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O anel de noivado Deborah Simmons The De Burgh bride De Burgh 2 Nobre de berço, embora selvagem de coração. Inglaterra A última coisa que Elene Fitzhugh queria era se casar com Geoffrey de Burgh. Ela só esperava que os afados punhais que possuía lhe dessem proteção contra os modos gentis e as açucaradas mentiras daquele homem! Embora Elene Fitzhugh houvesse assassinado o primeiro marido no leito nupcial, Geoffrey de Burgh não tinha escolha além de se casar com ela. Mas como tomar por esposa uma mulher de alma tão selvagem e apaixonada?

CAPÍTULO I

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Com um misto de espanto e horror, Geoffrey de Burgh olhou para o pedaço de graveto que tinha na palma da mão. Percebeu a reação dos cinco irmãos que o cercavam, as mal contidas exclamações de surpresa, os suspiros de alívio e os murmúrios de solidariedade, mas não deu resposta. Apenas olhava para o minúsculo graveto, sem querer acreditar que, entre todos os de Burgh ainda solteiros, tinha sido ele o escolhido pela sorte. Havia perdido. E agora devia se casar com a Fitzhugh. Erguendo finalmente a Cabeça, Geoffrey viu que era observado pelo pai. Se o conde de Campion estava chocado com o fato de que o mais instruído de seus filhos iria se casar com a endiabrada mulher, não dava mos tras disso. Evidentemente compreendia que Geoffrey tinha motivos, para ficar abatido, mas devia estar orgulhoso, já que tinha certeza de que aquele filho jamais o desapontaria. Mais do que em qualquer outra oportunidade, Geoffrey sentiu o peso daquela confiança e das responsabilidades que isso implicava, sabendo que não teria como fugir ao cumprimento do dever. O rei Edward havia decretado que um dos de Burgh deveria tomar a mulher como esposa, e caberia a ele cumprir essa determinação, pelo rei, pelo pai e pelos irmãos. Aprumando o corpo, Geoffrey tomou todos os cuidados para não demonstrar o quanto estava arrasado. — Pois muito bem, eu a desposarei — declarou. Não houve congratulações, já que ninguém no castelo tinha a mais longínqua ilusão de que Geoffrey seria feliz naquele casamento. E, pela primeira vez, nenhum dos irmãos disse nada para caçoar do irmão, o que gostavam muito de fazer uns com os outros. Mas era evidente que estavam aliviados por haverem escapado daquele capricho do destino. Sem querer continuar mostrando a covardia que os acometia quando o assunto era casamento, os cinco rapazes, todos destemidos guerreiros, pediram licença e apressaram-se em se retirar. Geoffrey não se sentia no direito de censurá-los. Quem não recuaria diante da perspectiva de um casamento como aquele? Depois da retirada dos irmãos, ele se viu a sós com o conde de Campion. — Sente-se — disse o pai, indicando-lhe uma cadeira. Geoffrey acomodou-se de frente para o homem que respeitava mais do que qualquer um outro, sustentando o olhar firme do pai. Campion coçou o queixo, pensativo. — Eu tinha esperanças de que fosse um outro, talvez Simon, embora ele seja tão exaltado que poderia matá -la antes mesmo que a cerimônia se concluísse — disse, fazendo uma careta. Geoffrey permitiu-se rir do que acabava de ouvir. Simon, o segundo filho de Campion, era um feroz ca valeiro que não tinha a menor complacência com as mulheres. Sem dúvida, deixaria intimidada até mesmo a Fitzhugh, mas por causa do temperamento às vezes não sabia agir com bom senso. Campion assentiu, como se estivesse concordando com o pensamento do filho. — Bem, talvez seja melhor mesmo que você, com seu talento de negociador, encarregue-se da tarefa. Tenho orgulho de todos os meus filhos, mas você, Geoffrey, é o que mais se parece comigo. Geoffrey olhou para o pai sem esconder a surpresa. Embora Campion sempre deixasse clara a afeição que sentia pelos filhos, nunca era pródigo em elogios. E aquele era de fato um elogio muito grande, porque todos os esforços de Geoffrey eram no sentido de seguir os exemplos do pai. — Você tem a firmeza dos seus irmãos, mas também é dotado de sabedoria —prosseguiu Campion, fazendo depois uma recomendação. — Use a cabeça e o coração, além da mão com que maneja a espada, para lidar com a mulher que será sua esposa. Contam-se muitas coisas sobre ela, mas você sabe tanto quanto eu que muitas vezes essas histórias são exageradas. As pessoas nem sempre são o que parecem ser. Por isso peço-lhe que, quando se casar, procure manter a mente aberta. Sei que saberá levar em consideração este conselho. Geoffrey assentiu, em silêncio, embora não tivesse a menor esperança de que a Fitzhugh fosse diferente do que se dizia dela: um demônio conhecido por suas explosões de cólera, pelo linguajar obsceno e pelo com portamento rebelde. Era sabido que ela havia assassinado o primeiro marido no leito nupcial, um ato que o soberano havia preferido perdoar por causa das circunstâncias do casamento. Mesmo assim, o fato daria o que pensar a qualquer homem, principalmente àque le que tivesse a incumbência de ocupar o lugar do cavaleiro morto. Como se pudesse ler o pensamento do filho, Campion pigarreou e adotou uma expressão grave. — Daqui para frente, use o bom senso e a sua boa vontade, mas nunca se esqueça, filho, de se manter atento ao que se passa às suas costas. Com cuidado, Geoffrey pôs no baú o volume que tinha nas mãos, ao lado dos que já estavam lá. Tinha mais livros do que qualquer outra pessoa no castelo de Campion, incluindo o pai. Embora todos os de Burgh soubessem ler e escrever, apenas ele havia estudado com um sábio viajante, a fim de satisfazer sua sede de conhecimentos. E continuava expandindo sua biblioteca, sempre que possível, já que, mesmo após a partida do preceptor, mantinha o interesse em aprender cada vez mais. As batidas na porta o surpreenderam, porque naquele dia os irmãos haviam desaparecido. Geoffrey entendia a relutância deles em procurá-lo. Eram todos homens fortes e destemidos, travavam batalhas difí ceis, mas não saberiam enfrentar um inimigo como a Fitzhugh. Como o iminente casamento dele não poderia ser evitado com a ajuda de espadas e machados, os irmãos não tinham como ajudá-lo. — Entre — disse Geoffrey, achando que se tratava de algum criado. Para surpresa dele, quem apareceu à porta foi Dunstan, o irmão mais velho. Geoffrey não se assustou com a carranca do cavaleiro. Bem, era comum Dunstan esconder seus bons sentimentos por trás de palavras e expressões duras.

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Naquele momento o primogênito dos de Burgh estava evidentemente constrangido. Geoffrey retirou de cima de uma cadeira um monte de roupas deixadas ali pelo relaxado Stephen, o irmão com quem dividia o quarto, e fez um gesto para que Dunstan se sentasse. — Eu preferia que a responsabilidade coubesse a um outro — declarou o recém-chegado. — Simon, por exemplo. Era uma repetição do que o conde de Campion já tinha dito e Geoffrey deu de ombros. — Saberei lidar com a situação, espero — disse, enquanto dobrava uma túnica de lã para pôr em outro baú. — Por Deus, Geoff, eu… — Dunstan resmungou um palavrão antes de recomeçar. — Eu me sinto respon sável. Afinal de contas, foi minha espada que matou o pai dela. Geoffrey interrompeu o que estava fazendo e olhou diretamente para o irmão. — Porque ele declarou guerra a você. Fitzhugh foi um patife que estava determinado a se apossar de seu castelo e de suas terras. Já se esqueceu de como ele armou a emboscada para atacar sua comitiva, chacinou seus homens e aprisionou você no seu próprio calabouço? Dunstan trincou os dentes. -Não, não me esqueci. Mas foi meu próprio cavaleiro, Walter Avery, quem me traiu em favor de Fitzhugh e depois se casou com a filha dele. — Felizmente ela acabou com ele antes que o cretino causasse mais prejuízos a você — disse Geoffrey, agora evitando olhar para o irmão. Embora estivesse dizendo a verdade, ele não queria prosseguir naquela linha de raciocínio, principalmente porque seria o próximo a se casar com a mulher em questão. — Por Deus, Geoffrey! Fiquei muito grato por meus irmãos terem corrido para me ajudar, mas não queria que nenhum deles sofresse por causa disso, menos ainda você. Que os diabos levem o decreto do rei! Geoffrey continuou a arrumar as coisas. — Você não pode censurar Edward por querer pôr um fim às hostilidades. Ele quer a paz no reino, e ninguém melhor para conseguir isso do que um de nós. — Sim, mas você, Geoff… Dunstan fez um gesto de desânimo. Geoffrey não disse nada, mas olhou sério para o irmão. Embora não fosse um sanguinário como Simon, sentia-se perfeitamente capaz de controlar uma mulher, fosse ela uma assassina ou não. Por isso, estava começando a se ressentir das sugestões de que não tinha essa capacidade. Dunstan deve ter adivinhado o que ele estava pensando, porque desviou os olhos, embaraçado. — Só lamento você ter que se casar com uma mulher que não ama — resmungou. Ao ouvir aquilo Geoffrey voltou à arrumação da bagagem, já sem sentir raiva. De todos os irmãos dele, Dunstan era o único capaz de demonstrar aquela preocupação, já que os outros caçoavam das idéias românticas. Não muito tempo antes o próprio Dunstan teria rido do assunto, mas agora estava casado, tendo recentemente reconhecido na frente dos outros de Burgh o que sentia pela mulher que havia desposado. Marion. Geoffrey procurou não comparar a doce e carinhosa mulher que estimava como irmã com a en diabrada criatura com quem se casaria, mas isso seria impossível. Ainda se lembrava bem da temporada que havia passado no castelo de Dunstan, em Wessex, podendo observar o casal. Desejava poder ter na vida alguém que lhe desse um afeto parecido. Mas jamais teria isso. Geoffrey continuou a dobrar as roupas, sentindo-se incapaz de dizer alguma trivialidade que isentasse Dunstan do sentimento de culpa. Queria que o irmão nunca tivesse tocado naquele assunto, porque agora só sentia desalento ao pensar no futuro. O sacrifício que iria fazer parecia grande demais. O Natal passou depressa, uma comemoração insossa tornada especial apenas pela presença de Marion, que estava esperando o primeiro neto de Campion. Ela e Dunstan permaneceram no castelo do conde, mesmo depois das festividades, como se pensassem ter o poder de desfazer a dura realidade representada pelo próxi mo casamento que se realizaria na família. O estado das estradas em conseqüência do inverno também conspirou para adiar as núpcias, mas finalmente o tem po melhorou e todos partiram para Wessex, ficando apenas Campion. O conde sofria com o frio do inverno e Geoffrey sentiu-se aliviado quando o demoveu da intenção de acompanhá-los. Embora os irmãos pensassem no pai como um homem apenas um pouco mais velho do que eles, era evidente que agora o chefe da família encontrava dificuldades para se locomover. Raramente deixava o castelo e Geoffrey não queria que ele tivesse que fazer uma longa viagem sob uma temperatura tão baixa. A preocupação tinha fundamentos, porque eles só chegaram à propriedade de Dunstan depois de quase uma semana percorrendo estradas enlameadas e suportando muita chuva. Ali deixaram Marion. Embora ela protestasse com veemência, Dunstan não quis deixá-la prosseguir viagem no estado em que se encontrava. Havia uma outra preocupação, embora o assunto não fosse tocado: temia-se que a Fitzhugh, perversa como era, pudesse recorrer à violência. E ninguém, inclusive Geoffrey, queria que Marion ficasse exposta a algum perigo. Fosse submetida ao que brevemente seria a vida dele. Geoffrey procurou afastar aqueles pensamentos, mas o costumeiro otimismo dele desapareceu por com pleto quando eles passaram pela aldeia perto do castelo Fitzhugh e viram o estado das casas. Era um lugar pobre. O povo que ele governaria era

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muito pobre. Aquilo o deixou ainda mais abatido. Obviamente, o pai da Fitzhugh havia empregado todos os seus recursos em guerras, esquecendo-se de melhorar a vida daquela gente. O desprezo que ele sentia pelo homem aumentou ainda mais à medida que eles foram se aproximando do castelo. Embora ninguém fizesse nenhum comentário sobre as miseráveis choupanas, o espanto ficou muito claro nos olhares dos irmãos dele. Somente Dunstan parecia não dar atenção à imundície, o que deixou Geoffrey grato ao irmão mais velho. Ele nunca tinha tido muita proximidade com Dunstan, que havia deixado a casa paterna há muitos anos, mas agora sentia um grande respeito pelo homem que era conhecido como o Lobo de Wessex. Num certo sentido o casamento significaria uma coisa boa para Geoffrey, porque Dunstan, além de irmão, seria também o suserano dele. Infelizmente, com relação aos outros aspectos do futuro, ele não podia ter muitas esperanças. Já tinha um monumental trabalho pela frente: reconstruir o que a negligência de Fitzhugh havia destruído. Aproximando-se do castelo ele olhou com atenção para os celeiros, oficinas e currais que se sucediam encostados à parede exterior. A velha barreira de pedra deveria ser removida para que se construíssem moradias para os servos do castelo. E tudo ali parecia precisar de consertos. Quando olhou para o castelo em si, Geoffrey até ficou aliviado. O lugar era maior do que ele havia ima ginado. Depois de ter morado em Campion, seria difícil viver num lugar apertado e apinhado de gente. Uma outra parede acompanhava o muro principal pelo lado de dentro, dando proteção à entrada do castelo, mas parecia de pouca eficiência. Seria necessário também melhorar as defesas ali. À entrada eles foram recebidos pelo mordomo, um homenzinho de cabeça calva e aparência nervosa. Em bora fosse pródigo em mesuras diante dos recém-chegados, nada podia desculpar a ausência da senhora da casa. Geoffrey ficou ainda mais decepcionado. A Fitzhugh devia ter ido recebê-los ao portão, como se fazia com visitantes importantes. O barão de Wessex e seus irmãos certamente mereciam essa honra, mas eles não viram sinal da mulher nem mesmo quando chegaram ao salão do castelo. O lugar era espaçoso, mas não muito limpo. Sentia-se o cheiro de lixo, provavelmente acumulado durante todo o inverno. O piso de pedra mostrava rachaduras em vários pontos, enquanto muita fuligem cobria as paredes. Embora Geoffrey houvesse crescido numa casa onde os homens predominavam e a limpeza doméstica nem sempre era cuidadosa, Marion havia mudado isso, adotando hábitos que os servos continuaram a praticar mesmo depois da partida dela. A Fitzhugh caiu ainda mais no conceito de Geoffrey quando ele viu a falta de asseio que imperava naquele salão. Se uma mulher morava ali, o lugar devia pelo menos ter um cheiro melhor. Que tipo de castelã era ela? Ainda mais apreensivo em relação à criatura com quem se casaria, Geoffrey perguntou-se se ela ao menos tomava banho. Na mente dele surgiu a imagem de uma demoníaca amazona, armada até os dentes, de cabelos desgrenhados e dentes falhos. Ele nem sabia qual era a idade dela. Bem, era melhor estar preparado para tudo. Geoffrey viu que era o centro dos olhares dos irmãos. Certamente os de Burgh esperavam que ele, como fu turo senhor daquele castelo, tomasse providências para que os visitantes fossem mais bem recebidos. Então adiantou-se e dirigiu-se ao assustado mordomo. — Mande que nos sirvam cerveja e traga a senhora do castelo à nossa presença, por favor. — Providenciarei para que canecas de cerveja sejam trazidas imediatamente, meu lorde — respondeu o ho mem, recuando enquanto fazia mais mesuras — Quanto a lady Fitzhugh… ela… não poderá vir aqui no momento. Ordenou-me que lhes pedisse para voltar numa outra data. Geoffrey suspirou. E aquilo era apenas o começo. Os irmãos dele também não estavam nada satisfeitos com a notícia que acabavam de ter. Simon mostrava uma expressão ameaçadora, Dunstan tinha os dentes trincados e Stephen parecia igualmente aborrecido. Obviamente o pobre mordomo não era o culpado por aquela situação. Geoffrey franziu a testa. Sabia muito bem a quem cabia a culpa. — Mas onde está a lady? — inquiriu. O mordomo olhou nervosamente para a escada aos fundos da sala e depois para os ameaçadores cavaleiros postados por trás de Geoffrey. Parecia temer tanto a ama quando os visitantes, o que não era um bom augúrio sobre o futuro do homem que se casaria com a senhora daquele castelo. — Talvez esteja em seu quarto — sugeriu Geoffrey, com um riso forçado. — Vou tentar convencê-la a nos fazer companhia. — Não suba sozinho, Geoff — recomendou Simon. — É bem possível que ela esteja com a flecha no arco, esperando. Embora tivesse a mesma preocupação, Geoffrey estava resolvido a não tratar a futura esposa como uma criminosa enquanto não pudesse fazer um julgamento pessoal. Também não pretendia se acovardar dentro da própria casa. Ignorando a advertência, olhou para o mordomo. — Ela tem um quarto, não tem? — Tem, sim, meu senhor, à direita da escada — informou o homem, escapando em seguida. Geoffrey levou a mão ao cabo da espada enquanto subia a escada em curva. Já havia passado por situações bem mais complicadas que aquela, mas não podia descartar a possibilidade de estar correndo perigo. A demoníaca mulher podia estar armada e era óbvio que não queria se casar com ele. Quando pensou novamente no que havia resultado o primeiro casamento dela, ele procurou se convencer de que a situação agora era inteiramente outra. Walter Avery tinha sido um patife interessado exclusivamente em se apoderar da herança dela,

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enquanto qualquer mulher em seu juízo perfeito veria com bons olhos um casamento com um dos de Burgh. Mas a questão era justamente essa. Estaria a Fitzhugh em seu juízo perfeito? A resposta esperava por ele logo adiante. Aproximando-se do que parecia ser a porta a que havia se referido o mordomo, Geoffrey bateu de leve. — Vá embora! O grito foi ameaçador. A voz era feminina, mas grave e rouca. Seria a Fitzhugh? Achando melhor não se identificar, Geoffrey simplesmente voltou a bater, outra vez de leve. — Pare de me perturbar e vá embora! Depois de hesitar por alguns instante, Geoffrey tentou novamente, sempre batendo de leve, mas com firme persistência. — Fique sabendo, Serle, que está arriscando sua vida! Mande esses canalhas embora, como eu ordenei, e pare de me aborrecer! Geoffrey sorriu. Ela estava pensando que quem estava ali era o mordomo, que havia se apresentado a eles como Serle. Talvez até se arriscasse a abrir se houvesse insistência. Foi o que ele fez. A porta se abriu e Geoffrey entrou, imediatamente a fechando com o pé. Como não tinha nenhuma prova da veracidade de tudo o que se falava da futura esposa dele, queria pelo menos ter privacidade no primeiro encontro com ela. Ficou de costas para a porta para eliminar a possibilidade de fuga, ao mesmo tempo que se preparou para lutar contra inimigos que talvez estivessem no interior do quarto. Esperava ter que enfrentar servos, soldados ou guardas, mas surpreendeu-se ao constatar que o espaço ali mal era suficiente para acomodar uma pequena cama e um baú. E era um lugar limpo e bem arrumado, o que dava a entender que a Fitzhugh tinha uma criada pessoal encarregada de manter o quarto dela em melhores condições que o resto do castelo. Geoffrey suspeitou de que estava olhando para a tal criada. — Onde está sua senhora? — perguntou à mulher que olhava para ele. A desconhecida vestia uma túnica de lã de qualidade um pouco superior à das que as servas normalmente usavam, mas bem inferior às roupas que ele próprio estava vestindo. — Senhora? — ela repetiu, como se cuspisse a palavra. — Não tenho nenhuma senhora! Sou uma Fitzhugh e não devo satisfações a ninguém, seu velhaco! Agora saia daqui antes que eu risque meu nome na sua carcaça! Dizendo isso ela levou a mão ao cabo do punhal que tinha na cintura e Geoffrey teve certeza de que estava olhando para a futura esposa. Ela era alta para uma mulher, mas nem de longe se parecia com uma amazona. E era esbelta, pelo que ele podia avaliar. O exame era dificultado pelos fartos cabelos que praticamente cobriam a parte de cima da túnica dela, indo quase até a altura dos joelhos. De uma tonalidade um tanto indefinida, aqueles cabelos precisavam ser penteados e cobriam uma parte do rosto como se estivessem ali para esconder alguma cicatriz. Atento ao punhal dela, Geoffrey preparou-se para o pior. Por outro lado, os dedos da mulher eram elegantes e limpos, de unhas lisas e brancas. Pelo menos ela tomava banho. Geoffrey alegrou-se com essa cons tatação enquanto examinava as feições da Fitzhugh, um tanto obscurecidas pela vasta cabeleira. Agradavelmente surpreso, ele não viu nenhuma cicatriz ou imperfeição. Na verdade, em vez de ter um rosto feio ou marcado, a Fitzhugh parecia muito… graciosa. Os olhos, que soltavam chispas na direção dele, eram negros e pareciam os de uma gata enfurecida, mas a ferocidade terminava aí, porque as feições eram delicadas. As maçãs do rosto tinham uma leve curvatura e a boca era pequena, bem desenhada. Estando aqueles lábios fechados, ninguém diria que a dona deles era capaz de pronunciar as imprecações que ele já ouvira. Depois de ficar olhando por mais algum tempo para os lábios da Fitzhugh, Geoffrey obrigou-se a desviar os olhos e examinou a futura esposa da cabeça aos pés. Era aquela a mulher que inspirava tanto medo e aversão? Não estava ali nenhuma bruxa, nenhuma criatura monstruosa, mas simplesmente uma mulher, embora tivesse um linguajar reprovável. — Quem diabo você pensa que é para ficar olhando para mim desse jeito, seu idiota? — ela vociferou. Se veio como emissário daquele bando de chacais que são os de Burgh, pode sair já! — Lobos — corrigiu-a Geoffrey, um tanto distraído. Ainda estava espantado com a constatação de que não se casaria com uma mulher velha e de pele en rugada. Havia o cabelo exageradamente grande, claro, mas aquilo mais o fascinava do que causava repulsa. Bem que ele queria enfiar os dedos naqueles fios e empurrá-los para trás, só para ter uma visão melhor do intrigante rosto da futura esposa. A Fitzhugh ficou olhando para ele como se estivesse diante de um louco. Geoffrey achou melhor explicar. — Os de Burgh. O emblema deles é um lobo, não um chacal. A mulher apertou os olhos. — Não me importo com isso, porque não tenho nada a ver com eles. Volte e diga que eu cuspo neles, lacaio! — Acho que isso não seria prudente, já que alguns deles são de natureza violenta — advertiu Geoffrey. — Venha recebêlos, assumindo o seu papel de castelã, e logo se livrará deles. — Há! — ela gritou. — E como posso saber que isso acontecerá mesmo? — É bem simples. Logo que o casamento se realizar, prometo-lhe que eles partirão. Não era mentira. Na verdade, Geoffrey estava tão ansioso para se livrar dos vigilantes parentes quanto a Fitzhugh. Achava-se em condições de assumir sozinho o controle da propriedade e da mulher, sem pre cisar da ajuda dos muitas vezes autoritários irmãos. — Casamento? Há! — ela caçoou. — Não me casarei com ninguém, menos ainda com um de Burgh! Aquilo atingiu Geoffrey em cheio.

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— Não sou tão repulsivo assim — ele rebateu, sem erguer o tom de voz. A opinião daquela mulher não tinha a mínima importância para ele, mas mesmo assim Geoffrey se viu esperando atentamente pela resposta dela. Não tinha o desembaraço nem os modos sedutores do irmão Stephen, que flertava com muitas mulheres. Também não era muito hábil em fazer a corte, embora já houvesse atraído algumas representantes do sexo oposto. Agora aquelas deficiências pareciam muito sérias e ele se perguntou o que seria preciso fazer para obter os favores de uma mulher, mais especificamente daquela mulher. A Fitzhugh ficou olhando para ele, sem sucesso tentando esconder o espanto. Depois fez uma careta. — Você é um de Burgh? — Geoffrey — ele disse, dominado por um absurdo desejo de ouvir o próprio nome pronunciado pelos lábios dela. Em vez disso, a mulher pronunciou uma sucessão de imprecações que deixariam assustado até mesmo Simon. — Eu devia ter percebido que se tratava de um embuste! — vociferou, fechando os dedos no cabo do longo punhal que tinha no cinto. Geoffrey franziu a testa ao ver a transformação que se operou nas feições da mulher, perguntando-se se o que vira antes era apenas uma máscara que escondia um poço de amargura. A aparência era atraente, mas ele precisava se lembrar da verdadeira natureza da fera. A Fitzhugh não era uma mulher comum. — Você deve ter ouvido falar que eu já fui casada — ela disse, com os olhos brilhando perigosamente. — Está querendo ter o mesmo destino dele? Geoffrey suspirou e balançou a cabeça ao ouvir a ameaça. Havia esperado sensibilizar a inteligência dela, mas talvez a Fitzhugh fosse mesmo um animal selvagem e sem mente, apesar das feições delicadas. — De nada lhe servirá tirar minha vida, minha lady, porque há cinco lá embaixo que podem tornar o meu lugar — ele argumentou. — Submeta-se. Aquelas palavras brandas, ditas com a intenção de confortá-la, pareceram deixá-la ainda mais enraivecida. — Submeter-me! Não me submeto a nada, de Burgh! Esteja avisado, meu lorde — ela advertiu, pronuncian do o título nobiliárquico como se estivesse rogando uma praga. Depois abaixou a cabeça e olhou para ele por entre os cabelos. — Casese comigo e lamentará amargamente o seu destino. Dito isso, passou por ele e abriu a porta num gesto cheio de violência, obrigando Geoffrey a se encostar na parede. Ele já se sentia como se houvesse passado a tarde participando de uma batalha e ainda teria que se casar com ela. Com sua língua afiada e seus modos rebeldes, aquela mulher o deixaria no mínimo exausto. Mas tentaria realmente matá-lo? Soltando um longo suspiro, Geoffrey ficou observando enquanto ela saía, fascinado pela forma como os longos cabelos balançavam. Aqueles cabelos cobririam um homem como uma manta, ele imaginou, logo afastando o pensamento idiota. A mulherzinha era uma assassina enlouquecida, não uma dama que merecesse admiração. Mesmo assim, havia alguma coisa nela, alguma coisa que ela escondia por trás daquela massa de cabelos, alguma coisa na espartana limpeza do quarto que não estava de acordo com a reputação da Fitzhugh. Geoffrey coçou a cabeça. Um homem erudito como ele devia solucionar o enigma como se estivesse resolvendo um problema de matemática. — Mas que bobagem! — resmungou, correndo atrás dela. Por mais perigosa e indomável que fosse a mulher, ele não a deixaria sozinha diante dos lobos que esperavam lá embaixo. CAPÍTULO II Elene Fitzhugh desceu rapidamente a escada, ansiosa para escapar do homem que a insultara. O jeito insinuante dele, embora fosse coisa nova para ela, não a enganaria nem um pouquinho. Geoffrey de Burgh era um homem e, como tal, não merecia confiança. Na verdade, pensou Elene, engolindo em seco, o futuro esposo dela era mais homem do que qualquer um outro que ela já tivesse visto. Era mais alto do que o pai dela, bem maior do que Walter Avery, que tinha sido um homem baixo e compacto, embora muito musculoso. Aquele de Burgh seria capaz de arremessar Walter para o alto, como uma criança faria com uma bola. Diabo. Ao inferno com os de Burgh! Ao inferno com o rei! Ao inferno com todos os homens que habitavam o mundo! A vida inteira Elene havia lutado contra eles, e agora, quando finalmente podia ter alguma coisa que pertenceria só a ela, queriam privá-la disso. Nunca conseguiriam, jurou a si mesma. Tinha sido informada da chegada deles, claro. Por isso havia buscado o refúgio do quarto, embora sou besse que eles não seriam enxotados com facilidade. Mas em nenhum momento havia chegado a pensar na possibilidade de que o homem fosse procurá-la pessoalmente. Outra coisa era surpreendente: seria natural ele abrir a porta com chutes, derrubá-la a machadadas, mas nunca bater. Tão de leve. Tão educadamente. Elene sacudiu a cabeça. Não deixaria que o desconcertante comportamento daquele de Burgh a impedisse de pensar direito. Obviamente o plano inicial destinado a mandá-los embora havia fracassado, mas ela ainda não se daria por vencida. Quando terminasse o que pretendia fazer com eles, de bom grado a família inteira sairia dali! Confiante, Elene entrou no salão, apenas para parar dois passos adiante, paralisada pelo que viu. Estavam ali mais do que cinco deles. Seis, pelo que ela contou. E todos, sem dúvida, parentes do que tinha ido ao quarto dela. Eram formidáveis

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cavaleiros de cabelos pretos, alguns até mais altos do que Geoffrey. E olhavam para ela com um misto de curiosidade e repulsa. Era um tipo de olhar a que Elene já estava acostumada, algo que a estimulava a entrar em ação. — O que estão olhando? — ela gritou. — Saiam e levem o outro com vocês! Não haverá nenhum casamento aqui! Então cuspiu no chão, bem diante deles, tendo a satisfação de ver seis pares de olhos se abaixarem para o local. Mas logo depois os mesmos olhos retornaram para ela e Elene recuou um passo. O mais alto dos de Burgh parecia positivamente um selvagem, e não era o único que merecia essa classificação. Um outro grandalhão estava resmungando palavrões, mas ela resolveu que não recuaria. A situação não era nova. O perigo sempre tinha sido uma presença constante na vida dela. Elene encarou os ameaçadores cavaleiros, recusando-se a demonstrar medo. Então sentiu no braço o toque de uma mão. Era Geoffrey, o tal que havia tentado subjugá-la usando voz macia e palavras educadas. Sacudindo o braço, Elene moveuse para o lado e levou a mão ao cabo do punhal. Estava pronta para tudo, mas para surpresa dela o cavaleiro simplesmente ignorou aquela postura belicosa e indicou os outros com um gesto. — Lady Fitzhugh, tenho a honra de lhe apresentar meu irmão mais velho, Dunstan, barão de Wessex. O gigante adiantou-se. Então era aquele o Lobo de Wessex! Mais parecia um predador. Com o semblante fechado Elene olhou para o homem que durante tanto tempo tinha sido inimigo mortal do pai dela. Logo depois, surpreendendo-a, ele se inclinou numa reverência, embora evidentemente não fizesse isso de bom grado. — Meus respeitos, lady Fitzhugh — disse, com os dentes trincados. Elene franziu a testa. Mas que disparate era aquele? Por que todos aqueles gestos de cortesia? Intrigada ela dirigiu a Geoffrey um olhar de espanto, mas ele parecia estar achando aquilo tudo muito certo, o que a deixou ainda mais desnorteada. Por acaso aqueles de Burgh eram malucos? Elene preparou-se para mais uma investida. — Não quero saber quem vocês são! — gritou. — Saiam da minha casa imediatamente! Não há nada para vocês aqui, seus abutres repulsivos. O Lobo adiantou-se, rosnando, evidentemente disposto a agredi-la. Elene preparou-se para a luta ou para a fuga, mas até aquele gigante parecia se sentir na obrigação de dar ouvidos a Geoffrey. — Dunstan, desculpe a minha noiva, por favor. Ela não está bem disposta. Aquelas palavras foram ditas sem que o homem alteasse a voz e Elene olhou para ele, boquiaberta. Por acaso estava diante de um lunático? Ela os havia agredido verbalmente, e ele agia como se isso não significasse nada! Por que não demonstrava revolta? E por que os outros não a atacavam? Elene sentiu uma onda de pânico. Só podia ser por causa do decreto idiota do rei que aqueles homens continuavam ali, ela pensou, enraivecida. Eles queriam as terras dela, embora fosse incompreensível os ricos e poderosos de Burgh demonstrarem interesse por uma propriedade tão pequena e pobre. Só havia uma explicação. Como todos os homens, queriam se apoderar do máximo possível de terras, sem pensar em mais nada. — Já que não faz questão de conhecer meus irmãos, deve estar ansiosa para que a cerimônia se realize — disse Geoffrey — Chamarei o padre para que providencie isso imediatamente. Ignorando os palavrões que ouviu como resposta, o homem estendeu a mão para ela. Então Elene emu deceu e ficou olhando para ele. Não se lembrava da última vez, em que fora tratada com cortesia, mesmo que fosse uma cortesia fingida. Depois de alguns instantes de perplexidade ela sacudiu a cabeça, recusando-se a se deixar iludir pelos gestos civilizados de Geoffrey de Burgh. Havia muitos tipos de serpentes no mundo, inclusive algumas que ela não conhecia. Aquele homem certamente estava nessa categoria, mas não conseguiria se intrometer na vida dela. Elene olhou para os outros e viu violência, a muito custo reprimida, e ódio, claramente exposto em alguns dos rostos. Mas não se deixaria intimidar e ergueu a cabeça, encarando-os. Conhecia bem homens daquele tipo. Talvez fosse melhor ter que lidar com um deles e não com o mais manhoso dos irmãos. Geoffrey continuava parado, com a mão estendida. Elene aproveitou aquela proximidade para examiná-lo mais atentamente. Reparou nos brilhantes cabelos castanhos, nos olhos da mesma cor, nas feições muito parecidas com as dos irmãos, embora bem mais tranqüilas. Surpresa, ela chegou à conclusão de que estava olhando para o mais bonito do grupo. Naturalmente aqueles homens não pensariam que ela ficaria impressionada com… com a beleza de Geoffrey de Burgh. A simples idéia chegava a ser ridícula, se não fosse tão assustadora. As pessoas não a tratavam como uma mulher nem lhe atribuíam sentimentos femininos, e ela certamente não queria que os de Burgh fizessem isso. — Por que você? — perguntou, olhando para Geoffrey. Antes de responder ele sorriu, mostrando uma fileira de dentes tão brancos como ela jamais vira. — Nós jogamos a sorte — respondeu o homem, dando de ombros. Ao ouvi-lo confessar com tanta naturalidade que se casaria com ela apenas por ter sido sorteado para isso, Elene sentiu uma ponta de medo. Aquele homem era mais perigoso do que os irmãos, por mais ameaçadores que eles parecessem. E agora ela se sentia acuada, sem ter para onde escapar, enquanto ele continuava com a mão estendida. Outra vez Elene olhou para os formidáveis cavaleiros. Estavam ali os famosos de Burgh. Não podiam ser tão estúpidos quanto pareciam e não seriam enxotados com facilidade. Teimosos miseráveis.

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Bem, ela podia ser igualmente teimosa. No momento, porém, só podia ganhar tempo até que surgisse alguma idéia. Depois de olhar com firmeza para cada um dos de Burgh, Elene ergueu a mão e a pôs com firmeza por cima da de Geoffrey. Pela primeira vez em muitos anos, porém, estava com os dedos trêmulos. Sentando-se, Geoffrey ficou olhando enquanto a esposa se movimentava incansavelmente pelo salão. Era como observar a poção de um alquimista, prestes a mudar de cor ou a pegar fogo. Há muito tempo que a mulher não demonstrava revolta, o que o deixava intrigado. Geoffrey ficou tão espantado quanto apreensivo com a capitulação dela. Naturalmente tinha sido a opção mais razoável, mas aquela não parecia ser uma mulher que obedecesse à razão. A Fitzhugh havia se submetido com muita facilidade, muito subitamente, e agora ele a via como uma fera selvagem que a qualquer momento podia se voltar contra o captor. Embora em geral fosse o mais paciente dos irmãos, Geoffrey via-se agora rezando para que a cerimônia se realizasse antes que a mulher tivesse uma nova explosão. Infelizmente nenhum casamento podia ser oficiado sem a presença de um padre, e o padre ainda não havia chegado. Serle tinha dito que havia um padre residente ali, encarregado de ministrar os sacramentos aos aldeãos e rezar missas na capela do castelo. Depois que o mordomo saiu à procura do religioso, Geoffrey esforçou-se para relaxar, mas não era fácil. Diabo. Onde podia estar o tal padre? A situação já estava complicada o suficiente sem que houvesse mais retardamentos. Assaltado por uma sombria suspeita, Geoffrey voltou-se vagarosamente para a noiva. Ela estava de costas para ele, olhando para fora por uma das compridas janelas. Então ele se levantou e, vagarosamente, foi se aproximando até chegar perto o suficiente para que eles pudessem conversar sem que os outros ouvissem. Finalmente inclinou-se e cochichou ao ouvido dela a pergunta que o levara até ali. — O que você fez com o padre? Ao ouvir a voz dele a mulher se voltou rapidamente e levou a mão ao punhal, num gesto do qual Geoffrey já estava farto. Bem que se sentia tentado a tomar aquela arma dela, mas não queria forçar tal confrontação. Procurando ser paciente, preferiu prestar atenção no que ela diria. — Que história é essa, de Burgh? — vociferou a mulher, recuando. — O padre — ele repetiu. — O que foi que você fez com o santo homem? — Não fiz nada com ele! — Se eu descobrir que você causou algum mal a um inocente ministro de Deus só para evitar esse casamento… — Vai fazer o quê? Mandará que seus irmãos me açoitem ou me matará, de Burgh? Acho melhor você não se preocupar com o santo homem, mas sim com o seu próprio destino. Agora ela gritava, chamando a atenção de todos. Geoffrey franziu a testa. O breve período de calma havia terminado. Ao ver que Simon havia se levantado e avançava, Geoffrey o deteve com um simples olhar. Depois massageou os olhos com a palma das mãos, tentando afugentar uma dor de cabeça que começava. A Fitzhugh não deixou de reparar naquele gesto. — Está sentindo dor, de Burgh? — inquiriu, num tom maldoso. — Deixe que eu prepare uma poção para minorar seu sofrimento. Sou muito hábil na combinação de certas ervas. — Aposto que é — respondeu Geoffrey, perguntando-se como podia ter achado bonita aquela mulher. Agora, por trás da massa de cabelos desgrenhados, ela parecia uma bruxa pronta para envenená-lo. E tinha a coragem de se vangloriar da sua habilidade com venenos! Aquilo fez com que ele se sentisse no meio de um pesadelo. — Isso é só o começo! — advertiu a Fitzhugh, como uma aldeã analfabeta que só conhecesse o refrão de uma única canção. — Escape enquanto é tempo, de Burgh. Geoffrey sentiu a cabeça latejar, mas recusou-se a perder o controle. — Ouça bem, garota presunçosa. Se acha que será mais bem tratada por um dos meus irmãos, pode fazer sua escolha! — disse, indicando os outros de Burgh, que estavam encostados na pesada mesa. Aquelas palavras foram pronunciadas antes que ele avaliasse o impacto que elas poderiam ter. Geof frey sentiu uma estranha agonia ao tentar imaginar qual seria a resposta dela. Mesmo assim obrigou-se a prosseguir. — Prefere algum outro? — perguntou, numa voz baixa, mas intensa. Depois olhou para os irmãos, todos belos e fortes, perguntando-se qual deles seria o ideal para a Fitzhugh. Nicholas era jovem demais e Dunstan já tinha esposa. O que dizer do despreocupado Robin, do quieto Reynold? Finalmente ele olhou para a futura esposa, desejando que ela respondesse logo e encerrasse o assunto. Mas a mulher não demonstrou pressa, como se achasse divertido fazê-lo esperar. Depois sacudiu a cabeça e fez uma careta horrenda. — Não, não quero nenhum deles — declarou. — Também não quero você! — É um sentimento mútuo! — respondeu Geoffrey, virando as costas para ela e cruzando os braços. Imediatamente ele se arrependeu daquela explosão infantil. Com ou sem dor de cabeça, não devia descer ao nível dela. O pai o havia criado para ser um homem honrado, um cavaleiro responsável, não um sujeitinho sem importância que brigasse por qualquer coisa. Quando pensava na melhor forma para lidar com aquela mulher, Geoffrey viu Serle entrando no salão. Finalmente! O otimismo desapareceu quando ele viu que o mordomo estava sozinho… e parecendo mais assustado do que nunca. — Onde está o padre? Serle ergueu as mãos e sacudiu a cabeça, desesperado.

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— Não o encontrei em nenhum lugar, meu lorde! Geoffrey ouviu os murmúrios dos irmãos, mas procurou se concentrar no mordomo. — Esse padre não sabia que tinha uma cerimônia para realizar? — Estou certo que sim, meu lorde. Todos nós sabíamos do seu projetado casamento com a senhora, mas não tínhamos idéia de quando se daria a sua chegada. O fato é que o padre desapareceu! Um dos servos disse que ele se recolheu para jejuar e orar. Geoffrey achou aquilo inacreditável. O inverno estava na metade. Que tipo de idiota iria para o meio da floresta? Então ele pressionou a região entre os olhos, onde a dor parecia ter se concentrado, e procurou falar com naturalidade. — Esse servo tem conhecimento do lugar para onde o padre foi? Serle balançou a cabeça e recuou, como se esperasse ser castigado. Muito provavelmente era esse o tratamento que recebia quando tinha Fitzhugh como senhor. Mas bastava olhar para a filha para saber do que Fitzhugh tinha sido capaz. Por Deus! Aquela mulher afugentava qualquer um… até mesmo um padre! E agora a cerimônia que ele queria tanto ver concluída teria que ser mais uma vez adiada, pelo menos até que o homem fosse encontrado. Geoffrey poderia ir procurá-lo pessoalmente, claro, mas não queria deixar a Fitzhugh sozinha com os irmãos dele. Aqueles rapazes pareciam ansiosos para usar de violência e alguém poderia morrer. Mais provavelmente a futura esposa dele. E, apesar das dúvidas que tinha acerca do futuro casamento, Geoffrey não se preocupava apenas com a possibilidade de encontrar a noiva morta quando retornasse. O fato seria um escândalo que mancharia a reputação dos de Burgh. Além disso, ele estava determinado a cumprir o decreto do rei, realizando o casamento. Sem querer pensar muito nos motivos que podia ter para tomar essa decisão, olhou para os irmãos. A pri meira idéia foi pedir a Dunstan que comandasse as buscas, mas não tinha o direito de atribuir tarefas ao futuro suserano. Depois olhou para Simon, que provavelmente era tão capaz, além de ser mais violento que o irmão mais velho. — Simon, será que você pode liderar um grupo de soldados para sair à procura do padre? — perguntou. Embora em geral o segundo dos filhos de Campion se mostrasse muito disposto a comandar expedições, naquela oportunidade a resposta não foi dada de imediato. Em vez de responder, Simon dirigiu à Fitzhugh um olhar ameaçador, como se a acusasse de ter assassinado o padre e escondido o corpo. Geoffrey suspirou, aborrecido por estar perdendo tanto tempo. Agora os irmãos dele diziam em murmúrios o que pensavam da única mulher presente. — Simon, junte alguns homens e vá à procura do sujeito — disse Dunstan, inesperadamente acorrendo em auxílio a Geoffrey. — Será mais rápido e mais fácil do que voltar a Wessex para trazer Aldwin. Dizendo isso ele lançou à Fitzhugh um olhar cheio de significação. Se ela pretendia mesmo se furtar a cumprir o decreto do rei, estava avisada. Havia outros padres e as práticas a que vinha recorrendo apenas protelariam o inevitável. — Está bem, eu irei — resmungou Simon. — Também irei — dispôs-se Robin, pondo-se de pé. — Quero muito conhecer suas terras, Geoff. — Eu também. — declarou Nicholas. Geoffrey viu que a Fitzhugh se voltava prontamente ao ouvir aquelas palavras, mas ela não fez nenhum protesto enquanto Simon saía, seguido por Robin e pelo jovem Nicholas. — Os outros fiquem aqui — recomendou Dunstan, de olho na Fitzhugh, o que deixou Geoffrey ressentido. Por acaso os irmãos achavam que ele era incapaz de lidar com a mulher? Até aquele momento, havia obtido melhores resultados apenas com argumentos e bons modos do que eles conseguiriam com suas mãos pesadas e suas espadas. Por acaso pretendiam protegê-lo indefinidamente? Planejavam acompanhá-lo ao banheiro, à cama quando fosse dormir? Continuariam a tratá-lo como um idiota que precisava ser protegido da própria esposa? Controlando-se para não dizer exatamente o que estava pensando, Geoffrey olhou para o irmão mais velho. — Se mais homens forem, mais rapidamente a tarefa será realizada — argumentou, procurando falar com naturalidade. Embora parecendo pouco à vontade, Dunstan sustentou o olhar dele. — Acho que não devemos nos dividir, porque ela pode ter preparado uma armadilha. Uma armadilha? Geoffrey voltou-se para a Fitzhugh e viu que ela os observava com um olhar demoníaco. — Não confia nos soldados aquartelados aqui? — perguntou, dirigindo-se outra vez a Dunstan. — Atualmente não confio em ninguém, Geoff, menos ainda nos homens do meu inimigo. — Mas Fitzhugh está morto, a guerra dele contra você terminou há meses. Embora muitos dos que agora serviam naquele castelo houvessem lutado contra Wessex sob as ordens de Fitzhugh, com a morte dele a filha havia desistido das hostilidades. E, desde então, não demonstrava interesse em combater o inimigo… mas podia estar pensando em assassinar Dunstan e seus irmãos ali mesmo, no salão do castelo. O pensamento não havia passado pela cabeça de Geoffrey, mas agora ele via que era uma coisa perfeitamente possível. Tinha sido ingênuo por não ver a oportunidade de vingança que o projetado casamento oferecia à noiva. Ah, como tinha sido idiota. Logo ele, que se achava possuidor de grandes conhecimentos. Quando olhou para os irmãos presentes, Geoffrey viu que eles desviavam o rosto. Até mesmo Stephen, que raramente se afastava do copo de vinho para pensar em algo mais sério, parecia estar ciente do risco que eles corriam. — Dificilmente existem aqui homens em número suficiente para nos ameaçar, Geoff — apressou-se em dizer Dunstan. — Mesmo assim, acho melhor termos cautela. — Sim, claro — concordou Geoffrey, engolindo o ressentimento.

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Dunstan havia aprendido a ser vigilante da forma mais difícil, traído por um homem que se fazia passar por amigo. Não podia ser censurado por ser cauteloso. A recepção que eles tinham tido e o desaparecimento do padre reforçavam esse pensamento. Outra vez Geoffrey dirigiu a atenção para o objeto das suspeitas deles. Através do véu de cabelos, ela os fitava com um ar ameaçador. Depois de respirar fundo ele se aproximou. — Isso é mesmo um embuste, senhora? Está pensando em derrotar Wessex? — Não repetirei a tolice do meu pai — respondeu a mulher, com rispidez. — Quero apenas ser deixada em paz! — No momento não posso realizar esse seu desejo. No entanto, tão logo o padre for encontrado e nós nos casarmos, prometo que não será perturbada. — Não se dê ao trabalho de mentir para mim, de Burgh. Sua falsidade me enoja! — Bem, procure agüentar até depois da cerimônia. Geoffrey sorriu quando viu a reação da mulher ao que ele acabava de dizer. Ela evidentemente não havia esperado ouvir aquilo e agora fazia uma expressão quase cômica, tornando difícil acreditar nas suspeitas de Dunstan. Então ele se aproximou da janela e gritou para fora, embora continuando a olhar para ela. — Apresse-se, Simon. Encontre logo o padre, porque lady Fitzhugh está ansiosa para se casar comigo. A mesa estava sendo arrumada para o jantar e a noite começava a cair quando o grupo de buscas retornou, Nicholas vindo na frente para dar a boa notícia. — Nós o encontramos, Geoff, escondido numa caverna! — gritou o mais jovem dos de Burgh. — Numa caverna? — espantou-se Geoffrey. Era inacreditável alguém querer deixar o calor daquelas paredes para se enfiar numa caverna em pleno inverno. Bem, os homens santos às vezes surpreendiam com suas penitências. Faziam votos que uma pessoa normal dificilmente cumpriria, como o da castidade. Geoffrey olhou para a Fitzhugh, que estava a um canto, amuada. Naquela noite não seria difícil para ele abdicar da luxúria. — Sim, numa caverna — confirmou Simon. — Havia várias cavernas na rocha. — Acho que ele escolheu aquela por causa da saliência rochosa em cima. Olhando-se de perto, parecia uma cruz. Simon resmungou alguma coisa, obviamente intrigado com o capricho na natureza descrito por Nicholas. — Venha cá — disse, voltando-se para os que estavam logo atrás. Quando ele se moveu, Geoffrey viu que entre Robin e o nervoso Serle estava um sujeito alto usando vestes sacerdotais. Os cabelos do homem eram abundantes e brancos. — Este é Edred — apresentou Robin, olhando com curiosidade para o religioso. — Muito prazer, Edred — disse Geoffrey, fazendo um cumprimento de cabeça. — Parece que você não escolheu uma boa hora para fazer o seu retiro espiritual, porque precisávamos muito da sua presença aqui. Quero que realize a cerimônia o mais rapidamente possível, porque o jantar está servido e nós todos estamos cansados depois da longa viagem. — Que cerimônia, meu lorde? — perguntou o padre. Geoffrey teria considerado aquilo uma insolência se a expressão do homem não fosse tão serena. Talvez se tratasse de um retardado. Que outro tipo de pessoa permaneceria com os Fitzhugh? — O casamento — respondeu Geoffrey, depois de suspirar. — Lady Fitzhugh e eu vamos nos casar. — Não — negou-se, o sacerdote, balançando a cabeça solenemente. — Isso não pode ser feito. Fez-se um instante de espantado silêncio. Depois soou o coro de protestos, todos os de Burgh falando ao mesmo tempo. Reynold fez o sinal da cruz enquanto Stephen soltava uma gargalhada. Geoffrey procurou ignorar aquelas reações, achando que talvez Edred não houvesse entendido as palavras dele. — Eu vou me casar com lady Fitzhugh e você oficiará a cerimônia — disse, pausadamente, olhando para os pálidos olhos do religioso. — Sem dúvida você tinha conhecimento do decreto do rei determinando a realização desse casamento. Ou não tinha? O padre permaneceu impassível. — Não posso ligar essa mulher a nenhum homem. Perplexo, Geoffrey voltou-se para a Fitzhugh, que mostrava um diabólico sorriso de vitória. Pelo menos os dentes eram bons, ele pensou, antes de retornar a atenção para Edred. — Mas por quê? — perguntou, sentindo voltar a dor de cabeça. — Por quê? Está me perguntando por quê? — Agora a voz do religioso ressoava no salão, silenciando os de Burgh. — Porque ela foi gerada por Satanás, não serve para se ligar a um homem. Geoffrey ficou boquiaberto. — Todas as mulheres são pecadoras de nascimento, mas essa criatura está entre as da pior espécie, é um instrumento do demônio! — prosseguiu Edred. — Não se importa com o que aconteceu ao último cavaleiro que a tomou como esposa, meu lorde? Observe com atenção as lições dos que o antecederam! Só com a intervenção do próprio Deus essa mulher se afastará do pecado. Chocado, Geoffrey olhou para a Fitzhugh, cuja expressão obstinada parecia confirmar as palavras do padre. Por um momento ele se perguntou se a mulher não havia instruído Edred para dizer aqueles absurdos, mas ela não parecia muito à vontade com o triunfo. E um olhar mais cuidadoso nos olhos do padre confirmou que ele estava convicto do que dizia.

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Suspirando, Geoffrey massageou as têmporas com os dedos, tomando a decisão de substituir Edred logo que possível. Mas precisava de um padre imediatamente. — Compreendo suas reservas, mas a união foi determinada pelo próprio soberano — ponderou. Impaciente, Dunstan adiantou-se três passos. — Como barão de Wessex e cavaleiro devidamente armado para fazer cumprir as determinações do rei Edward, ordeno que você presida imediatamente a cerimônia desse casamento. Edred empalideceu, mas mesmo assim Geoffrey achou que ele continuaria se recusando. Até que Dunstan levou a mão à espada. Quando os cinco outros de Burgh fizeram o mesmo gesto, o padre engoliu em seco, o amor à pele obviamente superando suas estranhas crenças. — Pois muito bem, mas estou avisando. Esse casamento será amaldiçoado, como você também será, Geoffrey de Burgh, se resolver fornicar com a filha do demônio. Geoffrey perdeu a paciência. Não era de admirar a Fitzhugh ser uma pessoa tão amarga e detestável. Que menina não se tornaria uma mulher assim depois de ter sido educada por um padre como aquele? Ainda mais sendo filha de um homem que atacava o vizinho sem ser provocado? Então ele avançou e agarrou na parte frontal do hábito de Edred, erguendo-o um palmo do chão. — Não. Eu estou avisando. Você não dirá mais nenhuma palavra contra a minha futura esposa, ou mandarei expulsá-lo daqui. Está entendendo? Outra vez o homem engoliu em seco antes de sacudir afirmativamente a cabeça, com os olhos muito abertos. — Ótimo. Agora ande logo com isso. Geoffrey soltou-o e caminhou até onde estava a Fitzhugh, que o observava como se estivesse vendo um louco. Bem, ele nunca havia ameaçado um padre, mas não permitiria que ninguém falasse mal dela. Dentro de poucos minutos assumiria o controle daquela propriedade e providenciaria para que muita coisa mudasse ali. Assim determinado ele chegou bem perto da noiva e respirou fundo… para ter uma enorme surpresa. Ela era limpa. O cheiro que vinha daqueles cabelos era agradavelmente limpo e feminino, levemente temperado por uma fragrância de almíscar. Sentindo o coração acelerado, Geoffrey ocupou-se em examinar a vasta cabeleira da noiva, que não tinham a tonalidade acastanhada que ele havia pensado antes. Na verdade os cabelos eram bem mais escuros, quase pretos. Vibrantes. E ele não conseguia desviar os olhos. Até que ela virou o rosto para encará-lo. — Está olhando o quê? — inquiriu, bem na hora em que Edred começava a falar. Por um momento a fascinação de Geoffrey desapareceu, porque a expressão dela parecia confirmar a opinião do padre. Edred franziu a testa ao ser interrompido, mas prosseguiu. Geoffrey olhou rapidamente para os irmãos, que pareciam apreensivos com a união que testemunhavam. Pela primeira vez se sentiu o mais corajoso dos filhos do conde de Campion, grato também pelos vastos co nhecimentos que dominava. Um simples olhar em volta daquele antigo salão, a escuridão imperando lá fora e ali dentro existindo abundância de maus presságios, tudo isso já bastava para deter o mais bravo dos homens. Inspirava pensamentos de magia negra, morte e destruição. Quando alguns dos de Burgh presentes fizeram o sinal da cruz, Geoffrey soltou um suspiro. Considerando tudo, aquilo não era um bom presságio para a noite de casamento dele. CAPÍTULO III A noite passou muito rapidamente, como tinha sido a previsão de Elene. Ela havia ingerido um pouco de vinho, esperando que a bebida deixasse entorpecido o sistema nervoso, mas isso só serviu para deixá-la com o estômago embrulhado. Agora que o casamento estava feito, não podia fazer nada além de observar e esperar. Então olhou com desprezo para as mesas armadas sobre cavaletes, onde os de Burgh permaneciam, aten tos e cautelosos, como sempre. O que havia com aqueles homens, afinal? Não bebiam avidamente cerveja, até ficarem bêbados, como outros homens faziam. Ela havia mandado servir tudo com fartura, esperando que eles comessem e bebessem até o estupor, mas, com ou sem hospitalidade, nada parecia ter o condão de fazer com que aqueles homens abaixassem a guarda. Criaturas esquisitas! Na maior parte do tempo, pareciam grandes guerreiros e agiam como monges… todos menos o que se chamava Stephen. Esse ingeria uma razoável quantidade de bebida, era como os outros homens que Elene conhecia. E ela podia ver nos olhos dele o desgosto de uma alma insatisfeita, de alguém que não se sentia à vontade naquele tipo de vida. Os outros, porém, agiam com uma arrogância que desafiava todos os esforços dela. Em vez de cochilar em seus assentos ou passar a mão nas criadas, estavam sempre vigilantes, principalmente o Lobo. Em mais de uma ocasião Elene o surpreendera a observá-la, os olhos verdes parecendo transmitir ódio e ameaças. Mas o formidável cavaleiro não dizia nada, porque Geoffrey já havia deixado claro que ninguém devia molestá-la. Ela até se divertiria com isso, não tivesse a advertência dele a Edred sido feita de forma tão enfática. Para um homem que se movimentava sem pressa, calmamente, parecendo cultivar a paciência de um santo, Geoffrey de Burgh a deixara assustada com aquela explosão de raiva, quase agredindo o ministro de Deus. Isso levava à conclusão de que se tratava de um homem de grande fortaleza, embora ele procurasse camuflar isso com a voz macia e os gestos corteses. Era inteligente, muito mais do que os irmãos, porque buscava confundi-la com um comportamento bem pouco comum. Assumia a defesa dela. Tratava-a com polidez. Provocava estranhas reações nela. Elene enrubesceu. A princípio havia ficado

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apenas surpresa com as próprias reações quando via o sorriso ou o brilho des olhos castanhos daquele homem. Agora sabia que devia se proteger contra todo aquele… charme. Elene franziu a testa. Não se deixaria dominar pelas artimanhas de Geoffrey de Burgh. Muito certamente as mulheres se derretiam diante dele, mas ela era imune àquela… tolice feminina. Não cairia na armadilha dele. Enraivecida, Elene chutou um pequeno tamborete, fazendo-o correr por cima das lajotas do assoalho. Tome, de Burgh, bem nos seus dentes perfeitos, resmungou, em silêncio. — Lady Elene. Erguendo os olhos, Elene achou engraçado o jeito cauteloso com que Serle se aproximava. Embora não tivesse mais de quarenta anos, o mordomo parecia mais idoso, por causa da baixa estatura e da vasta calva. Baixinho mas não frágil, o homem tinha o olhar maldoso tão comum às pessoas que habitavam aquela casa. Elene o teria despedido se acreditasse um pouco mais na própria habilidade para administrar o castelo. A dificuldade que encontrava nisso a irritava tanto quanto a presença de Serle. — O que quer? — ela despachou. O homem juntou as sobrancelhas. Embora acostumado a ser tratado com rudeza pelo pai dela, Serle não demonstrava a mesma submissão quando as grosserias partiam de Elene. Também não a adulava de forma convincente. — Vim lhe falar para… para lhe pedir que se comporte. Comportar-se? O pequeno mordomo estava tendo a petulância de repreendê-la! Elene abaixou a cabeça e dirigiu a ele um olhar tão enraivecido que o fez recuar. — É que eu… não gostaria nada de ver… outra pessoa dando as ordens no castelo Fitzhugh — gaguejou Serle. Embora ele se esforçasse muito para se mostrar preocupado com a posição dela, Elene percebeu que na verdade o homem estava com medo de perder o cargo que ocupava. Então ela riu, o que fez Serle enrubescer. — Pelo bem de todos nós, lady Elene, procure usar a inteligência. Uma coisa é matar um cavaleiro sem ter ras e sem prestígio que a obrigou a se casar com ele, mas tirar a vida de um de Burgh, de um homem que recebeu do próprio rei a incumbência de desposá-la… Elene fez uma careta. Ela própria havia pensado muito sobre aquilo ao ser notificada da decisão real. Edward não voltaria a ser complacente e isso a obrigara a concordar com aquela união absurda. Por outro lado, havia jurado que nunca mais deixaria que um homem a usasse. Como sair do dilema? Por algum tempo ela ficou com a mente ocupada naqueles pensamentos, até ver que era alvo do olhar atento de Serle. Então voltou-se para ele. — Suma daqui! — gritou, fechando os dedos no cabo do punhal. Era o mesmo punhal que havia matado Walter Avery e empunhá-lo sempre dava uma sensação de segurança. Serle fez uma reverência e recuou rapidamente, mas Elene sentiu a aproximação de outra pessoa. Por um momento ficou imobilizada, dominada pelo poder daquela presença. Aquele estranho poder de Geoffrey de Burgh era um mistério para ela. Ele era um mistério, um poderoso desconhecido do qual ela devia se proteger. — Algum problema, Elene? — perguntou o recém chegado, em sua voz calma. Elene torceu a boca, irritada com o tom casual com que ele pronunciava o primeiro nome dela. Desde a cerimônia de casamento que a tratava assim, algo que ninguém fazia desde a morte da mãe dela. Ainda com a mão no punhal ela fez uma cara de poucos amigos. — Isso não é da sua conta, de Burgh. A expressão dele mostrou uma leve mudança, algo difícil de interpretar, mas que dava a impressão de que iria contestar o que ela acabava de dizer. Geoffrey de Burgh era agora o marido dela e os homens sempre gostavam de ostentar o poder que tinham sobre a esposa. No entanto ele apenas suspirou, como se estivesse cansado. Talvez ainda estivesse com dor de cabeça. Ao pensar nessa possibilidade ela sorriu. — É hora de nos recolhermos, Elene — ele disse. O sorriso dela desapareceu. — Se está cansado, de Burgh, vá procurar uma cama. Eu ficarei aqui. — Não. Elene fitou-o, surpresa, principalmente porque a voz dele tinha um calor pouco comum. Como ele ousava contestá-la? Elene abriu a boca para repreendê-lo, mas ele chegou mais perto e retomou a palavra, falando num tom muito baixo. — Continuaremos nossa discussão lá em cima, longe de ouvidos curiosos. Acho que será vantajoso para nós dois fazermos com que todos acreditem que este é um casamento de verdade. Elene não respondeu logo, tomada de surpresa. A sugestão parecia razoável, mas o instinto de autopre servação recomendava não acreditar nele… nem em nenhum outro homem. Embora não fosse o mais alto dos irmãos, Geoffrey de Burgh superava em estatura e músculos a maioria dos homens que ela conhecia. Outra vez Elene pôs a mão no cabo do punhal. Sentiu que os criados presentes demonstravam solidariedade, enquanto os de Burgh… os de Burgh apenas observavam e esperavam. — Vamos, então — ela disse, finalmente. Ainda não sabia o que devia fazer. Fosse o que fosse, porém, seria melhor fazê-lo longe dos olhos daqueles homens. — Primeiro entregue-me o punhal. Não vai precisar dele, Elene.

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O tom de voz de Geoffrey era brando, a voz que um homem usaria para acalmar uma fera selvagem ou domar um cavalo bravio. Mas não era o caso dela e Elene soltou uma gargalhada na cara dele. — O punhal, Elene. Geoffrey estendeu a mão, com a palma voltada para cima, e ela sentiu sede de sangue. Logo depois estreme ceu. Mas o que estava acontecendo? Estaria ela ficando igual ao pai? A mente sentia necessidade de reflexão, mas o corpo queria entrar em ação imediatamente… buscar proteção antes que fosse tarde demais. Geoffrey inclinou-se para o lado dela. — Deixe bem clara a sua submissão — cochichou. — Do contrário, meus irmãos nos seguirão até o quarto. Elene abriu e fechou os olhos várias vezes. Por um momento havia pensado que os demônios a que Edred havia se referido de fato a possuíssem, mas agora não estava mais com essa sensação. Então suspirou e recuou um passo. — Tome, então! Não preciso de nenhuma arma para lidar com tipos como você! Não estaria desarmada e poderia deixar aquele pobre coitado pensar que havia levado a melhor. Elene retirou punhal da bainha e jogou-o no chão. Em vez de chamar um dos servos, Geoffrey foi recolhê-lo pessoalmente. Depois de entregar a arma a um dos irmãos, retornou até onde ela estava e outra vez estendeu a mão. — Vamos. Por alguns instantes Elene ficou olhando para aquela mão grande que irradiava calor. Geoffrey de Burgh ficou esperando, como se tivesse a paciência de Jó, até que ela finalmente soltou um suspiro de raiva. Era melhor concordar logo, ou eles ficariam ali a noite toda. Pondo a mão sobre e dele, Elene se deixou conduzir para a escada. A mão do homem era quente e seca. Segurava a dela sem fazer força enquanto eles subiam os degraus. No corredor do primeiro andar, Geoffrey empurrou uma porta e Elene recuou. — Este não é o meu quarto! Solte-me, de Burgh. Geoffrey obedeceu imediatamente e ela teria caído para trás se ele não a amparasse. Irritada, Elene sa cudiu os ombros para se livrar daquelas mãos. — Mandei que os servos preparassem este quarto — ele explicou. — Não vou ficar aqui. Geoffrey suspirou e ergueu a mão para coçar o nariz. Um nariz muito bem desenhado. — Entre. Depois conversaremos. Mentiroso! Então ele achava que a convenceria a passar ali uma noite de amor? Elene riu e entrou, pensando apenas no punhal que levava preso à coxa, por baixo das roupas. Depois de entrar ela atravessou o quarto e encostou-se à parede, preparada para lutar, se necessário fosse. Para surpresa dela, Geoffrey apenas caminhou até a cama e sentou-se, usando a palma das mãos para massagear os olhos. Depois, sem ao menos se dar ao trabalho de olhar para ela, voltou a falar. — Acho que você tem outra arma escondida em algum lugar — disse, o que a fez conter a respiração. — De outra forma não teria se submetido tão facilmente. Por acaso ele a revistaria? Poria as mãos nela? Uma onda de raiva a dominou, mas o homem não fez nenhum movimento ameaçador. Em vez disso, jogou para trás a cabeça, tirando do rosto os cabelos escuros. Depois mostrou um meio sorriso. — Vou deixar que fique com ela e me deitarei ali no chão. Em troca, espero que você não cometa nenhuma tolice, nesta ou em qualquer outra noite. Olhando nos profundos olhos castanhos do marido, Elene recuou e se encostou mais na parede, sem querer acreditar na paciência de que estava sendo testemunha. Era uma ilusão, sem dúvida. Talvez aquele de Burgh fosse o feiticeiro da família. — Ainda não consegui entender o que a levou a cometer um assassinato neste quarto — ele disse. — Mas sei que Walter Avery era um cavaleiro da mais baixa categoria, um homem que trairia o próprio se nhor se pudesse ganhar dinheiro com isso. Embora não ache correta a forma como ele foi morto, não vou julgá-la por isso. Julgá-la? Mas que conversa era aquela? Elene não conhecia nenhum outro homem que dissesse tantas coisas com tão poucas palavras. — Só quero lembrá-la de que me casei com você por causa da determinação do rei, que não estará disposto a perdoá-la novamente se suas mãos se sujarem de sangue mais uma vez. Você pode ser uma mulher tem peramental, mas não acredito que seja estúpida, Elene. Não deixe que sua aversão pelo casamento a leve a cometer alguma insanidade. Elene ficou observando enquanto ele erguia o corpo de cerca de um metro e noventa e se ocupava em arrumar a cama no chão. Depois Geoffrey de Burgh se deitou ali, inteiramente vestido, e passou os braços por baixo da cabeça, como se não tivesse nenhuma preocupação na vida. Finalmente, e bem diante dos olhos dela, cerrou as pálpebras como se estivesse usu fruindo de um merecido repouso. Mas que absurdo era aquele? Estaria ele pensando que a havia convencido a ser dócil? Há! O homem não fazia idéia do que uma Fitzhugh era capaz. Elene caminhou para a cama, mas sem nenhuma intenção de dormir. Se adormecesse, muito certamente despertaria apenas para constatar que o segundo punhal havia desaparecido e o cretino estava em cima dela. Pensando no peso dele, Elene estremeceu e olhou-o com raiva. Geoffrey não deu mostras de ter reparado naquilo.

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Bem, ela também não daria nenhuma pista do que estava pretendendo. Deitou-se na cama sem tirar nenhuma das roupas e cobriu-se com uma pesada pele. Virando-se de lado, para poder ficar de olho nele, segurou no cabo do punhal preso à coxa, por baixo da túnica. Assim ficou esperando. Geoffrey manteve a fingida postura de despreocupação, esforçando-se para relaxar os músculos e respirar pausadamente, mas permanecendo alerta. Apesar das palavras dóceis com que havia se dirigido à esposa, não tinha a menor intenção de relaxar a guarda. Pretendia continuar vivo e não permitiria que a demoníaca mulher lhe cortasse a garganta durante o sono. O fogo aceso na lareira proporcionava luz suficiente para que ele visse o brilho de uma lâmina, caso ela tentasse atacá-lo, e os ouvidos sensíveis o alertariam da aproximação dela. A tensão foi diminuindo à medida que os minutos iam passando e ele concentrou a mente nos acontecimentos do dia. Embora tivesse conseguido tirar o melhor de uma situação ruim, impedindo que os irmãos e a esposa entrassem em choque, agora sentia o coração apertado. Desde a chegada deles, tinha estado ocupado demais para pensar na própria sorte, mas agora tudo estava muito claro. Na noite de núpcias, ele se via obrigado a se deitar no chão, permanecendo acordado. Então amaldiçoou o azar que o havia deixado com aquele graveto na mão. Sem dúvida qualquer um outro dos irmãos seria mais indicado para cumprir o decreto do rei, já que nenhum deles possuía no coração o mais remoto traço de romantismo. Geoffrey suspirou, tentando se convencer de que devia se conformar com o destino. Pelo menos não havia nenhuma outra mulher com quem ele quisesse se casar. Tinha levado para a cama várias delas, mas sem encontrar nenhuma que o inspirasse a tomá-la como esposa. Mesmo assim, muitas vezes vira-se tentando imaginar como poderia ser tal mulher. Conteve a res piração quando pensou na que era quase a personificação do ideal dele. Aisley de Laci. Tinha estado uma vez com a herdeira, uma mulher belíssima, brilhante como uma estrela, além de calma e inteligente. Elegante e de fala tranqüila. Inatingível. Geoffrey imaginou-se enlaçado pelos alvos e quentes membros dela, afundando o rosto nos loiros e finos cabelos, mas pouco a pouco aquela visão foi mudando. Em vez de loiros, os cabelos agora tinham diferentes tonalidades de castanho, eram longos e incrivelmente abundantes. Enraivecido consigo mesmo, Geoffrey vi rou-se de lado, procurando expulsar da mente aquela imagem. Seria uma longa noite. Geoffrey levou um susto ao despertar, mas não fez nenhum barulho, permanecendo imóvel e mantendo as pálpebras cerradas. Deus do céu! Havia dormido! Era muita sorte ainda estar inteiro. Embora a luz da manhã começasse a entrar pela apertada janela, o quarto estava em silêncio, ouvindo-se apenas o cadenciado som de respiração que vinha da cama, a alguns passos de onde ele estava. Teria Elene adormecido também? Bem devagar ele sentou-se e olhou para a cama. Não percebeu nenhum movimento e levantou-se em silêncio. Depois de flexionar os músculos, que sempre protestavam quando ele era obrigado a se deitar num lugar duro, caminhou até onde estava a esposa, inteiramente vestida no meio das cobertas. Que noite de núpcias. Inclinando-se, Geoffrey verificou que ela estava dormindo mesmo. Era a primeira oportunidade dele para examiná-la sem que ela estivesse prevenida. Espalhados, os cabelos pareciam um cobertor aberto à volta dela. Aqueles cabelos faziam com que ele pensasse em temperos exóticos e caros, como gengibre. Não, pimenta. Canela! Era isso mesmo o que ela lembrava. Sentindo uma vontade muito grande de tocar naquelas tentadoras madeixas, Geoffrey obrigou-se a olhar para o rosto dela e teve uma enorme surpresa. Agora os cabelos estavam bem espalhados e ele podia vê-la, vê-la de verdade pela primeira vez. A impressão inicial não tinha sido errada. Ela era linda. Cachos de cabelos escuros repousavam nas faces levemente curvadas, alguns chegando perto do queixo rebelde. O nariz era afilado e atrevido e a pele tinha a alvura do leite. Geoffrey sentiu o coração bater mais depressa. Seria aquela pele macia ao toque? Os dedos ansiavam por buscar uma resposta e ele teria cedido à tentação se ela subitamente não tivesse projetado a cabeça para cima. No instante seguinte Geoffrey sentiu se encostar na garganta dele uma pequena lâmina. — Saia de cima de mim, de Burgh! — ela vociferou. O rosto que segundos antes ele havia considerado tão belo estava agora contorcido de tal forma que Geoffrey se perguntou se não havia apenas imaginado a beleza que queria ver na esposa, algo bem diferente da feia realidade. — Não estou em cima de você, Elene — ele disse, com enfado na voz. O futuro não se revelava animador. Pelo resto da vida ele teria batalhas infindáveis, ameaças e brigas em público. Geoffrey suspirou e começou a se afastar, enquanto ela corria para se encostar na parede, gritando ameaças. Sem querer ouvir, ele marchou para a porta e saiu. A paz e a tranqüilidade eram coisas tão desejadas quando difíceis de atingir. Talvez conseguisse um pouco procurando a solidão. Antes, porém, ele teria que se despedir dos irmãos, o que não faria com satisfação. Geoffrey estava quase no fim da escada quando se deu conta de que não havia trocado de roupa. Parou num dos últimos degraus, sem querer deixar que os irmãos tirassem a conclusão correta quando o vissem vestido da mesma forma que no dia

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anterior. Pensou em voltar ao quarto, mas a certeza de que se veria outra vez naquela manhã diante de Elene o fez mudar de idéia. Seria melhor enfrentar os irmãos. Antes de dar outro passo, porém, Geoffrey ouviu o próprio nome pronunciado por Simon e hesitou. Sentiu um certo constrangimento por estar ouvindo a conversa alheia, mas achou melhor não entrar no salão quando era dele que se estava falando ali. Assim sendo, resolveu esperar. . — Se ele não descer logo, acho que devemos ir até lá para ver o que está acontecendo. Ela pode muito bem ter cortado a garganta dele e fugido pela janela durante a noite. — Impossível — discordou Dunstan. — Deixei um soldado de sentinela bem abaixo da janela. Geoffrey sentiu uma onda de revolta quando ouviu aquilo. Estando na própria casa, era ele quem devia dar as ordens. E não havia mandado que ninguém ficasse de guarda. — E eu passei a noite toda no lado de fora da porta, como você mandou — disse Nicholas. — Não ouvi gri tos, nenhum barulho. — Mas o que estava esperando? — perguntou Stephen, com riso na voz. — Não pode ter pensado que o pobre Geoff iria tentar alguma coisa. Aquela bruxa é a criatura mais horrorosa que eu já vi. Nem mesmo um cego ficaria com vontade de… — Chega! — gritou Dunstan. No silêncio que se fez, Geoffrey ficou enraivecido com a intervenção não autorizada dos irmãos e com os insultos de Stephen. Afinal de contas, Elene não era uma mulher feia de se olhar! — Pobre Geoff — murmurou Robin. — Aqueles cabelos! — voltou a falar Stephen, seguindo-se murmúrios de concordância. Elene devia se cuidar melhor, claro, mas talvez não tivesse nenhuma criada que pudesse ajudá-la a lidar com os longos cabelos. Bem tratada, aquela cabeleira seria belíssima, como já era o rosto. Embora não sendo de uma beleza clássica, as feições dela eram bonitas e os olhos negros chamavam atenção. Será que eles não conseguiam ver o que tinham bem diante do nariz? E como podiam falar mal de uma pessoa que nem conheciam direito? Por acaso algum deles já havia falado com ela? Agora os irmãos dele pareciam pessoas intrometidas e insensíveis que houvessem ultrapassado todos os limites. Geoffrey respirou fundo e entrou no salão, decidido a ordenar a partida deles. Imediatamente se sentiu foco de todos os olhares. Evidentemente os irmãos estavam se perguntado se ele havia escutado alguma coisa da conversa, bem como buscavam sinais do que a esposa dele podia ter feito. Geoffrey forçou um sorriso. — Como vocês podem ver, estou vivo. Assim sendo, não preciso mais de babás para tomar conta de mim — disse, correndo os olhos pela mesa, onde se viam migalhas de pão e canecas de cerveja vazias. — É bom ver que vocês já quebraram o jejum. Portanto, podem partir imediatamente. Seis rostos demonstraram espanto, cinco deles se voltando para Dunstan. — Mas eu pensei que… — começou Nicholas, calando-se ao ver que os outros aguardavam o pronunciamento do irmão mais velho. Geoffrey também voltou os olhos para o Lobo. — Geoff, você já viu como são as acomodações aqui — disse Dunstan, parecendo pouco à vontade. — Em bora eu não diga que o castelo de Wessex seja luxuoso, ele é maior… e bem mais limpo. Na minha opinião, você deveria ficar conosco. — E a minha esposa? — inquiriu Geoffrey, com firmeza. Embora estivesse com o orgulho ferido, ele ainda não havia perdido a honra. Sabia o que devia fazer. Dunstan mostrou-se ainda mais constrangido e Geoffrey adivinhou qual seria a resposta. Todos ali esperavam que ele abandonasse a esposa para ir viver com o irmão! A expressão dura que ele fez deve ter dado uma idéia do que estava pensando, porque Dunstan se apressou em falar. — Isso é muito comum, Geoff. Mesmo pessoas menos nobres se habituam a viver no castelo de seu suserano. Como meu irmão, você seria duplamente bem-vindo. Geoffrey não duvidava disso, mas sabia também que a presença da esposa dele seria tão malvista quanto ele seria bemvindo. Embora não dito claramente, isso estava implícito nas palavras do Lobo, bem como as razões que ele tinha para ser cauteloso. Dunstan tinha a obrigação de proteger Marion contra a louca com quem o irmão havia se casado. No entanto, uma noite de sono havia servido para que Geoffrey pensasse com mais calma na situação. Até aquele momento Elene não tinha feito nada mais grave do que gritar alguns palavrões e deixar de pentear os cabelos. Ele se achava na obrigação de reconhecer isso. E não pretendia abandonar aquela propriedade. O lugar não encantava os irmãos, mas era dele. Qual dos outros de Burgh, excetuando-se Dunstan, era dono de um lugar mais valioso? O conde de Campion esperaria que o filho cumprisse com o seu dever, e era justamente para isso que ele ficaria ali. Repararia os males causados por Fitzhugh a seu povo, melhoraria as condições de vida das pessoas do lugar, procuraria estabelecer a paz com a difícil esposa. Geoffrey já estava ficando irritado com a falta de consideração dos irmãos. Nenhum deles recuava diante de um desafio, fosse qual fosse. Por que esperavam que ele recuasse? Se havia decidido se submeter ao sacrifício depois de ser escolhido pela sorte, não se acovardaria agora. Como se fosse para confirmar aquela decisão, Elene desceu rapidamente a escada. Estava com os cabelos ainda mais desarrumados do que durante o sono e Geoffrey perguntou-se se ela não tinha feito de propósito alguma coisa para piorar a aparência. Depois de ter ouvido a opinião do irmão, sentiu uma necessidade muito grande de protegê-la. Para ele, naquele momento ninguém no mundo precisava mais de proteção do que ela. Mesmo assim… Geoffrey voltou-se para Dunstan.

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— Não — disse, balançando a cabeça. — Primeiro vou ter que deixar o castelo Fitzhugh em ordem. Elene, que havia parado a uma certa distância, mas perto o suficiente para ouvir a conversa deles, apres sou-se em discordar. — Sua presença não é necessária aqui, de Burgh — disse, com ênfase. — Tomarei conta de tudo para você. — Não — persistiu Geoffrey. Como não queria que Elene deixasse ainda mais enraivecidos os outros de Burgh, continuou a falar, sempre olhando para Dunstan.— Avise-nos quando o bebê nascer. Irei visitá-los para lhes dar os parabéns. Pela primeira vez o Lobo pareceu inseguro enquanto dirigia um rápido olhar a Elene. — Você será sempre bem-vindo, Geoff. Imagino que saiba disso. — Sim, eu sei — disse Geoffrey, sorrindo diante daquela rara demonstração de afeto do irmão. Ultimamente Dunstan vinha dando mostras do apreço que sentia pelos irmãos, mas Geoffrey achava que já era hora de declarar independência. Então ficou esperando, sabendo que, como suserano, Dunstan tinha o direito de transformar o convite em ordem. Mas esperava que, como irmão, ele não fizesse isso. — Pois muito bem — disse Dunstan, finalmente, sem esconder a desaprovação. — Que seja como você quer. — Depois de passar por Geoffrey, ele parou diante de Elene e olhou-a com frieza. — Esteja avisada, mulher: se alguma coisa acontecer com meu irmão, vou caçá-la até que você me suplique para ser morta. Antes que Elene pudesse dizer qualquer coisa, Geoffrey adiantou-se e parou diante do irmão mais velho. — Não ameace minha esposa, Dunstan — disse, com calma. Depois, postou-se ao lado dela, como se estivesse disposto a enfrentar os irmãos. Tinha uma nova vida e eles precisavam saber disso, deixando-o em paz. Seis pares de olhos o fitaram, atônitos. Nenhum deles jamais havia censurado Dunstan, mas Geoffrey não se mostrou disposto a pedir desculpas. Por vários segundos fez-se um silêncio tão tenso que nem mesmo Elene ousou quebrá-lo, até que finalmente Dunstan fez um gesto afirmativo com a cabeça. Geoffrey soltou a respiração enquanto os irmãos iam passando por ele, murmurando despedidas. Depois que os de Burgh saíram, Geoffrey sentiu que era observado por outros olhos. Não só os criados do castelo o fitavam, mas também vários dos antigos cavaleiros de Fitzhugh o observavam com uma postura vagamente ameaçadora. Até mesmo Serle, por mais covarde que fosse, olhava para ele de um jeito que o fazia perguntar-se se tinha sido prudente mandar os irmãos embora tão cedo. E bem ali perto estava Elene, obviamente aborrecida com a decisão que ele havia tomado. Geoffrey sentiu que estava cercado de inimigos. Entre eles a própria esposa. CAPÍTULO IV Procurando demonstrar que não se intimidaria, Geoffrey dirigiu-se ao mordomo. — Serle, quero fazer uma inspeção na propriedade, começando pela cozinha e examinando todas as cons truções no interior dos muros. Depois disso, reúna todos os que moram aqui que eu quero falar com eles. — Sem esperar pela resposta do homenzinho, voltou-se para Elene. — Quer me acompanhar? Em vez de responder, a mulher dirigiu a ele um olhar de ferocidade. Mas começou a andar atrás de Serle. Geoffrey suspirou e deixou que ela passasse, seguindo-a. Embora não achasse Elene particularmen te perigosa, preferia não lhe dar as costas, tornando-se alvo fácil para um dos numerosos punhais que ela parecia ter. Logo que eles entraram na cozinha Geoffrey rapidamente constatou que as condições ali não eram diferentes do resto do castelo. O lugar era sujo e mal-cheiroso. Depois de ordenar que se fizesse uma limpeza em regra, prometeu que um trabalho bem-feito seria recompensado, esperando assim desfazer algum aborrecimento que pudesse surgir entre os criados. Depois olhou para Elene, querendo avaliar a reação dela, mas só viu o véu de cabelos que escondia o rosto. Se estava ofendida com as mudanças que ele estava determinando, a mulher não deu mostras disso. Geoffrey correu os olhos pelos outros presentes. Os criados da cozinha olhavam nervosamente para Serle, todos procurando ficar longe de Elene, recuando sempre que ela se movimentava. Reagiam de uma forma um pouco melhor em relação ao novo amo, mas mesmo assim o olhavam com cautela. Geoffrey ficou abatido com aquilo. Em Campion, sempre tinha tido boas relações com os servos, enquanto ali era tratado como um inimigo. Abriu a boca para tentar desfazer aquela situação, mas preferiu não dizer nada. Obviamente Fitzhugh havia dirigido aquela propriedade com mão de ferro. Depois de algum tempo e com as providências certas, as coisas mudariam. A determinação de ser paciente durou até que Geoffrey viu o depósito de suprimentos, que estava quase vazio. — É só isso o que resta? — inquiriu, dirigindo um olhar duro ao mordomo. — Quem é o responsável por este depósito? — Sou eu, meu lorde — respondeu Serle, encolhendo-se contra a parede. — Mas o inverno ainda está longe de terminar! Como vamos alimentar tantas bocas? — Desculpe-me, meu lorde, mas a guerra acabou com nossos suprimentos — explicou o mordomo. — Assim como o pagamento dos cavaleiros esvaziou nossos cofres. Geoffrey quase soltou um palavrão. A guerra contra Wessex havia causado mais estragos do que ele imaginava. Os planos para reconstruir tudo e dar início a uma fase de prosperidade teria que começar pela sobrevivência básica. Então ele suspirou. Não teria escolha além de pedir a ajuda do pai. Embora não gostasse da idéia, sabia que Wessex, embora mais perto, não tinha sobras de recursos.

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Suspirando, Geoffrey sentiu o peso das responsabilidades que Dunstan já havia suportado, agora entendendo a frustração do irmão. Pela primeira vez na vida, sentia-se o foco de todos os olhares. Mas não fraquejaria. — Vou precisar de um inventário dos suprimentos que ainda temos, bem como de uma lista das pessoas que residem no castelo. Serle pareceu não estar gostando da incumbência que acabava de receber, mas apenas assentiu, concor dando. Aquela relutância deixou Geoffrey curioso sobre como estaria a contabilidade da propriedade. — E quero que amanhã você me mostre os livros contábeis, Serle — acrescentou. O mordomo moveu a cabeça num gesto de concordância e caminhou para a porta. Geoffrey recuou para que Elene saísse na frente dele, perguntando-se por que ela não assumia as funções de castelã. Talvez fosse por falta de vontade. Era difícil imaginar uma propriedade mais mal administrada do que aquela, pelo menos pelo que ele já tinha visto até aquele momento. Além disso, talvez Elene fosse rebelde demais para aceitar responsabilidades. Enquanto caminhava atrás dela, Geoffrey fixou os olhos na densa cascata de cabelos. Agora ela estava casada e deveria andar com a cabeça coberta, mas não aderiria ao costume, claro. Era até difícil imaginar aqueles cabelos presos. No máximo ela concordaria em fazer uma trança. Geoffrey pensou em fazer ele próprio essa trança, tomar nas mãos aqueles cabelos, e imediatamente sentiu o coração palpitar. Então abaixou os olhos para as pontas da cabeleira, que balançavam como pêndulos enquanto ela caminhava, roçando na túnica na altura das nádegas… Geoffrey afastou os olhos daquela visão e inspirou profundamente o ar frio. Procurou concentrar a aten ção na cervejaria, onde naquele momento eles entravam. Mesmo ouvindo as palavras ditas pelos homens que trabalhavam ali, continuava pensando em Elene. Depois provou a cerveja que lhe foi oferecida, considerando-a insípida, mas aceitável. Perguntou-se se aquele gosto era causado por algum ingrediente estragado ou se eram os maus ventos daquela casa que afetavam o paladar de um recém-chegado. Bem, isso não explicava nada, menos ainda o crescente interesse que ele sentia pela esposa. Elene ficou a um canto, observando o marido com olhos apertados, o que vinha fazendo com freqüência nos últimos dias. Embora eles conversassem muito pouco, ela se sentia sempre vigiada por ele, como se o homem quisesse se certificar do que ela estava fazendo. Sem dúvida tinha medo de acabar com um punhal cravado nas costas, ela pensou, com um sorriso de satisfação. Mas o sorriso logo desapareceu. As coisas já não eram tão simples. Geoffrey de Burgh a havia deixado ainda mais confusa naquela semana passada desde o casamento. Ela havia esperado que ele fosse embora com os irmãos, espantando-se com a decisão dele de permanecer, bem como com os motivos apresentados para isso. Era possível que, como o pai dela, Geoffrey pretendesse mover guerra contra o Lobo. Outros homens atacavam os próprios irmãos, desde que com isso subissem na vida. Mas Geoffrey de Burgh não parecia interessado em formar um exército forte. Surpreendentemente, de monstrava preocupação com o estoque de mantimentos! Diferentemente de qualquer outro homem que ela já houvesse conhecido, dava importância ao bem-estar das pessoas humildes e à conservação da propriedade. Sem dúvida fazia isso para desviar a atenção dela… mas de quê? Dias atrás havia requisitado os livros contábeis da propriedade, que ultimamente vinha examinando com atenção. Isso era outra coisa que a intrigava, porque o pai dela jamais havia pedido para ver os livros contábeis. Sem querer se preocupar com tais ninharias, Fitzhugh deixava tudo a cargo do mordomo, ou pelo menos era o que dizia. Elene sempre havia suspeitado de que o pai na verdade não tinha competência para isso. Para falar a verdade, nunca tinha tido uma prova de que ele sabia ler. Então ela olhou outra vez para o marido, perguntando-se se ele tinha alguma dificuldade para ler a caligrafia de Serle. Há um bom tempo que Geoffrey estava debruçado sobre aqueles livros, sem ao menos reparar nos cabelos que lhe caíam na testa. Elene mexeu-se no assento. Era difícil entender aquele homem. Pelo menos ela sempre tinha sido capaz de entender o pai, um homem que agia movido pela cobiça, pela ambição. Fitzhugh havia se casado com a doce mãe de Elene apenas para se tornar dono das terras dela, que nunca lhe pareceram suficientes. Usando de meios limpos ou desonestos, apoderou-se de propriedades vizinhas, mas nem isso o satisfez. O homem cobiçava um grande castelo. Queria Wessex. Elene entendia também os cavaleiros do pai. A cobiça e o medo os levava a segui-lo cegamente. Ela sabia entender até mesmo Walter Avery, cuja ambição o incentivara a trair o Lobo em favor de Fitzhugh. Todos eles eram homens violentos, que sempre queriam mais. Geoffrey, pelo contrário, levava uma vida tão espartana quanto a de um monge. Tomava cerveja moderadamente e não comia como um glutão. Não se dirigia às pessoas com rispidez e raramente dizia um palavrão. Dedicava o mesmo respeito a todos, até ao mais humildes dos servos, e não maltratava as mulheres. Não arrotava nem soltava gases intestinais, coisas que os cavaleiros do pai dela faziam sem o menor constrangimento. Elene perguntou-se se ele tinha as mesmas funções físicas dos outros homens, um pensamento que a fez enrubescer. Uma coisa que ele fazia com freqüência era tomar banho. Sozinho. Mais de uma vez Elene havia sentido o cheiro de limpeza que o marido exalava e visto os cabelos molhados caindo na testa dele. Nos raros banhos que tomavam, o pai dela e os cavaleiros que combatiam com ele sempre convocavam algumas criadas para esfregá-los, e a coisa terminava com gritos e água derramada. Era conhecido o caso de uma mulher que morrera de parto, tendo afirmado que havia engravi dado depois de ajudar Fitzhugh a se banhar. Elene estremeceu.

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Olhando para Geoffrey, procurou se convencer de que ele não podia ser diferente. Apenas usava de tá ticas pouco comuns, mas certamente muito piores, já que, fingindo-se bondoso, enganava a todos antes de partir para o ataque. Mas ela não se deixaria enganar por aqueles modos bem-educados. Elene mantinha à mão o punhal que Geoffrey havia devolvido, acariciando-o sempre que ele se aproximava. Certamente era por isso que o homem dormia todas as noites num cobertor estendido no chão, que tomava o cuidado de recolher pela manhã para que os criados não ficassem sabendo daquele hábito esquisito. Mais estranho ainda tinha sido o que ele fizera na noite anterior. Ao despertar, um pouco assustada, para ver uma vela acesa, ela o vira deitado de lado, segurando um livro! A princípio Elene havia pensado tratar-se de um volume com ilustrações eróticas, igual ao que ela já vira o pai folheando avidamente, mas pela manhã o viu no chão, perto da janela. Imediatamente o apanhou, apenas para constatar que se tratava de um livro de verdade, o primeiro que via além dos volumes de textos religiosos que Edred costumava brandir durante seus sermões. Geoffrey sabia mesmo ler tão bem? A descoberta a deixou curiosa sobre que outras surpresas ele poderia ter guardadas naqueles baús com que havia chegado. Aprumando-se na cadeira, Elene olhou cautelosamente para o marido, mas ele continuava atento aos livros contábeis. Então ela tentou imaginar o que podia haver ali para interessá-lo tanto. Bem, a preocupação dele podia resultar em beneficio dela. Levantando-se calmamente, Elene subiu a escada e dirigiu-se ao quarto grande. Depois de entrar e fechar a porta com cuidado, abaixou-se diante do maior dos baús e ergueu a tampa. Foi recebida pelo aroma que havia se acostumado a associar ao marido, um cheiro que parecia deixá-la com os sentidos aguçados. Por um momento ela hesitou em invadir a privacidade dele. Quase rindo por ter tido uma preocupação tão tola, Elene olhou para as roupas que havia ali e conteve a respiração. O baú continha uma estonteante variedade de roupas confeccionadas em tecidos da mais fina qualidade. Ela nunca havia possuído nada parecido. Sentiu uma pontada de inveja quando comparou aquelas elegantes peças de vestuário com as túnicas simples que ela sempre havia usado, ano após ano. Encostou o dedo no tecido macio de uma túnica verde de linho e procurou imaginar-se vestida com uma roupa tão fina. Agora a chamavam de lady de Burgh, mas como seria ser uma lady de verdade? Sonhos mortos há muito tempo, juntamente com a mãe, voltaram a assaltá-la. Elene ficou com o coração tão apertado que se dobrou para a frente. Logo depois, rapidamente expulsando da mente aquelas lembranças, afastou as roupas empilhadas e procurou ver o que havia no fundo do baú. Encontrou uma bola de lã, um brinquedo de criança, juntamente com alguns bonecos. Intrigada, juntou as sobrancelhas. Por que um homem crescido guardava aquelas coisas? Dando de ombros ela ergueu um grosso retângulo de couro que separava o baú em dois espaços para verificar o que havia lá embaixo. No fundo estavam outros livros, volumes de todos os tamanhos e espessuras, mais livros do que ela já tinha visto em toda a vida. Ele sabia ler. O marido dela não apenas podia entender os livros contábeis ou ler o livro que ela vira antes, como parecia ser capaz de ler qualquer coisa. Mais do que Edred. Não havia dúvida de que Geoffrey de Burgh era um sábio. Elene pôs-se de pé, enraivecida e sentindo-se ameaçada pelos conhecimentos dele. Sem se preocupar em arrumar as coisas lá dentro, fechou o baú. Aquilo era apenas mais um motivo para que ela o odiasse. Elene mandou que lhe servissem o jantar no quarto. Costumava comer sozinha sempre que o pai estava presente com seus cavaleiros, tentando fugir ao barulho que dominava a casa. Agora faria a mesma coisa, mas por um motivo oposto. Não queria ficar na companhia do homem que tentava transformar o castelo num lugar calmo e ordeiro. Estava começando a comer o guisado quando a porta se abriu. Irritada com aquela interrupção, ergueu os olhos para ver Geoffrey parado à porta, olhando para ela. Elene quase se engasgou com a comida. Diabo de homem! Por que ele simplesmente não desaparecia para sempre? Então ela apontou a faca de comida e ficou esperando, pronta para a luta. — Mas o que está fazendo, Elene? — ele perguntou, naquela voz tão calma quanto irritante. — Estava comendo, mas apareceu uma coisa tão repulsiva que estragou meu apetite. Vá embora! — Não está se sentindo bem? — Agora não. Ver você me deixa com o estômago embrulhado! — Seu lugar é no salão — ele disse, com a mesma calma. O lugar dela? O que ele podia saber sobre o lugar dela? Elene Fitzhugh nunca tinha tido um lugar naquela casa, nada além das migalhas de que precisava para sobreviver. A ganância do pai as privara, a ela e à mãe, de qualquer direito naquele castelo. Fitzhugh havia se casado pensando apenas na herança da esposa. Exatamente como o homem para quem ela agora olhava. Elene levantou-se. Pensou em atirar a faca, mas foi o prato que arremessou. Geoffrey desviou-se com uma rapidez surpreendente e foi atingido apenas no braço. O prato de comida saiu rodopiando, espalhando o gui sado pelo chão. Elene perguntou-se se não estava provocando demais o marido. Embora houvesse agido mais por impulso, queria vê-lo explodir. Então teria a prova de que ele não era nada mais que um homem, igual ao pai dela ou a qualquer um outro, sem mais esperteza do que Serle. Mas Geoffrey não demonstrou revolta. Simplesmente suspirou e virou as costas para ela, afastando-se. Furiosa, Elene levantou-se e correu até a porta, pondo-se a gritar para o lado da escada.

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— Está me virando a outra face, meu lorde? Quem pensa que é afinal? Algum tipo de santo? Devíamos pedir a Edred que providenciasse a sua canonização, bondoso santo Geoffrey. Quando parou de falar ela ouviu o riso abafado de um servo lá embaixo. Por um momento ficou surpresa, já que não estava acostumada a fazer outras pessoas rirem. Depois sorriu, gostando daquela sensação, até se lembrar do guisado espalhado pelo chão do quarto. Agora teria que ficar com fome. Entrando novamente, Elene bateu a porta com força e foi para a cama, faminta, amaldiçoando todas as gerações dos de Burgh. Elene ainda estava vestida e desperta quando Geoffrey retornou e começou a arrumar a cama no chão. Ele podia agir como um santo, mas não teria a confiança dela. Por isso, Elene não relaxou enquanto não ouviu a respiração compassada que indicava o sono do marido. Justamente naquela noite, quando ela estava mais enraivecida do que nunca, o homem havia se atrasado e parecia ter um sono agitado. Ela ouvia cada um dos suspiros e movimentos que ele fazia, virando-se para lá e para cá. Provavelmente era por ter que dormir no chão duro. Mas não podia reclamar, porque pelo menos estava com a barriga cheia. Enquanto ela continuava com o estômago vazio. Lá no chão, Geoffrey fez mais barulhos e Elene ficou com vontade de gritar. Logo depois percebeu, pelos sons, que ele estava se levantando. Imediatamente abriu os olhos. Agora ele estava na frente da lareira, atiçando as brasas que ainda queimavam, logo em seguida se inclinando para acender uma vela grande. Enquanto ela observava, curiosa, ele pegou o mesmo livro do dia anterior. Depois voltou a se deitar, apoiou a cabeça num dos braços e abriu o volume, que se pôs a ler atentamente. Elene ficou olhando, ressentida. O homem segurava o livro com a mão grande, uma mecha de cabelo escuro caindo na testa. Estava inteiramente vestido, como ela, mas havia alguma coisa naquela postura, na forma de esticar o corpo na improvisada cama, que a deixava com os sentidos aguçados. Elene fez cara feia. Como poderia descansar com o quarto iluminado? Então sentou-se, detestando aquele homem por tudo o que ele tinha e pela forma como se deitava bem diante dela, todo à vontade. E por que nunca se encolhia de medo nem fugia, como faziam todos os que pressentiam uma explosão dela? — O que pensa que está fazendo, de Burgh? — vociferou Elene. — Será que já não basta me atormentar o dia inteiro? Agora você tem também que me obrigar a ficar acordada à noite? Geoffrey nem se deu ao trabalho de olhar para ela. — Isto é apenas uma vela, Elene. Durma. — Não! Apague essa vela ou vai se arrepender, de Burgh! — Elene… — ele começou, com aquela calma que tanto a irritava. E se dirigia a ela com uma sem-cerimônia como ninguém ainda havia ousado. Furiosa, Elene se levantou, marchou até onde ele estava e soprou a chama da vela. Experimentou uma sensação de triunfo com a semi-escuridão que se fez, mas foi uma coisa que durou pouco. Antes mesmo que ela pudesse girar o corpo para voltar à cama, sentiu as mãos de Geoffrey, que a puxou para o chão. No instante seguinte estava por baixo dele, com as mãos imobilizadas acima da cabeça. Elene pôde sentir que o homem por cima dela tinha pelo menos uns noventa quilos. E espantou-se com a rapidez com que ele movimentava aquele corpo enorme, tanto que nem se debateu para tentar se soltar. Outra coisa que chamou a atenção dela foi o inquietante calor que partia do corpo dele, algo que a deixou com os instintos momentaneamente entorpecidos. Quando acostumou os olhos à semi-escuridão, viu que Geoffrey a olhava, parecendo igualmente espantado. Estava com os olhos castanhos muito abertos e respirava de uma forma descompassada demais para um homem tão calmo. Elene sentiu nos seios a pressão do peito dele e percebeu que o coração do homem batia tão depressa quanto o dela. Enquanto olhava para ela, Geoffrey mantinha os lábios meio abertos, como se estivesse faminto. Estupidamente, Elene se perguntou se ele também não havia jantado. O pensamento fez com que ela passasse a língua pelos lábios, reparando que os olhos dele acompanhavam aquele movimento. Ao ver que o olhar dele se demorava muito nos lábios dela, Elene sentiu um estranho calor se es palhando pelas entranhas, algo que momentaneamente a fez se esquecer do peso do corpo que a comprimia contra o solo. A sensação durou alguns segundos, antes de ser substituída pelo pânico, o que a fez começar a se debater. Logo depois era contra o ar que ela lutava, porque ele a soltou e rolou para o lado, deixando escapar um baixo gemido. Por alguns instantes Elene ficou apenas olhando para ele, deitado bem ali ao lado, enquanto os seios dela arfavam por causa do esforço. — Não tente me atacar na escuridão, Elene — recomendou Geoffrey, com um olhar tão sombrio quanto intenso. — Se fizer isso, vou ter que me defender. Ao ouvir aquelas palavras ela se levantou e retornou à cama, sem reencontrar a voz para responder à amea ça. Silenciosamente levou a mão ao punhal, mas pela primeira vez a mortal arma não lhe proporcionou nenhuma sensação de segurança. Durante aqueles longos minutos em que tinha estado à mercê do marido, nem tinha pensado em sacar do punhal. Para complicar, suspeitava de que ele de nada valeria, porque Geoffrey representava um tipo de ameaça que não podia ser combatida com uma arma pontiaguda. Uma sensação de impotência dominou Elene quando ela considerou as próprias defesas em oposição ao estranho arsenal de atrativos do marido.

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Geoffrey apertou a parte alta do nariz, tentando se livrar de outra dor de cabeça, enquanto examinava novamente as contas de Serle, tentando ver sentido naquilo. Suspeitaria de que a esposa o havia envenenado se a dor fosse causada por comida, mas não era nada disso. A única causa da dor de cabeça era o comportamento de Elene. Ele estava adquirindo o hábito de se levantar e sair do quarto antes que ela despertasse. De outra forma, teria que ouvir ameaças sempre que fizesse algum movimento. Como se tivesse alguma intenção de ir à cama dela! Preferiria se deitar com uma cabra! Preferiria mesmo? Sem serem convidadas, voltaram à mente dele as lembranças daquela noite, quando ela havia ficado deitada por baixo dele, levando-o à constatação de que dentro daquelas roupas horrorosas estava o corpo de uma mulher, maleável e de curvas suaves. Resmungando consigo mesmo, Geoffrey jogou a cabeça para trás. A última coisa que queria era começar a ver a esposa como uma mulher! Mesmo ele não achando Elene repulsiva, era essa a reação de todos os outros irmãos de Burgh. Geoffrey considerava muito bem desenhadas as feições dela, admirava os olhos negros e, naturalmente, aqueles cabelos, que estavam se tornando um tormento para ele. Mas a mulher era instável demais. A personalidade dela, furiosa e selvagem, era tão diferente da dele que o deixava com a cabeça latejando. Geoffrey franziu a testa. Estava deixando que ela perturbasse o comportamento dele, e havia jurado que não permitiria isso. Até aquele momento, vinha respondendo aos insultos dela com cortesia, aos palavrões com calma indiferença, tentando imitar o pai o melhor possível. Mas estava sentindo a paciência no limite, principalmente depois de perceber que, pelas costas, os servos o chamavam de santo Geoffrey. E esse era outro problema. Como se Elene já não representasse uma complicação e tanto, ele estava en contrando dificuldade para tratar com a criadagem. Apesar de se dirigir a todos com cortesia e respeito, sentia que era olhado com cautela. E logo teria que lidar com os soldados, em cuja lealdade não confiava muito. Por mais que quisesse ficar à vontade no novo lar, precisava estar alerta o tempo todo, suspeitando de todos, excetuando-se apenas Serle e o padre. E mes mo o ministro de Deus às vezes olhava para ele de uma forma estranha! Louco. Geoffrey pressionou os olhos com a palma das mãos, achando que acabaria louco. Via ameaças em tudo e em todos. Embora soubesse que nunca ganharia a confiança dos novos servos se os outros de Burgh tivessem permanecido ali, constantemente lamentava ter tido tanta pressa em mandar os irmãos embora. Agora chegava a pensar que, sozinho, não conseguiria pôr ordem no castelo. Sempre havia se considerado um homem instruído e inteligente, mas não estava conseguindo ver sentido na contabilidade da propriedade. Havia enormes discrepâncias, como somas de dinheiro destinadas a despesas sem nenhuma explicação. E os suprimentos para o inverno não tardariam a se esgotar. Ele havia mandado um homem a Campion pedindo emprestados ao pai alguns víveres e rezava fervorosamente para que a primavera chegasse logo. E, pelo que estava naqueles livros, teria que pedir ao pai que tivesse paciência para receber pelos mantimentos emprestados. Será que Dunstan também tinha dores de cabeça? Não, não. Os livros contábeis de Dunstan estavam finalmente em ordem e, graças à considerável fortuna de Marion, Wessex logo seria um lugar próspero. Todos os problemas de Dunstan estavam praticamente superados, enquanto os dele apenas começavam. Geoffrey suspirou. Preferia não pensar em Elene. Embora as ameaças dela de que poderia matá-lo já não fossem tão freqüentes, a mulher continuava gritando por qualquer motivo. Às vezes o fitava com os olhos de gata, deixando-o com vontade de arrancar aqueles profusos cabelos. Ele não era adepto da violência, como outros homens. No entanto, no que dizia respeito à esposa, quem o censuraria se a castigasse fisicamente? Depois de olhar mais uma vez para as páginas, sem muita vontade, Geoffrey ergueu a cabeça e massageou a nuca. Todo aquele tempo conferindo contas o deixara cansado e tenso. Agora ele precisava respirar ar puro para refrescar a mente. Levantando-se, pôs o manto sobre os ombros para fazer uma caminhada no pátio. Lá fora o frio era revigorante, mas o fato de estar num lugar pouco conhecido o deixava abatido, como sempre. Então resolveu se dirigir à estrebaria, o único local ali que o fazia lembrar-se do que havia deixado para trás. Minutos depois entrou na obscurecida e fe chada construção para ver como estava o cavalo que havia trazido de Campion. Majestic era o nome do cavalo, um belo animal, embora já bem entrado em anos. Mais do que isso, vinha sendo uma boa companhia há muito tempo. Geoffrey já ia chegando perto da baia quando percebeu que não estava sozinho. A princípio pensou que era algum cavalariço quem estava nos fundos da estrebaria, mas a enorme juba imediatamente o fez reconhecer Elene. Mas não a voz. Enquanto ele ficava parado, observando-a, ouviu-a falar com um dos cavalos. A voz que ela usava era macia e contida, bem diferente dos guinchos estridentes que costumava soltar. Seria mesmo a esposa dele? O sol de inverno entrava pelas rachaduras do telhado, iluminando os cabelos dela e produzindo reflexos arruivados. Elene parecia mais baixa e mais delicada na enorme estrebaria e, quando a viu acariciar ternamente a cabeça do animal, Geoffrey pensou no fato de que nunca a vira usar as mãos com tanta graça. Eram mãos pequenas e delgadas, exatamente como ele havia imaginado. No instante seguinte Geoffrey estava se perguntando como seria sentir aquelas mãos acariciando os braços dele, o peito, o abdômen, apertando-o levemente no sexo… Ele deve ter emitido algum som, porque ela se voltou para encará-lo e no mesmo instante o encanto se quebrou. As feições que antes pareciam angelicais agora estavam contorcidas. — O que quer, de Burgh? — gritou a mulher. — Será que não posso ficar um instante sem você nos meus calcanhares, perseguindo-me como se eu fosse um cão rebelde?

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A voz dela era muito alta e Geoffrey reparou que o cavalo ficava agitado na baia. O animal até relinchou, mas ela estava ocupada demais em protestar para prestar atenção nisso. — Pare de reclamar, Elene — pediu Geoffrey, mas ela pareceu nem ouvir. Continuou a gritar impropérios, enervando ainda mais o animal, que finalmente projetou-se para a frente, disposto a saltar o portão da baia. No mesmo instante Geoffrey mergulhou sobre a esposa, derrubando-a no chão e caindo por cima dela, mas tirando-a do caminho das patas do cavalo. Por um longo momento eles ficaram enlaçados, os dois com a respiração descompassada. Sabiam que tinha sido por muito pouco. Meio trêmulo, Geoffrey ergueu-se um pouco, disposto a passar um sermão em regra, mas ela parecia tão abatida que ele não disse nada. Com os cabelos afastados das faces, Elene estava com os olhos negros muito abertos e os lábios apartados, ao mesmo tempo que levava para os pulmões grande quantidade de ar. Parecia… vulnerável. Pela primeira vez mostrava as faces inteiramente descobertas. A pele era tão perfeita que Geoffrey mal acreditou que fosse real. Bem devagar, com muito cuidado, ergueu a mão e roçou as costas dos dedos numa das faces dela. Bem de leve. A pele era mais fina do que a seda e ele reparou que ela fazia um "Ó" de surpresa com os lábios. Era uma imagem luxuriante, tão exótica quanto picante, e Geoffrey quis sentir o gosto. Só uma vez. Inclinando a cabeça, beijou-a nos lábios. Depois fez mais uma vez. Incapaz de se conter, passou a ponta da língua pelo contorno da boca que acabava de beijar. Eram lábios surpreendentemente macios. E não só a boca, porque o corpo colado ao dele era dotado de de liciosas curvas, os dois seios se amassando contra o peito dele, surpreendendo-o com o calor que tinham. Deitado por cima dela, Geoffrey sentiu uma vontade muito grande de apertar aqueles seios, emaranhar-se naquela juba. Erguendo a cabeça, olhou novamente para ela. Os lábios de Elene estavam molhados e entreabertos, convidando-o, e ele quis explorar o interior daquela boca. Uma pequena parte da mente dele, ainda racional, advertiu-o para o perigo que aquilo representava. Ela poderia causar um mal muito grande se resolvesse mordê-lo, mas mesmo assim ele achou que valeria a pena correr o risco. Só uma vez. Passando a mão pelos espessos cabelos da esposa, Geoffrey beijou-a outra vez, mais profundamente, usando a língua para fazê-la abrir mais a boca. Quando ela emitiu um som quase inaudível, ele aproveitou para enfiar a língua. Canela. Era esse o gosto. A boca de Elene era úmida e quente, tão erótica que ele instantaneamente sentiu a ereção do sexo. Geoffrey lambeu os dentes dela e buscou todos os recessos daquela boca, ge mendo de prazer. Esqueceu-se de onde eles estavam, de quem era ela, até mesmo da própria identidade, tomado por uma onda de desejo como nunca havia experimentado. Incapaz de se controlar, moveu os quadris e pressionou o sexo contra a junção das coxas dela, precisando daquilo tão desesperadamente que sentiu o corpo inteiro tremer. Foi um erro. Abruptamente Elene o empurrou, saiu de baixo dele e levantou-se. Aturdido, Geoffrey ficou de lado, fitando-a. Por um longo momento ela também o observou, com fúria nos olhos. Com cautela ele ficou esperando pela explosão de raiva que certamente se seguiria, mas ela apenas passou as costas da mão nos lábios e cuspiu no chão ao lado dele. Enquanto Geoffrey se sentava, Elene girou o corpo e se afastou rapidamente, permitindo na escapada que ele tivesse um vislumbre dos tornozelos bem torneados. Erguendo a mão para tirar os cabelos da testa, Geoffrey suspirou demoradamente, tentando entender o que havia acontecido. Depois, com um sorriso sem graça, percebeu que finalmente havia encontrado uma forma de calar os constantes gritos da esposa. CAPÍTULO V Elene ficou parada ao lado da janela, observando o marido. Usando um pequeno saco de areia, ele exercitava os soldados no pátio. Depois de um começo indefinido, março havia se tornado surpreendentemente quente. Geoffrey aproveitou-se disso para dar treinamento ao que restava do exército do pai dela. Fazia aquele trabalho com competência e dedicação, da mesma forma como havia posto em ordem a escrituração contábil da propriedade. Elene ficou olhando, fascinada, enquanto ele comandava os homens com tranqüila segurança, como fazia com tudo o mais. — Estou vendo que o tempo se firmou. Elene levou um susto ao ouvir a voz baixa e rude de Serle, que parou ao lado dela. Estava tão concen trada no que Geoffrey fazia que nem percebeu a aproximação do servo. Então recriminou-se por estar tão desatenta. Era mais um exemplo de como o marido conseguia afetá-la e ela não estava gostando nada daquilo. — Parece que Santo Geoffrey vai ter a primavera mais cedo, como queria — voltou a falar Serle. Absurdamente irritada pelo uso do apelido do marido dela, Elene fitou o mordomo com os olhos apertados. Percebendo desprezo na voz do homem, tentou entender os motivos que ele podia ter. Acreditava ela própria ter bons motivos para desprezar Geoffrey, mas não entendia o que as outras pessoas do castelo podiam ter contra ele. Pensando bem, aquela animosidade parecia não só injustificada, mas também injusta. Injusta? A vida dela, sim, sempre tinha sido injusta. Se não fosse assim, por que a morte havia levado a mãe dela, deixando-a naquela casa sem nenhum aliado, sem ninguém? Ela havia ficado diante da sepultura, ouvindo o palavrório de Edred sobre a vida eterna ou a danação sem fim, ao mesmo tempo que se perguntava onde, naquele mundo ou no outro, haveria justiça.

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Portanto, por que ela se preocuparia com o fato de que Geoffrey era desprezado pela gente que tão arduamente tentava conquistar? Procurando se convencer de que não dava a menor importância ao que as pessoas pudessem pensar do marido dela, olhou novamente pela janela. . — Talvez o bom Santo Geoffrey tenha influência, sobre as estações do ano — disse, em tom meio zombeteiro. Pensando bem, e embora ainda não houvesse conseguido conquistar a afeição dos novos servos, Geoffrey de Burgh parecia possuir assustadoras habilidades. — Mas que blasfêmia, minha lady! — censurou-a Serle, rindo. — Edred não gostaria nada de ouvir isso. Elene também riu. O padre estava sempre ralhando por algum motivo, mas ela havia aprendido a não dar atenção ao que ele dizia. Embora não tivesse ilusões sobre si própria, tinha certeza de que a bondosa e inocente mãe não tinha sido uma criatura maldosa, mesmo Edred afirmando que todas as mulheres eram pecadoras de nascença. O antigo capelão do castelo não destilava tanto veneno. O bondoso homem de Deus ousou criticar as maldades do pai dela e morreu por causa disso. Como tudo o que era bom na vida dela. Procurando não pensar na amarga verdade, Elene olhou novamente para o pátio, onde Geoffrey e alguns cavaleiros agora se exercitavam com bastões. Ela já vira aquele exercício antes, mas nunca com a participação do marido. Ele parecia diferente, muito forte, mortal… — Talvez Montgomery o mate — disse Serle, como se estivesse alegre com a perspectiva. — Nesse caso a senhora seria uma viúva. Elene espantou-se ao se sentir alarmada. Mas o que o mordomo estava querendo dizer? Haveria algum pla no de assassinato em andamento no castelo? Embora ela não tivesse nenhuma afeição pelo marido, se ficasse viúva logo seria entregue como mercadoria a algum outro. Sentindo um início de pânico, Elene deu um passo na direção de Serle, com a mão no punhal. — Só eu posso matar por aqui. E tome cuidado com essa língua, ou começarei por você. Serle recuou, depois de fazer uma reverência insolente, e ela olhou novamente pela janela. Estava com a palma das mãos úmidas e os dedos tensos, apertando o cabo da arma. Comparado com alguma nova e desconhecida ameaça, Geoffrey até que parecia um homem muito, muito bom. Em mais de um aspecto. Ele não estava vestido com a malha de guerreiro, usando no exercício apenas uma leve túnica, e Elene se viu com os olhos fixos naquele corpo musculoso. Embora já o houvesse visto vestido daquele jeito em muitas outras ocasiões, naquele dia ele estava diferente, porque o suor deixava a túnica colada ao corpo. Enquanto observava, Elene se deu conta de que nunca havia reparado de verdade no belo torso do marido. Sem ser corpulento como Montgomery, que o superava em peso, ele era forte e veloz. Usava os braços mais esbeltos para manejar o bastão com agilidade e destreza, tendo pleno controle sobre a arma. Elene raramente prestava atenção nos cavaleiros, mas havia algo de fascinante na forma como Geoffrey atacava e se defendia, com movimentos seguros e graciosos. À medida que a luta de mentira tornava-se mais intensa, a túnica colou-se ainda mais à pele e ela ficou obser vando enquanto os músculos do marido se contraíam, distendendo-se em seguida. Não entendia como podia estar fascinada daquele jeito, logo ela, que sentia repugnância pelos homens em geral, pelas guerras, pelos cavaleiros e por seus espetáculos de força. Mesmo assim permaneceu parada, como se houvesse criado raízes, olhando o suor que escorria pelo rosto e pelos braços dele. Geoffrey vinha gradualmente se tornando menos intimidador, ao ponto de ela se sentir segura para caçoar dele, chamandoo de santo, mas agora, naquele combate simulado, ele se mostrava o homem forte que era, parecendo invencível. Destacava-se da multidão não só por ter ascendência nobre, mas principalmente por ter mais habilidade que os demais, ser mais ágil e mais inteligente. Geoffrey jogou a cabeça para cima, fazendo os cabelos caírem na nuca, e Elene dilatou as narinas, como se pudesse sentir o cheiro másculo que ele devia estar exalando. Depois umedeceu os lábios, intrigada com as sensações que a assaltavam. Sentia o corpo pesado, como se estivesse acometida por alguma estranha doença, e tinha os seios intumescidos e sensíveis. A respiração havia se acelerado, bem como as batidas do coração. Então, a cena que ela vinha afastando da mente há duas semanas retornou com cristalina clareza. Outra vez Elene se viu deitada na estrebaria, por baixo de Geoffrey, sentindo todo o peso dele. Em vez de esmagá-la ele a acolchoava, protegendo-a com os músculos poderosos, deixando-a tonta ao encostar os lábios nos dela. O gosto de sua boca era diferente de tudo o que ela já havia experimentado. Tinha um sabor estonteante, quente, maravilhoso… Rogando uma praga, Elene virou as costas para a janela e encostou nas faces os punhos cerrados. O que estava acontecendo com ela? Sentia-se muito diferente de si mesma, como se houvesse se transformado numa outra pessoa, e aquilo a assustava mais do que qualquer ameaça. Resolveu sair imediatamente dali para não ver o corpo do marido em movimento, mas um grito a reteve. Voltando-se rapidamente, Elene viu o motivo do alarde. O combate simulado entre os dois homens es tava se tornando brutal. Era assistido por uma multidão de soldados, servos e homens livres, todos com olhos ávidos, como se os contendores lutassem pelo domínio do próprio castelo. Elene apertou os olhos quando Geoffrey quase foi derrubado por um golpe do oponente. Enraivecida ela amaldiçoou Montgomery pela traição. O homem era um dos mais proeminentes cavaleiros do pai dela que haviam restado depois da guerra contra Wessex. Muitos soldados tinham sido deixados nas mãos do inimigo, mas os

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cavaleiros eram valiosos demais para serem desprezados. Antes de encontrar o próprio destino, Walter Avery havia ordenado a Serle que pagasse o resgate exigido por eles. E agora Elene olhava com cautela para aqueles cavaleiros, ciente do que eles eram capazes e da facilidade com que poderiam se voltar contra ela. E agora Montgomery parecia ansioso para superar o novo lorde, porque o que havia começado como um exercício obviamente estava se transformando num combate real. O cavaleiro loiro caiu, mas levantou-se com rapidez e imediatamente projetou-se para a frente, com a ponta do bastão visando a garganta de Geoffrey. Elene soltou um grito abafado e levou a mão à garganta, como se a ameaça fosse contra ela. Com uma rápida esquiva, Geoffrey livrou-se do golpe. Logo depois encostou a ponta do bastão no peito de Montgomery e ergueu a voz, ordenando o encerramento do exercício. Temerosa de que o cavaleiro não obedecesse, Elene fechou os dedos no cabo do punhal. Não permitiria que Montgomery matasse o marido dela. Por alguns instantes ficou observando, trêmula e com a respiração contida, até que finalmente o cavaleiro assentiu, dirigindo a Geoffrey um olhar sombrio. Mesmo assim Elene continuou esperando, os olhos fixos em Montgomery. Só quando viu o tratante se afastando, relaxou o aperto dos dedos, mas permaneceu vigilante enquanto Geoffrey dispensava os soldados e começava a caminhar de volta ao castelo. O coração dela batia freneticamente enquanto ele atravessava o pátio cheio de gente. Por mais forte que fosse, parecia vulnerável. Qualquer um poderia cravar um punhal entre as costelas dele, pensou Elene, deslocan do-se rapidamente para a porta. Subitamente tornou-se imperativo que ela impedisse aquilo de acontecer. Enquanto observava a aproximação dele, Elene procurou se convencer de que protegê-lo era do interesse dela. Fossem quais fossem os obscuros objetivos de Geoffrey, seria mais fácil lidar com ele do que qualquer outro homem. Geoffrey entrou no salão e ela abriu a boca para falar, censurá-lo pela imprudência. Quando ele pegou uma toalha de linho da mão de um servo para enxugar o suor do rosto, porém, Elene sentiu a garganta seca e a língua presa ao céu da boca. Ficou apenas olhando enquanto ele ordenava que lhe preparassem um banho. Geoffrey caminhou para a escada, aparentemente sem notar a presença dela, e Elene se viu obrigada a se gui-lo, porque continuava sem voz. Subiu a escada a alguns passos dele e foi entrando no quarto, apenas para parar à porta quando o viu erguendo os braços para se despir da ensopada túnica. Conteve a respiração e ficou olhando para os músculos das costas dele, que brilhavam por causa do suor. Os ombros eram largos e dourados, a pele sem nenhuma marca, tão bonita que ela não conseguia desviar os olhos. Achou que talvez estivesse dominada por alguma estranha febre. Logo depois Geoffrey se voltou. Elene quase perdeu a firmeza das pernas quando viu o peito musculoso do marido, coberto apenas por uma camada de pêlos escuros. Agora a vontade que ela sentia era de tocá-lo, erguer a mão para correr os dedos entre aqueles pêlos. Sem dúvida ele tinha feito alguma coisa com ela, posto alguma droga na comida, espalhado alguma essência pela casa! Respirando fundo, Elene finalmente conseguiu erguer os olhos para o rosto dele. — Elene? Geoffrey a estudou com olhos atentos e ela se sentiu uma idiota por ter ficado olhando para ele daquele jeito. E o pior era ter sido apanhada fazendo isso. Quando ele, com displicência, passou os dedos no peito largo, como se a incentivasse a fazer o mesmo, os olhos dela outra vez desceram para aquela região. Elene sentiu a pele latejando de desejo, algo que procurou sufocar de pronto, juntamente com a letargia que ameaçava dominá-la. — Montgomery vai matá-lo — disse, com a voz um tanto rouca. Geoffrey abaixou a mão de dedos longos. Uma mão grande. Quente. — Acha que ele tem condições para fazer isso? A pergunta despreocupada, feita com a arrogância muito típica dos homens, prontamente desfez o entorpecimento de Elene. — Podem chamá-lo do que quiserem, mas você não é nenhum santo. É apenas um homem, tão vulnerável à lâmina de um punhal quanto qualquer outro. Geoffrey pareceu meditar sobre aquilo. — Mas você tem motivos para desconfiar de Montgomery? Motivos? Ela não precisava de nenhum motivo para desconfiar de um homem. Elene soltou um riso zombeteiro. — Ele quer sua morte — disse. — Vejo isso nos olhos do homem. Elene ouviu um barulho fora do quarto e pôs a mão no cabo do punhal. Quando se voltou, viu os servos que subiam a escada carregando a velha banheira de madeira. Eles entraram e ela se afastou para que a banheira fosse posta no chão, diante da lareira. — A água para o seu banho está pronta, meu lorde — disse um dos rapazes. Depois os servos caminharam para a porta, todos procurando passar ao largo de Elene. O banho dele. Elene olhou para a banheira e depois para Geoffrey, que sustentou o olhar dela como se estivesse tendo o mesmo pensamento. Como esposa dele e senhora do castelo, era obrigação dela banhá-lo. Mas ela não estava disposta a assumir tal obrigação. Geoffrey não apenas continuava dormindo no chão, como também eles passavam todas as noites inteiramente vestidos. Na verdade, aquela era a primeira vez que ela o via vestindo apenas o calção. Enrubescendo, perguntouse como ele seria sem nada. Até onde iria aquela penugem do peito? As pernas longas eram também musculosas? As nádegas tinham a mesma cor dos ombros ou… Chocada com aqueles pensamentos, Elene soprou o ar dos pulmões. Não tinha nenhum interesse naquele homem, estivesse ele nu ou vestido, além do de mantê-lo vivo. Então lançou a ele um olhar de desprezo. Geoffrey continuava parado,

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como se esperasse pacientemente pela decisão dela. Ao vê-lo naquela postura, forte, seguro e belo, Elene, que sabia não ser nada disso, sentiu vontade de gritar. Santo Geoffrey. Sempre tão perfeito. Bem, ela não gostava nem um pouco daquele corpo perfeito nem dos modos bemeducados do marido! Marchando para a porta, abriu a boca para dizer algumas verdades, mas, para horror dela, não emitiu nenhum som. A voz, obviamente emudecida pela presença dele, a atraiçoava mais uma vez. Finalmente, obrigada a engolir o que ia dizer, apenas saiu, enraivecida. Geoffrey observou a saída dela, mordido de curiosidade. Estava imaginando coisas ou a esposa havia olhado para ele com um certo… interesse? Se fosse isso, o que havia causado a novidade? Desde o malfadado beijo na estrebaria, a mulher só usava palavrões quando se dirigia a ele. Bem, Elene Fitzhugh de Burgh era há muito conhecida pelo gênio explosivo. O que fazia com ele não era novidade. Naquele último encontro, porém, havia acontecido algo muito estranho, principalmente por causa da forma como ela olhava para o peito dele, chegando a deixá-lo com as orelhas quentes. Era quase como se… Não, pensou Geoffrey, esfregando os olhos. Só podia estar imaginando coisas. O único interesse da esposa na anatomia dele era determinar o melhor lugar para cravar o punhal. Mas o que dizer da advertência dela em relação a Montgomery? Era estranho… Elene raramente se in teressava por assuntos do castelo, menos ainda pela possível deslealdade das pessoas que moravam ali. Por que recomendava que ele tomasse cuidado com o punhal de outras pessoas, quando ela própria não se cansava de ameaçá-lo de morte? Por mais intrigante que fosse o comportamento dela, Geoffrey não deixaria de dar atenção à advertência. Não havia confiado em Montgomery desde o princípio, embora não entendesse por que o cavaleiro era sempre tão rude. Teria Montgomery esperado tomar o lugar de Avery? Geoffrey cerrou os punhos quando pensou em Elene casada com outro. Raramente havia pensado no primeiro casamento dela como algo mais que um exemplo para que tomasse cautela, mas agora, quando já a havia beijado e se deitado por cima dela, sentia uma fúria possessiva e violenta. Ainda bem que Avery já estava morto, liquidado pela própria Elene. Espantado por ter pensamentos tão poucos civilizados, Geoffrey balançou a cabeça, querendo renegá-los. Por Deus, não se tornaria um sanguinário como a esposa. Então esforçou-se para pensar em Montgomery de forma objetiva. O cavaleiro obviamente estava amargurado com a perda de Wessex por Fitzhugh, mas o que esperava ganhar atacando o novo lorde? A animosidade de Montgomery não fazia sentido, a menos que ele pretendesse derrubar Geoffrey… talvez com a ajuda da senhora do castelo. A possibilidade logo foi descartada, porque Geoffrey não conseguia imaginar Elene conspirando contra quem quer que fosse. Ela poderia elaborar os planos mais demoníacos, mas faria tudo sozinha. Por outro lado, Elene podia ter seus próprios motivos para querer se livrar de Montgomery. Aquele pensa mento logo também foi descartado. Por que ela iria querer a dispensa de um cavaleiro, principalmente quando o castelo dispunha de tão poucos? Geoffrey suspirou, relutando em dispensar um guerreiro tão valioso. Meia dúzia de cavaleiros bem treinados e uma infantaria destroçada. Era só isso o que restava do exército de Fitzhugh. Mas… Montgomery realmente representava uma ameaça? Era fácil ver ameaças por todos os lados quando se estava sozinho na casa de um antigo inimigo. Mesmo assim ele se lembrava muito bem do ódio que vira nos olhos de Montgomery enquanto eles se exercitavam. Embora um homem muitas vezes pudesse perder o controle em exercícios como aquele, tanto que não era raro um dos contendores sair ferido, alguns dos golpes do cavaleiro haviam parecido ter mesmo a intenção de atingi-lo mortalmente. Geoffrey suspirou. Era melhor não correr riscos. Além disso, Elene tinha razão. Ele também não havia gostado nada do que vira nos olhos de Montgomery. Mas… o que dizer do que tinha visto nos olhos dela? Geoffrey levantou-se antes do alvorecer. Havia dormido com a túnica e só precisava pôr o cinto com a espada para se desincumbir de uma tarefa que precisava ser feita o mais cedo possível. Movendo-se com cuidado para não despertar a esposa, caminhou para a porta, mas um som vindo da cama chamou a atenção dele. Cautelosamente, retornou e olhou para Elene. Ela estava profundamente adormecida, a raiva que freqüentemente a dominava aplacada pela paz do sono. Geoffrey respirou fundo. A esposa dele parecia doce e incrivelmente vulnerável com aqueles cílios recurvados. Os lábios estavam entreabertos e ele se lembrou dos prazeres que havia encontrado ali. Elene mexeu-se na cama e por baixo da coberta apareceu um dos ombros dela, coberto pela túnica. Geoffrey franziu a testa. Às vezes se perguntava até quando eles dormiriam inteiramente vestidos, protegidos e intocáveis. Eram ambos teimosos e cautelosos, sem dúvida, mas às vezes ele sentia uma vontade muito grande de ter… O quê? Um casamento de verdade? Uma esposa como a que existia apenas no mundo dos sonhos dele? Geoffrey balançou a cabeça e suspirou. Se Elene o visse ali, observando-a, seria um inferno. Não havia tempo a perder. Felizmente ela continuava a dormir e ele caminhou para a porta. Logo que saiu, chamou o escudeiro. Osbert era bem jovem. O antigo escudeiro de Geoffrey em Campion tinha sido armado cavaleiro no outono anterior. Embora os irmãos houvessem recomendado arranjar um substituto antes da ida para Fitzhugh, ele havia achado que seria uma medida politicamente certa escolher alguém do povo que iria liderar. Agora, como tudo o mais, perguntava-se se tinha sido uma decisão prudente, já que até mesmo Osbert parecia olhá-lo com desconfiança. Bem, talvez ele apenas visse inimigos por todos os lados. Forçando um sorriso, Geoffrey fez um gesto para que o rapaz se aproximasse. — Apronte os cavalos de Montgomery e tire da estrebaria tudo o que é dele.

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O garoto pareceu espantado, mas engoliu em seco e assentiu antes de sair rapidamente para cumprir a tarefa. Olhando para as costas do escudeiro, Geoffrey achou que devia se preparar para a confrontação que iria acontecer. Era melhor ir ao encontro do inimigo quando ele estava mais vulnerável e, por isso, ele havia escolhido um momento em que Montgomery dormia para agir. Passando por cima dos servos que dormiam no salão, Geoffrey desceu até o porão, onde ficavam os cavaleiros. O lugar estava na semi-obscuridade, mas ele identificou Montgomery sem dificuldade, dormindo numa das camas, e deu um leve chute nele, acordando-o. O cavaleiro levantou-se no mesmo instante, evidentemente enraivecido. Usava apenas o calção, mas Geoffrey não deu tempo para que ele se vestisse mais decentemente. — Mandei preparar seus cavalos. Acorde seu escudeiro, peça que ele lhe arranje alguns suprimentos e parta logo que o dia clarear. Por alguns instantes Montgomery ficou apenas olhando para ele, muito espantado. — Está brincando — disse, finalmente. Geoffrey reparou que, à volta deles, alguns homens despertavam e olhavam furtivamente para o cavaleiro seminu. Despido da malha e sem nenhuma arma, Montgomery não parecia tão ameaçador. — Não, estou falando sério. Não tenho necessidade de vassalos como você. Saia do castelo e fique longe das minhas terras e das do meu irmão, o barão de Wessex. Montgomery fez uma careta de raiva ao ouvir aquelas palavras. — Você não pode me mandar embora. Precisa de, mim, seu idiota! Quem mais vai guardar os seus portões ou liderar os seus soldados? — Não seja insolente — rebateu Geoffrey, levando a mão à espada. — Como lorde deste castelo, eu co mandarei a guarda e liderarei aqueles que me jurarem fidelidade. Se pudesse empunhar alguma arma, Montgomery certamente teria reagido naquele momento, porque estava muito enraivecido, mas não fez nada. O escudeiro não apareceu para ajudá-lo e nenhum dos cavaleiros presentes esboçou reação. Soltando um palavrão, o homem girou nos calcanhares. — Espere — deteve-o Geoffrey. — Seu ajudante lhe trará o que for necessário. Chamando Osbert, que retornava naquele momento, Geoffrey mandou que ele fosse procurar o escudeiro de Montgomery e o mandasse reunir as coisas do cavaleiro. Embora tentado a perguntar se alguém ali desaprovava a decisão dele, sabia que não teria muitas chances contra tantos homens caso acontecesse uma revolta. Por isso permaneceu calado, atento ao mais perigoso dos possíveis traidores. Quando os escudeiros retornaram, jogando em cima da cama o que era do cavaleiro, Montgomery imedia tamente tentou pegar a espada. — Não vai precisar disso — disse Geoffrey, com calma. O rosto do homem mostrou frustração e ódio. — Acha que não posso arranjar um lugar melhor do que este castelo decadente? — perguntou Montgomery, com sarcasmo, apressando-se em vestir a túnica e calçar as botas. — Encontrarei um lorde mais rico para servir, talvez um dos seus inimigos, de Burgh, e depois… Depois voltaremos a nos encontrar — ameaçou. Gritando para que o escudeiro o seguisse, o cavaleiro marchou para fora sob os olhares de espanto de todos. Querendo se certificar de que o homem deixaria Fitzhugh, Geoffrey seguiu atrás. Ia atravessando o salão quando ouviu um grito. Voltou-se rapidamente e viu Elene parada ali perto, com o rosto muito pálido por trás do véu de cabelos. — Ficou louco? — ela esbravejou. — Que diabo está fazendo? — Estou me livrando de Montgomery, como você sugeriu — respondeu Geoffrey, calmamente. — Como eu… Muito surpresa, ela pareceu perder a fala e ele sorriu ao ver uma expressão tão pouco comum na esposa. Diante daquele sorriso, a fúria de Elene retornou e ela olhou para ele como se estivesse vendo um louco. — Você podia ter sido morto, seu idiota! — disse, fazendo um gesto largo com o braço. — Não trouxe ne nhum cavaleiro, nenhum soldado para protegê-lo, nem mesmo o seu escudeiro para vigiar sua retaguarda! Sem dizer nada, Geoffrey apenas a observou, espantando-se ao ver que os dedos dela tremiam antes de se fechar no cabo do punhal, no gesto ameaçador de sempre. — Está querendo morrer? — gritou Elene. — Você se importaria se isso acontecesse? — ele perguntou, com brandura. Elene ficou evidentemente atarantada quando ouviu a pergunta. Correu os olhos pelos servos em volta, que não conseguiam esconder o interesse na discussão, e finalmente olhou para ele. — Não, eu ficaria muito contente. — Então por que essa preocupação com a minha segurança? Embora fizesse a pergunta com naturalidade, Geoffrey deixou claro que a provocava, querendo acreditar que a mulher com quem havia se casado dava importância a alguma coisa que não fosse apenas o bem-estar dela. Aquele otimismo logo desapareceu, porque Elene apertou os olhos e aprumou a cabeça. — Não quero que ninguém tire de mim o prazer de matá-lo, de Burgh! — gritou. — E é só o que tenho a dizer! Girando nos calcanhares ela se afastou, a longa cabeleira balançando. Embora enormemente desapontado com aquela resposta, Geoffrey riu da ameaça. Até aquele momento ela não tinha feito nada além de arremessar um prato de comida contra ele. Não seria tão difícil assim lidar com a famigerada esposa. O que aconteceu em seguida demonstrou que não seria bem assim. Depois de se afastar alguns metros, Elene se voltou e atirou contra ele o punhal. A arma passou a uma boa distância, deixando claro que ela não tinha tido a intenção de atingi-lo,

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mas que poderia conseguir isso, se quisesse. O silêncio tomou conta do ambiente, todos certamente querendo ver qual seria a reação dele. Obviamente esperavam que o lorde castigasse a esposa de forma exemplar. Era uma boa oportunidade para dar um espetáculo, porque o que acontecesse ali logo se espalharia. Geoffrey caminhou até onde estava o punhal, fincado numa coluna de madeira, e arrancou-o. Depois marchou para a esposa, como se estivesse disposto a matá-la com a própria arma. A um passo dela, parou e estendeu a mão. — Acho que você deixou cair isto — disse, com secura. Só ele viu o tremor na mão dela. Elene pegou o punhal e rapidamente se voltou, retirando-se. Então ele olhou para a platéia e percebeu o suspiro de alívio que todos exalavam. Não haveria um sangrento con fronto entre o senhor e a senhora daquele castelo. Pelo menos não daquela vez. CAPÍTULO VI Em abril Geoffrey recebeu a notícia de que Marion tinha dado à luz um menino, o primeiro neto do conde de Campion. Embora alegrando-se ao ser informado de que mãe e filho passavam bem, sentiu uma ponta de inveja da sorte de Dunstan. Foi uma reação que tanto o surpreendeu quanto aborreceu, porque nunca ele havia cobiçado o que os irmãos tinham. Sentiu até remorso, embora não estivesse invejando o castelo ou a fortuna do Lobo. Ambicionava, sim, ter a mesma felicidade no casamento, poder construir uma família. Geoffrey olhou para a esposa, que estava no outro lado do salão. Sabia muito bem que com ela não teria nenhum filho. Essa certeza o deixou com uma inexplicável sensação de perda. Não era do tipo de homem que fazia questão de deixar uma descendência. Além disso, não tinha experiência nenhuma com crianças. No entanto, contemplando o futuro, sentia uma frus tração que tanto o surpreendia quando irritava. Então examinou Elene, vendo mentalmente o corpo esbelto que estava por baixo daqueles feias roupas. Ele seria capaz de se deitar com ela. Vindo do nada, o pensamento o seduziu rapidamente. Elene não era nenhuma bruxa velha. Pelo contrário, tinha um corpo jovem e dotado de delicadas curvas, muito feminino. O rosto, quando não se transformava numa carranca, era adorável. E os lábios eram apimentados e tentadores. Na verdade, quanto mais ele pensava no assunto, menos penoso parecia cumprir as obrigações de marido. Se conseguisse dar à boca da esposa outra ocupação que não dizer impropérios, às mãos dela outra tarefa que não sacar do punhal… Geoffrey balançou a cabeça e procurou fazer com que o ritmo do coração voltasse à normalidade. Fosse ou não um direito conferido a ele pelo casamento, Elene jamais concordaria. Embora casados, eles dormiam separados todas as noites, inteiramente vestidos e ambos atentos para não permitir a aproximação do outro. Mesmo que conseguisse sair ileso de um possível encontro, que prazer ele teria com isso? Nunca havia possuído uma mulher contra a vontade dela. E repetidas vezes Elene deixava claro o que pensava do assunto, embora houvesse até parecido um pouco receptiva na estrebaria. Geoffrey suspirou, aborrecido consigo próprio por estar pensando naquilo. Estaria mesmo tão desesperado para produzir um herdeiro que até considerava a possibilidade de se deitar com Elene? Ela era uma coisa selvagem, não colaborava em nada para a manutenção da propriedade, não dava a menor atenção aos súditos, só causava problemas. Ah, que mulher detestável! Cedendo a um impulso, Geoffrey levantou-se e caminhou até onde ela estava. — Nasceu o filho do meu irmão. Prepare-se para uma viagem a Wessex. Vamos até lá para dar os parabéns ao casal e conhecer o herdeiro deles. Elene ergueu a cabeça, fitando-o por trás dos emaranhados cabelos. — Vá você para onde bem quiser. Eu ficarei aqui. Geoffrey não saberia dizer se estava aborrecido por não poder ter o que tanto queria ou porque não agüen tava mais as constantes discussões que a esposa provocava. Só sabia que, daquela vez, não se submeteria à birra dela. Tinha obrigação de visitar o irmão e não deixaria que Elene fizesse das suas na ausência dele. — Não, você vai, Elene. E não tente resistir, porque não vou voltar atrás na decisão. Elene soltou um riso sarcástico. — Santo Geoffrey tornou-se inflexível! Estou morrendo de medo! — Estou avisando, Elene… — ele disse, adiantando-se um passo. — Não me ameace, meu marido, ou encontrará a morte! Suspirando, Geoffrey simplesmente se voltou. Estava no limite da paciência e, se ficasse ali, acabaria recorrendo à violência. — Prepare-se para a viagem — insistiu, tomando o caminho do pátio, onde talvez pudesse encontrar alguma paz. — Eu não vou! — gritou Elene, mas desta vez Geoffrey achou que havia uma ponta de medo na voz dela. Então balançou a cabeça e continuou caminhando. Certamente aquela mulher o estava deixando louco. De outra forma, como ele teria um pensamento tão absurdo? Nada assustava Elene. Elene estava apavorada. Com mãos trêmulas segurava as rédeas do cavalo enquanto via desaparecer à distância a casa onde havia nascido e crescido. Embora quisesse expressar com gritos o desagrado que sentia, mantinha a boca fechada para

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não assustar o cavalo outra vez, o que já acontecera quando ela havia começado a gritar impropérios para o marido. Agora apenas olhava para ele, em silêncio, ou voltava a cabeça para o lado do castelo. Sentindo-se numa armadilha, queria agredir alguém, de preferência Geoffrey, mas o medo a consumia. Nunca havia saído daquele castelo. E não queria sair, mas daquela vez o santo não se dobrou à rebeldia dela. Por mais cordato que fosse, Geoffrey tinha seus limites. Elene já sabia disso e não queria ultrapassá-los novamente. Lembrava-se muito bem de quando tinha tido a coragem de apagar a vela, apenas para se ver derrubada, tendo que suportar o peso dele. Praguejando em silêncio, procurou afastar da mente aquela imagem perturbadora. Apesar das ameaças dele, havia duvidado que Geoffrey a arrastaria a força até Wessex. Chegara até a pensar em desaparecer convenientemente na manhã da partida. Poderia também causar algum problema, um problema tão insuportável que de bom grado ele a deixaria para trás. Mas… e se alguma coisa acontecesse com ele durante a viagem? Ela sabia das ameaças de Montgomery. Amargurado, o cavaleiro poderia armar uma emboscada para surpreender o lorde que o expulsara, como faziam os covardes. Embora ela já houvesse visto o suficiente para ter certeza de que o marido saberia se defender numa luta limpa, tinha provas também da maldade de Montgomery. E Geoffrey não tinha ninguém para vigiar a retaguarda dele. A não ser ela. Desde a manhã em que o vira atravessando sozinho salão para acompanhar a retirada do perigoso cavaleiro, Elene havia tomado para si a tarefa. Em vez de evitar o marido, procurava tê-lo sempre à vista na maior parte do dia. Quando ele se ocupava dos livros ou da contabilidade do castelo, envolvendo-se demais nessas coisas para prestar atenção no que quer que fosse, era ela quem ficava vigilante. Geoffrey dava a impressão de não prestar atenção nisso, o que era até bom. Se soubesse que estava tendo uma mulher por guarda-costas, ele riria dela e talvez até a proibisse de continuar fazendo aquilo. Ou poderia interpretar erradamente as intenções dela. Elene estava cuidando dos próprios interesses, nada além disso. Não queria um terceiro marido, um homem certamente menos tratável que o atual. Por isso estava ali, apertando as rédeas do animal enquanto o castelo desaparecia por trás de uma colina. Estava ali, mas não gostava do fato. Teve que se esforçar para não entrar em pânico quando a paisagem começou a mudar. Num lugar estranho, sozinha com Geoffrey e alguns servos e guardas, sentia-se nua e vulnerável, como se as paredes do castelo tivessem sido sempre um escudo para ela. Na verdade elas não ofereciam muita proteção, mas pareciam solidárias. Num desesperado esforço para controlar o que estava sentindo, Elene fazia constantes perguntas a Geoffrey sobre a estrada e procurava prestar atenção no caminho. Mesmo assim não tinha certeza de que conseguiria voltar sozinha, o que a fazia sentir-se ainda mais indefesa. E se Geoffrey a estivesse levando para algum lugar selvagem para deixá-la lá? Ou, pior ainda, se pretendesse matá-la? Não haveria ninguém para impedi-lo de fazer isso. Agora todos os soldados do antigo exército de Fitzhugh já haviam jurado lealdade a Geoffrey de Burgh. Mesmo que isso não houvesse acontecido, nenhum deles tinha simpatia por ela. Era uma situação irônica. Ela servia de guarda-costas a um homem que podia atraiçoá-la. Sentia-se compelida a protegê-lo, mas não confiava nele. Ao cair da noite Elene sentiu-se cansada e ansiosa. A perspectiva de dormir no chão duro, embora dentro de uma barraca, não contribuiu em nada para melhorar o humor dela. Na hora da refeição comeu muito pouco, atenta ao que acontecia em volta, mas os homens pareciam unicamente interessados em descansar. Finalmente, sucumbindo à exaustão, entrou na barraca e arrumou a cama com peles e cobertores. Geoffrey havia sugerido levar uma criada, mas ela riu da idéia. Estava acostumada a cuidar de si, já que não confiava em ninguém. Além disso, nenhuma criada parecia disposta a servi-la de bom grado. Assim sendo ela se acomodou na improvisada cama, cercada pela escuridão da barraca. Apesar do calor proporcionado pelas peles, não conseguiu dormir. Não estava gostando nada daquele confinamento. Imaginou os outros abandonando-a naquele lugar desconhecido ou entrando na barraca para matá-la durante o sono. Por isso permaneceu atenta, com a mão no cabo do punhal. Subitamente o pano que servia de porta foi levantado e ela viu entrando uma figura de ombros largos. O fogo aceso lá fora iluminou de relance um rosto de traços bonitos. Elene sentiu o coração palpitar quando identificou o marido, mas procurou reprimir a sensação de que estava ansiosa pela companhia dele. Também não quis pensar no que podia significar a presença de Geoffrey. — O que está fazendo aqui? — despachou. — Pretendo dormir, Elene. Imediatamente ela se sentou. Embora vestida, apertou o cobertor em volta dos ombros, como se precisasse proteger-se. Agora tudo estava muito claro. Ele a obrigara a acompanhá-lo apenas para consumar o casamento. Naquele fim de mundo, ninguém além das poucas pessoas deitadas em volta do fogo ouviria os gritos dela. E quem entre aqueles servos correria para defendê-la, tendo que enfrentar o lorde? — Saia daqui, de Burgh! Procure outra barraca! Na escuridão, ela ouviu o suspirou de Geoffrey. — Só há esta barraca, Elene, e eu estou cansado. Portanto, é aqui que pretendo descansar. Se não quer minha companhia, sinta-se à vontade para procurar outro lugar! Aquela voz cansada pertencia a um homem, não a um santo. Relaxando um pouco, Elene puxou os cobertores e as peles mais para o canto da barraca. — Fique longe de mim, de Burgh! Se pretende fazer alguma coisa aqui além de dormir, prepare-se para morrer.

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Geoffrey soltou um riso rápido. — Sim, Elene. Veja só que tolice a minha. Cavalguei toda essa distância só para possuí-la aqui, neste chão duro, quando podia ter feito isso na confortável cama do nosso quarto. Seguiu-se outro riso sarcástico e logo depois ela ouviu os sons que ele fazia ao estender no chão os cobertores que havia levado. O comentário a atingiu. Evidentemente aquele homem não a queria! Ela havia falado como uma idiota, mas mesmo assim precisava se proteger, não precisava? Elene procurou não pensar no corpo musculoso a tão poucos centímetros do dela. Sentiu a boca seca ao imaginar o calor e a virilidade daquele corpo. — Falei sério, de Burgh — murmurou. — Se fizer algum movimento suspeito, cortarei sua garganta. — E se você não ficar quieta, vou ter que fazer alguma coisa para calar sua boca! — ele ameaçou. — E o que acha que pode fazer? — provocou-o Elene, outra vez animada pela raiva. — Eu a beijarei. A ameaça a fez conter a respiração. Em vez de choque ou horror, porém, o que ela sentiu foi um traiçoeiro calor nas entranhas. Abriu a boca para dizer umas verdades, mas achou melhor não pôr à prova a deter minação do marido. Para ser sincera, também não estava confiando muito em si própria. Exausta por causa do pouco costume que tinha de viajar Elene estava de péssimo humor quando eles entraram nos domínios do Lobo. Havia chovido no dia anterior, um dilúvio que parecia querer atingi-la nos ossos, além de deixá-la com medo de adoecer. Uma gripe tornava qualquer pessoa fraca e vulnerável, presa fácil dos inimigos. Assim havia morrido a mãe dela, sem nenhuma assistência do marido. Muito pequena, ela não havia podido ajudar. Elene apertou as rédeas, como se uma demonstração de força pudesse superar aquela lembrança amarga. Respirando fundo, prometeu a si mesma que continuaria saudável. E odiando Wessex. Desprezava aquele feudo pela desgraça que ele representava para ela e para o povo de Fitzhugh. Mas agora, vendo o lugar com os próprios olhos, estava perplexa. Então o pai dela havia morrido por causa de um castelo tão velho e feio? Era maior do que Fitzhugh, e certamente muito mais fortificado, mas a construção não tinha a menor graça. — Parece um monte de ruínas — disse Elene, rindo. — Não sei como as paredes ainda não caíram em volta do Lobo — acrescentou, pensando na hipótese de Geoffrey também cobiçar aquele lugar. — Comporte-se, Elene — ele respondeu, com calma. Elene percebeu que o santo havia ressurgido e franziu a testa. Por algum motivo inexplicável, parte dela preferia o Geoffrey da noite anterior, agressivo, mas humano. O homem Geoffrey. Emudecendo os lábios subitamente secos, Elene lançou um olhar irado ao marido, como se quisesse negar o que havia pensado. Depois olhou em volta. Embora achasse boa a perspectiva de ficar ao abrigo da chuva e dormir numa cama macia, não tinha a menor intenção de ficar por muito tempo naquele lugar. Bem, tomaria providências para que eles retornassem logo a Fitzhugh. Visitantes indesejáveis eram sempre incentivados a ir embora, pensou, com um meio sorriso, no instante em que o Lobo em pessoa saiu do castelo para recebê-los. O suserano ficou evidentemente surpreso ao vê-la, por mais que procurasse esconder isso. O desagrado dele era muito claro, mas Elene também não demonstrou satisfação. Erguendo a cabeça, dirigiu ao homem um olhar de absoluta frieza, até que o Lobo desviou os olhos. Depois de dar efusivas boas-vindas ao irmão ele os convidou a entrar. O grupo desmontou rapidamente e Elene reparou que mais uma vez era objeto do olhar do Lobo. Ótimo. Ele devia mesmo se acautelar. Depois a atenção dela foi chamada pelo marido. Santo como era, ele ofere ceu-lhe o braço educadamente. Elene aceitou e os dois atravessaram a alta e larga porta. O salão parecia muito grande em comparação com o de Fitzhugh. Muitas pessoas circulavam por ali, al gumas parando para ver os recém-chegados, e Elene sentiu-se centro da curiosidade daquela gente. Antigos constrangimentos retornaram, mas ela os ignorou. Saberiam aquelas pessoas quem era a visitante? Se não, logo ela se faria conhecer! Depois Elene examinou com interesse uma mulher que se destacou de um grupo e começou a atravessar o salão na direção deles, com um largo sorriso que produzia covinhas nas faces. Era uma mulher de baixa estatura, de cabelos escuros parcialmente cobertos por uma boina da mesma cor da túnica, a roupa mais bonita que Elene já tinha visto. A túnica era de um azul, brilhante, feita de um tecido que tinha finas listras douradas no sentido da altura. Elene sentiu uma pontada de inveja, mas prontamente se recriminou. Para que precisaria de roupas finas ou jóias? O Lobo caminhou até a mulher e passou um braço em torno dos ombros dela. Muito espantada, Elene sentiu uma saudável admiração pela desconhecida, que nem se encolheu ao ser tocada pelas patas do gigante. Pelo contrário, olhava para ele como se o adorasse. Pobre criatura. Devia ser a amante dele, pensou Elene. Como se estivesse lendo o pensamento dela, a mulher, pequena mas bem-feita de corpo, tomou a palavra. — Bem-vinda à nossa casa, lady de Burgh. Eu sou lady Wessex, mas, já que agora somos irmãs, espero que me chame de Marion. Por um momento Elene ficou com os olhos arregalados, perplexa. Não se tratava de nenhuma concubina, mas da esposa! E obviamente aquela Marion tinha o tipo de charme que Geoffrey possuía. Mas Elene já havia adquirido prática em se esquivar das falsas amabilidades dele e sabia muito bem que não era bem-vinda ali. Abaixando a cabeça ela cuspiu no chão, bem diante da mulher. Um murmúrio de espanto se espalhou pelo ambiente, logo seguido por um pesado silêncio. O Lobo adiantou-se, como se fosse atacá-la, e Elene pôs a mão no punhal, preparando-se para se defender. Mas o homem deu apenas um passo e ela se

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espantou ao ver que ele era retido pela mão delicada da esposa. Por Deus, a mulher tinha muita coragem! Certamente seria espancada mais tarde pelo marido por causa da insolência, pobrezinha. O Lobo não fez nada contra ela, mas deixou bem claro que estava aborrecido. — Vai ter que se comportar na minha casa, Fitzhugh, ou se arrependerá da hora em que cruzou aquela porta. — Agora ela se chama de Burgh, Dunstan — corrigiu-o Geoffrey, com brandura. — Lady de Burgh. Depois, com seu jeito naturalmente furtivo, ele se postou entre o irmão e a esposa. Sem dúvida queria pro teger o Lobo da língua dela e do afiado punhal, pensou Elene. — Estou certo de que Elene pretende se comportar com civilidade — prosseguiu Geoffrey, depois de dirigir a ela um enraivecido olhar de advertência. Elene ficou olhando para ele, ressentida com aquilo. Ainda com a mão no punhal, sentiu algo como uma dor imaginária de uma perna amputada… ou de um coração que há muito tempo houvesse deixado de bater. Entre todos ali, só Marion não havia perdido a compostura. — Venham — chamou a lady, obviamente querendo consertar a situação. — Vocês precisam conhecer o novo membro da família! Gostariam de ver o bebê? Enquanto falava ela mantinha os grandes olhos de corça na visitante, como se suplicasse a aceitação da Paz, e Elene precisou se esforçar muito para não assentir ao pedido. Estava acostumada ao medo e à vio lência. Aqueles modos gentis só havia começado a ver no marido. — Não sei se… — começou o Lobo, evidentemente pouco inclinado a apresentar o filho a uma inimiga. Divertida com aquilo, Elene abriu a boca para ridicularizar o herdeiro dele, mas Geoffrey se antecipou. — Eu gostaria, sim, mas primeiro quero levar Elene ao quarto. —Talvez você possa providenciar também para que sua esposa fique desarmada — sugeriu o Lobo, olhando ostensivamente para o punhal dela. Elene olhou para Geoffrey, aflita. Havia esperado ser expulsa, até se esforçando para isso, mas nunca ficar desarmada. Por alguns instantes eles ficaram se olhando e ela pensou ver arrependimento naqueles olhos. Ou seria um pedido de desculpa? Pretendia ele ficar do lado dela contra o irmão e suserano? Há! Elene não acreditaria nisso nem por um instante, fosse ele santo ou não. Quando o silêncio se tornou constrangedor, o Lobo voltou a falar, como se censurasse Geoffrey. — O pai dela quase me matou aqui mesmo neste salão. Não quero que a filha ameace nenhuma das pessoas que moram aqui. Contente por obrigar o grande guerreiro a ser cauteloso, Elene soltou uma gargalhada. — Está com medo de mim, uma simples mulher? O silêncio seguiu-se ao desafio e ela achou que a paciência do Lobo havia se esgotado, mas outra vez ele foi retido pela mesma mão pequena. Era inacreditável. Como aquela Marion podia ter tanto poder sobre um cavaleiro duas vezes maior do que ela? Então Elene abriu a boca para provocar ainda mais o Lobo, ma Geoffrey a deixou muda com um olhar que parecia de um selvagem. Elene quase se encolheu. Pela primeira vez ele se parecia com o irmão e ela se recriminou por ter se esquecido de que havia se casado com um de Burgh. O homem não era nenhum santo, mas um cavaleiro, um guerreiro que não se deixaria deter por nada quando quisesse alcançar um objetivo. Como se fosse para comprovar o que ela acabava de pensar, ele tomou a palavra, a voz carregada de ameaça. — Entregue-me o punhal, Elene. Erguendo a cabeça, ela fez os cabelos caírem para trás e deixou à mostra o rosto que sabia estar pálido. Não poderia se privar da única proteção que tinha. Não ali, onde estava cercada por desconhecidos e inimigos. Depois recuou um passo, achando que havia criado um abismo entre ela e os outros: o gigantesco Lobo, a esposa dele e o marido dela, que finalmente se decidia por um dos lados. Embora há muito tempo esperada, a traição de Geoffrey a surpreendeu. Elene sentiu a mesma dor imaginária de antes enquanto olhava para o rosto dele. Um rosto cheio de determinação. Ignorando a estranha dor ela aprumou o corpo. Era uma Fitzhugh e nunca desistiria! Queria agredir al guém, de preferência Geoffrey, por ter se casado com ela, por beijá-la, por fazer com que ela o visse como um homem. Depois a razão prevaleceu. Mesmo cega de raiva Elene podia ver que não teria como resistir. Estava na casa alheia e ninguém ali parecia ter medo dela como devia. Até mesmo Marion demonstrava sentir outra coisa, o que fez Elene se encolher. Por Deus, a última coisa que ela queria era ver pena nos olhos de alguém, mas era isso o que a lady parecia estar sentindo. Elene arrancou o punhal da bainha e jogou-o aos pés de Geoffrey, só para mostrar a todos que não precisava daquilo. Podia proteger-se de mãos limpas. Era uma Fitzhugh. Embora o Lobo emitisse um resmungo quando a arma atingiu o assoalho,Geoffrey não disse nada. Apenas inclinou graciosamente o corpo para recolher a arma. Quando se ergueu novamente, voltou a estender a mão. — O outro — disse, com a mesma calma de antes. Elene franziu a testa. Como ele podia saber da faca escondida na bota dela? Soltando um palavrão, ela retirou a faca do esconderijo e jogou-a no chão. Outra vez ele se abaixou para recolher a arma, com a elegância de sempre. Depois, para surpresa dela, voltou a fitá-la. — Agora o que está na sua perna.

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Diabo de homem! Elene cerrou os punhos e soltou um grito tão forte que fez todos os servos em volta recuarem; mas Geoffrey permaneceu onde estava. Finalmente ela ergueu a saia da túnica e pegou o pequeno punhal escondido na coxa, disposto a atirá-lo contra a cabeça do marido. Quando olhou para ele, porém, ficou sem ação. Geoffrey estava olhando para as pernas dela, parecendo aturdido. Surpresa com a descoberta, Elene ficou sem ação porque ninguém jamais havia olhado para ela daquele jeito. Por um bom tempo ficou parada, os dedos segurando o cabo do punhal preso à coxa, enquanto um calor muito grande se espalhava pelo corpo, ameaçando derreter os ossos. Raramente ela pensava no próprio corpo, a não ser para maldizer o fato de ter nascido mulher, mas naquele momento estava muito ciente de cada milímetro da pele que deixava exposta aos olhos do marido. Sentiu uma louca vontade de erguer mais a saia da túnica, contrair os músculos da coxa e observar a reação dele. Queria expor-se à admiração de Geoffrey. Queria… Elene sacudiu a cabeça, expulsando da mente aquela idéia absurda. Sentindo um inesperado frio, controlou-se para não estremecer e retirou o punhal da bainha amarrada à coxa, soltando-o no chão. Geoffrey demorou algum tempo para recolhê-lo, como se antes precisasse recobrar a respiração, e Elene sentiu um entontecimento enquanto ele voltava a se erguer. — Vou lhe mostrar o seu quarto — ele disse, finalmente, numa voz estranhamente rouca. Elene demorou algum tempo para entender o que acabava de ouvir. Ah, sim, seria conduzida para o quarto. Sentia um estranho embaraço, além de algo que não conseguia definir, provavelmente a mesma obsessão que a deixara tentada a se mostrar para ele. — Com licença — disse Geoffrey, olhando para os outros. Enquanto o Lobo mantinha o semblante fechado, Marion abriu um sorriso jovial. — É o mesmo quarto em que você ficou antes, Geoffrey — disse, quando eles começaram a se afastar. Elene fitou-a. Não estava gostando nada de ouvir o nome do marido vindo dos lábios daquela mulher nem do doce sorriso de covinhas que ela mostrava com tanta facilidade. Por um instante sentiu-se tentada a arrancar uma certa porção dos ondeados cabelos da esposa do Lobo, mas pensou melhor na situação. No momento havia preocupações mais importantes, como o fato de que ela estava presa em Wessex sem nenhuma arma. Percebendo a enormidade daquele problema, Elene ficou com as mãos trêmulas. Sentia-se desorientada naquele lugar estranho, vendo gente desconhecida que cochichava entre si enquanto olhava para ela. As paredes de pedra pareciam muito frias e, desarmada, ela seria facilmente dominada. Geoffrey certamente sabia muito bem o que estava fazendo. Nas últimas semanas vinha tentando acalmá-la com sorrisos e olhares convidativos, mas, como ela sempre havia suspeitado, aquilo era um ardil que já devia ter sido praticado com muitas outras donzelas. E agora, estando ela indefesa, ele poderia fazer o que bem quisesse… até mesmo jogá-la no calabouço do irmão! Elene enroscou os dedos trêmulos no tecido da túnica, tentando não entrar em pânico. Poderia fugir, mas para onde iria? E não estava disposta a dar ao de Burgh a satisfação de afugentá-la. Não. Primeiro precisava recuperar os punhais, depois atacaria, se fosse preciso. Quando eles começaram a subir a escada, os olhos de Elene se iluminaram ao verem a bainha da espada de Geoffrey, que balançava enquanto ele movimentava as longas pernas, um passo à frente dela. Depois de umedecer os lábios secos olhou para o cabo da espada, que estava bem ao alcance da mão dela. Geoffrey era tão esperto quanto rápido, mas ela também sabia agir com rapidez. E a surpresa era sempre uma arma poderosíssima.

CAPÍTULO VII Geoffrey foi subindo a escada, pisando firme para espantar a confusão da mente. Não devia ter feito aquela viagem. Ou, melhor: não devia ter obrigado sua mulher a acompanhá-lo! Nos últimos meses havia se acostumado com o comporta mento louco da esposa, mas agora a via como ela de fato era, uma mulher temperamental, desbocada, um monstro ingrato. Resumindo: Elene era tudo o que ele abominava. Mesmo assim, vira-se olhando para as pernas dela como um adolescente excitado! Geoffrey fez uma ca reta. Estaria enlouquecendo? Esfregando os olhos ele saiu caminhando pelo largo corredor na direção do quarto que já havia ocupado. Por alguns instantes, lembrou-se do tempo passado em Wessex depois que os de Burgh haviam retomado o castelo de Dunstan. Embora tivesse sido uma época de muita luta, aquele período parecia prazeroso em comparação com o momento atual. Agora ele se sentia sobrecarregado, e o fardo mais pesado era a esposa! Enraivecido, Geoffrey abriu a porta do quarto e viu Elene passar por ele como um furacão. O que ela pre tendia fazer agora? Rapidamente ele fechou a porta, prevendo a possibilidade de que estivesse para começar mais uma gritaria. O comportamento dela no salão tinha sido absurdo e felizmente eles agora estavam sozinhos. Aliviado, Geoffrey passou o trinco na porta e voltou-se. Então conteve a respiração. Ela estava com a espada dele.

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A poucos passos de distância, com as pernas apartadas na tradicional postura de combate, Elene brandia no ar a pesada arma, com impressionante facilidade, finalmente apontando-a para o peito dele. Abaixando um pouco a cabeça, olhou-o de uma forma ameaçadora. — Devolva-me os punhais, de Burgh. Geoffrey sentiu o coração palpitar, mas não foi de medo. Embora não quisesse reconhecer, via alguma coisa de excitante na audácia, na agilidade, na presença de espírito dela… Ah, estava enlouquecendo mesmo! Geoffrey pigarreou antes de falar. — Você me mataria aqui, na casado meu irmão? Está querendo morrer, Elene? — Talvez — ela respondeu. — Talvez seja melhor morrer do que ficar desarmada. Geoffrey sentiu-se tocado, não tanto pelas palavras quanto pela vulnerabilidade que pensou ver naqueles olhos negros. Por Deus, ele não havia querido privá-la dos preciosos punhais, apenas concordando com o desejo do irmão. Afinal de contas, era na casa de Dunstan que eles estavam. E, na ocasião, tinha ficado furioso com a esposa por embaraçá-lo na frente de todos. Devia ter previsto isso, era bem verdade, mas ultimamente ela vinha tendo um comportamento tão calmo que ele até… Não, devia ter previsto, sim. Elene nunca mudaria. Era uma rebelde que nada nem ninguém conseguiria domar. Os últimos vestígios da raiva de Geoffrey desapareceram de pronto, restando apenas um frio desapontamento. Como os outros de Burgh costumavam dizer, ele não conseguia guardar rancor de ninguém por muito tempo. Com a esposa não seria diferente. Por mais barulhenta e irritante que fosse, Elene nunca o havia prejudicado muito seriamente. E agora ele não acreditava que ela faria mais do que vociferar os costumeiros impropérios e ameaças. Geoffrey olhou-a da cabeça aos pés e reparou no esforço que ela fazia, evidente na tensão dos braços e do rosto. Podia tomar a arma dela, mas alguém poderia acabar se ferindo. No caso, esse alguém seria Elene. E alguma coisa que ele não conseguia entender o convenceu a não superá-la fisicamente. O que conseguiria provar com isso, além de que era mais forte? — Pois muito bem — disse Geoffrey, com brandura, reparando que os ombros dela cediam levemente, uma indicação de alívio. Evidentemente a pesada espada exigia um esforço muito grande dela. Então ele tirou de uma bolsa pendurada na cintura os dois punhais e a faca, que apresentou com o cabo virado para ela. Logo depois viu a espada ser soltada no chão. — Mas não ponha esse seu punhal preferido na cintura enquanto estiver aqui — recomendou, enquanto se abaixava para apanhar a própria arma. — Se Dunstan a vir com ele, será um inferno. Elene assentiu enquanto encostava no peito as três armas juntas, o que fez Geoffrey sentir vontade de abraçá-la. Ela parecia tão só e indefesa, uma criatura assustada que buscava conforto na lâmina fria de uma arma. Então ele se arrependeu de tê-la levado ao local onde o pai dela tinha sido morto, à casa de um homem que não fazia segtedo do desprezo que sentia por ela. Sem pensar no que fazia, Geoffrey adiantou-se com a os braços abertos, mas ela prontamente recuou, erguendo a cabeça para encará-lo. — Vou esconder os punhais, mas não espere que eu goste daqui. Deixei bem claro que não devia me trazer. Eu avisei, de Burgh! Geoffrey suspirou ao sentir nas têmporas o começo de uma dor de cabeça. Depois de pôr a espada outra vez na bainha, olhou novamente para a criatura que agora esbravejava como uma megera. E ainda há pouco ele havia pensado nela como alguém vulnerável. Oh, Deus… Aquilo era loucura. Geoffrey voltou-se para sair, deixando-a com seus punhais e seu ódio. Elene passou as horas que antecederam o jantar andando de um lado para outro dentro do estreito quarto, remoendo-se com uma suspeita. Tinha sido fácil demais. O triunfo inicial por pegar Geoffrey desatento havia desaparecido no instante em que ela apontou a espada para o peito dele. Tinha sido muito simples pegar a arma, confirmando que ele precisava de alguém para protegê-lo. Ah, o estúpido! Logo em seguida, quando ela brandiu a pesada espada, sentiu novamente a dor imaginária, como se a falha deixada por um dente arrancado voltasse a doer. Ela havia vacilado. Apesar de todos os medos que tinha, não queria feri-lo. Na verdade quase havia suplicado para que ele não a obrigasse a feri-lo. A submissão de Geoffrey aconteceu quase imediatamente, sem que ele ao menos tentasse desarmá-la ou sugerisse um acordo. Entregou todos os punhais, apenas recomendando que os mantivesse escondidos. Aquilo deixou Elene tão surpresa que quase a fez cair de joelhos, aliviada. Obviamente ele não tinha intenção de jogá-la no calabouço ou deixar que o Lobo a atacasse. Como não queria estar ali ela havia tentado apresentar os motivos que tinha, mas Geoffrey simplesmente se retirara, com aquele olhar triste. Procurando afastar o sentimento de culpa causado pela lembrança, Elene esforçou-se para se concentrar. Ele havia devolvido as armas, mas ela continuava em Wessex. Além disso, não confiava no marido nem no demônio do irmão dele. Tinha sido fácil demais… Teria Geoffrey algum outro motivo para devolver os punhais dela? Talvez ele apenas gostasse de desafiar o irmão, pensou Elene, logo balançando a cabeça. O santo não teria tal mesquinhez. E o que dizer dos horríveis planos que ela havia pensado estar na cabeça dele? Comparar a um calabouço aquele pequeno mas confortável lugar onde eles haviam se instalado seria no mínimo injusto. Embora nuas, as paredes eram limpas e havia pregos fincados na pedra para que ela pendurasse o manto perto da lareira. O enorme baú que eles haviam trazido de Fitzhugh estava encostado na parede, por baixo da estreita janela, transformando-se em assento. E havia a cama. Elene olhou para o pesado móvel, que parecia ocupar a maior parte do quarto. Em cima do colchão macio estavam dobrados e empilhados vários cobertores.

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Não era uma cama muito grande, nem chegando a ter o tamanho da que havia no quarto principal do castelo dela, mas mesmo assim atulhava o pequeno quarto. Onde Geoffrey encontraria espaço para improvisar uma cama no chão? Outra vez ela ficou desconfiada. Talvez fosse esse o plano… violentá-la ali, onde as grossas paredes impediriam que outras pessoas ouvissem os gritos dela. Longe de casa, ela não teria nenhum aliado na toca do Lobo, onde uma Fitzhugh sempre seria considerada inimiga. Procurando se acalmar, Elene considerou a idéia e balançou a cabeça. Não acreditava num plano como aquele, porque mais de uma vez Geoffrey já havia deixado claro que não tinha nenhum interesse por ela… como mulher. Soltando um demorando suspiro ao pensar naquilo, Elene sentou-se na beirada da cama e considerou as mais desencontradas possibilidades, até se fixar numa conjectura que se recusava a ser descartada. Talvez não houvesse plano nenhum. Talvez Geoffrey houvesse ido a Wessex simplesmente para ver o filho do irmão, fazendo-se acompanhar por ela porque… porque não confiava na esposa o suficiente para deixá-la sozinha em casa. Elene achou que devia ficar revoltada com aquilo, mas não pôde. Sentia-se cansada, mental e fisicamente, mas mesmo assim sabia que não podia sucumbir à exaustão. Precisava estar alerta. Devia haver alguma coisa que ela não estava percebendo, algum plano para ser posto em prática ali, na toca do Lobo. Elene afundou a cabeça nas mãos, mas uma batida na porta a fez levantar-se de chofre. A porta se abriu, revelando a figura enorme de Geoffrey. Com a aparência calma de sempre, ele usava uma túnica verde que o tornava tão misterioso e envolvente quanto uma floresta. As pontas dos compridos cabelos estavam úmidas. Obviamente havia tomado banho e trocado de roupa, e Elene melindrou-se por não fazer a mesma coisa. Bem, não podia reclamar. Não lhe ofereciam tais confortos porque não esperavam que ela aceitasse. Isso era até bom, pensou, alisando a grosseira túnica marrom de lã. Precisava manter a reputação de mulher inflexível. Elene reparou que o marido estava esperando por ela, com uma expressão tão confiável que ela quase se deixou conduzir por ele. Logo depois, pensando melhor, aprumou o corpo e marchou para a porta. Quem estava ali era um homem, além de ser um de Burgh. Portanto, não merecia confiança. Rapidamente ela desceu a escada e entrou no enorme salão. O lugar estava outra vez cheio de gente, o que a fez sentir-se mais deslocada do que nunca. Deliciosos aromas de comida enchiam o ar e Geoffrey a levou até um lugar à mesa do lorde do castelo. Quando diligentes servos puseram bandejas de comida diante deles, Elene sentiu-se duplamente constrangida. Jamais havia comido uma refeição na companhia do marido, embora fosse esse o costume. Quando Geoffrey se acomodou no lugar ao lado, ela se sentiu oprimida pelo corpanzil dele e afastou-se um pouco no banco. Mesmo assim a coxa musculosa dele pareceu muito perto da dela. Percebendo que não teria como resolver aquele problema, Elene olhou em volta, procurando pensar em outra coisa. Além daquela mesa grande, onde estavam os donos da casa e vários agregados, havia muitas outras espalhadas pelo salão. Aparentemente todos os habitantes do castelo tomavam a refeição juntos. A constatação seguinte a surpreendeu ainda mais. Todos ali pareciam felizes. As pessoas nas mesas menores conversavam entre si e riam, enquanto os servos ocupados em servir as mesas faziam com eficiência seu trabalho, sem aquela expressão de enfado que Elene estava acostumada a ver no castelo dela. E todos pareciam ter respeito e afeição pelo lorde e pela lady. Foi isso o que mais a surpreendeu, porque, quando o pai dela dava uma ordem, os servos se encolhiam, temerosos de não agradá-lo. O Lobo, no entanto, embora fosse um homem ainda mais forte, parecia inspirar mais lealdade do que medo. — Elene. Quando ouviu a voz de Geoffrey ela levou um susto e se voltou, como se precisasse se defender de algum ataque, mas ele apenas mostrava as fatias de carne que havia cortado na bandeja, uma das quais oferecia a ela. Elene aceitou a oferta sem agradecer. Estava mastigando a deliciosa carne quando teve a atenção chamada para outra cena. O lorde e a lady comiam na mesma bandeja. O Lobo cortou um pequeno pedaço de pombo assado e ofereceu-o a esposa. Com a mão. Em vez de recuar, Marion aproximou o rosto e pegou a carne com os dentes. Depois segurou no punho do marido para lamber os dedos dele. Finalmente sorriu, mostrando as covinhas do rosto. Elene conteve a respiração. Nunca tinha visto nada parecido. Aquilo chegava a ser repulsivo, no entanto… Disfarçadamente ela olhou para as mãos de Geoffrey, mãos de dedos longos e fortes. Que gosto teriam aqueles dedos? Seriam doces, como parecia ser o próprio Geoffrey? Assustada com aqueles pensamentos, Elene abaixou a cabeça, quase fazendo com que os cabelos caíssem na comida. Queria se esconder do mundo… e que o mundo fosse para longe dela. Enquanto comia, observava as pessoas em volta protegida pelos cabelos. Várias vezes o Lobo e a esposa tentaram envolvê-la na conversa, mas ela respondia com resmungos. Detestava aquele lugar, onde as pessoas não pareciam se sentir ameaçadas pelo vizinho. Achando isso um absurdo, várias vezes ela reclamou da comida, só para ver a reação da dona da casa. Mas Marion não se mostrava ofendida, apenas sorrindo naquele seu jeito compreensivo. Até que Elene ficou confusa. Como aquela doce criatura podia sentir afeição pelo Lobo? Antes de chegar ali, Elene havia imaginado a lady Wessex como uma mulher tão abrutalhada e assustadora quando o mais velho dos de Burgh. Alguém como… como ela própria? Elene olhou para a pequena e delicada Marion e sacudiu a cabeça. Obviamente a mulher não era tão inofensiva quanto parecia. De outra forma, como conseguiria conter o marido, às vezes sem ao menos tocar nele?

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Era estranho, muito estranho. Mais estranho ainda era Marion parecer feliz com sua sina. E a mulherzinha era muito convincente nisso. Bem, devia ser louca. A existência de qualquer mulher consistia apenas em sofrimentos, do nascimento à morte. No entanto, Marion de Wessex dava a entender o contrário. Parecia considerar o filho recém-nascido uma bênção, e não um fardo difícil que, para ser trazido ao mundo, quase havia custado a vida dela. Mas tratava-se de um menino, o que fazia muita diferença. A mãe de Elene não havia conseguido produzir o desejado herdeiro, enfraquecendo-se a cada gravidez, até ficar tão debilitada que o marido a expulsou do quarto. A mulher passou a dividir um outro quarto menor com Elene, mas Fitzhugh continuou querendo um filho e freqüentemente a procurava, nessas ocasiões mandando que a filha saísse… Elene estremeceu. As meninas que iam nascendo eram banidas da casa antes mesmo de serem amamentadas pela mãe, indo ela não sabia para onde. Talvez fossem entregues a famílias humildes para que as criassem, talvez fossem mortas… Elene sentiu um toque no braço e voltou-se para o lado. Por um longo momento pensou estar encarando o pai, até afastar os cabelos do rosto e perceber que se tratava de um jovem servo. O rapaz parecia muito espantado com a reação dela. — Só quero recolher sua bandeja, minha lady — disse. Soltando um suspiro exasperado, Geoffrey puxou a bandeja dela e entregou-a ao servo. — Desculpe se o garoto a assustou — disse Marion. — Sempre mandamos as sobras de comida para os portões do castelo para que sejam distribuídas às pessoas famintas. — Meu povo sofreu muito com a guerra — acrescentou o Lobo, olhando de forma significativa para Elene. — Mas as coisas estão melhorando — apressou-se em dizer Marion. — Agora o Lobo está em casa e não precisará mais viajar. Dito isso ela mostrou um luminoso sorriso, o que imediatamente fez com que o marido desfizesse a carranca. Elene ficou muito espantada. Como ela conseguiu isso? O Lobo mexeu a cabeça para o lado. — Já que você e o nosso filho estão passando bem, poderei fazer alguma viagem, se houver necessidade. Marion franziu a testa e Elene viu determinação no semblante dela. — Mas haverá outros bebês — protestou a lady. — Não! — discordou o Lobo, com uma ênfase que quase assustou Elene. — Foi muito doloroso para você. Doloroso para Marion? Estaria aquele gigante realmente preocupado com o bem-estar da esposa? O espanto de Elene aumentou ainda mais. — Bobagem! — minimizou Marion. — Foi um parto fácil e… O lorde empurrou a cadeira e ficou sentado de frente para a esposa. — Um parto fácil? Você chama de parto fácil um dia e meio de sofrimento? — O primeiro parto é sempre mais difícil, mas os seguintes serão… Desta vez o Lobo se pôs de pé. — Já disse que não haverá mais filhos! Elene inclinou-se para a frente e tocou com os dedos no cabo do punhal que tinha escondido na bota. Aquele homem falava com tanta ênfase que parecia disposto a agredir a franzina esposa na frente de todos. Forte como era, certamente a mataria. Elene não sentia nenhuma simpatia por Marion, mas não ficaria parada vendo uma mulher indefesa ser morta por um brutamontes. Quando ela já ia puxar o punhal, Marion se levantou num salto. — Haverá mais filhos, sim, senhor! — declarou, com convicção. Depois, avançando um passo, cutucou com a ponta do dedo o peito musculoso do marido. — Se acha que não conseguirei fazê-lo mudar de idéia, vamos até o nosso quarto e você verá! Agora era demais! Certamente o Lobo castigaria a esposa por desafiá-lo daquele jeito. No entanto, para surpresa maior de Elene, a reação do homem foi mostrar um sorriso malicioso antes de abraçar a mulher e beijá-la na boca. Outro fato surpreendente era que ninguém ali parecia reparar no que estava acontecendo, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ali perto mesmo um sujeito gordo continuava comendo, com toda tranqüilidade. Elene olhou novamente para o lorde e a lady de Wessex, que continuaram se beijando por mais alguns segundos. Finalmente ele recuou e piscou o olho para a esposa. — Talvez devamos procurar um pouco de privacidade para terminar nossa conversa. A mulher assentiu e eles pediram licença aos presentes para se retirar. Em vez de se mostrar apavorada com a perspectiva do que estava para acontecer, Marion tinha as faces afogueadas e parecia ansiosa. Ansiosa? Elene balançou a cabeça. Aqueles dois só podiam estar loucos para ter tal comportamento. No entanto… Subitamente ela se lembrou de quando Geoffrey havia encostado os lábios nos dela. Saberia o santo beijar daquele jeito? Mexendo-se no banco, Elene procurou acreditar que estava com o coração palpitando tanto por causa da perigosa situação que havia presenciado. Não tinha nada a ver com o marido dela nem com pensamentos carnais contra os quais Edred sempre a advertia. Com a mente confusa, Elene levou um susto quando ouviu a voz de Geoffrey. — Bem, já é tarde e tivemos um longo dia. Acho que também vou me recolher. E você, Elene? Como se quisesse mostrar que se tratava de um convite ele estendeu a mão, para a qual Elene olhou com desdém. Se achava que ela teria o mesmo comportamento da louca lady Wessex, ele estava tristemente enganado. — Não estou com sono. Geoffrey suspirou. — Mas eu estou. E acho melhor você me acompanhar do que ficar aqui assustando os servos.

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Elene não gostou de ouvir aquilo. Não tinha tido a intenção de assustar o garoto, mas… E se tivesse? Era uma Fitzhugh e podia assustar quem bem quisesse. — Vamos, Elene — insistiu Geoffrey. Ele estava com aquela expressão paciente, como se quisesse dizer a ela que, se fosse preciso, passaria a noite toda ali, com a mão estendida. — Ora, está bem — despachou Elene. Ignorando a mão oferecida ela se levantou e marchou para a escada, que subiu com passos firmes. Quando entrou no quarto, reparou novamente, o quanto ele era apertado. Então encostou-se na parede e lançou um olhar de advertência a Geoffrey. — Você vai precisar de mais cobertores para fazer sua cama no chão. Depois de trancar a porta ele olhou para ela. — Não há espaço suficiente no chão, Elene. Vou dormir na cama. Apesar do pânico, Elene decidiu que não cederia. Abaixou-se vagarosamente e tirou o punhal da bota. Depois olhou novamente para ele, triunfante. — Acho que não. Geoffrey empertigou-se ao ver o brilho da lâmina. — Vou dormir na cama — repetiu. — Decida você onde quer dormir. Se resolver se espichar no chão com os pés dentro da lareira, não fará diferença para mim. Ou será que prefere abrir o baú para se encolher lá dentro? Quanto a mim, sou muito alto e não posso fazer nada disso! As últimas palavras ele disse quase gritando. Depois, ignorando a postura ameaçadora dela, contornou a cama e sentou-se. Perplexa, Elene ficou olhando enquanto ele tirava as botas e a espada, pondo tudo aos pés da cama. Sem se despir, deitou-se com os braços por baixo da cabeça, naquela pose arrogante que tanto a irritava. — Não vai cortar minha garganta? — desafiou-a. — Estou tão cansado que provavelmente nem vou reparar. Logo depois, para maior fúria dela, simplesmente fechou os olhos. Elene ficou olhando para ele durante um bom tempo, até finalmente abaixar a mão. Sentia-se uma idiota por ter brandido uma arma contra um homem adormecido. E, pelo ritmo da respiração, Geoffrey estava mesmo dormindo, tendo se esquecido inteiramente da presença dela. Diabo. Elene não estava acostumada com aquilo. Olhou novamente para o marido, sem saber o que fazer, mas estava certa de que não se deitaria na mesma cama com ele. Franzindo a testa, examinou o chão e chegou à conclusão de que passaria uma péssima noite se resolvesse dormir ali. Depois caminhou até o baú. Talvez Geoffrey tivesse razão e ela pudesse dormir lá dentro. Erguendo a tampa, sentiu um certo prazer com a perspectiva de deixar amarrotadas as roupas do marido. Então pegou um dos cobertores da cama, entrou no baú e procurou se acomodar, apenas para constatar que o espaço era muito apertado. Seria insuportável passar a noite toda com as pernas dobradas daquele jeito. Além disso, sentia-se confinada, correndo também o perigo de que a tampa caísse, deixando-a presa. Elene sentiu um arrepio. Talvez fosse justamente essa a intenção de Geoffrey. Logo que ela dormisse, ele abaixaria a tampa e a carregaria o baú até a cova que o Lobo havia mandado cavar… Elene ergueu-se, subitamente vendo aquele baú como um esquife. Finalmente pegou um travesseiro na cama e sentou-se no chão, com as costas na parede. Por mais exausta que estivesse, porém, não conseguia adormecer. Ressentida, ficou olhando para Geoffrey, iluminado pelo fogo que queimava na lareira, o vagaroso subir e descer do peito dele comprovando um tranqüilo repouso. Observando-o, Elene teve a distinta sensação de que alguma coisa havia mudado entre eles de forma irrevogável, uma transferência de poder que não voltaria mais para as mãos dela. Se não fosse assim, por que Geoffrey estava dormindo na cama, quase ressonando, enquanto ela sofria naquele desconforto? De alguma forma, quando ela não estava prestando atenção, o santo havia levado a melhor sobre a Fitzhugh. E agora? O que ela poderia fazer? Elene mexeu-se e bateu com a cabeça em alguma coisa de madeira. Sentando-se imediatamente, percebeu que estava com as pernas dobradas e um dos braços para fora de uma beirada dura. Mas onde estava, afinal? Num baú? Balançando a cabeça para clarear as idéias, imediatamente se arrependeu do movimento quando o pescoço protestou por causa da dor. Obrigada a ficar na posição desconfortável, agora estava com um torcicolo como nunca havia conhecido. Soltando um gemido, Elene tentou se levantar para sair daquela prisão, apenas para voltar à posição de antes por causa da dormência nas pernas. Depois de respirar fundo, pôs as duas mãos nas bordas do baú e esforçou-se para sair, apesar das dores que sentia pelo corpo todo. Um minuto depois desabou na cama, de bruços, a maciez do colchão parecendo caçoar dos sensíveis membros dela. Por algum tempo ficou ali, prostrada, como um peixe morto na praia. Pouco a pouco, porém, a raiva a dominou. Devia ter cortado a garganta do cretino. Elene imaginou Geoffrey dormindo tranqüilamente enquanto ela se sentava na cama no meio da noite. Nem por um milagre o santo escaparia. Depois de algum tempo encontrou forças para rolar o corpo e ficar deitada de costas. Apertou os olhos quando sentiu no rosto os raios de sol que entravam pela janela, uma indicação de que o dia já havia amanhecido há um bom tempo. Deus do céu! Ela nunca havia se levantado tão tarde! Provavelmente, em algum momento antes do amanhecer, havia sucumbido aos apelos do corpo cansado, ignorando a dureza do chão e o vento frio que entrava pela janela. Em vez de estar descansada, porém, agora sentia o corpo moído.

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Embora soubesse estar precisando de um bom banho, Elene apenas jogou os cabelos por cima dos ombros, recusando-se a escová-los e a trocar a amarrotada túnica. Agora mais do que nunca, estava decidida a deixar aquele lugar, o que não conseguiria se pensasse na aparência ou quisesse ser agradável. Olhando para as roupas de Geoffrey empilhadas no chão, nem se preocupou em guardá-las no baú e marchou para a porta. Enraivecida, desceu a escada ignorando os olhares curiosos dos moradores do castelo, embora o corpo dolorido protestasse a cada passo que ela dava. Elene olhou em volta e ficou ainda mais enraivecida quando percebeu que havia perdido o café da manhã. Por acaso seria obrigada a ficar em jejum até a hora do almoço? Depois de abrir a boca para gritar uma praga, ela imediatamente a fechou quando ouviu um som de riso. Parou para prestar atenção, a contragosto fascinada pelo tom musical daquela voz, que era conhecida mas agora soava de uma forma diferente e encantadora. Era a voz de Geoffrey. Ah, aquele riso foi como um tônico para os músculos doloridos de Elene, deixando-a com o coração leve. A carranca desapareceu e ela se deu conta de que era a primeira vez que ouvia o marido rir de verdade. Momentaneamente esquecida do plano de fuga, viu a figura de Geoffrey no salão, debruçado sobre a mesa, de costas para ela. Adiantando-se ela foi chegando perto e percebeu que ele não estava sozinho. Mas claro. O homem não era um idiota para ficar rindo sozinho. No instante seguinte Elene parou, vendo quem se divertia com ele. Sentada bem ao lado de Geoffrey estava Marion, brindando-o com aquele sorriso de covinhas, enquanto o Lobo não estava à vista. Elene sentiu um estranho aperto no peio ao ver Marion tão à vontade com o marido dela, fazendo-o rir com sua fala mansa. Enquanto ela os observava, eles trocaram algumas palavras cochicando e Elene viu Geoffrey erguer a cabeça de cabelos escuros, as feições relaxadas como nunca. Então sentiu a garganta apertada, o que até tornava difícil a respiração. E pensar que havia se decidido até a enfrentar o lorde de Wessex para salvar a vida daquela mulher! Elene arregalou os olhos quando o mistério que a esposa do Lobo representava se resolveu por si. Marion era uma prostituta. Elene tinha conhecimento de tais mulheres, porque Edred falava delas com constância, sempre as censurando. Elas vendiam seus favores aos homens ou se entregavam ansiosamente à luxúria em troca de poder ou atenção. Muitas faziam essas coias simplesmente por serem devassas por natureza. Obviamente Marion havia seduzido o Lobo usando de algum estratagema desse tipo, porque os homens sempre se sentiam atraídos por aquelas que fingem sentir prazer com o que eles faziam. Mas por que ela agora flertava com Geoffrey? Estaria pretendendo estabelecer a discórdia entre os irmãos ou apenas queria satisfazer seus corrompidos desejos? Bem, isso não era da conta dela, pensou Elene, sentindo um amargor na boca cuja origem não saberia explicar. O juramento que Geoffrey tinha feito de ser fiel à esposa não significava nada e ela nunca o obrigaria a cumpri-lo. No entanto, enquanto procurava se convencer de que acreditava mesmo naquele pensamento, viu Marion pôr as mãos delicadas no braço de Geoffrey. Subitamente, Elene querendo ou não, foi a Fitzhugh quem reagiu. — Sua vagabunda! — ela vociferou, avançando. — Tire essas mãos de cima do meu marido! Marion recuou, muito assustada. Antes que Elene pudesse alcançar a miúda mulher, porém, Geoffrey ergueu seu corpo enorme e postou-se entre as duas. Com apenas um movimento rápido, agarrou-a e a pôs no ombro, como se ela fosse um saco de batatas. O ar fugiu dos pulmões de Elene e ela não pôde falar, sentindo o corpo já dolorido se comprimir contra o duro ombro dele. — Com licença, Marion — pediu Geoffrey, a voz melodiosa transformada pela raiva. — Preciso ter uma conversa com minha esposa. Em particular. Elene abriu e fechou os olhos, sentindo-se tonta por causa do aparente movimento dos ladrilhos do chão. A idéia de liquidar com Marion havia desaparecido por completo, sendo agora o marido quem ela queria matar. Reunindo todas as forças, tentou pegar um dos punhais, mas um deles estava na bota e o outro se encontrava por baixo da saia, locais de acesso proibido pelo musculoso braço de Geoffrey. Quando ela se debateu, a mão esquerda dele plantou-se com firmeza nas nádegas dela, impedindo-a de sair dali. Elene sentiu a garganta seca. Geoffrey não retardou o passo nem mesmo quando começou a subir a escada a caminho do quarto. Elene sentiu o pânico subir pela espinha quando pensou na força daquele homem. Outra vez o santo que ela havia conhecido era substituído por um implacável guerreiro, por um de Burgh. E, finalmente, ela o deixava enfurecido. Geoffrey havia perdido a paciência. CAPÍTULO VIII Geoffrey subiu rapidamente a escada, sem ao menos olhar para o que carregava no ombro. Finalmente havia decidido agir. Há meses que vinha suportando o comportamento rebelde da esposa, os impropérios e as ameaças que ela vivia gritando, mas não toleraria mais aquilo. Entrando no quarto ele fechou a porta com um violento chute, sem se importar com o barulho que estava fazendo. Depois de tirar o fardo dos ombros, jogou-o sobre a cama. Elene caiu de costas, com as pernas e os braços levantados. Olhando para ela, Geoffrey chegou à conclusão de que sua costumeira eloqüência o havia abandonado, já que não conseguia pensar em nenhuma palavra para expressar a raiva e o aborrecimento que sentia com a mulher com quem havia se casado. Abriu a boca, mas emitiu apenas um som grave e estranho, muito parecido com um dos rosnados que Dunstan soltava.

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Deus todo-poderoso! Ele não era um selvagem como o irmão! Pigarreando, Geoffrey tentou novamente, procurando falar em voz baixa e o mais calmamente possível. — Não me importo com a forma como você me trata, Elene, mas nunca tente machucar Marion. Ele é uma mulher inocente, amável, bondosa e meiga. Tudo o que você não é, pensou em acrescentar, enquanto observava a expressão rebelde da esposa. Obviamente aquela advertência, como todas as outras, estava tendo muito pouco ou nenhum efeito sobre a diaba. Murmurando uma praga, Geoffrey girou o corpo. Não sabia o que o aborrecia mais, se Elene ter tentado atacar Marion ou Marion ter visto a esposa dele em um de seus piores momentos. Um calor foi vagarosamente tomando conta das faces de Geoffrey, causado pela idéia de que a cunhada tinha conhecimento da dolorosa verdade da vida dele. Não importava o que os irmãos pensavam. Nenhum dos de Burgh jamais havia sabido dos secretos sonhos dele, nenhum deles poderia entender a necessidade de amor que ele sentia. Mas Marion olhava para tudo com os olhos de uma mulher e ele não suportaria vê-la demonstrando pena pela sina dele. Geoffrey trincou os dentes e cerrou os punhos. Queria socar alguma coisa, qualquer coisa, só para tentar diminuir a frustração que sentia. Então empertigou-se, subitamente dando-se conta do que a esposa havia conseguido fazer. Ele havia perdido a paciência. Geoffrey respirou fundo, mantendo os lábios apertados. Sempre havia se orgulhado de ser diferente dos irmãos. Era o mais instruído de todos, aquele que Campion afirmara ser o filho mais parecido com ele. Conseguia conversar com as pessoas sem fazer uso de palavrões e não era do tipo de guerreiro sanguinário que sentia prazer nas batalhas. Naquele momento, porém, o que mais queria era agarrar a esposa por aqueles enormes cabelos e… — Vou continuar fazendo o que bem quiser. Como não gosto da sua prostituta… Ao ouvir a voz de Elene ele se voltou rapidamente, num gesto que a fez interromper o que ia dizendo. Parecendo mais rebelde do que nunca, ela estava de joelhos na cama, segurando o punhal apontado para ele. Outra vez. Quantas vezes já o havia ameaçado de morte? Embora não entendesse aquela necessidade que Elene parecia ter de estar sempre armada, em todas as vezes ele havia preferido não dar importância. Mas não daquela vez. Num movimento rápido, Geoffrey arrebatou o punhal da mão dela e fechou os dedos no delgado pulso. — Marion não é minha prostituta — disse, falando bem devagar e debruçando-se por cima dela. — Marion é minha cunhada. Sei que sua mente perturbada vê maldade em tudo, mas não tente transformar Marion em nada ruim. Ela é um pessoa verdadeiramente bondosa, a melhor coisa que já aconteceu à minha família. E, antes que este dia chegue ao fim, você pedirá desculpas a ela pelo abominável comportamento que teve. Elene abriu muito os olhos negros, como se estivesse aterrorizada, e Geoffrey soltou-a. Aborrecido consigo mesmo, sentou-se na borda da cama e apoiou a cabeça nas mãos. Aquela mulher estava fazendo com que ele descesse ao nível dela. E ele podia ver o tenebroso futuro que se desenhava: eles passariam o resto da vida brigando como dois cachorros. — Nunca encoste a mão em mim, de Burgh. Ao ouvir aquelas palavras Geoffrey ergueu a cabeça. Só podia estar sonhando. De outra forma, por que sentiria nas costas a ponta de um punhal? Por que uma mulher que estivesse em seu juízo perfeito voltaria a ameaçá-lo depois de ter sido dominada por ele, num momento em que a raiva ameaçava fazê-lo perder a cabeça? Geoffrey levantou-se vagarosamente. Depois, mais devagar ainda, foi se virando para encará-la. Era incrível, mas ela estava outra vez ajoelhada na cama, com o outro punhal na mão. — Não se aproxime mais — advertiu Elene. Com a rapidez conferida pela habilidade e pela prática, Geoffrey arrancou o segundo punhal da mão dela, com a mesma facilidade da vez anterior, girando nos calcanhares enquanto ela gritava, furiosa. — Devolva o meu punhal! — vociferou Elene, lançando-se contra ele com os punhos cerrados. Conseguiu arranhá-lo na face antes que ele pudesse dominá-la. Geoffrey fez uma careta por causa da dor. — Devolverei o punhal quando você começar a agir como uma pessoa adulta, e não como uma criança, uma pirralha malcriada e cheia de vontades! Quando é que você vai assumir suas responsabilidades na vida? Quando vai aceitar alguns deveres para cumprir em vez de ficar assustando garotos e provocando dores de cabeça, em mim? Quando vai assumir as funções de castelã, como seria sua obrigação? Nunca pretende supervisionar os trabalhos na cozinha? Nunca pensou em transformar aquele castelo num lar, num lugar agradável de se morar? Por um longo momento ela ficou apenas olhando para ele, os olhos de gata apertados, os lábios entreabertos. Estava chocada. Depois fez uma furiosa careta. — Quando você sair de lá! — gritou, soltando-se para esmurrar o peito dele. Geoffrey recuou um passo e olhou para ela, tão enfurecido quanto perplexo por não conseguir fazê-la ver a razão. Por Deus, aquela mulher não podia ser racional! Soltando um gemido ele levou os dedos à face. A diaba havia tirado sangue dele. — Eu devia tratá-la como a criança que você é — ele declarou. — Devia deitá-la de bruços no meu colo para castigá-la no traseiro! Rapidamente passando da palavra à ação, Geoffrey agarrou-a pelos pulsos, sentou-se e deitou-a de frente, atravessada sobre as coxas dele. Estava enraivecido o suficiente para cumprir a ameaça, embora a fúria inicial houvesse se transformado numa espécie de abatimento. Olhando para a mulher que gritava e esperneava no colo dele, Geoffrey hesitou. Com a mão numa das pernas dela, fixou a atenção nas redondas nádegas que o tecido de lã não conseguia disfarçar. O abatimento se transformou num crescente calor enquanto ele olhava para a tentadora elevação de carne, que não parava de se movimentar.

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— Fique quieta — disse, numa voz que era pouco mais que um murmúrio rouco. Como Elene não desse atenção à ordem, ele usou a mão para obrigá-la a parar. Quando pressionou a palma da mão contra aquelas curvas macias e quentes, porém, conteve a respiração. A raiva havia desaparecido por completo, substituída por outra força primitiva e perigosa. Aflito, Geoffrey sentiu que estava excitado, com o sexo enrijecido por baixo dela. Pelas chagas de Cristo, em que havia se transformado? Tinha afundado tanto, a ponto de sentir atração por aquele ser estranho? Era do tipo de homem que se excitava com a violência? Horrorizado, Geoffrey deixou as mãos caírem sobre a cama e imediatamente Elene se voltou para encará-lo. Agora ela estava sentada no colo dele, as macias nádegas pressionando o membro enrijecido. Olhando nos olhos dela, Geoffrey sentiu o coração batendo com muita força e uma contração nas entranhas. Quando Elene abriu a boca para gritar, ele cobriu-a Com a própria boca. Subitamente, a raiva e a revolta foram esquecidas, substituídas por uma onda de desejo que exigia satisfação. Chegava a ser uma necessidade. O desejo feroz ameaçava consumi-lo e, mais com os instintos do que com o intelecto, concluiu que só aquela criatura selvagem poderia proporcionar satisfação. Geoffrey moveu a língua entre os lábios dela, experimentando um estonteante triunfo quando sentiu a quente umidade do interior da boca que beijava. Ergueu a mão e segurou na parte de trás da cabeça dela para impedi-la de fugir, mas Elene não estava oferecendo resistência. Em vez disso, subiu com as duas mãos, antes espalmadas no peito de Geoffrey, para envolver a nuca dele. Soltando um gemido rouco, mal reconhecendo a própria voz, ele se voltou e deitou-a na cama. — Beije-me, Elene — murmurou, outra vez com os lábios encostados nos dela, ao mesmo tempo que se deitava por cima. Elene correspondeu ao beijo e ele soltou outro gemido. Tudo que havia entre eles era nada se comparado ao doce entrelaçamento de corpos. Geoffrey experimentou um intenso prazer quando sentiu os jovens e firmes seios de Elene pressionados contra o peito dele. Agora tudo parecia fora de controle, as batidas do coração, o calor no sexo. Enlouquecido de desejo, Geoffrey posicionou o membro enrijecido na quente e macia região entre as coxas de Elene, maldizendo as roupas que os separavam. Não era o bastante. Nunca o corpo dele havia apresentado uma necessidade de alívio tão urgente, tão desesperada. As relações sexuais que praticava eram geralmente vagarosas, sempre precedidas de preliminares nas quais ele se ocupava em proporcionar prazer à mulher tanto quanto a si mesmo. Mas agora a razão e a inteligência estavam superadas pela opressiva força, do desejo, uma ânsia que não o deixava pensar em mais nada. Pegando a mão fina que alisava o braço dele, Geoffrey a guiou para baixo e encostou a palma no membro ereto. — Toque em mim, Elene — murmurou, penetrando no tubo que se formou quando ela fechou os dedos. Sim, assim… Fechando os olhos ele se entregou ao prazer que aquilo proporcionava, algo entontecedor, sem precedentes, inacreditável. Mas aquele momento de êxtase foi interrompido por uma súbita mudança na atitude de Elene. O calor que o envolvia foi desaparecendo quando ela saiu de baixo dele e saltou para fora da cama. Por um longo momento Geoffrey ficou onde estava, sentindo palpitações tão violentas que nem conseguia pôr em ordem o pensamento. Havia chegado muito perto de… Depois de sacudir a cabeça ele abriu os olhos e viu de relance uma túnica descolorida à saída do quarto, as pontas de uma longa cabeleira desaparecendo antes que a porta se fechasse com estrondo, deixando-o sozinho no pequeno quarto. Muito espantado com aquilo tudo, Geoffrey sentou-se e passou nos olhos as mãos trêmulas. O que havia acontecido com ele? Então sacudiu a cabeça, chocado com o próprio comportamento e com a idéia de que tinha sido Elene, a famigerada Fitzhugh, a mulher deitada por baixo dele, furtivamente retribuindo aos beijos. E a mão que havia apalpado o sexo dele com voraz ansiedade tinha sido a dela. Geoffrey deitou-se de costas, com o corpo todo espichado na cama, procurando se convencer de que Elene era uma megera, uma criança em forma de mulher, que representava tudo o que ele desprezava! Capaz de cometer só Deus sabia quantas barbaridades, ela causava repulsa a todos que a conheciam. Então por que parecia que ele havia despertado de um longo sono para sentir a vida pulsando na mente e no corpo como jamais havia acontecido? Pela primeira vez na vida Geoffrey resolveu ignorar uma pergunta, em vez de procurar a resposta. Respirando fundo, decretou que aquela rápida perda de controle com Elene era algo que não merecia maiores investigações. Tinha sido uma aberração momentânea, nada além disso, causada pela abstinência sexual e pela tensão das últimas semanas. Uma aberração, insistiu, mesmo achando que estava mentindo para si mesmo. E, embora a honra de cavaleiro o mandasse procurar Elene para se desculpar pelo reprovável comportamento, ele preferiu se esquivar da obrigação. Podia tê-la tratado mais como uma prostituta do que como uma esposa, mas ela o havia provocado, encostado nele a ponta do punhal, o que o deixara com o sangue quente. Cuidadosamente Geoffrey tocou no longo arranhão na face. Aquilo logo sararia, mas pensando no motivo ele franziu a testa. Ela havia se comportado como uma criança, como sempre, até que… Com as faces quentes, Geoffrey lembrou-se de quando havia sentido o gosto dela com a língua e do firme corpo feminino por baixo do dele. Praguejou em voz baixa quando sentiu novamente o coração se acelerar. Logo ele, o mais calmo e mais bem-educado dos de Burgh, havia agido de uma forma inteiramente impulsiva. Como isso tinha sido possível? Geoffrey praguejou novamente, sentindo-se estranhamente vulnerável. E agora, depois que simplesmente a havia atacado, como a esposa passaria a tratá-lo? Apenas olharia para ele com aqueles olhos de gata ou o insultaria? Geoffrey encolheu-se, imaginando as palavras que Elene usaria, a forma como ela caçoaria da momentânea fraqueza dele.

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Então soltou um suspiro enraivecido, bem pouco ansioso para que aquela hora chegasse. Também não teria nenhuma satisfação em se encontrar com Marion e ver pena nos olhos dela. O melhor seria ir à procura de Dunstan para conversar sobre outros assuntos. O irmão faria com que ele tirasse Elene da cabeça. Ou, no mínimo, com que ele se lembrasse dos motivos por que não devia desejar a esposa. Um longo dia de cavalgada pelas terras de Dunstan não foi suficiente para que Elene saísse por completo do pensamento de Geoffrey. Ele procurava prestar atenção enquanto o irmão falava dos problemas em potencial e relacionava as reformas que precisavam ser concluídas na propriedade. Mesmo assim, volta e meia voltava a pensar em Elene. Olhando para o céu, ansioso, tentou adivinhar a hora, dando-se conta de não devia tê-la deixado sozinha; circulando livremente pelo castelo, podendo causar prejuízos talvez irreparáveis. E se ela acabasse ferindo Marion? Todos os esforços dele para subjugá-la haviam resultado apenas num insaciável desejo, concluiu, abatido. O que o tinha feito pensar que a escapada dela significava submissão? Finalmente eles tomaram o rumo do castelo, retornando para o jantar, e Geoffrey temeu pelo que poderia encontrar. No entanto, tudo corria normalmente no salão quando eles entraram. Sorridente e tranqüila como sempre, Marion supervisionava o trabalho dos servos que preparavam o lugar para que o jantar fosse servido. Quanto a Elene, não estava à vista. E ela também não apareceu à hora da refeição. O Lobo censurou a ausência, dizendo tratar-se de uma grosseria e perguntando que motivos ela poderia ter. — Talvez eu deva ir ver se ela está bem — sugeriu Marion. — Não! — discordou Geoffrey, falando um pouco mais alto do que seria necessário. Mas podia imaginar o motivo. Ou Elene estava fazendo mais uma das suas ou não queria se desculpar com Marion, como ele havia ordenado. Fosse qual fosse o caso, Geoffrey não queria que acontecesse mais nenhuma cena desagradável entre a esposa dele e a cunhada. Procurando não contar nenhuma mentira, tentou explicar ao irmão, da melhor forma possível, o comportamento de Elene. — Talvez ela não esteja mesmo se sentindo bem, porque pela manhã esteve deitada — disse, sem acrescentar comigo por cima. Por alguns instantes ficou apreensivo, temeroso de ter ferido a sensibilidade da esposa a ponto de levá-la ao suicídio, mas rapidamente descartou a idéia. O mais provável era ela estar planejando matá-lo. Engolindo rapidamente a comida, Geoffrey pediu licença. — Vou ver se ela está bem — disse. Dunstan resmungou alto. Obviamente não acreditava que algum mal pudesse ter acontecido à Fitzhugh… além do natural mau humor dela. — Seja como for, estou cansado e acho que vou me deitar mais cedo — justificou-se Geoffrey. Ele não estava preparado para o ar de espanto que apareceu no semblante do irmão. Tudo levava a crer que o Lobo achava um absurdo alguém estar disposto a partilhar a mesma cama com Elene. Embora ele próprio não fizesse uma idéia muito clara sobre o assunto, Geoffrey sentiu-se insultado e apenas fez uma breve reverência para Marion antes de se retirar. Não pela primeira vez, arrependeu-se de ter ido a Wessex. Tinha ficado muito feliz ao conhecer o sobrinho, claro, mas agora se perguntava se não devia ir logo embora antes que surgissem mais problemas. O humor de Geoffrey não melhorou nada quando ele chegou ao quarto. Pelo contrário, piorou ainda mais quando verificou que não havia ninguém ali. Onde ela podia estar? Então ele sentiu um aperto no estômago, embora houvesse acabado de jantar. Teria ela estado fora o dia inteiro? Havia partido de Wessex? Mesmo tendo certeza de que Dunstan ficaria muito contente com o desaparecimento de Elene, Geoffrey não se alegrou com aquilo. Afinal de contas, tratava-se da esposa dele. Gostassem ou não do fato, ele e Elene estavam casados. Ele estava cumprindo a parte dele. Por que ela não podia cumprir a dela? Porque você a atacou. — Eu não fiz isso — protestou Geoffrey, em voz alta. Embora não houvesse exatamente tratado a esposa como uma santa, também não a havia obrigado a nada. Lembrava-se das mãos dela acariciando a nuca e os braços dele, da língua dela enroscando-se na dele. A lembrança o deixou outra vez com o coração palpitando. No entanto ela havia fugido como se os cães do inferno a perseguissem. A idéia parecia fora de propósito, já que Elene nunca fugia da luta. Soava como uma nota fora do tom, mas mesmo assim o deixava com sentimento de culpa pela irresponsável concessão à luxúria. E preocupado com ela. Com Elene? Geoffrey suspirou. Quem se preocuparia com aquela megera? Mesmo assim tinha certeza, vinda não sabia de onde, de que ela não estava preparando nenhuma maldade. Elene estava em algum lugar, lambendo as próprias feridas. Mas onde? Aonde ela teria ido buscar conforto? Em lugar nenhum. De ninguém. Porque nunca tinha tido quem lhe desse isso. A triste resposta chegou à mente de Geoffrey muito subitamente, mas ele a ignorou, argumentando consigo mesmo que a Fitzhugh desdenhava a solidariedade que por acaso recebesse de alguém. Era uma megera, uma víbora! Mas algumas vezes ele a vira adormecida e vulnerável, ou deitada por baixo dele, macia, gemendo… Nessas ocasiões ela era serena e meiga como uma égua. Geoffrey respirou fundo. Logo depois levantou-se e marchou para a estrebaria. O sonolento cavalariço que ficaria responsável pelos animais durante a noite não tinha nenhuma informação para dar e Geoffrey mal prestou atenção nas respostas dele. Elene era esperta o suficiente para passar por aquele rapaz sem que ele percebesse.

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Resolvendo procurar em outro lugar, ele caminhou de volta ao castelo e parou diante da escada que levava a um sótão, o lugar onde se estocava ração para alimentar os animais durante o inverno. Depois de hesitar por alguns instantes, subiu a escada. Foi lá que a encontrou, enroscada a um canto, uma figura tão comovedora que o fez sentir-se um bruto por já ter levantado a voz para ela. Enrolada num velho cobertor, Elene dormia profundamente. Na semiobscuridade do lugar ele outra vez viu a beleza que sempre o surpreendia. Era bem verdade que os cabelos dela estava emaranhados, mas pareciam ter tantas tonalidades acastanhadas que o deixou com vontade de afagá-los. O rosto tinha feições surpreendentemente delicadas, com lábios firmes e tentadores. Vendo-a naquele momento, ele se perguntou se aquela era mesmo a mulher com quem havia se casado. Geoffrey suspirou, abaixou-se e tomou-a nos braços. Procurando ignorar o súbito calor que sentiu, carregou-a cuidadosamente. Elene apenas se mexeu um pouco enquanto ele descia a escada, mantendo-se quieta durante todo o resto do caminho até o quarto. Chegando lá, Geoffrey a deitou na cama e cobriu-a com lençóis, sentindo uma estranha ternura pela esposa rebelde. Ela não estava brandindo armas contra ele nem abria a boca para pronunciar ameaças. Parecia muito jovem, de pele clara e cheia de vida, muito mais bonita do que qualquer outra mulher que ele já houvesse conhecido. Geoffrey encostou os dedos numa daquela mechas de cabelo e sentiu o coração acelerado. Era um gesto perigoso, porque Elene poderia despertar a qualquer momento. Rapidamente ele se aprumou e olhou em volta, procurando um lugar onde pudesse descansar. Infelizmente, como já tinha dito a Elene na noite anterior, não havia nenhum. Então voltou os olhos novamente para a cama. Quem estava ali era a esposa dele. Isso mais os acontecimentos do dia, que o tinham deixado tão cansado quanto temerário, facilitaram a decisão. Caminhando para o outro lado da cama, Geoffrey hesitou. Depois, com uma impetuosidade bem pouco característica, tirou as roupas e deitou-se na cama. Finalmente poderia ter o descanso que todo homem merecia, despido e confortável. Ao lado da esposa. Elene voltou-se, chegando-se mais para perto do corpo ao lado do dela e das sensações que aquilo provocava. Calor. Segurança. Paz. Coisas que há muitos anos vinham faltando a ela. Ah, como era bom sonhar com a mãe. Se ao menos na vida real ela pudesse se deitar ao lado de alguém que a amasse. Teria conforto, segurança e alguma coisa a mais, algo como a deliciosa sensação de alegria que a dominou quando pousou a mão sobre a pele quente do corpo ao lado. Era uma pele nua, máscula, cobrindo músculos poderosos. Elene abriu os olhos na claridade mortiça do amanhecer. Reparando na confusão de lençóis em cima da cama, virou a cabeça e arregalou os olhos, espantada. Não tinha sido um sonho, assim como a figura ao lado não era a mãe dela. Era Geoffrey. Elene ficou imóvel, sentindo uma onda de pânico. Como tinha ido parar ali? Por que estava com ele? E por que ele estava nu? Levando a mão à garganta ela suspirou de alívio quando constatou que continuava vestida. Mexeu-se de leve, mas não sentiu no corpo nenhuma indicação de que havia sofrido abusos. Aliviada, relaxou novamente e deixou a cabeça afundar na maciez do travesseiro. O primeiro impulso foi fugir da cama, do quarto, do castelo, mas em vez disso ela olhou novamente para Geoffrey. Já que ele parecia profundamente adormecido, ela aproveitou para examiná-lo. Raramente tinha essa oportunidade, mas agora, na intimidade da cama, podia ver o quanto era belo o homem com quem havia se casado. O rosto bonito parecia mais jovem, quase o de um menino, os cílios espessos se destacando no bronzeado da pele. Elene respirou fundo quando sentiu uma vontade muito grande de passar o dedo pelo perfil daquele nariz afilado, até alcançar os lábios. Percorreu com os olhos o queixo forte, a garganta e… Ao ver os ombros fortes do marido, ali tão perto, engoliu em seco. O ombro que estava mais próximo a fez imaginar o quanto ele devia ser forte, embora a pele parecesse lisa e convidativa ao toque. Espantada com o estranho calor que sentiu nas entranhas, Elene voltou o olhar para a cabeça dele e ficou contemplando os cabelos fartos e negros. O fato de que aquela cabeleira estava um pouco crescida parecia torná-lo mais atraente, como se Santo Geoffrey, afinal de contas, não fosse nada mais que um mortal. Elene franziu a testa. O apelido dado por ela ao marido não se adequava mais à imagem do homem que a havia atacado na noite anterior. Geoffrey realmente tinha levantado a voz para ela e… O embaraço a dominou quando Elene pensou no que havia se seguido à discussão deles, no que eles tinham feito ali mesmo naquela cama. E a descoberta feita na ocasião ainda a deixava espantada. Ele sabia beijar como o irmão. A lembrança da boca quente e desesperada de Geoffrey deixou Elene fraca e tonta, mas ela não tinha tido medo de que ele a devorasse, como o Lobo parecia ser capaz de fazer com a esposa. Tinha sido um doce fogo, uma maravilhosa sensação de calor nos membros e agitação nas entranhas, algo como ela jamais havia sentido. Por Deus, nunca havia nem sonhado com tais coisas, com beijos que a deixassem tonta, quente, cheia de desejo. E os murmúrios dele, as palavras entrecortadas, coisas que a tinham deixado com vontade de ceder a tudo, fazer tudo para agradálo. Elene flexionou os dedos, mal querendo acreditar que a mão dela havia se fechado em torno do sexo dele. A lembrança a deixou estranhamente inquieta.

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E aborrecida. Sem dúvida ele havia praticado aquilo tudo com muitas outras mulheres. Estaria ela louca para deixar que aquele de Burgh, mesmo que fosse por brincadeira, aplicasse nela seus estratagemas? Bem que havia suspeitado, desde o início, de que um plano estava em curso! Entre todos os irmãos, haviam escolhido Geoffrey para se casar com ela por causa da beleza física dele e da fala macia. E agora ele usaria aqueles trunfos para roubar a herança dela. Faria mesmo isso? Até aquele momento, Geoffrey não tinha feito nada além de melhorar as condições da propriedade. Mesmo quando Elene procurava encaixar as ações do marido em algum grande plano de vingança, as palavras dele martelavam na cabeça dela. Quando é que você vai assumir suas responsabilidades na vida? Elene sentiu uma onda de amargura por causa das lembranças provocadas por aquelas palavras. Ela havia assumido responsabilidades numa idade em que ele provavelmente ainda brincava de montar a cavalo, encarapitado na perna do pai. Caso contrário, seria morta ou vendida por um punhado de moedas ao primeiro cavaleiro que passasse. Ou transformada numa nulidade pelo desprezível Walter Avery. E ainda era responsável por si… embora não pelo feudo deixado pelo pai nem pelas pessoas que moravam ali. O que Geoffrey podia saber sobre ela? Ah, o idiota! Ela devia ter respondido no mesmo tom aos insultos dele, rido das tentativas dele de seduzi-la, mas o homem parecia capaz de deixá-la despida de tudo o que… Elene franziu a testa, recusando-se a concluir o pensamento. Havia fugido para se esconder quando devia ter armado uma cena, gritado e jogado coisas, fazendo tudo para se tornar indesejada. Mas na hora estava cansada demais, exausta depois dos longos dias de viagem, da noite passada dentro do baú, da tensão do casamento. Havia se convencido de que precisava de um momento para pensar, mas a mente havia se fechado, finalmente sucumbindo à exaustão. Mas como tinha ido do monte de feno até a cama? Geoffrey. Provavelmente ele a havia encontrado, levando-a de volta. A idéia de ser tocada pelas mãos dele quando não se dava conta disso era tão assustadora quanto atraente. Quem poderia dizer a que indignidades ela tinha sido submetida durante o sono? Elene descartou a suspeita tão logo ela surgiu. Mas talvez ele houvesse pensado em possuí-la pela manhã, quando ela estivesse ainda sonolenta e vulnerável. Ao pensar naquilo Elene olhou novamente para ele, com cuidado, mas não conseguiu imaginá-lo capaz de cometer uma violência tão ultrajante. Apesar de ter perdido a paciência, Geoffrey não seria capaz de violentá-la. Mas talvez ele nem precisasse fazer isso. Elene estremeceu quando se lembrou da facilidade com que Geoffrey havia se deitado por cima dela, no dia anterior. Tudo tinha acontecido de uma forma muito súbita e inesperada. Era assim que ela se desculpava por ter demorado tanto a reagir, pensou Elene, enrubescendo. Num minuto eles estavam brigando por causa de Marion, para logo em seguida… Marion. A lembrança a fez pensar numa hipótese. Talvez o súbito interesse de Geoffrey tivesse sido causado pela esposa do irmão dele. Teria ele tocado nela por não poder tocar na cunhada? A idéia atingiu Elene de uma forma dolorosa, repercutindo até nas partes mais insensíveis do corpo. Geoffrey havia defendido Marion com um paixão surpreendente. Talvez amasse a cunhada, mas preferisse não trair o Lobo, por escrúpulos ou por medo. Elene sentiu gosto de sangue na boca e percebeu, meio distraída, que havia mordido o interior da bochecha. Engolindo o azedume, olhou para o marido com os olhos apertados. Subitamente ele parecia nâo só bonito e atraente, mas acima de tudo um homem… um tratante, um bruto. Saindo silenciosamente da cama, Elene verificou os punhais que havia escondido depois de recuperá-los. Depois olhou novamente para Geoffrey, que continuava profundamente adormecido. Evidentemente, naquela situação ele estava vulnerável, e ela se alegrou ao vê-lo assim. — Esteja avisado, de Burgh — murmurou, antes de se voltar e caminhar para a saída do quarto. Não tinha a menor intenção de fazer o papel de Marion para ele. Se Geoffrey tentasse outra vez obrigá-la a isso, teria decretado a própria sentença de morte. CAPÍTULO IX Elene ficou vagando pelo castelo, surpresa com o número de pessoas que circulavam por todos os cantos, embora o dia mal houvesse amanhecido. No grande salão, um servo que ia passando ofereceu-se para ir buscar uma maçã para ela, o que a deixou ainda mais surpresa. Por acaso aquela gente não sabia quem ela era? Bem, seria bom dar uma demonstração, mas por alguma razão ela não estava disposta a gritar ou brigar. E estava com fome. Não havia comparecido a nenhuma das refeições do dia anterior e, tendo perdido peso nos últimos meses, não podia emagrecer mais. Precisava manter as forças e já sentia as túnicas folgadas no corpo. Silenciosamente assentiu, aceitando a oferta do servo, que apressou-se em se afastar, retornando pouco depois não só com a maçã, mas também com um bom naco de queijo e um pedaço de pão. Elene olhou com desconfiança para a comida, porque no castelo do pai dela só se comia nas horas de refeições. Excetuando-se ele. Antigos ressentimentos e ódios vieram à lembrança dela, mas Elene procurou afastá-los e começou a mastigar a comida. — O tempo está firme e seco, minha lady — informou o servo. — Se quiser comer sua refeição no terraço no alto do castelo, sinta-se à vontade. Dito isso o homem se afastou, e Elene ficou olhando para as costas dele, perguntando-se o motivo daquele convite. Estaria o Lobo esperando no terraço, pronto para empurrá-la lá de cima? Bem, só havia um meio de descobrir.

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Depois de muito procurar, Elene encontrou a escada que levava ao terraço no alto do castelo. Quando chegou lá, porém, não encontrou ninguém a esperá-la. Ninguém a não ser um guarda solitário, que a cumprimentou com uma reverência, como se estivesse acostumado a receber visitantes. Elene ficou surpresa. Os soldados do pai dela nunca haviam merecido confiança e por isso ela procurou deixar o punhal à mão e ficar sempre olhando para aquele guarda enquanto comia. Logo, porém, o homem se afastou, caminhando ao lado do muro enquanto vasculhava com os olhos as terras do lorde. Elene relaxou um pouco e também olhou para a paisagem. Então conteve a respiração. A alvorada criava um rico aparato de cores no horizonte, distribuindo luz pelas colinas e florestas que se espalhavam diante dela, como se o próprio Deus estivesse movendo a mão pelo mundo. Embora não fosse raro ela se levantar bem cedo, nunca tinha tido a oportunidade nem a inclinação para apreciar uma vista como aquela. E há muito tempo que também não sentia admiração por nada. O sol nascente a deixou com os olhos úmidos, mas a vista era fascinante, de uma beleza superior a qualquer outra coisa que ela já tivesse visto, exceto talvez… Geoffrey. Elene cuspiu na pedra lisa o pedaço de maçã que estava mastigando. Pensamentos como aquele eram perigosos, assim como era perda de tempo ficar contemplando a paisagem quando devia estar atenta a possíveis perigos. Ela estava na toca do Lobo e devia se lembrar sempre disso. Por mais bela que fosse a vista, Wessex era a fonte de todas as desgraças dela, a tentação que havia levado o pai à perdição, roubado a herança dela e a transformado num joguete nas mãos dos homens. Mesmo assim, olhando para os campos da propriedade, onde àquela hora muita gente já trabalhava, Elene não conseguiu ativar sua costumeira revolta. O canto dos pássaros e a brisa da manhã, mais a profusão de cores espalhando-se pelas colinas, tudo parecia dissipar as desconfianças que ela sempre tinha. Estava cansada de ter que ficar alerta o tempo todo, sempre desconfiando do comportamento dos outros. Talvez, pelo menos uma vez, pudesse ficar calmamente sentada ali, apenas admirando a beleza do amanhecer, longe da confusão que reinava no castelo lá embaixo. A decisão de Elene proporcionou um estranho tipo de paz, embora não pudesse ser uma coisa verdadeira. Não havia lugar para contentamento na vida dela, e no entanto era como se já tivesse se sentido assim antes, e recentemente. Fechando os olhos ela buscou na memória, apenas para aprumar o corpo quando a lembrança surgiu. A única outra vez em que tinha se sentido tão à vontade tinha sido naquela manhã mesmo, ao despertar tranqüila e segura na cama do marido. Idiota! Irritada com aquele pensamento absurdo, Elene procurou ignorar o vago anseio que a lembrança de Geoffrey parecia inspirar, voltando a atenção para o que estava comendo. A improvisada refeição permitiu que Elene evitasse o café da manhã e continuasse sozinha, já que não estava muito ansiosa para ver o marido, o Lobo e sua esposa de covinhas no rosto. A idéia de encarar Geoffrey depois que ele a havia carregado para o quarto e dormido ao lado dela já era ruim o suficiente, além do que ela ainda precisava arranjar um jeito de assimilar sem traumas a forma como ele a havia beijado no dia anterior. A simples lembrança a deixava com as faces quentes, tanto que ela achou melhor não se encontrar com ele. Assim sendo, pôs-se a perambular por Wessex. Já tinha visto desenhos de castelos maiores e ouvido histórias sobre o luxo de outros. Por mais que procurasse se convencer de que Wessex era velho, pequeno e feio, sentia uma traiçoeira admiração pelo lugar. Obviamente Marion estava fazendo o melllor possível para torná-lo habitável, já que, pelo que Elene imaginava, dificilmente o Lobo se preocuparia com cortinas e bonitas almofadas. Ouvindo vozes num espaçoso cômodo do primeiro andar, Elene parou. Depois caminhou furtivamente para perto da porta aberta. Lá dentro estava Geoffrey e por um momento ela ficou fascinada ao vê-lo, moreno e belo. Quando viu a figura gigantesca do Lobo, porém, encolheu-se e buscou a proteção das sombras. Mas ficou perto da porta, acostumada que estava a escutar conversas para se inteirar de possíveis traições. Logo ouviu a voz profunda do Lobo. — Por que não vem morar aqui, Geoff? Isso deixaria Marion muito feliz. Você sabe que ela sente muito a sua falta. — Ela agora tem o bebê para cuidar — respondeu Geoffrey, com sua voz calma. — E tenho certeza de que Marion não está muito ansiosa para ter por perto um bando de Burgh grosseirões. — Bobagem — rebateu o Lobo. — Bem, pessoalmente não ficarei aborrecido com sua presença aqui. Geoffrey sorriu… uma bela exposição de dentes brancos que provocou uma coisa engraçada no íntimo de Elene. — Obrigado, Dunstan. Estou lisonjeado, principalmente porque, não faz muito tempo, você só queria distância dos seus irmãos. O Lobo resmungou alguma coisa, como se não gostasse de ser lembrado daquilo, mas Geoffrey não se intimidou e retomou a palavra, agora mais sério. — Eu agradeço, mas ainda há muito o que ser feito no meu feudo. — A começar pela sua esposa — sugeriu o irmão mais velho, o que fez Elene se encolher novamente. — Será que você não pode pelo menos convencê-la a tomar um banho? Geoffrey voltou-se e fez uma careta, embora parecesse divertido com o assunto. — Acho que não — respondeu, pondo-se a andar de um lado para outro, devagar. — Elene tem um pensamento diferente das outras pessoas. — É justamente esse o problema, Geoff — aproveitou o Lobo. — O que ela precisa mesmo é de uma mão firme. Eu sempre achei que Simon seria mais adequado para a tarefa. Diante daquelas palavras Geoffrey virou-se prontamente, e Elene surpreendeu-se com a dureza do olhar que ele dirigiu ao irmão. Agora o marido dela parecia tão perigoso quanto o Lobo, talvez até mais. — Nada disso ele protestou, quase com ferocidade. — Elene é minha esposa, pela vontade de Deus e pela minha. Ao ouvir a declaração, Elene apoiou-se na parede para não perder o equilíbrio. E o Lobo também parecia muito surpreso.

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— Pelas chagas de Cristo, Geoff — ele exclamou. — Você tem que ser sempre tão nobre? Geoffrey riu, aparentemente esquecido da raiva, a dureza das feições dele cedendo lugar ao bom humor. — Tem razão. Elene até me chama de Santo Geoffrey. Portanto, espero que você me trate com o devido respeito, meu irmão. O Lobo ficou olhando para ele, depois balançou a cabeça, como se estivesse confuso com a brincadeira. — Você devia arranjar uma concubina — sugeriu. Geoffrey ficou quieto e Elene rapidamente encheu os pulmões de ar. Uma concubina! Ela já ouvira falar de lordes que mantinham uma outra mulher além da esposa, embora o pai dela nunca tivesse feito isso. Dificilmente uma mulher teria mantido o interesse dele por um tempo suficiente para pensar em se tornar lady. Mas Geoffrey… Elene imaginou-o dirigindo toda a sua afeição a uma outra mulher e sentiu um estremecimento. Procurou se convencer de que, uma vez ocupado em outra coisa, Geoffrey não seria uma ameaça muito grande para ela. Mesmo assim a idéia não era confortadora. O suspeito relacionamento dele com Marion não era nada agradável para ela, mas a coisa duraria apenas o tempo de uma visita. Uma concubina, porém, estaria morando com eles no castelo. Elene ficou tensa, esperando pela resposta que o marido dela daria ao irmão. — Não — disse Geoffrey, finalmente. — Não estou mais ansioso do que você para ter uma concubina. A resposta era uma repreensão branda e Elene soltou a respiração. Quase ao mesmo tempo ouviu um farfalhar de tecido, indicando a aproximação de alguém. Atenta ao marido, ela havia se esquecido de tudo o mais, mas rapidamente se lembrou que estava numa posição vulnerável. Buscando o punhal escondido por baixo das roupas, voltou-se para enfrentar o intruso. Era Marion. Para surpresa de Elene, a lady não se encolheu ao ver a expressão ameaçadora dela. Em vez disso, sorriu. — Elene! Que bom encontrá-la — disse Marion num tom de conspiração que fez Elene juntar as sobrancelhas. — Vamos até o meu quarto. A tarde, geralmente vou para lá e me ocupo com as costuras. Elene olhou para a porta aberta, mas Marion já estava caminhando rapidamente pelo corredor e ela precisou se apressar para segui-la. A esposa do Lobo levou-a até um espaçoso quarto, duas vezes maior do que o dela no castelo de Fitzhugh. A marca de Marion também se via ali, nos coloridos travesseiros e na bonita cadeira posicionada de forma a receber o sol da manhã diante de uma das janelas. Elene sentiu uma ponta de inveja. Circulando pelo quarto, encostou o dedo na borda de uma tapeçaria inacabada. — Gostou? — Perguntou Marion. Elene ergueu a peça ficou admirada com a cena que a tapeçaria mostrava. Em primeiro plano via-se um lobo, numa postura audaz em meio a um campo verdejante, e ao fundo o castelo de Wessex, naquele trabalho ainda incompleto. — Não — ela mentiu, soltando a tapeçaria e voltando a caminhar, estranhamente incomodada pelo talento de Marion. Mas a mulher não se mostrou ofendida com o insulto. Apenas fez um gesto para que a visitante se sentasse na cadeira e acomodou -se num banquinho baixo. — Você gosta de costurar? — perguntou. — Não gosto mesmo — respondeu Elene, subitamente se dando conta da feiúra das roupas que envergava. Só costurava porque era preciso e não sentia nenhum prazer naquele trabalho. Além disso, não tinha muita habilidade. E, diferentemente da mimada esposa do Lobo, não contava com um bando de auxiliares para fazer a maior parte do trabalho para ela. Elene nunca tinha tido ninguém para ajudá-la, protegê-la… — Quanto tempo você ficou lá? — voltou a falar Marion. — Lá onde? — perguntou Elene, confusa com a súbita mudança de assunto. — Perto da porta. Elene juntou as sobrancelhas, surpresa. Depois fechou o semblante. — Um bom tempo. Marion suspirou. — Sinto muito pelo que deve ter ouvido. Sinto-me na obrigação de lhe pedir desculpas pelo meu marido. Ele gosta do mundo todo em preto e branco, e temas bem claros e definidos. Por isso fica desconcertado quando vê meios-tons. Elene ficou olhando para a mulher, sem esconder a perplexidade, já que não fazia a menor idéia do que a esposa do Lobo falava. — Ele nunca poderia ter feito aquela sugestão, menos ainda para Geoffrey — explicou Marion, logo depois apertando os lábios e franzindo a testa. Elene recostou-se na cadeira e ficou olhando para a lady. Obviamente a esposa do Lobo também havia escutado parte da conversa e não aprovava a idéia de que Geoffrey arranjasse uma concubina. Não era de admirar, já que muito certamente queria essa posição para si própria! — Ele não quer uma concubina porque deseja você — declarou Elene. Por um longo momento Marion ficou apenas olhando para ela, boquiaberta, mas logo depois riu, um som adorável que encheu o quarto. — Geoffrey e eu? Ah, não! Eu adoro Geoffrey, e acredito que ele também goste de mim, mas é uma afeição fraternal, coisa de cunhados que se dão bem. Elene apertou os olhos, desconfiada. Por que acreditaria na esposa do Lobo? Parecendo realmente divertida com a idéia, Marion respirou fundo. — Há dois anos, Geoffrey e Simon me encontraram numa estrada. Eu estava ferida e eles me levaram para o castelo de Campion. — Então ela sorriu, como se recordasse uma doce lembrança. — Aqueles rudes guerreiros me receberam na família

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como uma irmã. E eu os considerei meus irmãos. Quando chegou a hora da minha partida, o conde perguntou a cada um dos filhos se queria se casar comigo, mas nenhum deles quis me tomar por esposa. Se não estiver acreditando em mim, pode perguntar a qualquer um dos de Burgh. Embora Marion contasse a história sorrindo, Elene encolheu-se ao pensar em tal rejeição. — Mas por que não? — perguntou, examinando a lady da cabeça aos pés, como se procurasse algum defeito nela. — Por que nenhum deles quis se casar com você? — Eram todos homens independentes e não queriam mudar de vida, menos ainda tendo que fazer uma mudança tão irrevogável — respondeu Marion, rindo. — É engraçado ver aqueles destemidos guerreiros se encolhendo diante de uma coisa tão simples como o casamento, mas é o que eles fazem. E são todos homens honrados, que não se casariam nem com a herdeira de um trono se não a amassem. Aquelas palavras foram ditas com muita seriedade e Elene dirigiu à interlocutora um olhar duro. — Com Geoffrey não foi assim. Marion hesitou, na certa percebendo que havia falado o que não devia. — Não — reconheceu. — Eu estava lá quando o decreto do rei chegou. Todos nós ficamos sabendo que um dos rapazes deveria se casar com você. — Fazendo uma pausa ela ficou olhando para Elene com surpreendente intensidade. — Você não conseguiria ninguém melhor do que Geoffrey, Elene. Ele é o mais instruído e o mais prudente de todos. E também o mais bondoso. Acho que as coisas sempre acabam sendo como devem ser, inclusive o nosso próprio destino, seja a mão de Deus ou alguma outra força que determine as nossas ações. Elene sentiu um sobressalto ao ouvir menção à mão de Deus, porque naquela manhã mesmo ela havia pensado na mesma imagem ao acompanhar o nascer do sol. Franzindo a testa, ficou olhando com cautela para Marion. — Embora você tenha se casado por obrigação, talvez seja para o seu próprio bem, se você colaborar — prosseguiu a esposa do Lobo. — Geoffrey é um homem maravilhoso que obviamente aprendeu a gostar de você… Elene pôs-se de pé, o que fez a outra se calar. — Geoffrey apenas me tolera, nada além disso! — ela despachou, sem querer ouvir mais nada daquelas bobagens. Sentia um estranho aperto no peito. Mas o que estava acontecendo com ela? Teria contraído alguma doença? — Está certo — disse Marion, num tom brando. — Não vou mais falar nesse assunto. Mas venha. Tenho uma coisa para lhe dar! Caminhando até um baú, a lady ergueu a tampa e pôs-se a tirar peças de tecido lá de dentro. Curiosa, Elene aproximou-se e conteve a respiração quando viu o belo tecido verde que Marion examinava naquele momento. — O que está fazendo? — perguntou. — Sim, acho que vai servir — disse Marion, jogando sobre a cama o que tinha nas mãos e pegando uma peça de linho branco. — E este aqui também. Combinará muito bem com seus cabelos. — O quê? — Vou pôr minhas auxiliares para fazer algumas túnicas para você — respondeu Marion. — E eu mesma vou me ocupar disso. Elene não soube o que dizer ao ouvir aquilo, mas ficou outra vez desconfiada. Afinal de contas, nada se conseguia de graça. Então apertou os olhos. — Por quê? Marion pareceu surpresa. — Ora, porque você agora faz parte da família de Burgh e deve ter boas roupas. Tenho certeza de que Geoffrey pensaria nisso, mais cedo ou mais tarde, mas parece que a mente dele anda muito ocupada com o feudo. Elene recuou dos tentadores tecidos. Então Marion estava pensando em renovar o guarda-roupa dela para torná-la uma esposa adequada para um dos bonitos e poderosos de Burgh? Bem, ela não tinha o menor interesse na família do marido nem na herança dos de Burgh. Eles podiam fazer pouco, mas ela não se sentia na obrigação de agradar àqueles cretinos. — Não quero túnicas novas — declarou. O sorriso de Marion tornou-se hesitante. — Mas eu não ia usar mesmo esses lindos tecidos. Dunstan gosta de me dar peças de tecido de presente e, embora ele não tenha se casado comigo por causa da minha fortuna, acho que às vezes se sente humilhado ao pensar que fui eu que contribuí para a formação da maior parte do nosso patrimônio. Provavelmente é por isso que me dá tantos e tão caros presentes. Elene olhou novamente para o lindo tecido verde, que era muito melhor do que qualquer coisa que ela já houvesse possuído. Na verdade, parecia ter mais qualidade que as finas roupas que o pai dela usava. Isso a fez sentir um rebelde desejo de tê-lo, no mínimo para ofender a memória dele. — Por que eu? — perguntou, olhando de lado para a lady. Marion voltou a sorrir, mostrando as covinhas. — Porque agora você é minha irmã! Não imagina o quanto eu sempre sonhei em ter uma família, a minha vida inteira. Ao me acolher, os de Burgh me proporcionaram não apenas um lugar para viver, mas um lugar na vida deles. Ah, eles são todos grandes guerreiros, homens valentes, mas mesmo assim cada um deles tem bom coração, cada um é especial. — Fixando em Elene os grandes olhos de corça, que brilhavam de emoção, a lady passou a falar ainda mais vivamente. — E, desde que me casei com Dunstan, sempre esperei que um deles se casasse. Assim eu poderia ter uma amiga, uma outra lady na família. Elene ficou olhando para ela. Uma amiga? Ela nunca tinha sido amiga de ninguém, assim como jamais tivera uma amiga. Uma lady? Ninguém nunca a havia chamado de lady. A não ser Geoffrey e algumas pessoas de Wessex. Elene perguntou-se qual era o problema com os de Burgh. Talvez eles não fossem cobiçosos conquistadores de terras, mas sim uma dinastia de

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homens decentes, cavaleiros que pensavam mais na honra do que numa bolsa cheia de dinheiro. Talvez um deles, em especial, um homem bom, bem-educado, instruído… Um choro de criança interrompeu aqueles pensamentos e Elene retirou a mão da seda que distraidamente alisava. — Ah, o bebê acordou — disse Marion, sem se deixar perturbar pelo choro cada vez mais alto. — E os pulmões dele são como os do pai! Caminhando até o berço, colocado a um canto do quarto, não muito longe da lareira, a mulher pegou a criança nos braços e pôs-se a murmurar palavras doces. O filho do Lobo, pensou Elene, outra vez sentindo amargura. Embora ainda fosse pequeno e indefeso, aquele menino cresceria e fatalmente seria igual ao pai e aos tios, mais um implacável de Burgh. Seria mesmo? De alguma forma, ela não conseguia sentir ódio do bebê, que estava se acalmando nos braços da mãe. Elene olhou para ele cautelosamente. Raramente via crianças, já que as mães tomavam o cuidado de manter seus filhos longe da famigerada Fitzhugh. E faziam muito bem! Tendo visto tão poucos recém-nascidos, ela não resistiu à curiosidade e se aproximou para ver o rosto do garoto e as mãozinhas perfeitas. — Ele tem muita fome, exatamente como o pai — disse Marion, desculpando-se com um sorriso enquanto se sentava na cadeira que a visitante havia desocupado. Observando a lady ninar o filho, Elene sentiu uma coisa engraçada por dentro, uma estranha sensação de perda e ansiedade que a fez voltar-se quando a criança começou a mamar. Não era a primeira vez que via uma criança sendo amamentada. A última filha da mãe dela, que havia morrido ao dar à luz essa criança, tinha sido alimentada por uma das mulheres da aldeia, embora até isso o pai dela houvesse permitido de má vontade. Adoecendo, a menina logo tinha ido se juntar à mãe. Elene sentiu um aperto no peito ao se lembrar daquilo. Embora houvesse sentido raiva da irmã por causa da morte da mãe, havia se afeiçoado à recém-nascida durante o curto período de vida dela, ajudando a cuidar, pegando-a no colo… até vê-la morrer. Como acontecia com todos de quem ela gostava. Elene respirou fundo, emitindo um som que chegou a ser audível no silêncio do quarto. Precisava sair dali… afastar-se daquela criança, da estranha esposa do Lobo, de Wessex. Apressadamente marchou para a porta, mas a voz de Marion a fez parar. — Venha sentar-se aqui. Podemos conversar enquanto ele mama. Quero conhecer melhor minha irmã. Irmã! Elene quase soltou um riso de amargura. Filho. Marido. Eram apenas palavras sem significação, porque na realidade não havia laços de sangue. Sem confiar em si própria para falar, ela girou nos calcanhares para se afastar de Marion e seu mundo perfeito de bebês saudáveis, maridos indulgentes, cunhados fascinantes, riqueza e luxo. Sempre adulada, a esposa do Lobo não fazia idéia de como a vida realmente era. E Elene a odiava por isso. Se ficou aborrecida com a súbita retirada de Elene, Marion não disse nada. Ao jantar estava com seu costumeiro jeito de pessoa despreocupada e feliz. Silenciosamente Elene a observou, com um misto de desagrado e fascínio. Nunca tinha visto ninguém tão alegre. E estava sempre se surpreendendo com a forma como o Lobo tratava a esposa. Ele certamente era ríspido e resmungava um bocado, como um urso grande, mas estava sempre oferecendo petiscos a Marion e inclinando-se para cochichar no ouvido dela, com uma intimidade chocante. Vez por outra falava dela e do filho com evidente orgulho, parecendo fazer questão de que todos ouvissem. Elene abservou-o com os olhos apertados. Talvez todos pais de recém-nascidos se comportassem daquele jeito… quando a criança fosse um menino. Se fosse menina, sem dúvida seria relegada a algum canto do castelo e ficaria sob os cuidados de uma serva infeliz. E, se morresse, tanto melhor. Afinal de contas, os irmãos de Burgh não tinham nenhuma irmã. Mesmo assim, Elene não via por ali nenhuma serva infeliz nem conseguia imaginar Marion abrindo mão facilmente de um bebê, mesmo que fosse do sexo feminino. De alguma forma, a esposa do Lobo parecia ser mais substancial, como se seu bom humor escondesse um âmago sólido como uma rocha. Elene franziu a testa ao ter aquele pensamento. Não gostava da mulher e não mudaria a opinião segundo a qual Marion era uma pessoa mimada e estúpida. Parecendo sentir-se observada, a esposa do Lobo voltou para ela os grandes olhos e pôs a mão no braço do marido. — Acho que Elene já ouviu o suficiente sobre o nosso filho, Dunstan — ela o repreendeu. O homem fez um ar de surpresa, como se houvesse se esquecido da existência de Elene, e demonstrou não gostar da reprimenda, fazendo cara feia para a esposa. Marion, porém, não se intimidou com aquilo. — Você devia falar sobre os de Burgh, para que ela possa ter mais informações sobre os cunhados. A atmosfera alegre à mesa mudou repentinamente e vários pares de olhos se voltaram para Elene, que ergueu a cabeça, dirigindo a Marion um olhar ameaçador. Por que a mulher chamava atenção para ela? Geoffrey pigarreou. — Ela conheceu todos eles, Marion. No casamento. Elene abriu a boca para expressar a opinião que fazia daqueles brutamontes, mas alguma coisa no tom de voz de Geoffrey, talvez fadiga, a manteve calada. Em vez dos outros seis ameaçadores irmãos, ela viu o rosto dele, sombrio, preocupado… Abaixando os olhos para a comida que restava no prato, Elene atacou ferozmente o pedaço de carne com a faca de comida que a deixaram usar. — Ah, mas você sabe que à primeira vista eles parecem ferozes! — protestou Marion — A princípio até assustam, mas depois se mostram os brincalhões que são. — Os dois irmãos a fitaram como se ela houvesse enlouquecido, mas a lady não se abalou. — E o mais engraçado é Robin, claro. Esse adora pregar peças, portanto tome cuidado com ele, Elene! Uma vez o tratante encheu minha cama de castanhas. Marion concluiu o relato rindo. — O que ele estava fazendo perto da sua cama? — resmungou o Lobo.

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O riso de Geoffrey soou alto e Elene olhou para ele. Era bonito vê-lo com a cabeça levantada, os longos cabelos alcançando os ombros. — Então ele também atormentou você, Marion? Durante anos o cretino pôs praticamente de tudo na minha cama, menos o Santo Graal… embora uma vez tenha convencido o pobre Nicholas de que a tíbia de São Gregório havia aparecido miraculosamente embaixo do travesseiro dele durante a noite! Um som grave trovejou no outro lado da mesa e Elene olhou para lá, vendo com espanto que agora era o Lobo quem gargalhava. — Eu me lembro disso! Ele vivia aparecendo com relíquias falsas, como um cílio de Santo Olavo! — E a primeira moeda possuída por São Mateus, o padroeiro dos banqueiros! — acrescentou Geoffrey, sem parar de rir. — E era apenas uma pedra lisa. — Sim, mas Stephen disse que a imagem havia se desgastado. — Stephen? — perguntou Marion, parecendo fascinada por aquelas histórias ridículas. — Ele mesmo — continuou Geoffrey. — Era sempre Stephen quem enganava o pobre Robin e os mais jovens, convencendo-os a entregar o que eles possuíssem ou a fazer o trabalho dele em troca daquelas falsificações. — E por acaso você estava entre esses mais jovens? — perguntou o Lobo, com o semblante tão transformado pelo riso que Elene se espantou. Geoffrey mostrou um sorriso amarelo. — Está bem, eu reconheço. Quando Stephen me mostrou o que dizia ser a unha do dedão do pé de São João Crisóstomo, o padroeiro dos oradores, eu dei a ele o meu pudim da sobremesa do jantar… mas só porque no dia seguinte teria que declamar perante meu mestre um poema decorado! O riso de Marion juntou-se ao dos dois homens, formando uma sinfonia tão contagiante que Elene também sentiu vontade de rir. Com esforço, manteve o semblante fechado. — Ah, aquilo estava se tornando um próspero negócio para o esperto Stephen — relembrou o Lobo. O sorriso de Geoffrey foi desaparecendo. — Até que papai o pegou tentando vender a Reynold um dente que afirmava ter pertencido a São Gilberto. — O padroeiro dos aleijados? — perguntou Marion, parecendo ter levado um golpe. — Sim — respondeu Geoffrey. Agora o ar jovial dos três havia desaparecido e Elene procurou se lembrar de Reynold. Não era o que tinha o semblante amargo e coxeava? Ela havia pensado que aquilo tinha sido adquirido em alguma batalha, mas Geoffrey estava dando a entender que era uma deformidade de nascença. A idéia a perturbou, porque ela não queria pensar nos de Burgh como pessoas humanas capazes de sofrer alguma desgraça. Ou de sentir orgulho com o nascimento de um filho. Ou de sentir um desejo tão forte que fazia um homem pedir à esposa que… — Mesmo assim, Reynold pode ser tão brincalhão quanto os outros — voltou a falar Marion. — Lembro-me de uma vez em que ele roubou minha cesta de costura e chamou os irmãos para me atazanar. Durante vários minutos eles ficaram jogando o rolo de linha de um para outro, sem que eu pudesse alcançar. Até mesmo Simon, o mais velho depois de Dunstan e o guerreiro mais feroz entre os irmãos… — Fazendo uma pausa ela sorriu para o marido, que pareceu ofendido com a declaração. — …até mesmo Simon tem senso de humor. Por alguns instantes os dois irmãos ficaram olhando para a lady, com ar de descrença. — Tem, sim! — insistiu Marion. No mesmo instante os três desataram na gargalhada. Ouvi-los era uma experiência tão nova que Elene pensou estar sonhando. O riso era uma coisa que ela raramente ouvia em casa. Aparentemente o pai dela se divertia provocando o sofrimento dos outros, enquanto os de Burgh pareciam ver humor em histórias simples e lembranças tolas. Elene procurou ignorá-los, mas a alegria de Geoffrey despertava alguma coisa no íntimo dela, uma ansiedade tão forte que ela apertou os olhos. Embora, a muito custo, conseguisse não deixar transparecer, sentia uma vontade muito grande de se juntar àqueles três, fazer parte da… da família deles, mesmo que fosse apenas na imaginação. Mesmo se tudo aquilo fosse apenas um plano para ludibriá-la. Elene obrigou-se a sentir rejeição pelos de Burgh e pela aparentemente agradável atmosfera de intimidade que eles pareciam criar. Abaixando a cabeça, olhou para os três com a ferocidade com que se devia olhar para os inimigos. Não devia se aproximar muito do marido nem dos novos parentes, porque nenhum deles merecia confiança. A vida era dura demais, cheia de perigos e ameaças sobre as quais Marion, com seus sorrisos atraentes e suas histórias interessantes, não sabia nada. Mas Elene conhecia os perigos que ameaçavam os que não se acautelavam. Há muito tempo havia jurado que não cairia na armadilha de ninguém. E era muito possível que essa armadilha fosse um rosto bonito ou um riso contagiante. Ah, não! Ela era uma sobrevivente. Sobreviveria aos de Burgh. CAPÍTULO X Elene olhou séria para a cunhada perguntando-se se aquele sorriso perpétuo não escondia uma mente vazia. Não raro uma pessoa idiota tinha a sorte de ter um físico bonito e com isso iludia os outros. Elene sorriu maldosamente. Sim, Marion podia muito bem ser uma idiota e, como tal, seria a esposa perfeita para o Lobo. Muito divertida com a idéia ela soltou um riso rápido. Marion, ocupada em tirar medidas com uma fita graduada, olhou para ela com ar de surpresa.

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— Desculpe-me. Por acaso eu a espetei com a agulha? — perguntou, com os olhos bem abertos, demonstrando preocupação. Elene sacudiu a cabeça, mas mesmo assim não quis deixar passar a oportunidade para se queixar do que estava sendo feito com ela. Contra tudo o que seria de bom senso, estava de pé enquanto Marion tirava as medidas para fazer a túnica que ela já havia se recusado a aceitar. — Não sei por que estou me submetendo a isso. Como já disse, não quero nenhum presente seu. Enquanto falava ela agitou os braços, mas Marion os puxou para baixo. Para uma mulher de baixa estatura, a esposa do Lobo era surpreendentemente forte. E teimosa. Mesmo assim Elene sabia que à suplantaria facilmente numa luta. Devia simplesmente jogar no chão aquela criatura de covinhas no rosto e encostar a ponta do punhal na garganta dela. Pelo menos isso faria desaparecer aquele eterno sorriso! Elene soltou outro riso rápido, mas desta vez Marion nem olhou para ela. Obviamente, a mulherzinha não fazia idéia do perigo que estava correndo. Talvez tenha sido isso o que fez Elene desistir de entrar em ação. Isso e… Geoffrey. Elene enrubesceu quando se lembrou do marido e de quando havia acordado ao lado dele. Na noite anterior, cansada e aborrecida demais para dormir no baú, havia resolvido ocupar o lugar que era dela na cama. Encheu-se de coragem e deitouse, mas permaneceu acordada até que Geoffrey se recolheu. Fingindo-se adormecida, ouviu os barulhos que ele fazia enquanto se despia, até finalmente se acomodar ao lado dela. Elene achou que devia mandar que ele se vestisse novamente, sob pena de ter que enfrentar o punhal dela, mas inexplicavelmente acabou adormecendo antes de fazer a ameaça. Não se lembrava de mais nada até aquela manhã, quando despertou pouco antes da alvorada para se ver perto demais do corpo nu do marido. Por Deus, ela estava com o joelho quase tocando no sexo dele e a palma da mão esquerda de fato parada sobre o peito peludo do homem! Não era de admirar a lembrança deixá-la com as faces quentes. Escapando da cama e do quarto ela havia corrido para o terraço, onde o embaraço pouco a pouco foi desaparecendo, deixando apenas um estranho calor no íntimo. Outro espetacular nascer do sol a deixou tocada, sem que ela sentisse aquela amarga ansiedade para ir logo embora de Wessex. Mas no futuro ela tomaria mais cuidado. Pelo bem de Geoffrey. Mais tarde, quando Marion a encontrou e sugeriu que tomasse um banho, ela acabou concordando. Para falar a verdade, bem que vinha sonhando com isso. Foi muito bom lavar-se na banheira cheia de água quente, mas agora, vestindo apenas a camisa de baixo, já estava cansada de ficar à mercê de Marion, que manejava a fita métrica e. agulhas, às vezes a espetando. Elene abriu a boca para mandar a outra parar com aquilo quando elas ouviram batidas na porta. — Entre — disse Marion, alegremente. Elene achou que agora já era demais. Não tinha o hábito de se deixar ver vestindo apenas roupas íntimas, nem mesmo pelas servas. Ia começar a dizer isso em altos brados à esposa do Lobo quando a porta se abriu. Para dar entrada a Geoffrey. Elene teve a impressão de que o marido dela estava ficando mais bonito a cada dia. Depois da tensão inicial, havia passado a se movimentar em Wessex com naturalidade e segurança. Parecia mais jovem e mais despreocupado e vinha se tornando freqüente ela ouvir no salão o sonoro riso dele. A propósito, foi sorrindo que ele entrou no quarto, segurando um rolo de pergaminho e movimentando-se naquele seu caminhar tão másculo quanto gracioso. — Chegou uma carta de Campion, Marion. Dunstan achou que você… Quando viu a esposa ele parou, com os olhos muito abertos. Por alguns instantes Elene também ficou apenas olhando para ele, sentindo as faces muito quentes por causa do estado de seminudez em que se encontrava. Desde o casamento, sempre tinha ficado inteiramente vestida, mesmo para dormir. Nunca havia trocado de roupa na presença dele, não chegando nem mesmo a tirar os chinelos. Mas agora vestia apenas a camisa de baixo, quase transparente e que, por estar um pouco molhada, colava-se ao corpo em algumas partes. Para complicar ela estava com os cabelos úmidos inteiramente jogados para trás, expondo o rosto lavado. Nunca havia se sentido tão nua em toda a vida. O silêncio no quarto era tão palpável que Elene quase podia tocá-lo. Estranhamente, porém, não se sentia capaz de emitir nenhum som para quebrá-lo. Sentia os seios subindo e descendo, forçados pela respiração acelerada, enquanto mantinha os olhos fixos nos do marido… naqueles olhos castanhos que pareciam fascinados. Todo o corpo dela estava estranhamente quente… e era um calor que parecia vir dele. Com as pernas fracas, sentia os mamilos endurecidos, parecendo querer furar o úmido e fino tecido. E, quando percebeu que os olhos dele desciam para aquela região, alguma coisa estranha aconteceu nas entranhas dela. Geoffrey pigarreou, um som rouco que serviu para tirá-la do entontecimento. Rapidamente Elene ergueu as mãos e puxou os cabelos para a frente do corpo, cobrindo parte do rosto e os seios. Abriu a boca, mas só conseguiu emitir uma espécie de gemido no lugar das imprecações que pretendia pronunciar. — Bem, eu… vou deixar isto aqui para você — disse Geoffrey, numa voz estranha, pondo o pergaminho sobre a cama e rapidamente caminhando para a porta. — Obrigada, Geoff — disse Marion, quando ele já ia saindo. Marion! Elene havia se esquecido por completo da presença da outra mulher. Então voltou-se para ela, disposta a repreendê-la severamente pelo vergonhoso episódio, mas foi retida pelo riso da esposa do Lobo. — Você viu a mesma coisa que eu vi? — perguntou Marion, rindo com vontade. — Geoffrey estava com um ar de culpa… como um menino apanhado cometendo alguma traquinagem! Juro que nunca o vi assim. — Por alguns instantes ela ficou apenas rindo. — E é bom vê-lo tão encantado pelos seus charmes.

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Elene ficou olhando, agora certa de que aquela mulher era maluca, mas Marion apenas se levantou e abriu o bonito tecido que havia escolhido. — Posso começar a costura eu mesma. Por que não vai para o seu quarto? Mandarei que lhe levem a túnica. — Marion sorriu, mostrando as covinhas, mas deve ter reparado no horror que apareceu no rosto de Elene, porque logo o sorriso desapareceu. — O que foi? É claro que Geoffrey nunca machucou você, não é? — Não seja boba! Ele não sente nada por mim, e eu não sinto nada por ele! — declarou Elene, quase gritando, querendo se convencer daquilo. Jamais havia se sentido atraída por ninguém, menos ainda por um daqueles de Burgh. Também não sentia nada pelo marido, o homem que havia pegado na mão dela, incentivando-a a acariciá-lo nas partes mais íntimas. Meio trêmula, pegou a túnica limpa que havia levado, velha e desbotada mas ainda em condições de uso, e rapidamente se vestiu. — Mas eu já vi Geoffrey diante de outras mulheres, algumas muito atraentes, e ele nunca se mostrou tão agitado — protestou Marion, mostrando-se confusa. — É evidente que ele sente atração por você. Não estou entendendo. O casamento de vocês… — Você é uma criatura mimada e não sabe nada sobre o meu casamento ou sobre a minha vida — esbravejou Elene, nervosamente enfiando os braços na mangas da túnica, subitamente desesperada para se afastar daquele mulher e das perguntas que ela fazia com fingido interesse. — É uma herdeira que leva uma vida de luxo. O que pode saber sobre mim? — De fato, não sei quase nada sobre você — reconheceu Marion. — Não quer me contar alguma coisa para que eu fique sabendo um pouco mais? — Não! — gritou Elene, atrapalhando-se com o cadarço da túnica na ânsia de sair dali. Sempre havia demonstrado segurança diante do pai e dos homens dele, mas aquela mulherzinha parecia muito capaz de ameaçar as defesas dela. Marion podia ser maluca, mas via a coisas com mais clareza do que os ignorantes com quem ela sempre havia lidado. — Bem, nesse caso talvez você queira ouvir um pouco sobre mim — sugeriu Marion. — Embora possa ficar desapontada quando souber que não foi única a levar uma vida difícil. Ainda atrapalhada com o cadarço da túnica, Elene dirigiu um olhar duro à pequena mulher que ousava falar com ela daquele jeito. Ignorando aquilo, Marion sentou-se e respirou fundo. — Sim, eu era uma rica herdeira. Meu pai foi o lorde de Baddersly, um próspero feudo no sul da Inglaterra, mas tanto ele quanto minha mãe morreram quando era ainda muito nova. A naturalidade com que aquela revelação foi feita chamou a atenção de Elene, que passou a escutar com mais interesse. — A partir de então, minha vida. foi dominada por um tio cruel que ambicionava minhas terras. Talvez ele fosse como o seu pai, talvez não… Eu não era tão forte quanto você e acabei me tornando uma sombra de mim mesma. Vivia isolada das pessoas que gostavam de mim, com medo de provocar a ira do meu tio. Acostumei-me a não falar e não reagir, com medo de ser espancada por ele… o que acontecia com certa freqüência. Elene encolheu-se. Pelo menos o pai dela nunca havia erguido a mão para agredi-la. Quando era pequena, achava que não atraía o interesse dele. Depois que cresceu e aprendeu a se defender, reparou que o pai parecia se divertir com a rebeldia dela. — Finalmente, aproveitei-me de uma ocasião em que ele havia viajado para fugir. Meu tio deve ter ficado sabendo, porque mandou seus soldados, disfarçados de assaltantes de estrada, para me matar e eliminar os servos que haviam me acompanhado. Só estou viva por causa do providencial aparecimento de Geoffrey e Simon, que por acaso passavam no cumprimento de uma tarefa determinada pelo pai. Ao ser derrubada do cavalo, eu bati com a cabeça no chão e perdi a memória. Como já lhe contei, eles me levaram para Campion. No entanto, logo o meu tio exigiu o meu retorno e Dunstan foi escolhido para me escoltar. Eu seria tirada do seio da única família que conheci para voltar a um lugar do qual não me lembrava… tinha pavor de me lembrar. Marion fez uma pausa, parecendo precisar reunir determinação para prosseguir. — Nosso comboio foi atacado e a escolta foi dizimada. Eu fiquei olhando para aquela carnificina, os homens de Dunstan, o jovem escudeiro, todos mortos… — A lady respirou fundo antes de continuar, agora mais animada. — Quando vi todos aqueles corpos, minha memória retornou. Foi uma desgraça que resultou numa coisa boa, porque eu sabia o que estaria nos esperando, embora não conseguisse convencer Dunstan disso até quando já era quase tarde demais. Só ele e eu havíamos escapado do ataque. Nesse ponto Marion sorriu, como se a recusa do Lobo em acreditar nela fosse apenas um aborrecimento sem importância. — Continuamos a viagem enfrentando muitos perigos e, quando chegamos a Wessex, o castelo estava dominado por seu pai. Eu vi Dunstan ser capturado por Avery, mas consegui me esconder e fugi. Então voltei sozinha para Campion, guiandome pelo sol e pelas estrelas, com medo de encontrar algum inimigo… meu ou de Dunstan. Não foi uma jornada fácil. Marion suspirou e ergueu o rosto para Elene com os olhos iluminados. — Mas consegui. Os de Burgh correram em nossa ajuda e retomaram Wessex. Depois expulsaram das minhas terras o homem que queria matar a própria sobrinha. Assim sendo, finalmente posso viver em paz. E dou valor a tudo o que temos hoje porque foi conseguido com muita dificuldade. Elene ficou boquiaberta, espantada com a história que acabava de ouvir. O breve relato continha muitas tragédias, mas Marion não demonstrava sentir amargura por tudo o que havia sofrido. Aquela mulher aparentemente franzina havia viajado sozinha, atravessando campos e florestas, enquanto ela, Elene, tinha medo de ir além dos portões do próprio castelo. A idéia a deixava chocada.

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— Agora você pode entender por que eu procuro viver com alegria, estou sempre comemorando a nossa felicidade — disse Marion, fazendo um gesto para indicar o luxuoso ambiente que as cercava. — Não vamos nunca esquecer o passado, mas podemos deixá-lo para trás. Talvez você também devesse fazer isso. Elene ficou olhando, impressionada demais com a simplicidade com que Marion falava de coisas tão sérias para ao menos levar em conta o conselho. Então fez uma descoberta que lhe permitiu ver a própria idiotice. Considerando-se valente e imbatível, desde o primeiro dia havia pensado em Marion como uma mulher maluca e mimada. Mas na verdade a esposa do Lobo era mais forte do que ela jamais seria. De alguma forma Elene conseguiu escapar. Havia querido falar, fazer pouco da história de Marion. Sem conseguir pensar em nada para dizer, porém, saiu do quarto da lady e do próprio castelo. Por Deus, bem que gostaria de sair de dentro da própria pele, mas isso seria impossível. Preferiu não ir para a estrebaria, um tipo de lugar onde em geral encontrava conforto quando era mais jovem. Agora, como Geoffrey já havia lembrado, não era mais uma criança. Então dirigiu-se ao jardim murado, onde os primeiros botões desabrochavam nos bem cuidados canteiros de Marion. Ninguém pensaria em procurá-la ali. Como todos sabiam, a Fitzhugh detestava tudo que fosse delicado e bonito. Seria verdade? Elene já não tinha mais certeza. E agora estava trêmula. Por dentro e por fora. Tinha ouvido falar em tremores de terra e castigos bíblicos, já que Edred nunca se cansava de ameaçá-la com as punições guardadas para os pecadores, especialmente as mulheres que não soubessem respeitar seus senhores. Ela sempre havia rido dessas ameaças, mas agora se sentia como se estivesse no meio de um terrível cataclismo. Todo o mundo dela, as crenças, os valores, a forma que havia escolhido para viver a vida, tudo aquilo era subitamente posto em questão. E ela não encontrava respostas para as dúvidas que surgiam. Sempre tinha tido a certeza de ter encontrado a única forma certa de sobreviver, mas Marion havia suportado tudo, chegando mesmo a triunfar, mantendo-se fiel a si mesma. Considerando isso, Elene sentia-se na obrigação de reavaliar tudo o que já tinha feito. As mais básicas crenças dela pareciam ameaçadas, bem como outras mais recentes. Seriam os de Burgh assassinos sanguinários ou honrados cavaleiros? Seria Geoffrey um ambicioso conquistador de terras ou um calmo erudito, um homem bondoso que a vinha tratando melhor do que qualquer outra pessoa? Estaria ele pondo em prática um plano feito com antecedência ou agia assim apenas por ser uma pessoa boa por natureza? Elene sentia-se como um peixe fora da água, sem saber em que devia acreditar. Quem era realmente a criança mimada? Marion, com sua riqueza e sua felicidade, ou Elene, com seus gritos e suas ameaças? Teria ela lutado durante tanto tempo que agora golpeava o ar, automaticamente afastando tudo e todos, quando não havia a menor necessidade disso? Elene respirou fundo quando percebeu que só podia ter certeza de uma coisa. Não sabia mais quem era. Embora tendo ficado sentada num banco do jardim pelo resto da tarde, Elene não encontrou nenhuma resposta, não teve nenhuma grande revelação que explicasse tudo. Simplesmente reconhecia que havia outras formas de vida além da dela, outras opiniões, outras verdades, e que não podia mais ignorá-las. Ainda estava sentada no frio banco quando Geoffrey a encontrou. — Elene! — ele disse, com evidente preocupação na voz. — Um dos servos me disse que você está aqui há horas sem se cobrir com um manto. Só então ela se deu conta de que a temperatura havia caído, a leve brisa tendo se transformado num vento frio. — Você está bem? — perguntou Geoffrey. Elene não respondeu e ele se ajoelhou diante dela. Ajoelhou-se, sem nenhuma hesitação, como ninguém nunca tinha feito na frente dela. Teria aquele homem consciência da própria beleza? Limpos, os abundantes cabelos negros refletiam o sol do fim de tarde e os olhos brilhavam de ansiedade. Seria aquilo verdadeiro ou fingido? Elene já não sabia. — Está se sentindo mal? — ele insistiu. Elene apenas balançou a cabeça. — Por Deus, eu preferia que estivesse gritando comigo — disse Geoffrey, com um sorriso que a deixou com vontade de chorar. — Assim saberia que é mesmo você. Mas eu não sou eu mesma, pensou em dizer Elene. Será que você pode me dizer quem sou? Mas continuou calada e ele se levantou. Pegou na mão dela, que acariciou com os dedos calejados, fazendo-a sentir uma onda de calor tão apavorante quanto confortadora. Os instintos mandavam puxar o braço, mas Elene estava cansada demais para protestar. Deixou que Geoffrey pusesse um manto por cima dos ombros dela e não se encolheu quando sentiu o toque das mãos dele. Geoffrey falava com calma, como era o jeito dele, e ela o fitou, espantada, como se o visse pela primeira vez. Aquele rosto era bonito, o olhar tinha doçura e sabedoria. Elene ficou maravilhada ao se ver diante de um homem tão sábio, que havia aprendido tantas coisas, enquanto ela… Subitamente o olhar dele desceu para os lábios dela e Elene sentiu uma onda de calor que parecia capaz de expulsar não só o frio, mas também as lembranças ruins e qualquer coisa que a ameaçasse. Logo depois, como se quisesse caçoar daquele pensamento, o vento pôs entre eles uma longa mecha dos cabelos dela. — Venha — chamou Geoffrey. — Vamos entrar antes que você pegue um resfriado. Elene se deixou levar. Sentia no íntimo um calor que não tinha nada a ver com o pesado manto que agora usava, uma pungente percepção de que o mundo poderia ser diferente de tudo o que ela havia imaginado. Quando eles entraram no castelo ela já havia decidido experimentar uma mudança de atitude. Pela primeira vez na vida, tentou se ver como uma pessoa igual às outras. Estar atenta a tudo sempre tinha sido uma forma de identificar os inimigos,

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mas agora ela praticava isso com outros propósitos, como se fosse uma visitante numa terra estranha, estudando os desconhecidos com curiosidade. Ainda desconfiada, resolveu manter-se na periferia da família de Burgh, sem se integrar, mas observando e procurando obter informações. Continuou especialmente interessada em entender o relacionamento do Lobo com a esposa, já que conhecia muito pouco sobre pessoas casadas além da crueldade com que o pai dela tratava a mulher com quem havia se casado por interesse. Conhecia alguns casais da aldeia, claro, em geral pessoas livres, mas a vida daquela gente era muito peculiar, a primeira fase do casamento se caracterizando por gritos e um humor grosseiro… até que chegavam os filhos. Dunstan e Marion eram tão diferentes daqueles casais quanto a noite e o dia. Chegavam a discutir em voz alta, mas Dunstan jamais erguia a mão contra a esposa. E Marion não se retraía nem se escondia dele, respondendo ao marido com palavras igualmente duras. E essas brigas sempre eram seguidas por uma apaixonada reconciliação, incluindo demonstrações públicas que deixavam Elene enrubescida. Na verdade, quando aqueles dois estavam juntos, tocavam-se o tempo todo, quando não ficavam apenas se olhando. E Marion não ria como se estivesse sentindo cócegas. Em vez disso, parecia se derreter quando era acariciada pelo Lobo. Em certas ocasiões o grandalhão a lembrava Geoffrey, o que fazia Elene pensar, a contragosto, que talvez o Lobo não fosse inteiramente mau. Ele não só era terno, como também procurava agradar à esposa, conquistando-a com facilidade, da mesma forma como Marion fazia com ele. Era essa reciprocidade que espantava Elene. E o mais fantástico era a forma como Marion provocava o Lobo, sempre conseguindo que ele sorrisse ou soltasse um riso rouco. Elene engoliu em seco quando se lembrou de que às vezes Geoffrey tentava a mesma coisa com ela. Não era raro Marion ralhar com o marido, às vezes até socando o peito dele, mas sem querer machucá-lo, claro. Nessas ocasiões o Lobo apenas resmungava, enquanto o irmão mais novo ria. Que mágica aquela mulherzinha morena dominava para ter tal poder sobre o marido? Certamente aquela liberalidade não vinha apenas da satisfação que o Lobo devia ter na cama. Na opinião de Elene, a influência de Marion era impressionante e ela estava determinada a descobrir como uma mulher conseguia aquilo. Assim sendo, deixou que a esposa do Lobo a presenteasse com uma túnica como ela jamais havia vestido. Procurando não se impressionar com a maciez do tecido nem com a riqueza da cor, Elene observou a outra mulher com os olhos apertados e até se arriscou a fazer uma pergunta direta. — Qual é o seu poder sobre o Lobo? — disse, de chofre. Sem se abalar com a pergunta, Marion desdobrou vagarosamente a manga da túnica que havia vestido em Elene e sorriu. — O único poder que tenho sobre ele é o que vem do amor… do amor dele por mim e do meu por ele. Elene não acreditou e não fez segredo disso. Por acaso aquela mulher pensava que ela era estúpida? O poder era o que fascinava as pessoas… e vinha da força, da riqueza, dos segredos… não de emoções abstratas. — Só pode ser o seu dinheiro. — Não, porque Dunstan podia ter se casado comigo logo que soube que eu era uma rica herdeira. Mas não quis. Só se casou comigo depois que eu enfrentei muitos perigos ao lado dele, depois que passou a gostar de mim. Depois que passou a me amar. — Nesse ponto ela dirigiu a Elene o seu sorriso de covinhas. — Bem, talvez gostasse de mim desde antes. Às vezes as pessoas, principalmente as mais teimosas, se recusam a admitir a afeição que sentem. Elene torceu a boca. Talvez Marion fosse mesmo maluca. — Então por que é? Será que é porque você deixa que ele a use quando bem quer? Marion riu com vontade e recuou para fitá-la, mas Elene não conseguiu sustentar o olhar da mulher. Sentindo um traiçoeiro calor nas faces, abaixou a cabeça para esconder o rosto com os cabelos. — Deixar que ele me use? — perguntou Marion. — É assim que você se refere às delícias que podem ser partilhadas na cama matrimonial? Elene não quis acreditar. Delícias? A mulher estava louca. Como ela não respondesse, os olhos grandes de Marion se encheram de preocupação. — Por acaso Geoffrey machucou você? Elene riu com desdém. — Como se ele pudesse! Seria um homem morto se tentasse me tocar! Um ar de surpresa passou rapidamente pelo semblante de Marion antes que ela se abaixasse para ajeitar a barra da túnica. Durante algum tempo ficou em silêncio, enquanto Elene a observava. Depois voltou a falar, com brandura. — Acho que tive sorte por não precisar ter esse medo na minha noite de núpcias. Talvez você pense mal de mim, mas quando nos casamos eu já havia me deitado com Dunstan. Amava o homem, sabe? Elene arregalou os olhos, perplexa. Era espantoso uma mulher entregar a virgindade sem ser forçada a isso, e antes do casamento. Mas Marion tinha feito exatamente isso. — E reconheço que não fiquei envergonhada — prosseguiu a lady — Bem, a princípio sentia raiva de Dunstan. Afinal de contas, ele estava me levando de volta para uma situação ruim e não queria ouvir meus argumentos. — Marion fez uma pausa e suspirou, sonhadora. — Mas fui aos poucos me afeiçoando a ele… acabei percebendo que, por trás de toda aquela arrogância, estava uma pessoa adorável, um homem que precisava de mim tanto quanto eu precisava dele. Elene emitiu um som para expressar seu desacordo, mas Marion ignorou aquilo, continuando a ajeitar a barra da túnica. — Eu ansiava pelos beijos dele, pelo toque, pela forma como a paixão dele quase me consumia. Dunstan é um homem grande, muito forte, mas, quando eu quero, deita-se de costas e me deixa ficar por cima, ou que eu o tome na boca até que ele chegue ao clímax. Cada vez mais espantada, Elene ficou apenas olhando. Marion levantou a cabeça e soltou um riso rápido.

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— Você não se importa por eu falar com naturalidade disso, não é? Tão alarmada quanto agradavelmente excitada, Elene não encontrou a voz para responder e Marion pôs-se a falar sobre o que mais gostava que o Lobo fizesse com ela na cama, referindo-se às partes do corpo mais sensíveis, tanto dela quanto do marido, e revelando sem constrangimento as várias posições em que eles costumavam fazer amor. Quanto mais explícita se tornava a fala dela, mais Elene achava que devia tapar os ouvidos. Imagens dançavam na frente dela, imagens de Geoffrey fazendo aquelas coisas misturadas com as lembranças do dia em que ele havia posto na mão dela o sexo endurecido e murmurado ao ouvido dela, logo ele, o grande cavaleiro, o brilhante sábio, pedindo que ela o tocasse… Mas naquelas imagens as mulheres eram outras, mais atraentes que ela, mulheres que ficavam externando pensamentos sobre Geoffrey até que Elene viu tudo vermelho, a cor da raiva, do medo e do sangue. — Não! A própria Elene se espantou com o grito, que saiu juntamente com um demorado lamento que em nada se parecia com os sons enraivecidos que ela costumava emitir. Com a visão meio turva, viu Marion olhando para cima com ar de preocupação e ouviu o choro do bebê, protestando pelo som alto. — O que foi, Elene? — perguntou Marion. — Por acaso eu a ofendi? Pensei que, já que somos mulheres casadas… — Seu bebê está berrando — esbravejou Elene, grata pela interrupção e querendo aproveitar a chance para escapar. — Vá cuidar dele e deixe-me em paz! Ela não queria pensar nas coisas sobre as quais Marion havia falado, não queria ser assaltada por estranhos e assustadores desejos, não queria passar por nenhuma situação que pudesse torná-la vulnerável. Afinal de contas, era uma Fitzhugh. Despindo-se da túnica quase pronta, Elene rapidamente vestiu a velha e saiu do quarto, deixando Marion sozinha com o filho. — Calma, filhinho — murmurou Marion, pegando o menino no colo e soltando um demorado suspiro. — Mas o que foi que eu fiz? — perguntou, como se o filho pudesse responder. — Pensei em ajudá-la, mas talvez só tenha piorado as coisas. CAPÍTULO XI Geoffrey mexeu-se no assento colocado a um canto do salão, observando o irmão, que presidia a reunião do conselho de justiça do feudo. Muitas vezes havia presenciado ocasiões semelhantes em Campion, mas aquela era a primeira oportunidade que tinha para ver a atuação do irmão, surpreendendo-se com o senso de justiça que Dunstan demonstrava ter. Sempre vira o Lobo apenas como um guerreiro, mas a idade… ou Marion, ele pensou com um leve sorriso… estava acrescentando prudência ao que antes era só força. Geoffrey reparou que Elene entrava no salão, empalidecendo ao vê-lo. Por um instante ficou tenso, achando que ela giraria o corpo e iria para longe dele. Mas Elene não faria isso. Ultimamente vinha olhando para ele de uma forma estranha, ou pelo menos diferente da de costume, e Geoffrey não sabia como explicar esse novo comportamento. As atitudes dele continuavam sendo as de sempre, mas várias vezes a surpreendia fitando-o, com um interesse tão intenso que o deixava com o coração acelerado. E sempre ela logo se voltava, como se estivesse embaraçada. Elene embaraçada? Geoffrey balançou a cabeça. Aquela mulher não se embaraçava com nada. Mesmo assim ele não podia deixar de se lembrar da ocasião em que a encontrara vestindo apenas a camisa de baixo, vendo-a enrubescer, o rubor de uma donzela que se derramou sobre ele como uma onda de calor. Na hora ela havia parecido uma outra mulher, graciosa e adorável, com aquela enorme cabeleira molhada e brilhante, os seios firmes por baixo do fino tecido, o triângulo escurecido bem visível no alto das coxas. Geoffrey engoliu em seco ao ver mentalmente a imagem de Elene seminua, bela, fascinante. Seria por isso que ultimamente ela o evitava? Porque ele a tinha visto daquele jeito? A seminudez simplesmente a aborrecia ou seria porque isso a fazia parecer mais acessível, mais humana, muito mais feminina? Esforçando-se para controlar tanto o pensamento quanto as reações do corpo, Geoffrey aproximou-se para saudar com polidez a recém-chegada. Como ela pareceu disposta a correr para a cozinha, ele se apressou em bloquear a passagem. Vinha querendo falar com ela em particular, mas nunca surgia a oportunidade. E ele não ousaria se aproximar dela no quarto, temendo o que poderia acontecer… fosse algo sangrento ou… — Bom dia, minha esposa — disse Geoffrey, num tom de voz que aos ouvidos dele pareceu alto. Elene respondeu com um gesto de cabeça, algo que até vinha se tornando freqüente, e ele pensou ver um enrubescimento por trás do véu de cabelos. O que havia causado aquilo? Estaria ela se lembrando do encontro no quarto de Marion, como ele ainda há pouco havia pensado? A imagem ameaçou retornar e Geoffrey obrigou-se a concentrar a atenção no momento presente. — Gostaria de conversar com você — disse. — Estou ocupada numa tarefa e não tenho tempo para conversas inúteis — respondeu Elene. Dito isso ela tentou passar por ele, mas Geoffrey a reteve pelo pulso. Raramente tocava nela, mas sentia-se ofendido pela rejeição dela, principalmente quando tinha certeza de que Elene gostaria da notícia que receberia na conversa proposta. Tarde demais Geoffrey percebeu o erro que havia cometido, porque ela não toleraria ser impedida de se movimentar. Certamente explodiria numa gritaria, perturbando a importante reunião presidida por Dunstan e atraindo a ira do Lobo para eles. Rapidamente ele a empurrou para um canto escuro, pensando em acalmá-la de alguma forma.

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Mas Elene não disse nada. Apenas ficou olhando para ele com aqueles olhos grandes e negros, o que o deixou perplexo. Geoffrey abriu a boca para falar, mas sentiu a pele dela macia e quente por baixo dos dedos dele, percebendo também que ela estava com a pulsação acelerada. Então sentiu uma vontade muito grande de abraçá-la, correr as mãos pelas deliciosas curvas que tinha visto desenhadas através da fina camisa de baixo. No instante seguinte, porém, Elene deu um puxão com o braço e livrou-se do aperto da mão dele. Depois esfregou o pulso, como se ele a houvesse machucado, mas Geoffrey sabia que não era esse o caso. — Você não pode dizer nada que eu queira ouvir — ela disse, abaixando a cabeça, numa voz que não tinha a força de costume e com um olhar vacilante. — Nem mesmo se você ficar sabendo que finalmente conseguiu o que queria? — provocou Geoffrey. — O quê? Elene ergueu a cabeça e ele viu rubor nas faces dela por entre os densos cabelos. Estaria ela se sentindo mal ou o salão havia se tornado opressivamente quente? Ele também sentia calor. Muito calor. — Voltar para casa — murmurou Geoffrey, procurando fixar na conversa o pensamento, que só parecia interessado nos cabelos e na pele enrubescida da interlocutora. E ela dava a impressão de estar tão alarmada que a preocupação dele aumentou. — Você está se sentindo bem? Em vez de dizer a ele uma série de impropérios, Elene assentiu. — Eu estou bem. Quando partirei? Geoffrey não respondeu logo, espantado por vê-la tão contida. — Devemos ficar aqui até o fim desta semana, acho. Depois, se o tempo permitir, gostaria de iniciar a viagem de volta, embora ainda não tenha falado com meu irmão sobre o assunto. Dito isso ele olhou para onde estava Dunstan e franziu a testa, achando que o Lobo não ficaria muito contente quando soubesse daquele plano. Como suserano, o irmão poderia até proibi-lo de partir. — Iremos os dois? — perguntou Elene, numa voz estranhamente fraca. Fraca e rouca. — Certamente — ele respondeu. — Está bem. Dito isso ela se voltou, como se estivesse ansiosa para sair da presença dele. Geoffrey a seguiu, aborrecido com aquela fuga apressada. — É só isso o que você tem a dizer, depois de haver me importunado e ameaçado durante semanas? Elene! Agora, porém, ela já estava a vários passos de distância, fingindo não ouvir os chamamentos dele. Geoffrey não sabia o que era mais espantoso: ela não se voltar para responder com gritos ou demonstrar tão pouco entusiasmo com a notícia. Minutos antes ele havia pensado que finalmente conseguiria deixá-la contente. Mas não havia como agradar aquela mulher. Suspirando, Geoffrey apertou o alto do nariz, sentindo o começo de uma dor de cabeça e amaldiçoando a causa daquilo. A mulher era uma lunática. E mais idiota ainda era ele, pelo tratamento que dispensava à esposa. Mesmo assim sentia-se tentado a segui-la. Para onde ela teria ido com tanta pressa? Que tarefa podia ter arranjado? Geoffrey ficou pensativo. Provavelmente Elene estava planejando atear fogo ao palácio à noite, quando todos estivessem na cama. Cama. Ao pensar no lugar onde ultimamente vinha dormindo, e com quem, Geoffrey respirou fundo. Todas as noites se deitava ao lado da esposa, nu, e estava se tornando cada vez mais difícil conciliar o sono, principalmente depois que a vira seminua, ainda meio molhada do banho. Resmungando sozinho, Geoffrey arrependeu-se de quando havia decidido, se deitar na cama ao lado dela. Agora aquilo não proporcionava nenhum conforto e ele se levantava com o corpo moído todas as manhãs, sempre constatando que Elene já havia saído. Com tudo isso, sabia que dificilmente a teria como uma esposa de verdade. Ela era uma diaba que, naquele momento mesmo, provavelmente estava planejando matá-lo. E ele devia mesmo procurála, só para se certificar de que nenhum mal seria feito. Aprumando o corpo, Geoffrey olhou para a escada e marchou para lá. Talvez a esposa dele estivesse com Marion. Quando encontrou a cunhada sozinha com o bebê, Geoffrey sentiu um estranho desapontamento, que atribuiu ao embaraço que o dominava sempre que estava perto do recém-nascido. Certamente não era por causa da ausência da esposa. Pelo menos Marion mostrou-se contente ao vê-lo. Estava sentada numa cadeira perto da janela, costurando alguma coisa, enquanto o bebê dormia no berço ali perto. O sorriso que ela mostrou foi tão brilhante que Geoffrey teve certeza de que era bem-vindo. — Geoff! Entre e venha sentar-se aqui perto. Ultimamente você anda tão ocupado com Dunstan que nem tem tido tempo para mim. Geoffrey sorriu, sentindo um pouco de remorso. Na verdade vinha evitando se encontrar com a cunhada para não ter que ouvir palavras de consolo por causa do casamento sem amor dele. Assim sendo, quase sempre procurava a companhia do irmão. Mas agora podia puxar outro assunto, falando a Marion sobre os planos que estava fazendo. — Desculpe-me. Nossa estada aqui está chegando ao fim, mas prometo que na minha próxima visita reservarei mais tempo para você — garantiu. — Já está de partida? Tão depressa assim? — protestou Marion. — Parece que vocês acabaram de chegar. É claro que ainda não estão aqui há um mês. — Não — reconheceu Geoffrey. — Mas já chegou a hora de voltarmos. Tenho muito o que fazer no feudo, se Dunstan me deixar voltar. — Ele não o obrigará a ficar, embora eu saiba que ficaria muito contente se você ficasse. É o preferido dele, Geoff.

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Geoffrey deu de ombros. — Isso é só porque ele me vê com mais freqüência do que os outros irmãos. A propósito, agora que o tempo está firme, vocês deviam convidar aqueles tratantes para vir conhecer o bebê. Marion sorriu, mostrando as covinhas do rosto. — Aposto que eles estão loucos para pegar o sobrinho no colo. Geoffrey riu ao imaginar os irmãos dele, todos rudes guerreiros, tomando nos braços a frágil criança. — Talvez não pegar no colo, mas pelo menos trazer os cumprimentos a vocês — disse, aproximando-se do berço. — E papai deve estar ansioso para conhecer o neto. — É, sim — concordou Marion. — Agora já não faz tanto frio e não ficarei preocupada se ele se aventurar numa viagem tão longa. Depois de trocar um olhar significativo, por alguns instantes eles ficaram num constrangedor silêncio. Geoffrey se alegrava ao ver que alguém mais se preocupava com as necessidades do pai dele, mas ser lembrado da avançada idade do conde não era uma coisa agradável. Então ele olhou para o menino, que dormia tranqüilamente. — Geoff? — Sim… — ele murmurou, estudando o recém-nascido e sentindo uma súbita vontade de rir. As mães sempre achavam lindos os seus filhos, mas todo bebê daquela idade era feioso. — É sobre Elene. Geoffrey quase soltou um gemido. Tarde demais percebeu que tinha sido um erro ir até ali. Não tinha nenhuma vontade de falar com Marion sobre a esposa. Ela não compreenderia. Ninguém compreenderia. — É que… eu queria lhe pedir que não a julgasse com muito rigor. — Quem? — perguntou Geoffrey, olhando para ela com surpresa. Marion mostrou um sorriso indulgente. — A sua esposa. — Ah, sim… Geoffrey continuou olhando para o recém-nascido, sem dizer nada. Por acaso Marion gostava de Elene? — Acho que, por trás de toda aquela ferocidade, existe uma pessoa boa. Na verdade, às vezes ela me lembra Dunstan — pilheriou Marion, o que deixou Geoffrey ainda mais espantado. A imprevisível e violenta Elene não se parecia em nada com o honrado irmão dele. Dunstan era um cavaleiro, um barão, um homem que agia com justiça e merecia o amor da esposa. Ele até quis protestar, mas Marion prosseguiu. — Ela se parece tanto com Dunstan que vê tudo em branco e preto. Infelizmente, no caso dela, a maior parte aparece em preto. Tem havido muito pouca luz na vida de Elene, Geoff. — Mesmo assim você não pode comparar Dunstan com aquela criatura selvagem! — disse Geoffrey com veemência. —Ah, não posso, é? — rebateu Marion, embora continuasse falando com sobriedade. — Quando Dunstan foi encarregado de me levar de volta para a casa do meu tio, não deu a menor atenção aos meus argumentos, não acreditou quando eu disse que estava sendo levada para uma morte certa. Tratou-me como se eu fosse uma idiota, enquanto ele era todo experiência e arrogância. Não sei se você sabe, mas seu irmão nem chegou a me pedir em casamento. Apenas anunciou que seria a melhor saída para evitar uma retaliação por parte do meu tio. Geoffrey ficou pasmado com a franqueza dela, mas não com a história em si. Sabia muito bem que às vezes Dunstan agia como um déspota. E mesmo depois do casamento, não raro percebia discórdia entre o Lobo e a esposa. Embora fosse evidente que os dois se amavam, Dunstan parecia relutante em reconhecer isso. Como se lesse o pensamento dele, Marion sorriu. — Muitas vezes eu pensei em ir embora, mas acabei optando por enfrentá-lo, combater a teimosia do homem. Como o seu pai disse uma vez, eu domei o Lobo. Não foi fácil, mas valeu a pena. Seja por que motivo for, algumas pessoas acham difícil se permitir ter sensações. No caso de Elene, não me agrada especular, mas tenho certeza de que a educação dela teve alguma responsabilidade nisso. Que tipo de vida ela podia ter tido com o pai, sem a mãe, sem ter exemplos de honra ou bondade em que se espelhar? — É, pode ser — admitiu Geoffrey. — Mas nem tanto. Sua infância também foi um inferno, mas hoje você é a pessoa mais doce que eu conheço. Outra vez as covinhas de Marion apareceram, enfeitando o riso dela. — Obrigada, cunhadinho! Mas, como você sabe muito bem, as pessoas são diferentes. Cada um de nós tem suas características e procura sobreviver à sua maneira. Não acho que Elene seja tão selvagem quanto nos faz acreditar, mas, como um ouriço, ela usa o exterior cheio de espinhos para afugentar os inimigos. Por acaso você já a viu atacando fisicamente uma pessoa ou um animal? Geoffrey coçou a cabeça, pensativo, mas antes que ele pudesse responder Marion continuou. — Meu tio se divertia chutando os cachorros ou batendo nos servos. Até agora não vi em Elene nada parecido com a maldade dele. — Você está se esquecendo de que ela assassinou a sangue-frio o primeiro marido — lembrou Geoffrey, com secura, embora muitas vezes ele próprio não desse a devida importância ao fato. Seria bom ter alguém para lembrá-lo disso. Marion respirou fundo e ficou séria.

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— É, eu me esqueci — disse, como se falasse consigo própria. — Ao vê-la com você, nem pensei em Avery, o monstro. Oh, Deus! E pensar que não faz muito tempo… — O quê? — quis saber Geoffrey, preocupado com a reação da cunhada. — Oh, Geoff… — voltou a falar Marion, com a voz entrecortada. — Eu nem cheguei a vê-lo, mas ouvi a voz dele, voltando-se contra o próprio lorde, ameaçando e atormentando Dunstan por nenhum motivo além da própria ganância. — Avery? — perguntou Geoffrey, sentindo um arrepio ao se lembrar do homem que havia atraiçoado e torturado o irmão dele. Marion assentiu e continuou. — Muita coisa se disse sobre a morte dele, talvez porque Elene já tinha a reputação que tem hoje, ou talvez porque a forma como ele morreu traga à tona um medo que todo homem procura sufocar. Prefiro não especular. Mas lhe peço que se pergunte por que uma mulher, qualquer mulher, mataria um homem na cama dela. A resposta em que Geoffrey imediatamente pensou foi a mesma que seria dada por qualquer um dos outros de Burgh: Elene era uma bruxa sanguinária que não queria se casar. Ele abriu a boca para expressar essa opinião, mas alguma coisa no semblante de Marion o manteve calado. — Por que Elene matou Avery e você continua vivo? — ela perguntou, com brandura. Como resposta Geoffrey engoliu em seco. Pela primeira vez desde o casamento, perguntou-se o que de fato havia acontecido na noite do casamento de Elene Com Walter Avery. A princípio não havia se preocupado em refletir sobre o destino do predecessor. Depois, por motivos que preferia não analisar, havia decidido não pensar em Elene com um outro homem. Mas o cavaleiro apunhalado na noite de núpcias não tinha sido um qualquer. Tratava-se de Walter Avery, um homem sem honra. Como Marion havia lembrado , o desgraçado havia traído e torturado o próprio amigo e suserano. Se era capaz disso, que tratamento dispensaria a uma mulher? Geoffrey sentiu um estranho aperto no estômago. Teria Avery machucado Elene? Apesar de se encolher ao ter aquele pensamento, ele sabia que a Fitzhugh não sofreria em silêncio. Revidaria de imediato, como faria qualquer mulher. Seria por isso que a chamavam de assassina? Experimentando um certo remorso, Geoffrey suspirou. Não sabia sobre o passado de Elene mais do que as outras pessoas. Por que não havia pensado antes nessa possibilidade? Por que não havia feito mais concessões a ela? Por que não havia ele próprio matado Avery, no calor da batalha? Se ao menos pudesse ter posto as mãos no desgraçado! Geoffrey pigarreou. — Ela lhe disse alguma coisa? — perguntou, meio temeroso do que poderia ouvir. Marion balançou a cabeça, com um ar tristonho. — Você sabe que ela não falaria. Por outro lado, parece não saber nada sobre o que pode acontecer entre um homem e uma mulher. Mostrou-se muito perturbada quando eu falei livremente sobre o assunto. Geoffrey sentiu-se corar intensamente. Não só não tinha o costume de falar sobre certas coisas com uma mulher, mesmo tratando-se de Marion, como também tinha a sensação de estar sendo acusado de incompetência por ainda não ter se deitado com a esposa. Quando o silêncio entre eles começava a ficar constrangedor, o bebê chorou e Marion se levantou. Antes de pegar o filho, porém, pôs a mão no braço de Geoffrey para confortá-lo. — Não posso dizer que sei o que aconteceu de fato na dificil vida dela, assim como não insistirei para que você não seja rigoroso com Elene. Só lhe peço uma coisa, para o seu próprio bem: não desista dela. Era hora de partir. Por mais que Geoffrey tivesse satisfação em ver Dunstan, Marion e o menino, tinha pouco a fazer em Wessex além de seguir obsequiosamente o irmão, enquanto o novo lar dele requeria muitas providências. O dever o chamava, mas havia também outros motivos para a partida. Apesar das atitudes gentis de Marion, ele se sentia sob pressão, colocado entre a esposa e o Lobo. O casamento havia tornado impossível uma repetição dos despreocupados dias passados antes no castelo do irmão. Além disso, ele sabia que Elene estava infeliz. Ou não? Ela não parecia muito entusiasmada com a notícia do regresso deles… embora nunca houvesse se mostrado feliz com nada, pensou Geoffrey, suspirando. Logo depois, lembrando-se da conversa com Marion, resolveu repensar o que acabava de afirmar em pensamento. Seria Elene do tipo de pessoa que sentia prazer no próprio sofrimento ou era desgostosa de verdade, e não por vontade própria? Quando ela rechaçava e até fazia pouco das gentilezas dele, Geofirey sempre atribuía isso à natureza rancorosa da esposa, mas agora se perguntava se os motivos por trás do comportamento de Elene não eram mais complexos. O quê, na verdade, ele sabia sobre a esposa? Fosse qual fosse a resposta, Geofirey sabia que dificilmente a ouviria dos lábios de Elene. Esfregando os olhos ele repousou a cabeça no travesseiro, aproveitando-se da maciez da cama enquanto era possível. Não encontraria aquilo quando retomasse ao próprio feudo, que não tinha confortos de nenhum tipo. Nada mais seria fácil. — Quando pretende partir? Sem ter percebido que alguém entrava no quarto, Geoffrey levou um susto quando ouviu a voz do irmão e recriminou-se pela desatenção. — Daqui a dois dias — respondeu. — Mas como você ficou sabendo? — Marion me contou, e me fez jurar que não rosnaria com você, seja lá o que tenha pensado quando disse isso. — Embora parecesse um tanto arrependido da promessa feita à esposa, Dunstan apenas ficou olhando nos olhos do irmão. — Preferia que você ficasse. — Eu sei. Um som indecifrável partiu da garganta do Lobo, mas felizmente não chegava a ser um rosnado.

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— Está certo, mas pelo menos deixe que eu escale alguns homens para acompanhá-lo. Geoffrey dispôs-se a recusar, mas o Lobo pôs a mão pesada no ombro dele, mantendo-o calado. — Sei que você quer fazer tudo sozinho, Geoff. Ai, meu Deus! Eu era exatamente assim em relação a Wessex, mas sofri muito com a minha teimosia. Privei-me de bons conselhos, de companheirismo e da sua habilidade para me ajudar a fazer as contas da propriedade. — Nesse ponto ele mostrou um sorriso torto. — Não cometa o mesmo erro. Leve com você alguns dos meus cavaleiros mais confiáveis. Embora o primeiro impulso fosse recusar, Geoffrey pensou melhor na oferta. Não queria levar outros soldados para o feudo, afastando-se ainda mais da gente de lá, mas lembrava-se muito bem do confronto com Montgomery e sabia que sempre havia o perigo de outras traições. Como se lesse o pensamento dele, Dunstan voltou à carga. — Você é muito temerário, Geoff. Sempre fico angustiado quando penso que um irmão meu está no meio do antigo exército de Fitzhugh. — Todos eles me juraram fidelidade — ponderou Geoffrey. Dunstan soltou um resmungo, evidentemente dando pouca importância àquilo. — Todos nós sabemos da rapidez com que esses compromissos podem ser desfeitos, principalmente quando a questão envolve uma herdeira… — O Lobo vacilou, como se sentisse que não devia externar suas opiniões sobre Elene, mas sustentou o olhar de Geoffrey. — Você precisa de alguém para proteger sua retaguarda. Geoffrey lembrou-se de que já ouvira a mesma coisa da esposa e quase riu. Pensou até em revelar a coincidência ao irmão, mas achou que Dunstan não gostaria da ironia. — Tem mais uma coisa, Geoff. Dunstan desviou os olhos e Geoffrey ficou tenso por causa do tom de voz do irmão. Só esperava que o Lobo não voltasse a falar mal de Elene. — O que é? — Estive pensando no que você me disse sobre os cofres vazios do seu feudo. Simplesmente não posso acreditar nisso. Geoffrey relaxou, mesmo ficando intrigado com as palavras de Dunstan. — Por que não? — Fitzhugh tinha dinheiro, muito dinheiro, vindo principalmente da esposa, que era uma herdeira muito mais rica do que ele. Foi com isso que financiou a guerra contra mim, aumentando o exército e comprando mantimentos. Sempre tinha armas sofisticadas, usava roupas caras e até jóias. Fala-se que ele tomou as jóias da esposa e mandou transformar em anéis e outras bugigangas para si próprio. — Dunstan soltou um de seus resmungos, expressando o desdém que sentia por um comportamento como o que estava descrevendo. Depois continuou. — O que estou querendo dizer, Geoff, é que não acredito que tudo tenha se perdido com a guerra, nem mesmo depois do pagamento do resgate pelos cavaleiros. Ele sabia da situação da propriedade e deve ter guardado alguma coisa para manter os confortos de que desfrutava caso fosse derrotado. Geoffrey flexionou os dedos, olhando para o irmão. Embora os argumentos de Dunstan fossem razoáveis, talvez houvesse algum motivo que o Lobo não quisesse confessar. Além disso, ele não sabia se devia concordar com a conclusão do irmão. Um sujeito seboso como Fitzhugh podia muito bem gastar tudo o que tinha na tentativa de conquistar mais terras e mais poder. Sempre tinha sido essa a ambição do cretino. — Não posso dizer que vi muito luxo naquele feudo — ele declarou, com secura. — Ora, você sabe o que estou querendo dizer, Geofi — respondeu Dunstan, com impaciência. — Não, não sei — disse Geoffrey, sentindo que também já estava com o sistema nervoso entrando em descontrole. — Talvez você deva ser um pouco mais claro. Dunstan não pareceu muito à vontade, mas quando voltou a falar demonstrou determinação. — Acho que ela escondeu o dinheiro em algum lugar. Geoffrey soltou uma gargalhada, um som que pareceu amargo aos ouvidos dele. — Sim, e é possível ver isso pela forma como esbanja tudo em roupas caras e jóias — disse, numa voz cheia de sarcasmo. Dunstan dirigiu a ele um olhar tão duro que Geoffrey achou que o irmão poderia jogar alguma coisa em cima dele. — Mas que droga, Geoff1 Ela não usará o dinheiro em futilidades, mas sim para pagar homens que acabarão cravando um punhal nas suas costas. Não se deixe cegar por seu deturpado senso de honra! Aquela mulher é perigosa! Tem que ser trancada em algum lugar ou mandada embora… para um convento, talvez, embora eu duvide que algum se mostrasse disposto a recebê-la. Você teria que encontrar a recheada bolsa dela para comprar a boa vontade de alguma madre superiora. Geoffrey procurou se concentrar nas palavras de Dunstan, ignorando o tom enraivecido com que elas tinham sido pronunciadas. Era mais do que evidente que o Lobo detestava Elene, embora fosse igualmente evidente que tinha motivos para isso. No entanto, pela primeira vez na vida Geoffrey sentia vontade de avançar contra a garganta do irmão, derrubá-lo no chão para tentar pôr um pouco de bom senso naquela cabeça de cabelos espessos, embora não tivesse certeza de que seria bem-sucedido nisso. Embora mais velho, Dunstan o superava em peso… e um peso composto quase exclusivamente de músculos. Mesmo assim, sentia-se tentado a… Você está tratando com o seu suserano, lembrou-se Geoffrey. Além disso, todos esperavam que ele raciocinasse com frieza. Era o diplomata da família, como Campion costumava dizer. Mas agora precisava de muito autocontrole para equacionar aquele problema de forma lógica. Ele até entendia por que Dunstan detestava Elene. O Lobo havia suportado o inferno nas mãos do pai dela e obviamente transferia o ódio para a filha do inimigo. Embora ela não houvesse dado andamento à guerra iniciada pelo pai, não era do tipo de mulher que conquistava admiradores. Era a antítese da doce e bondosa Marion, que parecia sempre ter um lugar no coração

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para todos. E Dunstan, como a própria Marion havia observado, em geral via tudo em branco e preto, sem perceber os meiostons que faziam pessoas como ele, Geoffrey, muitas vezes vacilar antes de tomar uma decisão. Ele também ainda não tinha opinião formada sobre Elene. Apesar do comportamento da esposa, não conseguia odiá-la. Às vezes se via admirando a firmeza de princípios dela… além de outros atributos de Elene. Geoffrey engoliu em seco. Como Marion havia observado, Elene tinha tido uma criação muito diferente da dos de Burgh. Quem sabia como tinha sido a educação dela? Quem podia julgá-la? Na verdade, quem poderia culpá-la se ela houvesse se apoderado da riqueza deixada pelo pai? Mesmo assim Geoffrey achava difícil acreditar que Elene estava escondendo dinheiro roubado dos cofres do castelo. Não havia mais nem mantimentos. Embora ela não parecesse se importar com mais ninguém, seria difícil imaginá-la roubando a comida destinada à alimentação dos servos. Então o quê? O que ela faria quando visse a miséria tomando conta da propriedade, as pessoas morrendo? Fugiria para Londres com a bolsa cheia de dinheiro? Geoffrey sabia que Elene detestava viagens e parecia se sentir mais forte no lugar onde havia nascido. Tinha uma ligação muito sólida com aquele feudo, algo que nada no mundo conseguiria superar. Pelo menos isso ela não trairia. Ele também não conseguia imaginá-la contratando soldados para assassinar o marido. Talvez chegasse a essa conclusão por influência de outras partes do corpo que não a cabeça, mas Elene não parecia ter o mesmo desejo de poder do pai. AfIrmava desprezar praticamente tudo o que as outras pessoas em geral ambicionavam. Repetidas vezes amaldiçoava a presença dele e ameaçava matá-lo, mas usando as proprias mãos e não contratando alguém para cumprir a ameaça. E, apesar de ter tido muitas oportunidades, nunca tinha feito nada mais grave do que arranhar o rosto dele. — Elene não é assim — disse Geoffrey, com calma, ouvindo outro resmungo do Lobo. — Mas se, como você diz, o dinheiro desapareceu, então outra pessoa é responsável por isso. Sem dar ouvidos aos argumentos do irmão, ele lamentou ter tido tanta pressa em dispensar Montgomery. O cavaleiro tinha sido muito ligado ao pai de Elene. Talvez houvesse se apoderado de valores dos quais só Fitzhugh tinha notícia. Sim, o culpado podia ser Montgomery. Ou Serle. Subitamente o mordomo apareceu na mente de Geoffrey, com seus olhinhos espertos e suas contas incompreensíveis. Era preciso considerar os pesados gastos contabilizados sem nenhuma explicação. Tendo livre acesso aos depósitos de suprimentos do castelo, Serle tornava-se o mais forte suspeito. — Está certo — disse Geoffrey. — Levarei os cavaleiros e investigarei para descobrir um possível ladrão no meio da minha gente. — Nesse ponto ele se levantou e olhou nos olhos do irmão. — Mas levarei também minha esposa, em vez de mandá-la para algum convento. — Geoff — Por alguns instantes os dois homens pareceram travar um duelo de determinação, a de Dunstan sendo mais forte, enquanto a de Geoffrey era temperada pela paciêncla. Finalmente o Lobo se voltou, resmungando. — Escolherei dois dos meus melhores homens. — Obrigado, Dunstan — disse Geoffrey, erguendo a mão para apertar o antebraço do irmão, que fez o mesmo com ele. Enquanto seguia Dunstan para fora do quarto, Geoffrey sentiu que agora a vontade de voltar para casa estava misturada com uma desagradável sensação de desconforto. Depois da relativa paz em Wessex, só encontraria no próprio feudo discórdia e suspeitas. O retorno seria como entrar num ninho de cobras. E, embora ele procurasse não dar importância às advertências de Dunstan sobre Elene, elas ficavam no ar, nublando o pensamento dele, justamente na hora em que era preciso ter clareza de raciocínio. Geoffrey sabia que estaria indo para um antro cheio de inimigos, mas qual seria a posição da esposa dele? Estaria entre os amigos ou se aliaria aos inimigos? CAPÍTULO XII O que Elene sentia ao deixar Wessex era muito diferente do que havia sentido ao chegar, muito diferente, na verdade, de qualquer coisa que ela houvesse imaginado. Em vez de se entusiasmar, sentia uma dor aguda enquanto eles atravessavam os portões do castelo. Mas por que aquilo? Seria sintoma de alguma doença insidiosa ou ela estava realmente possuída, como Edred costumava dizer? Fosse o que fosse a sensação, não podia ser desapontamento, claro. Ela não havia querido voltar a partir do momento mesmo da chegada deles à toca do Lobo? E, com esse objetivo, esforçara-se para ser tão insuportável que só uma idiota como Marion toleraria a presença dela. Elene encolheu-se quando pensou no que tinha feito, principalmente na ocasião em que havia cuspido aos pés da lady. Sentindo alguma coisa parecida com arrependimento, não soube dizer se sentia orgulho do comportamento que tinha tido. Também não sabia se queria voltar para casa. Agora o feudo dela não parecia tão convidativo quanto antes, enquanto o castelo do Lobo, embora velho e muito sujeito à entrada do vento, parecia ter calor interno, como se o sorriso de covinhas de Marion e a fortaleza do lorde tivessem um poder parecido com o do sol. Elene soltou um resmungo contra aqueles pensamentos tolos, mas não havia como negar que as pessoas a tratavam de uma forma diferente em Wessex. Com exceção do Lobo, ninguém parecia amedrontado ou insultado pela presença dela. Alguns se mostravam cautelosos por causa das cenas que ela criava, mas a maioria se aproximava, com simpatia. Isso porque ela era a esposa de Geoffrey. Ninguém seria simpático com a Fitzhugh.

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Sendo algo novo para ela receber aquele tratamento, Elene não sabia se queria deixar de tê-lo. E, enquanto continuava confusa sobre o lugar que ocupava no mundo, havia as imagens de Marion e do bebê. Antes da partida ela havia sido abraçada e beijada pela esposa do Lobo, que parecia prestes a se debulhar em lágrimas. Embora Elene continuasse considerando a mulher uma louca, era inegável que se tratava de uma pessoa bondosa. Em contraste com aquilo, os moradores do castelo dela, o dissimulado Sede, os carrancudos servos, o intolerante Edred e os ameaçadores remanescentes do exército de Fitzhugh, todos sentiam evidente aversão por ela. E as frias e nuas paredes que a cercariam eram bem diferentes das do castelo do Lobo, graças ao talento de Marion para criar tapeçarias e outros enfeites. Embora parecesse ter mais moradores, por ser bem menor, o castelo dela era como um deserto onde a morte era uma ameaça constante. Procurando engolir o nó que sentia na. garganta, Elene afastou os olhos do castelo que ia desaparecendo ao longe e fixou-os nos ombros largos diante dela. Bem, ainda teria Geoffrey. Sem saber de onde vinha aquele pensamento, Elene espantou-se com a sensação de paz que ele provocou. Só podia ser falsa segurança, claro, mas era algo que permanecia, como um pesado manto que, além de proporcionar calor, a protegesse dos demônios. Elene franziu a testa e respirou fundo. Obviamente a longa viagem começava a afetá-la. Por que Geoffrey a arrastava pelos campos, afinal? Quando chegasse em casa, por mais que ele insistisse, ela não arredaria pé do quarto, da cama… A questão sobre como eles se arranjariam para dormir assaltou a mente de Elene, deixando-a inquieta. Geoffrey voltaria a fazer a cama no chão ou faria questão de dividir a cama com ela? E, se ele insistisse nisso, deveria ela se resignar a dormir no chão? Elene sentia alternadamente calor e frio ao pensar nas possibilidades. Naturalmente não queria que Geoffrey, menos ainda o enorme e nu Geoffrey, se deitasse com ela no antigo quarto do pai, mas também não estava ansiosa para se acomodar no frio chão de pedra. E, para falar a verdade, havia se acostumado ao… calor que vinha do grande corpo dele. Do grande e nu corpo de Geoffrey. Elene sentiu um arrepio, embora estivesse soprando apenas uma brisa muito leve. A primavera logo se transformaria em verão e as colinas à volta deles de encheriam de verde e calor. Seria uma bela vista, mas não tanto quanto a que estava bem diante dela. Como se tivesse vontade própria, a atenção dela retornou ao marido, cuja beleza ultimamente a fascinava. Se ele insistisse em dividir a cama, deveria ela se recusar? Não, porque estaria apenas negando a si própria o pequeno e inocente prazer da proximidade dele, de estar perto de um outro ser humano e de ter aquela estranha sensação de segurança que havia permitido a ela a primeira noite de sono tranqüilo depois de muitos anos. Segura? Com um homem? Elene quis caçoar da idéia, mas não sentiu nenhuma vontade de rir. Geoffrey de Burgh emitia calor e proporcionava segurança, enquanto outros homens esbanjavam crueldade e cobiçavam poder. Ela sabia que já era tempo de reconhecer isso, pelo menos para si mesma. Durante a longa viagem, teria oportunidade de reavaliar o marido. Desde que havia entrado na vida dela, Geoffrey não tinha feito nada além de tratá-la com uma imerecida bondade. Talvez ela devesse começar a retribuir a isso. Elene respirou fundo, cheia de dúvidas. Certamente um comportamento assim poderia ser arriscado, levaria a um enfraquecimento, à vulnerabilidade que ela sempre havia procurado evitar. Ou não? Com as sombrancelhas erguidas ela continuou a olhar para as costas do marido. Poderia continuar sendo a Fitzhugh se entregasse a Geoffrey o que ele merecia? Era impossível saber. Não só porque ela teria que superar uma relutância inata, mas também porque não estava certa de que conseguiria adotar um novo tipo de comportamento. Há tanto tempo que vinha tratando todos com rispidez que nem sabia como era ser bondosa e gentil. Elene sentiu outro nó na garganta e engoliu em seco, afastando os olhos do marido e contemplando as altas árvores que iam se perder na distância. Fortes mas flexíveis, aqueles troncos se deixavam balançar pelo vento mas não se quebravam. Poderia ela fazer a mesma coisa? Geoffrey merecia que ela pelo menos fizesse esse esforço. Além de recebê-la bem, as pessoas em Wessex haviam dispensado ao marido dela um tratamento digno de um rei. Mesmo tendo lá o carinho da família e a afeição de pessoas evidentemente sinceras, ele estava deixando aquilo tudo para voltar a um lugar onde só encontraria suspeitas e traição. E Elene sabia que tinha sido a principal instigadora dessa situação, ao incentivar os servos a se voltar contra o novo lorde, chamando-o de Santo Geoffrey e fazendo pouco dos modos gentis dele. Agira assim por não perceber que ele apenas estava tendo o comportamento de um homem honrado… um tipo de homem que ela nem sabia existir. Elene ergueu a cabeça. Nunca havia recuado diante de nenhum desafio, e encararia assim a tarefa de mudar de comportamento: seria um desafio a vencer. Enquanto isso, continuaria a vigiar a retaguarda do marido. Porque, quanto mais eles se aproximavam do feudo, mais Elene se convencia de que os verdadeiros inimigos não estavam às costas dela, mas na frente. E o feudo em si não parecia mais um paraíso, mas sim uma negra e venenosa aranha pronta para atacá-la. Geoffrey emocionou-se ao começar a percorrer as terras do feudo. Embora não se esquecesse das advertências de Dunstan, nem do duro trabalho que teria pela frente, não podia deixar de sentir orgulho do lugar. Aquele era e continuaria sendo o feudo dele, não importavam as dificuldades. Depois olhou para a esposa e experimentou a mesma sensação de posse, o que o fez sorrir. Ninguém além da própria Elene contestava o domínio dele sobre ela. Diferentemente de outros maridos, ele não precisava temer que algum outro homem lhe roubasse a esposa. Procurando não rir daquele pensamento, Geoffrey entrou no salão e no mesmo instante o bom humor dele foi substituído por uma desagradável sensação de desconforto. Talvez estivesse exagerando, mas tinha a impressão de que alguém o

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observava com más intenções. Rapidamente olhou em volta, procurando ver qual das pessoas presentes estaria com maus intentos, mas na verdade ninguém ali parecia feliz em vê-lo. Por um longo momento ele ficou observando, em silêncio, intrigado com o fato de que ninguém apresentava as boasvindas. Um pouco depois Serle adiantou-se para recebê-los e Geoffrey pôs os olhos naquele que podia ter motivos para temêlo. Embora o mordomo mantivesse a cabeça abaixada, como se quisesse demonstrar submissão, os olhos examinavam Geoffrey, Elene e a comitiva, demorando-se nos dois cavaleiros com especial interesse. Reparando naquilo, Geoffrey fez um gesto vagaroso para os dois homens, que se afastaram do grupo. — Perdoe a demora, meu lorde, mas não pensei que voltaria — disse Serle. Geoffrey juntou as sobrancelhas, surpreso com a desculpa do mordomo. — Eu lhe disse que voltaria depois de passar algumas semanas com meu irmão e suserano. O homenzinho encolheu os ombros. — Sim, mas… — Mas o quê? — perguntou Geoffrey, tão curioso quanto irritado. Por acaso aquelas pessoas achavam que ele havia mentido, que abandonaria as responsabilidades que tinha com elas pelos confortos de Wessex? Ou… Geoffrey se encolheu quando teve a insidiosa suspeita. Por acaso haviam pensado que ele morreria quando estivesse fora? Caso pensassem isso, achavam que ele seria morto por quem? Involuntariamente os olhos dele se voltaram para Elene, que observava Serle com indisfarçado desdém. Geoffrey reconhecia aquela expressão, que já tinha visto muitas vezes, mas não recentemente. Então perguntou-se se o fato tinha alguma significação. Embora não concordasse com a opinião dos irmãos sobre Elene, não devia desprezar inteiramente as advertências de Dunstan. Geoffrey amaldiçoou o dilema em que se encontrava. Se havia mesmo um inimigo no castelo, ele precisaria de toda a habilidade que tinha para lidar com o fato, mas não poderia se concentrar nisso se ficasse o tempo todo questionando os motivos da esposa. Elene era um quebra-cabeça insolúvel e seria mais fácil pegar a lua com a mão do que entendê-la. — Perdão, meu lorde, mas… aqueles cavaleiros… — gaguejou o mordomo. — São seus homens? Durante vários segundos Geoffrey ficou olhando para o homenzinho antes de responder. — Francamente, Serle, se você fazia perguntas desse tipo ao seu amo anterior, acho surpreendente ainda estar com a cabeça presa ao pescoço. Logo depois ele ouviu um som abafado que parecia um riso feminino. Vindo de Elene? Outra vez ela o espantava. — Só perguntei para poder cumprir com correção minhas obrigações — justificou-se Serle. — Precisava saber se os dois cavaleiros ficarão lá embaixo, com os outros, ou se haveria necessidade de preparar um novo alojamento para eles. O mordomo inclinou a cabeça, como se ainda se desculpasse, e Geoffrey se viu olhando para a brilhante calva. — Eles ficarão no porão, como é o costume aqui — disse, logo depois apresentando os cavaleiros, que se adiantaram quando foi dito o nome de cada um deles. — Vieram para ajudar na proteção do castelo, já que nossas defesas foram prejudicadas com a partida de Montgomery — acrescentou Geoffrey, erguendo a voz para que todos ouvissem. Depois ele fez um breve discurso afirmando que tinha muita satisfação em voltar e garantindo que redobraria os esforços para promover o progresso do lugar. A eloqüente fala foi recebida por olhares vazios e expressões cautelosas, para dizer o mínimo, mas Geoffrey não se abalou. Precisava ganhar a confiança daquela gente, que, para satisfazer as ambições de um amo brutal, havia sustentado uma longa guerra contra o feudo vizinho. Então uma voz se fez ouvir. — Recomendo que dêem ouvidos a um homem que tem todas as condições para minorar o peso do fardo que está sobre o ombro de vocês. Por um momento Geoffrey perguntou-se quem poderia estar dando aquela sugestão, mas só precisou seguir o olhar de Serle para ver que era a esposa dele quem havia falado. A esposa dele? — E se existe alguém com a intenção de atuar contra o meu marido, saiba que não ganhará nada com isso. Para ser mais clara, afirmo que essa pessoa se arrependerá da hora em que nasceu — declarou Elene, com sua costumeira veemência. Geoffrey sentiu os pêlos da nuca se eriçarem enquanto ficava olhando estupidamente para Elene. A estranha sensação estava de volta, fosse pela maldosa atuação de alguém ou pela espantosa ameaça da esposa dele. Ela parecia tão pequena quanto ameaçadora enquanto lançava o desafio em defesa dele. Geoffrey não sabia se devia ficar grato pela ajuda ou ofendido pela implícita afirmação de que não estava se protegendo como devia. A gratidão superou o outro sentimento e Geoffrey acenou para ela, mas Elene apenas desviou o rosto, parecendo incapaz de sustentar o olhar dele. Então ele suspirou. Quem podia saber o que se passava por trás daquele véu de cabelos? Estaria ela o exaltando publicamente por algum motivo ou simplesmente ampliava um pouco a tarefa de defender a retaguarda dele? Geoffrey sorriu ao pensar naquilo. Subitamente o retorno dele deixou de parecer uma coisa tão fria. — Meu lorde. Parando de pensar nas surpreendentes mudanças da esposa, Geoffrey voltou-se rapidamente quando ouviu a voz de um dos cavaleiros de Dunstan. O homem, que se chamava Talebot, trazia uma grande jarra de cerâmica, das que se usavam para guardar mantimentos, e estava com uma expressão que deixou Geoffrey intrigado. Enquanto Talebot se aproximava, o outro cavaleiro foi se posicionando por trás de Serle, que olhava fixamente para a jarra. Os olhos do mordomo, normalmente pequenos, pareciam dois pires, o que fez Geoffrey saber, sem a menor dúvida, qual era a identidade do ladrão.

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Serle dormia num pequeno cômodo ao lado da despensa, destinado à preparação de poções medicinais. Como ninguém mais no castelo tinha essa habilidade, menos ainda a castelã, ele havia ocupado o espaço e o mantinha fechado o tempo todo, presumivelmente por causa dos desconhecidos preparados que eram guardados ali. Mas Geofttey havia obtido chaves de todos os cômodos do castelo, instruindo os homens de Dunstan para que revistassem as coisas de Serle tão logo chegassem ao castelo. Agora só podia concluir que havia sido encontrada a prova da má conduta do homem. — O que é, Talebot? — perguntou. — Moedas, cuidadosamente escondidas por baixo de cera de abelha — respondeu calmamente o cavaleiro. — E jóias, misturadas com nozes secas. Erguendo a mão, ele mostrou um rubi de bom tamanho. Geoffrey balançou a cabeça, sentindo abatimento. — Agora entendo por que você esperava que eu não voltasse — disse, olhando para o mordomo. — Pretendia continuar me roubando, como fazia com Fitzhugh? Por alguns instantes Serle ficou tremendo, parecendo que ia chorar como uma donzela assustada. Depois voltou-se e ergueu a cabeça. — Foi ela! — gritou, apontando para Elene. Um murmúrio se espalhou pelo salão, seguido por um silêncio tão pesado que Geoffrey pôde ouvir a respiração descompassada do mordomo. Embora tivesse visto apenas de relance a expressão de espanto da esposa, logo substituída pelo costumeiro olhar duro, aquilo foi suficiente para mostrar a ele que ela não tinha conhecimento do roubo. E era evidente que o pai dela, um homem cego pela cobiça e pela vaidade, também não havia percebido que vinha sendo roubado pelo homem de confiança, ano após ano. Obviamente, Serle pensava que o novo lorde seria facilmente tapeado. — Ela me obrigou a fazer isso, ordenando-me que escondesse o dinheiro no meu quarto se eu quisesse continuar vivo. Essa mulher me ameaçou, meu lorde — gritou o homenzinho, caindo de joelhos diante de Geoffrey. — Já deve saber como ela é. Trata-se de uma criatura demoníaca, exatamente como Edred vive dizendo! Eu temia pela minha vida, ou não teria dado ouvidos a ela. Salve-me, proteja-me dela, e juro que serei sempre seu servo fiel. Olhando para o repulsivo homenzinho, Geoffrey sentiu como se todas as desfeitas que a esposa dele havia suportado em Wessex e todas as duras acusações de Dunstan houvessem se concentrado na figura nojenta do mordomo. E ele não sabia por que não quebrava aquela cabeça calva com um soco. — Como ousa dizer isso? — inquiriu, sentindo-se dominar por uma onda de raiva, justa e violenta. Então sacou da espada, pensando até em fazer daquele homem um exemplo. O mordomo de olhos pequenos era a personificação de tudo o que ele mais abominava: traição, desonestidade e covardia. Depois de ter roubado de dois lordes, causando prejuízos a sua própria gente, o cretino agora tentava jogar a culpa sobre outra pessoa. Elene! A revolta fez com que Geoffrey erguesse a espada. No entanto, mesmo já com a arma pronta para decepar a cabeça do homem, um lampejo de razão o deteve. Matar Serle não mudaria o que as pessoas pensavam da esposa dele. Com um trêmulo suspiro Geoffrey abaixou a espada, mas não muito. A raiva, há tempos contida, era muito grande para ser deixada de lado ou aplacada pelo autocontrole de um estudioso. Talvez ele não pudesse mudar opiniões, mas podia impedir que outras fossem expostas tão livremente. Então girou o corpo, com a espada apontada, correndo os olhos pelos sombrios rostos que observavam a cena. — Alguém mais tem outro comentário a fazer sobre a minha esposa? — gritou, sem obter resposta. — Porque eu estarei pronto a ouvir agora ou nunca mais! Pronunciem-se! Você, Waltheof! — bradou, dirigindo-se a um servo que mostrava uma expressão afetada. — O que tem a dizer? — Nada, meu lorde — respondeu o homem, recuando apressadamente. — Nada. Ah, que patético… Geoffrey abaixou a espada e pôs-se a circular pelo salão, olhando de frente para cada um dos rostos. — Ótimo, porque já estou fato de ouvir comentários, calúnias e falsidades! Geoffrey sabia que estava falando a verdade, Embora talvez exagerasse na veemência, havia contido a raiva durante muito tempo. Na verdade, desde o dia em que fora sorteado para se casar com Elene, ainda em Campion, quando os irmãos dele deixaram claro o que pensavam da Fitzhugh. Mas não toleraria mais isso. — Elene é minha esposa e não quero ouvir nenhum comentário maldoso sobre ela — declarou Geoffrey. Ignorando as expressões de perplexidade da audiência, silenciosamente desafiou todos a contestá-lo, mas ninguém se pronunciou. Apaziguado, olhou novamente para o trêmulo Serle. — Quando a você… Não vejo serventia num homem em quem não se pode confiar, num homem que tenta jogar sobre uma mulher a culpa pelos próprios erros. Talebot, expulse-o daqui, cuidando para que ele leve apenas as roupas do corpo. Serle, considere-se banido das minhas terras e das do meu suserano. — Não, eu tenho os meus direitos! Tenho direitos pelos anos de serviços prestados. A Fitzhugh me deve! O homenzinho gritava a esperneava enquanto era arrastado para fora do salão, mas Geoffrey não deu ouvidos. Pondo a espada na bainha, voltou-se para Elene e sentiu um súbito desconforto depois de tê-la defendido com tanta veemência. Não tinha certeza do que poderia ver no rosto dela: choque, censura… talvez zombaria. Elene era imprevisível. Era até possível que ela se pusesse a gritar, negando tudo o que ele acabava de dizer com tanta ênfase.

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Como sempre, porém, ela o surpreendeu. Através do véu de cabelos, olhava fixamente para ele. E por um momento Geoffrey sentiu uma identificação com ela que não tinha nada a ver com o fato de que eles estavam casados. Era uma união profunda, de respeito mútuo, um vínculo que não poderia ser descrito. Vendo aquele resoluto e desprendido ar de confraternização nos olhos negros dela, Geoffrey não podia se arrepender da explosão que tinha tido pouco antes. Afinal de contas, ela era sua esposa. A expulsão de Serle foi um alívio e Geoffrey encheu-se de esperanças de recomeçar tudo, ajudado pelas jóias e pelas moedas que o mordomo vinha amealhando há muito tempo. Imediatamente providenciou o concerto de cercas e a limpeza das edículas, ordenando a semeadura de novos campos e encorajando os habitantes da aldeia a desenvolverem suas próprias produções. As sugestões dele foram recebidas com cautelosa aquiescência e, não raro, era preciso ter muita paciência. Não eram poucos os que insistiam em fazer as coisas como elas vinham sendo feitas há anos, simplesmente pela força do hábito. Ele sempre tinha sido um homem de idéias novas e agora aproveitava a oportunidade para pô-las em prática. Futuramente mandaria aumentar e fortificar o muro externo, pensando também em ampliar a área construída do castelo. O futuro já não parecia tão sombrio como antes e, sem a presença de Montgomery e Serle, Geoffrey esperava que os inimigos estivessem desbaratados. Estava otimista, a não ser por dois problemas menores. Infelizmente, os esforços dele para conquistar a simpatia dos habitantes do feudo não estava tendo muito sucesso. Era frustrante precisar sempre se empenhar naquilo e às vezes ouvir murmúrios ou ver olhares furtivos. Nessas ocasiões, perguntava-se o que estariam dizendo dele. Haveria alguém empenhado em voltar as pessoas contra ele? Embora grato pela presença dos dois cavaleiros de Dunstan, não queria usá-los como espiões, preferindo agir sozinho. Não havia outra forma de lidar com aquela atitude das pessoas além de demonstrar ele próprio que merecia a confiança delas. O tempo mostraria os resultados. Quanto ao outro problema… era algo que existia desde o começo, mas agora se tornava ainda mais perturbador… de uma outra forma. Por mais que trabalhasse ou se concentrasse em alguma coisa, Geoffrey sempre acabava pensando na esposa. Alguma coisa havia mudado entre eles desde o retorno de Wessex, como se uma incômoda aliança houvesse se estabelecido. Uma aliança muito estranha, sem dúvida. Mesmo assim, em meio a tantos rostos desconfiados, ele não podia deixar de ver em Elene uma aliada. Geoffrey suspirou, subitamente inquieto apesar do cansaço. Estava deitado diante da lareira vazia do quarto, segurando um livro aberto, mas sem ainda ter lido uma única palavra. Já era tarde e logo Elene se recolheria. Agora eles dormiam juntos, mas ela sempre era a primeira a se deitar, inteiramente vestida, e ele esperava até que ela cochilasse para ocupar o lugar que lhe cabia na cama. De outra forma, ficariam os dois acordados, atentos, e… Geoffrey fechou o livro, aborrecido com o rumo dos próprios pensamentos. Estivesse ele numa discussão com alguém ou envolvido em algum trabalho, por mais complicado que fosse, sempre acabava pensando em Elene. Quando ela estava por perto, os olhos dele a seguiam, como se não se cansassem de vê-la. Nos poucos dias desde a volta de Wessex, uma nova tensão havia surgido entre eles, embora não fosse expressa em gritos ou ameaças, mas sim despertando uma paixão profunda e primitiva. Ficava no ar, como algo que estivesse prestes a explodir e tomar vida. Geoffrey inclinou a cabeça para trás e soltou um suspiro cansado. Estava ficando obcecado pela esposa. Embora ela não estivesse diferente, ao menos pelo que se podia ver, ele a achava diferente. Sem querer fingir interesse pelo livro, virou a cabeça e olhou para onde ela estava, desajeitadamente remendando alguns chinelos de pano. Devia arranjar novos. Bem, no dia seguinte mesmo ele providenciaria isso. Depois a atenção de Geoffrey se fixou na comprida trança que caía por cima de um dos seios de Elene. Então perguntou-se como seria acompanhar com os dedos o caminho daquela trança, percorrendo o corpo dela como um rio. Aqueles cabelos estavam numa enorme confusão, mas mesmo assim ele queria… queria… Geoffrey respirou fundo e levantou-se, sem saber direito o que queria. Se os deixava crescer tanto, por que ela não cuidava um pouco dos cabelos? Afinal de contas, não era mais uma criancinha sem iniciativa. Se não queria pedir a ajuda de alguma serva, por que não se encarregava ela própria da tarefa? Muito intrigado, Geoffrey atravessou o quarto e parou na frente dela. — Você nunca escova esses cabelos? — despachou. Talvez algum artigo do tratado de aliança deles determinasse que ela não devia se espantar com as palavras dele nem levar a mão ao punhal. Em vez disso, Elene apenas olhou para ele. Depois ergueu a cabeça, mostrando o antes freqüente ar de rebeldia. — Não! Eu gosto dos meus cabelos como eles estão, de Burgh. Se você não gosta, azar o seu! — Bem, então deixe que eu os escove — propôs Geoffrey, sentindo o coração bater mais depressa. Elene olhou para ele, parecendo chocada, e por um longo momento aquelas palavras ficaram no ar, cheias de significados. À medida que o silêncio ia se tornando mais e mais pesado, Geoffrey sentiu uma estranha inquietação. Irritado consigo mesmo, desejou poder retirar o pedido, mas na verdade queria muito manusear os cabelos dela. Quando Elene finalmente falou, foi naquele tom de voz que ele tanto detestava. — Quer escovar meus cabelos? — inquiriu. — Ficou louco? Ficou louco, sim! Levantando-se da cama, onde estava sentada, começou a recuar para a porta, andando de costas, como se ele houvesse mesmo enlouquecido bem diante dos olhos dela.

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Talvez fosse verdade. Geoffrey não conseguia parar de olhar para a cachoeira de cabelos que caía em torno dela, até que Elene, depois de rogar uma praga, saiu correndo do quarto e bateu a porta. Cheio de frustração, Geoffrey também praguejou, embora baixinho. Elene representava tudo que ele desprezava! Ela não havia mudado. Nem mudaria. Depois de respirar fundo ele procurou se convencer de que seria perigoso perturbar a trégua que estava em vigor entre eles, chegando a ser insensatez tocar naquela imprevisível criatura. Mesmo assim, e apesar de toda a lógica, os dedos dele ainda ansiavam por tocar nos cabelos da esposa. E outras partes do corpo dele experimentavam as mais desencontradas sensações. Geoffrey voltou-se para a cama. Pelo menos agora poderia dormir. Despiu-se rapidamente, deixou a vela acesa e acomodou-se por baixo das cobertas, mas a cama parecia muito fria e vazia sem Elene. Por um longo tempo ele permaneceu acordado, tentando ouvir os passos dela enquanto se censurava. CAPÍTULO XIII Ao cair da noite, Elene silenciosamente Entrou no quarto que ocupava antes de se casar com Geoffrey. Havia se retirado cedo da mesa de jantar, depois de apenas beliscar a comida, já que era impossível comer por causa daquele nó no estômago. Desde a noite anterior sentia aquilo, que agora a levava ao velho baú colocado aos pés da cama. Abaixando-se, levantou a tampa e foi pondo de lado roupas que há muito tinham ficado pequenas para ela, até que tocou em alguma coisa lisa e plana. Com dedos trêmulos, retirou o objeto do esconderijo. Era um pequeno espelho de prata, uma das mais preciosas posses da mãe dela, que Elene havia guardado ali para protegê-lo das mãos cobiçosas do pai. Mas agora o pegava, pela primeira vez em muitos anos querendo ver a própria imagem. Aproximando-se da luz que ainda entrava pela janela, Elene ergueu o espelho e soltou um gemido de desgosto. Olhos tão ferozes quanto melancólicos olhavam para ela através de uma densa cortina de desarrumados cabelos, o que a fez encolher-se. Ah, ela detestava aqueles cabelos, a cor opaca, a forma como se emaranhavam. Haviam servido muito bem às intenções dela, mas agora… Silenciosamente Elene se perguntou se conseguiria deixar os antigos hábitos. Eram hábitos fIrmemente arraigados, quase uma parte dela. Então abaixou o espelho, num gesto enraivecido, detestando-o, detestando a imagem que vira nele, detestando o marido. Era tudo culpa de Geoffrey. Ele era a causa de cada um dos problemas dela, principalmente as dores e sensações estranhas que assaltavam o corpo e a alma dela. Ele a fizera olhar para si própria e, pior ainda, querer ver outra coisa. Por influência exclusivamente dele, ela agora queria… coisas… coisas misteriosas, indefiníveis. E ela o detestava por isso. Mal-humorada, Elene desejou que eles nunca tivessem deixado Wessex, porque tudo tinha começado durante a viagem de retorno ao feudo, quando o homem que ela chamava de santo se transformou num anjo vingador. Elene sentiu as faces quentes ao se lembrar de quando Geoffrey havia desafiado o salão inteiro para defendê-la. Então apoiou as mãos nos joelhos, como se precisasse se proteger da imagens de Geoffrey brandindo a pesada espada, tão ameaçador quanto belo. Ele era alto. Forte. Poderoso. E. inteligente. Geoffrey não só possuía a sabedoria conferida pelo estudo, como também era o homem mais inteligente que ela já havia conhecido… o que ficou provado quando ele rapidamente descobriu a traição de Serle. Há! A trapaça do mordomo não tinha sido nenhuma surpresa para Elene. Há anos que ela via aquilo nas atitudes subservientes dele. Embora fosse covarde demais para cometer um assassinato, Serle era perfeitamente capaz de qualquer outra maldade. Mesmo assim, ela não o censurava tanto pelo roubo de dinheiro e jóias, porque gostava da ironia que era o ambicioso pai dela ter sido ludibriado por um ladrão desprezível. Na verdade, durante todos aqueles anos ela havia ficado ressentida com a posição do mordomo no feudo. Se ao menos o pai a tivesse deixado servir como castelã, talvez ela pudesse ter prevenido o roubo, mas Fitzhugh não confiaria numa mulher para dirigir o castelo. Elene fez uma careta ao ter aqueles pensamentos, já que as acusações de Serle contra ela tinham sido outra coisa repulsiva. Se não fosse Geoffrey… Automaticamente ela pôs a mão no cabo do punhal, mas não encontrou nenhum conforto naquilo. Embora ainda andasse armada, já não pensava tanto em recorrer ao punhal, sabendo que havia outras formas de salvar a vida. Geoffrey havia mostrado isso. Resmungando sozinha, Elene tentou tirar da cabeça aquelas idéias, mas não podia negar que, se continuava viva e andando livremente, não era graças às armas, mas sim a coisas intangíveis que sempre havia menosprezado. Fé. Respeito. Confiança. Coisas impossíveis e inacreditáveis a que o marido dela dava valor e em que só idiotas como ele e Marion acreditavam. Sentindo um súbito desconforto, Elene sentou-se nos calcanhares, sabendo que dificilmente um outro homem teria assumido a defesa dela tão prontamente. Ninguém faria isso. Há! Qualquer outro homem acreditaria em Serle e a condenaria de pronto, só para finalmente se ver livre dela. Mas não Geoffrey. Elene engoliu em seco, lembrando-se da apaixonada defesa que o marido tinha feito dela. Agora o conhecia o suficiente para esperar isso, mas o hábito a havia preparado para uma explosão. Estranhamente, não tinha pegado o punhal nem partido para o ataque, simplesmente esperando pela sentença dele, como uma ré condenada. E, o que era ainda mais estranho, agora tinha a sensação de que uma condenação de Geoffrey seria mais dolorosa do que a própria morte. Embora um protesto ameaçasse chegar imediatamente aos lábios dela, Elene viu-se forçada a admitir que idéias esquisitas como aquela estavam se tornando cada vez mais freqüentes. E algumas ela até incentivava…

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Outra vez sentiu calor nas faces, agora se lembrando de como havia reagido no início ao comportamento dele. Não saberia dizer se as palavras dela haviam servido para ajudá-lo ou para contê-lo, mas tinha sido impossível permanecer calada. Sempre que o via reagir com naturalidade e prometer tanto para receber tão pouco, ela se sentia ultrajada. Vê-lo forte, destemido e belo, mas também bondoso e justo, tinha provocado coisas engraçadas no íntimo dela. E não tinha sido nada doloroso, mas sim um calor que a fizera entrar em ação. Sem se perguntar muito por que fazia aquilo, Elene havia tomado o partido do marido, ameaçando os que se voltavam contra ele. Não sabia quem se surpreenderia mais com o fato, se as outras pessoas ou ela própria, já que jamais havia levantado um dedo para proteger quem quer que fosse. Sempre havia lutado apenas para se proteger. Elene sentiu um aperto no peito quando se lembrou de uma época em que tinha alguém para proteger e sentiu vontade de gritar. Não havia comparação entre aquele tempo sombrio e agora, nenhuma ligação entre a mãe e a irmã recém-nascida, que ela havia tentado desesperadamente salvar, e o homem feito que sabia se defender sozinho. Mesmo assim, traiçoeiramente, o pensamento tomou conta da mente dela. O que estava fazendo quando protegia a retaguarda do marido e tomava o partido dele? Não era a mesma coisa que proteger os próprios interesses? Era mesmo? Elene sacudiu a cabeça, procurando se convencer de que fazia aquilo apenas porque Geoffrey era o melhor marido que ela podia conseguir. Se fosse novamente obrigada a se casar, provavelmente teria que repetir o que tinha feito com Avery. O rei não teria mais complacência e mandaria que a jogassem num calabouço. Mas com Geoffrey as coisas podiam se acertar. Havia agora uma espécie de trégua entre eles que andava razoavelmente bem, exigindo dela apenas um pouco de esforço. E isso bastava. Não existia mais nada entre eles além do fato de que moravam juntos. E da partilha a cama. E da oferta dele para escovar os cabelos dela… Elene estremeceu. Ficava alternadamente horrorizada e intrigada quando pensava no que ele tinha dito na noite anterior. Ninguém além da mãe jamais a havia ajudado nessas coisas e desde há muito tempo que ela se arranjava sozinha. Por que deixaria que ele a tocasse? E, o que era mais importante, por que ele queria fazer isso? Por menos que quisesse reconhecer, Elene achava que talvez soubesse a resposta. Tinha visto alguma coisa nos olhos do marido, aquele ar sombrio e sonhador que Geoffrey mostrava quando a beijava. Aquilo dizia alguma coisa a ela, como se ele estivesse passeando em algum lugar exótico e misterioso e quisesse levá-lá para lá. Bobagem! Idiotice! Como ela podia soltar a imaginação para pensar besteiras? Elene sentiu dor na mão e percebeu que estava apertando com muita força o cabo do punhal. Vagarosamente foi abrindo a mão e flexionou os dedos. Foi como se aqueles dedos não fizessem parte do corpo dela, mas a verdade era que nada mais parecia em seu lugar desde o retorno deles. Ela estava mudando. Algumas das mudanças eram intencionais, mas outras não. Isso a deixava vulnerável e confusa. Como na noite anterior. Elene juntou as sobrancelhas. Em vez de ter cravado o punhal no peito do marido, ela havia fugido dele como uma criança assustada. Era bem verdade que havia decidido ser mais bondosa com o homem e manter o punhal na bainha, mas a fuga devia ter outra explicação além dessa. E não saber esse outro motivo era algo que a atormentava desde então. O fato era que ela havia fugido de Geoffrey em vez de fitar aqueles olhos castanhos que a convidavam a acompanhá-lo até um lugar mágico. Mas ela não era uma covarde e havia aprendido há muito tempo que valia mais enfrentar o perigo do que ficar esperando. Por isso, havia finalmente retornado ao quarto, para a cama onde nunca tinha pensado em dormir, para o lado do homem de ombros largos cujo perfil era iluminado pela chama da vela. Os negros e crescidos cabelos dele se espalhavam pelo travesseiro, o que a fazia sentir uma estranha fraqueza. Obrigando-se a olhar para o marido com destemor, Elene havia tirado os chinelos, apagado a vela e se deitado ao lado dele. O perigo que Geoffrey havia representado não existia mais, ou pelo menos era nisso que ela acreditava, mas a verdade foi que ele se virou na cama, ficando de frente para ela. — Elene? — murmurou, numa voz tão rouca que a fez estremecer. Depois passou o braço por cima dela e puxou-a para perto. Apesar da túnica, Elene sentiu a pele queimando por causa do contato com o corpo dele. Logo depois sentiu em cima das pernas o peso de uma das dele e ficou esperando, sem saber o que fazer. Até que a mão dele começou a acariciar a barriga dela. Elene conteve a respiração. Nunca havia permitido que um homem a tocasse ali, no estômago, mas ele tinha estado dormindo e não causaria nenhum mal. Finalmente, na calma da noite, ela relaxou e fechou os olhos, aninhando-se no peito do marido e deixando-se abraçar por ele. Todas as ameaças foram esquecidas e ela deixou que Geoffrey a envolvesse como um cobertor. Seguro. Quente. Mais confortador do que seria possível imaginar. Elene franziu a testa ao pensar naquilo. A simples lembrança a deixava com as pernas fracas e ela sacudiu a cabeça, procurando superar aquela sensação. Sabia que o perigo representado pelo marido continuava existindo. Assim como continuavam a existir os escrúpulos dela. Bem, o terror da proximidade estava sendo superado, mas ela havia fugido ao ouvir a oferta dele, o que agora achava uma covardia. Talvez devesse enfrentar o desafio. Já havia fugido demais de Geoffrey. Contra a vontade, Elene olhou novamente para o espelho e para a feia imagem que via nele. Hesitante, ergueu a mão e passou os dedos nos cabelos. Despenteados e há muito sem lavagem, eles estavam horrorosos. Soltando um gemido ela pensou no que deveria fazer para mudar aquela situação. Logo depois levantou-se. Não adiantaria nada ficar trancada no antigo quarto. Era hora de enfrentar os demônios. Sentado diante da lareira do quarto, Geoffrey olhou para o livro que havia recebido de presente de Marion. Normalmente absorveria aquelas páginas em cada detalhe, mas naquela noite não estava conseguindo entender as frases. Devia ter ficado no

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salão em vez ter de subir tão cedo para o quarto, mas não queria se encontrar com a esposa. Na verdade estava preocupado com ela. Elene havia parecido muito tensa durante o jantar, com o semblante fechado e mantendo-se afastada dele. Naturalmente Geoffrey reconhecia que havia passado dos limites na noite anterior e desde então vinha esperando uma punhalada nas costas. Simplesmente havia violado a trégua ao pedir para escovar a cabeleira dela. Geoffrey passou a mão pelos cabelos e resmungou uma praga. Já devia saber que Elene detestava ser tocada e repelia qualquer sugestão de intimidades. E que ele devia aceitar isso, pelo bem do casamento. Mesmo assim… Ao ouvir um som vindo da porta, Geoffrey ergueu a cabeça e suspirou de alívio. Lá estava ela. Por alguns instantes ele pensou que talvez fosse melhor ficar de olho nela para prevenir um ataque, mas sabia que não era esse o motivo. Gostava de olhar para ela, com os cabelos desgrenhados, com o semblante fechado e tudo. Alguma coisa naquela mulher mexia com ele mais do que qualquer outra, por mais bela e refinada que fosse. Isso o fez pensar na perversidade do coração humano. Coração? Geoffrey mexeu-se, sentindo desconforto. Raciocínio. Ele era um homem de raciocínio. Então sacudiu a cabeça, tentando clarear a mente. Ultimamente não vinha se concentrando como devia. Talvez fosse um problema de visão. Talvez ele precisasse de lentes para ver melhor. Isso explicaria por que via a esposa de uma forma tão melhorada, pensou, com um sorriso amargo. Geoffrey espantou-se ao ver que ela estava usando os chinels novos. Elene tinha recebido o presente sem nenhum comentário, aparentemente com a desconfiança de sempre, mas ele se alegrava ao vê-la com os chinelos. Perguntando-se como seria o formato dos tornozelos que havia logo acima daqueles chinelos, infelizmente escondidos pela barra da túnica, ele vagarosamente foi subindo com os olhos pelo corpo da esposa, até ver que ela estava com a mão estendida para ele. O que seria agora? Estaria ela brandindo contra ele uma faca de comida, oferecendo uma bebida envenenada ou simplesmente pretendia cortar a garganta dele? Suspirando, Geoffrey sentou-se e olhou com mais atenção, apenas para abrir a boca de espanto. Não era nenhuma arma o que ela estava segurnado, mas sim uma escova. Uma escova de cabelo. Por um longo momento Geoffrey ficou sem ação, achando que a eloqüência o havia abandonado. Ergueu as sobrancelhas, numa muda pergunta, quando ela estendeu o braço, enfatizando a oferta. Mesmo assim, Elene continuava em silência, sem revelar muito no rosto meio escondido pelos cabelos. Simplesmente continuou parada diante dele, oferecendo a escova, o que sem dúvida significava também a permissão para usá-la. Geoffrey levantou-se vagarosamente, tomando cuidado para não fazer nenhum movimento precipitado. Era como se uma corça da floresta tivesse vindo comer na mão dele, o que o deixava tão excitado quanto obrigado a se controlar. Não queria que a esposa saísse correndo com a criatura selvagem que era. Queria domá-la. O pensamento fez com que o coração dele batesse ainda mais depressa, mas Geoffrey obrigou-se a respirar com naturalidade enquanto pegava a escova. Elene estava permitindo que ele cuidasse dos maltratados cabelos dela. Era apenas isso, procurou se convencer, embora a simples idéia de tocar naqueles cabelos quase o deixasse sem fôlego. Procurando esconder a ansiedade ele fez um gesto para a grossa pele estendida no chão e, depois de um momento de hesitação, Elene se sentou ali. Geoffrey foi pegar um banquinho e o pôs no chão às costas dela. Engoliu em seco e, por alguns instantes, ficou olhando para a esposa, que mantinha a cabeça abaixada. Elene estava dando uma enorme prova de confiança ao ficar de costas para ele e Geoffrey jurou que ela não se arrependeria. Sentando-se no banquinho, esqueceu-se do juramento tão rapidamente quanto o tinha feito, ao ver que finalmente realizaria o que havia se tornado uma obsessão. Em desarranjo, os cabelos dela caíam diante dele e o que Geoffrey pensava não tinha nada a ver com o ato de penteá-los. O que ele queria era esconder o rosto naquela massa escura de diferentes tonalidades, enfiar os dedos ali e afastar as mechas para beijar Elene no pescoço, nos ombros… Geoffrey respirou fundo, procurando se conter. Fixando a atenção na massa de cabelos da esposa, ergueu a escova e procurou usá-la sem tocar em Elene. Era impossível. Os fios estavam terrivelmente emaranhados e logo na primeira escovada ele encontrou um nó difícil de desembaraçar. Procurou desfazer aquele nó com os dedos, com muito cuidado, mas era um trabalho demorado. Procurando trabalhar o mais longe possível da cabeça dela, às vezes dava puxões no couro cabeludo. — Talvez seja melhor eu cortar esses nós — disse. Elene moveu-se bruscamente para a frente. — Não! Se usar a tesoura você se arrependerá! — ameaçou, levantando-se. Geoffrey caminhou até a porta e pediu a uma serva que fosse buscar água e uma pequena bacia. Surpreendentemente, Elene não disse nada em contrário. Mesmo assim ele não quis perder tempo para que ela não mudasse de idéia. Voltou ao banquinho e pôs-se a trabalhar no mesmo nó, primeiro com os dedos e depois com a escova, soltando os fios da melhor maneira possível. Finalmente conseguiu fazer com que a escova percorresse livremente aquela região dos cabelos dela e suspirou, contendo a respiração quando a ponta da mecha caiu no colo dele. Imediatamente o sexo ficou ereto e ele olhou para a mecha de vistosa cor que tinha sobre as coxas como algo que houvesse secretamente desejado. Teria ficado eternamente ali, naquele estado de contemplação, se a porta não se abrisse. Geoffrey olhou para a serva e mexeu-se no banquinho, um tanto sem jeito, pedindo que a bacia fosse colocada ao lado dele. Depois que a moça saiu, posicionou a vasilha de madeira sobre o banquinho e pôs lá dentro os cabelos de Elene. Embora a interrupção houvesse servido para que ele recobrasse o controle, sentiu as mãos trêmulas quando começou a enfiar os dedos na massa espessa, molhada e macia. — Incline a cabeça para trás — ordenou Geoffrey.

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Elene obedeceu sem protestar, agora parecendo em estado de sonolência. Estava até com os olhos fechados quando ergueu a cabeça e expôs o rosto de pele muito branca. Procurando se concentrar no que fazia, Geoffrey começou a esfregar nos cabelos dela o sabão aromático presenteado a eles por Marion. Por mais que procurasse afastar a mente do que faziam as mãos, isso era impossível. Os fios que manuseava eram macios e pareciam cheios de vida. Senti-los nas juntas dos dedos era algo incrivelmente erótico. Inspirando a doce fragrância floral que subia do sabão, misturada com o pungente cheiro de Elene, Geoffrey sentiu-se tonto. Percebeu então que nunca tinha tido tanta intimidade com uma mulher, nem mesmo com aquelas com quem havia se deitado. Nunca pensaria nisso, mas o simples ato de lavar os cabelos da esposa era mais erótico e excitante do que qualquer coisa que já tivesse feito com alguma outra. Talvez ela tivesse razão e ele estivesse enlouquecendo. Depois de pegar um pano, Geoffrey tirou os cabelos molhados de Elene da bacia e começou a enxugá-los. Entendia por que ela não queria cuidar da cabeleira: obviamente, levaria muito tempo para secá-la. Devia ter começado aquele trabalho pela manhã, e não à noite, pensou Geoffrey, sentindo o coração bater muito depressa quando várias imagens surgiram na mente dele. Elene indo para a cama, os cabelos lisos e úmidos tocando no corpo nu dele, nas mãos, na boca… Soltando um gemido, Geoffrey espremeu o pano na bacia e pegou um outro, seco, que usou para passar nos cabelos de Elene até que eles parassem de pingar. Acabou molhando as próprias roupas e, embora estivesse fazendo calor, ficou trêmulo. Não estava com frio, mas sim com muito calor, e sentiu uma súbita vontade de tirar a túnica. Irritado por não saber se controlar, jogou no chão o pano. Havia querido aquilo e agora devia sofrer as conseqüências sem reclamar. A ironia era que aquele tormento era mais horrendo do que qualquer coisa que Elene pudesse ter pensado em fazer contra ele. E ela não sabia disso. Geoffrey abaixou os olhos para a esposa e respirou fundo. Ela ainda estava com os olhos fechados, o rosto alvo mais relaxado do que nunca, mais até do que durante o sono. E não mais demonstrava preocupação em esconder dele as feições. Geoffrey não dava importância ao que as outras pessoas vissem em Elene ou deixassem de ver. Ela era linda. E confiava nele. Torturado pelo sentimento de culpa, Geoffrey sufocou sem piedade os desejos mais básicos. Não era uma criatura que agisse por impulso. Se a mente não pudesse controlar o corpo, então ele não era melhor do que um animal, havia se instruído para nada. Trincando os dentes, Geoffrey voltou a se sentar e soltou um gemido de dor quando o sexo protestou. Ignorando aquilo, pegou novamente a escova e concentrou-se em desembaraçar os cabelos da esposa. Continuou a trabalhar em silêncio, incapaz de falar coerentemente, enquanto a noite ia passando, até que finalmente pôde passar a escova do alto da cabeça de Elene até as pontas da cabeleira, sem interromper nenhuma escovada. Então levantou-se. Queria jogar a escova a um canto do quarto e enfiar as mãos naqueles cabelos, mas deixou os braços caídos ao longo do corpo e recuou. Com certo espanto, ficou admirando o trabalho que acabava de fazer. Pela primeira vez desde que se lembrava, via os cabelos de Elene inteiramente lisos, caindo em toda a sua extensão. E era uma visão tão bela que nem os irmãos deles poderiam negar isso. A luz da vela iluminava as longas madeixas, uma vibrante mistura de canela e pimenta que causaria inveja a qualquer mulher, observou Geoffrey enquanto ajudava Elene a se erguer. Quando se levantou ela abriu os olhos com uma expressão de surpresa, como se despertasse de um sonho, antes que os mesmos olhos se apertassem com a cautela de sempre. Geoffrey suspirou e afastou os olhos do que não queria ver. Podia se orgulhar do que tinha feito, mas seria só isso. Querer alguma coisa a mais certamente resultaria em desastre. CAPÍTULO XIV Geoffrey caminhou para a mesa com um pequeno pacote embaixo do braço. Ainda não tinha visto Elene naquele dia e estava ansioso para jantar com ela. Pôs o embrulho embaixo da cadeira e sentiu-se corar, embaraçado com o presente que daria a ela. Alguma coisa tinha mudado entre eles na noite anterior. Elene havia confiado nele o suficiente para deixá-lo se aproximar dela, o que era um grande avanço. Por isso ele queria comemorar o novo acordo que parecia ter se estabelecido. Durante as horas de trabalho daquele dia, Geoffrey havia pensado em flores, bijuterias e doces, concluindo que nada disso seria apropriado para presentar à esposa. Elene era… diferente. Ele precisava encontrar alguma coisa que tanto a agradasse quanto marcasse a seriedade do momento. Quase havia desistido quando, pouco antes do chamado para o jantar, teve a idéia. Na hora achou que havia encontrado a coisa certa para expressar o que estava sentindo. Agora, porém, estava inquieto no assento, como um garoto inseguro. Procurou se convencer de que não havia motivo para ficar inquieto, mas era impossível prever a reação de Elene. Ela podia gostar muito do presente ou simplesmente jogá-lo na cara dele, com um sorriso de escárnio. Geoffrey pigarreou e pegou a caneca de cerveja, que imediatamente pôs de volta em cima da mesa quando viu a esposa entrando no salão. Como ela estava diferente! Não era só por causa dos cabelos, que caíam às costas dela e por cima dos ombros, deixando o rosto inteiramente à mostra. Elene movia-se graciosamente, sem aquela eterna curvatura de quem estivesse prestes a dar o bote. Agora ela atravessava o salão com a cabeça erguida, mais serena do que Geoffrey jamais a vira. E ele não foi o único a reparar na mudança que havia se operado, porque o silêncio caiu sobre o ambiente enquanto as pessoas observavam a recémchegada, alguns disfarçadamente, outros sem esconder o espanto. Observando os movimentos da esposa, Geoffrey sentiu uma

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onda de puro desejo. Tomou um demorado gole da cerveja e por alguns instantes ficou segurando a caneca, como se erguesse um brinde a ela. Amizade. Era isso o que queria existisse entre eles e o presente formalizaria um relacionamento assim. A comida que vinha sendo servida no castelo era simples mas bem mais saborosa que a de antes, com o tempero se aprimorando a cada dia. Os servos da cozinha estavam acatando a orientação de Geoffrey. Aos poucos as coisas se ajeitariam, mas o principal era o relacionamento dele com Elene. E o que estava para acontecer podia ser muito importante para que eles se entendessem. Geoffrey estava otimista. Apenas a sensação de que alguém o observava atentamente atrapalhava a satisfação daquele momento. Rapidamente ele olhou em volta, mas não viu sinal de Montgomery ou Serle. Também não surpreendeu ninguém a observá-lo. Dando de ombros, procurou esquecer aquela sensação e escolheu algumas das primeiras cerejas da estação. As frutas pareciam tão suculentas que davam água na boca. Debruçando-se por cima da mesa, Geoffrey ofereceu uma delas a Elene. Surpreendentemente ela recuou, olhando para a fruta oferecida e depois para ele, com uma expressão de espanto. — Você… não quer? — ele perguntou. Olhando outra vez para a cereja ela balançou a cabeça vagarosamente. — Não. Eu… eu não sei — gaguejou, logo depois estendendo a mão e tirando rapidamente a fruta dos dedos dele, como se tivesse medo de se queimar. Como de costume, Geoffrey não soube que conclusões tirar daquele comportamento. Depois de pôr a cereja na boca, Elene fez cara feia e olhou para ele. — Não acha que estão um pouco amargas? — perguntou. Ficando claro que ela não havia gostado da cereja, Geoffrey conteve o riso e comeu as frutas restantes. — Não — respondeu, ainda mastigando. — Estão exatamente como eu gosto —acrescentou, com um sorriso. Ela o olhava de uma forma estranha e ele ficou sem saber o que pensar. — Na nossa infância, Stephen e eu éramos sempre os primeiros a colher cerejas. Invariavelmente ele acabava tendo uma dor de barriga, enquanto meus outros irmãos só comiam as frutas maduras. Mas eu… — Geoffrey fez uma pausa e dirigiu à esposa um sorriso cauteloso. — Eu sempre preferi as mais amargas. Ela estava mesmo enrubescendo? Geoffrey também sentiu as faces quentes ao ver um outro significado para as palavras que acabava de dizer, mas sustentou o olhar dela. Elene foi a primeira a desviar os olhos e, murmurando uma desculpa, começou a se levantar. — Não, espere — disse Geoffrey, segurando no pulso dela. — Tenho uma coisa para você. Muito desajeitado, ele se abaixou e pegou o presente. A princípio Elene hesitou, mas foi se sentando vagarosamente depois que ele pôs nas mãos dela o volume cuidadosamente embrulhado. Ficou em silêncio, olhando, e Geoffrey não soube avaliar o que ela estaria sentindo. Uma mecha dos longos cabelos moveu-se para a frente e ele pensou em posicioná-la por trás da orelha de Elene, mas não fez isso. Ficou esperando, muito ansioso. O presente era um livro de salmos, certamente apropriado para uma mulher, com bonitas iluminuras que qualquer um apreciaria. Finalmente Elene passou o dedo na capa de couro, como se estivesse curiosa, e Geoffrey soltou a respiração. Também tinha ficado muito admirado ao ver pela primeira vez aquele livro e agora era muito bom sentir que tinha isso em comum com a esposa. — Abra — disse, quase impaciente. A reação de Elene foi vagarosa, mas quando ela ergueu a mão para traçar com o dedo o contorno de uma das coloridas ilustrações Geoffrey sorriu como um idiota. Mas ela continuava sem dizer nada e ele se perguntou se a ruidosa Elene havia ficado muda. Depois ela ergueu a cabeça e olhou para ele, agora com algumas mechas, de cabelo sobre as faces. — É bonito — disse, pela primeira vez falando tão baixo que só ele podia ouvir. Encorajado, Geoffrey estendeu a mão e virou a página de rosto do livro. — Leia a inscrição — disse, já sem sentir nenhum embaraço por causa das palavras que havia escrito ali. Na pressa de ser o primeiro a chegar à mesa, tinha escrito quase sem pensar, achando que mais tarde se arrependeria. Agora não tinha mais esse temor. — Eu não posso — murmurou Elene. — Pode, sim — insistiu Geoffrey, estranhamente tocado pela relutância dela. — Leia, Elene. Por acaso ela suspeitava do quanto significava aquele presente? Imaginava o quanto a noite anterior o havia afetado? Geoffrey fez uma careta. Como ela poderia saber a profundidade de sentimentos sobre os quais ele próprio estava confuso? — Não, não posso — repetiu Elene, agora falando mais alto. Abaixando a cabeça, o que pôs para a frente mais mechas dos finos cabelos, ela se levantou. Outra vez ele a reteve pelo delgado pulso. — Então mais tarde? — perguntou, vagamente envergonhado por pedir à esposa o que parecia um favor. Elene balançou a cabeça e recuou. Como ele não a soltasse, voltou a falar, em voz firme mas baixa o suficiente para que só ele ouvisse. — Eu não sei ler. Geoffrey ficou olhando para ela, sem querer acreditar no que acabava de ouvir, mas o rosto que o fitava demonstrava firmeza. Espantado demais para falar, ele soltou o pulso dela e abaixou a mão. Ficou apenas olhando enquanto ela girava o corpo e começava a se afastar, sem se voltar. Elene não sabia ler.

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Geoffrey soltou um angustiado suspiro. Na verdade, não era de admirar. Poucas pessoas sabiam ler, por tratar-se de uma habilidade para a qual não havia muito uso. Os próprios irmãos dele provavelmente não teriam aprendido a ler se não fossem o exemplo e a insistência do conde. De todos os de Burgh, Geoffrey tinha sido o único a estudar apenas por sentir prazer nisso. Mesmo alguns nobres e proprietários de terras não viam importância na erudição e evidentemente Fitzhugh tinha feito parte desse grupo. De que outra forma Serle teria enganado o amo com tanta facilidade? Amargurado, Geoffrey perguntou-se se era por isso que Elene nunca havia assumido o papel de castelã. Era possível que, além de não saber ler, ela também não soubesse fazer contas. Saber do fato o deixou com o estômago embrulhado, como se houvesse ingerido comida estragada. Não havia nenhuma vergonha naquela deficiência dela, claro, mas nunca havia passado pela cabeça dele a possibilidade de que a esposa não fosse capaz de fazer contas e ler frases simples. Geoffrey balançou a cabeça, constatando, com perplexidade, que Elene era muito diferente da mulher que ele havia sonhado ter por esposa. Ultimamente até havia se esquecido de como a união deles era estranha, mas agora aquilo caía sobre ele como um peso muito grande. Por mais que tentasse manipular ou esconder a verdade, isso de nada adiantaria. Elene era o oposto de tudo o que ele admirava e respeitava. Vagamente, Geoffrey se deu conta de que à volta dele a vida prosseguia. Ouvia conversas e via pessoas se levantando depois de terminarem a refeição. As palavras soavam claras mas não tinham nenhum significado para ele. Subitamente, era como se o castelo estivesse sem ventilação e ameaçasse sufocá-lo. Ele precisava de ar puro e tranqüilidade para pôr os pensamentos em ordem. Passando por Edred, que estava de pé no caminho da porta, olhando atentamente para ele, Geoffrey marchou para a saída. Numa hora em que precisava de paz, não estava com paciência para ouvir o padre falar em castigos eternos. Simplesmente ignorou o murmúrio que se espalhou pelo salão e escapou. Mas mesmo enquanto atravessava rapidamente o pátio, sabia que não estaria inteiramente livre… das responsabilidades, da vida ou da mulher com quem havia se casado. Elene passou a tarde afiando cuidadosamente os punhais e imaginando cada um deles cravado no peito de Geoffrey. Girando a pequena roda de afiar, como tinha feito tantas vezes no passado, tentou sentir sede de sangue, mas isso agora parecia difícil. Na verdade ela nem sentia a raiva que devia sentir. Embora a contragosto, o que estava sentindo era dor, não uma sensação vaga ou indistinta, mas uma dor real e pungente, como a que seria provocada pelo ferimento que algum daqueles punhais poderia fazer. E o pior era a possibilidade de outras pessoas terem percebido. Rogando uma praga ela se arrependeu de ter ido ao jantar. Era melhor sofrer sozinha a humilhação! Infelizmente havia resolvido fazer no salão todas as refeições, porque, quando tentava comer sozinha, Geoffrey sempre se juntava a ela. Embora não gostasse de comer na companhia de tanta gente, não se sentia à vontade trancada no quarto com o marido. O lugar parecia ficar sem o ar necessário para que os dois respirassem. Há! Idiota! Era nisso que dava se deixar impressionar por um bonito rosto masculino! Ou tentar ficar com a aparência que ele queria! Todas as sensações boas da noite anterior haviam desaparecido, destruídas pelas mãos de Geoffrey… as mesmas mãos que, com incrível ternura, haviam lavado e escovado os cabelos dela, tocando-os até que ela se sentisse numa espécie de sonho… Pondo de lado o mais longo dos punhais, Elene pegou um outro e encostou-o na pedra de amolar, num gesto enraivecido. Pela primeira vez desde a morte da mãe, deixava que outra pessoa a tocasse, e não só nos cabelos, mas também na alma. Era aquele o resultado. Ela tentou rir, mas só conseguiu soltar um riso amargo. Era uma idiota mesmo! Confiar só causava dor, como ela já devia saber. Se os outros desconfiassem daquela vulnerabilidade, como ela poderia se proteger? Um dos episódios do jantar voltou à lembrança de Elene e ela se sentou, fazendo uma pausa no trabalho. Oh, Deus. Sentado à mesa, Geoffrey tinha estado com uma aparência tão boa, tão jovialmente bonito que ela havia sentido vontade de tocá-lo para ver se ele era verdadeiro. Nunca o tinha visto tão despreocupado desde Wessex e quando ele havia oferecido a ela a cereja… Mesmo agora, Elene ainda enrubescia ao se lembrar do braço dele estendido, do sorriso relaxado, como se fosse a coisa mais natural do mundo oferecer a ela uma guloseima. Exatamente como o Lobo fazia com a esposa. No momento Elene havia ficado sensibilizada e enternecida, embora se esforçando para não demonstrar isso, mas percebeu o erro logo que ele entregou o livro. Depois, ao ver a expressão que apareceu no rosto dele quando soube por que ela não podia ler o oferecimento escrito, Elene havia sentido vontade de sair correndo. Já tinha visto aquela expressão em muitos rostos, mas não suportava vê-la no dele. Os de Burgh haviam demonstrado repulsa por ela desde o princípio, menos Geoffrey… até agora. O choque e o desprezo dele eram mais dolorosos do que o golpe de uma pesada espada e Elene estremecia por causa da lembrança. Embora houvesse se retirado calmamente, fingindo não se importar, na verdade estava muito ferida. Ele a havia atingido profundamente. Pela primeira vez desejou ter se casado com qualquer um dos outros irmãos… talvez com o frio e implacável Simon, ou com o aleijado que parecia sempre amargurado. Um casamento assim seria mais fácil de suportar, o ódio mútuo sendo preferível à situação atual, em que ela sentia a mente atormentada e o coração doído. Elene olhou pela janela. Estava começando a escurecer, uma indicação de que o jantar daquele dia logo seria servido. Ela deveria fazer a refeição no salão. Fechando o semblante, procurou se convencer de que a Fitzhugh desceria e gritaria com qualquer um que tentasse mostrar a ela um sorriso afetado. Bem, não seria tão fácil. Embora decidida a voltar a ser o que sempre tinha sido, era como se a antiga armadura já não servisse mais. Era isso o que Geoffrey tinha feito com ela.

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Ouvindo a porta se abrir, Elene aprumou o corpo e encostou novamente o punhal na pedra de amolar, embora a lâmina já estivesse perfeitamente afiada. Não olhou para cima mas sabia quem havia entrado. Podia sentira a presença do marido. O quarto vibrava por causa da fortaleza dele. E ela sentia também o cheiro que ele exalava, um cheiro que mesmo agora a deixava inebriada. Girando a roda de amolar com excessiva velocidade, ela ficou olhando fixamente para o punhal. Como ele ousava entrar ali? Certamente não pretendia jantar com ela! Embora soubesse que devia se levantar e ordenar que ele se retirasse, Elene não podia fazer isso. Enfraquecida e magoada, não conseguia nem olhar para o marido, com medo do que veria no rosto dele. Covarde! Espantada com a própria vulnerabilidade, Elene quase se encolheu, mas continuou trabalhando. Uma hora ele sairia da frente dela. Quando Geoffrey se abaixou ela concluiu que teria que enfrentar o olhar dele e abaixou a cabeça, deixando que os cabelos lhe cobrissem o rosto. Ele estava belo como sempre, o rosto de feições perfeitas enfeitado pelos abundantes cabelos negros. Os grandes olhos castanhos estavam tranqüilos, mas pareciam diferentes enquanto buscavam os dela. Seria remorso? Elene encolheu-se quando pensou na possibilidade. Por acaso ele pretendia escarnecer ainda mais dela? Ou simplesmente iria embora, agora que sabia que ela não servia para ser esposa dele? Mesmo mergulhada no sofrimento, Elene sentiu uma onda de pânico quando pensou que talvez nunca mais o visse, ficaria outra vez sozinha, mais sozinha do que nunca. — Desculpe — disse Geoffrey, fazendo com que ela arregalasse os olhos, sem saber se estava ouvindo direito. — Não é vergonha nenhuma não saber ler — acrescentou, olhando-a nos olhos. — Fiquei surpreso, mas foi só isso. Você sabe como eu sou a respeito de livros. Nesse ponto ele mostrou um sorriso amargo e Elene não soube o que fazer além de ficar olhando. Nunca na vida vira alguém assumir a culpa por alguma coisa, mas aquele homem forte e poderoso se ajoelhava diante dela, confessando-se arrependido. — Eu lhe trouxe o livro — ele prosseguiu, erguendo o volume. — É um presente meu para você e quero que o receba, não importa o uso que vá fazer dele. E quero também que saiba o que está no oferecimento. — Para espanto maior dela, foi com a voz meio embargada que ele leu as palavras escritas na página de rosto. — Para Elene, esposa por acaso, companheira por opção. Silenciosamente e com a cabeça abaixada, como se agora não tivesse coragem de olhar para ela, Geoffrey fechou o volume e Elene sentiu um estranho impulso que só a muito custo controlou. Queria sair de onde estava e passar os braços por cima dos ombros do marido, sentir o aperto dos braços dele. Alheio àqueles pensamentos esquisitos, Geoffrey pôs o livro no chão e pegou nas mãos dela. — Juro que nunca tive a intenção de humilhá-la, Elene. E, se você me perdoar, terei muito prazer em lhe ensinar eu mesmo a ler e escrever. Se você se interessar, claro. Não havia nenhum julgamento no semblante dele, mas apenas a sinceridade que era o próprio Geoffrey. Elene sentiu como se alguma coisa se quebrasse dentro dela. Ele estava disposto a ensinar-lhe… a ler. Seria um presente como nenhum outro, um ato mais generoso do que qualquer gentileza! Nenhum outro professor seria melhor ou mais compreensivo. — Geoffrey… — ela murmurou, logo depois cedendo ao impulso e abrindo os braços para ele. Geoffrey abraçou-a, um abraço cheio de calor, conforto e segurança, e Elene encostou a face no peito dele. — Não diga nada — ele pediu, embora ela não emitisse nenhum som. — Foi tudo culpa minha. Eu estava muito seguro de mim, todo cheio de razões. Absurdamente, Elene se viu sorrindo ao ouvir o que ele dizia, embora não pudesse concordar. Na opinião dela, Geoffrey havia assumido quase uma graça divina e ela perdoaria qualquer coisa nele. Por um longo tempo Elene se deixou abraçar, confortavelmente aninhada no peito do marido, até sentir uma mudança que exemplificava muito bem a mortalidade dele. O peito dele se movimentava com mais rapidez contra a face dela, o coração batia mais alto perto do ouvido dela e Elene sentiu um delicioso calor. Pousada nas costas dela, a mão dele passou a fazer movimentos que pareciam querer alguma coisa a mais do que oterecer conforto. Elene conteve a respiração. Ele a beijaria? Embora sentindo uma onda de calor ao pensar naquela possibilidade, ela estremeceu, percebendo que pela primeira vez na vida desejava que um homem, mais especificamente Geoffrey, encostasse os lábios nos dela. E não era só isso. Queria que ele a deitasse no chão e pedisse que ela o tocasse como naquela outra ocasião. Temerosa de mudar de idéia, Elene ergueu a cabeça, entreabriu os lábios e ficou esperando, mas Geoffrey apenas afastou algumas mechas de cabelo da testa dela, numa leve carícia. — E agora? Vai jantar comigo ou pretende jogar a comida na minha cara? — perguntou, com um sorriso cauteloso. Evidentemente ele queria provocá-la e ela quase sorriu. — Se quer saber, o que eu planejava era cravar meus punhais no seu peito — respondeu Elene, saindo do abraço dele. Esforçando-se para sufocar o desapontamento por não ter sido beijada, procurou fazer cara feia. Viu o sorriso bonito de Geoffrey mas não sorriu. O momento havia passado e ela devia até estar grata. Mas não estava. Durante todo o jantar, olhava furtivamente para o marido. Ficava com a respiração acelerada e estremecia quando era assaltada por imagens em que Geoffrey a abraçava. Devia reunir coragem para tomar alguma atitude, dar um passo adiante. À medida que a noite foi passando, Elene foi se achando afastada de si mesma, embora pela primeira vez na vida sentisse uma perfeita sintonia entre mente e corpo. A certa altura, quando Geoffrey se voltou para ela oferecendo um pedaço de carneiro cuidadosamente escolhido por ele, não pensou muito sobre o que devia fazer. Era hora de compensar Geoffrey de alguma forma.

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Geoffrey ficou acordado durante um bom tempo. Elene parecia ter adormecido imediatamente, mas ele não conseguia conciliar o sono, pensando no fato de que, por causa da própria arrogância, quase havia destruído o pouco que existia entre eles. Não era culpa dela não saber ler! Se o pai dele fosse um cretino como Fitzhugh e tivesse conselheiros como o seboso Sede… Geoffrey estremeceu ao pensar em como a vida de Elene devia ter sido ou como seria a dele em condições semelhantes. Só depois de refletir demoradamente sobre o que tinha feito ele havia se arrependido, tendo a idéia de se oferecer para ser o professor dela. E se sentira muito generoso e contrito na ocasião, mas, ao tentar conversar com ela, não havia conseguido esconder o sentimento de culpa. Obviamente Elene não era tão dura quanto queria parecer, porque logo ao entrar no quarto ele pôde perceber que a ferira profundamente. Elene, que todos diziam não ter sentimentos, estava sofrendo muito e, quando ele se ofereceu para instruí-la nas letras… Deus, por um momento Geoffrey pensou que ela ia chorar de alegria e gratidão. Gratidão a ele, que se sentia tão desprezível quanto um cachorro sem dono. Para ele, a idéia era nada mais que uma extravagância, mas para ela significava muito mais. Significava conhecimento, e ele, melhor do que qualquer pessoa, devia saber que o poder, a liberdade e a sabedoria nasciam do conhecimento. Durante todo o jantar, um brilho de esperança havia iluminado os olhos dela. Era certamente por causa da perspectiva de aprendizado e Geoffrey ficou envergonhado por não ter pensado antes na educação dela. Tinha estado muito ocupado sentindo orgulho de si próprio, por ter se casado com ela, pelos antepassados que tinha, pelos trabalhos que fazia… Não podia mesmo ter percebido as necessidades da esposa. Suspirando, Geoffrey repousou a cabeça no travesseiro e virou-se um pouco, mas ficou imóvel quando sentiu no peito o toque de macios dedos. Aparentemente Elene se mexia dormindo, porque ele não se lembrava de ter sido tocado intencionalmente por ela. Nunca. Com outro suspiro Geoffrey pôs a mão por cima da dela. Com a outra mão, puxou-a mais para perto e ficou alisando vagarosamente a pele macia do ombro dela enquanto pensava nos próprios pecados. Ele a compensaria de alguma forma. No dia seguinte não teria muitas ocupações e eles poderiam começar imediatamente as lições. Se fosse paciente, talvez pudesse se redimir pelo comportamento grosseiro e pela total falta de consideração pela mulher com quem havia se casado. Pele? Geoffrey levou um susto quando pensou naquilo. Ele devia estar sonhando, porque Elene sempre dormia inteiramente vestida, no entanto… Descendo vagarosamente com o polegar pelo braço dela, só encontrou a macia e sedosa pele. Depois, com mais pressa, ergueu a mão até o pescoço de Elene e descobriu que ela estava usando apenas a camisa de baixo. Devia ter tirado a túnica antes de se deitar. Mas, por quê? Estaria com calor? Embora a noite estivesse quente, apenas um lençol de linho os cobria. Deixando a cabeça afundar novamente no travesseiro, Geoffrey engoliu em seco. Como conseguiria dormir? Já era complicado ele estar nu. Agora, a única coisa que os separava era um fino tecido, tornado ainda mais fino pelo uso. Ao ter aquele pensamento ele sentiu todo o corpo tenso mas não fez nenhum movimento. Temia uma explosão, ou coisa pior, se Elene acordasse e se visse abraçada por ele. Com o corpo esticado, Geoffrey tentou pensar com clareza mas isso se tornou impossível quando o joelho de Elene inocentemente se posicionou por cima da coxa dele. Engolindo um gemido ele resolveu que arranjaria um jeito de sair dali, mas logo depois sentiu outra coisa, ainda mais espantosa: a mão dela tremia por baixo da dele. Imediatamente Geoffrey abriu os olhos mas não conseguiu ver nada além de sombras. O quarto estava na escuridão, apenas o brilho mortiço da lua entrando pela janela. Depois de esperar até que os olhos se acostumassem à penumbra, vagarosamente ele virou a cabeça para o lado de Elene. Apesar de todas as evidências em contrário, tinha certeza de que ela estava sonhando… Ou era ele quem sonhava. Então, curioso e excitado, ficou esperando para ver que outros movimentos ela faria dormindo. Mas Elene não se movia, não emitia nenhum som além da respiração, tão perto que ele sentia na face. Geoffrey sentiu o coração batendo muito fortemente porque, embora o rosto dela estivesse sombreado, ele podia ver uma inegável tensão. Então foi subindo com os olhos até encontrar os dela, que estavam bem abertos, fitando-o. Geoffrey levou um susto e quase a empurrou. Quantas vezes ela o havia tratado com grosseria quando ele tentava tocá-la? Mas agora ele a abraçava contra o corpo nu e ela apenas o fitava, solenemente! — Elene? Falando numa voz meio trêmula, Geoffrey apertou um pouco a mão dela. Em vez de responder, Elene roçou os dedos nos pêlos do peito dele, parecendo maravilhada. — Elene… — murmurou Geoffrey, incapaz de expressar as perguntas que tinha entaladas na garganta. Virando-se de lado, cautelosamente debruçou-se por cima dela, mas não sentiu nenhuma faca se cravando nas costas, nenhum chute nos testículos. Ela apenas continuava olhando para ele, num silencioso consentimento, e Geoffrey não esperou mais. Abaixando a cabeça, buscou os lábios dela. Havia demorado muito. Foi o primeiro pensamento de Geoffrey quando ela abriu a boca por baixo da dele. E os poucos beijos que ele havia roubado desde o casamento desapareciam em comparação com o de agora. Elene nunca havia se oferecido como agora, abrindo a boca daquele jeito para a penetração da língua dele.

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E o mais notável era que ela correspondia ao beijo. Apertando os dedos nos ombros de Geoffrey, pressionou os lábios nos dele e pôs-se a trabalhar com a língua. A princípio foram movimentos tímidos, mas que logo se tornaram ousados e insistentes. Aquela língua até se arriscou para fora, passando a passear pelo interior da boca dele e revelando o espírito apaixonado da dona. Geoffrey sentiu uma forte onda de desejo e lutou para controlá-la, lembrando-se muito bem das ocasiões em que a havia assustado na ânsia de dar satisfação às próprias vontades. Vagarosamente moveu-se mais para baixo, sempre debruçado por cima dela. Depois, com cuidado, sustentando nos braços o próprio peso, pôs em cima dela a parte baixa do corpo e soltou um gemido quando pressionou o membro enrijecido contra o fino tecido que cobria as coxas dela. Então ergueu a mão e pegou uma boa quantidade dos sedosos cabelos da esposa. Finalmente. — Elene — murmurou, encostando as madeixas no nariz e inalando o perfume. — Os seus cabelos. Eu sempre quis... Sem saber expressar o que estava sentindo, Geoffrey jogou por cima do próprio ombro aquela porção de cabelos. Elene emitiu um som trêmulo, como se estivesse divertida. — Não ria de mim — ele pediu, tentando sorrir. Sentia que ela estava insegura e queria animá-la, mas as palavras não apareciam. A cautela de Elene desapareceu quando os lábios deles se juntaram novamente e Geoffrey exultou com a capitulação que sentiu. Ela o beijava como se estivesse descobrindo o prazer naquele exato momento… o que talvez fosse verdade. Então Geoffrey a beijou com uma ânsia redobrada. Depois, parando apenas para recobrar o fôlego, moveu os lábios para a orelha dela e foi descendo até a garganta. Quando encontrou um ponto que a fez estremecer, sugou aquele local até que o corpo dela se sacudiu em espasmos. E o corpo dele também se movia em fortes vibrações. Agora! Geoffrey pensou que morreria se não a penetrasse logo, mas não podia fazer isso. Ainda não. Outra vez encheu a mão trêmula com os cabelos de Elene, inalando a doce fragrância como um homem possuído. — É tão lindo — murmurou. — Sempre sonhei com seus cabelos por cima de mim, como se fosse nosso único cobertor. Depois olhou nos olhos dela e não sentiu nenhuma rejeição. De fato, Elene não protestou quando ele segurou na barra da camisa dela e começou a erguê-la, passando pelas coxas e alcançando a cintura. Então sentou-a na cama e, com cuidado, despiu-a da peça de roupa. Fascinado, ficou contemplando o corpo nu da esposa. O luar iluminava a curva dos seios, nem grandes nem pequenos, simplesmente perfeitos. Minha, pensou Geoffrey, logo depois se envergonhando por ter uma idéia tão primitiva. Era um homem instruído, um sábio, uma pessoa que sabia pedir com calma, mas mesmo assim estava se consumindo de paixão pela esposa. Elene. Murmurando o nome dela, Geoffrey a deitou novamente na cama. Então inclinou-se para a frente e passou a língua num dos mamilos dela. Elene pareceu levar um susto e ficou olhando para ele com os olhos muito abertos. — Calma… — disse Geoffrey, tentando controlar as palpitações que sentia. Ele certamente morreria se Elene escapasse da cama naquele momento. Não, ela não podia fugir. Não agora, quando ele via expostos aqueles seios maravilhosos, quando pressionava o sexo contra a pele macia da barriga dela. Em vez de sugar, como queria, Geoffrey roçou a face nos flexíveis montes, vagarosamente. Queria experimentar o gosto dela, beijá-la e lambêla em todas as partes do corpo, mas sentiu uma certa relutância e por isso voltou a beijá-la na boca. Quando Elene passou os braços por trás do pescoço dele, Geoffrey soltou um gemido e posicionou o membro pronto na junção das coxas dela. Cobria toda a parte frontal do corpo dela e sentia se esfregando no peito os mamilos endurecidos de Elene. Nua, ela estava por baixo dele, finalmente, e era praticamente impossível controlar o desejo que o dominava. — Toque em mim, Elene — pediu Geoffrey, com a voz trêmula. Precisava do toque da mão dela, desta vez de bom grado. Com a respiração contida ele ficou esperando. Finalmente soltou um gemido quando sentiu o toque dos dedos dela, hesitantes a princípio, depois mais seguros. Até que, para maior espanto de Geoffrey, ela começou a esfregar o sexo dele. — Elene! — ele exclamou. — Assim… Não pare. Por Deus, eu… — Era impossível falar com coerência sentindo o aperto dos dedos dela. — Não estou dizendo coisa com coisa, não é? Mas nada fazia sentido, porque aquela era a esposa dele, uma mulher que representava tudo a que ele se opunha, e no entanto ele a desejava como nunca havia desejado qualquer outra coisa na vida. Precisava tê-la. Já. — Elene. Eu não posso… Preciso… Geoffrey pegou a mão que o tocava e entrelaçou os dedos nos dela. Parou para respirar, sentindo o sexo latejar, e olhou para ela numa muda pergunta, com medo de ver a resposta, sem saber se saberia se conter se ela não concordasse. Mas ela não se opôs. Depois de fechar e abrir os olhos, como se estivesse entontecida, Elene abriu as coxas para ele. Agora. Geoffrey soltou um gemido, sentindo que perdia o controle, o corpo querendo dominar a mente. Então posicionou os quadris, preparando-se para a penetração. Estremeceu quando sentiu a umidade de Elene. Ela estava pronta, mas ele era um homem grande, não queria machucá-la. E ela devia estar assustada, porque as coxas tremiam. — Elene, eu… — gemeu Geoffrey, procurando os olhos dela. Mas, por causa da escuridão, era impossível adivinhar o que ela podia estar sentindo. Então pegou a outra mão dela e também entrelaçou os dedos. Depois, sem poder esperar mais, ouviu o próprio gemido quando a penetrou bem fundo. Elene apertou convulsivamente as mãos dele, mas não emitiu nenhum som. Geoffrey gemeu novamente quando ela abriu mais as pernas, recebendo-o nas entranhas como se aquele fosse o lugar dele. Era bom ver que Elene não estava sentindo dor. Ou então o prazer superava a dor.

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Geoffrey olhou para ela e quis falar, expressar com palavras o que estava sentindo, mas simplesmente não conseguia dizer nada. Então procurou controlar a ânsia de satisfação. Se não podia explicar a ela as emoções que sentia, então faria isso com o corpo. Assim decidido, ficou esperando até que ela relaxasse e emitisse um leve suspiro. — Diga-me o que quer — ele pediu. — Diga-me do que mais gosta. — Não posso — ela murmurou, virando o rosto. — Pode, sim. Gosta disto? — perguntou Geoffrey, beijando-a na garganta e sentindo que ela estremecia — E disto? Agora ele a beijava num dos seios, sem sentir protesto quando sugou o mamilo. Enquanto a beijava num dos ombros, Geoffrey achou que não podia esperar mais. Então segurou nas nádegas dela com as duas mãos, e projetou os quadris para a frente, penetrando-a o mais fundo possível e surpreendendo-se ao ouvir um demorado gemido de prazer. — Ai… — E disto? — ele perguntou, começando o movimento de vaivém. Sentindo suor na testa, outra vez entrelaçou os dedos nos dela. — Eu… gosto… de tudo — confessou Elene. Aliviado, Geoffrey finalmente se abandonou à paixão que o consumia. Intensificou os movimentos e gemeu de alegria quando sentiu que Elene serpenteava o corpo, acompanhando o ritmo dele. A raivosa Fitzhugh, conhecida pelos gritos que soltava, agora emitia tímidos gemidos, tão baixos que pareciam arrancados dela contra a vontade. Mesmo assim, aqueles arquejos quase levaram Geoffrey à loucura. Até que finalmente ela apertou as unhas na palma das mãos deles e soltou um gemido mais alto e demorado, incentivando-o a despejar dentro dela o que aliviaria a paixão de Geoffrey. Finalmente Elene era dele. CAPÍTULO XV Depois de algum tempo, Geoffrey saiu de cima dela e Elene encheu os pulmões de ar. Em seguida ele a abraçou e ela se deixou envolver, aninhando-se no conforto daquele abraço. Havia pensado em permitir a ele um pouco de intimidade, mas agora queria rir da própria ingenuidade. No primeiro ato de generosidade que fazia em muitos anos, havia planejado se entregar a Geoffrey para satisfazê-lo, achando que não sentiria nada além da excitação que os beijos dele causariam antes da dor da penetração. Mas acabou não sentindo nenhuma dor, apenas alegria e prazer como jamais havia imaginado. Fechando os olhos, procurou guardar tudo na memória enquanto ele roçava a face no alto da cabeça dela. Sentia-se esgotada, mas docemente esgotada, como se Geoffrey a houvesse levado para um mundo de sonhos. — Ele a estuprou, não foi? Embora ele fizesse a pergunta com brandura, Elene encolheu-se. Tentou sair do abraço, mas Geoffrey a reteve com firmeza e ela estava sem forças para lutar. Obviamente ele não a soltaria enquanto não ouvisse a verdade, uma idéia que a deixou um pouco abatida. Elene fechou os olhos, sentindo uma súbita pressão nos olhos. Seriam lágrimas? Finalmente Geoffrey estava tocando na coisa que existia entre eles, a história que ele parecia ter resolvido ignorar. Ela também havia ignorado, a princípio com descuidado desdém, depois com irrefletida complacência. Por Deus, nunca havia pensado que o assunto podia ter tanta importância. Depois de uma vida inteira sem ligar para a opinião dos outros, agora queria mais daquele homem. E, covardemente, não tinha coragem para olhar no rosto dele, com medo de ver horror e repulsa. Por outro lado, se ele sabia tanto, devia suspeitar do resto. Ela havia cometido um assassinato e não se arrependia disso. Depois de engolir em seco, Elene procurou se encher de coragem. Era melhor acabar logo o que havia começado entre eles do que uma demorada agonia. — Sim — ela admitiu, falando sem vacilar. — Covarde e patife que era, Avery fugiu do Lobo. Com todos os grandes planos fracassados, resolveu se apossar deste castelo, já que não podia ter nada melhor. Veio para cá diretamente do campo de batalha, ainda sujo de sangue, e fez com que Edred nos casasse, embora eu me opusesse a isso. Logo depois, querendo garantir o que pretendia, tentou consumar o casamento. O verme asqueroso! Elene sentiu que começava a tremer, como tinha ficado durante toda a noite do ocorrido, mas procurou se acalmar. Não queria que Geoffrey percebesse a agitação dela. — Eu disse que não queria ser tocada, mas ele não me deu ouvidos. Por isso o matei. Elene cuspiu as palavras, como havia cuspido no corpo de Avery. Não importava o que pudesse acontecer agora, não se arrependia de tê-lo matado. Ele a havia atormentado, pondo nela as mãos sujas, deitando por cima dela o corpo pesado e suado… Juntando as sobrancelhas, Elene procurou afastar da mente aquelas imagens e concentrar o pensamento no novo marido. Ele ficaria ultrajado, claro, e rapidamente a condenaria, porque não só havia se casado com uma assassina como se deitado com ela. E agora se arrependeria, enxotando-a como se ela pudesse contaminá-lo, como Edred dizia que ela contaminaria quem se aproximasse. Mas Geoffrey apenas a abraçou mais, roçando o rosto nos cabelos dela como se sentisse muito prazer naquilo. Mas o que estava fazendo? Por que não mandava que os soldados a jogassem no calabouço? Elene queria formular aquelas perguntas, mas não encontrava a voz. Até que, finalmente, foi ele quem falou.

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— Eu teria matado pessoalmente aquele desgraçado, se tivesse a chance — declarou. Falou com tanta raiva, o que era raro nele, que Elene ergueu a cabeça para fitá-lo. Mesmo na penumbra, viu o brilho dos olhos, o maxilar apertado. Era raiva, sim, mas não parecia dirigida a ela. — Eu queria ter estado presente para protegê-la — voltou a falar Geoffrey, no mesmo tom. — Ou tê-lo encontrado em Wessex para liquidá-lo antes que ele pudesse machucar você. Elene espantou-se com aquela veemência, confusa ao ver uma reação tão diferente da que ela havia esperado. Como se percebesse aquilo, Geoffrey moderou o tom de voz. — Se pudesse, eu tiraria da sua cabeça todas as lembranças do toque dele. E, embora fosse evidente que uma revolta muito grande o dominava, foi com enorme ternura que ele afastou uma mecha de cabelo da face dela. — Queria que você se lembrasse apenas do meu toque — murmurou, olhando para ela com tanta intensidade que Elene ficou arrepiada. Era como se toda a grande inteligência, a força e a compaixão de Geoffrey se dirigissem apenas para ela. E era impossível não se submeter diante de um olhar tão intenso. Embriagada, Elene ficou com os olhos arregalados enquanto ele a beijava nos cabelos, nas faces, no pescoço… sempre descendo com os lábios úmidos e quentes. Os braços dela, a barriga, a ponta dos dedos, aparentemente todas as partes do corpo dela receberiam a visita daqueles lábios que espalhavam doces beijos. Elene ficou parada, entontecida, enquanto ele prosseguia em seu passeio. Logo depois ela estremeceu, sem querer acreditar que um homem havia tomado o partido dela, sem censurá-la, sem julgá-la. Mas esse homem era Geoffrey de Burgh, e não havia nenhum outro como ele. Elene voltou a estremecer quando sentiu que ele afastava as pernas dela, sentindo também a respiração dele na virilha. Com o corpo todo quente, respirou fundo e deixou que ele agisse livremente. Outra vez, ela e o marido estavam no mundo dos sonhos. Elene despertou quando o sol já estava bem alto. Então virou-se na cama, surpresa. Não costumava dormir até tão tarde, com medo de que algum inimigo tirasse vantagem disso. Desorientada, constatou que estava nua. Geoffrey. Um som escapou da garganta dela quando veio a lembrança. Olhando em volta, viu que, em cima do banquinho, estava uma bandeja com queijo, pão e cerveja esperando por ela. Havia também uma bacia de água deixada logo adiante. Geoffrey. Elene não tinha dúvida de que ele tinha feito aquilo pessoalmente, levando água para o banho e comida, o que nenhum outro lorde teria feito. Embora o pai dela e outros da espécie dele nunca levantassem um dedo para fazer alguma coisa por si próprios, menos ainda por outras pessoas, Elene sabia que Geoffrey havia levado aquelas coisas. Para ela. Subitamente faminta, jogou o lençol para o lado e pegou o pão para morder antes de ir tomar banho. Como a bacia não era grande o suficiente para que ela se sentasse lá dentro, ficou de pé, lavando-se sem pressa. Depois enrolou-se numa toalha de linho e ficou parada, indecisa. Com a testa franzida, caminhou até o baú que eles haviam levado na viagem a Wessex, trazendo-o de volta. Chegando lá, hesitou novamente antes de se abaixar para erguer a tampa. Levantou as finas roupas do marido e pegou as que Marion tinha feito para ela, deixadas ali mas não esquecidas. Embora na ocasião houvesse desdenhado dos presentes, agora Elene alisava os bonitos tecidos maravilhada. Será que poderia? Por que não? Rapidamente Elene vestiu a nova camisa de baixo de linho e a túnica amarela de seda. Girou o corpo bem devagar, com os olhos muito abertos, e passou as mãos no tecido, deliciando-se com a sensação que aquilo produzia. Parando subitamente, viu no chão a escova que Geoffrey havia deixado ali. Então sentou-se no banquinho e começou a escovar os cabelos, tentando restaurar a ordem que ele havia estabelecido, embora não fosse tão cuidadosa quanto o marido, assim como não tinha a mesma paciência. O pensamento a fez parar e ela enrubesceu, lembrando-se das longas horas durante as quais, pacientemente, Geoffrey havia cuidado dos cabelos dela. Como se quisesse fazer pouco da indecisão dela, foi ele quem apareceu à porta e Elene levou um susto, quase soltando um grito. Por alguns instantes ficou olhando para o peito musculoso do marido, recusando-se a cruzar o olhar com o dele, já que não tinha certeza de como seriam as coisas naquela manhã. Não suportaria ver censura ou indiferença depois de tudo o que havia acontecido durante a noite. — Você está tão linda que até me dói nos olhos — disse Geoffrey, deixando Elene boquiaberta. E não foi só a surpresa, porque o tom de voz dele a fez sentir as faces quentes e um arrepio pelo corpo. Quando finalmente olhou para cima, Elene viu-lhe nos olhos aquele ar sonhador que indicava desejo. Nunca ninguém havia demonstrado sentir desejo por ela. A não ser Geoffrey. Todas as preocupações dela desapareceram com o conforto da presença dele. A manhã já ia alta, mas ele ainda a queria. Um sorriso aflorou naturalmente nos lábios dela. — Elene — ele murmurou, aproximando-se. Trêmula de expectativa, ela desejou que ele se inclinasse para beijá-la na boca, mas Geoffrey apenas estendeu a mão. — Venha, antes que eu mude de idéia e a leve para a cama. Elene enrubesceu novamente, tanto por causa da espalhafatosa ameaça quanto pelo desapontamento que sentiu. Seria tão ruim assim retornar ao ninho onde eles haviam encontrado tantos prazeres, ou era depravação pensar em tais coisas à luz do

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dia? Então ela abaixou a cabeça, procurando esconder a vergonha. Talvez Geoffrey só devesse tocá-la por baixo das cobertas e na escuridão. Vexada com aquele pensamento, Elene franziu a testa mas deixou que ele a levasse na direção da porta. — Vamos. O dia está muito bonito e eu quero cavalgar com a minha esposa. Pelo tom de voz, aquelas palavras pareciam ter algum significado escondido, mas ele não disse mais nada enquanto entrelaçava os dedos nos dela. Um pouco embaraçada, mas gostando muito de estar de mãos dadas com ele, Elene deixou-se levar. Depois de descer a escada eles atravessaram o salão, passaram pelos pasmados servos e chegaram ao pátio, rumando para a estrebaria, onde os cavalos já estavam arreados. Obviamente Geoffrey tinha estado ocupado naquela manhã, enquanto ela dormia, pensou Elene, fazendo uma careta. Mas aquela expressão desapareceu tão logo eles atravessaram o portão do castelo e tomaram a direção das colinas. Geoffrey parou o cavalo numa campina coberta por uma relva alta, de onde subia um cheiro bom. Vistosas e floridas trepadeiras subiam por um barranco ali perto e Elene respirou fundo, enchendo os pulmões de ar. Nunca havia se sentido tão viva ao mesmo tempo que tinha tanta paz. Desmontando, Geoffrey aproximou-se e ergueu as mãos para ajudá-la a descer da montaria. Elene sentiu vontade de rir, porque nunca nenhum homem havia oferecido aquele tipo de ajuda a ela. Menos Geoffrey. Logo depois ela sentiu na cintura as mãos quentes do marido e ficou séria quando roçou o corpo nos fortes músculos dele. A descida foi vagarosa e, antes de pisar no chão, Elene sentiu a respiração difícil e um estranho entorpecimento. Depois que ela ficou de pé, Geoffrey sorriu de um jeito misterioso e voltou ao cavalo para pegar um cobertor, que, para surpresa dela, abriu sobre a relva. Depois, calmamente, tirou as botas e o cinto com a espada, pondo tudo ao lado do cobertor. Elene sentiu que ficava com as faces vermelhas quando suspeitou do que podia acontecer. Mesmo assim, ergueu a cabeça e sentou-se ao lado dele. Fingindo admirar as montanhas ao longe, virou-se para o lado, apenas para sentir nos cabelos o passeio dos dedos dele. Incrivelmente deliciada com aquilo, moveu a cabeça para trás. Nunca havia pensando nos próprios cabelos como alguma coisa especial, nem que alguma parte dela fosse… bonita. Podia ser absurdo, mas a sensação que teve naquele momento foi de que o marido poderia convencê-la de qualquer coisa. Geoffrey devia ter se chegado mais para perto, porque Elene sentiu às costas o calor dele. Logo depois os cabelos dela foram afastados para o lado e ele a beijou na nuca, o que a fez sentir um estremecimento. — Geoffrey! — ralhou Elene, procurando superar a fraqueza que sentiu pelo corpo. — Elene — ele respondeu, num tom brincalhão. Logo depois ela sentiu nas laterais do corpo o passeio das mãos dele, que finalmente alcançaram os seios dela. — Por que está fazendo isso aqui? — protestou Elene, com a voz trêmula. — Ficou louco? — Acho que estou louco por você — declarou Geoffrey, num murmúrio rouco. Elene ficou muito espantada. Embora começasse a se sentir dominada pelo calor, voltou-se para encará-lo. Se podia possuí-la na cama, por que ele se dava ao trabalho de levá-la para aquele lugar? A resposta estava nos olhos dele. Prontamente Elene percebeu que Geoffrey havia querido tirá-la do castelo que guardava lembranças tão ruins. A intenção dele era fazer com que ela conhecesse o prazer ali, livre da escuridão, na brilhante beleza da campina. Era um gesto que só um homem muito bondoso pensaria em fazer. Emocionada, ela pôs as duas mãos nas faces do marido e balançou a cabeça vagarosamente, sem querer acreditar que era o alvo de uma gentileza tão grande. — Ah, Geoffrey… Então ele a beijou, com uma ternura tão cheia de emoção que Elene teve medo de se derreter. As misteriosas dores que antes sentia agora eram pontadas de pura alegria e deliciosa surpresa. E aquilo a incentivava a entrar em ação. Então ela correspondeu ao beijo, expressando da única forma que sabia o que estava sentindo. Geoffrey gemeu, mostrando gostar, o que a deixou muito contente. Ela queria… precisava fazer alguma coisa. Ciente disso, correu as mãos pelo peito dele por cima da túnica. — Toque em mim, Elene — pediu Geoffrey interrompendo o beijo para despir-se da túnica. Contendo a respiração, Elene se viu olhando para o musculoso peito coberto por uma fina camada de pêlos escuros. À luz clara do dia, ele era fascinante, tão forte, tão poderoso, mas, o que também era espantoso, não mais a intimidava. Ela conhecia aquele corpo, que sabia ser habitado por um homem bondoso. Como se quisesse confirmar o pensamento dela, ele ficou esperando, sentado, enquanto ela o olhava, maravilhada. Ela, sim, estava inquieta, subitamente sentindo vontades que exigiam ação. Bem devagar e muito excitada, Elene ergueu a mão para encostá-la na altura do coração do marido, que batia fortemente. Então ela o fitou, surpresa, e enrubesceu ao ver o olhar com que ele retribuiu. Mais que sonhador, era um olhar intenso, produzindo estranhas sensações no ventre dela. Enchendo-se de coragem, Elene correu os dedos pelos macios pêlos do peito dele, sentindo um prazer muito grande com aquilo. Depois, mais ousada ainda, subiu com as duas mãos pelos braços do marido, acariciando os músculos que faziam dele um cavaleiro forte e destemido. Não sentiu com isso nenhuma amargura, mas sim um reconfortante calor, além de uma forte excitação. Aquele era Geoffrey, a coisa mais linda que ela já vira no mundo. Inclinando-se, Elene encostou a face no peito do marido, como ele tinha feito uma vez com ela, e inalou o cheiro másculo. Mas isso não foi suficiente. Virando-se um pouco ela encostou a boca na pele dele, espalhando beijos no largo peito. Depois encontrou uma protuberância endurecida e passou ali a língua.

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Quando Geoffrey soltou um gemido ela começou a sugar o local, inspirada pelas já quase esquecidas conversas com Marion. Agora os conselhos da cunhada de Geoffrey voltavam com clareza à mente dela, lembrando-a daquilo e de muito mais, coisas que antes ela havia considerado depravação mas que agora pareciam atraentes e… necessárias. Geoffrey estava cutucando a túnica dela e, dominada por uma estranha inquietação, Elene a tirou e jogou-a perto de onde estava a do marido. Logo depois fez o mesmo com a camisa de baixo. Quando passou os braços por trás do pescoço de Geoffrey e apertou os seios contra o peito dele, não sentiu nenhuma vergonha ou medo, apenas prazer. Deliciando-se com as carícias que aquelas mãos faziam pelo corpo dela, Elene soltou um gemido. Por acaso aquele homem fazia idéia de como era maravilhoso? — Ajude-me com isto — murmurou Geoffrey, e Elene viu que ele queria despir-se do calção. A ereção era evidente, erguendo o fino tecido, mas ela hesitou apenas alguns segundos antes de estender as mãos para os quadris dele e puxar o calção para baixo. Geoffrey reagiu com um estremecimento e deitou-se de costas no cobertor, levando-a consigo. Elene abriu as pernas por cima dele, sentindo uma inquietação pelo corpo que a fez esfregar-se nele. A parte baixa do corpo dela pulsava de desejo, mas ele não fazia menção de inverter as posições. Impaciente, Elene o mordeu no ombro. Outra vez Geoffrey estremeceu e puxou os joelhos dela para a frente. Elene lembrou-se novamente das palavras de Marion e enrubesceu levemente. Logo depois sentou-se e moveu os quadris até sentir no sexo o contato com o membro dele. Era isso o que Geoffrey queria? Fechando os olhos e erguendo bem a cabeça, Elene pôs-se a mexer os quadris, entontecida pelo prazer. Então percebeu qual era a intenção do marido e abaixou os olhos para ele. Geoffrey estava muito quieto mas a observava com um olhar intenso, quase sorrindo. Certamente fazia aquilo em benefício dela. Havia pensado na possibilidade de incomodá-la com o peso do corpo, o que fazia sentido, e por isso à deixava ficar por cima, eliminando o incômodo. Aquele cavaleiro, forte e valente, um rico e poderoso de Burgh, estava deitado por baixo dela, com as mãos calmamente repousadas nas coxas dela, deixando que ela buscasse a penetração quando achasse que era o momento. Elene sentiu lágrimas nos olhos e olhou para Geoffrey, lindo e generoso. Precisava oferecer em retribuição alguma coisa… tudo. Respirando fundo, sacudiu a cabeça e deixou os cabelos caírem para a frente, cobrindo o peito dele. Parecendo possuído por um prazer que se misturava com uma alegria quase infantil, Geoffrey encheu as duas mãos com aqueles cabelos e pôs-se a beijá-los. Elene meneava os quadris em movimentos circulares, num abandono crescente, até que ele voltou a falar. — Receba-me dentro de você — disse, em meio a gemidos. A urgência que havia no pedido a espantou, mas mesmo assim Elene sentiu uma onda de calor nas entranhas. Ergueu os quadris e outra vez os abaixou, mas não consumou a penetração. Ergueu-se novamente e olhou para o que havia entre eles. O membro de Geoffrey estava em máxima ereção, como uma espada que precisasse da bainha. Então Elene o tocou. — Sim, Elene — murmurou Geoffrey, apertando as coxas dela com os dedos. — Agora. Aquelas palavras pareceram ressoar no sangue dela e Elene guiou-o até a sua intimidade. Feito isso abaixou os quadris, até sentir que a penetração era completa. Suspirando de alívio e prazer, inclinou-se para a frente e beijou repetidas vezes o pescoço e os ombros do marido. Depois sentou-se novamente e começou a se mover num ritmo vagaroso e sensual. Geoffrey também se sentou e pôs as mãos nos quadris dela, ajudando-a nos movimentos. Os murmúrios que ele emitia faziam contraponto aos gemidos dela, quebrando o silêncio da campina, e Elene achou que nada poderia ameaçar a perfeição daquele momento. Eles estavam partilhando um sonho, algo bem diferente da dura realidade que sempre tinha sido a sua vida. Mas ainda não podia haver a garantia de que tudo daria certo. Não muito longe dali, escondido por trás de uns arbustos, alguém os observava e, maldizendo a união deles, fazia planos cheios de maldade. Elene se recusou a entrar. Mesmo depois que eles retornaram ao castelo, não queria voltar ao grande quarto ou ao que ocupava antes, onde havia passado tanto tempo praticamente como prisioneira em sua própria casa. As maravilhosas sensações despertadas por Geoffrey nela permaneciam e ela queria continuar sentindo aquilo pelo resto do dia. Futuramente ele pretendia construir um castelo maior, um lugar para viver com a família, como tinha dito, mas por enquanto ela ficaria no jardim enquanto ele era levado por um dos seus homens para resolver alguma coisa. Elene ficou espantada quando pensou nas mudanças que haviam se operado nas atitudes dela. Não fazia mais questão de ter a posse da propriedade, entregando-a de bom grado. Na verdade o castelo nunca havia significado para ela nada além de um lugar onde estaria protegida. Agora tinha outras… necessidades. Rindo por causa daquele pensamento caprichoso, Elene debruçou-se no muro baixo e olhou em volta. Novos canteiros estavam sendo cultivados, por ordem de Geoffrey, mas ela se lembrava de uma época em que aquele lugar era cheio de beleza e deliciosos aromas. Não havia um banco ali? Ela devia encontrar algum para aproveitar dias como aquele. Pela primeira vez Elene não ficou mal-humorada ao se lembrar da infância. Até a morte da mãe dela, aquele lugar tinha sido muito bonito. Lembrando-se do nome das flores que tinham sido cultivadas ali ela sorriu. Falaria desses nomes com Geoffrey. Ele certamente conhecia. Conhecia tudo. E logo ela seria como ele, teria amor pelo conhecimento… Respirando fundo, Elene olhou para o livro que tinha na mão. Geoffrey o havia deixado com ela, juntamente com as desculpas por não começar imediatamente as lições. Interesses mais urgentes tinham tido precedência, mas ela não se importava, porque havia adorado aquele dia como nenhum outro.

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Cautelosamente ela abriu o livro de primeiras letras. Sentiu uma onda de contentamento quando olhou para os símbolos que a levariam para um mundo inteiramente novo… e talvez a tornassem digna do marido. O salão já estava quase cheio quando Geoffrey chegou para o jantar. O novo mordomo nomeado por ele o havia retido por muito tempo, deixando-o impaciente, não só para comer mas também para ver a esposa, agora esposa em todos os sentidos. Naquela manhã ele a fizera dele… não na noite anterior, no quarto que tinha sido do pai dela, mas naquela manhã, em plena luz do sol. Era um novo começo para eles e, pela primeira vez desde o dia do casamento, Geoffrey se sentia pleno de esperanças no futuro. O que mudou quando ele puxou a cadeira. Sentindo um cheiro de coisa podre, Geoffrey parou e recuou um passo quando viu uma coisa escura sobre o assento dele. Automaticamente levou a mão ao cabo da espada, mas soltou-o quando ficou claro que o bicho deixado ali já estava morto. Ao verem a hesitação dele, os cavaleiros de Dunstan imediatamente o cercaram, ambos fazendo expressões de nojo quando viram o que estava sobre a cadeira. Uma flecha diferente de todas as que ele já tinha visto prendia alguma coisa à madeira do assento. Me nor do que as conhecidas, a flecha prendia à cadeira uma massa flácida que parecia carne estragada. Vencendo o nojo, Geoffrey chegou mais perto e quase rogou uma praga quando viu que se tratava de um coração, menor que o humano, na certa pertencente a algum animal. Vísceras vindas do açougue? Embora não fosse época de matança, sempre se abatiam animais para o consumo do castelo. Devia ser uma ameaça contra ele. Mas quem podia ter deixado aquilo ali? Qualquer um. A lembrança de que continuava a não ser bem recebido na nova casa encheu Geoffrey de raiva e ele se adiantou para arrancar a flecha da cadeira, mas foi contido por um dos cavaleiros. — Não. Olhe para a flecha, meu lorde — disse Malcolm — Ela está preta e lambuzada com alguma substância, talvez veneno! — Não é boa coisa — concordou Talebot. — Será um mau presságio? — sugeriu Malcolm. — Ou um aviso — disse Talebot, enquanto Geoffrey olhava enraivecido para a coisa. Teria aquilo alguma significação conhecida apenas pelas pessoas do lugar ou destinava-se simplesmente a perturbá-Io? Imediatamente ele pensou em Montgomery e Serle, mas esses estavam banidos do feudo. Quem mais poderia ser um inimigo? Erguendo a cabeça, Geoffrey correu os olhos pelo salão, com o semblante fechado. Sentia-se como se des de a chegada estivesse lutando contra os que queriam afastá-lo, primeiro a esposa, depois um cavaleiro trai dor e finalmente um mordomo desonesto. Por acaso essa luta não teria fim? Haveria um traidor escondido por trás de cada um daqueles rostos espantados? Os que se encontravam mais perto da mesa dele se mostravam enojados com o presente deixado sobre a cadeira, enquanto os que estavam mais afastados pareciam assustados. Enquanto continuava a vasculhar o ambiente com os olhos, buscando alguma expressão de culpa ou um olhar enraivecido, Geoffrey reparou que aos poucos os rostos iam se voltando para o corredor que vinha da cozinha. Outra vez ele levou a mão ao cabo da espada, mas surpreendeu-se ao ver que não era nenhum cavaleiro andante ou perigoso camponês quem estava chegando. Era Elene. Geoffrey franziu a testa quando o silêncio foi substituído por uma onda de murmúrios. Embora não pu desse ouvir o que estava sendo dito, entendeu a palavra bruxa e ficou tenso. A esposa dele já tinha sido chamada de muitas coisas, antes e depois do casamento deles, mas nunca de bruxa. A Fitzhugh era conhecida como uma presença ameaçadora, pela determinação e pelo temperamento explosivo, mas não por usar poções ou fórmulas mágicas. Aquela nova designação deixou Geoffrey inquieto, porque a maior parte da população analfabeta acreditava em superstições e estava sempre pronta a acusar alguém. Mantendo a mão na espada para o caso de alguém ousar falar mais abertamente, Geoffrey olhou para a espqsa. Ela devia ter ouvido a mesma coisa que ele, porque mantinha a cabeça abaixada, deixando os cabelos caírem para a frente enquanto enfrentava o olhar daquelas pessoas, sendo a raiva sua única arma. Geoffrey sentiu uma onda de justa ira, porque aquela criatura guardava pouca semelhança com a mulher que ele havia tido nos braços naquela manhã, cheia de paixão e desejo. A túnica era a mesma, mas a mulher não, e outra vez ele dirigiu um olhar enraivecido aos presentes. Quando viu que Elene se recusava a se aproximar, ao mesmo tempo que os murmúrios se tornavam mais altos, Geoffrey resolveu pôr um basta naquilo. — Silêncio! — vociferou, num tom de voz mais próprio do irmão mais velho. — Não digam disparates na minha presença! Girando vagarosamente o corpo ele reparou, com interesse, que agora aquelas pessoas o fitavam com a cabeça abaixada. Estariam todos com sentimento de culpa? Só os cavaleiros vindos de Wessex mantinham uma postura ereta. — Sirvam o jantar — ordenou Geoffrey, voltando-se depois para onde estavam os homens de Dunstan. — Talebot, leve a cadeira para o pátio e lave-a bem. Enterre as vísceras longe de olhares curiosos. O cavaleiro assentiu, sério, enquanto Malcolm parecia aliviado por ter escapado da desagradável incumbência. Geoffrey arranjou lugar no comprido banco colocado no outro lado da mesa e fez um gesto chamando a esposa. Por alguns instantes ela hesitou, mas acabou se adiantando e sentando-se ao lado dele. Ainda enraivecido com o incidente que havia estragado a reunião deles, Geoffrey respirou fundo. O melhor seria apenas comer a refeição, como sempre. Por enquanto.

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O assunto não podia ser simplesmente esquecido e naquela noite ele interrogaria pessoalmente cada um. A pessoa que havia deixado o presente sobre a cadeira devia ter feito isso antes do jantar. Como sempre havia gente por ali, o dia todo, Geoffrey estava certo de que alguém devia ter visto alguma coisa. Ele só precisava descobrir o quê, onde e quando. Depois talvez descobrisse quem. CAPÍTULO XVI Ninguém sabia nada. Suspirando de impaciência, Geoffrey passou a mão pelos cabelos. A primeira impressão era de que os habitantes do feudo, dos cavaleiros deixados por Ftizhugh aos mais humildes aldeões, todos conspiravam contra ele. Mas isso não fazia sentido. Todos estavam tendo o suficiente para comer e Geoffrey providenciava os consertos necessários nas cercas e nas habitações. Se aquelas pessoas trabalhassem com afinco, o feudo prosperaria. Quem poderia ser contra isso? Então ele balançou a cabeça. Para uma pessoa sensível, a coisa toda era inacreditável e frustrante. Encostando-se na parede do antigo quarto de Serle, onde havia interrogado cada uma das pessoas presentes ao salão, Geoffrey procurou pensar no problema logicamente. Se não era insatisfação, o que podia causar a revolta daquela gente? Fidelidade a uma outra pessoa? Geoffrey balançou a cabeça. Há muito tempo havia descoberto que Fitzhugh tinha sido universalmente odiado, enquanto a filha dele, infelizmente, conquistava bem poucas simpatias. Montgomery? Serle? Geoffrey não conseguia pensar em nenhum aliado óbvio do grosseiro cavaleiro ou do repulsivo ladrão. Mesmo assim os moradores do castelo mantinham a boca fechada, com medo de falar. Outra vez ele balançou a cabeça, sem ver motivo para aquela cautela. Não se achava um homem grosseiro e não havia cometido nenhuma violência desde a chegada. Por Deus! Havia até poupado a vida de Serle, quando qualquer um outro teria mandado decapitar o tratante por traição. Talvez fosse o nome de Burgh que deixasse as pessoas temerosas. Embora raramente Geoffrey pensasse nisso, sabia que o pai era um homem bem conhecido em todo o reino. O nome Campion significava poder e riqueza, duas coisas que causavam medo e ressentimento entre os ignorantes. Afastando-se da parede Geoffrey apagou a última vela, sentindo cansaço mental e físico. Talvez os cavaleiros de Dunstan pudessem descobrir o que o senhor do feudo não conseguia, pensou, com abatimento. Já era tarde e ele não queria fazer muito estardalhaço de uma coisa que podia ser até uma brincadeira de criança. Era hora de ir para a cama. O pensamento fez com que Geoffrey sorrisse pela primeira vez em muitas horas. Elene esperava no quarto e ele se lembrava bem da pele mcia dela, do cheiro de almíscar, dos gemidos que ela havia emitido ao fazer amor com ele. Rapidamente Geoffrey se retirou do antigo quarto do mordomo, atravessou o salão e subiu a escada. Embora a perspectiva de se encontrar com ela o excitasse, foi com cuidado que ele entrou no quarto, não querendo fazer barulho caso ela estivesse dormindo. Segurando uma única vela acesa, aproximou-se da cama e olhou para ela com uma surpreendente sensação de propriedade. Os cabelos se espalhavam pelo travesseiro e pelo rosto dela, o que o deixou com o coração acelerado. Inclinando-se ele ergueu uma longa mecha e apertou-a entre os dedos. Os fios eram macios. Maleáveis. Cheios de vida. Exatamente como Elene. Olhando outra vez para ela, Geoffrey franziu a testa quando viu um tecido branco por baixo dos escuros cabelos. Ela estava usando a camisa de baixo, o que o deixou estranhamente desapontado. Havia pensado que, depois que eles haviam se amado no bosque, naquela manhã, ela não precisava mais dormir vestida. Mas muita coisa havia acontecido desde então. Geoffrey ficou pensativo. Depois de ser chamada de bruxa, Elene havia se fechado em si mesma. Só ele sabia que a armadura da esposa não era tão rígida quanto parecia, e esse pensamento o deixou com sentimento de culpa. Elene havia parecido tão feroz que todos podiam pensar que ela era mesmo assim, mas ele sabia que não. Devia ter feito mais por ela. Durante toda a refeição ela se mantivera em silêncio e, em vez de tentar reanimá-la, Geoffrey havia se ocupado em planejar o que faria, pensando apenas em descobrir o culpado. Teria feito melhor preocupando-se com a esposa, já que os interrogatórios não resultaram em nada. Suspirando, Geoffrey percebeu que não estava acostumado com o papel de marido. Mas procuraria se aperfeiçoar. Com um sorriso amargo, pensou que talvez só precisasse de prática. Mas muita prática. Deixando a vela acesa ele se despiu e deitou-se ao lado da esposa. Geoffrey levantou-se cedo, inquieto para encontrar algum tipo de explicação para o incidente do dia anterior e para a contínua hostilidade das pessoas do lugar. Depois de um último e demorado olhar à esposa, que dormia pacificamente, saiu do quarto. Mal chegou ao salão, viu os cavaleiros de Dunstan, que esperavam perto da escada, muito sérios. — O que foi? — ele perguntou. — Descobriram alguma coisa? Os dois homens trocaram um olhar cauteloso, como se relutassem em falar. Geoffrey lembrou-se dos inúteis interrogatórios da noite anterior e ficou ainda mais frustrados. — Bem, vamos para o antigo quarto do mordomo — disse. — Talvez um pouco de privacidade faça com que vocês soltem á língua.

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Já marchando pelo salão Geoffrey ordenou a um servo que levasse pão e cerveja ao pequeno cômodo. Entrando no quarto, sentou-se numa barrica e ficou esperando até que a comida e a bebida foram entregues. Finalmente, encostou-se na parede e ergueu as sobrancelhas. — E então? O que têm para me contar? Outra vez os dois cavaleiros se entreolharam antes que Talebot tomasse a palavra. — Ouvimos poucas coisas além de boatos e suposições. — Andam falando muitas coisas — disse Malcolm, ocupando-se em arrancar um pedaço de pão, como se não quisesse enfrentar o olhar de Geoffrey. — Então vocês não descobriram mais do que eu, que não consegui convencer ninguém a dizer nada — concluiu Geoffrey. Talebot, que ignorou a comida, pigarreou antes de falar. — Talvez as pessoas temam a sua reação. Geoffrey passou a mão nos cabelos. Também tinha essa impressão, mas não via motivo para o fato. Mas por quê? Tenho sido sempre justo. Na verdade, não consigo ver um só motivo para essa brincadeira. Outra vez Malcolm pareceu constrangido. — Não se trata de uma brincadeira, mas de uma ameaça para que o senhor deixe o feudo — disse. Geoffrey suspirou, também sem ver razão para que alguém quisesse a partida dele. — Talvez o senhor deva mesmo partir, pelo menos por algum tempo — sugeriu Tafebot. — É sabido que seu irmão o receberá muito bem em Wessex. Geoffrey riu ao ouvir a sugestão. — Quer que eu fuja de um pedaço de carne podre espetado numa flecha esquisita? Você só pode estar brincando! Ele não se dobraria a ameaças, menos ainda a uma tão ridícula. Talebot não achou graça e olhou para ele muito sério. — O senhor diz que não vê nenhum motivo, mas há uma pessoa aqui que se beneficiaria com a sua partida, sim, mais ainda com a sua morte. — Quem? — perguntou Geoffrey. Ah, ele queria muito saber quem era a tal pessoa. Finalmente desmascararia o inimigo e acabaria com aquele mistério. Embora Malcolm mantivesse a cabeça abaixada, Talebot olhou nos olhos dele quando deu a resposta. — Sua esposa. Geoffrey começou a se levantar, mas controlou-se. Mesmo assim, rogou uma praga antes de se sentar novamente. Precisava deixar de lado os sentimentos pessoais e usar a lógica para defender Elene. — Mas o que ela ganharia? O castelo? A herança que já é dela? — inquiriu, desdenhando daquele absurdo. — O rei não permitiria que uma mulher sozinha dirigisse esta propriedade e simplesmente a casaria com um outro. A idéia fez com que Geoffrey sentisse um gosto ruim na boca e jurasse que não deixaria que Elene se casasse com um outro. — Será que ele faria isso? — perguntou Talebot. — Pode ser que, depois de enterrar vários maridos, a viúva conquiste a liberdade. Há certas coisas muito poderosas, mais até do que a vontade de um rei. Geoffrey soltou uma gargalhada. — Você está dizendo bobagens! — Será que estou? — discordou o cavaleiro. — Aquela flecha é menor do que as conhecidas, tem o tamanho certo para uma mulher. E sua esposa é conhecida pela habilidade com armas. Geoffrey ficou boquiaberto quando ouviu aquilo, mas o homem de Dunstan prosseguiu. — E, quando a examinei mais de perto, ela me pareceu coberta por alguma substância fétida, talvez beladona. — O simples toque naquilo pode matar um homem — cochichou Malcolm. Geoffrey balançou a cabeça, irritado com o rumo que aquela conversa estava tomando. Ignorando o companheiro, Talebot prosseguiu. — Quanto examinei o artefato, descobri que a flecha não tinha a pena comum às outras, mas sim pena de coruja. Pena de coruja — ele repetiu, como se desse muita importância à descoberta. — Pois é — concordou Malcolm, sempre falando em tom confidencial. — É sabido que essas coisas são usadas na prática de magia nega. A pena de coruja, a tinta preta, o veneno, o sacrifício O homem inclinou-se para a frente, como se hesitasse em falar mais alto. — Obviamente estamos enfrentando um caso de bruxaria. Geoffrey levantou-se tão rapidamente que Malcolm recuou um passo. — Vocês estão chamando a minha esposa de bruxa? — ele inquiriu, numa voz baixa mas ameaçadora. Embora se achasse bem diferente do Lobo, aqueles cavaleiros deviam estar vendo alguma semelhança, porque imediatamente empalideceram. — Não, meu lorde — apressou-se em dizer Malcolm. — É só que essas coisas são praticadas por mulheres, não por homens. Geoffrey adiantou-se um passo, precisando de muito autocontroIe para não partir para o ataque. A vontade dele era acabar com aqueles dois. Sim, esmagaria sem piedade qualquer um que falasse mal de Elene. Se isso significasse abater todos os residentes daquelas terras, então que fosse assim, pensou, com justa revolta.

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— Não quero insultá-lo, meu lorde, mas o Lobo me deu a incumbência de proteger o irmão dele — declarou Talebot. — Por isso não ficarei tranqüilo enquanto sua esposa tiver certos privilégios. Geoffrey ficou olhando para o homem, espantado tanto com a insolência como com a exigência. Aquele era um cavaleiro, alto e forte, um guerreiro temperado em duras batalhas, um homem capaz de dar conta de uma horda de soldados infantes. No entanto… — Está com medo de minha esposa? — inquiriu Geoffrey, incrédulo. Talebot apertou os lábios, parecendo ofendido, mas não respondeu negativamente. — Considerando as ameaças que ela já lhe fez, acho que seria prudente aprisioná-la, pelo menos por enquanto. Sentindo uma renovada onda de raiva, Geoffrey fechou os dedos no cabo da espada, mas conteve-se a tempo. Ele, o mais calmo dos de Burgh, queria obrigar aquele homem a se ajoelhar. Imediatamente. Fazê-lo rastejar diante de Elene pedindo desculpas. E a única coisa que o impedia de fazer isso já era a suspeita de que Elene não apoiaria a ação. Ela cultivava o medo dos outros por algum motivo, alguma coisa que ele ainda não conseguia entender, algo que escondia dos olhos dos outros a verdadeira mulher que era, menos dos dele. E tudo devia continuar assim até que ela resolvesse mudar. Devagar, com alguma relutância, Geoffrey soltou o cabo da espada e recuou um passo. Os cavaleiros de Dunstan ficaram visivelmente aliviados e ele concluiu que pelo menos não podia acusá-los de se descuidarem na vigilância. No entanto, na ânsia de protegê-lo, estavam sendo atrapalhados pela própria ignorância, como tantos outros. — Não, não vou aprisionar minha esposa baseado apenas numa pena de coruja — declarou Geoffrey. — Também não vou fugir dessa tal ameaça. Portanto, sugiro que vocês investiguem outras pessoas em busca do nosso culpado. A menos que estejam com muito medo — acrescentou, erguendo as sobrancelhas numa deliberada provocação. — Nesse caso, estarão liberados para voltar para meu irmão. Depois que os cavaleiros sacudiram a cabeça e juraram fidelidade, Geoffrey os dispensou, impaciente. Sentou-se novamente no barril e encostou-se na parede, outra vez pensando no que tinha sido deixado em cima da cadeira dele. Se fosse apenas uma brincadeira, agora havia adquirido outra dimensão, graças à imaginação fértil dos incultos. Mas se não fosse… seria preciso resolver logo o problema antes que ele se tornasse insolúvel. Suspirando, Geoffrey pôs a mente para funcionar em busca de uma explicação. Pensou novamente em Montgomery e Serle, agora procurando não descartá-los como suspeitos com a mesma rapidez de antes. Pensando bem, era muito possível que um daqueles dois fosse o culpado. Quanto à outra possibilidade… Não, era impensável. Ignorando a ameaça contra ele, Geoffrey passou os dias seguintes seguindo a rotina de sempre, apesar dos receios dos homens de Dunstan. Os dois o seguiam como sombras, recomendando que não comesse no salão nem ficasse no meio de muita gente. Na verdade, pareciam querer fazê-lo prisioneiro, mas ele não daria essa satisfação a quem queria prejudicá-lo. Também não puniria Elene pela perfídia de uma outra pessoa. Assim sendo, passou as noites fazendo amor com a esposa, enquanto durante o dia fazia questão de se encontrar freqüentemente com ela. Aqui e ali, arranjava algumas horas para ficar sozinho com ela, ocasiões em que atuava como professor. Elene era inteligente, muito mais do que ele havia imaginado, e Geoffrey se viu sentindo orgulho dela, tanto quanto havia sentido dos irmãos mais jovens. Era uma aluna aplicada, com tanta sede de saber que às vezes ele ficava olhando para ela, cativado por aquela brilhante e linda moça, tão diferente da mulher com quem havia se casado. Mesmo assim, quanto mais se aproximava dela, mais percebia a diferenças que os separavam, como um abismo que ele não pudesse… ou não quisesse transpor. Essa tensão era aumentada pela escuridão que parecia ter caído sobre o castelo como um manto mortuário. Os residentes pareciam assustados, como se esperassem que a qualquer momento acontecesse alguma coisa por causa da presença do lorde. Um período de chuvas não melhorou a situação, deixando as pessoas nervosas e os campos encharcados. Sentado à mesa enquanto esperava que o jantar fosse servido, Geoffrey sentia que era observado furtivamente, todos o culpando pela chuva. Afinal de contas, ele havia ignorado a clara advertência para que partisse, causando a cólera da bruxa! Geoffrey mexeu-se na cadeira. Já estava perdendo a paciência com aquela idiotice. Qualquer um que visse um sapo se achava perseguido por algum espírito maligno, quando era evidente que os animais simplesmente proliferavam por causa das poças de água que estavam se formando. Suspirando, Geoffrey olhou para os dois guarda-costas de prontidão. Não muito diferente dos camponeses, aqueles dois não tomavam as refeições juntamente com ele, ficando logo atrás como duas sentinelas, como se ele fosse um inválido que não pudesse se defender! Era uma situação irritante, que o deixava com os nervos à flor da pele. Geoffrey ficou desesperado, sentindo-se com as mãos amarradas e enraivecido com isso. Às vezes pensava em empunhar a espada e cortar a cabeça de todas as pessoas num raio de um quilômetro. Isso resolveria o problema. Resolveria mesmo? Por mais culto que fosse, ele ainda não fazia idéia de onde podia se esconder o inimigo nem de quem podia ser, e isso o irritava muito. Que tipo de covarde atacaria para se esconder em seguida? A resposta em que pensou deixou Geoffrey com a cabeça latejando, porque ele se lembrava muito bem das táticas que o pai de Elene havia usado contra o Lobo. Recusando-se a seguir aquele linha de pensamento, perguntou-se se por acaso Montgomery ou Serle não estavam pondo em prática o que haviam aprendido com Fitzhugh. Teriam eles realmente deixado as terras do feudo ou estaria um daqueles cretinos bem diante do nariz dele?

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Com saudade, Geoffrey pensou em Wessex e em Campion, mas não fugiria de um cretino, por mais que a esposa dele estivesse sofrendo. Não admitiria diante dos irmãos que não era capaz de agarrar um vilão solitário. Outra vez Geoffrey suspirou. Era verão e ele queria passar mais dias românticos com a esposa, sozinho com ela na campina, mas aquele breve interlúdio parecia ter acontecido há uma eternidade. Onde estava Elene? Enquanto agradecia ao servo que punha uma bandeja diante dele, Geoffrey reparou que ela não estava por perto. Para evitar especulações, ele havia pedido que ela fizesse sempre as refeições no salão, mas Elene estava atrasada. Outra vez. Bem, a comida estava ali e ele não pretendia subir a escada à procura dela… certamente seguido pelos dois anjos da guarda. Resolvendo não esperar, Geoffrey pegou a faca e cortou um suculento pedaço de carne, apenas para ser retido pela voz baixa de Talebot. — Deixe-me experimentar antes, meu lorde. A comida pode estar envenenada. Geoffrey voltou-se e olhou para o homem, muito surpreso. A primeira reação dele foi rir, mas logo viu medo nos olhos do cavaleiro, além de disposição para o sacrifício. O homem estava disposto a comer uma coisa que achava poder matá-lo, e merecia respeito por isso, embora ele não desse crédito à suspeita. Sem saber como lidar com a situação, Geoffrey hesitou por alguns instantes. Depois inclinou-se e jogou o pedaço de carne para um dos cachorros que circulavam pelo salão. Exatamente naquele momento, quando estava abaixado, sentiu um estranho deslocamento de ar em cima da cabeça, logo seguido por um barulho seco. — Meu lorde! Veio lá de cima, Talebot! A voz que gritava era a de Malcolm. Logo depois Geoffrey foi jogando ao chão, impelido pelo corpo pesado do cavaleiro. Depois de se soltar, com um resmungo enraivecido, olhou para a cadeira e arregalou os olhos. Uma flecha preta estava cravada no encosto do assento, bem na altura de onde estava o peito dele. — Não toquem nela! — gritou Malcolm para a multidão que se formou em volta da mesa, embora ninguém ali parecesse disposto a chegar perto da flecha. — A ponta está envenenada. A palavra logo ecoou no salão, juntamente com a acusação de bruxaria, e Geoffrey sentiu o pânico se espalhando como uma doença contagiosa. Abriu a boca para se pronunciar contra aquilo, mas também sentiu um estremecimento ao olhar para a flecha cravada no lugar onde ele tinha estado. Não era uma arma simples, mas sim algo feito por alguém muito perverso. Quem? Geoffrey calculou a trajetória da flecha pela posição em que estava cravada na madeira e concluiu que ela havia partido do compartimento de vigia, localizado perto do teto abobadado. Elene dizia que o pai dela costumava usar aquele lugar para vigiar os hóspedes, mas quem mais poderia ter conhecimento daquele espaço, que ficava no fim do corredor do primeiro andar? Um dos antigos cavaleiros de Fitzhugh? O arqueiro precisaria ter muita habilidade para atingir o alvo de uma distância tão grande. Vozes de elevaram e Geoffrey se voltou para o lado da escada. Talebot, que havia corrido na direção do arqueiro, agora retornava, e não estava sozinho. Aparentemente o cavaleiro de Dunstan havia chegado ao compartimento secreto a tempo de agarrar o criminoso. Finalmente! Geoffrey aprumou-se, pronto para encarar o inimigo. Tão rapidamente quanto havia subido, porém, o ânimo dele desabou. Ao ver um tecido amarelo, Geoffrey adivinhou quem Talebot estava arrastando. E logo ele ouviu os comentários das pessoas presentes, que também reconheciam quem o cavaleiro havia aprisionado. Era Elene. CAPÍTULO XVII Ela podia tê-lo matado. Embora ele a houvesse perseguido de espada em punho enquanto ela corria para a escada, Elene podia ter enfiado a faca na barriga do homem antes mesmo que ele tivesse tempo para piscar. Era mais rápida do que aqueles cavaleiros grandalhões e teria a vantagem de estar na parte mais alta da escada. Mas havia reconhecido o sujeito como um dos guarda-costas de Geoffrey, o que se chamava Talebot, preferindo não fazer nada ao ser agarrada pelo braço e arrastada para o salão. Achando que aquele tratamento grosseiro se devia a algo mais que um simples atraso para o jantar, quase entrou em pânico quando viu o que se passava no salão. A princípio só conseguia ver a cadeira de Geoffrey, em cujo encosto estava cravada uma flecha preta. Depois viu o próprio Geoffrey, não muito longe da cadeira, ileso. Então cambaleou, enfraquecida por um alívio tão grande que quase ficou sem força nas pernas. Geoffrey estava bem. Para Elene só isso importava, mas era impossível ignorar os murmúrios que se erguiam à volta dela. — Bruxa! — diziam as pessoas, os rostos se desviando para não encará-la. Elene teria rido daquilo, mas logo percebeu porque o homem de Geoffrey apertava tão rudemente o braço dela. Então sentiu uma amargura tão grande que até a morte seria preferível. Talebot empurrou-a para a frente, com rudeza, como se ela pudesse contaminar os dedos dele, e Elene pensou em dar uma rasteira nele ou apunhalá-lo, mas sentia o peito tão apertado que mal podia respirar. O silêncio caiu sobre o salão quando eles pararam na frente de Geoffrey. Agora esquecida do homem que tinha às costas, Elene só pensava no que estava diante dela, embora tivesse medo de olhar para ele. — Solte-a — disse Geoffrey.

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Hesitante, Elene olhou de relance para ele e sentiu um mal-estar ao ver a expressão dura do marido. A muito custo conseguiu superar o embrulho que sentia no estômago. Não podia vomitar ali, humilhando-se diante de todas aquelas pessoas. Como se quisesse ficar longe dela, Talebot empurrou-a novamente. — Ela estava lá em cima — disse. — E comenta-se que é muito habilidosa com armas — acrescentou Malcolm. O outro cavaleiro vindo de Wessex olhava para ela com um mal disfarçado medo, mas Elene não tinha energia para encará-lo. Bem, isso não importava. Nada mais importava. — É, sim — disse o cretino Kenelm, um dos antigos cavaleiros do pai dela. — Eu a vi atingindo um alvo que nenhum homem conseguiria acertar, usando o próprio arco, feito por encomenda. Dito isso o homem mostrou um sorriso afetado e Elene olhou para ele, sem piscar, até fazê-lo desviar o rosto, constrangido. Pelo menos era bom ter alguma coisa para olhar, porque ela não conseguiria sustentar o olhar de Geoffrey. Ainda não. Talvez nunca mais. Ela ainda estava armada, mas mantinha as mãos na frente do corpo, uma apertando a outra, até que as juntas ficaram sem cor. Havia muita gente no salão, os servos da cozinha se juntando às pessoas que tinham ido jantar. Todos se mexiam sem sair do lugar, como moscas presas no mel. E, como moscas, zumbiam, ansiosos para ver a desgraça dela, até que o próprio ar pareceu vibrar com a tensão. Finalmente Elene sentiu que não podia esperar mais. Morreria se visse o mesmo ar de acusação no rosto de Geoffrey, mas era melhor que isso acontecesse logo do que continuar naquele tormento. Respirando fundo ela ergueu a cabeça, mas a atenção do marido estava em Kenelm. Apoiando as duas mãos na mesa ele se inclinou para o lado do cavaleiro, que estava com os outros que haviam lutado com o pai dela. — Quem mais poderia ter disparado a flecha? — perguntou. Um murmúrio se espalhou pelo salão, além de alguns protestos pronunciados em voz alta quando as pessoas perceberam que Geoffrey ainda queria descobrir quem tinha sido o arqueiro. E Elene, que raciocinava um pouco mais rapidamente, soltou a respiração, que havia contido, o alívio a deixando outra vez fraca. Emitindo um estranho gemido ela se sentiu cambalear. Teria caído se Geoffrey não se adiantasse, com uma expressão de ansiedade. Imediatamente ele pôs a duas mãos na cintura dela, numa carinhosa ajuda, mas mesmo assim Elene queria cair, tombar no chão aos pés dele. Com os olhos cheios de lágrimas, ergueu a mão para o marido… o sábio e maravilhoso Geoffrey, que havia ignorado as acusações contra ela, como se simplesmente não as tivesse ouvido. Subitamente Elene sentiu-se engasgada e o rosto de Geoffrey pareceu enevoado, ao mesmo tempo que uma umidade quente escorria pelas faces dela. Então ela ergueu a mão para o rosto para sentir aquilo, algo que não soube explicar de pronto. — Minha esposa não está se sentindo bem — disse Geoffrey. Logo depois Elene viu tudo girando quando ele a tomou nos braços. Sentia frio, como se estivesse com febre, e era bom apoiar o rosto naquele ombro quente. Os cavaleiros de Wessex protestaram, mas Geoffrey não deu atenção a eles e marchou para a escada, parecendo nem sentir o peso dela. Uma vez no quarto, fechou a porta e a pôs no chão. — Você está bem? — perguntou. — Consegue ficar de pé? Elene assentiu, mas outro som esquisito saiu da garganta dela, agora seguido por outros numa sucessão incontrolável. Geoffrey sacudiu a cabeça, parecendo desesperado. — Perdoe-me, Elene! Eu não devia ter deixado Talebot tocar em você, mas estava pensando na flecha e… Elene tentou sorrir, mas os músculos do rosto dela estavam ocupados em outra coisa. Geoffrey movia as mãos nervosamente pelos braços dela, como se não soubesse onde deveria tocá-la. — Você pensou que eu estava ferido? Oh, Deus! Eu nem me preocupei com o que você poderia ver! Sou mesmo um cretino, não sirvo para ser seu marido! Ao ouvir aquelas palavras, tão absurdas, Elene sentiu vontade de rir, porque era ela quem não o merecia. Abriu a boca para protestar, mas só emitiu descontrolados soluços. Logo depois caiu de joelhos diante dele, abraçando-o nas pernas. Não merecia aquele homem, aquele grande e maravilhoso homem que, mesmo diante de uma forte evidência, não acreditava que ela podia ser culpada de bruxaria ou de algum ato contra ele. Aquela fé era uma coisa que ela não conseguia entender, mas recebia com muita emoção, porque era a coisa mais preciosa que já tinha tido em toda a dura vida. Meio tonta, Elene sentiu as mãos de Geoffrey, que se abaixou diante dela, e ouviu vagamente as perguntas que ele fazia, numa voz tão branda quanto preocupada. O barulho que ela própria fazia, porém, não a deixava entender. Não saberia dizer se já havia chorado alguma vez, mas era bom isso finalmente estar acontecendo, como se a própria alma estivesse sendo lavada pelas lágrimas. Geoffrey sacudiu-a de leve, o alarme claramente estampado no semblante, e Elene sentiu que precisava responder, pelo menos para aliviar os temores dele. — Eu… estou chorando! — conseguiu dizer, tocando no rosto molhado como se quisesse dar uma demonstração. — Sim, mas por quê? — perguntou Geoffrey, com as mãos nos ombros dela. Finalmente controlando os soluços, Elene fungou e reencontrou a voz. — Você não suspeitou de mim — disse, numa voz muito baixa. Geoffrey pareceu tão pasmado que ela outra vez sentiu vontade de rir. — É claro que não suspeitei de você — ele declarou, erguendo as sobrancelhas. — Deveria?

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Por alguns instantes Elene ficou apenas olhando para ele. Sentia-se quase esmagada pelo que sentia por aquele homem tão corajoso, belo, generoso, inteligente e que acreditava tanto nela. Eram sentimentos que a inundavam, tomando o lugar das lágrimas, enchendo-a de alegria, espanto e paixão, até que ela não pôde mais contê-los. — Eu te amo, Geoffrey — declarou. Quando ouviu o som calmo da respiração de Elene, Geoffrey relaxou. Nunca a tinha visto daquele jeito, tão vulnerável e… humana. Rogando uma praga em silêncio, jurou que desmascararia o inimigo o mais rapidamente possível, porque não queria ver Elene perturbada daquele jeito. Afinal de contas, ela o amava. Ela o amava. Geoffrey sentiu uma onda de orgulho masculino quando pensou naquilo, porque não era o que sempre havia querido, amar e ser amado? Ao mesmo tempo experimentava um preocupante sentimento de culpa, porque não estava certo do que sentia por Elene. Naturalmente ela era a mais instável deles dois, e portanto a mais sujeita a emoções profundas. Era espantoso. Nem mesmo ele havia imaginado as paixões que Elene tinha guardadas dentro de si! O simples pensamento deixou-o com o corpo agitado e, a contragosto, Geoffrey se afastou do imóvel corpo da esposa. Bem, havia algumas coisas para serem resolvidas ainda naquele noite. Saindo silenciosamente da cama, Geoffrey vestiuse e retirou-se do quarto. Como havia imaginado, Talebot e Malcolm estavam de guarda no alto da escada e ele fez um gesto chamando os cavaleiros. Ainda havia uma tocha acesa no corredor e Geoffrey encaminhou-se para o antigo quarto de Elene, agora desocupado. Não queria ficar muito longe da esposa, mas precisava falar em particuiar com os homens de Dunstan. Talebot e Malcolm entraram atrás dele e Geoffrey fechou a porta antes de se voltar para os dois cavaleiros. Os homens ficaram olhando enquanto ele se encostava na parede para estudá-los, como um professor diante de seus piores alunos. — Espero que vocês tenham pensado muito bem sobre o que fizeram hoje — disse, com naturalidade. Quando os dois homens fizeram menção de falar ao mesmo tempo, ele os calou com um olhar duro. — Porque, enquanto prendiam a minha esposa, o verdadeiro criminoso indubitavelmente escapou. Com toda facilidade. — Mas meu lorde… — começou Talebot. — Não — cortou Geoffrey. — Não me venham com desculpas. Vocês não se mostraram melhores do que um camponês ignorante que guarda uma pedra de coral achando que ela o protegerá contra bruxaria! — Fazendo uma pausa ele respirou fundo, tentando dominar a raiva, e olhou novamente para os dois homens. — Vamos examinar a questão logicamente — disse, numa voz cansada. — Você encontrou Elene no compartimento de vigia? A pergunta foi dirigida a Talebot. — Não, eu… — Então foi no corredor. — Não exatamente — disse Talebot, parecendo vexado. — Então onde? — perguntou Geoffrey, com secura. — Exatamente. — Ela estava descendo apressadamente a escada, como se quisesse fugir. — Ou como se estivesse descendo para o jantar — sugeriu Geoffrey, depois de suspirar. — E onde estava o arco dela? Talebot teve a bondade de parecer pouco à vontade. — Eu procurei por ali depois que o senhor se retirou do salão, mas não encontrei nada — reconheceu. — Mas talvez ele esteja aqui, ou no quarto principal, porque eu achei que não devia entrar enquanto o senhor estava… bem… lá dentro. Geoffrey ignorou a esfarrapada explicação do cavaleiro. — Então ela disparou a flecha, acertando bem no alvo, saiu do compartimento de vigia, correu até um desses quartos, escondeu o arco e ainda conseguiu chegar à escada para se encontrar com você lá? — perguntou, com as sobrancelhas erguidas. Talebot franziu a testa e mexeu-se de um lado para outro, mas Malcolm pareceu achar absurda a pergunta de Geoffrey. — É sabido que as bruxas sabem voar — argumentou. Geoffrey apenas olhou para ele. — Se chamar outra vez minha esposa de bruxa, Malcolm, eu o matarei — prometeu, com tranqüilidade na voz. Depois esfregou os olhos, sentindo que a paciência se esgotava. Por que não conseguia fazer com que aqueles dois entendessem o que estava se passando ali? — O desgraçado que é responsável por isso está se aproveitando da ignorância de vocês! — despachou. — Utilizando-se disso, destrói tudo o que eu consegui com essa gente e desfaz as alianças estabelecidas pelo meu casamento… tudo isso com um pouco de piche e algumas penas. Talebot, que tinha estado por um bom tempo olhando para o chão, subitamente ergueu a cabeça e Geoffrey perguntou-se se finalmente havia conseguido convencer o homem. Quanto a Malcolm, obviamente era um caso perdido. — Talvez não seja só isso, meu lorde — sugeriu Talebot. — É possível que alguém esteja querendo incriminar sua esposa. Ao ouvir aquilo, Geoffrey mostrou-se surpreso e bateu com a palma da mão na testa, querendo dar a entender que se recriminava por nunca ter pensado na possibilidade. — Mas é claro! Belo raciocínio, Talebot — disse, batendo no ombro do cavaleiro. Logo depois fez uma careta. — Bem, agora só precisamos descobrir qual dos inimigos de Elene é o responsável. Enquanto Talebot se mostrava satisfeito com o elogio, Malcolm coçou o queixo. — Ela tem muitos? — perguntou, inocentemente. Apesar da tensão, Geoffrey riu durante um bom tempo, tanto que até sentiu os olhos úmidos.

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Era melhor não contar nada a ela. Depois que os cavaleiros de Dunstan se retiraram, Geoffrey retornou ao quarto principal, onde encontrou a esposa dormindo pacificamente. Enquanto ficou olhando para ela, admirando as belas feições e a curvatura das sobrancelhas, concluiu que não deveria acordá-la para contar que finalmente havia convencido os cavaleiros de Dunstan, os únicos em que podia confiar. Talvez agora as investigações dessem resultado. Elene tinha sido muito perturbada pelos eventos recentes e não precisava se preocupar também com o fato de que alguém tentava deliberadamente fazê-la passar por bruxa. Pelo menos não mais que o necessário. Geoffrey franziu a testa, pensando naquilo. Já tinha ouvido falar de mulheres que eram queimadas em fogueiras ou enterradas vivas, acusadas de bruxaria, quando não faziam nada além de curar doenças ou envelhecer. Então ele sentiu um frio na espinha. Havia jurado proteger a esposa, mas era apenas um homem, enquanto uma multidão enfurecida podia muito bem derrubar da montaria os cavaleiros que tentassem subjugá-la. E não era só a crescente aversão que se espalhava pelo povo dele que o preocupava. A flecha daquela noite havia passado muito perto, perto demais, e ele precisava pensar na possibilidade de no dia seguinte o inimigo não errar. Girando nos calcanhares, Geoffrey afastou-se da cama. Não queria nem pensar no que poderia acontecer com Elene se ele morresse. Outra vez sozinha, ela teria que enfrentar as acusações de pessoas antecipadamente prontas a condená-la. Ele não podia confiar nos cavaleiros de Dunstan para protegê-la, enquanto o irmão dele… Geoffrey quase soltou um gemido quando pensou em outra dura verdade. A violência da aldeia inteira não seria nada se comparada com o que Lobo faria. Com uma pressa nascida do medo, Geoffrey acendeu outra vela e pegou no armário um rolo de pergaminho, o vidro de tinta e a pena de escrever. Um homem prudente sabia quando devia agir sozinho e quando devia pedir ajuda ou conselho. E ele se achava prudente. Não cometeria o mesmo erro de Dunstan, dispensando toda ajuda em nome do orgulho. A ameaça era simplesmente grande demais. Sem se importar com o adiantado da hora, Geoffrey abriu o pergaminho, molhou a pena na tinta e começou a escrever para o pai, a princípio vacilante, depois referindo-se abertamente às preocupações que tinha e ao perigo que Elene estava correndo, porque, acima de tudo, queria protegê-la. Quando terminou a carta começou uma outra, menor e menos eloqüente, que seria remetida a Wessex. Tão concentrado estava que demorou a perceber que Elene havia acordado e agora estava debruçada por cima do ombro dele, os longos cabelos caindo até os joelhos, um pouco além dos quais ia a camisa de baixo. Depois de murmurar uma saudação ele pôs de lado os objetos de escrita. Não havia necessidade de esconder as cartas, já que ela não sabia ler, pensou Geoffrey, logo enrubescendo por ter feito aquela observação cruel, embora só para si. Então levantou-se, um pouco desajeitado, sentindo alguma tensão entre eles, mas sem saber se era apenas impressão. Elene caminhou até a janela e ficou olhando para a escuridão. Geoffrey admirou a postura firme dela, achando difícil acreditar que quem estava ali era a mesma mulher que, algum tempo antes, havia caído aos pés dele declarando amá-lo. Mesmo assim havia uma nova delicadeza nela, uma melancolia que ele ainda não tinha visto, mas que a tornava ainda mais bela e intrigante. Poderia existir uma mulher mais interessante? Geoffrey ficou com pena dos homens casados com mulheres comuns e sentiu o coração palpitando. Ela me ama. Elene se voltou para ele naquele exato momento, estendendo as mãos num gesto desesperado, algo bem diferente de seus modos bruscos. — Veja só o que você fez comigo — murmurou. — Agora estou fraca, igual a uma criancinha chorona. — Não — discordou Geoffrey, aproximando-se dela. — Você não é fraca. — Quando chegou perto, ele ergueu as mãos e colocou-as na face dela. Elene parecia menos feroz, mais suave, talvez, mas não enfraquecida. — Você é a pessoa mais forte que eu já conheci… mais forte do que qualquer dos meus irmãos. Elene dirigiu a ele um olhar de incredulidade, mas Geoffrey persistiu. — Garotos mimados, cheios de vontades, isso é o que todos eles são. E era verdade. Os de Burgh haviam nascido com todos os privilégios, crescendo sob a orientação atenta de um pai justo e sábio, enquanto Elene… Geoffrey apertou os ombros dela, sentindo uma urgente necessidade de convencê-la de que era uma mulher destemida e de muito valor. — Ninguém teria conseguido o que você conseguiu, uma mulher sozinha, sem ninguém para ajudá-la. Você sobreviveu, Elene! Triunfou! Geoffrey percebeu a ênfase com que falava e procurou abaixar o tom de voz, pondo no olhar a admiração que sentia pela esposa. — Só porque agora você pode contar comigo, isso não a torna menos forte — disse, com brandura. Emitindo um daqueles sons que pareciam tão pouco de acordo com a natureza dela, Elene escondeu o rosto no ombro dele e Geoffrey a abraçou. Encostando o queixo na cabeça dela, procurou ignorar o leve sentimento de culpa. Havia deixado de dizer muitas coisas. Como eu te amo. Desde a declaração de Elene, vinha sentindo um certo constrangimento por não poder retribuir à sincera confissão dela. Ainda estava inseguro, hesitando para dizer as palavras, porque Elene era diferente demais da esposa com que ele havia sonhado. E se sentia um tratante por pensar aquelas coisas. Estava sendo fiel aos próprios princípios ou se deixava influenciar por opiniões alheias? A lembrança do riso dos irmãos outra vez o atormentou, agora que ele havia feito daquele um casamento de verdade.

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Geoffrey suspirou. De alguma forma, havia pensado que o amor seria uma sensação tão gloriosa e envolvente que não deixaria espaço para dúvidas ou preocupações, existindo somente a mais pura e doce bem-aventurança. Mas lembrava-se de Dunstan bancando o idiota, teimosamente ignorando o que sentia por Marion. Por acaso ele também estava agindo como um cego? Apertando um pouco mais o corpo da esposa, Geoffrey afagou os cabelos dela e sentiu uma agitação pelo corpo. Elene obviamente gostou daquilo, porque logo em seguida ele sentiu no ombro os dentes dela por cima da túnica, mordendo-o de leve. Soltando um gemido, Geoffrey passeou as mãos pelas deliciosas curvas do corpo dela, trocando a confusão pela paixão que existia entre eles. Essa, pelo menos, era uma coisa sobre a qual ele não tinha dúvidas. Alguma coisa não estava certa. Geoffrey correu os olhos pelo horizonte, mas só viu um céu escurecido. Uma semana de muito calor havia secado o chão enlameado, mas a chuva retornava. E ele achava isso bom, não só porque os campos semeados precisavam de água, como também porque terminaria aquele calor insuportável. Se ao menos a tensão que existia à volta dele também pudesse ser eliminada assim, de uma hora para outra… Embora não tivesse havido nenhum outro atentado contra a vida dele nem misteriosas ameaças, Geoffrey não acreditava que o perigo havia passado. Na verdade, tinha a nítida sensação de que um novo ataque era tão iminente quanto a tempestade. Então suspirou. Homem letrado, não dava importância a tolices como ter confiança nos instintos, mas desde que havia chegado ao feudo havia aprendido a dar mais crédito a certas coisas intangíveis. Chegava mesmo a pensar que a própria vida podia depender delas. Estranhamente, enquanto Elene se tornava menos feroz, ele seguia em sentido contrário, sendo tão tenaz quanto o Lobo na proteção da propriedade e da esposa. Depois de verificar o conserto do telhado de várias choupanas, Geoffrey havia resolvido percorrer a aldeia e as terras do feudo, pretendendo fazer a presença dele sentida, o que serviria tanto de ânimo quanto de advertência aos aldeãos. Não havia pensado em voltar ao castelo antes do jantar, mas aquela estranha preocupação o atormentava. Depois de saudar um grupo de agricultores que trabalhavam ali perto, virou o cavalo e olhou para o castelo, ao longe, mas não viu nenhum exército cercando o lugar, nenhuma fumaça que indicasse um incêndio, nada. Mesmo assim a sensação permanecia, incentivando-o a voltar. Embora não visse nenhum motivo razoável para isso, sentia a necessidade de constatar pessoalmente que tudo estava em ordem. Assim sendo esporeou o cavalo, sem esperar para ver se os cavaleiros de Dunstan o seguiriam. Atravessando o pátio a galope, Geoffrey viu que assustava os servos que cuidavam de suas tarefas ali. Mesmo assim não diminuiu a velocidade do animal, só parando na frente da estrebaria, onde desmontou rapidamente e jogou as rédeas para o assustado cavalariço. No salão, embora não encontrasse nada de anormal, sentiu que a ansiedade persistia. Só podia estar imaginando coisas, ou enlouquecendo, como Elene sempre dizia. Elene. Subitamente Geoffrey quis vê-la, saber que ela estava bem e era realmente a esposa dele. Apesar da crescente intimidade, uma certa distância continuava existindo entre eles, a não ser nos apaixonados encontros noturnos. E Geoffrey se sentia culpado por essa barreira, sabendo que ainda não podia entregar o coração enquanto ela já havia entregue o dela sem reservas. Ah, ele pensava demais! Era isso o que Elene tinha dito na noite anterior, quando ele havia pressionado a testa por causa de uma dor de cabeça que começava a sentir. E então, a antes famigerada Fitzhugh havia se ocupado em massagear-lhe a cabeça até fazê-lo dormir, com dedos tão firmes quanto cuidadosos, murmurando palavras de conforto, embora às vezes ralhasse com ele. Geoffrey correu para a escada, impelido por um misto de ansiedade e inquietação. O desconforto foi duplicado quando ele encontrou o quarto vazio, embora soubesse que Elene devia estar em algum outro lugar. Procurando se controlar, girou o corpo e marchou para a porta, apenas para ficar paralisado com o que viu. O reboco liso da parede estava manchado de preto, como se alguém houvesse passado ali um carvão… ou uma flecha mergulhada em piche. Com a respiração contida, Geoffrey viu que aqueles rabiscos formavam uma mensagem dirigida a ele. Fora, de Burgh. Se você não vai embora, então eu vou. A mensagem estava escrita em grandes e trêmulas letras e a assinatura era E. Fitzhugh. Geoffrey juntou as sobrancelhas e aproximou-se. Embora a assinatura fosse parecida com os garranchos infantis com que Elene havia assinado os documentos do casamento, ele sabia muito bem que ela não saberia escrever as outras palavras. Estava indo bem nas lições, mas ainda praticava as letras. E a assinatura. Na verdade, no dia anterior mesmo ele havia reparado a dificuldade com que ela escrevia o próprio nome: Elene de Burgh. Não Fitzhugh. Soltando o que era quase um rugido, Geoffrey amaldiçoou aquele embuste e saiu correndo do quarto, como um louco. O desconhecido inimigo finalmente havia atacado, levando uma coisa mais cara a ele do que a propriedade ou a vida. A esposa dele estava desaparecida. CAPÍTULO XVIII

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Geoffrey ignorou os primeiros pingos de chuva que caíram. Não importava o quanto o céu estava escuro, teria tempo de sobra para encontrar Elene antes do anoitecer. Quem a tinha levado não podia estar longe, embora ninguém se lembrasse de ter visto a lady deixando o castelo com alguém. Ele havia despachado cavaleiros em várias direções, esperando encontrar rastros, mas o terreno estava tão seco que não guardava marcas. Uma hora mais tarde Talebot gritou dizendo que eles deviam voltar. A chuva caía aos borbotões, soprada pelo vento, e obscurecia a visão, mas ele queria prosseguir, desesperado para encontrar algum sinal da esposa. — Não estamos conseguindo ver nada! — insistiu o cavaleiro de Dunstan. Geoffrey balançou a cabeça enquanto uma rajada de vento fazia o cavalo dele recuar. Então virou o animal para o oeste, recusando-se a interromper as buscas. Não conseguia pensar em nada que não fosse Elene, a razão deixando-o por causa da urgência, o coração passando a conduzi-lo. Era como se estivesse possuído por uma loucura passageira que só iria embora quando Elene fosse encontrada. E ele não podia parar para pensar no motivo daquela insanidade. Ignorando os protestos de Talebot, Geoffrey fez com que o cansado animal seguisse adiante, apenas para parar quando ouviu um som trazido pelo vento. Olhando para o cume de uma baixa colina, ouviu novamente o som, misturado com o barulho da chuva. Então viu vultos contornando o sopé da colina. Imediatamente arrancou a espada da bainha e esporeou o cavalo. Como um demônio, Geoffrey disparou na direção dos homens montados, embora logo ficasse claro que ele e Talebot seriam largamente superados em número. Logo atrás o cavaleiro gritou o que parecia ser uma advertência, mas ele não entendeu as palavras nem fez questão disso. Lá adiante seis ou sete cavaleiros entraram em forma para enfrentá-lo, mas mesmo assim ele prosseguiu na cavalgada. Não queria saber quantos havia. Se aqueles homens estavam com Elene, morreriam todos. — Parem em nome dos de Burgh, a quem estas e outras terras pertencem — ordenou, correndo como uma flecha para o centro do grupo. Para espanto dele, o que parecia ser o líder daqueles homens, um cavaleiro de formidável tamanho, adiantou-se para gritar. — Geoff? Geoffrey arregalou os olhos ao ver um rosto conhecido. E outro. E mais outro. Depois de sacudir a cabeça para clarear a mente, apertou os olhos. — Dunstan? — chamou, achando que havia enlouquecido mesmo. Depois que o Lobo respondeu com um resmungo ele olhou para os outros e os reconheceu. — Robin? Nicholas? Embora a voz dele agora estivesse trêmula e baixa, Geoffrey logo teve resposta. — Sim, somos nós, Geoff — disseram os irmãos dele. — Estávamos a caminho do seu castelo quando o dilúvio desabou — relatou o Lobo, erguendo o braço para o enraivecido céu. — Mas que diabo você está fazendo na chuva? Agora sentindo um impotente desespero, Geoffrey juntou-se aos irmãos na cavalgada até o castelo. O Lobo estava ansioso para sair da chuva e ele mal podia se explicar coerentemente naquele lamaçal. Uma vez no castelo, recusou-se a trocar as roupas encharcadas ou a fazer qualquer coisa além de desabar numa cadeira do salão. A presença dos irmãos não significava nada para ele. A única pessoa que queria ver era Elene. Alheio ao cobertor que alguém passou por cima dos ombros dele, Geoffrey afundou a cabeça nas mãos, o desespero caindo sobre ele com mais intensidade do que havia caído a chuva. A tarde ia passando e ele não estava mais perto de encontrar a esposa do que tinha estado horas antes. E se ela tivesse sido levada há muitas horas, já tendo ultrapassado a fronteira do feudo? Onde estaria Elene quando a noite caísse? A lembrança da esposa contando como tinha sido estuprada deixou Geoffrey com o estômago embrulhado. Quem estava com ela? Alguém como Avery? Geoffrey encolheu-se quando pensou em Montgomery, um sujeito grande e abrutalhado. Sentia-se arrasado, fraco e totalmente alheio aos irmãos, que circulavam por ali, inquietos, enquanto Dunstan conversava com Talebot e Malcolm. — Geoff? Ao ouvir a voz grave do Lobo, Geoffrey ergueu a cabeça, relutante. Então olhou para o homem que era o suserano e irmão mais velho dele. Os outros irmãos estavam logo atrás, parecendo ter medo de se aproximar, mas ele não dava importância ao que eles pudessem pensar. Só dava importância à esposa. — Vim tão logo recebi a sua carta — disse Dunstan, em seu jeito de falar enrolado. — Robin e Nicholas estavam nos visitando e eu também os trouxe. Eles podem ajudar. — Nada pode ajudar — murmurou Geoffrey, com abatimento, fazendo um gesto para o lado da janela. — Olhe para fora. Todos os rastros foram apagados, se é que havia algum. Ela desapareceu. Eu fracassei com ela, Dunstan. Fracassei. A última palavra ele disse com a voz entrecortada. E havia se considerado invencível, achando que poderia usar a inteligência para superar qualquer dificuldade. Agora sabia que não era assim. E a verdade doía. — Um de Burgh nunca fracassa! — declarou Dunstan, com veemência. Fazendo uma pausa, como se quisesse se controlar, o Lobo olhou para o lado. Depois inclinou-se para falar num tom mais baixo. Embora Dunstan houvesse dispensado os curiosos servos, não era possível ter muita privacidade no salão.

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— Tem certeza de que alguém a levou? — perguntou o Lobo, pouco à vontade. — Ela não é exatamente do… bem… do tipo que se deixa dominar facilmente. Em outras circunstâncias Geoffrey teria se divertido com a tentativa do irmão de ser diplomático, mas estava abatido demais para apreciar tais amabilidades. — Sim, ela foi levada — confirmou, em voz baixa. — Você pode ir até o quarto principal para ver com seus próprios olhos. — Diante do olhar curioso de Dunstan, Geoffrey ergueu a mão e retirou algumas gotas de chuva do rosto. — Há uma mensagem escrita na parede, mas não pode ter sido escrita por Elene. — Fazendo uma pausa, aprumou-se no assento. — Ela não sabe ler nem escrever. Sem perceber, Geoffrey havia ficado com os músculos tensos, esperando a reação do irmão, mas nada aconteceu. O Lobo apenas olhou para a escada e, fazendo um gesto para que Robin e Nicholas o seguissem, marchou para lá, certamente querendo ver a evidência com os próprios olhos. E nesse momento Geoffrey percebeu que havia fracassado com Elene em mais de um aspecto. Dunstan não dava importância ao fato de que ela era analfabeta. Sem dúvida considerava aquilo uma coisa menor em comparação aos muitos outros defeitos dela. Geoffrey sentiu raiva do irmão. Elene podia ser ríspida, muitas vezes grosseira, pouco indicada para se casar com um de Burgh. Podia não vestir roupas elegantes nem pentear os cabelos de acordo com os ditames da moda. Podia também ser mais habilidosa com armas do que com as artes domésticas. No entanto, era uma mulher que havia sobrevivido a uma vida inteira de sofrimentos e injustiças. Acima de tudo, tinha tido a grandeza de confessar amor por um homem que antes considerava inimigo. Geoffrey estava outra vez com a cabeça nas mãos, refletindo sobre a própria miséria, quando os irmãos dele retornaram. — Geoff? — disse Dunstan, pigarreando. — Eu vi a mensagem, mas será que ela não… pediu a alguém para escrevê-la? Vagarosamente Geoffrey ergueu a cabeça. — Não — disse, com cansaço na voz. — Ninguém mais tinha conhecimento de que ela não sabia ler nem escrever. Elene enganou todos sobre isso durante anos. Assim como escondeu de todos a sua verdadeira natureza. — Sei… — murmurou Dunstan, como se estivesse procurando assimilar a informação. O Lobo não era conhecido por ser um sábio, mas havia uma coisa que sabia entender melhor do que qualquer um dos outros de Burgh. Geoffrey ergueu a cabeça e enfrentou o olhar inquisidor do irmão. — Eu a amo, Dunstan — declarou. O Lobo fez uma leve careta mas, para eterna gratidão de Geoffrey, não o censurou por aquilo. Apenas respirou fundo e assentiu. — Bem, se você a ama, Geoff, para mim está perfeito. Como se nada mais precisasse ser dito, Dunstan afastou-se e foi se juntar a Robin e Nicholas, dando tempo a Geoffrey para se recompor. Animado por aquele pequeno gesto de compreensão, por aquela aceitação sem reservas, Geoffrey levantouse. Logo depois ouviu um grito de Dunstan. — Olhe, Geoff! A chuva está parando. Vamos sair de novo. Eu trouxe seis homens comigo, além de Robin e Nicholas. Se nos distribuirmos… O estrategista estava em ação e Geoffrey soltou um demorado e sofrido suspiro enquanto a energia de Dunstan enchia o salão. O Lobo sempre havia parecido o maior e o mais destemido dos de Burgh. Além de musculoso e poderoso, era temperado em batalhas que os outros nunca tinham visto. Certamente conhecia mais sobre inimigos do que todos os irmãos, e talvez pudesse fazer o que ninguém mais podia. Talvez pudesse encontrar Elene. Antes muito abatido, Geoffrey ganhou novo ânimo. E percebeu que tinha sido uma idiotice dar pouca importância à chegada dos irmãos. A fortaleza encontrada na família, nos laços de sangue e de afeição não podia ser desprezada. Eles não haviam derrotado o próprio Fitzhugh? Agora talvez salvassem a filha dele. — Muito bem — disse Geoffrey, retirando o cobertor dos ombros e jogando-o de lado. — Vou arranjar cavalos descansados para vocês, mas não temos muitas opções. — Irei com você, Geoff, já que não conheço muito bem suas terras — pronunciou-se Dunstan. — Eu conheço — disse Robin. — Já examinei demoradamente estas colinas. — Eu também — declarou Nicholas, surpreendendo os outros irmãos enquanto marchava para a porta. — Ah, conhece? — perguntou um incrédulo Robin ao irmão mais jovem. — Mas quando foi que teve essa oportunidade? Nicholas ergueu a cabeça com a arrogância típica dos de Burgh. — Não se lembra? Eu estava com você e Simon quando percorremos a cavalo toda a propriedade. Foi quando encontramos o padre. — O padre? — por um momento Geoffrey ficou atarantado, mas logo se lembrou do que havia retardado o casamento dele, obrigando-o a mandar os irmãos procurar Edred. — Sim, claro. Vocês o encontraram numa caverna — disse, distraído. — Exatamente! — exclamou Nicholas. — As cavernas! Aposto que é lá que ela está. Encontramos várias delas. Simon disse que uma delas era grande o suficiente para abrigar um grupo de cavaleiros como o que atacou Wessex sob as ordens de Fitzhugh. — Mas é claro que quem levou Elene não ficaria tão perto do castelo — protestou Geoffrey. Dunstan olhou atentamente para ele. — Não custa tentar, Geoff. É muito possível que tenham parado lá para se abrigar da chuva.

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Geoffrey sentiu uma onda de esperança. A razão mandava não esperar muito, mas já era bom o simples fato de ter um plano, um rumo a seguir. — Está certo — disse. Depois olhou para cada um dos irmãos e sorriu de gratidão. — Nicholas, mostre-nos o caminho para essas tais cavernas. E, para o caso de existir lá um exército esperando por nós, vamos todos juntos. Nicholas arrancou a espada da bainha e ergueu-a bem alto, sem se importar com o riso de Robin. — Pelos de Burgh! — bradou, logo secundado pelos irmãos. — Pelos de Burgh! O dilúvio que os havia encharcado até os ossos era agora uma chuva fina, facilmente ignorada enquanto eles atravessavam as terras do feudo na direção do riacho, transformado numa caudalosa corrente de água. Acompanhando a margem e atravessando uma sucessão de charnecas e bosques, dirigiram-se à escarpa rochosa que ficava numa das extremidades do vale, até chegar ao ponto em que as pedras alcançavam a sua altura máxima. À medida que foram chegando perto, a boca escura da caverna se tornou claramente visível e os irmãos aproximaram-se cautelosamente, embora o lugar estivesse deserto. Deixando Nicholas e Robin com os cavalos, Dunstan e Geoffrey se adiantaram, de espada em punho, e entraram no buraco que penetrava na montanha. Geoffrey apurou os ouvidos e conteve a respiração, mas não ouviu nada além da água que pingava nas profundezas. Dunstan abaixou-se e examinou o chão duro e úmido. — Ninguém esteve aqui recentemente — disse, balançando a cabeça enquanto se levantava. — Mas o lugar é grande mesmo, como disse Nicholas, e pode ter outras entradas das quais não sabemos. Podemos tentar acender uma tocha, se você quiser olhar mais lá dentro. Geoffrey sentiu um arrepio. Fazia frio no interior da pedra e ele ainda estava com as roupas molhadas. A escuridão se espalhava diante deles, como uma sombria ameaça, e ele sabia que aquela busca poderia demorar dias. Confiando nos instintos do Lobo, balançou a cabeça. — Não, vamos embora — disse, desapontado. Lá fora eles outra vez se deixaram guiar por Nicholas e chegaram ao sopé da elevação rochosa. Geoffrey suspirou. Nunca tinha explorado aqueles penhascos, já que não via utilidade no lugar, que não servia nem para pasto de cabras. Agora se recriminava pelo descuido, já que podia imaginar os túneis que deviam haver, sem dúvida excelentes esconderijos para os inimigos. — Ali — disse Nicholas, apontando. — É onde fica a caverna do padre. Estão vendo a cruz lá em cima? — Cruz? — inquiriu Geoffrey, vendo apenas duas pedras superpostas no alto da pedra. — Só para o nosso Nick — caçoou Robin. Outra vez Geoffrey e Dunstan deixaram os cavalos com os jovens de Burgh e escalaram a pé o penhasco na direção do ponto indicado por Nicholas. Se havia uma passagem, a água havia acabado com ela e eles tiveram que lidar com lodo e pedras soltas antes de alcançar o objetivo. Mas a chuva que dificultava a escalada também os ajudava, porque o barulho dos pingos disfarçava a aproximação deles, caso houvesse alguém esperando. Logo abaixo de uma enorme saliência do rochedo, exatamente como tinha dito Nicholas, eles viram a entrada da caverna, parcialmente encoberta pela vegetação típica do verão, cujas folhas evidentemente tinham sido tocadas. Com a mão na espada, Geoffrey aproximou-se para examinar mais de perto. Diferentemente da outra caverna, onde não havia nada além da escuridão, o interior daquele tinha uma sinistra luminosidade que fez Geoffrey arrancar a espada da bainha. Embora só conseguisse ver lá dentro paredes úmidas, empurrou para o lado os arbustos e entrou na caverna, com uma sensação de urgência que não conseguiria explicar. Dunstan ia logo atrás, enquanto ele seguia em frente, acompanhando a curvatura da parede, até que eles alcançaram um círculo completo. À primeira vista podia parecer que a caverna terminava ali, mas a estranha luz vinha de uma estreita abertura aos fundos, indicando que havia um outro compartimento. Depois de trocar um olhar, assentindo um para o outro, os dois irmãos foram se aproximando cuidadosamente da abertura, cada um por um lado. No silêncio praticamente total Geoffrey ouviu o irmão respirando fundo. Logo depois foi ele quem conteve a respiração diante da cena que viu. Velas acesas iluminavam o ambiente mais bizarro que ele já tinha visto. Havia panos pendurados pelas paredes e cobrindo assentos que podiam ser troncos, pedras ou mesmo bancos. Viam-se também tocos e outros refugos espalhados pelo chão desde a entrada. As velas eram tantas que o lugar estava claro como o dia, destacando-se naquilo tudo uma espécie de santuário que se erguia a um canto, aproveitando uma depressão natural. Geoffrey ficou arrepiado com o que viu. Embora fosse um homem instruído e se guiasse pela razão, um sábio que desprezava as crendices de Talebot e Malcolm, agora se perguntava se não era uma bruxa… ou coisa pior… que usava aquele altar para fazer suas artes malignas. O coração de animal deixado na cadeira dele assumiu um aspecto mais sinistro e Geoffrey sentiu uma onda de medo, rezando para que os rituais que deviam se desenvolver ali não envolvessem Elene. O difícil era prever o tipo de pessoa que eles poderiam encontrar naquele lugar. Não seria de admirar se aparecesse uma velhota corcunda ou mesmo um demônio sanguinário. Nada seria mais espantoso do que a figura de cabeça esbranquiçada que surgiu se movendo por trás de um amontoado de barris. Era Edred. Geoffrey adiantou-se, mas Dunstan o reteve, silencioamente apontando para um monte de roupas jogadas no chão de pedra, perto da entrada. Afastando os cabelos molhados, Geoffrey apertou os olhos e contraiu os músculos quando o que ele

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pensava ser um amontoado de roupas descartadas começou a tomar forma humana. Aquelas roupas vestiam um corpo e, numa das extremidades, uma massa cor de canela se espalhava pelo chão. Era Elene. E Edred levantava um punhal por cima dela. Geoffrey encolheu-se involuntariamente e conteve a respiração, que só soltou quando viu os cabelos dela se movendo. Elene estava viva, pelo menos… mas por quanto tempo ainda? Mesmo compreendendo a cautela de Dunstan, ele queria torcer com as próprias mãos o pescoço do padre. O punhal estava muito perto de Elene, enquanto eles estavam muito longe. — Água. A voz, fraca e abafada, não tinha nada a ver com a feroz mulher de antes. Geoffrey estremeceu. O que aquele louco podia ter feito com ela? Com os dentes trincados e os dedos apertando o cabo da espada, Geoffrey ficou esperando, tenso, pronto para atacar. — Ah! — grunhiu Edred. — Acordou-se, finalmente. Eu estava com medo de que você dormisse para sempre, Elene Fitzhugh. Não sou tão habilidoso com ervas quanto uma mulher, bruxa ou não. Ervas? Então ele a havia drogado? Isso explicava a apatia de Elene, mas o patife podia tê-la matado com as poções dele! Geoffrey apertou muito os dentes no esforço para ficar onde estava. — Água — repetiu Elene, num tom tão franco quanto desesperado. Geoffrey adiantou-se, apenas pare ser novamente retido pelo irmão. — Não — cochichou Dunstan ao ouvido dele, apontando para o longo punhal que brilhava na mão do padre. — Espere até que ele se afaste dela. A arma estava muito perto de Elene e balançava perigosamente. Geoffrey respirou fundo, dando-se conta de que aquela era a primeira vez em que o irmão precisava ensinar a ele a ser paciente. A chocante descoberta o obrigou a se controlar. Ao menor erro dele, Elene estaria morta. Ele não poderia viver com essa culpa. — Sim, a sede é uma conseqüência do meu preparadozinho, mas você vai ter que esperar. Está amarrada por um bom motivo, criatura má. Não vou deixar que você tenha poder sobre mim. Já é hora de desistir dessa sua falsa fortaleza, Elene Fitzhugh! Geoffrey contraiu os músculos quando Edred aproximou o punhal da garganta da esposa dele. Sentia as mãos trêmulas, querendo entrar em ação, e o peito parecia a ponto de estourar por causa das batidas do coração. — Tenho acompanhado a sua decadência desde que cheguei aqui para servir ao seu pai. Ele achava divertido ter gerado um ser tão abominável e não me daria ouvidos! — A voz de Edred agora era muito alta. — Agora você quer empregar sua arte demoníaca numa outra pessoa, contaminando-a. Eu tentei afugentá-lo, mas ele foi seduzido, enfeitiçado por você. Assim sendo, tenho que tomar as rédeas da situação. O que tem a dizer, criatura má? — Eu não sou má — murmurou Elene. — É, sim! — esbravejou Edred, e Geoffrey se encolheu quando a ponta do punhal chegou bem perto da garganta de Elene. — Que outra mulher teria coragem de rogar pragas e ameaçar os homem que se aproximam dela? Que outra gritaria com seus superiores ou mataria um valoroso cavaleiro? Elene apertou os olhos. — Eu fiz o que tinha que fazer para me salvar — disse. Ainda devia estar grogue, porque falava devagar e numa voz pastosa. — Você deve saber que eu não queria terminar como minha mãe, destruída pelo meu pai e pelos homens dele. Ela era uma mulher bondosa, e ele a matou por isso. Só respeitava quem tivesse uma maldade igual à dele. Elene passou a língua nos lábios secos e Geoffrey sentiu o coração apertado por causa do que acabava de ouvir. — Por isso eu o imitava— prosseguiu Elene, com aquele sorriso amargo tão próprio dela. — Agia com rudeza e crueldade para que ele me desse crédito. Para que todos me dessem crédito. E todos eles me deixaram em paz. Geoffrey estremeceu ao ouvir a revelação. Finalmente conseguia entender o mistério que era a esposa dele. Ao chegar ao feudo, havia acreditado que o comportamento dela se destinava a chamar atenção, quando o tempo todo ela agia para não ser importunada, para se proteger. E, até aquele ponto, o expediente tinha dado certo. Elene havia se tornado tão assustadora que praticamente todas as pessoas tinham medo dela, poucos ousando se aproximar. Apenas Avery, descuidado e desesperado, havia suspeitado da mentira, mas teve que pagar caro por isso. E Geoffrey via a ironia que nem a própria Elene percebia: ao se fingir de forte, ela havia se tornado mais corajosa do que todos os outros. Geoffrey balançou a cabeça, orgulhoso da esposa, mesmo não sentindo o mesmo orgulho de si próprio. Embora sempre se desse muita importância por ser um homem instruído, toda a sabedoria dele não havia servido para nada na tarefa de lidar com Elene. Ele havia sido ensinado a olhar sempre além da superfície, mas não soube aplicar a lição. Em vez disso, dava valor apenas às coisas aparentes: limpeza, saber ler e escrever, hábitos de se vestir. E não prestava atenção no que realmente importava: firmeza de caráter, bondade e generosidade, paixão, inteligência. Ali, na lúgubre caverna, Geoffrey sentiu o peito doer de amor pela esposa. Mas Edred não parecia capaz de ver a verdade. Longe disso, estava enlouquecido. — Você está dizendo falsidades, embora nem tudo seja culpa sua. Está possuída, Elene — disse, encostando cada vez mais o punhal no pescoço dela. — E eu sou o único homem que poderá salvá-la da danação eterna. Você fornicou com o demônio e só com a purificação do seu corpo poderá ser salva. Somente copulando com alguém de coração puro será absolvida — decretou Edred, os olhos pálidos dele assumindo um brilho selvagem. Geoffrey engoliu em seco quando ficou claro o que Edred queria de Elene. E, existisse ou não a ameaça do punhal, ele não deixaria que aquele cretino tocasse nela. Depois de trocar um olhar com Dunstan, Geoffrey projetou-se para a frente no

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exato momento em que Elene desferia um violento chute, fazendo com que o captor dela perdesse o equilíbrio. Aproveitando o momento, Geoffrey venceu a distância que o separava da esposa e um feroz rosnado encheu a caverna quando Dunstan o seguiu. Geoffrey saltou por cima de Elene na direção de onde Edred havia caído de costas, a espada cortando o ar e a lâmina indo parar bem perto do peito do homem. — Morra, padre — ele disse, erguendo a espada para desferir o golpe final, mas a voz fraca de Elene o reteve. — Ele está louco, Geoffrey. Surpreso com a clemência da esposa, Geoffrey olhou para ela enquanto a voz de Edred voltava a soar. — Você não a terá! Ignorando a espada encostada no peito, o padre moveu-se para cima e foi atravessado pela pesada lâmina. Muito espantado, Geoffrey balançou a cabeça. — Enlouqueceu mesmo — murmurou. — Que encontre paz. Retirando a espada ensangüentada, ele rapidamente a limpou num dos muitos panos espalhados pela caverna e guardou-a na bainha. Feito isso, sacou a faca da cintura e ocupou-se em cortar os tecidos que amarravam as mãos da esposa. Elene sentou-se, trêmula, e Geoffrey caiu de joelhos na frente dela. Lembrou-se de uma outra ocasião, em que eles tinham estado em posições invertidas, quando ela havia se declarado com tanta sinceridade. E agora ela o fitava com aqueles olhos negros cheios de cautela, uma insegurança que ele estava determinado a destruir, mesmo que levasse a vida inteira para conseguir isso. E começaria imediatamente a agir nesse sentido. Então engoliu em seco e disse as palavras que havia demorado tanto para dedicar a ela. — Eu te amo, Elene. Geoffrey sorriu ao ver o olhar de espanto da esposa. Sem saber se devia rir ou chorar, abraçou-a, murmurando palavras de ternura. Ele a amava, e passaria o resto da vida dando provas disso. A ela e ao mundo. Ouvindo o Lobo pigarrear, Geoffrey finalmente se afastou da esposa e foi ajudar o irmão a enrolar o homem morto, a fim de que o corpo pudesse ser transportado e sepultado. Quando retirou o punhal da mão do padre, porém, lembrou-se do que havia se passado poucos minutos antes e voltou-se para Elene. — Mas o que você pensou que estava fazendo quando chutou esse louco? — inquiriu, em voz baixa. — Podia ter sido morta! O que achou que podia fazer com as mãos amarradas? Elene enrubesceu e abaixou a cabeça, mas logo depois deu de ombros e fez um ar de inocência. — Poderia usar os dentes para tirar o punhal da mão dele. Antes que Geoffrey pudesse responder àquela tentativa de levar a coisa na brincadeira, o Lobo ergueu o corpanzil e soltou uma sonora gargalhada, evidentemente divertido com o comentário da cunhada. Geoffrey olhou para o irmão e fez cara feia. — Você não devia incentivá-la nisso — ralhou, embora ele se sentisse incentivado pela atitude do Lobo em relação à antiga inimiga. Sorrindo para Elene com relutante admiração, Dunstan balançou a cabeça. — Geoff, se alguém pode arrancar um punhal das mãos de um homem usando apenas os dentes, essa pessoa é sua esposa! EPÍLOGO Geoffrey olhou pela janela e sorriu ao ver as colinas que cercavam Campion, polvilhadas de neve e refletindo o sol do fim de tarde. Ele e Elene haviam chegado um dia antes do previsto, graças ao bom estado das estradas, o que não era comum durante o inverno. Mas encontraram o castelo sem a maior parte dos seus residentes, que estavam percorrendo os campos em busca de achas para serem queimadas na noite de Natal. Idéia de Marion, claro. Logo, porém, todos se reuniriam para o jantar e, mais tarde, para tomar vinho e comer doces natalinos no terraço do castelo. Tudo aquilo era bem conhecido de Geoffrey, embora houvesse novidades, como ele não estar ocupando o antigo quarto que dividia com Stephen, mas sim um quarto de hóspedes. Embora pequeno, o cômodo era decorado com muito mais luxo do que o quarto que ele havia se acostumado a ocupar no último ano. Mesmo assim não pretendia permanecer ali, porque agora tinha a própria casa. Olhando para a delgada figura enroscada na cama, os longos cabelos espalhados sobre o travesseiro, Geoffrey abriu um largo sorriso. Havia instituído um lar com aquela mulher, um lar que iria abrigar uma família, com o riso da criança que estava se desenvolvendo no ventre dela. Inclinando-se ele beijou a face de Elene, enrubescida pelo sono. Embora o corpo ainda não desse muitos sinais da gravidez, agora ela descansava com mais freqüência, além do que os seios pareciam mais protuberantes. A visão era tentadora e Geoffrey pensou em se juntar a ela na cama, mas esperava poder falar com Dunstan antes do jantar. Além disso, Elene estava descansando. Deixando que ela dormisse, ele a beijou nos cabelos e saiu do quarto. O salão do primeiro andar fervilhava de atividade e logo Geoffrey encontrou Dunstan caminhando para a mesa principal. — Geoff! Desculpe eu não ter estado presente à sua chegada, mas Marion não descansaria enquanto não encontrássemos a acha perfeita para a fogueira de Natal. Ela quer que o bebê participe das festividades, embora eu tenha dito que o menino não se importa com nada que não seja uma boa quantidade de leite! Dunstan parecia censurar a esposa, mas na verdade estava muito orgulhoso. Geoffrey sorriu e pensou no próprio filho, que crescia na barriga de Elene. E não se esquecia do motivo por que havia procurado o irmão.

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— Dunstan, depois do que aconteceu no último verão… Bem, eu nunca tive uma oportunidade para lhe dizer o quanto sou grato pelo que você fez por mim. Dunstan emitiu um resmungo e abanou a mão, como se estivesse ouvindo bobagens, mas Geoffrey não seria dissuadido. — Não sei como lhe agradecer — prosseguiu. — Nada do que eu posso fazer serviria para compensá-lo. Você me ajudou a resgatar minha esposa, recuperar a vida. Dunstan balançou a cabeça, encabulado. — Não, você não me deve nada, Geoff. E, pelo que me lembro, foi você quem me tirou do meu próprio calabouço, quando fui traído por Avery e atacado por Fitzhugh. Desta vez foi Geoffrey quem balançou a cabeça. — Todos nós corremos em sua ajuda. Eu apenas fui o primeiro a chegar até onde você estava. Quando precisei procurar por Elene, porém… Dunstan segurou no braço dele. — Sabe de uma coisa, Geoff? Foi o mais jovem dos de Burgh quem salvou o dia. — Olhando para o irmão ele fez uma careta. — Apesar dos seus estudos e da minha experiência, bem que nós dois podíamos aprender umas coisinhas com o pequeno Nick, sem dúvida o mais observador de todos nós. — Não deixe que ele ouça isso, homem, ou ninguém agüentará aquele garoto! — protestou Geoffrey. Depois que os dois passaram alguns instantes rindo, Dunstan olhou sério para o irmão. — Fiquei contente por poder ajudar, mas você teria encontrado sozinho a sua esposa. Geoffrey tentou protestar mas Dunstan ergueu a mão e prosseguiu, com convicção. — Não, ouça-me. Você raciocinaria e acabaria entendendo a coisa toda. Essa sua mente não tem igual e você descobriria quem havia escrito a mensagem. Eles não iam a lugar nenhum e você os encontraria a tempo. Geoffrey suspirou. — Talvez, mas ele poderia feri-la ou… Nesse ponto ele vacilou, incapaz de concluir a frase. Dunstan soltou outro de seus resmungos. — Não acredito que o padrezinho conseguiria machucá-la. Logo que passasse o efeito da tal poção, sua esposa faria o coitado em pedacinhos! Geoffrey riu com vontade, sentindo-se muito bem. Talvez Dunstan tivesse razão ao dizer que ele e Elene triunfariam sem ajuda. Mesmo assim, era bom saber que, quando fosse preciso, a ajuda chegaria correndo. — Pode ser, mas eu vejo o valor dos meus irmãos — declarou. — Quanto a isso nós concordamos, porque eu também já tive várias provas do valor da minha família — observou Dunstan. Como se reconhecer aquilo o deixasse meio sem jeito, ele olhou para o lado antes de se voltar novamente para Geoffrey, mais relaxado. — Agora conte-me como vão indo as coisas no seu feudo, porque já se passaram muitos meses desde o nosso último encontro. — Você não reconheceria o lugar — respondeu Geoffrey, soltando um riso rápido. — Já surpreendi até alguns servos sorrindo. Dunstan soltou uma gargalhada e Geoffrey prosseguiu, mais sério. — Agora prevalece lá um outro… ânimo, é como se aquela nuvem negra tivesse se retirado de cima do feudo. O Lobo não pareceu mais divertido. — Você não acha que o padre realmente fez algum… feitiço, não é? — perguntou, desconfiado. — Não. Não havia nada de sobrenatural envolvido. Ele simplesmente usava o posição que tinha para influenciar as pessoas, primeiro espalhando mentiras sobre mim, depois com intimidações e ameaças de punição. — Geoffrey franziu a testa. — Estava desesperado. E mesmo aqueles que percebiam que ele não era um padre correto tinham medo de falar, com medo de represálias, terrenas ou outras. Dunstan balançou a cabeça. — Você enfrentou uma porção de inimigos, Geoffrey e derrotou-os todos. Não é uma tarefa para qualquer um. — Ah, mas veja o que eu ganhei — respondeu Geoffrey. — Valeria qualquer preço. Como Dunstan parecesse pouco convencido, ele riu e acenou chamando um servo. Depois de cochichar alguma coisa ao ouvido do homem, voltou-se novamente para o irmão bem no momento em que Marion se juntava a eles, mostrando suas covinhas nas faces rosadas. — Geoffrey! — ela exclamou, estendendo as mãos, que o cunhado pegou também sorrindo. — Acabo de me encontrar com sua esposa. Devo dizer que ela está muito mudada — disse Marion, com ar de conspiração. Geoffrey assentiu, sem saber se devia falar da gravidez de Elene. Eles ainda não tinham contado a ninguém a grande novidade, porque ele havia insistido para que esperassem até o Natal para fazer o anúncio. Compreensivelmente, Elene não havia demonstrado muito entusiasmo em visitar a família dele, mas concordou para agradá-lo. Talvez Marion tivesse visto alguns sinais do bebê que estava para nascer, mas mesmo assim ele preferia não discutir o assunto. — Eu estava justamente falando de Elene com Dunstan — disse, ignorando o ar de perplexidade do Lobo. — Na verdade… Ah, aí está. Geoffrey apontou para o servo com quem havia falado momentos antes e gesticulou para que Marion e Dunstan se aproximassem. Tendo retornado, o homem estava pondo alguma coisa sobre a mesa. — O que é? — grunhiu o Lobo, desconfiado, enquanto o servo voltava para a cozinha deixando dois pratos na mesa.

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— Aqui estão dois doces, parecidos mas muito diferentes — explicou Geoffrey. — Por acaso é um dos seus experimentos, Geoff? — perguntou Dunstan, franzindo a testa. — Quando aprendia alguma coisa, ele sempre queria nos mostrar — acrescentou, olhando para Marion. — É simplesmente uma demonstração — disse Geoffrey. — Agora olhem para cada um desses pratos. Um deles contém pudim de leite, doce e encorpado. No outro há uma torta de maçã, temperada com gengibre, canela e amêndoas, além de cravo-da-índia para dar gosto. Qual você prefere? — perguntou, olhando para o irmão. Dunstan deu a impressão de achar que ele havia perdido o juízo. — O pudim de leite, claro. Marion riu e bateu palmas, deliciada com a comparação. — Quer dizer que eu sou um pudim de leite? Geoffrey enfrentou o olhar de Dunstan com um ar presumido. — Acho que eu prefiro alguma coisa com um pouco mais de tempero. Isso não quer dizer que despreze o pudim de leite, ou quem goste dele — disse, fazendo uma reverência para Marion. A esposa do Lobo soltou seu riso alegre. — Pare, Geoffrey. Resmungando sobre as coisas ridículas que o irmão aprendia, Dunstan foi ocupar seu lugar à mesa enquanto Geoffrey era saudado pelos outros irmãos. — Geoffrey — exclamou Nicholas, aproximando-se com seu natural entusiasmo. Robin foi bater nos ombros do irmão recém-chegado, logo depois Simon e Stephen abraçando Geoffrey. Reynold foi o último a se aproximar, coxeando visivelmente depois de um dia de cavalgada. Depois que eles se sentaram, todos falando ao mesmo tempo, Geoffrey perguntou-se se não deveria chamar Elene. Embora ela nunca admitisse isso, ele sabia que a esposa estava ansiosa para ver os de Burgh juntos. Quando olhou para a escada, porém, viu que ela já estava chegando, acompanhada por ninguém menos que Campion. Geoffrey sorriu e respirou fundo quando ela pisou no salão. Ela parece diferente, tinha dito Marion. Obviamente a cunhada dele havia oferecido um presente a Elene, porque agora ela usava uma túnica nova, mais elegante do que qualquer outra que Geoffrey já tivesse visto. O tecido, de um vistoso vermelho, dava cor às faces dela e realçava as curvas recentemente aumentadas. Os cabelos caíam livremente às costas, seguros apenas por uma fita vermelha. Era uma mudança simples mas que causava uma fantástica diferença, porque nenhuma mecha obscurecia as belas feições de Elene, a pele clara ou a boca delicada. Ela estava linda e madura como um morango de Natal! Mesmo Geoffrey, que podia admirar as sutis mudanças que Elene vinha sofrendo ao longo dos últimos meses, ficou maravilhado enquanto se sentava, vagarosamente. Então reparou na reação dos irmãos. Todos eles observavam com admiração a graciosa entrada de Elene e ele sorriu, orgulhoso. Finalmente os outros de Burgh estavam vendo a esposa dele como uma mulher, e uma mulher atraente. Ele se sentia vingado, certo de que não ouviria mais brincadeiras nem comentários maldosos, o que sempre o deixava com vontade de brigar com os irmãos. Quando Stephen se recostou na cadeira, porém, com um meio sorriso nos lábios, toda a satisfação de Geoffrey desapareceu. Ele reconhecia aquele sorriso e não estava gostando nada do que via. Correndo os olhos pela mesa, viu o olhar fixo de Nicholas e o interesse de um boquiaberto Robin. Então mexeu-se na cadeira, sentindo alguma coisa parecida com ciúme. Por um lado estava contente pela esposa, que merecia um tratamento melhor dos irmãos dele, mas por outro se sentia como um homem cujo tesouro amealhado houvesse sido descoberto pelos olhos cobiçosos do mundo. Afinal de contas, ele sempre tinha visto beleza na esposa. Franzindo a testa, Geoffrey voltou-se quando o Lobo soltou um murmúrio de surpresa, apenas para ver Marion mandar o marido ficar calado e se inclinar para cochichar ao ouvido dele. Estranhando aquilo, Geoffrey novamente correu os olhos pela mesa, agora com uma sombria, suspeita. Que se confirmou um momento depois, quando Stephen, sempre olhando para Elene, inclinou-se para o lado de Marion. — Você tem uma nova assistente? — perguntou, em voz baixa. Rindo, Marion respondeu negativamente e pôs a mão no braço de Dunstan para impedi-lo de fazer algum comentário. Aparentemente o Lobo já estava informado do que os outros ainda não sabiam. Geoffrey ficou aborrecido com aquilo. Ninguém reconhecia a esposa dele. Nas outras mesas a chegada de Elene também causava espanto e Geoffrey até ouviu o comentário de um velho cavaleiro. — Deve ser a concubina de Geoffrey. Simon também ouviu e dirigiu ao irmão um olhar malicioso. — Pensei que você traria a sua esposa. — Mas eu trouxe — respondeu Geoffrey, agastado. — Lá está ela. Quase se engasgando, Simon devolveu a cerveja que ia engolindo, ao mesmo tempo que se erguiam gritos e protestos dos outros irmãos. Apenas Stephen permaneceu tranqüilamente recostado na cadeira, agora olhando com interesse para Geoffrey. — O que foi que você fez com a Fitzhugh? — perguntou. Geoffrey empertigou-se. — A Fitzhugh não existe mais — disse, com rispidez.

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— O quê? — surpreendeu-se Simon. — Você a matou? Ao ver o espanto que havia no rosto de um guerreiro tão destemido, Geoffrey quase riu. Até Reynold olhava para ele parecendo pasmado. — Não. Ela está viva, mas agora é uma de Burgh. — Levantando-se, Geoffrey estendeu a mão para a esposa. — Elene, você se lembra de Simon, não é? Sorrindo e inclinando a cabeça como a mais refinada lady, Elene cumprimentou graciosamente o irmão dele. — Você me parece muito bem, Simon. Outra vez Geoffrey sentiu vontade de rir quando viu os seis rostos apalermados que fitavam a esposa dele. — Elene é um belo acréscimo para a nossa família — disse Campion, depois de entregar a nora ao filho. — E nós damos as boas-vindas a ela, não é? As últimas palavras ele disse correndo os olhos pelos filhos e Geoffrey teve a satisfação de ver que todos se voltavam para o pai, com ar de perplexidade, enquanto um pesado silêncio caía sobre o salão. Pouco a pouco cumprimentos foram sendo murmurados e Geoffrey viu que alguns dos irmãos dele tinham a bondade de se mostrar vexados. — Ótimo — disse Campion, caminhando até a cabeceira da mesa, onde parou por trás da cadeira. — E deixem-me ser o primeiro a lhes apresentar as minhas congratulações, Elene e Geoffrey. Geoffrey sorriu. O pai dele ainda era capaz de ver mais longe e mais claramente do que qualquer um outro. E era uma satisfação muito grande ver que Elene era bem aceita pela família dele. Depois que ele apenas assentiu para o pai, subitamente incapacitado de falar, Campion prosseguiu. — Estou certo de que vocês todos se juntarão a mim na celebração da próxima chegada de um novo de Burgh. Geoffrey, vai deixar sua esposa de pé? — ralhou, com brandura. — Agora deve tomar certos cuidados com ela. O grito excitado de Marion foi seguido pelos dos irmãos dele e o que Geoffrey viu não eram olhares furtivos, mas sim genuína alegria. Depois de sentar Elene ele se acomodou ao lado dela, orgulhoso, agora certo de que a vida, que um ano atrás havia parecido tão sombria, não poderia conter mais felicidade. Quando os gritos se tornaram ensurdecedores, Elene estendeu a mão e apertou o braço do marido. Não estava acostumada àquele comportamento efusivo, mas aos poucos o alarido foi diminuindo e ela pôde relaxar um pouco. Havia imaginado que a convivência com os cunhados não seria fácil, só concordando com a idéia da viagem por saber que Marion estaria presente. Elene olhou para a esposa do Lobo, com aquele eterno e fascinante sorriso de covinha. Amiga… Ela nunca tinha tido uma amiga, mas agora podia dizer que tinha. E muito querida. Mas havia outra coisa muito boa na antiga casa de Geoffrey, algo em que ela nem havia pensado: o pai dele, pai também de toda a terrível ninhada. Embora os de Burgh parecessem falar ao mesmo tempo, quando Campion se pronunciava todos silenciavam. E Elene via por quê. O pai de Geoffrey era parecido com ele em muitos aspectos. Tinha a mesma sabedoria, era um homem educado com o corpo de um guerreiro. Mas parecia ter algo mais, alguma coisa que a deixava inquieta. Os olhos do velho conde pareciam chegar à alma dela, e mais de uma vez Elene se vira com a respiração contida, temerosa de estar sendo julgada pelo sogro. Aparentemente isso não fazia sentido, porque o conde a tratava com toda cortesia. E isso acontecia desde o princípio, quando ele a havia encontrado no corredor do primeiro andar, atarantada. Logo ao saber que estava falando com o pai de Geoffrey, ela havia se apresentado, esperando ser tratada com frieza. — Então você é… Elene? — tinha dito Campion, mostrando-se agradavelmente surpreso. — Espero que meu filho faça por merecer a esposa que tem. Há um bom tempo que Elene pensava que não podia haver homem mais simpático que o marido dela, mas Campion era um caso à parte. Era do tipo que inspirava lealdade. Mas havia uma coisa que a deixava intrigada… Como ele podia ter adivinhado que ela estava grávida? Afinal de contas, Geoffrey havia jurado que não contaria a ninguém. Com olhos apertados, Elene ficou examinando o mais velho dos de Burgh, até que ele ergueu a cabeça, parecendo ter sentido aquilo. Então ela estremeceu, com uma sensação de constrangimento que desapareceu no instante em que ele sorriu. E logo depois ele piscou o olho, como se a convidasse a participar de uma brincadeira. — Este é o segundo Natal em que damos as boas-vindas a uma nova de Burgh e ao bebê que ela trás no ventre. — Disse o conde, correndo os olhos pela mesa e, imediatamente chamando a atenção dos filhos. — Talvez devamos transformar isso numa tradição. — Houve uma pausa e Elene se perguntou qual seria a intenção do sogro, que logo depois prosseguiu. — Qual de vocês será o próximo? Espantada quando ouviu uma sucessão de chocadas exclamações, Elene olhou em volta para ver os rostos pálidos dos cunhados, todos parecendo em pânico. Os destemidos guerreiros se encolhiam diante da simples idéia de casamento. Ao se casar com Geoffrey ela havia se perguntando como se vingaria dos cunhados pelo tratamento que recebia deles. Nenhuma vingança seria mais doce do que vê-los presos a um sólido casamento. E apaixonados. FIM E-books Românticos e Eróticos http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=42052224&refresh=1 http://br.groups.yahoo.com/group/e-books_eroticos/

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