na reportagem a favela é tida como uma tendência mundial de visitação, conforme abaixo, destacando o processo de pacificação:

O turismo na favela não é exatamente uma novidade no Rio de Janeiro. Depois da Eco 92 (Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento), muitos estrangeiros subiram os morros cariocas para ver de perto a vida dos moradores. O problema é que a violência afastava os turistas. Mas agora, com as unidades de polícia pacificadora, o cenário é outro e o movimento por lá não para de crescer (Fonte: http// maisvoce.com.br).

Sendo assim, pode-se identificar uma favela produzida turisticamente tendo como influência tanto seus contexto de violência, pobreza, desordem, carência; assim como em um contexto de ordenamento e pacificação. Todos inseridos em um processo histórico de construção da cidade do Rio de Janeiro intermediado por um vasto sistema de comunicação que é mediador da favela com um público cada vez mais amplo do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo. Sistema de comunicação que revela que a favela é também “a cara” do Rio de Janeiro, que é o Rio de Janeiro. Levando aos visitantes buscar a experiência em uma cidade rica (culturalmente e de beleza natural), diversa, de contrastes, de discrepâncias, mas que, sobretudo revela aos turistas uma cidade real, levando a grande oportunidade de viver um reallity tour.

3 OPERANDO E VIVENCIANDO O TOUR NA FAVELA DA ROCINHA O Turismo na favela tem apresentado, nas últimas duas décadas, um grande crescimento em relação às visitações, aos empreendedores, aos serviços oferecidos e aos órgãos envolvidos nesse segmento, o que justifica um olhar mais crítico para a sua prática, uma vez que ela se vale da comercialização do modo de vida de seus moradores (MESQUITA, 2007). Alguns moradores vêem essa forma de turismo como “invasiva” e desqualificadora”; outros acreditam que os turistas são filantrópicos e conciliadores (MACHADO, 2007). Como vemos na mídia, nunca houve um número tão grande de turistas interessados em visitar favelas como atualmente. Nos últimos anos, a Rocinha tem recebido cerca de 3000 visitantes por mês, levados por oito operadoras, conforme dados de Freire Medeiros, (2009). As operadoras e agências que vendem estes destinos estão precisando diversificar seus serviços para atenderem aos diferentes tipos de visitantes (MENEZES, 2007). O potencial turístico da localidade chamou a atenção do então prefeito Sérgio Cabral, que tomou posse como governador do Estado, instituindo um projeto de R$ 72 milhões para remodelação da Rocinha que, entre outras medidas, prevê a transformação de residências na parte alta do morro em pousadas do tipo bed & breakfast (FREIRE- MEDEIROS, 2009). As afirmações de sua dimensão variam desde a “maior favela do país”, “a maior favela da América do Sul” ou “a maior favela da América Latina”. A Rocinha é bastante disputada entre diversas operadoras de turismo. Tal fato se dá porque o local situa-se próximo aos principais hotéis da zona sul do Rio; detém o título de maior favela do Brasil; possui duas saídas (facilita a saída em caso de conflitos); tem uma vista privilegiada de alguns pontos da cidade e apresenta um contraste visual entre ricos e pobres (FREIRE-MEDEIROS, 2006). Segundo Freire-Medeiros (2009), o que facilita a Rocinha ser a favela turística por excelência, é o fato de possuir característica de um bairro, mas conservando as particularidades de favela. Neste processo de visitação às favelas destaca-se a Eco-92, como já citado, que essa prática adquiriu proporções maiores. Valladares afirma que é exatamente o ano 1992 que marca o início do turismo na favela, com a entrada da Rocinha entre as metas dos tours da cidade (2005). Em 1994, algumas

entidades já operavam o potencial atrativo que se desenhava (SERSON; PIRES, 2008). Percebendo esta demanda Marcelo Armstrong idealizou o Favela tour, no ano de 1992, conforme relato em entrevista realizada em novembro de 2011. Existem atualmente 8 (oito) agências de turismo da cidade que organizam passeios na favela da Rocinha. A oferta é variada: há passeios “a pé, de van, de jipe ou de moto, de dia ou de noite, com refeição incluída ou não”; mas o roteiro, mesmo nas diferentes agências, não sofre mudanças e inclui, em todos os casos, alguns atrativos “clássicos”, conforme observado por (FREIRE-MEDEIROS, 2007, p.65). São estas: Forest Tour; Exotic Tours; Favela Tour; Be a Local, Don’t Be a Gringo; Private Tour; Jeep Tour; Indiana Jungle e Rio Adventures. Existe divergência entre si, quanto a pioneira desta atividade na favela. A concorrência destas agências não se diferencia das encontradas no mercado de bens e serviços em geral. Cada uma utiliza suas táticas de diferenciação do produto; os locais, as instituições visitadas; o tour pode incluir refeição ou não, e outras características (MESQUITA, 2007). Há uma demanda pelo consumo da favela carioca como produto turístico e alguns moradores e as agências de viagens vêm investindo na atividade, visando à geração de renda. Numa abordagem sobre essas agências, Freire-Medeiros (2009) menciona algumas delas, direcionando o foco principal de cada uma. A JeepTour, por exemplo, possui 38 (trinta e oito) jipes que realizam o passeio pela favela. Seu público é prioritariamente trazido por grandes operadoras internacionais. No seu site, a agência se apresenta como “mais que passeios, aventuras”, reforçando o imaginário do Rio exótico e selvagem. (FreireMedeiros, (2009). Em meio aos passeios “tradicionais”, se localizam as informações sobre as visitas às favelas. Como em tantas narrativas autóctones sobre a cidade, o discurso da Jeep Tour remete a uma geografia da imaginação que condensa natureza e cultura, primitividade e vida urbana (FREIRE-MEDEIROS, 2009, p.54). Além da Jeep Tour, somente mais duas agências utilizam os transporte de jipes, a Indiana Jungle Tour e a Rio Adventures Tour. A centralidade do exótico aparece de forma ainda mais explícita na proposta da Exotic tour. A proprietária da Exotic tour, descreve: “... a nossa

herança africana fascina o estrangeiro porque vem combinada com elementos da cultura europeia e da cultura indígena”. Complementa dizendo “... o turista não vai fazer despacho, vai conhecer o ritual, a beleza da cultura”. A empresa opta por fazer passeio á pé e conduzidos por guias que eles promovem sua formação (FREIRE-MEDEIROS, 2009, p.54). O Private tours, admite que o público consumidor da favela turística muitas vezes é composto por “pessoas que têm interesse por sociologia, por causas sociais”. O público é diversificado, vai de estudante á terceira idade. A Favela tour é a única empresa a operar exclusivamente o tour pela favela da Rocinha e Vila Canoas. Não utiliza jeeps, atentando pela preservação de seus clientes. Assim como a Exotic tour e a Jeep tour, iniciou suas atividades no ano de 1992. A Favela tour busca conquistar “um turista menos aventureiro e mais consciente” (FREIREMEDEIROS, 2009, p. 62) Apesar da variedade de operadoras que atuam na favela da Rocinha, serão destacadas nesta monografia duas delas, a “Favela Tou”r e a “Be a Local”. As duas foram escolhidas pela pronta resposta dos operadores de atender à pesquisa. A entrevista feita com o gestor da Favela Tour em outubro de 2011, mesmo tendo como foco o operador do tour e não o turista teve como objetivo entender as motivações que levaram a criação deste produto e principalmente o perfil e motivação dos clientes dos passeios. Esta foi orientada por um roteiro de entrevista (Anexo 1). Com a Operadora Be a Local vivenciei um tour na Favela da Rocinha com o objetivo de observar o roteiro e captar as motivações, emoções e a experiência vivida pelos turistas pelas observações e “bate-papos” informais. A vivência no tour foi orientada pelo roteiro de entrevista (Anexo 2). A estratégia de captar dados através dos batepapos informais, porém orientada pelo roteiro, se deu pelo fato de que os turistas no momento da visita não estão disponíveis para responder a um longo questionário de entrevista 3.1 A FAVELA TOUR: SUA CRIAÇÃO, SUA MISSÃO E SEUS TURISTAS Esta é uma entrevista feita com o proprietário da Favela tour, acerca da atividade turística que ele desenvolve na favela. Morador da cidade do Rio de Janeiro, sua idéia partiu após visitas a lugares pobre da Europa. Ele, que diz

ser o pioneiro da atividade, conta como se deu o desafio de empreender e sua estratégia para estar no mercado hoje. A entrevista realizada na sede de sua empresa sito em Estrada das Canoas em São Conrado foi feita, baseada num questionário semi-estruturado (Anexo1). Tentei buscar os pontos importantes que colaborasse com o objetivo principal desta pesquisa. Algumas questões ficaram sem respostas, pois estas são questões únicas e exclusivas dos turistas que vivenciam a experiência. A empresa iniciou suas atividades na favela, no ano de 1992, conforme afirmativa do proprietário. Passados dezenove anos, iremos saber o que mudou e quais pontos positivo e/ou negativos da empresa. De acordo com o entrevistado sua marca é conhecida como Favela Tour, cuja razão social é o seu próprio nome. Quanto à atuação no ramo, ele responde que “... a empresa está no mercado desde 1992, juntamente com a Eco 92” e afirma

ser o

pioneiro da atividade na favela. Segundo dono da Favela Tour, em entrevista realizada em novembro de 2011: “... Somos uma agência especializada na questão da complexidade social brasileira”. O tour pela favela, para esta operadora, não é apenas para explicar como são as favelas, mas também para dar uma nova perspectiva e compreensão sobre diversos aspectos da sociedade brasileira. Destaca-se a frase divulgada no site da operadora, seu principal canal de comunicação com seu público-alvo, onde é resumida a proposta de experiência a ser oferecida pela operadora: Venha visitar, as favelas de Vila Canoas e Rocinha, a maior do país. Pitoresca de uma distância, revela uma complexa arquitetura, o desenvolvimento do comércio e pessoas simpáticas. . A maioria das escolas de samba no Carnaval vêm de favelas. A turnê mudou a reputação dessas áreas, sempre relacionados à violência e à pobreza. Não seja tímido, você é bem-vinda, o povo apoiar a sua visita. Se você realmente quer entender o Brasil, não deixe o Rio sem fazer o Tour Favela5.

Quanto aos objetivos em trabalhar com o turismo na favela, o entrevistado responde:

5

Fonte: Favela tour. Disponível em

O objetivo da empresa é desmistificar uma realidade social ligado a questões negativas como violência, tráfico de drogas e não só mudar os pré-conceitos sobre a favela, mas também dar aos turistas que visitam o Rio de Janeiro e o Brasil, a possibilidade de conhecer a sociedade brasileira á partir de outro ponto de vista. Não pretendo crescer demais para não perder qualidade do serviço e não perder o toque pessoal, fazendo bem feito pra que o turista volte.

O tempo de duração do passeio são de três horas no valor de R$ 65,00 por pessoa. As favelas visitadas pela empresa são apenas Rocinha e Vila Canoas. Os passeios são feitos numa van que leva o turista até um ponto da favela, a pé eles percorrem a comunidade conhecendo cada ponto destacado pelo guia. A empresa possui 3 (três) vans próprias, algumas são alugadas de acordo com a necessidade, buscando os turistas em qualquer hotel da Zona Sul entre o Leblon e o Leme. Marcelo descreve o roteiro feito dentro da favela: Fazemos o roteiro na favela parte dele a pé, parte no interior de uma van. Os turistas visitam o centro de artesanato da Rocinha, calçada da pintura Naiirf, a laje do um morador local aonde apresenta uma vista abrangente e encantadora de toda a Zona Sul e a parte comercial da Rocinha. Depois eles seguem para Vila Canoas aonde visitam uma escola que é financiada pela Favela Tour, caminham pela comunidade, vielas, ruas, observando alguns pontos mostrados pelo guia, pontos estes que falam sobre a comunidade, os moradores e o contexto social brasileiro.

Segundo o gestor da favela Tour, existem diversas motivações para diferentes pessoas que visitam a favela: Cada uma tem uma motivação. Para alguns pode ser a vista de São Conrado, para outros pode ser a escola com as crianças, para outros a arquitetura, as pessoas, a espontaneidade, a informalidade. Não há uma curiosidade do turistas em conhecer a pobreza.O público é diversificado, vai desde o jovem que fica no albergue até o “setentão” que fica no hotel cinco estrelas.

Em entrevista concedida à Revista Veja (fevereiro, 2010), Bianca FreireMedeiros acredita ser a violência a questão que chama a atenção dos turistas, A autora diz:

A violência é mais um atrativo para o turista. Os turistas vão á favela motivados por essa imagem, e é uma coisa que as agências têm de administrar. A mídia também é responsável por denegrir a imagem da favela”. O que move os turistas não é só vontade de conhecer uma outra cultura, um tipo de voyeurismo ou desejo de ajudar. “Os turistas estão em busca de uma situação de precariedade que eles desconhecem.

As diferentes ferramentas de marketing utilizadas permitem nos dias atuais opções variadas de divulgação de seu produto ou serviço. A Favela tour utiliza apenas a “internet”, o site da empresa e guias de viagens no exterior. Só a empresa, de acordo com seu dono, leva numa média de 800 a 1.200 turistas, sendo 98% turistas estrangeiros. Quanto à estrutura física e organizacional da empresa, ele afirma: “... Tenho uma equipe formada por dezesseis pessoas. “Duas secretárias, três motoristas, e onze guias”. Marcelo descreve o que mudou desde a fundação de sua empresa até os dias atuais. A empresa mudou totalmente. No começo era eu, meu carro e meu telefone. Hoje tenho uma equipe de dezesseis pessoas. Com o passar do tempo, meu trabalho foi pouco a pouco sendo divulgado e criou um nicho que não existia e hoje tenho vários concorrentes. Estou totalmente satisfeito, mais até do que imaginara no começo. Eu acreditei numa coisa até então inexistente. Tive uma ideia que todo mundo me desaconselhou, achavam que não tinha o menor sentido. Pelo menos neste assunto, Turismo na favela, eu sou referência e estou muito satisfeito com isso. Não imaginaria que chegaria tão longe, hoje não faço esforço para chegar mais longe, do jeito que está tá bom.

Toda empresa apresenta seus altos e baixos, seus pontos considerados positivos e outros negativos. Veremos as dificuldades encontradas por ele para ser referência de turismo na favela. Minha empresa é pequena, fácil de gerir.Mantenho ela de uma maneira focada e objetiva, fazendo bem um serviço só. Não tenho a pretensão de crescer mais para não perder qualidade no serviço e não perder o toque pessoal dentro do passeio. Meu objetivo é fazer um serviço bem feito, para que o turista que embarca no passeio volte satisfeito.

Ele considera sua empresa diferente das demais e tem um diferencial em seu passeio

Nosso passeio é um diferencial, só na favela, existem passeios em cima da beleza geográfica do Rio, não é o caso do Favela tour. Nosso passeio é mais um passeio realista e alternativo ao turismo tradicional de massa. Não é para todo e qualquer turista, é um nicho de um perfil de turista, que não dá para definir idade ou classe social. É um perfil de quem esta buscando uma coisa mais aprofundada, mais realista. Não é para qualquer turista que se contente com a vista do Corcovado e Pão de Açúcar. É um passeio que busca ser educacional, interativo, explicativo, diferencial, aborda sobre o contexto social do Rio, peculiar. Eu faço somente este passeio.

Como toda empresa, ele esclarece as dificuldades que tem com o serviço prestado, ponderando seus pontos negativos ou fracos. Como operador eu não tenho tantas dificuldades, mais dificuldades de mercado como concorrência desleal, gente que quer se passar por mim, mau serviço prestado por intermediários que desviam clientes e maus profissionais ou falta de mão de obra qualificada. Toda empresa tem um diferencial em relação a outras do mesmo ramo. O diferencial da Favela tour em relação a outros passeios, segundo seu dono, é: Um passeio que não busca ser mais um passeio. Busco acima de tudo qualidade de informação, com guias bem qualificados que fazem um trabalho bem aprofundado sobre a realidade social brasileira. O diferencial da empresa em relação aos concorrentes é que o passeio é só feito na favela. Meu passeio não é misturável. Eu não saio da favela e vou para a Floresta ou para a praia.

Para finalizar a entrevista pergunto ao entrevistado qual seria o trabalho social que ele realiza na favela. “A gente faz um trabalho social numa escolinha que ela é financiada pelo passeio, se não houver o passeio a escola fecha suas portas, ela depende do tour”. Através desta entrevista ficou claro que empreender não é uma missão fácil, ainda mais se tratando de uma atividade nova no mercado. O proprietário e idealizador do turismo na favela segue uma lógica, não querendo inovar em

seus passeios, podendo ter isso como uma estratégia de mercado. Só faz passeio na favela, enquanto outras operadoras misturam as ofertas.

3.2 BE A LOCAL, DONT BE A GRINGO: RELATO DE UM TOUR PELA ROCINHA

A agência Be a Local, Dont’ Be a Gringo começou a operar em janeiro de 2003, com o objetivo de mostrar aos turistas, um ponto de vista local da nossa cidade, como revela um dos sócios da empresa em entrevista realizada em novembro de 2011: “... depois de todo esse tempo, nós projetamos nossos passeios pensando no apoio local, segurança e valor no máximo de informações, fornecendo os turistas a experimentar realmente o que significa ser um Carioca”. No site da operadora o tour na favela tem a seguinte descrição: Sentir o que a vida em uma favela realmente é. Tomamos um passeio na parte traseira de uma moto para o topo da Favela da Rocinha e depois descer a pé. No caminho para baixo, você tem uma perspectiva única sobre o espírito vibrante das pessoas, especialmente as crianças “6.

A agência tem um nome diferente cuja denominação seria: aproximar os “gringos” do “modo de vida carioca”. Destaca-se, então, uma agência bem inserida na segmentação dos reallity tours. Para isso leva seus turistas a uma aventura: propõem a subida à favela de moto táxis. Essa opção leva a um público diferenciado da agência, adolescentes e mochileiros, como pude observar no tour que realizei. A agência também leva seus turistas a assistirem a um jogo de futebol, e à noite, vão à “Favela Party”, baile funk de Rio das Pedras, em Jacarepaguá. É uma agência bem diferente das outras. Na fotografia a propaganda descrita na camisa da nossa Guia (Imagem 1).

6

Fonte: Be a Local. Disponível em:http//www.bealocal.com

Legenda: A guia do passeio Imagem 1 - Fonte: Arquivo pessoal

A favela, nesse passeio, é vendida para os turistas como algo lúdico, um lugar no qual poderão viver momentos de lazer e distração, ao mesmo tempo em que participam da “adrenalina” de subir as ladeiras (LUNA, 2010). A agência Be a Local, Don’t be a Gringo, utiliza mototaxis para levar seus turistas ao morro e a volta é feita á pé, por meio dos becos e vielas. Atuando no mercado desde 2003, a agência realiza dois passeios diários na Rocinha. O proprietário da agência Luiz Marcos afirma: “... nossos clientes são jovens, são pessoas que ficam em albergue. Eles têm interesse por uma experiência informal” (FREIRE-MEDEIROS, 2009). Começando o passeio na maior favela do país, um ponto de visitação pelos turistas é a “laje”, que já foi identificada como um “espaço sociológico relativamente novo que, entendemos ser um novo território cultural, onde se dão novas relações sociais e de poder” (MACHADO, 2007, p.13). Como relata a autora, existem várias “lajes” visitadas e contratadas pelas várias agências: a do Sr Carlinhos, a do Sr Fernando e a do ateliê dos artistas e artesões. No roteiro, normalmente, não faltam creches, como a do Centro Comunitário Alegria das Crianças ou lugares onde é desenvolvido um trabalho social, e o Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha; também nos passeios são incluídas visitas a vários pontos onde é possível admirar e comprar peças de artesanato, como no visual e no laboratório do Tio Lino, mas

há também “pelo menos quatro pontos de vendas de produtos by Rocinha” (FREIRE-MEDEIROS, 2007, p.66), onde é possível comprar camisetas, quadros, bordados, esculturas, cds e outros souvenirs. Os turistas que realizam os passeios, na maior parte dos casos, não apenas se dizem muito satisfeitos com a experiência, como a recomendam entusiasticamente (FREIREMEDEIROS, 2009). Em meu tour pela Rocinha que começou na manhã de um sábado nublado, no dia 12 de novembro, presenciei o descrito por Machado e FreireMedeiros acima. A minha experiência foi, digamos, mais “segura”, por conta da comunidade já ter sido alvo da pacificação, porém tão emocionante quanto o primeiro tour em 2008, que fiz durante a disciplina de Teoria Geral do Turismo I operada pela Agência Exotic Tour. Desta vez, foi a agência Be a Local quem me levou para mais um tour da realidade. Fomos num grupo de treze turistas, de várias nacionalidades, porém jovens aparentemente com idade entre vinte e três a trinta anos. Nosso primeiro contato, no desembarque da van, foi na entrada da Favela, junto com uma Guia, muito simpática por sinal. Fui apresentada aos turistas como mais uma integrante do tour, estudante de Turismo e estava ali para fazer um trabalho da faculdade. Todos me receberam muito bem. A guia dá algumas instruções antes de começarmos a subir a Rocinha. Dirigimo-nos então para um único ponto de moto táxi, localizada na entrada da favela, fomos distribuídos cada um em uma moto. Muito velozes, os mototaxistas, levou-nos realmente a uma aventura. Foi bem diferente. Notável a felicidade dos turistas. Perguntei a uma turista assim que descemos da moto: “e aí, gostou”? Ela me respondeu: – “Sim, muito legal”. Ponto de parada, Rua 1. Ponto muito conhecido na comunidade é onde fica o ponto do correio, um local super movimentado, aonde tem ponto de ônibus, ponto de moto taxi também e o comércio local. As manifestações de hospitalidade já começam a surgir quando nos reunimos para a guia dar as instruções, para aí sim começarmos o tour. Os turistas são cumprimentados e bastante observados pelos moradores locais em um intenso fluxo de pessoas, mais parecendo uma feira ao ar livre. O

passeio

recomeça

após

descermos

no

ponto

combinado.

Caminhando entre becos e vielas nossa primeira parada foi na laje de um morador. O “momento laje” foi uma surpresa e excitação para os turistas.

Todos queriam tirar fotos. Lá pudemos admirar a vista “espetacular” para as belezas naturais do Rio e para a favela. Pode-se ver a dimensão da Rocinha e ter uma noção da quantidade de pessoas que vivem na comunidade. A imagem é impressionante. Uma imensidão de casas é uma imagem muito comum em filmes e, claro, não poderia faltar nos tours. Os turistas se deparam com a vista da favela, onde ao fundo se encontram os morros, a praia e os prédios de São Conrado, um dos bairros de classe alta do Rio de Janeiro, demonstrando o contraste entre morro e asfalto. (Imagem 2).

Legenda:Vista da laje do morador. Rocinha x praia e prédios de luxo Imagem 2 - Fonte: Arquivo pessoal

A guia explica de forma rápida a construção histórica e social da favela e tenta quebrar o paradigma da localidade como violenta e local de marginais. Não se pode deixar de falar ou notar as obras e intervenções realizadas pelo governo do Estado através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Rocinha, onde são realizados projetos sociais. As casinhas coloridas foram distribuídas a moradores juntamente com um complexo esportivo (Imagem 3). O investimento do governo é alto, porém facilita a inclusão de jovens e adultos na sociedade. A guia explica á respeito do PAC para os moradores onde diz: Essas obras são de grande importância para a comunidade fazendo assim tirar as crianças e adolescentes do tráfico de drogas, podendo se dedicar ao esporte e tempo de lazer.

Legenda: PAC na Rocinha Imagem 3 - Fonte: Arquivo pessoal

Nosso tour continua passamos por um ponto estratégico aonde tem de tudo: açougue, salão de cabeleireiro, lojas de roupas. Foi possível observar as casa dos moradores bem de perto, uma grudada na outra. Numa das ruas os deparamos com crianças e adolescentes provavelmente acostumados com a presença dos turistas, e estavam lá, à espera deles. Com tambores feitos de lata de tinta, sentados á calçada, exibiram-se para nós (Imagem 4). A batucada era boa, me remetia ao samba. Enquanto dois adolescentes batucavam, um menor dançava. A guia avisa ao grupo: “... prestem atenção no menino de preto ele é a estrela”. Era o tal menino que dançava. Os turistas adoraram. A expressão deles era só felicidade durante o passeio. Isso quebra o preceito de que moradores de favela não seja gente feliz, crianças felizes. As crianças são super carinhosas. Acabou a exibição, veio o pequenino, o mesmo que se exibia dançando com um balde, passando um por um, para depositarmos um trocado. Ele nos disse: “Thank you”. Não tinha como não ficar feliz com um gesto daqueles.

Legenda: Moradores da favela em exibição para os turistas Imagem 4 - Fonte: Arquivo pessoal

A todo momento a Guia, dava informações sobre a comunidade, o momento de tirar fotos ou não, explicava as instalações e aqueles emaranhados de fios quase na nossa cabeça. Falava à respeito do saneamento básico, visivelmente precário. Nos deparamos várias vezes com esgoto a céu aberto, muito lixo e mau cheio. A guia me diz: “... não tem como esconder isso, infelizmente é um assunto que eu preciso falar, é notório”. Mas tudo isso, acredito, não tenha sido surpresa, pois nenhum deles apresentaram nojo ou repulsa em nenhum momento do nosso tour. A turma era muito calada, nada falava ou perguntava só observavam atentamente. A guia tentava animar eles contando histórias engraçadas. Em um momento, cruzamos com uma criança no colo de sua mãe, moradora da comunidade. A guia parou com ela, provavelmente conhecida (a guia por sinal, conhecia quase todos da favela, pois não tinha uma pessoa que não falasse com ela), e todos ficaram encantados com o bebê. Prosseguimos e fomos parar num estúdio de pintura, onde haviam três artistas que faziam um ótimo trabalho. Eram telas pintadas à mão, que retratavam a Rocinha, a comunidade, as pessoas, as construções, os morros, tudo feito com muito carinho, em mínimos detalhes (Imagem 5). Não podemos tirar fotos das obras, somente no interior do estúdio aonde são desenhadas as telas.

Legenda: Estúdio dos artistas que pintam telas Imagem 5 - Fonte: Arquivo pessoal

Continuando nosso tour, mais à frente nos deparamos com uma moradora, muito simpática por sinal, que trabalha confeccionando artesanato com miçangas. São vários os moradores que, de alguma forma, se beneficiam com a atividade. Paramos para dar uma olhada, nossa guia deu um breve relato de como eram feitos as bijuterias com arame e corda (Imagem 6). Nos artesanatos, a descrição como “Rio de Janeiro” ou “Rocinha”.

Legenda: Moradora que faz artesanato Imagem 6 - Fonte: Arquivo pessoal

Numa das nossas caminhadas pelos becos, paramos num ponto de comércio onde era vendido, pães, bolos diversos, doces, salgados, mel, refrigerante. A nossa guia apresenta a dona do estabelecimento e a seguir detalhou o que ela produz dos mais diferentes quitutes de doce à salgado. E relata: “...na favela não existe só armas.Também existem deliciosos bolos feito com muito carinho para vocês”. Qualquer doce ou salgado custa no valor de R$ 2,00. Fizemos um lanche e prosseguimos (Imagem 7).

Legenda: Comércio local Imagem 7 - Fonte: Arquivo pessoal

Nosso tour chega ao fim. Duas horas de caminhada pela comunidade e uma experiência incrível tanto pra mim, quanto para os turistas. Percebi que todos saíram satisfeitos. Durante o passeio, os serviços podem ser também realizados pelos moradores e comerciantes através da venda de artesanatos, de alimentos, entre outros.

3.2.1 Relatos de turistas que visitaram a Rocinha Esta pesquisa foi baseada de acordo com os turistas que estiveram comigo no tour pela Rocinha. Como resultado da pesquisa realizada com os 13 turista durante o tour realizado em novembro de 2011, abaixo são traçadas alguns dados que revelam um pouco sobre este grupo de visitantes. Sem ter a intenção de que esta amostra represente o perfil do turista que visita a favela carioca em sua totalidade, ela, no entanto, pode ser um indicador importante, para identificar que tipo de experiência estes buscam ao visitar a favela e que motivações os levam ao tour da realidade. A descrição do grupo que acompanhei era: apresentavam idade entre vinte e trinta anos e hospedados em Hostel. São relatos de uma entrevista informal baseada num questionário semi-estruturado (Anexo 2), tentando aproveitar a dinâmica da visita que não permite realizar entrevistas demoradas com turistas. Captar alguns relatos dos turistas sobre a visita a favela é entender a favela como local de visitação turística como uma “zona de contato”. Segundo Freire - Medeiros (2006, p.69) As zonas de contato são “espaços sociais onde culturas díspares se encontram, se chocam, se entrelaçam uma com a outra, frequentemente em relações extremamente assimétricas de dominação e subordinação”, de onde paradoxalmente emergem possibilidades outras de representação de si e do outro. Pensar a favela que o turismo inventa como uma zona de contato permitenos entendê-la como território físico e simbólico no qual camadas discursivas se acomodam em múltiplas representações: representações sobre a favela e seus habitantes formuladas pelos turistas, representações dos turistas formuladas pelos moradores, representações da favela formuladas pelos moradores para os turistas - numa espiral contínua de representações.

Abaixo os relatos dos turistas. Uma turista de 29 anos de Irish nos relata da visitação, qual seria o motivo da busca pela favela como destino: Vim explorar o Rio e achei interessante conhecer o outro lado, o interior. Achei muito legal o tour, as pessoas, as crianças. A comunidade é boa de espírito. Existe um pouco de pobreza e não existe saneamento.

Uma turista de 28 anos de Ireland da Islândia nos relata a experiência de subir uma favela: Por causa da imagem da favela no exterior eu quis vê-la de verdade. É muito interessante ver como algumas pessoas vivem. O passeio é muito bom e relevante para educar visitantes. O povo é feliz. A área é segura e com muitos animais. Recomendo o passeio para outros turistas interessados em conhecer uma cultura diferente e pessoas. Recomendo também o Hostel.

Um estudante de geografia em Ohio nos EUA, disse que o tour rompeu com seus preconceitos: “... Só ouvia falar sobre os perigos e nada sobre a cultura. Achei que seria recebido como forasteiro mas não foi bem assim. O passeio foi maravilhoso. Na Rocinha, me senti um turista”. Um turista de Berlim com idade de 30 anos revelou como foi o passeio e o que mais lhe chamou atenção: “Eu queria ver a favela de perto, com meus próprios olhos, para descobrir como as pessoas vivem. Eu soube que era um bom passeio e realmente é. A comunidade é pobre, mas todos pareciam amigáveis e felizes”.

Um turista de Londres, de 23 anos dá sua opinião acerca da favela e faz comparações: Eu estava interessado em ver o outro lado. Eu queria ver o que muitos turistas não experimentam. É completamente diferente da vida em Londres. Foi ótimo. Não foi uma atividade de praia usual. É um lugar muito colorido e interessante. Tem coisas ruins, mas isso acontece em qualquer grande cidade. O povo é muito amigável.

Um rapaz de 23 anos da Alemanha fala a respeito do tour na Rocinha: Eu ouvia falar um monte de histórias sobre as favelas, mas eu queria descobrir como as pessoas viviam. Foi muito interessante pra mim como turista ver como vivem as pessoas numa comunidade grande e pobre.

Estudante de uma Universidade de 24 anos, dos EUA, relata como foi o tour:

Sem dúvida, foi a minha parte favorita da viagem. Ver o cotidiano de homens, mulheres e crianças que vivem nas favelas me ajudou a perceber as coisas importantes da vida. Nos Estados Unidos, é tão fácil para esquecermos as coisas simples da vida, que trazem felicidade, não dinheiro ou bens materiais.

Uma estudante moradora de Texas, nos EUA descreve sua opinião sobre o tour: Quero agradecer a maravilhosa oportunidade de conhecer a favela. Primeiro, estava um pouco nervosa sobre a visita. Eu não sabia o que esperar. Tinha lido um pouco sobre as favelas cariocas na universidade e tinha ouvido falar que havia muita violência. Isso me assustou. Mas minhas opiniões mudaram e meu medo desapareceu. Minha parte favorita foi ver as crianças tocando música e falando frases em inglês. Foi uma experiência incrível.

Os relatos, acima destacados, exemplificam algumas citações feitas anteriormente sobre a busca dos turistas, o surgimento a busca do turismo “alternativo”, que atende às expectativas do visitante, que cada vez mais valoriza experiências pessoais significantes e as peculiaridades locais, temas abordados nas características do chamado pós-turismo. Todo este processo se se materializa numa oferta turística que busca atender às demandas dos turistas pós-modernos, caracterizados pelos diferentes estilos de vida e viagem, pela busca pelo exótico. Os relatos revelam a busca pelos reality tours, o surgimento do fascínio “pela vida real”, pela autenticidade, o desejo de ir além do que é habitualmente mostrado dos lugares que visitam. Toda experiência balizada pelos dois domínios: dinheiro e emoções. Esta última revelada pelos olhares, falas, gestos e expressões captadas em meu campo.

3.2.2 O perfil do Turista do tour na Rocinha Este capítulo apresenta o perfil do turista que visita a favela carioca, tendo como referência uma pesquisa de Paulo Serson, realizada em agosto e setembro de 2006 com uma média de 30 (trinta) turistas estrangeiros na favela da Rocinha. O seu trabalho “A experiência turística na favela da Rocinha (Rio

de Janeiro-RJ)” buscou mensurar os gostos e as motivações dos turistas da favela da Rocinha, bem como seus perfis sócios econômicos. Gráfico 1: Repetição das visitas

Fonte: Serson, 2006

A primeira questão analisada por ele foi o grau de fidelização dos turistas quanto ao produto turístico “Rocinha”, analisando quantos turistas haviam previamente feito o roteiro. Os dados obtidos por ele, considerado inovador encontrou 97% dos turistas nunca haviam experimentado uma visita à favela, conforme gráfico 1. ● No tour que realizei, dos 8 entrevistados, nenhum deles haviam visitado uma favela anteriormente.

Gráfico 2: Motivações

Fonte: Serson, 2006

O gráfico 2, descreve as maiores motivações dos turistas.É baseado numa pesquisa de opinião, de acordo com Serson. As questões do gráfico estão baseadas nas motivações segundo Andrade (2000), que as caracteriza como: status, lazer, aventura, compras, conhecimento, contato com a comunidade, curiosidade pela pobreza e violências locais. Em sua pesquisa, Searson (2006), encontrou a curiosidade, conhecimento e contato com a comunidade os aspectos relevantes pela busca da visitação, ou seja, as pessoas viajam motivadas pela curiosidade em conhecer os lugares pobres e manter uma autenticidade no local visitado.



Em minha pesquisa e nos relatos informais, detectei a maior motivação dos oito entrevistados, foi unânime a curiosidade em ver como vivem os moradores da favela.

Gráfico 3: Expectativas

Fonte: Serson, 2006

No que se refere às expectativas, o autor faz uma abordagem sobre a visão prévia da favela antes da visitação, ou seja, o imaginário construído pelos turistas. A pesquisa de Serson (2006) encontrou em sua maioria 74% dos turistas associavam favela à pobreza e violência. Contido em quase todo este trabalho, os estudos de Freire - Medeiros confirma que a pobreza é o que mais motiva os turistas em visitar a favela.



Posso afirmar que em meu trabalho, a pobreza e violência também são os principais fatores que contribuem para busca pela visitação na Rocinha. Nos relatos dos visitantes que fizeram o tour comigo, podemos confirmar este dado.

Gráfico 4: Meios de Divulgação do Roteiro

Fonte: Serson, 2006

Nos dados relatados no gráfico 4, a questão buscou entender, como o passeio é divulgado aos turistas. Os guias turísticos, juntamente com relatos de amigos e folders de divulgação que circulam nos meios de hospedagem somam num total de 81%. A pesquisa de Serson entendeu que o relato de amigos e parentes, é o que mais divulga o favela tour.



Em minha pesquisa realizada, encontrou a mídia como divulgadora do roteiro favela, em meio aos filmes e documentários que trazem a favela como local de violência, caos e desordem.

Gráfico 5: Faixa etária

A faixa etária (gráfico 5) e sexo (gráfico 6) analisada por Paulo Serson (2006) em sua pesquisa, revela que os turistas que empreendem visita ás favelas, são, em sua maioria encontrou, uma predominância de jovens entre 25 a 40 anos, somando um total de 80%, predominantemente masculino.



Em minha pesquisa, pude chegar a mesma conclusão de Paulo, embora a agência ao qual eu realizei o tour fosse predominantemente de mochileiros. O número de turistas masculinos, num total de treze, eram oito homens para cinco mulheres. Gráfico 6: Sexo

7% Masculino 33%

feminino 60%

Não respondeu

Gráfico 7: Nacionalidade

Quanto à nacionalidade dos turistas que empreendem a visita à Rocinha, Serson (2006) encontrou um total de 24% de turistas Irlandeses, Holandeses, Escoceses, Ingleses e Suíços, que somam 20% dos turistas que vistam as favelas e suecos, finlandeses, dinamarqueses, somam 17%. Os norte americanos tem um numero significativo, representando um total também de 17%. Sendo assim, a pesquisa descobriu que a maioria dos turistas que visitam favela são Europeus. ● Em minha pesquisa não consegui mensurar, em termos quantitativos, a nacionalidades dos turistas.

No trabalho, podemos perceber tanto de acordo com Serson (2006) quanto em minha pesquisa que, os turistas que visitam as áreas da Rocinha, na maioria das vezes faz para conhecê-la, satisfazer sua curiosidade buscar o convívio local, e o exótico que não encontram em outros lugares.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho começa com uma abordagem da atividade turística, chegando às novas formas de turismo que foram surgindo. A análise acerca da atividade turística em relação a modernidade e motivações dos turistas, talvez faça compreendermos o turismo, sobretudo na Favela, como fenômeno social. Inicialmente foi abordado os conceitos de lazer e sua evolução ao longo dos anos, a consolidação da atividade turística e a lógica do sistema capitalista que engendra esta indústria do turismo. Após essas abordagens, discutiu o fenômeno turismo na favela, sobre a lógica que se afirma tour da realidade, autenticidade e a favela sendo difundida na mídia, como um espaço de guerra e lutas. Percebeu-se que os meios de comunicação contribuem para formação dos imaginários e nos leva a escolher ou não destinos turísticos. Não podemos negar que os turistas são sim, atraídos pela imagem da favela que é divulgada por ela; a imagem da miséria e da violência, esta é a pobreza turística apresentada por Freire-Medeiros (2009). A pesquisa apresentou estes resultados do qual a autora fala. Este novo segmento é explicado pelo contexto delineado como modernidade. A contemporaneidade fez com a que a atividade ganhe novas formas, novos rostos, novos atores sociais. Este turismo, dito alternativo, tem levado milhares de turistas a visitar favelas, como algo mais que a curiosidade em conhecer as áreas pobres, move estas pessoas. A maioria são turistas internacionais, com destaque os europeus como vimos na pesquisa de Serson (2006), faixa etária jovem. São turistas interessados em vivenciar a autenticidade local descobrindo algo de diferente nestes lugares. Constata-se, então, que o turista que visita a favela da Rocinha busca o diferente, o alternativo, a autenticidade local. O contato dos moradores locais e a interação social com os turistas ainda é pouco. Certamente, o próprio processo de operação dos roteiros e a sua intermediação feita pelos guias promovem uma fraca interação entre turistas e visitados. Até mesmo porque não é o objetivo das operações que tive acesso (tanto na prática, quanto na visão do gestor). O que é passado para eles é um pedaço da realidade e do contexto social brasileiro. Até mesmo, a

Rocinha, acaba representando o que seja a favela para o mundo, tendo esta estrutura

sócio,

político,

cultural

e

organizacional

carioca

como

homogeneizada. Dependendo da agência, que você contrate ela poderá levar a uma situação de medo, aventura ou lazer. Embora operando em uma localidade de pouca infraestrutura, tanto local quanto turística, os resultados da demanda pela visitação são positivos. Das opiniões dos turistas a maioria toma como experiência positiva a atividade na favela. Segundo Freire-Medeiros (2009), os guias e as agências que atuam na Rocinha afirmam que o tour na favela transforma a reputação destas que são relacionadas apenas a violência e a pobreza. Machado (2007) sugere que eles não se mostram ofendidos com as atitudes preconceituosas dos turistas porque têm a ideia de que os estrangeiros podem, ao concluir o passeio, ter outra imagem da favela. No entanto, ao fazer uma análise mais aprofundada sobre o turismo na Rocinha, Freire-Medeiros (2009, p. 88) relata que “os turistas dizem que se sentem “transformados”, capazes de “dar valor ao que realmente importa”. Não tenho como medir o nível de transformação dos turistas, nem o de mudança sobre a imagem destes sobre a favela. No entanto a emoção passada pelos entrevistados demonstra uma mudança do ponto de vista, da imagem destes sobre a favela. O turismo, se explorado da forma correta pode ser benéfico para a comunidade nos aspectos socioeconômicos e culturais. Então, o aspecto econômico do turismo, a atividade na favela pode ser entendida como um projeto de desenvolvimento local. O que, no entanto, não acontece atualmente, pois os operadores são agentes externos e todo o processo tem origem em um planejamento também externo. Na verdade, o roteiro na Rocinha é o que mais recebe turista, mas os recursos financeiros gerados pela atividade ficam concentrada nos hotéis e nas agências de turismo. Conforme Freire-Medeiros (2006, p.16), “na maioria das vezes as favelas não usufruem em pé de igualdade dos benefícios que o turismo gera”. Percebe-se que de uma maneira geral que as agências padronizam o mesmo roteiro, como a laje do morador para uma vista privilegiada, as lojinhas de souvenir, visita à escola ou creche, dependendo da agência. Entretanto a exploração dos aspectos históricos pode diferenciar-se. Há quem faz questão de mencionar as desigualdades, mostrar traficantes, há quem queira recriar uma realidade da favela como um espaço

também social, de trocas, de amizade. A percepção em relação ao tour se dismistifica à realidade divulgada pela mídia em geral. A partir do momento em que os turistas pisam na favela sua concepção já é outra. O turista visita as áreas da Rocinha na maioria das vezes para conhecê-la, satisfazer sua curiosidade. Durante o passeio, os serviços podem ser também realizados pelos moradores e comerciantes através da venda de artesanatos, de alimentos, entre outros. A visita predomina-se em um aspecto visual, onde os guias destacam fortemente a felicidade do povo mesmo diante dos problemas e as relações de paz que também existe. Na pesquisa aqui desenvolvida, alcançou-se o objetivo que é tentar compreender um pouco o olhar turístico daqueles que vêm buscando, numa favela como a Rocinha, uma opção de roteiro, alternativo, não convencional, dentro da Cidade do Rio de Janeiro e entender as razões da favela se tornar um lugar cada vez mais procurado para visitação turística. O fenômeno do turismo na favela me remete à Urry (2001, p. 93) sobre os países em desenvolvimento, que desenvolvem novas formas de turismo, ao afirmar: a difusão, tão espalhada, do “olhar romântico”, de tal modo que cada vez mais pessoas desejam isolar-se dos padrões existentes relativos ao turismo de massa; o fascínio cada vez maior do mundo desenvolvido com as políticas culturais das sociedades menos desenvolvidas; o turista transforma-se num “colecionador” de lugares, que, frequentemente, são contemplados e vistos apenas na superfície.

Os turistas que visitam a favela, na sua maioria estrangeiros, estão interagindo de acordo com uma lógica descrita por URRY (2001, p. 208) se referindo à Foucault: “as sociedades contemporâneas se desenvolvem menos na base da vigilância e da normatização dos indivíduos e mais na base da democratização do olhar do turista e da espetacularização dos lugares”. O resultado da pesquisa, de acordo com o grupo que tive contato, nos mostrou que os turistas gostam e aprendem muito na visita à favela. Eles experimentam algo novo e no geral a maioria sai satisfeita do passeio. O tour ganha cada vez mais adeptos.

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VILLAÇA, Flávio de. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel/Fapesp, 1998.

Roteiro de Entrevistas

Anexo 1 1-Nome da empresa 2- Ano de fundação 3-Objetivo social da empresa conforme contrato 4-Histórico da empresa: origem, motivo da criação. 5-Quais são os serviços prestados? 6-Qual é o valor dos serviços oferecidos e tempo de duração? 7-Quais são os objetivos da empresa ao trabalhar com o Turismo de Favela? 8-Quais são as favelas vistadas por vocês? 9-Existe algum tipo de veículo para transporte dos turistas? Qual? 10-Descreva o roteiro a ser feito no interior da favela? 11-O que mais chama atenção dos turistas? 12-Qual a ferramenta de marketing que a empresa utiliza para divulgar seu serviço? 13-Como os turistas conhecem os serviços da favela tour, ou seja, qual é o principal meio de divulgação que vende vocês? 14-Quantos turistas aproximadamente visitaram favelas com a operadora desde sua criação? (Você possui estes números detalhados para que eu possa colocar em gráfico?

15-Qual o perfil dos turistas que visitaram a favela com vocês (idade, sexo, perfil socioeconômico, estado civil)? 16-Quais são as motivações que levam o turista a visitar as favelas? Vocês possuem estes dados de pesquisa para me fornecer? 17-Como é a estrutura organizacional e física da sua agência / operadora? 18-Quais são as impressões que o turista tem da favela? O que eles revelam antes e após a visita? 19-O que mudou na empresa até os dias atuais? 20-Se sente satisfeito com o serviço prestado ou seja, com a venda do tour na Favela? 21-Quais são os maiores benefícios (os pontos mais positivos)? 22-Quais são as maiores dificuldades? 23-Quais são as demais operadoras que vendem o tour na favela?

Anexo 2

1-Origem/Source/: 2-Sexo (famele or male): 3-Idade/Age/: 4-Estado civil/ marital status: 5-Quais motivações da busca pela favela como destino turístico? / What motivated the search for the favela as a tourist destination? 6-Quais motivos o levaram a escolha da operadora favela tour? / What reasons for choosing the favela tour operator? 7-Como soube deste tipo de turismo na cidade do Rio de Janeiro? / How did this type of tourism in the city of Rio de Janeiro? 8-Qual imagem você tem da favela? / What image do you have the favela?

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